A pesquisa como veículo para aprender a aprender Física na escola básica. *Sérgio Luis Corrêa da Luz, Mauro Sérgio Teixeira de Araújo, Maria Delourdes Maciel. CETEC – Ciências Exatas e Tecnológicas Universidade Cruzeiro do Sul/ SP - UNICSUL Resumo É freqüente encontrarem-se professores de Física insatisfeitos com sua prática de ensino em sala de aula. Por sua vez, a maioria dos alunos mostra-se desmotivada e, em geral, manifestam desinteresse e até receio desse componente curricular. Sabe-se que a maior parte dos alunos concluintes do ensino básico das escolas públicas não dará continuidade em seus estudos numa graduação em Ciências Exatas ou Naturais, sendo menor ainda a parcela que optará por estudar Física. No entanto, prosseguindo ou não os estudos, todos os alunos poderão fazer bom uso do conhecimento adquirido na disciplina de Física como recurso para sua vida pessoal, social e principalmente profissional. Desse modo, considerase importante a identificação de recursos que possam ser desenvolvidos no processo de aprendizagem em Física que sejam essenciais para a totalidade dos alunos. O desenvolvimento das chamadas potencialidades de cada aluno implica também em tirar o estudante da condição de espectador e armazenador de informação, transformando-o em reconstrutor de parcela relevante do saber. Para isto, a sala de aula precisa ser transformada em local de trabalho conjunto, devendo ocorrer uma transformação na maioria das escolas, acreditando-se que cada aluno deve ser entendido não apenas como um elemento racional ou mero receptáculo de informação, mas também, um ser particularmente repleto de emoções e sentimentos. Desse modo, é importante desenhar novos cenários educacionais, sendo as atividades baseadas em pesquisas e na realização de seminários desenvolvidos neste trabalho importantes meios para se estimular o imaginário, o interesse do aluno pela procura de significados, potencializando-o para aprender conceitos formais das ciências. Palavra chave: pesquisa-ação, tecnologia, seminários, ensino de Física. Introdução O desenvolvimento das chamadas potencialidades de cada aluno implica em tirar o estudante da condição de espectador e armazenador de informação, transformando-o em reconstrutor de parcela relevante do saber, com um novo papel no contexto educacional (CARVALHO, 1999). Segundo Demo (2003), a sala de aula clássica precisa ser transformada em local de trabalho conjunto. Neste novo contexto é necessária uma transformação na sala de aula, onde o aluno passa a ser entendido como um indivíduo participante e capaz de se apropriar de conhecimento através de pesquisas, seminários e debates, possibilitando-se desta forma, que o mesmo possa desenvolver não apenas a sua capacidade de pesquisa e de análise sistemática de fatos e informações, mas também a capacidade de reflexão e raciocínio, permitindo- lhe a elaboração e apresentação clara e objetiva de trabalhos. Conforme destaca Veiga (2003, p. 31), o seminário é uma técnica de pesquisa que, em seu desenrolar, pode se utilizar à exposição oral, da discussão e do debate, pois sua finalidade é pesquisar e ensinar a pesquisar. Essa técnica é centralizada na ação do aluno sobre o objeto da aprendizagem tendo por base a cooperação entre os integrantes dos grupos de trabalho, em um processo que deve contar com uma adequada orientação do professor, que se torna um facilitador da aprendizagem, buscando tornar o ensino mais crítico e criativo. Nesse contexto, alguns elementos que caracterizam as atividades didáticas que envolvem o uso de seminários pressupõem que os grupos formados com objetivos educacionais devem interagir reciprocamente, o que significa que os alunos não aprenderam somente com o professor, mas também através da troca de conhecimentos, sentimentos e emoções com os outros alunos, sendo essa uma premissa básica defendida por Veiga (2003) ao abordar o campo psicológico ou afetivo relacionado à educação, sendo que a noção de grupo está vinculada à da interação. O estabelecimento de diálogo entre professor e aluno deve ocorrer em um clima de reciprocidade e respeito, pois há necessidade de um envolvimento profícuo entre