Características da história econômica do Rio Grande do Sul que configuram a presença de focos principais de coleções documentais no acervo da Justiça do Trabalho No século XVIII: formação de latifúndios em economia periférica Houve um povoamento tardio do estado obedecendo a preocupação geopolítica de Portugal com a ocupação do território em constante disputa com Espanha. O gado bovino xucro e missioneiro (depois da extinção das missões) foi caçado por bandos de portugueses, espanhóis e mestiços provocando, no início, a produção de couro com restrita repercussão econômica. Após o descobrimento das minas, no centro da colônia, o Rio Grande do Sul se tornou região fornecedora de carne, animais para montaria e transporte (mulas e cavalos). O gado capturado foi organizado em plantéis de grandes latifúndios o que prenuncia o caráter periférico da nossa economia: região abastecedora de atividade econômica mais lucrativa no centro da colônia; internamente ocorreu o uso do couro, chifres e sebo p/produção de vestimentas e utensílios. No século XIX: agropecuária subsidiária da agroexportação, charqueadas escravistas – surgia o “celeiro do país”. Ocorreu um novo ciclo na pecuária, com implantação de charqueadas, que se expandiu rapidamente, baseada no trabalho escravo. A produção do charque foi voltada para a alimentação de escravos e da população livre e pobre, dominando a economia gaúcha até inícios do século XX. A região da campanha (sul da província) era a maior criadora de bovino. As charqueadas se localizavam em Pelotas e Rio Grande, com seu porto, seria o escoadouro da produção, as duas cidades formando os maiores núcleos urbanos. Embora tenha propiciado interessante acumulação de capitais, apresentava uma rentabilidade oscilante devido às guerras na região do Prata – principal concorrente, e apresentava lucros bem menores que outros produtos exportáveis do resto do país (metais, açúcar, café). As duas cidades deteriam a hegemonia política da província até o fim do Império. A imigração européia na metade norte da província criou outro modelo econômico e social, baseado na pequena propriedade e atividade agrícola, que se tornou significativo na segunda metade do século, embora ainda atrás de uma lenta decadência do latifúndio pecuarista. Porto Alegre era o escoadouro da produção desses imigrantes (São Leopoldo e arredores). A intermediação comercial na região propiciou capitais que impulsionariam futura industrialização. Os imigrantes possuíam pequena participação política devido restrição dos representantes do latifúndio. República Velha: positivismo, colonização e desenvolvimento industrial. A ascensão dos republicanos ao poder no estado provocou grandes transformações sociais e econômicas. Houve a formação de uma economia de mercado interno, baseada na produção agropecuária e agroindustrial da zona colonial e da indústria de Porto Alegre. Época de grande expansão econômica e demográfica demonstrando dinamismo da economia regional em três pólos: acumulação comercial da zona colonial e da capital; acumulação vinculada à pecuária tradicional na campanha; expansão da fronteira agrícola no noroeste do estado - resultando em uma economia de base diversificada, com alto grau de auto-suficiência. Os republicanos, baseados na doutrina positivista, buscaram apoio político em setores emergentes que estavam excluídos do estado de tipo oligárquico rural dominante no período imperial, oligarquia que privilegiava a economia subsidiária ao centro do país, baseada na grande propriedade rural. Os novos grupos provenientes da zona colonial foram sensíveis ao discurso republicano de diversificação e modernização econômica. Neste período ocorreu a grande expansão comercial da lavoura da região colonial (arroz, trigo, milho), com o surgimento e expansão da grande lavoura capitalista moderna de arroz (com produção de implementos rivalizando com a de São Paulo), e de uma indústria diversificada, com variada gama de bens leves de consumo e intermediários, articulada com o setor primário (tais como frigoríficos e implementos agrícolas) e de caráter regional. O estado republicano desempenhou papel decisivo na economia – apoiou o processo de colonização (noroeste), combateu o contrabando, estimulou a indústria e o desenvolvimento dos transportes fluviais e ferroviários, neste caso com interferência direta com a encampação dos portos de Rio Grande e Porto Alegre, bem como da rede ferroviária. Também realizou uma reforma fiscal incidindo em impostos sobre a grande propriedade rural, que eram aplicados em infra-estrutura e no ensino básico e técnico. Promoveu os interesses dos setores produtivos, organizando-os em sindicatos e associações, preocupado com abastecimento da população, controle de qualidade do produto e condições de mercado. A colonização do Planalto, no noroeste do estado, é particularmente interessante para o estudo da economia espacial gaúcha. Na região, onde existiam grandes latifúndios de pecuária extensiva, ao lado de matas nativas, as terras foram divididas pelo governo republicano em pequenas e médias propriedades, para diferentes correntes imigratórias européias, que cultivavam a policultura agropecuária, com a criação de diversos núcleos urbanos que se tornaram prósperos nas décadas seguintes Erechim, Ijuí, Santa Rosa, Santo Ângelo, Frederico Westphalen, Palmeiras das Missões. A industrialização também foi estimulada indiretamente pelos republicanos. Começou pelo estímulos ao complexo colonial, cuja acumulação de capitais foi o berço da industrialização, que embora incipiente