casamento – a relação anima / animus

Propaganda
ATIVIDADE COMPLEMENTAR DE PSICOLOGIA JUNGUIANA
TURMA 600
CASAMENTO
A RELAÇÃO ANIMA / ANIMUS
Trabalho N° 9
André Bertolino Rodrigues
Neusa Aparecida de Lima
Silvia Regina de Paula Oliveira
São Paulo
2013
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO..............................................................................................................................3
1.1 O casamento na mitologia grega ............................................................................................ 3
1.2 Estágios do desenvolvimento de anima – animus: ................................................................ 3
1.3 A estrutura da psique ............................................................................................................... 4
2. ANIMA E ANIMUS E A RELAÇÃO COM O CASAMENTO.........................................................5
2.1 Despersonalização .................................................................................................................. 7
2.2 Representação do anima e animus através das imagens do inconsciente: ........................8
2.3 A dinâmica das projeções nos relacionamentos entre homem e mulher, anima e animus: 9
3. CONCLUSÃO ............................................................................................................................12
4. REFERÊNCIAS ..........................................................................................................................13
2
1. INTRODUÇÃO
A relação Anima/Animus vem sendo discutida por muitos estudos sob diferentes
perspectivas. Esse trabalho objetiva discorrer essa relação sob a perspectiva do casamento. Para
tanto, foram utilizados os autores Carl G. Jung, Emma Jung, James Hillman, John A. Sanford,
Raissa Cavalanti, Junito de Souza Brandão e as informações das aulas.
1.1 O casamento na mitologia grega
Na mitologia grega, o casamento visa fecundidade e fertilidade. É um ritual onde a noiva é
“raptada” da casa dos pais para sua nova casa. O mundo moderno mantém de certa forma este
ritual: as noivas são transportadas nos braços do marido para dentro do novo lar ou do quarto na
primeira noite de núpcias. (Junito de Souza Brandão, 1987)
Hera, por exemplo, é a deusa do casamento, deusa da Fertilidade, casada com Zeus que
simboliza não apenas as forças brutas da natureza, mas, exprime a oposição à espiritualização
harmonizante. (Junito de Souza Brandão, 1987)
Eros, deus do amor, nasceu do Caos e Nix, mas tem várias versões de genealogias, e por
fim é considerado filho de Hermes e Afrodite. Um intermediário entre os deuses e os homens e,
como o deus do amor está à meia distância entre uns e outros, preenchendo o vazio, tornandose, assim, o elo que une o Todo a si mesmo. (Junito de Souza Brandão, 1986)
Os casamentos dos deuses mitológicos podem ser comparados à união da anima e
animus: muito intensos, com muito ciúme, emoção e vingança, sem a presença do ego e da
consciência.
1.2 Estágios do desenvolvimento de anima – animus:
Anima é também a caricatura do Eros feminino. Eros é um entrelaçamento, é a relação. O
sal representa o princípio feminino do Eros, o qual faz todas as coisas se relacionarem entre si,
uma relação de sentimento. Para Jung, o homem será forçado a desenvolver seu lado feminino
para Eros. Anima e animus vivem e funcionam no substrato filogenético que Jung chamou de
inconsciente coletivo. É a mente de nossos ancestrais desconhecidos. Enquanto anima volta para
trás, animus está mais preocupado com o presente e o futuro. Anima e animus precisam um do
outro.
Abaixo, são apresentados os quatro estágios da fenomenologia erótica com os quatro
níveis de anima1, ou os quatro estágios de desenvolvimento de anima e animus 2, onde anima
representa Eros e animus, logos:
1
2
HILLMAN, James. Anima Anatomia de uma Noção Personificada, página 35.
JUNG, Carl Gustav. O Homem e Seus Símbolos, páginas 185-194.
3
ANIMA
EVA
Relacionamento
instintivo e biológico
HELENA
Romântico e Estético
MARIA
Devoção Espiritual
SOFIA
Sapiência (Sulamita)
EROS
ANIMUS
FORÇA FÍSICA
INICIATIVA E CAPACIDADE DE
PLANEJAMENTO
“VERBO”
Professor ou
clérigo
“PENSAMENTO” Firmeza Espiritual
LOGOS
1.3 A estrutura da psique
Anima e animus podem ser considerados como um aspecto da psique.