professor e aluno em função do cumprimento de uma atividade pedagógica que deve ocorrer de forma intencional, sistemática e planejada. Desse modo, cabe ao professor provocar questões, induzir reflexões e delinear caminhos que devem ser percorridos pelo aluno em direção a uma efetiva aprendizagem. Conforme Veiga (1991, p.106), o diálogo não é uma técnica pedagógica, mas sim uma postura assumida pelo professor em relação aos alunos e, principalmente, ao conteúdo, marcando uma relação interpessoal, afetiva e amistosa que apresenta uma profundidade social significativa. Portanto, “o diálogo sela o ato de apreender, que nunca é individual, embora tenha uma dimensão individual” (FREIRE 1986, p.14). O seminário deve ser realizado de modo que os estudos e pesquisas ficam a cargo do grupo responsável pela apresentação à classe, sendo que a extensão refere-se a um dado assunto ou parte dele, quando então o tema é subdividido em unidades menores aos componentes do grupo. O debate abrangerá a classe num todo, incluindo o professor, a quem cabe introduzir o assunto mais amplo e realizar apreciações sobre os trabalhos, direcionando e articulando os temas de modo a facilitar que os estudantes alc ancem as almejadas conclusões finais. Dessa forma, “a participação de todos, portanto, do professor e alunos, é importante para o fechamento do debate” (LAKATOS,1988, p. 36). A realização de atividades baseadas em seminários tem como objetivo utilizar uma técnica que socialize o conhecimento produzido pelos alunos após etapas prévias em que devem se reunir para desenvolver estudos e pesquisas, contando com a orientação do professor. Quando adequadamente conduzido, o seminário oportuniza para os alunos a possibilidade de se apropriarem de conhecimentos que os potencializem a crítica e a independência intelectual. O conhecimento assim adquirido e assimilado não é só transmitido pelo professor, mas é investigado inicialmente pelo aluno. Nesse sentido, de acordo com Veiga (1991, p. 110), “o aluno é visto como sujeito de seu processo de aprendizado, portanto o seminário não é simplesmente uma técnica de absorção de conteúdos”. Geralmente é de responsabilidade do professor a proposta de temas a serem estudados e pesquisados pelos estudantes, onde se espera que a participação do professor deixe de ser o centro predominante do saber, pois compete aos alunos a transmissão dos conteúdos investigados aos demais colegas, porem, é importante a participação do professor na condução da atividade com uma postura de facilitador e coordenador, sendo aquele que orienta, conduz e dirige a execução de todo esse processo. Vale lembrar que esta técnica pode fracassar, caso o professor não venha a desempenhar adequadamente seu papel ou os alunos não assumam o compromisso com o desenvolvimento da atividade. Uma experiência pedagógica Entendendo a prática educacional baseada no uso de seminários como um importante componente do processo de reflexão na investigação-ação desenvolvida, procurou-se analisar e sistematizar esses momentos coletivos, objetivando apresentar alguns indícios que permitam inferir como os alunos vivenciaram e aproveitaram à oportunidade de aprendizagem oferecida. Visualizando a sala de aula como uma comunidade, guardadas as devidas proporções, considera-se que o trabalho realizado encontra-se muito próximo da metodologia de pesquisa-ação e da pesquisa participante, empregada na área das Ciências Sociais, no sentido de que pesquisadores e grupos tornamse capazes de responder com eficiência aos problemas sob a forma de diretrizes de ação transformadora (THIOLLENT, 1994). Ao planejar os seminários foi preciso lembrar que se procura ensinar uma ciência. Não basta apenas a exposição de conceitos e cálculos, porque o objetivo maior é levar o aluno a compreender os fenômenos naturais, as tecnologias relacionadas a esta área do conhecimento e fazer com que o aluno esteja capacitado para aplicar esses conhecimentos, interagindo com o ambiente e com a sociedade contemporânea (BRASIL, 2002, p.59). Outro ponto importante foi à escolha dos temas para os seminários (BRASIL, 2002, p. 69), porque não se deve mais ensinar