CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA INSTITUTO DE EDUCAÇÃO CONTINUADA E PESQUISA Mestrado Profissional em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local MARISTELA JORGE MITRE O TRABALHO SOCIAL NOS PROGRAMAS DE HABITAÇÃO DE INTERESSE SOCIAL: análise e proposições para adequações metodológicas Belo Horizonte 2015 MARISTELA JORGE MITRE TRABALHO SOCIAL NOS PROGRAMAS DE HABITAÇÃO DE INTERESSE SOCIAL: análise e proposições para adequações metodológicas Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação Mestrado Profissional em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local do Centro Universitário UNA, como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Gestão Social. Área de concentração: Inovações sociais e desenvolvimento Local. Linha de pesquisa: Gestão Social e desenvolvimento local Professor Orientador: Profa. Drª.Wânia Maria de Araújo Belo Horizonte 2015 M684t Mitre, Maristela Jorge O trabalho social nos programas de habitação de interesse social: análise e proposições para adequações. / Maristela Jorge Mitre. – 2015. 222f. il. Orientador: Prof.ª. Drª. Wânia Maria de Araújo Dissertação (Mestrado) – Centro Universitário UNA, 2015. Programa de Mestrado em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local. Bibliografia f. 149-154 Ficha catalográfica desenvolvida pela Biblioteca UNA campus Guajajaras 1. Habitação popular - Brasil. 2. Desenvolvimento urbano sustentável. I. Araújo, Wânia Maria de. II. Centro Universitário UNA. III. Título. CDU: 658.114.8 Primeiramente dedico esse trabalho aos meus pais amados que, com esforço e sacrifício me proporcionaram trilhar os primeiros passos na direção do conhecimento e cuja vida abreviou-lhes a dimensão de sua instrução. Todas as horas de estudo sobre o tema e seus frutos eu dedico a dois grupos que se encontram no caminho da intervenção social: os técnicos sociais que, em sua missão sacerdotal e idílica, não se cansam de conjugar os verbos querer e poder na vontade de imprimir a mudança ocupando ainda um lugar tão pequeno na escala de valor; e as pessoas que também desejam seu lugar no território do viver, sejam elas quais for, que estão sempre a espera de uma vida repleta de lugares. Que essa espera se converta em busca ativa. AGRADECIMENTOS Chegar até aqui foi uma prova de resiliência. Mostrou-me que a vida é uma constante renovação do nosso ser nesse mundo. E nesta empreitada uma luz divina conduziame. Agradeço, portanto, primeiramente a Deus. Tive companhias preciosas nessa caminhada como a do Lucius que, apoiando-me com dedicação, abdicou de muitos momentos de convívio sem abdicar de sua fina cumplicidade. Minha gratidão e minha reverência eterna por toda parceria e amor. Agradeço à Rossana, minha querida orientadora institucional, aos meus gestores da Caixa Econômica Federal que gentilmente me permitiram conciliar o trabalho com os estudos confiando em minha responsabilidade profissional. Agradeço aos colegas de trabalho, queridos, que seguraram as ausências, sempre acompanhando as aventuras, aos técnicos sociais das prefeituras de Alfenas e Três Pontas, e aos credenciados da Caixa Econômica Federal, sujeitos da pesquisa, que, mais do que gentis, foram comprometidos com a participação. Agradeço à professora Dra. Wânia Maria de Araújo, minha orientadora, por ter sido essa pessoa tão querida. Às professoras Dras. Matilde Meire Miranda Cadete e Alexandra Nascimentos Passos, externo um especial agradecimento pelas palavras de incentivo quando da qualificação do projeto. Aos professores das disciplinas cursadas, meu carinho e agradecimento pelo conhecimento agregado. Por meio de vocês reporto-me também aos servidores do Centro Universitário UNA pela atenção a mim dispensada e a todos os queridos colegas da turma do mestrado. Aos professores da banca de defesa, Dra. Raquel Garcia Gonçalves e Dra. Alexandra Nascimentos Passos meu reconhecimento pela certeza da contribuição para meu crescimento cognitivo. As necessidades sociais têm um fundamento antropológico[...]. A essas necessidades antropológicas socialmente elaboradas [...] acrescentam-se necessidades específicas, que não satisfazem os equipamentos comerciais e culturais que são mais ou menos parcimoniosamente levados em consideração pelos urbanistas. Trata-se da necessidade de uma atividade criadora, de obra [...], necessidade de informação, simbolismo, de imaginário, de atividades lúdicas. [...]. As necessidades urbanas específicas não seriam necessidades de lugares qualificados, lugares de simultaneidade e de encontros [...]? Henri Lefebvre, 2001, P.105. RESUMO As normas do Ministério das Cidades para programas de habitação de interesse social constantes da Política Nacional de Habitação determinam a realização de um trabalho social conjugado com a produção de empreendimentos habitacionais. Esse trabalho social, regido pela Portaria 21/2014, do Ministério das Cidades, consiste em estratégias e ações voltadas à promoção de processos participativos e de mobilização social, inserção social e econômica dos beneficiários, desenvolvimento socioterritorial e sustentabilidade dos bens e serviços disponibilizados. A partir de estudos diagnósticos participativos e de um conjunto de atividades informativas, sócioeducativas e estruturantes, o trabalho social assume um papel importante na promoção e consolidação da gestão social e do desenvolvimento urbano, tornando-se capaz de contribuir na formação de comunidades cívicas, aptas a fazer a mediação entre a sociedade e o Estado na conquista de direitos e na materialização do acesso a bens e serviços para consagração da cidadania plena. Entretanto, o fato de estar normatizado e ser potencialmente viabilizador da gestão social, não garante sua concretude; e esse é ponto de origem da discussão que constitui essa dissertação do Mestrado Profissional em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local do Programa de Pós-Graduação do Centro Universitário UNA. A pesquisa, realizada por meio de revisão bibliográfica, pesquisa documental e questionários aplicados junto a profissionais do trabalho social adotando o paradigma qualitativo, teve o propósito de buscar respostas para as seguintes perguntas: o trabalho social pode ser considerado o “mediador” entre o que está previsto nas normativas que regulamentam os programas de HIS e o que se espera materializar nos empreendimentos habitacionais voltados à população de menor renda? Como propor formas de viabilizar uma participação construtiva, com engajamento e coesão do público destinatário dos programas e projetos? Os profissionais do trabalho social conhecem e aplicam as metodologias de intervenção mais adequadas às intervenções? As instituições estão preparadas para a implementação do trabalho social com governança e governabilidade? A concepção dos programas e a forma como são implantadas os empreendimentos contribuem para uma ação transformadora pelo viés do trabalho social? Uma análise da Política Nacional de Habitação e do Programa Minha Casa Minha Vida abre a discussão que passará também por uma abordagem sobre o tema da gestão social, tomando como base a dinâmica de produção e reprodução das relações no território e deste próprio território. Palavras-chave: Trabalho Social. Habitação de Interesse Social. Gestão Social. Desenvolvimento Urbano. Política Nacional de Habitação. ABSTRACT The legal regulations of the Ministry of cities for housing programs social interest constituent from the National Housing Policy determine the accomplishment of a social work combined with the production of housing developments. This social work, ruled by the 21st / 2014 Therm, from the Cities Ministry, consists of strategies and actions toward the promotion of participatory and and social mobilization processes, social and economic insertion of the gainers, social-territorial development and, the riches and the available services sustainability. From participatory diagnostic studies and a set of information, social-educational and structuring activities, the social work assumes an important role in the promotion and consolidation of social management and urban development, becoming able to contribute in the formation of civic communities, apt to doing the mediation between the society and the State in the achievement of rights and in the materialization of access to the riches and services to the consecration of the fully citizenship. However, the fact of being standardized and being potentially enabler of the social management, doesn’t ensure its concreteness; and this is the point of origin of the discussion that constitutes this dissertation resulting from research of the completion of the Professional Master Course in Social Management, Education and Local Development of the Post-graduation Program from UNA University Centre. The research, carried out through literature and documentary research and questionnaires applied with professionals from social work adopting the qualitative paradigm, aimed to seek answers for the following questions: Can the social work be considered the “mediator” between what is foreseen in the regulations which settle the programs of Social Housing Interest and what is hoped to be materialized in the housing developments directed to the low-income population? How to propose ways of making feasible a constructive participation, with engagement and cohesion of the target public of programs and projects? Do the professionals of social work know and apply the most appropriate intervention methodology to interventions? Are the institutions prepared for the implementation of social work with governance and governability? Do the conception of programs and the way the enterprises are implemented contribute to a transforming action through the bias of social work? An analysis from the National Housing Policy and the Program “Minha Casa Minha Vida” (My House My Life) opens the discussion which will also undergo an approach about the theme of social management, based on the production and reproduction dynamics in the territory and this own territory. Key-words: Social Work. Social Housing Interest. Social Management. Urban Development. National Housing Policy. LISTA DE FIGURAS Figura 1 – Trabalho Social LISTA DE QUADROS E TABELAS Tabela 1 – Marcos Temporais e Instrumentos de Execução do Trabalho Social Quadro 1 – Categoria 9 - Metodologias consideradas mais adequadas e ferramentas mais utilizadas pelos profissionais na realização do trabalho social Quadro 2 – Categoria 13 – Atividades realizadas pelos profissionais na realização do trabalho social Quadro 3 – Considerações gerais e sugestões dos profissionais para o incremento do trabalho social LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS BID Banco Interamericano de Desenvolvimento BNDES Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social BNH Banco Nacional de Habitação CADÚNICO Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal CAIXA Caixa Econômica Federal CEP Comitê de Ética em Pesquisa COHAB Companhias de Habitação CONCIDADES Conselho das Cidades FAR Fundo de Arrendamento Residencial FAT Fundo de Amparo ao Trabalhador FDS Fundo de Desenvolvimento Social FGTS Fundo de Garantia Por Tempo de Serviço FNHIS Fundo Nacional de Habitação de Interesse Social HBB Habitar Brasil BID HIS Habitação de Interesse Social MCIDADES Ministério das Cidades ONG Organização Não Governamental OGU Orçamento Geral da União PAC Programa de Aceleração do Crescimento PLANHAB Plano Nacional de Habitação PMCVM Programa Minha Casa Minha Vida PMCMV-FAR Programa Minha Casa Minha Vida com recursos FAR PMI Project Management Institute PNH Política Nacional de Habitação PNHIS Política Nacional de Habitação de Interesse Social PNHU Programa Nacional de Habitação Urbana PPA Plano Plurianual SNHIS Sistema Nacional de habitação de Interesse Social TAC Taxa de Apoio Comunitário Sumário Lista de Figuras ............................................................................................................. Lista de Siglas ............................................................................................................... 1. INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 13 CAPÍTULO 1: Habitação de Interesse Social: O trabalho social como possibilidade de gestão social ............................................................................................................. 26 Resumo ..................................................................................................................... 15 Introdução ................................................................................................................. 29 1.1. Política Nacional de Habitação de Interesse Social ........................................... 33 1.1.1. Sistema Nacional de Habitação de Interesse Social. ...................................... 35 1.2. O trabalho social como possibilidade de gestão social ..................................... 44 1.3. Gestão Social e trabalho social .......................................................................... 58 1.4. Considerações finais .......................................................................................... 65 Referências Bibliográficas ......................................................................................... 67 CAPITULO 2. Um olhar técnico sobre o trabalho social nos Programas de Habitação de Interesse Social .................................................................................................... 73 2.1. Introdução .......................................................................................................... 74 2.2. O trabalho social no contexto da habitação de interesse social ......................... 81 2.2. Metodologia da pesquisa.................................................................................... 86 2.3. Coleta de Dados e categorias de análise ........................................................... 90 2.5.Considerações finais ......................................................................................... 145 Referências ............................................................................................................ 148 CAPÍTULO 3. Produto Técnico: Guia de Orientações Metodológicas para o Trabalho Social APÊNDICES I. Questionário ............................................................................................................... II. Questionário .............................................................................................................. ...................................................................................................................................... 14 INTRODUÇÃO O objeto de estudo da presente pesquisa está centrado no trabalho social1 no contexto do desenvolvimento urbano2 com recorte nos Programas de Habitação de Interesse Social – HIS, do Governo Federal geridos pelo Ministério das Cidades – MCidades. A arquitetura da discussão abriga as premissas e os objetivos do trabalho social no contexto em questão e busca identificar, ressaltar e avaliar as dificuldades e potencialidades dos Projetos de Trabalho Social3 na promoção da participação, da gestão social e do desenvolvimento local no âmbito da Política Nacional de Habitação de Interesse Social – PNHIS, instituída pela Lei 11.124/2005. Para iniciar a discussão buscou-se analisar, à luz da legislação e das normativas do MCidades, as premissas dos programas de provisão habitacional, comparando-as com a prática e os instrumentos utilizados pelos profissionais da área social nos projetos propostos e implementados nas intervenções. Para uma melhor compreensão do que se propõe, é pertinente trazer à tona a concepção do trabalho social na perspectiva dos programas de provisão habitacional, que, com a faculdade de promover um conjunto de ações organizadas por eixos de atuação, tem por objetivo promover a autonomia e o protagonismo social por meio de mecanismos que viabilizem a “participação dos beneficiários nos processos de decisão, implementação e manutenção dos bens e serviços a fim de adequá-los às necessidades e realidade local” (BRASIL, 2010, p. 81 ), configurando-se como um 1 Seus objetivos, premissas e condições de realização serão descritos com maior profundidade no primeiro capítulo desta dissertação. 2 Desenvolvimento urbano entendido como melhoria das condições materiais e subjetivas de vida nas cidades, com a diminuição da desigualdade social e garantia de sustentabilidade ambiental, social e econômica. Ao lado da dimensão quantitativa da infraestrutura, dos serviços e dos equipamentos urbanos, o desenvolvimento urbano envolve também uma ampliação da expressão social, cultural e política do indivíduo e da coletividade, em contraponto aos preconceitos, à segregação, à discriminação, ao clientelismo e à cooptação. (www.antac.org.br/pdf/relator/1.pdf, aces. em 20/03/2006, apud SANTOS, C.C.B. Participação cidadã e participação comunitária, p. 19, 2006). 3 Documento que sistematiza a proposta de trabalho a ser realizado junto aos beneficiários e exigido nas intervenções de habitação e de desenvolvimento urbano geridas pelo Ministério das Cidades que tenham impacto direto na vida das comunidades ou que envolvam reassentamento, remanejamento de famílias ou produção de moradia. Fundamenta-se nos princípios da participação comunitária e sustentabilidade dos empreendimentos e tem enfoque multidisciplinar. Tais projetos devem ser desenvolvidos pelos agentes executores (prefeituras e outras entidades ) com todas as famílias beneficiárias. As equipes técnicas destinadas a elaborá-los e executá-los devem ser interdisciplinares e constituídas por profissionais da área social com experiência em processos participativos devendo a responsabilidade técnica ficar a cargo de Assistentes Sociais ou Sociólogos (BRASIL, 2010, p.4). 15 componente essencial para a gestão social, sustentabilidade das intervenções e desenvolvimento local. A pergunta norteadora da pesquisa foi assim estruturada: o trabalho social pode ser considerado o “mediador” 4 entre o que está previsto nas normativas que regulamentam os programas de HIS e o que se espera materializar nos empreendimentos habitacionais voltados à população de menor renda? Dessa questão central derivaram outras que foram traduzidas da seguinte forma: é possível contribuir na proposição de melhores projetos, no incremento e efetividade das ações de mobilização e organização comunitárias desenvolvidas no trabalho social com vistas à promoção do desenvolvimento local e da gestão social? É possível propor formas de viabilizar uma participação construtiva, com engajamento e coesão do público destinatário dos programas e projetos? Os técnicos sociais, responsáveis pela elaboração e execução dos projetos sociais, conhecem e aplicam as metodologias de intervenção mais adequadas ao público beneficiário e ao tipo de programa a que estão inseridos? As instituições estão preparadas para a implementação do trabalho social com governança e governabilidade? Partiu-se do pressuposto de que há uma grande dificuldade entre os profissionais da área social na aplicação prática do conhecimento, na interpretação e na aplicação das orientações técnicas, premissas, leis e normas necessárias para a realização do trabalho social e sua interlocução com as obras. Mas acredita-se, sobretudo, que as ferramentas, metodologias e técnicas de intervenção utilizadas na execução de projetos não são condizentes com o que se espera do trabalho social, principalmente no que concerne à comunicação, à informação, à instauração de processos participativos para a mobilização e organização comunitárias, para a construção de diagnósticos e a apropriação e potencialização de saberes locais. Presume-se ainda, pela forma como se deu o processo de descentralização e municipalização das políticas públicas no país, que os governos locais ainda não estão preparados para 4 A partir do conceito de mediação como instituto jurídico que visa à promoção do diálogo cooperativo das partes e meio consensual e imparcial de facilitar a comunicação e a construção de acordos (OAB/Guarujá. 2010). Nesse sentido, o Trabalho social como mediador estaria responsável por viabilizar a participação ampla e ativa e viabilizar a interlocução entre as políticas públicas e as demandas das comunidades atendidas com o objetivo final de promover a “apropriação e o usufruto efetivo dos serviços e programas sociais” [...] (CARVALHO, 2014, p. 19). 16 se ‘adaptarem ao seu meio social’ (PUTNAM, 2006) apresentando fraco desempenho no campo da implementação das políticas públicas. A realização da pesquisa teve sua origem nos questionamentos da pesquisadora que, trabalhando na área de habitação desde 1989 e atuando como Assistente de Projetos Sociais na área de Desenvolvimento Urbano da Caixa Econômica Federal desde 2000, desenvolveu ao longo de sua atuação profissional uma percepção crítica acerca das deficiências dos projetos sociais, da maneira como o trabalho social é visto, proposto e desenvolvido junto aos empreendimentos de Habitação de Interesse Social e da forma como as instituições lidam com a exigência de sua realização nos programas. Tal percepção constituiu-se como balizadora ao longo de toda pesquisa. Assim, credita-se ao presente estudo a oportunidade de poder identificar onde residem as dificuldades na implementação de projetos sociais efetivos, que, em consideração às suas premissas, levem a cabo seus objetivos suscitando assim um debate em torno das reais possibilidades do trabalho social nos programas de provisão habitacional. Ressalta-se que ao trabalho social é atribuída a responsabilidade pela sustentabilidade dos empreendimentos, a qual compreende, nesse caso, a promoção da inserção social das famílias beneficiárias no processo construtivo e nos novos espaços de moradia, a redução dos impactos nos ou decorrentes dos reassentamentos de famílias, o correto uso e apropriação dos bens e serviços, o desenvolvimento local e gestão social. Para o alcance desse feito, as equipes técnicas responsáveis pelo trabalho social devem estar aptas a desenvolver ações informativas, socioeducativas e psicopedagógicas aliadas a ações estruturantes 5 a partir de metodologias de intervenção social próprias a cada etapa dos trabalhos – do diagnóstico, passando pela implementação até o pós-obra e a avaliação final – permeando todo o processo com ações de monitoramento. Entretanto, para tamanho desafio, não lhe são oferecidas condições logísticas, operacionais, institucionais e instrucionais para sua realização resultando em projetos superficiais desenvolvidos 5 Ações voltadas à geração de trabalho e renda, à inclusão de gênero e ao desenvolvimento sócio-organizativo que resultem na mudança efetiva nas condições de vida das comunidades diretamente beneficiadas pelos programas. Essas ações, a partir da publicação da Portaria 21 do Ministério das Cidades, em janeiro de 2014, devem levar em consideração a macroárea do empreendimento. 