XVIII Congresso Brasileiro de Automática / 12 a 16 Setembro 2010, Bonito-MS. REJEIÇÃO DE DISTÚRBIOS EM UM SISTEMA DE LEVITAÇÃO ELETROMAGNÉTICA FÁBIO F. NEVES; RODRIGO S. VALLE ; RICHARD M. STEPHAN Laboratório de Aplicações de Supercondutores (LASUP), Departamento de Engenharia Elétrica, Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Caixa Postal 68504, 21941-972 , RIO DE JANEIRO , RJ E-maisl: [email protected],[email protected], [email protected] Abstract This paper presents the experimental verification of the rejection of disturbances of constant intensity or with sinusoidal variation in a system of electromagnetic levitation. The model, consisting of a levitating sphere, simulates the operation of magnetic levitation trains (MagLev) or magnetic bearings. First, we provide a model for the electromagnetic levitation system. Next, we discuss the problem of disturbances and its solution with experimental verification. This result demonstrates an application of Control Theory that can be used to compensate imbalances of rotating masses for magnetic bearings. Keywords electromagnetic levitation, disturbance rejection, disturbance step, sinusoidal disturbance. Resumo Este trabalho apresenta a comprovação experimental da rejeição de distúrbios de intensidade constante ou com variação senoidal em um sistema de levitação eletromagnética. O modelo, constituído por uma esfera levitante, simula o funcionamento de trens de levitação magnética (MagLev) ou de mancais magnéticos. Primeiramente, estabelece-se um modelo para o sistema de levitação eletromagnética. Em seguida, discute-se o problema de distúrbios e a sua solução com comprovações experimentais. Este resultado demonstra uma aplicação da Teoria de Controle que pode ser empregada na compensação de desbalanceamentos de massas girantes com mancais magnéticos. Palavras-chave levitação eletromagnética, rejeição de distúrbios, perturbação degrau, distúrbio senoidal. Ortega 2001, Sinha 1987, Sotelo 2004 e William 2004), ilustrado na figura 1, mas o foco principal será a rejeição de perturbações de natureza constante ou variante senoidalmente, que não recebeu muita atenção na literatura citada. 1 Introdução Existem diversos métodos de levitação suportados em forças eletrostáticas, aerodinâmicas, pneumáticas ou magnéticas de acordo com Stephan (2002). A levitação magnética consiste em gerar forças de campo que sustentem um corpo sem nenhum contato físico. Na levitação eletromagnética, o campo magnético é produzido por um eletroímã e a intensidade do campo varia de acordo com a corrente que circula no eletroímã. Este princípio encontra aplicações em veículos de levitação magnética, conhecidos como MagLev e também em Mancais Magnéticos de acordo com Moon (1994) e Schweitzer (2009). No presente artigo, o problema da levitação eletromagnética será abordado à luz do tradicional experimento de levitação de uma esfera de material ferromagnético (Baranowski 2008, Gomes 2003 e 2004, Hurley 1997, Jayawant 1976, Naumović 2003, Oliveira 2006, Figura 1. Experimento de levitação de uma esfera 902 XVIII Congresso Brasileiro de Automática / 12 a 16 Setembro 2010, Bonito-MS. De acordo com Mota (2008), os parâmetros K x e K i da bancada experimental do laboratório para um gap de 12 mm são 559,25 N/m e 2,25 N/A, respectivamente. 