ACS Assessoria de Comunicação Social do Ministério da Educação Ministério da Educação Entrevista do ministro no Dia Internacional da Mulher, em 7/3/03 Pergunta: O Ministério da Educação está dando espaço para as mulheres no Dia Internacional? Resposta: Quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva criou a Secretaria Especial para os Assuntos das Mulheres, não tinha lugar definido. Então, ofereceu um local no prédio do MEC, o que tem tudo a ver. A educação passa necessariamente pelas mulheres. O pai educado ajuda a educar o filho, mas quando a mãe é educada, o filho também é educado. Sabemos que quando a mulher tem um grau de instrução, passa isso mais intensamente para os filhos, mais do que os homens. Além disso, a educação começa no ventre da mãe. Quando eu vejo uma mulher grávida digo: ela está carregando um aluno. É só uma questão de tempo, uns quatro ou cinco anos. A primeira infância fica, sobretudo, aos cuidados da mãe’, então tem tudo a ver a educação e a mulher ficarem no mesmo prédio. P.: Ministro, a Secretaria de Educação já tem algum projeto em conjunto com a Secretaria da Mulher? R.: O primeiro é esse de termos aqui no mesmo prédio a Secretaria da Mulher e a Secretaria da Educação. A partir daí, teremos muitos acordos e contatos para fazermos juntos. P.: E sobre a programação do Dia Internacional da Mulher, tão extensa, por que mostrar o papel das mulheres aqui no Ministério da Educação? R.: É o reconhecimento da participação da mulher no processo educacional e na vida pública brasileira. A luta para resolver os problemas brasileiros passa inevitavelmente pelo segmento feminino. Eu tenho dito que temos que feminilizar a economia. A mulher tem mais urgência para resolver os problemas sociais. Se falta alimento em uma casa pobre, o homem vai para a rua procurar emprego, trabalha um mês, ganha o dinheiro e o traz para comprar comida. Aí já morreu todo mundo! A lógica masculina transfere a solução do problema para a rua. Se falta comida em uma casa, a mulher tem que consegui-la para a noite. Então, ela vai na casa do vizinho, manda o menino pedir esmola, trabalhar se for preciso. Mas, de noite, ela tem que ter a comida para solucionar o problema com urgência. Precisamos levar esse sentimento de urgência para o Brasil inteiro. Não dá para esperar o Brasil ser rico, desenvolvido, para começar a resolver os problemas da saúde e da alimentação do povo brasileiro. Estamos aproveitando o Dia Internacional da Mulher para chamar a atenção sobre o padrão de urgência delas para a solução dos problemas nacionais. P.: Qual a importância desta homenagem, no Dia Internacional da Mulher, para a educação no país? ESPLANADA DOS MINISTÉRIOS – BLOCO L – 9º ANDAR – SALA 905 – CEP 70047-900 – BRASÍLIA-DF FONE: (0**61) 410-8133 – FAX: (0**61) 410-9195/9196 – E-mail: [email protected] ACS Assessoria de Comunicação Social do Ministério da Educação Ministério da Educação R.: Precisamos lembrar de duas coisas: primeiro, quem constrói o país são os professores, ao ponto que sem eles não teria engenheiro, não existiria nenhuma outra profissão. Os construtores de um país são os seus professores. E, segundo, para lembrar que a sensibilidade feminina na determinação do rumo a ser seguido é de fundamental importância para o país. Um dos problemas do Brasil e do mundo atualmente é que a política tem sido feita com a sensibilidade mais curta, mais para a guerra do que para a paz, mais para a economia do que para o social. Eu fiz circular nos computadores do MEC uma frase em homenagem ao dia das mulheres dizendo que: “Se no Brasil os homens tivessem carregado lata d’água na cabeça, nós já teríamos água encanada em todas as casas do Brasil”. Mas os políticos, na lógica masculina da economia, decidiram que eles iam construir estradas, hidrelétricas e aeroportos. Abandonaram o social e deixaram o trabalho de carregar a lata d’água na cabeça para as mulheres e crianças. Então, hoje, estamos homenageando o professor e a mulher. P.: Em relação ao programa Bolsa-Escola, os alunos que já se beneficiam do programa vão ter prioridade de alfabetização no país? R.: Essa é uma das coisas que vamos fazer, o foco da alfabetização. Nós queremos focalizar as mulheres em primeiro lugar. As mulheres são as mães da bolsa-escola. Este é o foco fundamental. É claro que queremos alfabetizar em braile os cegos deste país e queremos alfabetizar os presos também. Na cadeia, inclusive, há mais tempo para aprender a ler. Nós vamos escolher os focos, mas um dos principais é a mulher. Por que a mulher? Porque quando uma mulher lê, o filho lê também e com o homem não é sempre assim. Se a mulher é educada, os filhos se educam, um pai educado nem sempre transmite isso aos filhos. Vejam outro exemplo: o perfil dos jovens em qualquer lugar do Brasil não é no singular é no plural. Nós temos dois grupos sociais aqui: o grupo dos jovens filhos de ricos brasileiros, unidos na moralidade, um dinheirinho no bolso, um sapato bom nos pés, uma escola todos os dias. E temos os jovens excluídos, pobres, das