tópicos de conteúdos como se fossem estáticos e sim, ter como objetivo fazer os alunos se apropriarem dos conhecimentos adquiridos durante as pesquisas dos temas propostos. Com a perspectiva de planejar ações para os seminários com temas concretos e com amplas possibilidades de vivências, foi sugerido um plano de apresentações, assim estruturado. Equipamentos elétricos e energia elétrica: transformação de energia (resistência elétrica); instalações elétricas (associação de resistores); fenômenos (elétricos e magnéticos); receptores e geradores elétricos; produção e transmissão de energia elétrica. Aos temas propostos, durante as apresentações, foi acrescida pelo mediador dos seminários, uma abordagem histórica e cultural dos conhecimentos físicos envolvidos em cada tema e também incluindo o conhecimento científico e tecnológico como parte integrante da cultura contemporânea, ciência como construção histórica e social, processos de produção dos conhecimentos científicos e tecnológicos, ética e cidadania. Os conteúdos apresentam um caráter interdisciplinar, pois ao serem desenvolvidos permitem diversos pontos de contato com os conhecimentos químicos, biológicos, matemáticos e das ciências humanas. Metodologia de pesquisa Para a elaboração desse trabalho foram colhidas informações a partir de um questionário contendo questões qualitativas, sendo selecionadas algumas respostas que permitem caracterizar o alcance dos objetivos propostos por meio do desenvolvimento da investigação. A seguir, serão transcritas algumas falas dos alunos, assim como um quadro de categorias de análise que ajudará compreender as respostas das questões formuladas e, na seqüência, será apresentada análise interpretativa, possibilitando visualizar elementos e interpretações que, no conjunto, auxiliam a tecer o cenário vivenciado em sala de aula. Questão nº. 1: “A pesquisa para apresentação do seminário melhorou seu entendimento sobre os fenômenos físicos da eletricidade? (responda sim ou não e justifique )”. Os dados apresentados no quadro nº. 1 apontam que ocorreu um envolvimento com a prática pedagógica proposta, que indicam a pesquisa como ferramenta indutiva ao processo de aprender a aprender, favorecendo uma prática na qual o aluno tende a ser o construtor do próprio conhecimento (DEMO, 2003), assim, afastando-se de uma postura passiva para tornarem-se mais participativos, em um ambiente propício à discussão de teorias em sala de aula (CARVALHO, 1998). A pesquisa como ferramenta para entender fenômenos naturais Aprendizagem baseada na pesquisa para produção do conhecimento Estímulo à análise da capacidade de compor e recompor dados e informação. Relação entre teoria e cotidiano como empreendedora do ensino com pesquisa. Despertando a dúvida e a crítica para permitir a percepção de que os conteúdos não estão prontos. Despertar para observação de fenômenos naturais. Falta de comprometimento com a aprendizagem ou não aceitação da metodologia. Alunos (% ) 23 11 31 5 16 14 Obs.: as porcentagens foram calculadas a partir do número total de 328 alunos. Analisando as respostas dos alunos, é possível supor que o grande envolvimento verificado entre os mesmos esteja relacionado ao fato de que a maioria foi movida pelo prazer da descoberta, da investigação e da pesquisa, como mecanismo para sanar as suas dúvidas, afloradas ao longo das discussões promovidas nas aulas. O aprofundamento dos estudos proporcionado pela realização da pesquisa mostrouse capaz de promover a aprendizagem, conforme os relatos de alguns alunos transcritos a seguir: “O modo de aprendizagem dessa forma fez com que os alunos se interessassem mais pela matéria”. ”Com a pesquisa pude observar fenômenos elétricos simples que acontecem todos os dias e nem notamos”. “Desenvolvendo o trabalho para as apresentações, os alunos puderam aprofundar-se mais na matéria”. Os relatos mostram que a aprendizagem ocorreu baseada num processo de pesquisa que foi capaz de contribuir para a produção de conhecimento, superando-se a reprodução, a cópia e a imitação, onde se buscou um ensino aliado à pesquisa como princípio educativo e não apenas como princípio científico, sendo