17 apenas como cumprimento de uma exigência protocolar deixando para trás um legado que só reforça a fragilidade das políticas públicas. Como parte integrante de uma política habitacional setorizada e fragmentada, os projetos sociais não são pensados dentro de um horizonte de totalidade e complementaridade que promova uma interface entre as esferas econômica, social e política (PAZ; TABOADA, 2006). O resultado disso são ações dispersas que não se consolidam como projeto estruturante voltado às demandas sociais e à promoção do desenvolvimento socioeconômico e sócio-organizativo. O trabalho social, que poderia ser o elemento articulador de uma intersetorialidade e interdisciplinaridade 6 que contribuísse na promoção da interlocução das políticas públicas, se vê pouco vigoroso e inoperante diante da precariedade das condições em que é realizado. Dessa forma, o problema central da pesquisa residiu na fragilidade do trabalho social nos programas de habitação de interesse social que, percebe-se, não vem sendo efetivo no cumprimento de suas premissas e das diretrizes dos programas de provisão habitacional. Essa não efetividade do trabalho social, resultante também da falta de interesse e apoio político e logístico por parte do poder executivo local e da forma como as intervenções são concebidas, planejadas e influenciadas pelas instituições formais (PUTNAM, 2006), compromete sobremaneira a sustentabilidade dos empreendimentos habitacionais voltados à população de baixa renda. A partir dessa questão estabeleceu-se uma discussão em torno dos limites e possibilidades do trabalho social na Política Nacional de Habitação de Interesse Social com um olhar direcionado aos métodos e técnicas de intervenção social e de gerenciamento dos projetos sociais nos programas de provisão habitacional para população de baixa renda. Entende-se haver certa fragilidade nas ações voltadas à realização de diagnósticos socioterritoriais e nas ações inerentes à gestão social e ao desenvolvimento local que minimamente englobarão atividades socioeducativas e informacionais, de mobilização e organização comunitárias, de geração de trabalho e renda. Por sua vez, a gestão dos recursos do projeto e o processo de transição, 6 Interdisciplinaridade “[...] não apenas na sua faceta cognitiva - sensibilidade à complexidade, capacidade para procurar mecanismos comuns, atenção a estruturas profundas que possam articular o que aparentemente não é articulável - mas também em termos de atitude - curiosidade, abertura de espírito, gosto pela colaboração, pela cooperação, pelo trabalho em comum” (POMBO, OLGA, 2004). 18 entendido como o momento da conclusão dos trabalhos, da saída da equipe da área de intervenção e da entrega dos produtos da intervenção social às comunidades, também se coloca como um ponto frágil desse processo. Assim, constituiu-se como objetivo geral da pesquisa a análise das metodologias de intervenção social e de gerenciamento de projetos adotadas pelos técnicos sociais na proposição e execução dos projetos sociais a partir das orientações normativas do MCidades relativas ao trabalho social nos Programas de HIS, tendo em vista o desenvolvimento de contribuição técnica na área de gestão social voltada ao desenvolvimento local. Para o desenvolvimento da pesquisa foram definidos os seguintes objetivos específicos: 1. Analisar as orientações e premissas das normativas que regem o trabalho social nas políticas de desenvolvimento urbano, notadamente no que concerne à HIS; 2. Investigar, descrever e analisar como o trabalho social vem sendo realizado pelos técnicos sociais das prefeituras e pelos técnicos sociais credenciados7 pela Caixa Econômica Federal para a prestação de serviços nas intervenções de desenvolvimento urbano voltadas à HIS; 3. Identificar junto aos técnicos sociais vinculados às prefeituras e junto aos credenciados da Caixa Econômica Federal as dificuldades na aplicação das orientações contidas nas normativas em especial no que tange aos processos participativos e de organização comunitária, buscando conhecer as metodologias de intervenção social e de gerenciamento de projetos utilizadas na elaboração e execução dos projetos; 4. Desenvolver um Guia de Orientações Metodológicas Para a Intervenção Social como contribuição técnica na área de gestão social voltada à promoção do desenvolvimento local.. 7 Profissionais e empresas especializadas em coleta e análise de dados, elaboração e execução de projetos sociais e planos de intervenção, apoio técnico e consultoria especializada, contratados pela CAIXA ECONÔMICA FEDERAL por meio de editais específicos regidos pela Lei 8666/93, conforme Edital de Credenciamento nº 1447/2014 - CPL/GILOG/BH da Caixa Econômica Federal. 19 Cabe dizer que a relevância da pesquisa reside no fato de poder contribuir com as discussões em torno das políticas públicas concernentes aos programas de desenvolvimento urbano com foco na habitação de interesse social colocando o citadino no centro dessa discussão. É possível dizer que, apesar do trabalho social estar prescrito na regulamentação dos programas e ser inerente às questões urbanas, muito pouco do que lhe é atribuído se implementou de fato nas intervenções até então realizadas no país. Dada sua importância, é uma prática que necessita de amadurecimento, profissionalização, reconhecimento, valorização e consolidação e as instituições responsáveis pela gestão e implementação das políticas públicas, por sua vez, precisam colocá-lo na pauta da sua governança. É ainda importante ressaltar que o trabalho social nesses programas, que sempre acabam por produzir grandes conjuntos habitacionais, sustenta-se na crença de que a concessão da moradia pura e simplesmente não se configura como ação emancipatória e de construção da cidadania. O direito à moradia está associado ao direito e acesso à saúde, à educação, ao lazer, ao esporte, ao trabalho, à mobilidade, à informação. Defende-se, portanto, que é preciso trazer o beneficiário para o centro do processo de concepção e consolidação dos empreendimentos, promovendo ali, nas comunidades, uma gestão social baseada na formação política dos indivíduos e da coletividade para o despertar de uma nova consciência cidadã que leve à exata compreensão dos papéis e atribuições de cada um na concepção e aplicação das políticas públicas. As informações apuradas a partir da pesquisa permitiram, não só confirmar certos pressupostos, mas construir um produto técnico que, conjectura-se, possa contribuir para a potencialização e efetividade das ações na consecução dos objetivos do trabalho social como parte de uma política pública de habitação que deve ser, por essência, intersetorial, interdisciplinar e ter como centro os indivíduos e as comunidades atendidas. Espera-se que a pesquisa realizada possa elucidar e ratificar as dimensões do trabalho social no desenvolvimento urbano reforçando sua importância enquanto instrumento capaz de promover a participação e a mobilização comunitária, a gestão social e o desenvolvimento local. Empreendeu-se como resultado a produção de um 20 guia prático aplicável às ações do trabalho social não necessariamente de forma inovadora, mas de forma que os técnicos sociais possam vislumbrar mais facilmente algumas aplicações práticas da teoria para a concretização das premissas dos programas e do próprio trabalho social. Um contributo para a formação e qualificação do trabalhador social que recebe o título de Guia de Orientações Metodológicas para a prática social e que compõe o Capítulo 3 desta dissertação. Por fim, acredita-se que a revisão bibliográfica, que constituirá o corpo teórico desta pesquisa, e os relatos advindos da análise dos dados possam contribuir na ampliação do debate e na disseminação das premissas e conceitos relacionados ao trabalho social no desenvolvimento urbano ratificando sua importância como meio capaz de promover a gestão social e o desenvolvimento local a partir da utilização de metodologias adequadas de informação, comunicação e participação e abrindo novas questões ao colóquio. Ao oferecer, como resultado desta pesquisa, um suporte didático-metodológico relacionado à perspectiva do gerenciamento de projetos e da intervenção social em habitação, tornar-se-á possível contribuir para o trabalho dos profissionais responsáveis pela elaboração e execução e acompanhamento de projetos sociais facilitando-lhes a escolha das metodologias mais adequadas a cada situação ou etapa das intervenções, contribuindo assim na promoção da eficácia, eficiência e efetividade de suas ações. Uma outra expectativa é a de que a pesquisa e o produto técnico dela resultante possam permitir a percepção de novos caminhos para a realização do trabalho social junto aos programas de HIS, dada a carência na disseminação de instrumentos, métodos e materiais que melhor possam elucidar e incrementar a prática dos profissionais do trabalho social que atuam na promoção do desenvolvimento urbano. Portanto, a pesquisa tem a intenção de contribuir para a identificação e proposição de metodologias apropriadas à realização de diagnósticos e implementação de processos participativos que resultem no fortalecimento social, no desenvolvimento local, no alcance dos objetivos dos programas, na sustentabilidade das intervenções. E que essa sustentabilidade possa se traduzir na promoção e ampliação da cidadania, na melhoria contínua e apropriação, pelos beneficiários dos bens e serviços 21 produzidos e que findem na inclusão social e econômica das famílias atendidas e na disseminação e assimilação de informações e conceitos que possam gerar empoderamento social. Do ponto de vista da produção de conhecimento, a pesquisa traz uma discussão em torno da temática urbana no contexto da recente Política Nacional de Habitação de Interesse Social fazendo uma abordagem dos conceitos inerentes ao trabalho social, em especial das metodologias de intervenção social em programas de provisão habitacional e de gerenciamento de projetos públicos aplicados ao desenvolvimento socioeconômico e territorial. O referencial teórico que embasa essa discussão traz autores como Henri Lefrebvre (1997; 1999), Milton Santos (2000), Dirce Koga (2011), Ermínia Maricato (2001; 1987), Raquel Rolnik (2000; 2002); Ana Fani Carlos ( 2012 ), debatendo a questão urbana; Robert D. Putnam (2006), Maria da Gloria Gohn (2004), Marilene Maia (2005); apoiam a discussão da gestão social e do desempenho institucional do poder público. Serge Paugam (2004 ) traz para esta discussão um embasamento para abordagem da questão da exclusão social. O tema do trabalho social vinculado ao desenvolvimento urbano propriamente dito ainda é incipiente na literatura, mas as ponderações da pesquisadora encontraram forte identificação com as reflexões de Maria do Carmo Brant de Carvalho (2014). Pela interface identificada, entendeu-se mais pertinente o enquadramento do presente estudo na linha de pesquisa em Gestão Social e Desenvolvimento Local do Mestrado Profissional em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local do Programa de