A estrutura da psique segundo C. G. Jung pode ser exemplificada pela imagem abaixo:
Figura 1: A estrutura da psique. (Magaldi, 2013, disponível em www.ijep.com.br)
4
Segundo Jung, o Self abrange o Self Kósmico, o Self Coletivo e o self pessoal. O meio
ambiente externo está localizado nos domínios do Self Coletivo. Todo esse conjunto é
compreendido pelo Inconsciente Coletivo (Figura 1).
No inconsciente pessoal ficam armazenadas todas as vivências reprimidas, esquecidas,
ignoradas e sentidas, as quais o ego ideal não admite em sua consciência. No inconsciente
pessoal há também conteúdos adquiridos do funcionamento psíquico, ou seja, da estrutura
cerebral herdada (Figura 1). A persona faz a relação com o meio externo. A sombra promove a
relação da persona com o inconsciente pessoal e/ou coletivo, por ser tudo aquilo que não
queremos, mas somos (Figura 2). Anima e animus fazem a comunicação/relação com o mundo
interno (relação pessoal) e com o inconsciente coletivo (Figura 2).
Figura 2: Esquema representativo da relação dos aspectos conscientes e inconscientes.
Neste trabalho serão explorados a anima e o animus e sua relação com o tema do
casamento.
2. ANIMA E ANIMUS E A RELAÇÃO COM O CASAMENTO
Anima e animus são arquétipos que constroem um elo entre o pessoal e o impessoal, bem
como entre o consciente e o inconsciente. (Emma Jung, 2006)
Todo ser humano é andrógino, palavra de origem grega: andros e gynos, que significam,
respectivamente, homem e mulher. (Emma Jung, 2006) Assim, anima é a personificação de todas
as tendências psicológicas femininas na psique do homem, os humores, os sentimentos instáveis.
Animus personifica as tendências psicológicas masculinas na psique da mulher, a autoridade, a
racionalidade, a força física.
5
Jung entende anima e animus como “um complexo funcional que se comporta de forma
compensatória em relação à personalidade externa, de certo modo uma personalidade interna que
apresenta aquelas propriedades que faltam à personalidade externa, consciente e manifesta.
3
Jung denomina a anima de “arquétipo do feminino”, “arquétipo da vida”, ou seja, a imagem,
o arquétipo ou o depósito de todas as experiências do homem com a mulher. O gênero feminino
anima é exclusivamente uma figura compensatória para a consciência masculina. Algumas vezes,
Jung discute a homossexualidade masculina como uma identificação com a anima. (Emma Jung,
2006) Anima, como arquétipo do feminino, influencia o processo psíquico independente do sexo.
Anima não é encontrada no imaginário do inconsciente de uma mulher, que possui o
animus, de acordo com o par de opostos. Animus refere-se a espírito, a logos, palavra, ideia,
intelecto, princípio, abstração, significado, figura compensatória para a consciência feminina.
(Emma Jung, 2006) Se o desenvolvimento do animus não for acompanhado pelo da anima,
afastará a mulher da compreensão psicológica. Estas duas figuras não são determinadas apenas
pela estruturação do sexo oposto, mas também são condicionadas pelas experiências que cada
um traz em si no trato com indivíduos do sexo oposto durante a sua vida ou através da imagem
coletiva que a mulher tem do homem e o homem da mulher.
O animus pode se tornar negativo, quando a libido torna-se autônoma e poderosa,
subjugando o eu consciente e dominando a personalidade, isto é, quando a função espiritual não
é assumida pela consciência e o arquétipo animus é ativado no inconsciente. Nesse caso, a
mulher, inconscientemente, leva o parceiro a um comportamento arquetípico, isto é, um
comportamento de animus, através do próprio comportamento. O mesmo vale para o homem. Ele
também “gostaria” de ver na mulher a imagem dele mesmo, e, através deste desejo que atua
como uma sugestão pode fazê-la tornar-se uma figura de anima. Ocorre, nesse caso, uma
projeção.