que o aluno passou a ser participante e sujeito do seu próprio processo de aprendizagem (DEMO, 2003). O processo de produção do conhecimento considera momentos gradativos de conquista. Nesse sentido, segundo Demo (2003), considera que o processo de ensinar pela pesquisa apresenta fases progressistas que vão desde a interpretação reprodutiva, a interpretação própria, a reconstrução, a construção, a criação e a descoberta. Como unidade indissolúvel, a teoria e a prática são favorecidas pelo espírito empreendedor desencadeado pelo ensino com pesquisa, levando o aluno a acessar, analisar e produzir uma síntese do conhecimento elaborado. A partir dos relatos obtidos pode-se verificar ainda a construção de uma rede de conhecimentos com conteúdos pedagógicos e disciplinares integrados, contribuindo assim para a construção de um conhecimento mais estruturado relacionado à disciplina onde, segundo Angotti (1992), a utilização de conceitos unificadores, permite uma melhor ligação das partes ao todo, isto é, uma questão que pede para citar exemplos de obtenção de energia elétrica, que se encontra situações de compreensão e características comuns dos quatro conceitos unificadores, foi relatada assim pelo aluno: “aprendemos a usar a energia elétrica e como funcionam as fontes de energia que convivemos no nosso dia-a-dia”. Questão nº. 2: “A utilização da informática como recurso de apresentação do trabalho motivou sua aprendizagem sobre os conteúdos da disciplina?”. Os alunos normalmente habituados a assistir aulas sentados, enfileirados e em silêncio, deverão assumir uma nova postura para que possam desenvolver as competências e habilidades almejadas. A aula tradicional baseada na transmissão do conhecimento pelo professor, na memorização dos alunos e em uma aprendizagem competitiva e individualista tende a dificultar o alcance desses objetivos, de modo que um dos maiores desafios da educação é mudar o eixo de ensinar, optando-se por caminhos que levem ao aprender. Na realidade, torna-se essencial que professores e alunos estejam em um permanente processo de aprender a aprender (C ARVALHO, 1998). Nesse sentido, algumas falas dos alunos transcritas e categorizadas no quadro, indicam que o uso de recursos de informática pode contribuir para essa nova postura ao modificar o ambiente de aprendizagem: “Sim, porque foi um ambiente diferente, mais inovado, em que pudemos usar a tecnologia”; “Sim, porque acabou com a rotina de lousa e caderno”. As respostas para essa questão, no quadro nº. 2, fornecem elementos que permitem refletir sobre a utilização de uma prática investigativa em sala de aula e que abre caminho para a utilização de recursos tecnológicos modernos e atuais. Recursos da informática como facilitador do ensino-aprendizagem A utilização do programa PowerPoint possibilitando compartilhar as descobertas. Alunos % 6 A internet como fonte inesgotável de pesquisa. 60 Como desenvolvimento da aprendizagem colaborativa. 17 Falta de conhecimento de como usar o computador 7 Dificuldade no uso das ferramentas de busca 10 Obs.: as porcentagens foram calculadas a partir do numero total de 328 alunos. Segundo Pierre Lévy (1993), o conhecimento pode ser apresentado de três formas diferentes: a oral, a escrita e a digital, sendo reconhecido que estas três formas já existem atualmente. Assim, torna-se necessário reconhecer que a era digital vem se apresentando caracterizada por uma significativa velocidade de comunicação e bem recebida pelos alunos conforme relatos: “Sim, com a inclusão digital facilita o aprendizado”; “Sim, porque o computador faz parte da nossa geração”. Embora se reconheça a era digital dotada de uma nova forma de mostrar o conjunto dos conceitos fundamentais de uma área do conhecimento, acredita-se que isto não deve implicar naturalmente em se descartar todo o caminho trilhado pela linguagem oral e escrito, nem mistificar o uso do computador no ensino, mas sim enfrentar com critério os desafios do uso dos recursos eletrônicos como ferramentas facilitadoras da aprendizagem, conforme destaca Valente (1996) em seu trabalho. Alguns aspectos positivos relacionados ao uso desses recursos