Pós-Graduação do Centro Universitário UNA. Dessa forma, pela pertinência, torna-se essencial, portanto, o direcionamento de algumas reflexões no sentido de definir as escalas do desenvolvimento delimitando todos esses conceitos no contexto da cidade por ser esse o cenário em que se insere a pesquisa.. Em decorrência das grandes transformações observadas nos modos de produção e acumulação capitalista, os sentidos atribuídos ao desenvolvimento adquiriram novos pressupostos conceituais exigindo que façamos a aproximação necessária ao 22 presente debate que tem por contorno as comunidades atendidas pelos programas de habitação de interesse social fulcro da premissa do desenvolvimento local. Pensando que o desenvolvimento em qualquer de suas escalas acontece a partir das relações de troca, sejam elas sociais, econômicas, culturais, torna-se essencial trazer o citadino para o centro da discussão e pensar seus papéis enquanto agente propulsor ou limitador do processo de desenvolvimento que se instaura a partir de uma organização espacial caracterizada pelo bairro, a comunidade ou a cidade. E, pelo exposto, considerando essa dimensão relacional existente no princípio do desenvolvimento imprime-se como exigência uma discussão em torno do conceito de gestão social. Todas essas abordagens serão feitas no primeiro capítulo desta dissertação. Essa prática, constituída pelo trabalho social, que tem ao mesmo tempo uma estreita relação com a gestão social e com o desenvolvimento local adquire um profundo teor de uma educação popular “que promova a conscientização a partir de uma leitura crítica do mundo, tomando consciência dos problemas [...] no sentido não somente de conhecer, mas de compreender, analisar criticamente, refletir [...] e transformá-lo” (QUARESMA, 2012, p.188 ). Será por esse viés que se pensará a gestão social e o desenvolvimento local no âmbito do presente estudo em interlocução com os conceitos de governança e governabilidade como ingredientes essenciais para um desempenho institucional generoso na efetividade das ações e políticas públicas. A definição da metodologia da pesquisa levou em consideração o fato de que a pesquisa nas Ciências Sociais lida diretamente com o indivíduo, a sociedade e todas as suas implicações culturais, sociais, políticas, emocionais, econômicas, e, como tal, acaba por ter “um substrato comum de identidade com o investigador, tornando-os solidariamente imbricados e comprometidos” (DESLANDES; GOMES, MINAYO, 2012, p. 13). As questões implícitas na pesquisa social comportam particularidades que dificilmente se permitem quantificar constituindo, dessa forma, seu caráter “essencialmente qualitativo” (DESLANDES; GOMES, MINAYO, 2012, p.14, grifo dos autores ), que envolve o “universo dos significados, dos motivos, das aspirações, das crenças, dos 23 valores, das atitudes” (DESLANDES; GOMES, MINAYO, 2012, p. 21 ) numa relação dinâmica e processual entre o mundo real e os sujeitos. A partir dessa relação e nas observações e padrões encontrados nos dados levantados, o pesquisador desenvolve conceitos, ideias e entendimentos e, intervindo na realidade, muda a si próprio e/ou instiga a mudança no outro. Essa dinâmica fundamenta-se no método dialético e constitui o arcabouço da abordagem qualitativa aqui adotada. Portanto, a pesquisa, desvia-se da perspectiva anunciada pelo positivismo clássico, inerente às ciências exatas e ao paradigma quantitativo, privilegiando assim a percepção da ação de sujeitos estruturada de forma dinâmica e relacional e o contexto social, jurídico, político-institucional, econômico e ambiental que envolve a questão urbana. Por esta razão a pesquisadora valeu-se dos princípios da fenomenologia e da dialética adotando o paradigma qualitativo. Essa temática será objeto de reflexão no capítulo 2. Entre os procedimentos de coleta de dados para a presente pesquisa incluiu-se a revisão bibliográfica e a pesquisa documental em razão da natureza inter e multidisciplinar que rege o campo de interesse e a amplitude do objeto da pesquisa, considerando seu caráter institucional e sua relação com um programa do Governo Federal de abrangência nacional. Nas investigações, procurou-se privilegiar publicações dos últimos cinco anos que abordem os conceitos pertinentes à discussão aqui proposta tais como trabalho social, cidadania, território, desenvolvimento local, gestão social, participação, mobilização social, governança e governabilidade na busca de reunir elementos que possam cercar tais conceitos da visão da interdisciplinaridade e da intersetorialidade reconhecidamente essenciais nos projetos de desenvolvimento. Para o levantamento de dados empíricos foi utilizada a técnica de questionário autoaplicado contendo questões abertas e fechadas o qual foi aplicado junto a 02 (dois) técnicos sociais da Prefeitura de Alfenas e 03 (três) da Prefeitura de Três Pontas8, ambos os municípios localizados no Sul de Minas Gerais e com intervenções em programas habitacionais do Programa Minha Casa Minha Vida, inserido na 8 Apêndice I 24 PNHIS. O primeiro com empreendimentos na tipologia verticalizada, no formato de condomínio, e o segundo com empreendimentos na tipologia horizontal, no formato de loteamento. Outro modelo de questionário 9 foi aplicado também junto a 13 profissionais da área social, credenciados pela Caixa Econômica Federal para prestação de serviços especializados em trabalho social, o que caracterizou uma amostragem não probabilística intencional. O universo desses técnicos constitui-se necessariamente, por exigência do Ministério das Cidades, de psicólogos, pedagogos, sociólogos e assistentes sociais os quais trabalham não só com os programas de habitação de interesse social, recorte do objeto de pesquisa, mas com outros programas e outras ações incluindo aquelas relacionadas ao Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) com intervenções em saneamento, regularização fundiária, reassentamento e remanejamento de famílias. A partir desse universo, os sujeitos desta pesquisa foram os técnicos sociais que já tiverem realizado, ou que realizam trabalho social em empreendimentos habitacionais de interesse social no âmbito da PNH. Buscou-se, junto aos sujeitos da pesquisa, identificar como aqueles profissionais atuam como Responsáveis Técnicos (RT) na proposição e execução dos projetos sociais e dos programas de habitação de interesse social. Sabe-se, entretanto, que não é possível generalizar os resultados do inquérito a toda a população de técnicos sociais, embora esse universo seja representativo, mas as informações ali contidas, seguramente auxiliaram na consecução das análises realizadas. Ciente de que todo o conhecimento gerado a partir da investigação não se consagrará como verdade absoluta, infalível ou definitiva, coube a esta pesquisadora primar pela compreensão de tudo o que buscou investigar, ainda que a explicação dos fenômenos, dados e informações levantados não seja um princípio ou a primazia do método qualitativo. De acordo com Alves-Mazzotti e Gewandsznajder, F. (1998, p. 170) Pesquisas qualitativas tipicamente geram um enorme volume de dados que precisam ser organizados e compreendidos. Isto se faz através de um 9 Apêndice II 25 processo continuado em que se procura identificar dimensões, categorias, tendências, padrões, relações, desvendando-lhes o significado. Este é um processo complexo, não linear, que implica um trabalho [...] que se inicia já na fase exploratória e acompanha toda a investigação. À medida que os dados vão sendo coletados, o pesquisador vai [...] construindo interpretações e gerando novas questões e/ou aperfeiçoando as anteriores, o que, por sua vez, leva a buscar novos dados, complementares ou mais específicos, que testem suas interpretações [...]. Assim, considerando o caráter descritivo da pesquisa e a utilização de método indutivo, característico da pesquisa qualitativa, a investigação não envolveu uma coleta de dados voltada à comprovação de teorias, mas adotou procedimentos interpretativos e exploratórios para uma melhor compreensão do tema apresentado. Buscou-se estruturar uma investigação maior dos significados que cercam os erros e acertos, limites e possibilidades do trabalho social no desenvolvimento urbano. Como o contexto da pesquisa está diretamente relacionado com a área de atuação profissional da pesquisadora, que, por conseguinte, já indaga, apreende, pressupõe, se inquieta e muitas vezes constata algumas dimensões da análise no seu fazer cotidiano de trabalho, é possível afirmar que, apesar das dificuldades inerentes a esse tipo de pesquisa, essa análise foi desenvolvida durante toda a investigação por “teorizações progressivas em processo interativo com a coleta de dados” (ALVESMAZZOTI A.J; GEWANDSZNAJDER, F. , 1998, p.171), em decurso contínuo e permanente de reflexão para a compreensão. O conteúdo que se apresenta aqui está estruturado em três capítulos, cada um desenvolvido no formato de artigo, conforme determinação do colegiado do programa de Pós de Graduação em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local do Centro Universitário UNA. O primeiro consiste do referencial teórico para a inserção e discussão dos conceitos de território, governança e governabilidade, gestão social, e desenvolvimento local; todos inerentes e essenciais à compreensão do objeto da pesquisa e aprofundamento do tema. Pela perspectiva educadora existente no trabalho social, ainda no primeiro capítulo faz-se uma aproximação da práxis do trabalho social como processo de gestão coletiva com a perspectiva da educação como ação política e transformadora proposta por Paulo Freire. O capítulo apresenta também uma aproximação do trabalho social 26 com as metodologias de intervenção social e de gerenciamento de projetos indagando sobre os limites e potencialidades do trabalho social como instrumento de mediação entre aquilo que está prescrito nas normativas dos programas de habitação de interesse social e o que efetivamente se materializa ou se espera materializar na prática. Para contextualização dessa abordagem, por pertinência, percebeu-se necessário introduzir algumas informações sobre o MCidades e a Política Nacional de Habitação trazendo com tema central o trabalho O segundo capítulo discute mais especificamente no trabalho social nos programas de Habitação de Interesse Social e apresenta os relatos da pesquisa e procedimentos adotados na coleta de dados. A análise das informações obtidas a partir do questionário aplicado junto a profissionais do trabalho social, estruturado com questões, abertas, fechadas e mistas, descortinou, portanto, a prática desses profissionais nas intervenções de habitação de interesse social, suas percepções, experiências e dificuldades. As informações levantadas e apresentadas nesse capítulo embasam um debate em torno das potencialidades e deficiências do trabalho social e permitem elucidar algumas ações que, desejáveis, levariam a uma maior efetividade do trabalho social a partir de metodologias de intervenção social e de gerenciamento de projetos adequadas à natureza das intervenções em questão. O mais importante a considerar é que as percepções e discussões trazidas nesse capítulo abrem caminho para novas pesquisas e indagações que possam contribuir na consolidação do trabalho social como um importante instrumento a ser colocado a serviço do desenvolvimento socioterritorial. O terceiro capítulo, resgatando parte do referencial teórico, traz uma síntese conclusiva da pesquisa, abre caminho para novas pesquisas e indagações e nos leva, na sequência, às considerações finais construindo assim uma reflexão acerca dos limites e possibilidades do trabalho social. O capítulo encerra com a apresentação do produto técnico constituído por um guia de orientações metodológicas e de gerenciamento de projetos aplicável não só aos programas de provisão habitacional para populações de baixa renda, mas a outras intervenções sociais com foco no desenvolvimento, o qual tem por objetivo reunir em um só instrumento algumas 27 orientações técnicas para a proposição e execução de projetos sociais na intenção de facilitar o trabalho dos profissionais da área social. Espera-se, portanto, que a aplicação do produto técnico não se restrinja apenas ao universo do recorte desta pesquisa, mas estenda-se como orientação metodológica a intervenções sociais de outras naturezas. 