Revisão do transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) 1 Este capítulo responde às seguintes questões: nO que é trauma? – Esta seção define trauma, o precursor do TEPT. nQual a história e a prevalência do TEPT? – Esta seção revisa o entendimento do TEPT ao longo dos anos e apresenta informações sobre a frequência do TEPT em termos globais. nQuais as principais características do TEPT? – Esta seção oferece um panorama sobre os três tipos de sintomas apresentados pelos pacientes com TEPT: revivência, evitação/entorpecimento e hipervigilância. nO TEPT pode ser prevenido? – Esta seção apresenta recomendações para promover a resiliência em pacientes com risco de desenvolver o TEPT. nQual a gravidade e a cronicidade do TEPT? – Esta seção identifica três categorias gerais de portadores do TEPT: pacientes com TEPT permanente, pacientes em remissão, porém com recaídas ocasionais, e pacientes com TEPT de início tardio. Ao longo da vida, cerca da metade dos norte-americanos serão expostos a pelo menos um evento traumático – como agressão, combate militar, acidente industrial ou automobilístico, estupro, violência doméstica ou desastre natural (p. ex., terremoto). Como se poderia esperar, a exposição a estresses extremos é muito maior para habitantes de países em guerra, em situação de terrorismo ou em caso de migração forçada, como a Argélia, o Camboja, a Palestina ou o Iraque. A maioria das pessoas consegue absorver o impacto psicológico de tal experiência e retomar uma vida normal; porém, não é o que ocorre para um grande número de indivíduos. O transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) descreve o quadro de sintomas ou deficiências do funcionamento diário associados ao trauma com duração de pelo menos um mês, e, às vezes, perdurando por toda a vida. Tal transtorno já recebeu vários nomes desde a Antiguidade e também teve nomes distintos atribuídos pela psiquiatria moderna desde o final do século XIX. Apesar de os sintomas específicos incluídos nos critérios diagnósticos originais do TEPT terem sido parcialmente modificados, a base fundamental do transtorno sobreviveu ao longo dos anos. Como resultado, os médicos tiveram 25 anos para utilizá-lo como diagnóstico e para desenvolver tratamentos eficazes. Cerca de 8% dos norte-americanos e de 20 a 30% dos demais indivíduos (em áreas de conflito) sofrerão de TEPT. Esse transtorno foi definido como um diagnóstico psiquiátrico em si pela primeira vez no ano de 1980, quando a American Psychiatric Association publicou a revisão de seu manual diagnóstico, o Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais – terceira edição (DSMIII).3 12 Friedman Apesar de o TEPT só poder ser diagnosticado um mês depois de exposição ao trauma, muitas pessoas apresentam grande sofrimento imediatamente após um evento traumático, incluindo pesadelos e evitação de pessoas e lugares que possam lembrá-las do ocorrido. Tais reações agudas póstrauma serão consideradas posteriormente, no Capítulo 6. O que é Trauma? Para a lista de critérios diagnósticos específicos para o TEPT, ver a página 22. Quando o termo “trauma” foi introduzido como parte dos critérios diagnósticos do DSM-III para o TEPT, foi definido como um estressor catastrófico que “evocaria sintomas significativos de sofrimento na maioria das pessoas”.3 O trauma era considerado um evento raro e grandioso – “geralmente fora da média das experiências humanas” – e qualitativamente diferente de “experiências comuns, como luto, doenças crônicas, perdas financeiras ou conflitos conjugais”. Os eventos traumáticos mencionados no DSM-III incluíam: estupro, agressão, tortura, aprisionamento em campo de concentração, combates militares, desastres naturais, acidentes industriais ou automobilísticos, bem como exposição a violência civil, doméstica ou de guerra. No início, pensava-se que o trauma poderia ser definido exclusivamente como um evento catastrófico ocorrido a um indivíduo