no início do século, tomou vulto na Primeira Guerra com as dificuldades de importações. A chegada dos imigrantes alargou o mercado consumidor, e agregou capacidade empresarial e técnica antes pouco difundida. Após alguns anos de assentamento, os colonos conseguiam uma renda monetária relevante, que apropriada pela intermediação comercial, propiciou a acumulação de capital necessária para a instalação de indústrias. O complexo colonial, mais densamente povoado e com renda mais igualitária estimulava um amplo mercado adequado para manufaturas simples, que eram as produzidas pelas incipientes indústrias. No sul do estado, a escassa população e a concentração de renda não estimularam a industrialização de bens de consumo corrente. Também a cultura artesanal de alguns imigrantes facilitou o processo industrializante, bem como o contato com seus países de origem, dando acesso à tecnologia e importação de equipamentos. A indústria do couro e dos calçados é um exemplo típico. Embora explorado no sul do estado, em Rio Grande e Pelotas, era subsidiária do charque. Os imigrantes alemães em rudimentares oficinas começaram suas atividades no final do século XIX, crescendo, sobretudo, no início do século XX beneficiadas com as isenções fiscais do governo republicano. Na década de 1920, novo salto centrado no município de Novo Hamburgo. Essa política econômica de estímulo a diferentes setores transcorreu a partir do desdobramento e diversificação da produção, caracterizando um modelo regional de desenvolvimento econômico diferenciado em relação ao resto do país, com certo padrão de acumulação, diversificado e relativamente desconcentrado, com menos desigualdade social. A economia gaúcha mudava sua inserção na economia nacional via diversificação da pauta de exportações, reforçando suas relações econômicas internas. menor. 1930 – 1960: Brasil desenvolvendo e Rio Grande do Sul em ritmo Os anos 1930 assinalaram uma mudança política com importantes repercussões econômicas, iniciando integração mais intensa do mercado interno, no país. A articulação do estado com a economia nacional pouco se alterou, até os anos 50, e seu crescimento econômico foi mantido baseado na exportação agropecuária e agro-industrial para o mercado nacional, e ampliação do mercado regional. A política nacionalista de Vargas e a guerra ampliaram o mercado nacional, via protecionismo. A indústria gaúcha entre 1920 e 1950 acentuou seu caráter regional, perdendo mercado nacional, ocorrendo uma desconcentração e aceleração da expansão industrial e do emprego. No setor primário, a agricultura desenvolvia-se na produção de alimentos correspondendo ao crescimento urbano com certo aumento da massa salarial, provocando uma demanda crescente de uma ampla gama de produtos primários, típicos da agropecuária colonial. O estado gaúcho preocupava-se com a redução dos custos da mão-de-obra urbana, geração de matérias-primas para a indústria, e substituições de importações, no caso do trigo. Concomitantemente, ocorreu uma expansão das relações de assalariamento, fruto da urbanização, do crescimento industrial e de um novo setor de produção primária, uma lavoura de trigo mais moderna. A pecuária tradicional, com seu principal produto, o charque, mantinha a trajetória decadente, sendo superado pelo frigorífico no início dos anos 40. No setor secundário, a aceleração do crescimento industrial foi responsável pelo início de uma significativa mudança espacial da economia gaúcha. O nordeste do estado – eixo Porto Alegre/Caxias - passou a diferenciar-se do resto da região de agropecuária colonial (que já cobria o norte do estado) em razão do crescimento do parque fabril, atraindo cada vez mais novos empreendimentos manufatureiros, aproveitando a substituição de importações, processo que resultou na industrialização do país. Como conseqüência o nordeste veio a se caracterizar, no estado, como região industrial por excelência. No entanto, o ciclo expansivo da economia riograndense não escondia os seus graves problemas, indicadores de crise do modelo de desenvolvimento da república velha gaúcha: o esgotamento da fronteira da atividade primária; o crescimento da população rural que estimulou a formação de minifúndios, sem modernização tecnológica, e obstaculizou a produtividade, gerando o êxodo rural e pressionando o mercado de trabalho urbano. O latifúndio extensivo pecuarista no sul mantinha sua estagnação, sem modificar seu antiquado padrão produtivo. A indústria, mesmo em expansão, não conseguia absorver toda a mão-de-obra que se deslocava do campo e era travada pela falta de uma infraestrutura mais abrangente. No aspecto político, após a revolução de 1930 ocorreu um fortalecimento do poder do Estado nacional em detrimento da iniciativa regional, que perdeu funções, e no caso gaúcho, sobretudo sua capacidade de intervir mais ativamente na economia, fator decisivo no período anterior. Entretanto, nos anos 30/40, permaneceu como um importante auxílio ao setor primário, e interferiu na economia, com sucessos (DAER, carvão, energia elétrica, e institutos tecnológicos) e fracassos ( navegação e frigorífico). Os núcleos urbanos eram componentes essenciais do dinamismo econômico, destacando-se a capital, em 1950, com 400.000 habitantes, Pelotas com 70.000, Rio Grande com 60.000 e Santa Maria, com 50.000. No entanto, o que diferenciava do resto do país, era uma extensa rede de cidades de pequeno porte (5.000 habitantes) com suas estruturas industrial e comercial, localizados no centro e norte do estado. Eram o grande componente do mercado