2 Modelo Assim como o campo, a força magnética varia de acordo com a distância ao eletroímã e para cada gap (distância entre eletroímã e esfera) há uma determinada corrente necessária para que a força magnética total na esfera iguale o seu peso e ela levite na posição desejada (posição de equilíbrio). Tendo em vista que a esfera oferece uma distribuição complexa do campo ao seu redor, não é possível determinar uma expressão analítica para a força magnética, mas pode-se aproximá-la por série de Taylor no ponto de equilíbrio (𝑥0 , 𝑖0 ). Fmag x0 + ∆x, i0 + ∆i ∆x 𝜕F mag 𝜕x x0 , i0 + ∆i 3 Sistema Experimental O sistema experimental contém dois sensores necessários para o monitoramento e controle. O sensor de posição é um sensor ultrassônico e o sensor de corrente é um sensor Hall. O ganho do sensor de posição é K pos = 226,2 V/m e o ganho do sensor de corrente é K c = 2, 025 A/V. Ambas as medidas (posição e corrente) são transmitidas ao PC e processadas no real time toolbox do Simulink, uma ferramenta de simulações em tempo real do software Matlab. As figuras 2 e 3 apresentam o esquema de funcionamento do sistema completo. O sinal do sensor de posição 𝑥 é subtraído da referência de posição 𝑥0 (posição de equilíbrio desejada), gerando o sinal de erro 𝑒𝑝 (𝑡) fornecido ao controlador de posição. Após o ganho do controlador, gera-se a referência de incremento de corrente relativa à posição 𝑖𝑐𝑝 (𝑡), necessária para compensar o peso da esfera. O sinal do sensor de corrente 𝑖 é subtraído da corrente de offset, gerando o sinal de erro de corrente 𝑒𝑖 (𝑡). Este sinal se somará a 𝑖𝑐𝑝 (𝑡) gerando o sinal de controle 𝑠𝑐 (𝑡), o qual será utilizado no controle da corrente. = Fmag x0 , i0 + 𝜕F mag x0 , i0 𝜕i (1) No referencial adotado da figura 1, para um ∆x > 0 ou para um ∆i > 0, a Fmag aumenta. Deste modo, tem-se: m∆x = Fmag − mg (2) Fmag x0 , i0 = mg (3) 𝜕F mag 𝜕x 𝜕F mag 𝜕i x0 , i0 = K x (4) x0 , i0 = K i (5) Fmag = mg + K x ∆x + K i ∆i (6) m∆x = K x ∆x + K i ∆i (7) Tabela 1. Variáveis e constantes do processo. Parâmetro Significado m x x0 i i0 Fmag g Kx Massa da esfera Posição da esfera Posição de equilíbrio Corrente no eletroímã Corrente de equilíbrio Força magnética Aceleração da gravidade Derivada direcional da Fmag em relação à x Derivada direcional da Fmag em relação à i Ki Figura 2. Sistema de Levitação Eletromagnética no PC Aplicando a transformada de Laplace, obtêm-se a seguinte função de transferência para o sistema: G s = ∆X(s) ∆I(s) = Ki ms 2 − K x (8) Figura 3. Sistema de Levitação Eletromagnética na bancada 903 XVIII Congresso Brasileiro de Automática / 12 a 16 Setembro 2010, Bonito-MS. 3.1 Controle controle de corrente do tipo Bang-Bang (On - Off) com histerese que processa o sinal 𝑠𝑐 (𝑡). A taxa de amostragem utilizada no ambiente de simulação (6,67 × 10−5 𝑠) foi significativamente menor do que a menor constante de tempo do processo, o que nos permitiu optar por um controlador contínuo. Para uma planta instável descrita na Eq.(8), com dois 3.2 Eletrônica de Potência Esta parte do sistema é responsável por gerar a corrente que passa pelo eletroímã, de forma que a esfera se mantenha na posição de equilíbrio. O eletroímã é o atuador da malha de controle. O circuito de potência é composto por dois mosfets e dois diodos formando uma ponte. Quando o sinal de controle é positivo, os dois mosfets são acionados e é aplicada uma tensão positiva no eletroímã, ou seja, a corrente que passa no eletroímã aumenta e atrai a esfera. Quando o sinal de controle é negativo, os mosfets são bloqueados e é aplicada uma tensão negativa no eletroímã, ou seja, a corrente que passa nele decresce e a esfera tende a cair. Portanto, os mosfets irão chavear numa freqüência elevada e a corrente média ficará igual à corrente de referência 𝑖0 quando a esfera estiver na posição de equilíbrio 𝑥0 . pólos reais em ± K x m ≅ ±39.5 𝑠 −1 , um controlador PD resolve o problema da estabilização do controle de posição. No entanto, este controlador foi realizado com um compensador LEAD, que acrescenta um pólo no controlador para filtrar ruídos de alta freqüência. Para eliminar o erro de regime permanente foi ainda adicionado um integrador resultando C(s). Este integrador poderia também ser aproximado por um compensador LAG. 