Quando não se consegue fazer a diferenciação entre a imagem interna e a pessoa externa,
há o conflito, anima e animus incorporam o todo da personalidade, formam seu cerne, e isso pode
ser um problema comum a muitas mulheres atuais.
Como diz Emma Jung, 2006, por tratar-se de complexos, anima e animus podem tornar-se
figuras autônomas, isso ocorre devido à atração da libido para anima e/ou animus até atingir uma
dimensão imponente, tornando-se protagonistas e dominando a personalidade.
...tais emoções (advindas da ação dos complexos) são diametralmente opostas aos nossos pontos
de vista ou intenções, de tal forma que dão a impressão de se tratar de manifestações de um ser com
existência própria, diferente de nós. 4
3
JUNG, Emma. Animus e Anima, página 15.
4
JUNG, Emma. Animus e Anima, página 13.
6
O homem é guiado pela concretude, pela racionalidade, pela luminosidade, pelo logos. O
espiritual da mulher é pouco desenvolvido, infantil ou primitivo 5, e isso a permite ter contato mais
facilmente com o abstrato, com o subjetivo, com o inconsciente. No tocante ao espiritual e seu
estágio de desenvolvimento, temos: (Emma Jung, 2006)
HOMEM
MULHER
Desejo de conhecimento
Curiosidade
Julgamento
Preconceito
Pensamento
Imaginação ou sonho
Vontade
Desejo
Trata de problemas
Contenta-se com adivinhações
Busca sabedoria e conhecimento
Prende-se a crenças ou superstições
Anima e animus são agentes mediadores entre os conteúdos inconscientes e a
consciência, ou seja, ambos trabalham da mesma maneira. Porém, há diferença de papéis do
animus e da anima. O papel de transmitir conteúdos inconscientes, no sentido de torná-los
visíveis, é desempenhado pela anima, a qual auxilia na percepção de aspectos que de outra
forma permaneceriam no escuro. Essa visão, a “percepção daquilo que não pode ser visto de
outra maneira”, torna-se possível ao homem através da anima.
No animus, a tônica não se encontra na percepção pura e simples, mas sim, de acordo
com o ser do logos, no conhecimento e especialmente na compreensão. O que o animus
transmite é mais representado pelo sentido do que pela imagem.
2.1 Despersonalização
A despersonalização é uma mudança em que o indivíduo se sente diferente de seu ser,
não se reconhecendo como uma personalidade. As características de despersonalização são
relatadas em estados tóxicos, na epilepsia e em doenças cerebrais orgânicas, em pessoas
normais na puberdade, velhice, histeria, melancolia, ansiedade, fobias neuróticas, compulsões,
esquizofrenia, psicoses maníaco-depressivas. Às vezes dura muito, outras vezes é efêmera.
Segundo Hillman, muitos autores, (Hillman, 1985) consideram a despersonalização como
um distúrbio da relação ego-mundo. O indivíduo despersonalizado sente que ele não é real e que
também o mundo não é real. É diferente da depressão, pois não manifesta a inibição de funções
vitais e o estreitamento do foco, mas sim uma perda do envolvimento pessoal e da ligação com o
“self” e com o mundo. Jung atribui esses estados ao arquétipo da anima.
5
JUNG, Emma. Animus e Anima, página 29.
7
2.2 Representação de anima e animus através das imagens do inconsciente:
Anima aparece no inconsciente, em sonhos, etc., como imagens de mãe ou amada, irmã
ou filha, senhora ou escrava, sacerdotisa ou bruxa, com os respectivos sinais contraditórios de
um ser claro ou escuro, prestimoso e pernicioso, elevado e baixo.
Animus aparece como vários homens, um bando de pais, um conselho ou tribunal ou uma
assembléia de homens sábios, ou um artista que pode se transformar em vários personagens.