que estava na hora e no lugar errados. Conforme o conceito inicial, qualquer pessoa exposta a guerra, estupro, tortura ou desastre natural havia sido “traumatizada”.3 Esse conceito foi alterado na versão DSM-IV, de 1994 (e mantido na versão DSM-IV-TR de 2000), pois havia ficado claro que a maioria dos indivíduos expostos a eventos catastróficos não desenvolvia TEPT.4,5 Apesar de a exposição a eventos catastróficos ser uma condição essencial, ela em si não é suficiente para “traumatizar” um indivíduo. A resposta emocional a tal evento tam- Segundo a perspectiva do paciente O advogado ligou de novo. Ele acha que tenho um belo processo contra a empresa de caminhões e que eu poderia ganhar um bom dinheiro com um acordo. É interessante; preciso mesmo do dinheiro. Mas, cada vez que penso no acidente (como agora), desmonto. E se começo a falar, fico apavorada. Aí vêm os pesadelos, não consigo dormir, fico com aquela sensação de susto o tempo todo e com os nervos em frangalhos. Não vale a pena, nem se eu ganhasse um milhão. Vou ter que ligar para ele amanhã e dizer que não quero. Ele vai ter de achar outra pessoa para processar. Transtorno de estresse agudo e pós-traumático 13 bém é relevante no processo. Se um estupro ou um acidente provocarem uma resposta emocional intensa (caracterizada pelo DSM-IV-TR como “medo, desespero, ou horror”), o evento será “traumático”. Caso não haja uma resposta emocional intensa, o evento não será considerado “traumático”; assim, de acordo com a definição do DSM, o evento não pode desencadear TEPT. Hoje, nossa compreensão sobre o trauma mudou significativamente em relação à primeira descrição do DSM-III, em especial devido à percepção de que: n Eventos catastróficos não são raros. Pesquisas mostram que mais da metade dos homens (60,7%) e mulheres (51,2%) norte-americanos podem ser expostos a pelo menos um evento catastrófico ao longo da vida.1 A exposição é muito maior em países em situação de guerra, guerra civil, genocídio, terrorismo patrocinado pelo governo e outras formas de violência. A exposição ao trauma foi relatada com picos de 92% na Argélia, onde existem conflitos e violência há anos.2 n Trauma não é apenas um evento externo. O conceito de trauma mudou: de um evento considerado raro e externo (DSM-III), à resposta psicológica de um indivíduo a um evento não comum, grandioso (DSM-IV). Apenas as pessoas que respondem a eventos catastróficos com medo, desespero ou horror foram “traumatizadas”, de acordo com o DSM-IV-TR. Qual a história e a prevalência do TEPT? Em uma perspectiva global, a exposição a estresses catastróficos é um fato comum. Cinquenta e quatro por cento das mulheres norte-americanas que sofreram estupro não desenvolveram TEPT; além disso, 91% das mulheres norteamericanas envolvidas em acidentes também não desenvolveram TEPT.1 Historicamente, poetas e escritores têm reconhecido que a exposição ao trauma pode produzir consequências psicológicas duradouras. Várias obras literárias – a Ilíada, de Homero; Henrique IV, de Shakespeare; e Um conto de duas cidades, de Dickens – apresentam as transformações psicológicas e os sintomas relacionados ao trauma. Até mesmo Harry Potter talvez tenha sido traumatizado ao assistir, quando bebê, ao assassinato dos pais pelo bruxo mau, Lord Voldemort.6 Panorama histórico No fim do século XIX, os médicos voltaram sua atenção para o impacto psicológico do combate militar entre veteranos da Guerra Civil dos Estados Unidos e da Guerra Francoprussiana. As formulações clínicas em ambos os lados do Atlântico enfocaram os sintomas cardiovasculares (coração O Capítulo 5 revisa algumas das anormalidades biológicas que são centrais para esse transtorno. 