podem ser encontrados nos seguintes relatos dos alunos: “Sim, muito melhor do que ter uma aula normal na sala de aula, pois não temos livros e fica muito difícil aproveitar o tempo de aula, pois se perde muito tempo passando lição na lousa; já no computador, o esquema já estava montado, era só aproveitar o tempo para explicação”. “Sim, o computador motiva o aprendizado e o interesse do aluno”. A Internet tem disponibilizado a tecnologia da informação a um gr upo imenso de pessoas, que podem conectar-se à rede, passando a ser usuários do universo de informações organizadas no mundo inteiro. Trata-se de uma mídia que estimula a motivação dos alunos e oferece a possibilidade inesgotável de pesquisa. Alguns relatos mostram com clareza esta característica do uso da informática como ferramenta de pesquisa: “Sim, porque pesquei em vários sites que contribuíram para o meu aprendizado”; “Sim, porque através do computador, tivemos mais acesso a visualização de como funciona um esquema elétrico e fórmulas”. Nesse contexto, um exemplo de recurso facilitador de aprendizagem é uma técnica multimídia chamada PowerPoint, que interage imagem, luz, som, texto, movimento, pesquisa e busca. Este recurso disponibiliza informações e orientações de trabalhos com grande facilidade para usuários, pois ao mesmo tempo em que todos se encontram concentrados nos materiais produzidos, verificam-se que esses materiais se apresentam de forma integrada, o que significa um ganho para a aprendizagem, na medida em que se aprende através de todos os sentidos e com inúmeros incentivos para a reflexão e a compreensão do assunto abordado. A preparação das apresentações, conforme relatos dos alunos foram bastante relevantes para o entendimento do conteúdo proposto para a aprendizagem: ”As apresentações foram bem elaboradas e com a ajuda da informática facilitou meu entendimento”. ”Com as apresentações dos colegas de classe, houve um diferencial que é a linguagem informal”. “Facilitou o entendimento, e as apresentações foram mais dinâmicas”. Novamente deve-se ressaltar que a riqueza desses recursos tecnológicos não prescinde da presença do professor e da sua atuação junto aos alunos, uma vez que essas técnicas são entendidas como ferramentas que devem colaborar para a realização de ações conjuntas entre professores e alunos em busca da aprendizagem. Questão nº. 3: “As apresentações e os debates foram importantes para se conseguir uma aula diferente e participativa?”. Constata-se inicialmente, conforme o quadro de categorias nº. 3, que a maioria dos alunos reconheceu a importância das apresentações e dos debates para modificar a dinâmica das aulas. Os debates e discussões como facilitadores de uma aula diferente e participativa Alunos (% ) Transformação de uma sala de aula em cenário propício para o aprendizado coletivo. Como integração dos conhecimentos entre as disciplinas. Como instrumento de reflexão e ação Decodificar significados das informações recebidas. Falta de interesse e motivação para interagir nas discussões. Obs: as porcentagens foram calculadas a partir do numero total de 328 alunos. 68 16 7 7 2 A transformação do contexto da sala de aula, afastando-se do ensino tradicional onde vigora a fala do professor que transmite um conteúdo a ser analisado e onde o aluno recebe passivamente esse conteúdo, tende a oportunizar um crescimento e valorização das relações interpessoais e um aprimoramento dos processos de ensino e aprendizagem, estimulando no aluno a busca e a satisfação pelo aprender a aprender e a adoção de uma postura mais participativa, conforme se observa nas respostas dos alunos: “Sim, porque participamos da aula com perguntas e respostas”; “Sim, porque saímos daquela rotina de textos e exercícios”. Alguns alunos conseguiram avançar e compreender que a atividade proposta apresentava fundamentos diferentes da aula tradicional, conforme o relato abaixo: Sim, porque aprendemos muito e isso tornou uma aula diferente. Entretanto, para alguns alunos a percepção das mudanças foi diferente, talvez pelo fato de estarem acostumados a receberem “receitas prontas”, preferindo o ambiente conhecido em que estão