A dança e a música têm importante papel como formas de expressão para a mulher. A
dança ritual está claramente baseada em conteúdos espirituais. A música tem condições de
permitir o acesso às profundezas da psique onde o espírito e a natureza são ainda um e por isso
ela se constitui numa das formas principais e mais primitivas na qual a mulher vive o espírito de
modo absoluto. (Emma Jung, 2006)
O animus deixa de ser negativo, uma ameaça para a mulher, quando ela aprende a
valorizar e acentuar seus valores femininos e resiste ao poderoso princípio masculino em seus
aspectos internos e externos. Quando consegue se diferenciar do animus e se afirmar em relação
a ele, ele não será um perigo, mas ao contrário, uma energia criativa.
O dom da visão e a arte da adivinhação são atribuídos especialmente à mulher porque, em
geral, ela está mais aberta ao inconsciente do que o homem. Receptividade é uma atitude
feminina e exige estar-se aberto e vazio e por isso Jung a qualifica como o maior segredo do
feminino. (Emma Jung, 2006) Diferentemente da consciência racional, orientada do homem, que
tem a tendência de negar tudo o que não é razoável, e que por esta razão frequentemente se
fecha ao inconsciente.
Na vida cotidiana, vemos muitas separações de casais ocasionados pela interferência da
mãe do noivo. Pode-se inferir daí uma rivalidade entre mãe e anima. Entende-se também, como a
Grande Mãe, o inconsciente, querendo trazer de volta o que lhe pertence.
A imagem da anima é projetada nas mulheres, porque elas correspondem à feminilidade
inconsciente do homem. Enquanto a projeção perdura, fica difícil encontrar a relação com a
anima interior, isto é com a própria feminilidade 6.
Anima, sendo o feminino no homem, possui justamente essa receptividade e falta de preconceito
em relação ao irracional, e por essa razão ela é qualificada de mensageira entre o inconsciente e a
consciência. 6
6
JUNG, Emma. Animus e Anima, página 68.
8
Anima tem como função um espelhamento para o homem, e que como tal, reflete seus
pensamentos, desejos e emoções. É por isso que a anima se torna tão importante para o homem,
seja como figura interior ou como uma mulher real, exterior, na medida em que ele pode tomar
conhecimento de aspectos que para si mesmo ainda não são conscientes. A anima representa a
ligação com a fonte da vida que está no inconsciente e quando não existe nenhuma ligação, ou
quando ela é interrompida, instaura-se um estado de estagnação e endurecimento, que muitas
vezes é sentido como perturbador.
Nos sonhos modernos e na imaginação ativa, a figura da anima também surge com freqüência
acompanhada pela figura do pai. Isso poderia ser entendido como uma indicação de que há um fator
masculino-espiritual na base do natural-feminino na psique inconsciente a que talvez se deva atribuir o
conhecimento do oculto que os seres da natureza possuem. Jung chama a essa figura de “o velho sábio”
ou o “arquétipo do sentido”, enquanto designa a anima de “arquétipo da vida. 7
A integração da anima e animus na personalidade consciente do ser humano faz parte do
processo de individuação. Integração com anima significa tornar-se uma unidade com ela, é ser
na alma, uma mudança no ponto de vista dela em mim para eu nela. “O homem... está... na psique
(não na sua psique.)” 8
Os elementos femininos e masculinos que devem ser integrados como componentes da
personalidade são apenas parte de anima e animus, ou seja, seu aspecto pessoal. Mas, ao
mesmo tempo, eles representam os arquétipos do feminino e do masculino que são de natureza
suprapessoal, e por isso não podem ser integrados.
2.3 A dinâmica das projeções nos relacionamentos entre homem e mulher, anima e
animus:
A projeção é um mecanismo psíquico que ocorre sempre que um aspecto vital de nossa
personalidade que desconhecemos é ativado. Num relacionamento de casal, esse aspecto
aparece como se fizesse parte da outra pessoa e como se nada tivesse a ver conosco.