periferias das grandes cidades. O mesmo acontece na África do Sul, onde há os jovens brancos e os jovens negros. Não dá para falar “o jovem”, no singular. Quanto a esse novo tipo de jovens de Brasília, acho que não são muito diferentes desses dois tipos de jovens de qualquer outro lugar do Brasil. Jovens sem uma mística que lhes permitam uma bandeira de luta para construir um novo país, um novo mundo, e aí ficam prisioneiros não dos seus sonhos, mas dos seus desejos, não das suas necessidades, mas da demanda e, então, caem no consumismo. Eles não querem construir um novo Brasil, querem um sapato novo; não querem construir um mundo novo, querem ir a uma festa. Falta à juventude uma grande mística que a unifique em torno de um projeto. Está na hora de começarmos isso e quem vai construí-lo são os jovens. A mística e o projeto têm que vir dos adultos. Nós somos os responsáveis, temos de dar a eles uma bandeira ESPLANADA DOS MINISTÉRIOS – BLOCO L – 9º ANDAR – SALA 905 – CEP 70047-900 – BRASÍLIA-DF FONE: (0**61) 410-8133 – FAX: (0**61) 410-9195/9196 – E-mail: [email protected] ACS Assessoria de Comunicação Social do Ministério da Educação Ministério da Educação de luta, que não seja individualista, que não seja apenas consumista, onde possam ir para o seu embalo, o embalo da alegria dos jovens, mas depois que venham para uma manifestação em busca de um Brasil melhor. A culpa não é dos jovens, a culpa da falta de educação é dos adultos. P.: O senhor falou que sente falta da sensibilidade feminina. No governo atual esta havendo a urgência necessária para resolver o problema da fome? R.: O presidente Lula está empenhado, já se manifestou, fez as coisas, se nós ministros e demais políticos queremos ou não, vamos ter que mostrar. O presidente tem apontado a direção e o que a gente precisa é dessa sensibilidade da mulher, que traz a urgência para a solução dos problemas. Ou nós passamos essa sensibilidade para todos os setores ou corremos o risco de terminarmos como um governo bem-intencionado, mas que perdeu a capacidade de indignar-se com as coisas erradas. Essa é a grande tragédia de todos os governos que se propõe a mudar o país. Às vezes, chegam lá querendo tirar todas as crianças da rua, depois de um, dois, três meses vêem que não é fácil e aí começam a achar que a criança de rua faz parte da paisagem e não dos problemas do governo; o desempregado vira uma paisagem; depois começam a achar que não tem jeito. É uma tragédia! A perda da capacidade de indignar-se é o primeiro desafio de qualquer governo que deseja mudanças. O segundo é a malha da burocracia. Você cai no exercício de administrar e se esquece que também veio para mudar. Eu tenho falado quase que diariamente para meus colaboradores do MEC: nós não viemos aqui apenas para gerenciar o Ministério, viemos para construir a educação brasileira. Nós não somos responsáveis apenas pela instrução, mas pela cabeça dos brasileiros e para isso precisamos ter, além da gerência do dia a dia, projetos transformadores. Um terceiro risco, depois da perda da capacidade de indignar-se, depois da submissão aos males da burocracia, é um gosto exagerado por estas lantejoulas do poder. Qualquer governo que caia nessas três armadilhas se perde. Para concluir, eu acho que precisamos ter menos preocupação com a política e mais com a história. A gente entrou aqui para ficar na história, não para permanecer no poder. Esse é o ponto fundamental. O governo que perde a perspectiva do que vai deixar para a história é um governo que se perde no caminho. A pergunta que me faço todos os dias é: qual é o legado que o presidente Lula vai deixar para o Brasil? Qual é o legado que eu do Ministério da Educação vou deixar? P.: E o senhor já tem a resposta? R.: Tenho, eu acho que o nosso legado é completar o que não fizeram na hora certa, em 1888 e 1889. Nossa herança será completar a abolição da escravidão e a proclamação da República. Um país que, depois de 115 anos, gasta R$ 3,2 mil com a educação do filho de um pobre ao longo de toda a sua vida não é republicano. Com um filho de classe média alta são gastos R$ 250 mil, ou seja, oitenta vezes ESPLANADA DOS MINISTÉRIOS – BLOCO L – 9º ANDAR – SALA 905 – CEP 70047-900 – BRASÍLIA-DF FONE: (0**61) 410-8133 – FAX: (0**61) 410-9195/9196 – E-mail: [email protected] ACS Assessoria de Comunicação Social do Ministério da Educação Ministério da Educação mais. Acho que nem na época da escravidão a diferença na educação de uma pessoa de classe média e de um escravo era tão grande. Então, completar a República é concluir a libertação dos escravos. O grande legado do governo Lula não vai ser implantar o socialismo nem promover uma grande reforma na estrutura da economia. Isso vai ficar para outro Lula daqui a vinte anos. Agora, se o governo atual deixar uma República e uma abolição completas, eu acho que ele já justificou o poder. ESPLANADA DOS MINISTÉRIOS – BLOCO L – 9º ANDAR – SALA 905 – CEP 70047-900 – BRASÍLIA-DF FONE: (0**61) 410-8133 – FAX: (0**61) 410-9195/9196 – E-mail: [email protected]