acostumados e onde sabem atuar com sucesso para conseguir notas satisfatórias. Assim, tivemos algumas falas importantes que reforçam esta concepção, como: “Não, porque entendi muito pouco do assunto”; “Não, porque a Física é muito complicada e difícil de entender”; ”Não, pois não entendi quase nada, não me dou bem com a Física”; ”Não, pois como a maioria dos componentes do grupo tem compromissos diários, não tivemos tempo de fazer um trabalho mais bem elaborado”. Uma sensível diferença da metodologia empregada quando comparada ao ensino tradicional é o número de mediadores presentes em uma situação de aprendizagem, pois enquanto em uma aula tradicional o mediador é o professor. Nesta proposta, cada participante do grupo atua como um mediador, de modo que as interações são bem mais freqüentes na medida em que “o aluno vai se construindo com cada um dos sujeitos que está ali” (DEMO, 2003). Nesse sentido, relatam os alunos: ”Sim; com estas aulas desenvolvi mais meus conhecimentos devido aos debates”; “Desse jeito, conseguimos participar mais”; “A partir dos debates, começamos a conhecer de um modo diferente a Física, porque para debater, tivemos que estudar o assunto”. Estes relatos revelam que a sala de aula pode ser um espaço para que ocorram ricas e intensas interações entre os diferentes atores que ali atuam, propiciando amplos diálogos entre os estudantes e seus colegas e também com o professor. Acredita-se, portanto, que a aula clássica precisa ser repensada, sendo transformada em um local de trabalho conjunto, coletivo em sua essência. Essa transformação, entretanto, constitui uma empreitada desafiadora, porque significa privilegiar o aluno dentro do processo, devendo ser considerado não apenas os aspectos cognitivos de cada alunam, mas também conquistar e agir sobre o seu lado emocional. Resultados obtidos na avaliação formativa. Entre os objetivos educacionais vinculados aos processos de ensino e de aprendizagem destaca-se a busca por uma mudança cognitiva e comportamental dos estudantes, caracterizadas pelo desenvolvimento cognitivo, aquisição e aprimoramento de competências e pelos aspectos de natureza afetiva e emocional. Entretanto, é inegável que mudanças profundas nesse processo tendem a ser complexas e raramente imediatas, necessitando de instrumentos que permitam verificar em que medida e como acontecem tais mudanças. A escola tem assumido a responsabilidade de preparar o aluno para apresentar o melhor desempenho em uma sociedade contraditória e desigual, em que os pontos de partidas e de chegada nem sempre são os mesmos para todos, dadas às desigualdades e oportunidades existentes. Nesse contexto, nos diversos momentos avaliativos que marcam a vida escolar espera-se que essas características da sociedade sejam consideradas, buscando estar apta para percorrer um longo caminho, tendo em vista as grandes competências definidas pelas Diretrizes Curriculares do Ensino Médio (BRASIL, 1999). Nesse enfoque, é fundamental uma verificação através de uma avaliação que informe acerca do processo ensino-aprendizagem e que permita o redirecionamento necessário de atividades e procedimentos visando tornar o aluno um ser capaz de construir seu próprio destino, solidariamente com aqueles que gravitam em seu entorno social. Nessa concepção de avaliação foram propostos instrumentos que possibilitem a formação de indivíduos com autonomia, construtores de conhecimento e conseqüentemente de seu processo histórico, o que é uma forma de promoção do ser humano e consolida-se como essência do processo educativo. As questões propostas no quadro nº. 4 viabilizaram o instrumento de avaliação que é vinculado ao projeto pedagógico da escola, que por sua vez esta direcionada para o perfil do aluno que a equipe escolar quer formar, em sintonia com sua realidade e necessidade social, que permitiu mensurar o aproveitamento dos alunos, conforme quadro de aproveitamento, e diagnosticar aspectos relevantes dos processos de ensino e aprendizagem que embasaram esse trabalho. Resultados da avaliação formativa Menções 0a2 Alunos (%) 1.1 3a5 20.3 6a8 56.8 9 a 10 22.7 Obs.: as porcentagens foram calculadas a partir