interno, tendo vinculações orgânicas com a indústria, e com a agropecuária que lhe servia de base e ponto de partida. Os anos 1950 marcaram os limites da estrutura econômica gaúcha e a conseqüente crise regional. O pós-guerra atingiu a indústria gaúcha, com a reabertura do comércio mundial provocando a modernização do setor no centro do país, não acompanhada no Rio Grande do Sul. A integração rodoviária, unificando o mercado nacional, e o plano de metas de Juscelino Kubitschek (1955-59), assinalando nova fase da industrialização brasileira (concentrando este setor no centro do país), agravariam a situação do Estado. A integração ao mercado nacional submeteu a produção à concorrência nos mercados do centro: novas áreas agropecuárias (Paraná, Centro-Oeste) com vantagens de produtividade e localização em relação ao centro, enquanto a produção industrial do centro, com vantagens competitivas, atingia profundamente o mercado regional. Paralelamente o trigo foi atingido por uma grande crise, depois do “boom” dos anos 40, devido ao acordo do Brasil com os Estados Unidos para importação do produto americano. A crise no setor primário afetou a renda regional e o desempenho do setor secundário. O plano desenvolvimentista de JK, além da concentração de investimentos públicos e privados no sudeste, implicava alta inflação e alterações cambiais, atingindo a performance produtiva gaúcha. A crise econômica provocou diferentes posturas no campo político. O governo de Leonel Brizola (PTB,1959-63), embora com limitadas possibilidades de intervenção, encampou serviços de telefonia (CRT) e energia elétrica, que eram tradicionais obstáculos ao desenvolvimento econômico. Também atuou decisivamente junto ao governo federal, ao lado dos governadores do sul (criação do CODESUL e do BRDE), para conquistas relevantes em infra-estrutura pesada – refinaria de petróleo em Canoas, alta metalurgia em Charqueadas (Aços Finos Piratini), diferenciando-se dos governos de seu opositor Ildo Meneguetti (PSD, 1955-59, 1963-67), que propugnavam o estímulo a agropecuária e a indústrias tradicionais como solução da crise. Analisando por regiões, diríamos que ocorreram algumas alterações importantes, que, com igualmente importantes exceções, se constituíram tendências para as décadas seguintes. Começando pelo norte: o eixo Porto Alegre - Caxias seguia sua constante tendência de aumento da concentração industrial, também motivando o aumento do ramo de terciário (quase metade do conjunto estadual). Houve declínio no setor primário mas, considerando a escassa relevância deste setor na economia da área, não se verificaram mudanças de significado desse eixo no contexto econômico estadual. No planalto, a indústria manteve sua participação estabilizada no período, subindo significativamente sua já importante participação na agropecuária ("boom" do trigo nos anos 40/50). Foi forte o ascenso da região como polo comercial consolidado, produzindo um razoável aumento na renda estadual. Ainda na região norte, na faixa central, uma certa queda de participação na renda estadual, com destaque para a estabilidade no setor primário, mas com descenso mais acentuado na indústria, e sobretudo no comércio; os Campos em Cima da Serra apresentaram um notável crescimento na indústria, acarretando um crescimento do comércio, mas com o descenso da principal atividade da região, a agropecuária, aconteceu uma perda na participação da renda econômica estadual. A região sul: na campanha, a pecuária tradicional mantinha sua decadência, enquanto a agricultura mecanizada ainda não se implantara, levando ao descenso máximo da atividade primária no final dos anos 50, e os ramos secundário e terciário em contínua e irreversível queda na participação estadual; a área de Rio Grande mostrava uma lenta decadência da indústria e do comércio, e uma certa ascensão do setor agropecuário, diminuindo levemente sua participação na renda econômica estadual; Pelotas e sua área de influência apresentou um certo ascenso na atividade primária, não compensado dado o claro declínio na indústria e comércio, acarretando uma certa diminuição na renda econômica estadual. Análise diferenciada merece a área de São Jerônimo, devido a presença das minas de carvão. A crise cambial de 1929, conseqüência do crash da bolsa americana, e a Segunda Guerra Mundial em 1939, expuseram a fragilidade brasileira em termos de combustíveis. O governo federal adotou uma cota de 20% para o carvão nacional sobre o volume do importado. Com a guerra, o carvão passou a ser amplamente utilizado pelas indústrias, na eletricidade, e nas ferrovias. A região de São Jerônimo alcançou grande mas efêmero progresso econômico e social. No entanto, finda a guerra, e reativado o comércio internacional, São Jerônimo entrou em decadência. ANOS 1960-2000: crescimento econômico, concentração de renda, êxodo rural e explosão urbana. Uma nova economia gaúcha começou a nascer nos anos 60, pois novos setores produtivos expressivos surgiram e, simultaneamente, novos atores sociais emergiram. Esses novos setores e os antigos articularam-se internamente, e com a acumulação nacional de capitais, de modos diferentes aos das décadas anteriores. Na acumulação nacional a liderança do crescimento passou para a indústria de bens de consumo durável. O reflexo disso, no estado, foi a rearticulação subordinada à economia nacional, porque manteve sua indústria de bens de consumo não-durável (que perdeu mercado local pelo arrocho salarial após o golpe de 1964) bem como de bens intermediários, dinamizando-se pelos estímulos