31 A DIFERENCIAÇÃO SOCIOESPACIAL NA CIDADE DE BOA ESPERANÇA: UMA ANÁLISE DO CENTRO E DA PERIFERIA A PARTIR DA OFERTA DE BENS E SERVIÇOS Derielsen Brandão Santana Geografia – UNIFAL-MG [email protected] INTRODUÇÃO O acesso da população a bens e serviços irá se caracterizar de forma heterogênea no espaço urbano. A localização geográfica dos elementos essenciais aos habitantes de um município (supermercados, farmácias, postos de gasolina – para exemplificar) seguirá um prognóstico locacional diversificado, regido sob a égide do capitalismo, usualmente com maior tendência numérica localizada nos bairros centrais das cidades. Em grandes metrópoles essa diferença se torna mais evidente; entretanto em cidades menores esse fenômeno também ocorre, evidenciando claramente a distinção entre centro e periferia comumente presente em todos os espaços urbanos. Mas afinal, o que seria distinção entre centro e periferia urbanos?! De fato, a Área Central constitui-se no foco principal não apenas da cidade mas também de sua hinterlândia. Nela concentram-se as principais atividades comerciais, de serviços, de gestão pública e privada, e os terminais de transportes inter-regionais e intra-urbanos (CORRÊA, 1989, p. 38). A definição acima traduz perfeitamente o conceito do que vem a ser o centro urbano. Infere-se de forma sumária que trata-se daquele espaço com maior oferta de serviços, bens, instrumentos de gestão governamental e consequentemente de fluxos. Vejamos abaixo, em contrapartida, a acepção da periferia proveniente do mesmo autor: A periferia urbana tem sido usualmente considerada como aquela área da cidade que em termos de localização situa-se nos arredores do espaço urbano. Anais da 4ª Jornada Científica da Geografia UNIFAL-MG 30 de maio a 02 de junho de 2016 Alfenas – MG www.unifal-mg.edu.br4jornadageo Trata-se de uma faixa periférica que, a cada momento que se considera inclui: a) áreas que se acham urbanizadas e nos limites do espaço urbano contínuo; b) áreas onde a urbanização ainda é incipiente, coexistindo com áreas de agricultura, ora intensiva, ora extensiva, ou então marcada por uma forte esterilização (CORRÊA, 1986. p. 70). Ao ler os dois trechos acima pode-se compreender a irrefutável diferenciação perante os dois conceitos. E nesse trabalho eles serão evidenciados através dos estudos da cidade de Boa Esperança - um pequeno município no sul de Minas Gerais (área de 858,728 km²) - e com aproximadamente 40.018 habitantes (IBGE, 2013) aliados às ferramentas de Geoprocessamento. Ao considerarmos a inserção do geoprocessamento nas análises multiespaciais, pode-se afirmar que trata-se de uma área relativamente nova no conhecimento humano. O uso dos computadores e de máquinas eficientes que contribuem cada vez mais paulatinamente para pesquisas e/ou suporte para tomada de decisões remete à década de 1990, algo razoavelmente novo em nossa história. Mas afinal, o que seria o geoprocessamento? Geoprocessamento representa um conjunto de tecnologias capazes de coletar e tratar informações georreferenciadas, que permitam o desenvolvimento constante de novas aplicações. Neste sentido, as tecnologias que são englobadas nesta concepção, e que a cada momento fazem cada vez mais parte do nosso dia-a-dia, são o Sensoriamento Remoto (SR), o Sistema de Informação Geográfica (SIG) e o Sistema de Posicionamento Global (GPS), este último mais conhecido pela sua sigla em inglês. [Geógrafo Marcos Aurélio de Araújo Gomes – portal UOL]. O geoprocessamento, atualmente, constitui-se em ferramenta essencial para pesquisas governamentais ou privadas, análises multiespaciais, englobando diferentes técnicas a partir de dados de satélite (principalmente), fotografias aéreas e pesquisas domiciliares. Contribuir com tais pesquisas sob uma ótica digital torna mais fácil a compreensão de dados referentes a teorias de localização e padrões espaciais, contribuindo para a compreensão mais simples possível entre os atores dos espaços periférico e central, adjacentes às ferramentas de Geoprocessamento. Essa junção, particularmente nova, será de inestimável importância no decorrer desse trabalho para a assimilação do mesmo. OBJETIVOS - Geral: descrever a diferenciação entre o acesso a bens e serviços do centro e da periferia de uma cidade de pequeno porte, analisando-os de forma correlacionada no espaço. - Específicos: analisar o número de bens e serviços – caracterizados na estrutura de supermercados - no centro e na periferia de alguns bairros aleatórios; Anais da 4ª Jornada Científica da Geografia UNIFAL-MG 30 de maio a 02 de junho de 2016 Alfenas – MG www.unifal-mg.edu.br4jornadageo 32 - Relacionar em uma análise multiespacial/temporal os conceitos de segregação espacial, centroperiferia e geoprocessamento; - Projetar um mapa com a localização dos elementos analisados. METODOLOGIA 33 Toda pesquisa é fruto do questionamento e levantamento de dúvidas acerca de um tema. E essa busca por respostas irá se traduzir na metodologia a ser trabalhada, correspondendo às etapas que deverão ser concebidas, consistindo em unir materiais e métodos com a finalidade de responder o problema pesquisado. Metodologia, do Latim “methodus”, significa “caminho ou via para que algo seja realizado”; ou seja, a metodologia equivale a execução dos métodos mais