do numero total de 328 alunos. O desempenho dos alunos apontou de maneira evidente uma melhora no processo de ensino-aprendizagem, onde foram diagnosticadas as características do aluno em relação às necessidades e desenvolvimento de conhecimentos, habilidades e competências para analisar e posicionar-se criticamente em relação aos temas de Ciências e Tecnologia (BRASIL, 1996), concluindo-se que o desenvolvimento individual é um fator relevante que estimula o crescimento cognitivo do aluno e assim garantindo a construção do seu conhecimento por meio de uma aprendizagem mais significativa e afetiva. Na perspectiva avaliativa que visa à construção de um conhecimento emancipativo (SOUZA, 1991), a avaliação deve ser considerada como um processo que permite diagnosticar como os alunos se apropria m do conhecimento social e da natureza, para ampliarem a compreensão de si mesmos, do mundo em que vivem e das possibilidades de transformação social. Portanto o professor deve propiciar um ambiente em sala de aula que fecunde o aprendizado interalunos, assim o aprendizado deve se dar muito menos por um embate conceitual promovido e centrado no professor, e muito mais pela dinâmica dialética com seus próprios colegas, onde passa a ser o agente de seu próprio aprendizado, colocando-se e precisando se justificar e se readequar conceitualmente perante os seus próprios colegas, em uma permanente ação-reflexão-ação, possibilitada pela mediação do professor. Assim, na medida em que o conhecimento Físico deixa de constituir um objetivo em si mesmo, passa a ser compreendido como um instrumento para a compreensão do mundo. A orientação pedagógica deve centrar-se na preocupação em atribuir ao conhecimento um significado no momento de seu aprendizado; conforme relato do aluno: “foi uma maneira de cada um mostrar o que sabe sobre a matéria e poder tirar dúvidas conversando entre amigos, o assunto se torna mais fácil”; “A partir dos debates passamos a conhecer de um modo diferente a Física, sendo necessário mostrar que dominamos os assuntos abordados”. Portanto, quando se toma como referência o “para que ensinar Física” deseja-se estar preparando o aluno a ser capaz de lidar com situações reais, como: crises de energia, problemas ambientais, manuais de aparelhos, concepções de universos, exames médicos, notícia de jornal, e assim por diante. Com esse objetivo se requer que os alunos adquiram competências para lidar com as situações que vivenciam ou que venham a vivenciar no futuro, muitas delas novas e inéditas. Em decorrência da metodologia aplicada, foi possível analisar que o aproveitamento atingiu mais de 90% do universo dos alunos envolvidos na atividade de investigação-ação. Desse modo, a avaliação subsidiou o projeto pedagógico da escola e permitiu a verificação dos objetivos propostos de aquisição de conhecimentos físicos e tecnológicos através de seminários que propiciaram aos alunos se apropriarem de conhecimentos através de pesquisas dos temas propostos. Desse modo, foi alcançada a finalidade de indicar alternativas pedagógicas para tornar a aprendizagem mais efetiva e socialmente mais significativas. Os alunos foram observados a partir da produção de trabalhos individuais e em grupo, bem como na elaboração de relatórios de atividades, de modo que este procedimento permitiu obter informações sobre as habilidades cognitivas e também sobre os procedimentos utilizados para resolver diferentes situações-problema. Considerações finais Com o objetivo de dar continuidade na formação de cidadãos críticos e conscientes conforme propõem os Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (PCNEM) e ao mesmo tempo capazes de interagir de todas as formas possíveis dentro de um cenário em contínua transformação, este trabalho mostra os resultados de atividades onde o PCNEM conclama os professores a se envolverem num processo de transformação da prática pedagógica que privilegie o aluno na busca da formação de um cidadão pleno. Resgatar o prazer de aprender a aprender constitui uma forma de ver o conhecimento como um todo socialmente construído e pode servir de inspiração para uma postura escolar menos impositiva