externos, oriundos do pólo dinâmico do sudeste brasileiro, e perdendo a articulação interna entre seus setores produtivos, que era baseada no isolamento do mercado regional e nos interesses mútuos entre o setor primário e secundário. A economia brasileira retomou seu crescimento em 1968, e a economia gaúcha acompanhou-a, com o papel de poupadora e fornecedora de divisas para expansão da economia nacional. Neste contexto surgia a lavoura da soja, arrendando terras ao latifúndio e usando mão-de-obra liberada pela lavoura colonial, provocando emergência de novos atores sociais - os assalariados rurais e produtores cooperativados. A retomada do crescimento econômico gaúcho, mostrou que o estado soube se adaptar positivamente aos impulsos dinâmicos do centro. A reação de Brizola à exclusão do RGS, no plano de metas, gerou frutos à médio prazo - Aços Finos Piratini, REFAP, fábrica de tratores e implementos agrícolas, BRDE, reorganização da CRT e CEEE, davam a base para uma nova fase de expansão. A análise do desempenho estadual no período indica que o estado não perdeu posição no cenário nacional, sendo traço marcante a abertura crescente para os mercados nacionais e estrangeiros, expressando a efetiva integração do mercado interno brasileiro, que começou em 1930 e foi consolidado nos anos 50, modificando a articulação do regional com o nacional, ampliando os vínculos de interdependência, refletidos nos ganhos de produtividade. Não sendo opção própria essa abertura, no entanto foi bem sucedida a adaptação às exigências do mercado, como pode ser verificado pelas transformações estruturais, acumulação e complexidade crescente na produção, culminando numa pauta de exportações mais sofisticada de produtos industrializados. Através das exportações a economia gaúcha encontrou os estímulos dinâmicos para nova fase de desenvolvimento, mas os agentes econômicos tiveram habilidade para difundir esses estímulos na economia regional, sendo responsáveis por uma relevante mudança estrutural da economia e da sociedade gaúcha. Os setores primários e secundários tiveram grandes ganhos de produtividade, nossa sociedade tornou-se predominantemente urbana, caracterizando sua modernização. Todas essas mudanças não alteraram substancialmente o tradicional caráter de crescimento econômico menos desigual em relação ao resto do país, como demonstram os índices de qualidade de vida e renda média do Estado. Dessa forma, a nova face da economia regional não implicou em menor dinamismo, desde o final dos nos 60, mesmo a relativa estagnação dos anos 80 e a reestruração nos anos 90 não provocou defasagem relevante entre nossa economia e a do país. Nossa economia, embora tenha reduzido sua participação em setores tradicionais, conquistou muitos investimentos (inclusive externos) e apresentou comportamento dinâmico, fazendo com que nossa indústria tivesse um desempenho igual ou superior ao da indústria nacional. O desempenho estadual nos anos 90 foi prejudicado pelo plano Real, baseado na queda de preço dos produtos primários e valorização cambial, prejudicando importantes setores de nossa economia. Entretanto, nos anos 90, o PIB gaúcho cresceu levemente acima do nacional, e foi o segundo no PIB agropecuário nacional, bem como segundo em certos índices da indústria de transformação, repetindo-se essa posição nas exportações, nas quais 60% dos produtos são industrializados. Análise do período de 1930-1960 Começando uma análise regional, os anos de 1930-60, mostravam uma tendência a uma nova configuração espacial da economia gaúcha, iniciada nos primórdios do século XX, e que os anos posteriores trataram de consolidar. A região sul, marcada pelo latifúndio da pecuária bovina extensiva,teve um crescimento econômico lento, apesar da lavoura mecanizada do arroz, responsável por relativa dinamização em algumas áreas. Os centros urbanos, apesar do porte de alguns (Pelotas, Rio Grande), não conseguiram um crescimento industrial significativo, apresentando funções majoritariamente comerciais e de serviços. A região norte, no planalto, caracterizou-se pela agropecuária em pequena e média propriedade, com produção diversificada, elemento que, em grande parte, desapareceu nas décadas de 60-70, com a expansão das lavouras de trigo e soja. Algumas cidades conseguiram certo crescimento industrial diretamente ligado ao setor primário, como processamento de produtos agropecuários locais e produção de insumos e implementos agrícolas. Ainda na região norte, na sua faixa nordeste, observou-se uma intensa industrialização, com importantes aglomerações urbanas, com o setor primário bem menos expressivo à medida que se acelerava a industrialização, e com um setor terciário relevante. As conseqüências dessas mudanças foram importantes alterações na distribuição espacial de renda interna. A mais significativa foi o contínuo crescimento do eixo Porto Alegre – Caxias, configurando em 1980 cerca de metade da renda interna do estado. Esse crescimento foi obtido em associação às perdas generalizadas das demais áreas, perdas desigualmente distribuídas. A região sul (Pelotas, Rio Grande e campanha) reduziu sua importância quase à metade entre 1940 e 1980, já o planalto teve um decréscimo menor. Algumas características dessas diferenças regionais: 1. Aceleração do crescimento industrial, potencializando a expansão de áreas que anteriormente já começavam a constituir parques fabris razoáveis e diversificados no nordeste (eixo Porto Alegre - Caxias); 2. Expansão das lavouras mecanizadas (trigo, soja, arroz) dinamizando, ainda que