Os fatores psíquicos existentes dentro de nós são geralmente projetados. A pessoa que
recebe a projeção do outro num relacionamento homem / mulher pode ser super valorizada ou
desvalorizada. Os arquétipos anima e animus são cheios de energia psíquica e nos atingem
emocionalmente. Possuem aspectos positivos e negativos, podendo ser altamente desejáveis e
atraentes ou destrutivos e enfurecidos, se parecendo com os deuses mitológicos.
7
8
JUNG, Emma. Animus e Anima, página 92.
HILLMAN, James. Anima Anatomia de uma Noção Personificada, página 95.
9
Deuses e deusas da mitologia grega podem ser considerados como personificações de
diferentes aspectos do arquétipo masculino e feminino. Estes arquétipos são como ferramentas
que o indivíduo utiliza para se relacionar com o seu mundo psíquico.
As disposições, atitudes, humor em um homem são efeitos desagradáveis do seu lado
feminino. A projeção dessas disposições podem fazer com que a mesma mulher que o homem
amou e já considerou uma deusa, seja vista por ele como uma bruxa. As mulheres podem
também projetar sobre o homem sua imagem de animus positiva, vendo-o como um salvador,
herói ou guia espiritual, supervalorizando tal homem. A projeção positiva pode perder sua
intensidade à medida que o relacionamento é exposto à realidade do cotidiano e este mesmo
homem pode receber projeções negativas e passar a ser visto como irritante e frustrante.
A figura 3 exemplifica esta relação Mulher X Homem, Animus X Anima em termos de
expectativas, projeções e interações, e mostra também o ponto de tensão do relacionamento,
onde o ego, ou centro da consciência, perde-se e o relacionamento passa a ser realizado entre
anima e animus:
Homem
Mulher
Figura 3: Esquema representativo das possibilidades de relação homem e mulher, anima e animus.
10
O ego do homem se relaciona com o ego da mulher em nível consciente. A relação da
anima com a mulher e do animus com o homem se dá através das projeções, como já foi dito
anteriormente. A relação da anima com o animus pode acontecer, através de um forte impulso, de
forma irracional como um estado de paixão, fantasia. À medida que vai se tornando real,
consciente, a paixão pode tornar-se um sentimento oposto, de repulsa ou ódio. O verdadeiro
relacionamento começa somente quando uma pessoa conhece a outra e a aceita,
compreendendo seus limites e a ajudando a melhorar.
As projeções da anima e do animus não são manifestações maléficas. Elas fazem parte da
nossa psique e, toda vez que ocorre uma projeção, surge uma nova oportunidade de
autoconhecimento e este é o caminho para conhecermos nossas próprias almas.
A anima e o animus são negativos quando o homem e a mulher não conhecem a si
mesmos e desvalorizam o seu lado feminino e masculino. Há uma tendência da libido de sair dos
limites do relacionamento e buscar compensação em outro aspecto. Jung observa que a anima
pode ser considerada em ação sempre que emoções e afetos estão agindo no homem
(Sanford,1987).
A anima, além de interferir nas reações emocionais do homem, também pode interferir no
seu modo de pensar ou diminuir a sua energia criativa.
O animus é o responsável pelas opiniões na mulher. Ele se expressa por meio de
julgamentos, generalizações, criticas, que foram retiradas de várias fontes detentoras de
autoridade, como mãe ou pai, livros, igreja ou organizações coletivas. Pensamentos autônomos,
críticos e obstinados.
Segundo a opinião de Emma Jung, 2006, a nossa cultura tem a tendência de
supervalorizar tudo o que é masculino e desvaloriza o feminino. As realizações, o poder, o
controle, o sucesso e a lógica masculina são recompensados. O princípio feminino, que tende a
unir e a sintetizar, é culturalmente desvalorizado tanto por homens quanto por mulheres. O
animus parece perceber esta tendência e se manifesta com ar de grande autoridade.