14 Friedman fisioneurose – rótulo para as alterações fisiológicas e também psicológicas significativas consideradas parte da síndrome da “neurose da guerra” de soldado, síndrome Da Costa, astenia neurocirculatória) ou os sintomas psiquiátricos (nostalgia, choque de granada, fadiga de combate, neurose de guerra).7,8 Apresentações clínicas semelhantes encontradas entre civis sobreviventes de acidentes de trem eram chamadas railway spine.9 Durante esse período, os clínicos a quem era solicitado atendimento para os sobreviventes de trauma civil ou militar ficavam chocados com os sintomas fisiológicos e psicológicos exibidos. Abram Kardiner, psiquiatra norte-americano que trabalhou extensivamente com veteranos da Primeira Guerra Mundial portadores de “neurose da guerra”, ficou tão impressionado com as reações de sobressalto que as chamou de “fisioneurose”.10 Prevalência Com o crescente reconhecimento de que o estresse provocado por catástrofes e eventos traumáticos é muito mais comum do que se imaginava originalmente, torna-se claro que o TEPT é um problema de saúde pública significativo. Apesar de mais da metade dos norte-americanos ser exposta a estresse em decorrência de catástrofes (60% dos homens e 51% das mulheres), apenas 8% (5% dos homens e 10% das mulheres) desenvolverão o transtorno em algum momento da vida.1 Isso significa que milhões de norte-americanos apresentarão a doença, e que o TEPT é um grande problema de saúde nos Estados Unidos e no mundo. Sem tratamento, muitos desses indivíduos nunca terão uma recuperação. As pesquisas com veteranos da Segunda Guerra Mundial e sobreviventes do holocausto nazista mostraram, por exemplo, que o TEPT pode durar mais de 50 anos ou, até mesmo, a vida toda.11 Em todo o mundo, as consequências psicológicas e físicas da exposição a traumas são um desafio à saúde pública.12,13 Os impactos de longo prazo do terremoto e do tsunami na Indonésia são assustadores tanto para os sobreviventes quanto para os trabalhadores das equipes de socorro. Muitos outros indivíduos serão expostos a traumas em nações em conflito, como Iraque, Afeganistão e Ruanda, assim como na Argélia, na Palestina e na Bósnia.14 Também precisamos considerar os milhões de crianças e adultos expostos a violência sexual, física, doméstica, criminosa, urbana, terrorista e genocida. Partindo dessa perspectiva, é extremamente importante procurar formas efetivas de prevenção psicológica e considerar a oferta de tais formas de prevenção a crianças e adultos como parte de uma estratégia global de saúde pública. Transtorno de estresse agudo e pós-traumático 15 Quais as principais características do TEPT? O TEPT consiste de três “pacotes” de sintomas – revivência, evitação/entorpecimento e hipervigilância – e de critérios para persistência e gravidade de tais sintomas após um evento traumático. O Capítulo 2 traz os critérios completos do DSM-IV-TR para o transtorno. A Figura 1.1, a seguir, oferece um panorama desses grupos de sintomas. Revivência dos sintomas Presentes apenas no TEPT, esses sintomas refletem a persistência de pensamentos, sensações e comportamentos especificamente relacionados ao evento traumático. Tais memórias são intrusivas, pois não só são indesejadas como também são intensas o suficiente para impossibilitar qualquer outro pensamento. As lembranças durante o dia e os pesadelos traumáticos à noite normalmente evocam pânico, terror, pavor, luto ou desespero. Às vezes, as pessoas com TEPT são expostas a fatores que lembram o trauma (estímulos relacionados ao trauma) Grupo Sintomas específicos Revivência • Lembranças intrusivas • Pesadelos traumáticos • Flashbacks do TEPT • Desgaste psicológico relacionado ao trauma e evocado por estímulos • Reações fisiológicas relacionadas ao trauma e evocadas por estímulos Evitação/ • Evitação de pensamentos e sensações entorpecimento relacionados ao trauma • Evitação de atividades, pessoas e locais relacionados ao trauma • Amnésia para memórias relacionadas ao trauma • Diminuição do interesse • Sensação de distanciamento ou estranhamento • Amplitude afetiva restrita • Redução de perspectivas futuras Hipervigilância Figura 1.1 • Insônia • Irritabilidade • Dificuldade de concentração • Hipervigilância • Reação de proteção exagerada Grupos de sintomas do TEPT. A revivência pode trazer à tona sintomas de desgaste psicológico (p. ex., terror) ou reações fisiológicas anormais (p. ex., pulso acelerado, respiração rápida ou sudorese). 