O prognóstico dos economistas para o Brasil, infelizmente, estava correto. Após um 2014 morno na economia e agitadíssimo nas eleições, veio a derrocada em 2015. O PIB encolheu, a inflação disparou, o emprego desapareceu e as contas públicas explodiram. O governo Dilma Rousseff esfacelou-se diante da opinião pública. O efeito prático nas empresas pode ser mensurado neste anuário. O faturamento das mil maiores companhias cresceu apenas 6,6% no ano passado, ritmo bem inferior ao da inflação, que subiu 10,7%. Agora, em 2016, o cenário segue desafiador, com destaque para uma nova retração econômica e o rombo histórico de R$ 170,5 bilhões nas contas públicas. A boa notícia, no entanto, está nas projeções futuras, que passaram a melhorar na mesma proporção em que o processo de impeachment foi avançando no Congresso Nacional. Com um plano de governo prómercado, o presidente Michel Temer ganhou um voto de confiança dos investidores. Nas últimas semanas, a DINHEIRO conversou com 25 economistas e cientistas políticos sobre o futuro do País. Algumas conclusões são quase unânimes: o pior da crise já passou; os juros vão cair em breve; o ajuste fiscal e as reformas estruturais são inadiáveis; o investimento em infraestrutura é o melhor caminho para a volta do crescimento; e a Lava Jato será um fantasma até, pelo menos, 2018. “É só o começo. É hora de a gente avançar. A situação política já está definida e toda a sociedade precisa entender que as reformas são indispensáveis”, afirma Antonio Megale, presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), que ainda vive o drama dos pátios lotados de carros e caminhões. “Já passou o tempo de a gente enfrentar a questão da reforma previdenciária, que é uma bomba relógio.” Todos os analistas avaliam que, após a virada de página da crise política, os índices de otimismo de consumidores e empresários tendem a crescer – desde fevereiro, os principais indicadores dobraram. E para não perder esse clima positivo, o governo não pode titubear na queda de braço com os parlamentares. “O risco é de desfigurar os projetos ou de o governo ceder demais nas negociações”, diz Evandro Buccini, economista da Rio Bravo Investimentos. Pela mediana das projeções de cem instituições financeiras, o PIB terá uma expansão de 1,3% em 2017. Há, no entanto, consultorias como a MB Associados que estimam um crescimento ainda maior, de 2%. Nesse contexto, a indústria poderá finalmente dar um respiro, após três anos consecutivos de queda. A ociosidade do parque fabril, que está atingindo níveis recordes neste ano, pode ser, inclusive, um facilitador para a recuperação econômica. Se houver demanda, os empresários precisarão apenas realocar mão de obra para operar o maquinário já instalado. Outra boa notícia deve vir do mercado consumidor. Após registrar um tombo em 2016, os setores de serviços e comércio tendem a se recuperar lentamente. O primeiro impulso virá do tão aguardado ciclo de queda dos juros, que deve começar ainda neste ano, beneficiando também o mercado imobiliário. Para isso, o Banco Central aguarda sinais mais claros de que a inflação está realmente convergindo para o centro da meta, de 4,5%. É importante frisar que não está prevista nenhuma explosão do consumo, pois o desemprego ainda pode piorar nos próximos meses e as famílias continuam muito endividadas. “A recuperação no Brasil será em forma de V”, diz Luiz Carlos Mendonça de Barros, ex-ministro das Comunicações e ex-presidente do BNDES. Não há setor mais promissor do que a infraestrutura. As oportunidades são proporcionais aos gargalos existentes em rodovias, ferrovias, portos, aeroportos, energia e saneamento. No dia 13 de setembro, o governo apresentou 34 projetos com leilões previstos até o primeiro semestre de 2018. Ao resolvê-los em parceria com a iniciativa privada, o governo vai gerar dois benefícios: criação de empregos nessas obras e ganhos de produtividade na economia. Não foi à toa que o presidente Temer aproveitou a sua primeira viagem internacional, no início do mês, à China para vender o Brasil no exterior. Formada pelos principais ministros da área econômica, a comitiva oficial apresentou um cardápio de projetos que totalizam US$ 269 bilhões. “Dificilmente você encontrará um País com tantas opções”, diz Robson Braga de Andrade, presidente da CNI. “Precisamos dar aos investidores segurança jurídica.” Os gestores dos principais fundos de investimentos veem com bons olhos a disposição do novo governo de ampliar as taxas de retorno e de privatizar estatais ineficientes. “É um bom caminho porque melhora a eficiência do serviço público, retira das costas do governo o custo de manutenção dessas estatais e gera recursos, evitando uma elevação da carga tributária”, diz Alex Agostini, economista-chefe da agência de classificação de risco Austin Rating. Se por um lado o sucesso do governo Temer depende das negociações com o Congresso Nacional, por outro, a evolução das investigações da operação Lava Jato podem atrapalhá-lo. Não é possível prever quais políticos – de dentro e de fora do governo – poderão ser alvos do juiz Sérgio Moro, em Curitiba. Cientes de que não podem ficar esperando de braços cruzados, os empresários já se posicionam para a retomada do crescimento econômico. Ao fim e ao cabo, se tudo ocorrer dentro do planejado pelo governo, a imagem do Brasil no exterior sairá fortalecida. “O foco principal é batalhar pela recuperação do grau de investimento”, diz Luiz Roberto Calado, diretor da BRAiN Brasil Investimentos & Negócios. A caminhada será longa, mas pelos menos já foi iniciada.