parcialmente e em determinados momentos, o planalto (norte) e áreas da campanha (sul); 3. A expansão da concentração urbana já iniciada em 1930/40. Além dessas, ocorreram outras relativamente autônomas: na indústria, a implantação/melhoramento da infra-estrutura (sobretudo transporte, energia, comunicações) definiram potencialidades para o crescimento de determinadas regiões, além disso, as características da estrutura urbana geraram variações regionais, constituindo, em muitos casos, fatores determinantes para o desenvolvimento de certas atividades econômicas. No caso da lavoura mecanizada intervieram: a estrutura fundiária, o clima, a topografia, os solos, preços e disponibilidades de áreas para compra/arrendamento, agentes econômicos para conduzir atividades em bases empresariais modernas. Indústria: centro, O Rio Grande do Sul conseguiu, dado seu caráter de interdependência ao beneficiar-se do crescimento acentuado do setor secundário no Brasil, nas últimas décadas. A indústria gaúcha ultrapassou a atividade primária, sendo a mais importante dentre as causas determinantes da atual geografia espacial da economia regional. Característica marcante desse processo foi a concentração do parque fabril no eixo Porto Alegre - Caxias, pois se em 1940 já possuía significativos 47,35% do produto industrial regional, cresceu continuamente até atingir 69,94%, nos anos 70, devido a sua melhor infra-estrutura e pela localização e urbanização existentes, que favoreciam a instalação de indústrias. Um dos reflexos dessa realidade foi o extraordinário crescimento demográfico do eixo Porto Alegre - Caxias (23,25% da população do RGS em 1940, 38,33% em 1980) associado à forte migração rural de outras regiões. A década de 1970 marcou uma estabilização do crescimento gaúcho, com uma dispersão interna do crescimento industrial na região nordeste, destacando a decadência da capital (de 26,30% em 1960, para 17,82% em 1980), contraposta a expansão de cidades da região metropolitana de Porto Alegre (Guaíba, Canoas, Gravataí, Cachoeirinha, Esteio, Sapucaia), polo couro-calçadista (São Leopoldo, Novo Hamburgo, Estância Velha, Sapiranga, Taquara) e serra (Caxias do Sul, Bento Gonçalves, Farroupilha, Carlos Barbosa, Garibaldi). As outras regiões, com poucas exceções, tiveram queda no produto industrial do estado, destacando a decadência acentuada da campanha (Bagé, Santana, Uruguaiana, Rosário, São Gabriel, Santiago, São Borja), e de Pelotas. As exceções foram a evolução de Rio Grande (implantação do distrito industrial), e as regiões de Lajeado e Santa Cruz do Sul. Na verdade, ocorreu uma nova concentração, favorecida pela melhoria da infra-estrutura, sendo que as novas indústrias se localizaram fora das antigas e congestionadas zonas de industrialização, mas ainda perto dessas áreas mais antigas, desfrutando das suas vantagens da localização e urbanização. Esse processo teve efeitos contraditórios: a extinção de empresas do interior, voltadas para os mercados locais e que estavam protegidas pelas dificuldades de transportes; por outro lado estimulou a implantação, em algumas regiões do interior, de empreendimentos que aproveitavam recursos naturais ou beneficiamento da agropecuária local. Exemplo de indústria de maior sofisticação bem-sucedida foi a de produção de máquinas e implementos agrícolas na região do Planalto. Historicamente, desde a década de 1920 esta indústria tinha importância, se acentuando nos anos 60/70 com a expansão das lavouras de trigo e soja, aumentando suas escalas de produção e diversificando seus produtos. Agropecuária: Desde a década de 40 ocorreram transformações no setor primário, provocadas pelo desenvolvimento de alguns segmentos produtivos. As principais alterações estavam ligadas à modernização tecnológica e mudanças na produção. A característica mais significativa na agricultura, principalmente nos anos 1960, foi a acentuação da lavoura mecanizada, começando com o arroz no início do século, continuando com a explosão do trigo nos anos 40/50 e prosseguindo com o boom da soja nas décadas de 60/70. As conseqüências foram mudanças na participação das regiões no total do produto do setor primário: aumento da participação da região norte ( particularmente o planalto) queda significativa do eixo Porto Alegre - Caxias, e menor redução na zona central ; e manteve-se estável no sul (campanha) e outras regiões . O planalto alavancou uma produção baseada na expansão da lavoura mecanizada por possuir condições favoráveis de atração de capitais: características ecológicas, capacidade empresarial dos agentes econômicos, a que agregaria no período dos anos 60/70 o melhoramento da infra-estrutura (construções de ligações rodoviárias) e o surgimento das cooperativas. Na região mais ao norte do planalto ( Santa Rosa, Frederico Westphalen, Três Passos, Palmeiras das Missões) manteve-se a policultura, embora na década de 60 houvesse o domínio da soja, enfraquecido logo após, com a intensificação do trigo e milho e criação de suínos e gado leiteiro. Na região mais ao sul (Passo Fundo, Carazinho, Cruz Alta, Ijuí, Santo Angelo), a mudança mais importante foi a redução do gado de corte, que cedeu lugar às lavouras de trigo, soja e milho, tradicionais na região, que se expandiram devido aos preços vantajosos que alcançavam no período. O planalto foi a região do estado onde o "boom" agrícola dos anos 60/70 atingiu maior intensidade, conferindo a primazia na produção primária, particularmente a lavoura, servindo para ampliar a diferença em relação às demais regiões (39% da renda primária