eficientes para a realização do algo, que tem objetivo primordial a produção intelectual. É importante ressaltar que esses métodos podem ser distintos e aplicáveis em diversas áreas em questão. Nesse trabalho serão utilizados imagens aéreas da cidade de Boa Esperança – MG derivadas do Google Maps com o intuito de compreensão do território e localização dos supermercados, além da diferenciação dos bairros centrais e periféricos. Não obstante, será feito uma pesquisa em todos esses supermercados com algumas questões pertinentes, tais como o consumo médio diário, o número de funcionários e clientes atendidos diariamente. A localização dos mesmos será incluída em um mapa através de um programa de Sensoriamento Remoto – o QGIS, assim como a posterior inclusão e divisão dos bairros onde se localizam as lojas. Diante dessa localização e da caracterização dos aspectos inerentes aos estabelecimentos, poderá ser feita uma conclusão sobre os serviços ofertados no centro e na periferia e a concomitante disparidade entre os mesmos, além de uma pequena parcela sobre a fundamental importância dos serviços de geoprocessamento para as investigações de cunho geográfico. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA A palavra “favela” possui sua origem em uma planta existente na região de Canudos, estado da Bahia. O faveleiro, um arbusto peculiar do sertão, lembrava habitações existentes em Canudos, que depois se estenderam para os morros cariocas principalmente. O nome se alastrou para as comunidades pobres do Rio de Janeiro e desde então os “morros” passaram a ser conhecidos como “favelas”. Os conceitos de centro e periferia estão intrinsecamente relacionados. A sua historicidade remete à urbanização do território brasileiro do último século, resultando em um Anais da 4ª Jornada Científica da Geografia UNIFAL-MG 30 de maio a 02 de junho de 2016 Alfenas – MG www.unifal-mg.edu.br4jornadageo processo de segregação espacial, que ocasionou um aumento expressivo do número de subúrbios. O território, pautado pelas ações capitalistas, reflete as desigualdades espaciais decorrentes; o Estado se mantém inerte e as políticas públicas são totalmente ineficientes. Desprovida de estrutura e abandonada pelo poder público, a vida nas denominadas “favelas” tem se tornado cada vez mais penosa. 34 As atuais problemáticas são facilmente identificáveis, sobretudo nas metrópoles, onde novos contingentes populacionais pressionam por melhores condições sócio-espaciais econômicas [...] as periferias são a materialização de mecanismos de exclusão/segregação, tais como: habitações insuficientes e de má qualidade, inexistência de infra-estruturas básicas, baixa possibilidade de acesso rápido e confortável aos lugares de trabalho, malha viária e equipamento de transporte coletivo deficientes etc [PAVIANI, A. 1994. P. 182). A partir do fenômeno da urbanização, a segregação se torna mais acentuada, tanto a espacial quanto a social. As duas preencherão lacunas no âmbito da problemática urbana, e na cidade de Boa Esperança isso ficará claro a partir de representações como pode ser visto abaixo: Fig 1: vista aérea da cidade de Boa Esperança – MG – ano 2015 No mapa acima podemos perceber que, nos bairros centrais da cidade ou próximos deles, ao centro da imagem, há 4 supermercados que agregam diversas regiões, ou seja, a oferta de supermercados é superior, sendo que a população de baixa renda possuirá menos acesso aos mesmos em questão de localização e distância. Já na parte sul podemos perceber a presença singular de apenas 1 estabelecimento comercial de porte grande. Atende a uma grande parcela populacional também, e localiza-se em uma das saídas da cidade. Na seção noroeste vemos a Anais da 4ª Jornada Científica da Geografia UNIFAL-MG 30 de maio a 02 de junho de 2016 Alfenas – MG www.unifal-mg.edu.br4jornadageo presença de 2 supermercados na mancha urbana, preenchendo a lacuna naqueles espaços que são bem distantes da zona central da cidade. Esse é apenas o exemplo tomado nessa imagem, mas ao fim da pesquisa poderemos notar uma diferenciação muito mais expressiva, e até cruel, nesse aspecto. Os resultados finais poderão ser obtidos ao final da pesquisa, com todos os dados estatísticos e amostragens coletadas, o estabelecimento total dos serviços ofertados e uma pesquisa singular em cada um dos estabelecimentos acima pesquisados. BIBLIOGRAFIA CORRÊA, Roberto Lobato. O espaço Urbano. São Paulo: Editora Ática. 1989. CORRÊA, Roberto Lobato. GEOSUL, Revista. Expediente. Geosul, Florianópolis, v. 1, n. 2, jan. 1986. ISSN 2177-5230. Disponível em: <https://periodicos.ufsc.br/index.php/geosul/article/view/12559/11856>. Acesso em: 02 maio 2016. doi:http://dx.doi.org/10.5007/12559. GOMES, Marcos Aurélio de Araújo. O que é e para que serve o Geoprocessamento? Disponível em: < http://www3.unifai.edu.br/pesquisa/publica%C3%A7%C3%B5es/artigoscient%C3%ADficos/professores/sequenciais/o-que-%C3%A9-e-para-que-serve-o>. Acesso em: 03 maio 2016. PAVIANI, A. A lógica da periferização em áreas metropolitanas. In: Santos M. & Souza, M.A. A. (orgs). Território, Globalização e Fragmentação. São Paulo: Editora Hucitec, 1994. P. 18 Anais da 4ª Jornada Científica da Geografia UNIFAL-MG 30 de maio a 02 de junho de 2016 Alfenas – MG www.unifal-mg.edu.br4jornadageo 35