ROTEIRO DE AULA PRIMAVERA ÁRABE Prof. Aline Gomes “No mundo árabe, países governados há décadas por regimes políticos centralizadores contabilizam metade da população com menos de 30 anos; desses, 56% têm acesso à internet. Sentindo-se sem perspectivas de futuro e diante da estagnação da economia, esses jovens incubam vírus sedentos por modernidade e democracia. Em meados de dezembro, um tunisiano de 26 anos, vendedor de frutas, põe fogo no próprio corpo em protesto por trabalho, justiça e liberdade. Uma série de manifestações eclode na Tunísia e, como uma epidemia, o vírus libertário começa a se espalhar pelos países vizinhos, derrubando em seguida o presidente do Egito, Hosni Mubarak.” SEQUEIRA, C. D.; VILLAMÉA, L. A epidemia da Liberdade. Istoé Internacional. 2 mar. 2011 O termo “Primavera árabe”: o nome ‘primavera’ nos lembra de outros momentos históricos, como Primavera dos Povos ou Primavera de Praga. Ou seja, é uma tentativa de aproximação para eventos históricos conhecidos do ocidente, mas a escolha lexical está longe de contemplar todos os acontecimentos desse período atual no Oriente Médio e no Norte da África. Outros termos usados pela crítica: Despertar árabe: pois primavera é uma estação e passa, um despertar carrega um sentido mais duradouro. Década árabe: usado por muitos críticos pelo protagonismo desse povo na atualidade. Características gerais: Governos centralizadores (monarquias e ditaduras) Desenvolvimento econômico precário (baseado na exportação). 60% da população é jovem (em média 25 anos) Educação: houve avanços significativos, mas a economia não se desenvolveu ao ponto de absorver essa população escolarizada. (a maioria dos jovens fala também a língua do ex-colonizador, como francês, inglês, etc.) Internet: há um aumento no acesso, sobretudo em lanhouses. Crise econômica na Europa: muitos jovens viviam na Europa para trabalhar e mandar dinheiro para seus parentes. Entretanto, os primeiros desempregados na crise foram os imigrantes. Além disso, o turismo de europeus na região árabe diminuiu muito, o que tem consequências sérias na economia. Estopim: Mohamed Bouazizi, um jovem de 26 anos, vendedor de frutas e legumes, vai para mais um dia de trabalho. Chegando lá, alguns inspetores do governo pediram propina, o jovem se recusou a pagar e teve seus produtos apreendidos. Ele foi a sede do governo e diante da recusa de ter seus produtos de volta, ele compra um latão de gasolina e ateia fogo ao próprio corpo. Tunísia: Revolução de Jasmin: O ato de Bouazizi gerou a mobilização de milhares nas ruas, pressionando o presidente Zine al-Abidine Ben Ali a deixar o poder, em janeiro/2011. É importante compreendermos que a Tunísia sempre teve uma separação entre religião e Estado, mas que essa separação foi imposta pelos regimes ditatoriais (tanto Habib Bourguiba quanto Ben Ali). Dessa forma a laicidade do país não era natural (ou seja, a sociedade não “evoluía” em laicidade). Quando o governo é deposto grupos como o Ennahda (partido político islâmico) ganham força, chegando ao ponto desse partido vencer as eleições de 2011. Como estava no poder o partido sentiu grande pressão tanto de setores salafistas quanto de setores laicos, tomando algumas decisões mais moderadas. Nas eleições de out/2014, o Ennahda conseguiu uma participação menor no poder, hoje gerido pelo partido secular Nidaa Tounes. Essa derrocada abriu espaço para o ideário islâmico. Hoje muitos tunisianos filiam-se ao Estado Islâmico, agindo em seu próprio país (como nos ataques ao museu Bardo e em Sousse). Além disso, outros problemas persistem e aumentam ainda mais a popularidade do ISIS no país: "[Os jovens] ainda estão esperando por sua revolução e continuam sua busca por dignidade: liberdade sem dignidade é um conceito vazio" (Mohamed Kerrou, professor de Ciência Política na Universidade de Tunis El Manar.) Uma parte da população vê no ISIS uma saída para a justiça social, enquanto isso o governo de Beji Caid Essebsi tenta (através de acordos com a França, por exemplo) conter o terrorismo. Líbia: O ditador Muammar Kadhafi foi derrubado pelos protestos da Primavera Árabe, que geraram diversos grupos e uma guerra civil. Kadhafi foi morto em 2011, sobre isso Obama disse que era o fim de um “capítulo longo e doloroso” na história da Líbia e que os EUA ajudariam na transição à democracia. Hoje o país está dividido com um governo em Tobruk (reconhecido internacionalmente) e outro em Tripoli. Além disso, o ISIS controla parte do país. O país tem sido a principal base do fluxo migratório para a Europa. Egito: o coração do mundo árabe ilustra a complexidade dos eventos iniciados em dezembro de 2010 na Tunísia. A independência egípcia foi negociada com o colonizador. Em 1956, Nasser toma o poder por um golpe. Ele foi peça chave no país, sendo o percussor das ideias pan-arabistas. Quando Nasser morre, o poder é sucedido por Anwar AlSadat, que começa nasserista, mas muda de posição no decorrer dos anos. Sadat busca um acordo com o mundo ocidental, a política de portas abertas. Ele foi visto como traidor pelos muçulmanos. A partir daí começa a ditadura de Mubarak (1981—2011), que reprende os grupos islâmicos. Em 2011 os egípcios saem as ruas (principalmente a praça Tahrir) e derrubam o poder de Mubarak. O exército não participa da repressão aos manifestantes e por isso transição é feita pelos militares. As eleições são vencidas por Morsi (da Irmandade Muçulmana, de linha sunita), o que mexeu com o arranjo de forças na região. Morsi isola seu governo e pauta a constituição com base na sharia. Em 2013, o exército dá um ultimato para que o governo faça uma coalisão, o que não acontece. O exército toma o poder por um golpe. As eleições estão marcadas para outubro e dezembro desse ano (2015), entretanto parece que a solução está longe de ser efetiva. INDICAÇÕES: The square, 2013. Netflix Les couleurs de la contestation, YouTube ATIVIDADE: (FUVEST, 2014) Observe esta charge: a) Identifique e caracterize a situação histórica a que a charge se refere. b) Explique quais são os principais elementos do desenho que permitem identificar a posição de seu autor em relação à situação histórica nele representada. MAIS ATIVIDADES Você encontra mais exercícios sobre esse tema na “Lista Geopolítica” disponível no site e na apostila. Exercícios: 15, 24, 33, 38, 39, e 43.