estadual). Na outra ponta do ranking agropecuário ficou o eixo Porto Alegre - Caxias (8,6% da renda primária estadual, em 1980), onde originara-se a agropecuária colonial, praticada por imigrantes europeus, em pequena e média propriedade, e que tivera importância fundamental no passado, mas que agora tinha um novo papel na divisão inter-regional do trabalho, o de economia urbana e industrial. Mais da metade da produção agropecuária da região era gerada pela lavoura, bastante diversificada, embora a acentuada especialização na uva em certas áreas, que sofreu mudanças importantes a partir dos anos 70, em função do crescimento das vinícolas. A pecuária estava centrada no gado leiteiro. O extremo nordeste - Campos de Cima da Serra (Vacaria) – vivenciou o avanço da lavoura, com a expansão da soja e a introdução intensiva da maçã. De reduzida presença no setor primário (1,59% da renda agrária estadual em 1980), com predomínio da média e grande propriedade apoiada na pecuária bovina, nas últimas décadas acompanhada pela extração de madeira. Ainda na região norte, na sua faixa de litoral, região heterogênea economicamente, fortemente influenciada pelo turismo sazonal, com uma agricultura em pequenas e médias propriedades, nos municípios de Torres, Capão da Canoa e Osório (1,25% da renda primária estadual em 1980). A região central (Santa Maria, Cachoeira do Sul, Lajeado, Santa Cruz do Sul), apresentou taxas menores que a média do estado (17,01% da renda primária estadual em 1980), tratando-se de área heterogênea, zona de transição entre o norte da pequena/média propriedade e o sul da grande propriedade. Caracterizou-se pelo avanço da lavoura até 1975, e pequena queda após, havendo expressiva recuperação da pecuária em certas áreas, via crescimento da avicultura e pecuária leiteira. Maiores transformações ocorreram na região de Lajeado, com a grande expansão da avicultura entre 1960 e 1980, primeiro apoiada no mercado interno gaúcho, devido a demanda pelo seu consumo em detrimento da carne bovina, dado o preço mais acessível em decorrência do baixo custo de produção. Num segundo momento, com capacidade concorrencial estabelecida, a avicultura alçou o mercado externo. Também significativo foi a rentabilidade do fumo, devido a adoção de técnicas modernas de cultivo, sendo histórica a especialização da produção, centrada na região de Santa Cruz do Sul. A região sul, em geral, manteve seu peso na renda interna da agropecuária, mas o núcleo central da campanha sofreu alterações relevantes. Historicamente voltada ao latifúndio bovino extensivo de corte e na produção de lã, já no começo do século XX a lavoura mecanizada chegou com o arroz , sendo acompanhada pelo trigo (a partir dos anos 50/60) e pela soja (década de 70) , fazendo com que a pecuária, menos dinâmica, perdesse importância relativa. Tudo isso reflexo do dinamismo da lavoura empresarial e das dificuldades estruturais da pecuária bovina para modernizar-se (ficando a ovinocultura em uma posição melhor). Paralelamente, o cultivo de arroz teve um desempenho e participação na renda interna primária excepcionais, atingindo 45,3% do total estadual em 1980, sendo que entre os maiores produtores estavam Alegrete, Bagé, São Gabriel, Uruguaiana e São Borja. Duas outra lavouras tem certa relevância na região: a soja, plantada desde os anos 60, alcançando 11,2% da produção estadual em 1980, entre os maiores produtores Santiago, São Borja e São Gabriel; e o trigo, que atingiu cerca de 24,5% da produção regional em 1980, assumindo importância naqueles mesmos locais onde há rodízio de plantio com a soja. Pelotas e arredores manteve uma participação estável entre 1960/80, ocorrendo as mesmas modificações do restante do Estado, com o recuo da pecuária e o avanço da lavoura e um certo refluxo do arroz e grande expansão do pêssego. Registrese, ainda, uma orizicultura significativa em Canguçu e Arroio Grande, sendo que Pelotas e Canguçu foram relevantes na produção do insumo principal para a indústria de conservas. Ainda na região sul: em Rio Grande as atividades primárias tem um desempenho inexpressivo na economia local; em Santa Vitória do Palmar, a lavoura mecanizada do arroz, cultivada em médias e grandes propriedades, é a atividade principal; em Mostardas e São José do Norte a agropecuária é a atividade dominante, o setor secundário praticamente não existe. De forma geral, o setor primário dessa região tem pouca repercussão no contexto regional (5,3% do produto primário estadual em 1980), com destaque para o arroz e a cebola. Anos 80:crise no crescimento, instabilidade, explosão de litígios. A maioria dos pensadores da década de 90 consagrou os anos 80 como anos de crise nacional, gestada nos anos 70 com o fim do milagre econômico da ditadura militar, e acelerada pelos reflexos das crises internacionais do petróleo (1973 e 1979), consolidando-se a partir de 1981, crise que condicionou profundamente o RGS. O período se caracterizou pelo baixo nível de investimento, taxas de emprego em redução, baixa incorporação de novas tecnologias e desarticulação da capacidade de investimento do setor público, todo esse processo implicando em redução das taxas de crescimento, embora não generalizáveis para todos os setores e com diferentes intensidades, e com alternâncias de anos com altos e baixos índices de crescimento. De maneira geral a indústria foi mais atingida, sobretudo o setor de ponta (indústria de transformação). É preciso, no entanto, refletir sobre a história política brasileira e mundial desse período sem o que corre-se o risco de