𝐶 𝑠 = 𝐾𝑝 𝑇𝑑 𝑠+1 ∝𝑇𝑑 𝑠+1 + 1 (9) 𝑇𝑖 𝑠 Tabela 2. Parâmetros do Controlador de Posição. Parâmetro Valor Kp 0.67 Td 0.025 s Ti 1.0 s ∝ 0.2 4 Resultados Experimentais As partes do distúrbio e do Controlador Anti-Distúrbio Senoidal, CADS(s), serão explicados na próxima seção. Na figura 5 é exibido o diagrama do Simulink. Os parâmetros da Tabela 1 foram obtidos utilizando a ferramenta rltool do Matlab, que permitiu determinar um controlador através da técnica de posicionamento de pólos. Na figura 4, podem-se verificar os pólos da planta realimentada e também a posição do zero do controlador em -40𝑠 −1 e do seu pólo em -200𝑠 −1 . Figura 5. Diagrama de blocos no Simulink A figura 6 apresenta o sinal do sensor de posição de uma experiência para uma referência de posição constante. Pode-se observar que a esfera conseguiu acompanhar a referência desejada. Figura 4. Root Locus do sistema com LEAD A partir do modelo da Eq.(8), nota-se que é possível controlar a posição da esfera a partir do controle da corrente no eletroímã. Deste modo, realizou-se um 904 XVIII Congresso Brasileiro de Automática / 12 a 16 Setembro 2010, Bonito-MS. Deste modo, foi realizada uma experiência em que a esfera estava levitando e em um determinado instante foi adicionado um distúrbio de corrente 𝑑(𝑡) de valor igual a 10% de 𝑖0 , resultando na figura 8. Figura 6. Referência de posição constante 5 Rejeição de Distúrbios Figura 8. Sinal de posição para uma perturbação em degrau 5.1 Introdução ao Problema Pode-se observar que o erro de posição causado pela perturbação degrau que entrou no sistema no instante 5s foi eliminado rapidamente. Isto se deve à ação do integrador presente no controlador C(s). As perturbações estão presentes em todos os sistemas reais e sua compensação torna-se uma tarefa desafiadora, pois, na grande maioria dos casos, não podem ser medidas ou previstas. Conhecidamente, perturbações de intensidade constante podem ser rejeitadas com a introdução de integradores e a adequada sintonia dos reguladores. Perturbações de natureza senoidal podem ser rejeitadas desde que se saiba a freqüência do sinal de distúrbio, como visto em Franklin (2002). Perturbações de intensidade constante ocorrem, por exemplo, em trens MagLev com a variação do número de passageiros ou carga. Perturbações senoidais de freqüência conhecida ocorrem em sistemas com Mancais Magnéticos, empregados em máquinas que exigem alta velocidade de rotação. A função dos Mancais Magnéticos é sustentar um eixo sem nenhum contato físico através do controle de corrente de eletroímãs posicionados em suas extremidades. Os distúrbios originam-se do desbalanceamento nas partes girantes e ocorrem na freqüência de rotação. Para simular uma perturbação senoidal, foi adicionado um sinal senoidal 𝑑(𝑡) ao sinal 𝑠𝑐 (𝑡) de acordo com a figura 2. A amplitude foi escolhida como sendo 10% do valor da corrente de equilíbrio e a freqüência igual a 5 rad/s. Para eliminar um distúrbio senoidal, o controlador atual não funciona como mostra a figura 9. Portanto, deve-se mudar o controlador. Figura 7. Mancais Magnéticos Figura 9. Sinal de posição na presença de uma perturbação senoidal 5.3 Rejeição de um Distúrbio Senoidal 5.2 Rejeição de um Distúrbio Degrau Para simular uma perturbação degrau, que equivaleria a uma força externa constante resultante, por exemplo, de um aumento na massa da esfera, foi adicionado um sinal degrau 𝑑(𝑡) ao sinal de controle 𝑠𝑐 (𝑡). 