28 CAPÍTULO 1 HABITAÇÃO DE INTERESSE SOCIAL: o trabalho social como possibilidade de gestão social MITRE, Maristela Jorge1 ARAÚJO, Wânia Maria de2 RESUMO A presente análise é parte integrante da dissertação de mestrado em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local, realizado pelo Programa de Pós-Graduação do Centro Universitário UNA, e busca contribuir para o debate em torno da temática urbana e das metodologias de intervenção social nos programas voltados ao desenvolvimento socioterritorial, entre eles os de provisão habitacional. As abordagens e reflexões aqui trazidas serão desenvolvidas de forma a inserir o leitor no contexto da Política Nacional de Habitação de Interesse Social instituída pelo Ministério das Cidades, com recorte no Programa Minha Casa Minha Vida, e do Trabalho Social como parte integrante e essencial para a consecução de suas premissas. Pela pertinência em relação ao tema, conceitos como território, gestão social, participação governança e governabilidade e práxis social amarram a discussão que está referenciada, entre outros, em Santos (2010); Koga (2011); Putnam (2006); Maia (2005); Gohn (2004); Tenório (2005); Maricato (2011); Rolnik (2000; 2002); Carlos ( 2012 ); Carvalho (2014) e Paugam (2003). O referencial teórico incorpora ainda, nesse primeiro capítulo da dissertação, uma discussão em torno das dificuldades e potencialidades do trabalho social na promoção da participação e do desenvolvimento sócio territorial. Por tratar-se de pesquisa social com particularidades não quantificáveis toda discussão e análise levou em consideração a ação dinâmica e relacional dos sujeitos sob regência do método dialético. Para discussão do conteúdo deste artigo realizou-se revisão bibliográfica em torno dos conceitos e temas pertinentes e relativos ao trabalho social. Palavras-chave: Trabalho Social; Habitação de Interesse Social. Gestão Social. Território. Desenvolvimento Urbano. Projeto Social. ABSTRACT The present analysis is part of a Master course dissertation in Social Management, Education, and Local Development, carried out by the Post-graduation Program of UNA University Centre, and aims to contribute to the debate around the urban issue 29 and the social intervention methodologies in the programs regarding the socialterritorial development, among them the ones of housing provision. The approaches and thoughts brought here will be developed in a way which will insert the reader in the context of the Social Interest National Housing Policy by the Cities Ministry, focusing on the Program “Minha Casa Minha Vida” (My House My Life), and the Social Work as a component and essential part for the success of their premisses. For the pertinence related to the theme, concepts as territory, social management, governance and governability participation, and social práxis tie the discussion which is referenced, among others, in Milton Santos (2010); Dirce koga (2011); Putnam (2006); Maia (2005); Gohn (2004); Tenório (2005); Ermínia Maricato (2011); Carvalho (2014) e Paugam (2003). The theoretical referencial also incorporates, in this first chapter of the dissertation, a discussion around the difficulties and potentialities of social work in the promotion of participation and the social-territorial development. Being a social research with non-quantifiable particularities, all discussion and analysis, took into consideration the dynamic and the relational action of the subjects under the rules of the dialectic method. The data which served as baseline were taken from a questionnaire containing open and closed questions, applied with professionals from social work and through literature review and documentary research whose results and analysis are described in the chapter 2 of this dissertation. For further discussion of the paper's content, a literature review about the concepts and pertinent themes related to social work was carried out Key-words: Social Work; Social Housing Interest. Social Management. Territory. Urban Development. Social Project. 30 1 INTRODUÇÃO O processo de produção e reprodução das cidades no Brasil vem desde sempre reforçando as condições de vulnerabilidade 10 , exclusão social e segregação socioespacial colocando a situação de pobreza num patamar que não apenas está sustentado pela questão da renda, mas pela “impossibilidade de usufruir de bens e serviços da sociedade e pela falta de acessos à cidade e a espaços de participação e ao poder” (PAZ; TABOADA, 2006, p.2). De acordo com Rolnik (2000, p. 12) O quadro de contraposição entre uma minoria qualificada e uma maioria com condições urbanísticas precárias relaciona-se a todas as formas de injustiça social. Essa situação de exclusão é muito mais do que a expressão da desigualdade de renda e das desigualdades sociais: ela é agente de reprodução dessa desigualdade. Em uma cidade dividida entre a porção legal, rica e com infraestrutura e a ilegal, pobre e precária, a população que está em situação desfavorável acaba tendo muito pouco acesso a oportunidades de trabalho, cultura ou lazer. Simetricamente, as oportunidades de crescimento circulam nos meios daqueles que já vivem melhor, pois a sobreposição das diversas dimensões da exclusão incidindo sobre a mesma população fazem com que a permeabilidade entre as duas partes seja cada vez menor. Essa relação tão perversa provoca tensões entre as classes que por um lado, detentoras de condições de mobilidade e de apropriação econômica e social do espaço, se cercam de meios e aparatos de segurança, e outros, destituídos, acabam por ser relegadas ao que lhes sobra do espaço urbano, espalhando pela cidade fenômenos como o da gentrificação que Hirata ( 2010 ) qualifica como “a substituição de antigos moradores por outros de faixas mais altas de renda, que acompanha a verticalização das construções” (HIRATA, 2010, p.67). Guerra (2002) afirma que esse fenômeno da gentrificação e da “polarização social crescente nas cidades” (GUERRA, 2002, p.108), além de obstaculizar as possibilidades de acesso ao mercado de trabalho e consequetemente à “mobilidade social ou profissional [...], traduzindo-se assim, em segregação residencial, cultural e 10 Sobre os conceitos de vulnerabilidade e pobreza ver Kowarick (2002); Cunha (2006); Paugam (2003) 31 simbólica” 11 ( GUERRA, 2002, p.108 ), vem associado ao conceito de “relegação urbana” ( GUERRA, 2002, p. 109-110 ) que Guerra diz traduzir-se [...] pela degradação das relações sociais e das identidades colectivas. Esses espaços relegados 12 caracterizam-se por uma distância relativa face ao centro, o que acarreta para os seus habitantes uma constante «pendularidade casa-trabalho»,por outro lado, são espaços geralmente marcados por uma certa «desertificação cultural» e distantes da qualidade de vida que caracteriza o centro urbano13 ( GUERRA, 2002, p. 109-110 ). Constituir espaços de vocalização e participação, criar condições de articulação de políticas públicas, inovar em termos da capacidade de intervir na realidade, criar mecanismos de governança e governabilidade investindo no desenvolvimento institucional, na intersetorialidade e no fortalecimento das entidades representativas e movimentos sociais constitui-se assim no arranjo minimamente competente para o enfrentamento e mitigação das desigualdades sociais e de uso e apropriação do espaço urbano que deve ser conjugado com a complementaridade das políticas. Leva-se em consideração que a universalização das políticas públicas, a efetividade de programas e ações, o bom uso dos espaços que constituem as cidades, a valorização da cultura, pressupõem não somente o enfrentamento da ditadura do mercado e o conflito de interesses, mas também, e tanto pela sua interligação, a necessidade do desenvolvimento institucional dos governos municipais, responsáveis na ponta pela operacionalização desses programas, políticas e ações, e a superação do patrimonialismo, o clientelismo e a cultura da exceção e do favorecimento que se perpetuam nas relações. Acredita-se que, a partir da relação dialética da gestão social com a governabilidade, que requer, provoca e é em si empoderamento e participação, abre-se espaço para uma repactuação social por meio da qual os cidadãos possam creditar a si a capacidade de transformar o caráter relacional, instrumental e burocrático presente na forma de gerir e implementar as políticas públicas fazendo-se seus destinatários 11 Guerra ( 2002 ) cita Christ Hamnett tece importantes considerações, “La polarisation sociale: déconstruction d’un concept chaotique?”, in Albert Martens e Monique Vervaeke (coords.), La Polarisation Sociale des Villes Européenes, Paris, Anthropos, 1997, pp. 111-123 para a busca de maior profundidade sobre esta questão 12 Cf. Jean Labbens, “Le quart monde des cités d’urgence”, in Serge Paugam, (dir.), L’Exclusion, l’État des Savoirs, pp. 228-236 ( apud GUERRA, 2002 ). 13 Expressões de Isabel Guerra, “Viver na periferia”, in Sociedade e Território, n. 18, 1993 (apud GUERRA, 2002). 