16 Friedman O Capítulo 2 revê os critérios diagnósticos específicos para o TEPT, assim como as estratégias e os instrumentos de avaliação. O Capítulo 3 considera tópicos globais de tratamento, enquanto os Capítulos 4 e 5 revisam os tratamentos psicológicos e farmacológicos (respectivamente) para o TEPT. O Capítulo 6 considera as reações agudas póstraumáticas, incluindo critérios diagnósticos, estratégias de avaliação e tratamento para o transtorno de estresse agudo (TEA) e se encontram repentinamente envolvidas em um estado psicológico – o flashback do TEPT – em que revivem a experiência traumática, perdendo toda a conexão com o presente. Chama-se esse estado de estado dissociativo agudo ou estado psicótico breve, no qual os indivíduos realmente agem como se tivessem que lutar pela vida, como foi o caso durante a exposição ao trauma inicial. Examinemos o exemplo de uma mulher que tenha sido vítima de estupro ao entardecer por um homem escondido em um lugar escuro, que a arrastou até um beco antes de iniciar o ataque sexual. Passados muitos meses, essa mulher está a caminho de casa, voltando do trabalho. O pôr-do-sol produz sombras sobre todos os cantos e frestas próximos à calçada. Ao olhar para um beco bastante escuro, ela “vê” um estuprador a postos, pronto para atacá-la. Na verdade, não há ninguém. A semelhança entre a cena do estupro e as cenas produzidas no presente pelo fim de tarde urbano produziram uma alucinação que é, na verdade, um flashback do TEPT. Como resultado, ela crê estar, mais uma vez, prestes a ser estuprada, e corre pela rua aos gritos. Sintomas de evitação/entorpecimento Tais sintomas podem ser considerados estratégias comportamentais, cognitivas ou emocionais usadas para dirimir o terror e o desgaste provocados pela revivência dos sin­ tomas. Os sintomas de evitação incluem: n amnésia psicogênica – incapacidade de lembrar eventos com alta carga emocional por motivos psicológicos, e não fisiológicos entorpecimento psíquico – incapacidade de sentir emoções, tanto positivas (amor e prazer) quanto negativas (medo e culpa); também chamado de “anestesia emocional” Esforço para evitar pensamentos, sensações, atividades, pessoas e locais relacionados ao evento traumático original. n Amnésia psicogênica para as memórias relacionadas ao trauma (p. ex., um menino de 10 anos que testemunhou o massacre do pai e dos irmãos e o estupro da mãe por membros da milícia paramilitar só se lembra de que as tropas entraram na casa, que ele correu, se escondeu e acabou escapando; não se lembra do que aconteceu nesse meio-tempo). Os sintomas de entorpecimento são mecanismos psicológicos pelos quais os portadores do TEPT se anestesiam contra o pânico intolerável, o terror e a dor evocada pela revivência dos sintomas. Estes incluem o entorpecimento psíquico, em que a pessoa reprime todos os sentimentos, de modo a bloquear também os sentimentos intoleráveis (o que pode custar caro, pois o entorpecimento dos sentimen- Transtorno de estresse agudo e pós-traumático 17 tos relacionados ao trauma também exige a anestesia dos sentimentos de afeição necessários para a manutenção de relacionamentos íntimos). Sintomas de hipervigilância Os sintomas de hipervigilância são a manifestação mais aparente do excesso de atividade fisiológica de alerta, que é parte da síndrome do TEPT, e incluem insônia, irritabilidade, reações de sobressalto e hipervigilância. Os sintomas de hipervigilância criam um estado psicofisiológico hiper-reativo, o que torna muito difícil para os portadores do transtorno se concentrarem ou realizarem outras tarefas cognitivas. Um jovem com TEPT, por exemplo, pode não conseguir fazer os deveres da escola nem manter