905 XVIII Congresso Brasileiro de Automática / 12 a 16 Setembro 2010, Bonito-MS. 5.4 Controlador Anti-Distúrbio Senoidal (CADS) Isto caracteriza o CADS como um controlador específico para cada freqüência. Com o controlador CADS(s), foi obtido o resultado experimental apresentado na figura 11: Para definir o novo controlador, deve-se montar o diagrama da figura 10 e resolver o problema de regulação, na presença de distúrbio e com referência de posição nula. Figura 10. Problema de regulação Deste modo, obtêm-se as seguintes equações: 𝐸𝑝 (𝑠) 𝐷(𝑠) = 𝐺(𝑠) 1+𝐺 𝑠 𝐶𝐴𝐷𝑆 (𝑠) 𝐸𝑝 𝑠 = 𝐷 𝑠 ( = 𝑁𝐺 𝐷𝐺 𝑁 𝑁 1+ 𝐺 𝐶 𝐷𝐺𝐷𝐶 𝑁𝐺 𝐷𝐶 𝐷 𝐺 𝐷 𝐶 +𝑁𝐺 𝑁𝐶 ) (10) Figura 11. Sinal de posição com atuação do CADS e perturbação senoidal (11) Pode-se verificar nesta experiência, na qual o distúrbio foi aplicado no instante 1s e o CADS(s) no instante 8s, que o controlador CADS(s) rejeitou o distúrbio apresentando um erro de posição considerado desprezível. Sabendo-se que o sistema é estável, pode-se aplicar o Teorema do Valor Final: 𝑒𝑝 ∞ = lim𝑠→0 𝑠 𝐷 𝑠 ( 𝑁𝐺 𝐷𝐶 𝐷 𝐺 𝐷 𝐶 +𝑁𝐺 𝑁𝐶 )=0 (12) 6 Conclusão Se o distúrbio for uma senóide, a partir da equação (12), tem-se: 𝑒 ∞ = lim𝑠→0 𝑠 𝑤 ( 𝑁𝐺 𝐷𝐶 𝑠 2 +𝑤 2 𝐷 𝐺 𝐷 𝐶 +𝑁𝐺 𝑁𝐶 )=0 Este trabalho mostrou, através de uma experiência de levitação magnética, a aplicação da teoria de Controle para rejeição de distúrbios. Distúrbios em degrau foram compensados com um controlador com termo integral. Para eliminar distúrbios senoidais, houve a necessidade de um controlador com denominador composto de pólos imaginários com módulos iguais à freqüência de oscilação do distúrbio, além de dois zeros no numerador para garantir a estabilidade, como previsto na teoria. Este resultado pode ser utilizado em Mancais Magnéticos no tratamento de distúrbios oriundos de desbalanceamentos mecânicos e será o objeto da continuidade deste estudo. (13) A partir da equação acima, concluí-se que o CADS deve possuir pólos complexos no denominador iguais a ± wi, sendo w a freqüência de oscilação do distúrbio, além de garantir a estabilidade do sistema. A estabilidade é garantida com a escolha de dois zeros para o CADS. Os zeros foram escolhidos utilizando a ferramenta rltool do Matlab, através da qual se constatou uma boa estabilidade para zeros com a parte imaginária até 2w e a parte real entre -35 e 0, observando que os pólos da planta são ±39.5 𝑠 −1 . Deste modo, foi necessário somar ao controlador C(s) uma parcela para eliminar o distúrbio senoidal. Esta parcela a ser somada foi nomeada de Controlador Anti-Distúrbio Senoidal, CADS(s), que foi determinado na figura 5 para uma freqüência de 5 rad/s e com zeros do numerador iguais a −20 ± 5𝑖. A variável β que multiplica o novo controlador foi obtida empiricamente. Para cada freqüência de distúrbio, os pólos do denominador do controlador deverão mudar, pois caso contrário o distúrbio não será totalmente eliminado. 7 Agradecimentos Agradecemos ao CNPQ e à FAPERJ pelo apoio financeiro na realização deste trabalho. 906 XVIII Congresso Brasileiro de Automática / 12 a 16 Setembro 2010, Bonito-MS. Sinha, P. K. (1987) Electromagnetic Suspension: Dynamics and Control. IEE Control Engineering Series, England. Sotelo , G. G.; Gomes, R. R.; Stephan R. M. (2004) Comparação de Configurações para um Levitador Eletromagnético pelo Método dos Elementos Finitos. 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