32 naturais por direito em lugar da benesse que até agora só vem escamoteando o traço “hierárquico-autoritário” presente nas concessões ( KOGA, 2011, p. 44). Pelo exposto, considerando o contexto da discussão, apreende-se que a essência dos programas de provisão habitacional no recorte da habitação de interesse social necessita estar emoldurada no que Rolnik (2002) chama de “política urbana contra a exclusão”, consolidando a premissa de que habitar vai muito além de ocupar um espaço físico sob o solo. O habitar carrega em si o sentido da cultura, da interação, do convívio, das relações sociais que se estabelecem no território enquanto lugar social dotado de complexidade e multiplicidade e do exercício da cidadania, mas também exige que esses lugares representem as centralidades necessárias ao existir de qualquer cidadão. O trabalho social de que tratamos nesse estudo traz em si um potencial agregador de todas essas forças e elementos para imprimir complementaridade aos programas e ações partindo do princípio de que não se poder atribuir exclusivamente às políticas e aos governos a capacidade de minimizar os efeitos históricos da exclusão socioterritorial. Entende-se que a intersetorialidade, a participação e a mobilização social têm um papel complementar que o trabalho social é capaz de orquestrar. Segundo Carvalho (2014, p.7), [...] o trabalho social é a mediação necessária a toda política pública que se comprometa com a busca da equidade e enfrentamento das gritantes desigualdades sociais, mas também envolve uma reflexão sobre a gestão social com seus novos arranjos e especificidades próprios à condução da política pública em sociedades que são cada vez mais complexas. Este artigo, portanto, resultante de pesquisa realizada no Mestrado Profissional do Programa de Pós-Graduação em Gestão Social Educação e Desenvolvimento Local do Centro Universitário UNA pretende provocar a continuidade desse debate trazendo à luz uma discussão em torno do trabalho social14 concebido como um conjunto de 14 “[...] conjunto de estratégias, processos e ações, realizado a partir de estudos diagnósticos integrados e participativos [...] compreendendo as dimensões: social, econômica, produtiva, ambiental e políticoinstitucional do território” ( BRASIL, 2014 ) estruturado em projeto, cronograma e composição de custos específicos e realizados por profissionais com formação e experiência requerida, a ser implementado 33 estratégias que se voltam à informação, participação e mobilização social e desenvolvimento socioterritorial realizadas junto a famílias beneficiárias dos programas habitacionais da Política Nacional de Habitação ( PNH ) do Governo Federal instituída pelo Sistema Nacional de Habitação de Interesse Social ( SNHIS ) operacionalizado pelo Ministério das Cidades ( MCidades ). Portanto, o teorema que norteia a pesquisa estrutura-se em torno dos limites e possibilidades desse trabalho social enquanto potencial instrumento de mediação entre as premissas dos programas de habitação de interesse social, e do próprio trabalho social, e o que efetivamente se materializa nos empreendimentos produto das intervenções. Entretanto, abstrai-se que o simples fato de estar normatizado e ser parte integrante dos programas de provisão habitacional não garante ao trabalho social sua concretude. Antes é preciso vencer todo arcabouço de dificuldades que enfrenta para a consecução de suas premissas e objetivos entre as quais enumera-se a falta de governança e governabilidade, ausência de espaços de vocalização, falta de inovação metodológica nas intervenções sociais combinada com assistencialismo e patrimonialismo e a frequência com que os projetos se apresentam precários e incompatíveis com o porte da intervenção, com a realidade dinâmica e relacional como campo de ação, com o perfil das famílias envolvidas e características socioterritoriais, a falta de reconhecimento de sua importância, desinteresse dos beneficiários em constituir-se parte, e, sobretudo, pela instabilidade administrativa frente à transitoriedade dos governos e ausência de intersetorialidade. O trabalho social de que tratamos é sistematizado por meio de instrumentos de execução estruturados a partir de quatro eixos temáticos estabelecidos pela Portaria 21/2014 do Ministério das Cidades, quais sejam: Mobilização, Organização e fortalecimento Social; Acompanhamento e Gestão da Intervenção; Educação ambiental e Patrimonial e Desenvolvimento Socioeconômico (BRASIL, 2014). junto ao público alvo dos programas geridos pelo Ministério das Cidades, contextualizado aqui nos programas de habitação de interesse social. 34 Para debater sobre o assunto, fez-se essencial buscar um referencial teórico que anunciasse conceitos como território, cidadania, governança e governabilidade, práxis social, civismo e gestão social, todos imprescindíveis à compreensão do objeto da pesquisa. Uma abordagem sobre o processo de constituição e implementação do SNHIS, da PNH e do Programa Minha Casa Minha Vida como a principal bandeira da política, abre o contexto do trabalho social como tema central da discussão. 1.1 A Política Nacional de Habitação de Interesse Social A criação do Ministério das Cidades ( MCidades ) no primeiro mandato do governo Lula, em 2003, representou para o país a institucionalização da política urbana e das políticas setoriais de habitação e saneamento. Com a alçada de promover o desenvolvimento urbano, o MCidades incorpora em suas ações a política de subsídio15 à habitação popular e o compromisso de promover a articulação com as diversas esferas de governo, com o setor privado e organizações não governamentais na gestão das áreas de sua competência (BRASIL, 2010, p.28-29 ). Para promover essa articulação e a mobilização para a discussão da questão urbana no Brasil, o MCidades realizou, em parceria com a sociedade civil organizada, as conferências municipais das cidades e, em outubro de 2003, foi realizada a Conferência Nacional das Cidades, que, além de definir as diretrizes para a nova Política Nacional de Desenvolvimento Urbano (PNHU) e seus componentes setoriais, elegeu o Conselho das Cidades (ConCidades), como instância de discussão das questões relativas às cidades brasileiras (BRASIL, 2004). Por intermédio da Lei 11.124, de 16 de Junho de 2005, e com o objetivo de se consolidar a Política Nacional de Habitação (PNH), o MCidades instituiu o Fundo Nacional de Habitação de Interesse Social (FNHIS) e o Sistema Nacional de Habitação de Interesse Social (SNHIS), regido pelo princípio constitucional da moradia como direito e vetor de inclusão social e garantia de acesso à terra urbanizada e ao 15 Os subsídios, em caráter único e no formato de desconto aplicado às prestações, são concedidos às famílias, de forma pessoal e intransferível, e não ao imóvel. Tem o propósito de compatibilizar o custo de aquisição do imóvel à capacidade de renda da população mais pobre ( BRASIL, 2004). 35 pleno desenvolvimento da função social da cidade e da propriedade. Priorizar o atendimento habitacional para a população de menor renda é uma das diretrizes do SNHIS. Para enaltecer a força e a importância da mobilização social e da participação, que integram o objeto da presente discussão, cumpre ressaltar que, desde a década de 1990, já havia uma proposta de política habitacional elaborada pelos movimentos sociais e que deu origem ao FNHIS, o qual foi aprovado para atender às pressões que na época resultaram em um projeto de lei de iniciativa popular entregue ao Congresso Nacional naquele ano contendo mais de um milhão de assinaturas ( MARICATO, 2011). Entre 2007 e 2008, como um desfecho das ações e desdobramento da PNH, o MCidades preparou o Plano Nacional de Habitação (PlanHab), elaborado a partir de estudos técnicos e consultoria contratada, levando em consideração o perfil do déficit habitacional brasileiro, a demanda por moradia e a diversidade do território nacional. O PlanHab foi objeto de amplo debate e pactuação com os diversos segmentos da sociedade caracterizando-se, simultaneamente, como um plano estratégico de longo prazo e ferramenta de planejamento das ações públicas e privadas de enfrentamento das necessidades habitacionais do país ( BONDUKI; ROSSETTO; GHILARDI, 2006). Garantir que os recursos públicos para moradia sejam destinados exclusivamente para subsidiar a população de mais baixa renda compõe o objetivo principal do SNHIS que estabelece também que o acesso à moradia seja assegurado por meio do FNHIS de forma articulada entre as três esferas de Governo. O SNHIS constitui-se de um sistema concebido para ser democrático e participativo e sustenta um modelo descentralizado de gestão que convoca os entes federados a uma corresponsabilidade na implementação da política de habitação de interesse social. A gestão e o controle dos recursos do FNHIS são feitos pelo Conselho Gestor do FNHIS (CGFNHIS). Uma nova sistemática de acesso aos recursos do Orçamento Geral da União (OGU) e do FNHIS foi instituída a partir da criação do SNHIS e a obtenção dos recursos passou então a depender da adesão formal dos entes federados ao sistema e do 36 cumprimento das atribuições firmadas em termo específico. Essa adesão constitui-se em mecanismo que fundamenta a relação de parceria e integração da União com os Estados, Distrito Federal e Municípios para viabilizar a descentralização das ações inerentes à PNH, cuja estrutura configura uma interinstitucionalidade que teria sido concebida para potencializar ações e recursos e compartilhar os compromissos advindos das políticas públicas relativas ao desenvolvimento urbano tanto entre as instâncias federativas quanto com a sociedade. O Termo de Adesão assinado pelos Entes Federados estabelece os padrões de reciprocidade e contrapartidas atribuídos às partes e inclui a obrigatoriedade de constituição de Conselho e Fundo Local de Habitação de Interesse Social pelos estados, Distrito Federal e Municípios e o compromisso de elaborarem, de forma participativa, seus próprios Planos Locais de Habitação de Interesse Social para terem acesso aos recursos do OGU e FNHIS (BRASIL, 2005). Como ferramenta de planejamento, o PlanHab apresenta propostas operacionais que devem ser implementadas no curto, médio e longo prazos de forma articulada com os Planos Plurianuais (PPAs) e como plano estratégico define metas a serem alcançadas até o ano de 2023 com revisões a cada quatro anos e avaliação de resultados e análise de novos cenários e projeções (BRASIL, 2010). Por sua essência estratégica, envolvendo diagnósticos, prognósticos, prospecção e planejamento, tal sistemática requer o um engajamento da sociedade, principal interessada e alvo das ações e, consequentemente, a consolidação e efetividade das instâncias de participação, que devem ser permanentes, para que as demandas e ajustes necessários sejam incluídos nas agendas e nas metas estabelecidas. Tanto a PNH quanto o PlanHab foram resultantes de processos participativos envolvendo os diversos segmentos da sociedade civil. Movimentos populares, empresários, organizações não governamentais (ONGs), setor acadêmico, entidades de classe, e poder público municipal e estadual foram mobilizados em torno das discussões para construção do cenário habitacional brasileiro e proposição de um plano que pudesse desenhar as formas de atendimento às demandas identificadas e inspirar os governos municipais e estaduais na elaboração dos seus próprios planos. 37 A PNH divide-se em Sistema Nacional de Habitação de Interesse Social (SNHIS), voltado à população com renda entre 0 e 5 salários mínimos, e o Sistema de Habitação de Mercado, que atende principalmente às classes de renda entre 5 e 10 salários mínimos ( BRASIL, 2011). A presente discussão está centrada no SNHIS. 