o foco da atenção em tarefas intelectuais. O pacote de sintomas do TEPT é mais semelhante aos sintomas observados no transtorno de pânico e no transtorno de ansiedade generalizada, sendo uma razão para a classificação da doença como um transtorno de ansiedade no DSMIV-TR. Para informações sobre a distinção entre o transtorno de pânico, o de ansiedade generalizada e o TEPT, ver as páginas 31 a 33. O TEPT pode ser prevenido? Em função da impossibilidade de prevenir de modo bem-sucedido a ocorrência de eventos traumáticos, a melhor abordagem possível seria promover a resiliência – um tipo de “vacina psicológica” – em níveis social, comunitário, familiar e individual. Pesquisas epidemiológicas indicam consistentemente que as pessoas variam em sua vulnerabilidade (ou resiliência) em relação ao desgaste pós-trauma, corroborando estratégias públicas em saúde mental para identificar e promover a resiliência entre aquelas em maior risco de reações graves, crônicas e debilitantes pós-trauma. A promoção da resiliência poderia ser: n Em nível social – desenvolvimento de leis, políticas e práticas que garantam a melhor preparação possível para ataques terroristas e para respostas à população em relação a tais ataques. n Em nível comunitário – talvez a “vacina” psicológica mais eficaz para a maioria das crianças e dos adultos seria a psicoeducação pró-ativa oferecida nas escolas, em locais de trabalho e na comunidade. reação de sobressalto – comportamento “assustadiço” manifestado como tendência a exibir reação de proteção exagerada a ruídos ou movimentos realizados por terceiros hipervigilância – preocupação, com comportamento vigilante ou de proteção, motivada por temor excessivo pela própria segurança estado psicofisiológico hiper-reativo – estado no qual as emoções ficam afloradas; até mesmo pequenos eventos podem produzir um estado em que o coração acelera, os músculos ficam tensos, ocorrendo grande agitação generalizada transtorno de pânico – transtorno psiquiátrico marcado por intensa ansiedade e pânico, assim como por sintomas físicos, como palpitação, falta de ar, tontura, sudorese e sensação de morte iminente transtorno de ansiedade generalizada – transtorno psiquiátrico marcado por preocupação, apreensão e incertezas não-realistas, assim como por sintomas físicos, como tensão muscular, inquietação, boca seca e micção frequente 18 Friedman O biofeedback e o treino de relaxamento (ver p. 58) são exemplos de estratégias fisiológicas adaptativas. n Em nível familiar – estímulo à coesão e ao apoio mútuo, para que a união familiar amorteça o impacto do estresse traumático sobre seus membros. n Em nível individual – aumento da capacidade do indivíduo para lidar com o estresse traumático por meio de estratégias adaptativas, como comportamentos de proteção, controle das respostas fisiológicas ou procura ativa por apoio social.15 Qual a gravidade e a cronicidade do TEPT? esquizofrenia – transtorno psiquiátrico maior caracterizado por desorganização e fragmentação dos pensamentos, delírios, alucinações, apatia, distúrbios de linguagem e comunicação e prejuízo nas interações sociais TEPT crônico – aqueles que desenvolveram TEPT em qualquer momento da vida Os Capítulos 4 e 5 detalham os tratamentos atuais eficazes para o TEPT. O TEPT não é diferente de outros transtornos clínicos ou psiquiátricos quanto à intensidade, que pode variar de grave a leve. Assim como ocorre com o diabete, as doenças cardíacas e a depressão, algumas pessoas com TEPT podem ter uma vida plena e satisfatória, mesmo com o transtorno. Apesar de não haver estatísticas, parece que uma minoria significativa de pacientes pode desenvolver uma doença mental persistente e incapacitante, marcada por sintomas graves e intoleráveis, incapacidade conjugal, social e vocacional e uso extensivo de serviços psiquiátricos e comunitários. Tais pessoas podem ser relegadas às margens da sociedade, a abrigos para sem-teto, ou participar