deformar a complexidade dessa década, colocando um filtro redutor de seus significados e conseqüências. Nos anos 80, os eleitores brasileiros viveram um processo de ascenso dos movimentos sociais e aumento de suas expectativas com relação à ampliação da democracia brasileira e à ampliação de direitos. A queda do Muro de Berlim e o desmanchamento da União Soviética não atingiram direta e frontalmente as referências políticas do movimento sindical brasileiro, movimento esse que se apoiava no surgimento e crescimento de um partido político – o Partido dos Trabalhadores – que se pretendia alternativa ao socialismo real em vertiginosa queda no leste europeu. As circunstâncias políticas somadas à crise econômica são dados importantes a serem avaliados no momento em que se quer entender a chamada “explosão de litigiosidade” ocorrida nesse período. Indústria O desempenho do setor sofreu oscilações acentuadas no estado, acompanhando o país, com crescimento em 1982 a 1986, e taxas negativas nos outros anos, que, no entanto, não provocaram grandes alterações nos padrões de diferenças inter-regionais (com exceção da região central). O eixo Porto Alegre - Caxias, manteve sua posição de destaque no estado, embora com diferenciações internas, com pequeno avanço da indústria de transformação e relevante recuo da indústria de beneficiamento. Essas diferenças relacionam-se ao potencial da região, ponto ideal de instalação de plantas da mais sofisticada indústria de transformação, possibilidade de custos baixos devido à presença de unidades complementares e densa urbanização. Já a indústria de beneficiamento aproveita-se de base agropecuária, e a substancial melhoria da infra-estrutura nas décadas precedentes direcionou sua descentralização pelo interior do estado. Esse processo se refletiu no reordenamento espacial, mantendo a tendência das décadas anteriores, com a capital perdendo sua expressão como grande centro industrial, sobretudo na indústria de beneficiamento. Movimento diferenciado ocorreu no resto da região (sobretudo Grande Porto Alegre, Vale dos Sinos e Caxias), aumentando a participação na indústria de transformação e estabilizando no setor de beneficiamento. Digna de nota é a expansão industrial dentro do Vale dos Sinos, na área de Taquara (agregando Parobé, Três Coroas) e Gramado - Canela, fruto da extrapolação do parque industrial do chamado vale do sapateiro (Novo Hamburgo - São Leopoldo Sapiranga). Assim como Caxias, a área de Bento Gonçalves (Garibaldi - Farroupilha) manteve sua participação estabilizada nos anos 80, após forte arranque na década anterior. Paralelamente no extremo nordeste do estado, a região dos Campos de Cima da Serra (Vacaria) teve reduzida participação na produção industrial, chegou a diminuir seu já diminuto percentual, tanto no ramo de transformação como de beneficiamento. O planalto, na região norte, não aparece como uma área típica de industrialização, sendo que seu parque fabril, localizado em poucos centros urbanos e ligado ao setor primário, com produtos alimentares e óleos vegetais (significativos para Passo Fundo, Marau, Erechim, Santa Rosa, Ibirubá e Cruz Alta) e de máquinas agrícolas ( importantes para Horizontina, Carazinho, Panambi, Santa Rosa, Passo Fundo, Guaporé e Ijuí). A crise dos anos 80 atingiu a região, notadamente a indústria de transformação, pois a de beneficiamento manteve taxas similares à média estadual. A região central apresentou o crescimento mais significativo do estado, tanto no ramo de transformação como de beneficiamento, mas a causa essencial foi a consolidação do Pólo petroquímico em Triunfo - previsto no II PND dos anos 70 -, embora a expansão da indústria de beneficiamento também seja relevante. O Parque fabril está concentrado em Triunfo (ramo de transformação), Estrela, Lajeado, Taquari, Santa Cruz do Sul, Venâncio Ayres (ramo de beneficiamento, as duas últimas sobretudo o fumo). A zona da Campanha, na região sul, vem continuamente perdendo relevância no produto industrial gaúcho. A indústria de beneficiamento é a responsável ainda por um certo crescimento, devido fundamentalmente ao beneficiamento do arroz, secundado pelo gado e lã, com indústrias localizadas em Alegrete, Bagé, Livramento, Uruguaiana, Rosário do Sul e Itaqui. Novos ramos implantaram-se na região, com capitais estrangeiros, como cimento em Bagé, vinícolas em Santana, mas com reflexos ainda reduzidos na economia regional. Continuando no sul do estado, Rio Grande e arredores, que havia se recuperado nos anos 70, com o novo porto e distrito industrial adjacente, apresentou nova queda do seu produto industrial nos anos 80, tanto na indústria de transformação como de beneficiamento. Os ramos mais importantes da indústria local são o refino de petróleo e derivados, adubos e fertilizantes, e alimentos. Ainda na região sul, Pelotas, que concentra a indústria da sua região, continuou perdendo participação no Estado nos anos 80, tanto nos ramos de transformação como de beneficiamento. Embora historicamente importante na indústria de beneficiamento, é visível o baixo dinamismo industrial nas últimas décadas, sendo seus ramos mais importantes os produtos alimentares, química, metalurgia, couro e peles. Outros centros urbanos menores da região, como São Jerônimo, Charqueadas (embora proximidade com a capital), com indústria mecânica e metalúrgica, além da extração de carvão (maiores minas do estado). Agricultura As características principais da década, tanto no estado quanto no país, foram: a falta de uma política oficial de créditos e subsídios