1.1.1 Sistema Nacional de Habitação de Interesse Social – SNHIS Os Programas do SNHIS utilizam recursos originários do Fundo de Garantia por Tempo de Serviços (FGTS), Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), Fundo de Desenvolvimento Social (FDS), Orçamento Geral da União (OGU), Fundo de Arrendamento Residencial (FAR) e Fundo Nacional de Habitação de Interesse Social (FNHIS) ( BRASIL, 2011). Os benefícios e subsídios concedidos a partir destes recursos são inversamente proporcionais à capacidade de pagamento da família beneficiária, assim, as prestações habitacionais são tanto menores quanto menor a renda familiar caracterizando uma sistemática mais redistributiva e menos assistencialista uma vez que o beneficiário é alçado à condição de participante e corresponsável na provisão de sua moradia. Uma sistemática que supera os modelos anteriores no sentido de substituir procedimentos paternalistas de cessões de uso e doações por uma forma concebida para propiciar, ainda que de maneira simbólica, a participação financeira do beneficiário na produção e aquisição de seu imóvel residencial e o retorno financeiro aos cofres públicos na forma de prestações subsidiadas pelo governo federal. Para ter acesso aos recursos do FNHIS, estados e municípios devem atender a três exigências regulamentares: ter firmado Termo de Adesão ao SNHIS; ter instituído o Fundo Local de Habitação de Interesse Social com dotação orçamentária própria de sua instância governamental; ter constituído seus conselhos estaduais e municipais de habitação, respectivamente, garantindo ¼ dos assentos aos representantes dos movimentos sociais, e ter elaborado, de forma participativa, seus Planos Municipais de Habitação de Interesse Social ( BRASIL. Lei nº 11.124, 2005, Art.12 ). Ou seja, um modelo de governança e um arranjo institucional que reproduz em âmbito municipal e estadual um arcabouço criado no âmbito Federal para a gestão dos recursos e da própria política e que representa um pacto firmado com as respectivas instâncias governamentais. 38 Os Conselhos Municipais de Habitação, apesar de terem sido constituídos de forma compulsória, por exigência do SNHIS, para que os municípios pudessem fazer jus aos recursos do FNHIS, foram concebidos para garantir integração com a sociedade e deveriam, com ela, debater e aprovar as políticas, definir prioridades e critérios de elegibilidade, seleção e enquadramento dos programas, das famílias e das áreas na aplicação dos recursos financeiros originários da União, estados e municípios. Juntos, SNHIS, FNHIS, ConCidades e conselhos municipais constituem uma estrutura criada para dar ancoragem à política nacional de habitação no Brasil ( BRASIL,2012.) e favorecer o planejamento das ações de urbanização, regularização e integração de assentamentos precários e provisão habitacional. Tal sistemática veio propor a efetivação de um novo paradigma na formulação e implementação de políticas públicas baseado na criação de canais legítimos de interlocução voltados à promoção de uma maior transparência e corresponsabilidade dos entes federados e da sociedade civil no atendimento às demandas setoriais de habitação, saneamento ambiental, infraestrutura, mobilidade e transporte coletivo, equipamentos públicos e serviços, integrando a Política de habitação ao conceito de desenvolvimento urbano integrado. Desde a extinção do Banco Nacional da Habitação (BNH), em 1986, nenhum outro mecanismo institucional de gestão que pudesse dar conta da enorme demanda habitacional instalada havia sido implementado no país. Uma carência de políticas, programas e ações que negligenciou ao longo dos anos os preceitos constitucionais que consideram a habitação como direito do cidadão e a participação social como um princípio da gestão democrática expresso no Artigo 1º da Constituição Federal e previsto no Estatuto das Cidades, Lei 10.257/2001, em seu Artigo 43, Capítulo IV. A PNH e o PLANHAB representam, portanto, um marco histórico, primeiramente por terem o propósito de suprir o vazio deixado pelo BNH, segundo por constituir-se num grande aparato voltado à consolidação de ações e alocação de recursos, envolvendo as três esferas de governo e a iniciativa privada que encerra um modelo de governança pública jamais visto; e terceiro por prescrever a participação popular no 39 planejamento de ações contínuas e integradas, com metas de longo prazo e revisões periódicas. Ainda assim não se pode deixar de mencionar que a política habitacional, tanto aquela adotada pelo BNH, quanto a que está vigente trazendo um arcabouço de gestão compartilhada, privilegia o modelo capitalista de produção, promovendo empresas ligadas ao financiamento, produção e venda de moradias (MARICATO, 1987 apud HIRATA, F. 2009 )16 e definindo a localização dos empreendimentos. Por outro lado, a amplitude e complexidade do PMCMV, concebido como a bandeira da PNH, passou a exigir do gestor público local um papel de articulador e parceiro essencial do Governo Federal, cabendo-lhe promover a interlocução entre os diversos atores, a seleção das famílias beneficiárias e a implementação do trabalho social junto ao público atendido. Esse talvez seja o grande diferencial trazido pela PNH que levou os municípios a terem que assumir um protagonismo e uma corresponsabilidade na aplicação dos recursos destinados à implementação do programa que, a princípio, viabilizaria a participação e o controle social. Entretanto, apesar dos avanços na construção de políticas voltadas ao desenvolvimento urbano e de todos os dispositivos de governança e governabilidade 17 previstos no SNHIS, “a implementação das políticas e do processo de participação ainda está muito aquém dos anseios e apostas feitas pelos movimentos de moradia e de reforma urbana” ( FERREIRA, 2012, p.9 ). Como nas palavras de Ferreira ( 2012, p.9), O principal programa habitacional do atual governo, o Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV), por exemplo, sequer foi discutido no Conselho das Cidades antes do seu lançamento, em 2009. Teve como objetivo principal reaquecer o mercado imobiliário no Brasil – respondendo à crise mundial de 2008 – financiando diretamente empresas e construtoras para a construção para as classes de faixa de renda de 0 até 10 salários mínimos. É um programa dos governos Lula e Dilma que responde a uma demanda do empresariado da construção civil, desconsiderando o papel que os governos municipais e estaduais podem (e devem) ter na formulação e implementação de uma política habitacional mais ampla, que inclua produção de novas 16 MARICATO,E. Política Habitacional no Regime Militar. Petrópolis:Vozes, 1987. Governabilidade referindo-se “as condições sistêmicas sob as quais se dá o exercício do poder, centrando-se, sobretudo, no processo de tomada de decisões; e governança compreendida como a capacidade de tomar e executar decisões, garantindo sua continuidade no tempo (...)” (Diniz, E. Crise, reforma do Estado e Governabilidade: Brasil, 1985-95. Rj. FGV, 2000, apud CARVALHO, 2014, p. 51). 17 40 moradias, estoque de terras, urbanização, regularização fundiária e planejamento urbano ( FERREIRA, 2012, p.9 ). Enquanto programa de habitação de interesse social, o PMCMV busca atender à demanda habitacional do público formado por famílias com renda de até R$5.000,00, priorizando inicialmente aquelas com renda de até R$1.600,00 em um leque de estratégias para favorecer o acesso à moradia por meio de subsídio do Estado associado ou não à concessão de crédito. Os recursos para o programa foram divididos pelas regiões do país de acordo com o déficit habitacional de cada uma delas e conforme regulamentação específica para municípios com população acima de 50 mil habitantes e entre 20 mil e 50 mil habitantes ( BRASIL. Lei 11.977, 2009 ). Cabe ressaltar que o mecanismo de priorização de regiões de acordo com seu número de habitantes presente no programa não caracteriza uma política redistributiva e de universalização e não leva em consideração a “expressão territorial das desigualdades” (KOGA, 2011, p. 24) assumindo, portanto, um caráter apenas paliativo “de minorar as agudizações e não de universalizar um padrão de cidadania” (KOGA, 2011, p. 25) e caracterizando o direito como mérito. Para Koga, neste caso, a orientação que é tomada como parâmetro para uma ação é a busca em localizar a agudização de situações e não as restrições à cidadania e à justiça social. A precariedade de condições de vida espalha-se no Brasil e está presente em todas as cidades [...]. Selecionar os municípios restringe direitos dos cidadãos ( KOGA, 2011, p. 25 ). A elegibilidade das famílias no público alvo do programa é definida pela Portaria 595/2013, do MCidades e o controle, verificação, organização e seleção da demanda são feitos por meio do CADÚNICO 18 , cujas informações são utilizadas durante o processo de seleção das famílias19 para o levantamento de todos os integrantes do 18 CADÚNICO, ou Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal, é um instrumento coordenado pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à fome (MDS) que identifica e caracteriza as famílias de baixa renda. Utilizado como base de informação e dados para obtenção de diagnóstico e seleção de beneficiários nos programas, incluindo o PMCMV ( BRASIL, 2010), o CADÚNICO funciona também como ferramenta de controle uma vez que nele ficam registrados os nomes dos beneficiários contemplados nos programas habitacionais do Governo Federal. 19 O MCidades estabeleceu três critérios nacionais para enquadramento de beneficiários no PMCMV: Mulheres chefes de família, famílias residentes em áreas de risco e famílias que tenham em sua composição idosos e portadores de necessidades especiais. As entidades proponentes devem constituir outros três critérios locais que, 41 grupo familiar ( BRASIL, 2010 ). O CADMUT, Cadastro de Mutuários, de abrangência nacional, é utilizado para verificar o impeditivo da existência de financiamentos habitacionais ativos ou inativos ou a titularidade de imóvel em nome dos proponentes. Os subsídios do PMCMV são intransferíveis, válidos apenas para famílias que não possuam outro imóvel em qualquer parte do território nacional. Sendo de ordem pessoal, esses subsídios são concedidos uma única vez e, tendo recebido o subsídio, o beneficiário contemplado não se beneficia novamente com recursos de mesma natureza constituindo assim um mecanismo colocado a serviço da gestão do déficit habitacional do país. O que ocorre, entretanto, é que muitos beneficiários ao receberem o imóvel não o destinam à sua própria moradia, seja pela localização dos empreendimentos, sempre distante e precária, seja por não quererem abrir mão dos vínculos estabelecidos em seus locais de origem. Muitos desses beneficiários, ainda no processo de inscrição, já possuindo seu próprio imóvel, agem como “pequenos capitalistas” vendo no programa a chance de promover sua “reserva patrimonial”. Dentre as várias situações que denotam essa questão, observa-se casos em que os beneficiários ou mantêm o imóvel vazio, desocupado, sujeito a invasões e depreciação, ou vendem, alugam ou até mesmo cedem a terceiros e continuam morando em áreas de risco ou em situação de vulnerabilidade social preterindo outras famílias que efetivamente necessitam da moradia. Há também situações, em que esses próprios beneficiários se recolocam nos cadastros da assistência social do município para obtenção de novo imóvel. Tais comportamentos afetam diretamente a gestão do déficit habitacional no país. Cabe aqui uma digressão para lembrar que o programa é voltado à população de menor renda, mas o indivíduo ou a família 20, para ser contemplada, deve atender também a outros requisitos além da renda, inclusive não ter outro imóvel residencial junto com os critérios nacionais, comporão o conjunto de critérios para seleção e hierarquização das famílias beneficiárias ( BRASIL, Lei 11.124/2005) A regulamentação da PNH classifica a população destinatária do PMCMV como “beneficiários”. Seria interessante discutir a pertinência de tal nomeação, mas, de certa forma, teríamos que desviar o foco dessa discussão. Entretanto, faz-se oportuno ressaltar a carga de estigma que a nomenclatura pode carregar uma vez que define um “status social” vinculado a uma condição de desfavorecimento na estrutura econômica e social. Paugam (2003) aborda a questão da “concessão de assistência” e as rotulagens ( pobre, assistido”, fragilizado ) dela decorrentes. 