Na ansiedade de ser aceita socialmente, a mulher recusou a vivência de princípios
femininos, procurando vestir a máscara da objetividade masculina. Surge então uma crise que a
leva a fazer um movimento para dentro de si mesma, resgatando seus valores femininos. Os
processos de desenvolvimento do homem e da mulher seguem caminhos diferentes, só que
estão inter-relacionados e são interdependentes. Exigem uma complementaridade do masculino e
feminino dentro de cada um, numa relação de reciprocidade. O encontro entre homem e mulher é
facilitado quando a mulher aceita em si valores femininos e também desenvolve seu princípio
masculino. O homem ao entrar em contato com seu princípio feminino, aceita a mulher dentro de
si, e fora, como sua companheira.
11
A anima e o animus podem interferir negativamente na escolha do parceiro no casamento
quando um homem dominado pela anima, com um ego fraco, for escolher uma mulher com um
animus dominador e coloca em ação esta situação em seu relacionamento exterior. Do mesmo
modo, a mulher que é dominada por um animus negativo e derrotista, vai procurar um
companheiro, dominador, que a critique e a minimize.
Quando o homem e a mulher percebem a anima e o animus como aliados, encarando-os,
há uma evolução psicológica, pois passam a perceber o lado obscuro e se vêem por completo. O
homem passa a dar mais importância para o sentimento, aos relacionamentos, à alma. A mulher
caminha para o mundo espiritual e tem um envolvimento com o mundo muito além do círculo
familiar, tomando consciência de seus verdadeiros valores.
Os arquétipos da anima e do animus são numinosos, ou seja, impregnados de energia
psíquica e que nos afetam primeiramente em nível sexual. Em um relacionamento inicial, a
projeção é estimulante, pois vem acompanhada de aventuras, fantasias e curiosidades. Com o
passar do tempo, há um desgaste na vida sexual do casal e com a rotina, a projeção, os desejos
e fantasias passam a ser em outras pessoas, fora do casamento. O que não significa que o amor
acabou. Num relacionamento duradouro, o casal passa a conhecer o parceiro e a projeção da
anima e do animus deixa de existir.
Quando as pessoas conseguem trabalhar as áreas de inconsciência em sua vida comum
há o amadurecimento na capacidade de amar, de se relacionar com o outro. O relacionamento
conjugal estará apoiado numa base sólida, se o indivíduo passar a valorizar o casamento pelas
oportunidades que ele oferece, seja nas sensações de bem estar ou nas experiências mais
difíceis.
3. CONCLUSÃO
Os problemas do casamento refletem a necessidade de desenvolvimento individual, sinal
da dificuldade de se fazer um casamento interno, reconhecendo e aceitando a anima, o animus e
todo o potencial inconsciente.
O casamento é o espaço adequado para que duas pessoas se confrontem com seus
opostos, suas diferenças, áreas obscuras e sombrias da sua personalidade, encontro em que é
vivido o processo de transformação psíquica. O casamento é símbolo adequado do processo de
individuação, descrito por Jung, e ponto central da sua psicologia. É a reunião das polaridades
numa totalidade psíquica simbolizada pela figura hermafrodita.
12
4. REFERÊNCIAS:
BRANDÃO, Junito de Souza. Mitologia Grega - Vol. 1. Vozes, Petrópolis, 1986.
BRANDÃO, Junito de Souza. Mitologia Grega - Vol. 2. Vozes, Petrópolis, 1987.
BRANDÃO, Junito de Souza. Mitologia Grega - Vol. 3. Vozes, Petrópolis, 1987.
CAVALANTI, Raissa. O Casamento do Sol com a Lua, Uma visão simbólica do masculino e
feminino. Círculo do Livro, São Paulo, 1987.
HILLMAN, James. Anima Anatomia de uma Noção Personificada. Tradução. Ed. Cultrix, São
Paulo, 1985.
JUNG, Carl Gustav (org.). O Homem E Seus Símbolos . Ed. Nova Fronteira, 2ª Edição, São Paulo,
2011.
JUNG, Emma. Animus e Anima. Tradução Dante Pignatari. Ed. Cultrix, São Paulo, 2006.
SANFORD, JOHN A. Os parceiros invisíveis, o masculino e o feminino dentro de cada um de nós.
Tradução I. F. Leal Ferreira. Ed. Paulus, Coleção Amor e psique, São Paulo, 1987.
13
Download