de programas públicos projetados para pessoas com doença mental crônica, como esquizofrenia, superficialmente indistinguíveis de portadores do TEPT.16 O curso de longo prazo para a maioria das pessoas com TEPT crônico é marcado por remissões e recidivas. Há pacientes que atingem a recuperação total; outros, apenas parcial. Alguns nunca se recuperam. Há três classes gerais de portadores de TEPT: 1. TEPT crônico – Pesquisas atuais indicam que 40% dos pacientes com TEPT crônico apresentam pouca chance de recuperação, tenham ou não recebido tratamento.1 Alguns podem apresentar melhora na capacidade funcional ou na gravidade dos sintomas; porém, o TEPT continua crônico, grave e permanente. Contudo, é preciso entender que não havia tratamentos eficazes disponíveis quando essa pesquisa foi realizada. 2. TEPT em remissão com recidivas ocasionais – Os pacientes em remissão, sem sintomas há algum tempo, podem ter repentinamente recidivas e começar a apresentar o padrão completo de sintomas do TEPT. Quando isso ocorre, é provável que tenham sido recentemente expostos de maneira significativa a alguma situação semelhante ao evento traumático inicial. Transtorno de estresse agudo e pós-traumático 3. De início tardio – Na variante tardia do TEPT, os indivíduos expostos a um evento traumático não apresentam a síndrome do TEPT durante meses, ou até mesmo anos. Assim como na recidiva, o fator desencadeante normalmente é uma situação que se assemelha à original de maneira significativa; por exemplo, um veterano da guerra do Vietnã cujo filho tenha sido enviado para a zona de conflito no Afeganistão ou no Iraque. Devido ao poder que os estímulos traumáticos têm de evocar reações emocionais, comportamentais e fisiológicas, foi possível desenvolver abordagens de tratamento e de pesquisa em que os indivíduos com TEPT são expostos a estímulos relacionados ao trauma em uma situação controlada. Tais tratamentos (p. ex., tratamento cognitivo-comportamental) mostraram-se muito eficazes para a melhora dos sintomas do transtorno. Além disso, pesquisas laboratoriais, em que os pacientes com TEPT são expostos a estímulos relacionados ao trauma, aumentaram nossa compreensão sobre anormalidades biocomportamentais associadas ao transtorno. Conceitos-chave 1. O trauma ocorre não apenas devido à exposição a eventos catastróficos; depende também da resposta emocional do indivíduo exposto a tal evento. 2. O indivíduo deve apresentar sintomas e alterações no funcionamento na vida diária devidos ao evento traumático por, pelo menos, um mês antes que o diagnóstico de TEPT possa ser feito. 3. Os índices de prevalência do TEPT nos Estados Unidos são de 5% para os homens e de 10% para as mulheres que se expõem a estresses catastróficos. Em termos globais, especialmente onde guerras e atos terroristas são comuns, a prevalência é muito maior e constitui um importante desafio à saúde pública.­ 4. Os sintomas de TEPT se enquadram em três categorias: revivência, evitação/entorpecimento e hipervigilância; contudo, os sintomas-chave também precisam ser avaliados em sua persistência e na gravidade do envolvimento funcional após um evento traumático. 5. Os portadores do TEPT podem apresentar o transtorno crônico (com sintomas crônicos, graves e permanentes), ocasional (com remissão e recidivas normalmente associadas a algum tipo de exposição que se assemelhe ao trauma original) ou com início tardio (meses ou anos após a exposição ao evento traumático). 19 Muitos japoneses sobreviventes do bombardeio a Kobe na Segunda Guerra Mundial (que haviam mantido a funcionalidade durante décadas) apresentaram recidiva do TEPT após o grande terremoto de 1995. Relataram que as sensações físicas (os tremores de terra e os ruídos do abalo sísmico), a imensa mortandade e a destruição que os cercavam, bem como a ameaça à vida dos entes queridos, trouxeram à tona memórias e sensações há muito adormecidas, provocadas por ataques 50 anos antes.