oficiais, que tanta auxiliou na acentuada expansão do setor primário na década anterior, obrigando a necessidade de autofinanciamento; e preços dos produtos em acentuado declínio, no caso do RGS, afetando os economicamente importantes cultivos de arroz, soja e milho; tendência de aumento de custos da produção, devido crises do petróleo e aceleração da inflação. Esses condicionantes afetaram sensivelmente a lavoura de grãos, que tem enorme peso na produção primária estadual. Essa realidade obrigou os produtores a acelerarem transformações na produção: racionalização no uso de insumos, utilização adequada de solos e aumento do consumo de fertilizantes, elevando a produtividade de muitas culturas. É possível constatar que áreas de três regiões sofreram modificações substanciais, o planalto, a campanha e a região central, sendo que as demais mantiveram-se estáveis. O planalto ascendeu significativamente sua importância no setor primário, particularmente os municípios de Cruz Alta, Ijuí, Palmeiras das Missões e Santo Angelo tiveram um crescimento relevante; em um ritmo menor os municípios de Marau, Passo Fundo, Getúlio Vargas, Sertão, Tapejara, Carazinho, Ibirubá, Santa Bárbara do Sul e Chapada; em ritmo mais reduzido estavam Giruá, Santa Rosa, Tucunduva. A expressiva expansão deve-se ao aumento de participação da soja, trigo, milho e mandioca, todas entre as principais culturas do Estado, ficando evidente que esta zona é o núcleo central destas lavouras no Estado. A campanha, no sul, apresentou o pior desempenho nos anos 80, com uma tendência de claro declínio na participação estadual na agropecuária, sobretudo nos seus municípios mais importantes como Alegrete, Bagé, Rosário do Sul, Santana do Livramento, São Gabriel, Uruguaiana, provocando um impacto na economia da região, pois o setor primário é o mais significativo. Os principais produtos são o arroz, a carne bovina e a lã, seguidos, em menor grau, pela soja e trigo. No entanto, suspeita-se que os indicadores possam ser exagerados por deformações estatísticas, particularmente no caso do arroz, importante lavoura da região, teve um rendimento excepcional, tanto em aumento da área de cultivo como em produtividade, atingindo quase a metade da produção estadual (47,5%). O pior desempenho foram os das lavouras de soja, relevante nos municípios da região, e trigo, significativo nas áreas de São Borja e Santiago. Tais lavouras, embora não tivessem uma tradição consolidada na região, contribuíam de forma interessante em termos de participação estadual (25% para o trigo, 11% para soja) até 1980, adquirindo um razoável peso na economia local, reduzido sensivelmente durante a década, particularmente o trigo (7% em 1988). No desempenho da pecuária, historicamente relevante na Campanha, apresentou decréscimo na bovinocultura e uma ascenção na ovinocultura. Os problemas da bovino cultura são históricos: dificuldade de rentabilidade para competir pelos melhores solos, perdendo continuamente áreas para lavouras; incapacidade de competição, em termos de custos, com outras áreas do país; e nos últimos anos, concorrência com avicultura em expansão e que apresenta custos reduzidos de produção, resultando em melhores preços ao consumidor. A região central apresentou menor crescimento que a média estadual, área heterogênea de produção diversificada, sofreu declínio em quase todas as áreas, sobretudo as mais relevantes na produção primária. A região de Cachoeira do Sul e arredores perdeu participação, especialmente avicultura e rebanho bovino, contraposto ao aumento no fumo e mandioca, sendo que manteve estável nos suínos e arroz, produto tradicionalmente histórico do município. Lajeado, Estrela, Taquari e seus arredores, teve decréscimos na importantes produções de frangos, suínos e fumo, e crescimento na cultura de mandioca. Na área de Soledade ocorreu um pequeno crescimento na suinocultura e descenso nas lavouras de mandioca e fumo. O eixo Porto Alegre – Caxias, tipicamente industrial, não sofreu grandes modificações no setor primário, mantendo estável sua participação no setor, com grande destaque para o cultivo da uva. Nos Campos de Cima da Serra, embora a notável expansão da maça (de 20,7 da produção estadual para 66,7% em 1988), conseguida tanta pela maior área de plantio como pelo crescimento da produtividade, não conseguiu melhorar sua posição no contexto geral no setor primário. A região de Rio Grande, englobando o litoral sul, também manteve seu padrão, nas culturas de cebola e arroz, com respectivamente 60% e 18% da produção estadual. Pelotas e região também não sofreram grandes modificações, permanecendo os destaques para os cultivos de arroz e pêssego, embora ligeiro descenso na participação estadual, ainda primeiro arroz com 11% e o segundo com 60%, secundado pelo rebanho bovino, este com pequena queda. O resultado desse estudo foi o agrupamento, para efeitos de estudo, de oito regiões de preservação da memória da Justiça e do Direito do Trabalho: ● capital - Porto Alegre; ● região metropolitana de Porto Alegre (Guaíba, Canoas, Gravataí, Cachoeirinha, Esteio, Sapucaia); ● polo couro-calçadista (São Leopoldo, Novo Hamburgo, Estância Velha, Sapiranga, Taquara); ● serra (Caxias do Sul, Bento Gonçalves, Gramado, Farroupilha); ● Alta); norte (Passo Fundo, Erechim, Santa Rosa, Ijuí, Cruz campanha (Bagé, Santana, Uruguaiana, Rosário, São Gabriel, Santiago, São Borja); ● Pelotas-Rio Grande (Rio Grande, São Jerônimo, Pelotas, Camaquã e Arroio Grande; ● centro (Santa Maria, Santa Cruz, Triunfo e Lajeado). ● Porto Alegre, novembro de 2005.