que priorize a reflexão e a construção do conhecimento para que o cidadão esteja apto a interferir de forma consciente na sociedade (BRASIL, 1999). Sabe-se que toda aprendizagem requer um processo de mudança conceitual das estruturas mentais por parte daquele que aprende (VIGOSTK,1984). Portanto para ser agente de sua própria aprendizagem (DEMO, 2003), o aluno precisa ter liberdade de buscar a sua própria explicação para os conceitos físicos, enfim, ter a liberdade para traçar caminhos, assumir posições e apreender conhecimentos, procurando-se neste trabalho fazer com que o aluno aprenda Física, incorporando um saber abstrato e de resolução de problemas, mas que também lhe seja útil no seu cotidiano. Nesse sentido o importante é pensar e refletir fisicamente e libertar o aluno de ser um acumulador de conceitos. Sendo o objetivo da metodologia aqui proposta incentivar o aluno a pesquisar, não seria possível de outra forma promover a aprendizagem, senão pela pesquisa-ação, em que cada participante passa a ser um pesquisador da sua ação, ou um agente no processo (DEMO, 2003), implicando-se na busca de saídas para o problema encontrado (THIOLLENT, 1994) Apesar das dificuldades encontradas na estrutura escolar, como número pequeno de computadores disponíveis (10 máquinas) e uma média de 40 alunos por classe, para pesquisarem e prepararem os trabalhos e dispor de um dispositivo PC/TV para as apresentações, o desenvolvimento da atividade ocorreu de forma satisfatória e de acordo com os relatos dos alunos, foi um trabalho com resultados bastante positivos. Com a utilização da tecnologia telemática proporcionando uma abertura a mais para a sociedade do conhecimento aos alunos, verificou-se que suas posturas diante do ensino aprendizagem se modificaram, portanto, a escola precisa compreender que a incorporação de tecnologias contemporânea é fator determinante para a melhoria da qualidade de ensino. A utilização dessas tecnologias que possuem possibilidades inesgotáveis de pesquisa é um meio de comunicação ainda incipiente, mas que pode ajudar a rever, a ampliar e a modificar muitas formas atuais de ensinar e de aprender, Referências Angotti, Jose A. P. e Delizoicov, Demétrio. Física. São Paulo, SP: Cortez, 1992. Angotti, J. A.; Delizoicov, D. e Pernambuco, M. M.. Ensino de ciências: Fundamentos e métodos. São Paulo, SP. Cortez: 2002. Brasil, Ministério da educação. Parâmetros curriculares nacionais. Brasília: MEC/SEMTEC, 1999. ____________________ PCN+ Ensino Médio: Orientações complementares aos PCN. Brasília: MEC/SEMTEC, 2002. Carvalho, Anna M. P.; et al. Ciências no ensino fundamental: o conhecimento físico. São Paulo, SP: Scipione, 1998. Carvalho, Anna M. P.; et al. Termodinâmica: um ensino por investigação. São Paulo, SP: FEUSP, 1999. Demo, Pedro. Educar pela pesquisa, coleção educação contemporânea, 5ª edição. Campinas, SP: Autores Associados, 2003. Freire, Paulo. Medo e ousadia: o cotidiano do professor. Rio de Janeiro, RJ: Paz e Terra, 1986. Hoffmann, Jussara. Avaliação: mito e desafio – uma perspectiva construtivista. Coleção magistério, formação e trabalho pedagógico. Campinas, SP: Papírus, 1991. Lévy, Pierre. As tecnologias da inteligência. O futuro pensamento na era da informática. Rio de Janeiro, RJ: editora 34, 1993. Lakatos, Eva Maria; Marconi, Marina de Andrade. Fundamentos de metodologia científica, 5ª edição. São Paulo, SP: Scipione, 1998, p. 35 – 37. Saad, Fuad Daher; Yamamura, Paulo. Uma proposta metodológica para gerar novos projetos de ensino de física. IF – USP. São Paulo, SP: mimeografado, 2001. Souza, Clarilza Prado de (org). Avaliação do rendimento escolar. Campinas, SP: Papírus,1991. Thiollent, Michel. Metodologia da pesquisa-ação. São Paulo, SP: Cortez, 1994. Valente, Armando. Informática na educação: conformar ou transformar a escola. Florianópolis, SC: CED/UFSC, 1996. Veiga, Ilma. Passos Alencastro. A pratica pedagógica do professor de didática. Campinas, SP: Papírus, 1989. Veiga, Ilma. Passos Alencastro. Coleção magistério e trabalho pedagógico. Campinas, SP: Papírus, 1991, p. 103 – 113. Vygotsky, L. S. A formação da mente. São Paulo, SP: Martins Fontes, 1984.