20 42 financiado em seu nome em qualquer parte do país ou quitado no município no qual está se inscrevendo ao programa. Os beneficiários passam por processo de inscrição e seleção a partir de diagnóstico socioeconômico realizado pelo poder público e essa população indicada ao PMCMV, Faixa I, compõe um grupo social composto por muitas pessoas em situação de vulnerabilidade social que pode ser comparada à condição de pobreza. A questão é que a pobreza21 tem um caráter relativo, e, apesar de não ser fulcro dessa discussão, é importante ressaltar que podendo ser concebida, nesse caso, como uma condição social composta por um “conjunto de pessoas cujo status social é definido por instituições especializadas de ação social que assim a designam [...] e para quem a legislação reconhece o direito de auxílio ou de assistência” (PAUGAM, 2003, p.55), manifesta-se aí uma certa fragilidade ao processo de seleção e enquadramento dos possíveis destinatários das ações, podendo resultar naquela situação acima exposta. Assim, é preciso verificar “o sentido que os indivíduos atribuem às suas experiências vividas” (PAUGAM, 2003, p.60 ) e questionar acerca da relação22 que se estabelece entre os “beneficiários” e a instituição concessora e/ou os assistentes sociais que se colocam na linha de frente dos diagnósticos. E aí, dado o caráter jurídico vinculado ao direito ao benefício (PAUGAM, 2003 ) é possível que a população alvo se coloque na condição de destinatário intrínseco ou que se estabeleça com aqueles profissionais uma relação de dependência ( que pode ou não ser mútua ). Após essa breve digressão acrescenta-se que os beneficiários de programas habitacionais que agem daquela maneira, aceitando o rótulo, ou até mesmo coadunando com o processo de rotulagem instituído, arriscam-se a permanecer na condição de desfavorecidos que o próprio rótulo lhes confere, e de destituídos, pois o agente financeiro, em cumprimento às determinações legais e contratuais deve, nesses casos, promover a reintegração de posse do imóvel para que este possa ser destinado a outra família. Aquele beneficiário que deu outra destinação ao imóvel que não a de sua própria moradia, num programa de subsídio habitacional que é de 21 Ver em Serge Paugam. A Desqualificação social: ensaio sobre a nova pobreza. 2003. Paugam (2003 ) faz um breve debate sobre essa questão com Jeanine Verdès-Leroux (J.Verdès-Leroux, Le Travail social, 1978). 22 43 interesse social, se verá impossibilitado de se beneficiar novamente com programas de mesma natureza dado o caráter único do subsídio instituído para programas de HIS. Apesar dos pontos críticos ressaltados, é possível afirmar que o PMCMV inova ao articular mecanismos de transferências de recursos não onerosos, de diferentes fontes (na forma de transferência de renda, como subsídio à família, e não ao imóvel), priorizando o atendimento à parcela da população de baixa renda e à classe média ( BRASIL, 2010 ). Por outro lado padece por não incorporar os instrumentos de gestão urbana23 previstos no Estatuto das Cidades, em especial no que tange ao combate à segregação socioespacial, tornando frágil seu alcance social. E é importante ressaltar que à medida que o programa incorpora uma sistemática de subsídio único e intransferível, é preciso que sejam feitos diagnósticos despidos de assistencialismo e imunes ao patrimonialismo e, já no processo de seleção de beneficiários, sejam adotadas metodologias adequadas que privilegiem a informação e a conscientização sobre a natureza do programa e a origem dos recursos, buscando favorecer mais a justiça social e a gestão do déficit habitacional qualitativo e quantitativo existente. Um outro ponto que merece destaque reside no fato de que o modelo de subsídio único e intransferível adotado no PMCMV exige do aparelho estatal a adoção de mecanismos de controle integrados para a sistematização dos dados e eficiência na gestão das informações. Uma eficiência que a máquina estatal já demonstrou ainda não possuir24 e que se confirma nas várias matérias publicadas nos grandes veículos de comunicação informando sobre os empreendimentos do Programa Minha Casa 23 De acordo com a Constituição Federal o principal instrumento da política de desenvolvimento e expansão urbana devem ser os Planos Diretores. O Estatuto da Cidade, Lei no 10.257/2001, “dedica grande parte de seu conteúdo aos instrumentos para a promoção da política urbana, em especial na esfera municipal, classificados, de acordo com sua natureza, em tributários, financeiros ou econômicos; jurídicos; administrativos e políticos. parcelamento, edificação ou utilização compulsórios; imposto predial e territorial urbano progressivo no tempo; desapropriação com pagamento em títulos da dívida; e usucapião especial de imóvel urbano. direito de superfície; o direito de preempção (de preferência); a outorga onerosa do direito de construir e de alteração de uso; as operações urbanas consorciadas; a transferência do direito de construir; e o estudo de impacto de vizinhança” ( OLIVEIRA, 2001, p.7-10 ). 24 A exemplo da falta de eficiência e efetividade na aplicação da metodologia do IPTU Progressivo previsto no Estatuto das Cidades ( Lei 10.257/2001) que prevê o aumento do imposto na medida da ociosidade e reserva de terras à especulação imobiliária nos centros urbanos. 44 Minha vida dominados pelo crime organizado, invadidos e depreciados, muitas vezes com a aquiescência dos próprios beneficiários do programa. Assim, no que tange às políticas públicas, é necessário que o Estado possua a capacidade necessária não só para pensá-las, mas para implementá-las e acompanhar sua execução, monitorando dados e resultados. De acordo com Filgueiras e Andrade é importante levar em consideração “a organização do governo municipal para a execução das políticas sociais” (FILGUEIRAS; ANDRADE, 2010, p. 127 ). Segundo as autoras, no caso da provisão habitacional, da urbanização e em outras ações, pesam sobre as administrações municipais “diversas exigências em termos de habilidades políticas, recursos operacionais, diagnósticos das situações e clareza dos propósitos das intervenções” (FILGUEIRAS; ANDRADE, 2010, p. 127). Citando Santos Jr25, as autoras afirmam que O organograma da área social e a capacidade institucional dos órgãos gestores são alguns dos muitos fatores que podem incidir sobre o desempenho de programas nesta área. A frágil capacidade técnicooperacional das administrações municipais pode ser constatada pela deficiência na oferta de serviços públicos, pela precária informatização dos procedimentos administrativos, pelo reduzido número e baixa capacitação profissional dos quadros técnicos, pelos procedimentos orçamentários desvinculados da atividade de planejamento e não submetidos a controle social e pela administração escassamente dotada de instrumentos adequados para o planejamento a médio e longo prazo ( SANTOS JR, 2001, apud FILGUEIRAS; ANDRADE, 2010, p. 127 ). Apesar de Filgueiras e Andrade ( 2010 ) estarem se referindo à questão urbana nas regiões metropolitanas, as ponderações por elas apresentadas estendem-se a outras cidades de menor porte que também padecem da falta de saneamento, da incidência de ocupações irregulares e precárias, de problemas fundiários, da falta de capacidade técnica, administrativa e logística, da falta de espaços de participação, e sobretudo, de gestões “personificadas no gestor” demandando portanto que se estabeleça um modelo de governança também para essas cidades compatível não só com as matrizes das políticas, mas com a complexidade dos problemas, da sociedade e do próprio Estado. 25 SANTOS Jr. Orlando Alves dos. Democracia e governo local: dilemas da reforma municipal no Brasil. RJ: Revan/Fase, 2001. 45 É nesse contexto das cidades que se insere o trabalho social como elemento integrante dos programas de desenvolvimento urbano, essencial no incremento da relação Estado sociedade e potencializador da governabilidade e da gestão social. De acordo com Carvalho (2014), esse trabalho social, que atravessou momentos de uma “razão instrumental” baseada em controles técnicos, vem resgatando seu papel de mediação no processo de implementação das políticas públicas e promotor de processos participativos “associados à transformação e à emancipação social” (CARVALHO, 2014, p. 18). 1.2 Trabalho Social na Habitação de Interesse Social como possibilidade de gestão social É possível afirmar que o trabalho social como componente obrigatório dos programas de HIS e política de governo está presente desde que o extinto Banco Nacional de Habitação (BNH) definiu sua Política Nacional de Habitação e Saneamento entre 1968 e 1986. As atividades eram desenvolvidas naquela época pelas Companhias de Habitação (COHABs) com recursos da Taxa de Apoio Comunitário (TAC), uma taxa criada em 1973 para manutenção dos conjuntos habitacionais e seus equipamentos comunitários ou para pagamento de assistentes sociais que atuassem nos empreendimentos. Os custos das ações eram embutidos no preço do imóvel financiado ao mutuário (BRASIL, 2010). A partir de 1994, na gestão do Presidente Itamar Franco, o Programa Habitar introduziu o trabalho social como contrapartida dos estados e municípios, mas foi somente a partir de 1999, na primeira gestão do Presidente Fernando Henrique Cardoso, tendo como base o Programa Habitar Brasil BID (HBB), que o trabalho social tornou-se uma exigência. Naquele momento, o Governo Federal passou a incluir os recursos necessários para o desenvolvimento do trabalho social nos custos do empreendimento, cujas verbas dependiam de emendas parlamentares, ( BRASIL, 2010 ). A experiência adquirida com o HBB, em que se tinha como exigência a execução das intervenções físicas de forma integrada à realização de um trabalho social junto às 46 famílias beneficiárias, mostrou-se interessante e eficaz em relação ao modelo anterior26 levando os órgãos gestores a normatizá-lo e estendê-lo, ainda que de forma limitada, às ações de urbanização de favelas, inaugurando assim uma etapa de regulamentação do trabalho social. Desde então o trabalho social, regido sob dois grandes marcos regulatórios (a Instrução Normativa 050/2008 e a 008/2009) vem ganhando respaldo normativo e, após a criação do MCidades, o número de programas com exigência do trabalho social se ampliou (PAZ; TABOADA, 2006). Conforme se pode verificar na regulamentação dos próprios programas de provisão habitacional e saneamento do MCidades, em muitos desses programas, embora o trabalho social fosse obrigatório, não havia destinação específica de recursos para a sua realização, devendo ser realizado por meio de contrapartida de Estados e Municípios. Depois, passou-se a estabelecer percentuais mínimos “desejáveis” para a sua realização em alguns programas. Hoje, com a Política Nacional de Habitação e o PAC, e expressivos volumes de investimentos, são definidos percentuais mínimos obrigatórios para a realização do trabalho social que passou a ser visto como componente essencial à sustentabilidade das intervenções, ratificando assim a percepção de que “[...] as mediações produzidas pelo trabalho social são indispensáveis para a apropriação e o usufruto efetivo dos serviços e programas sociais priorizados pelas políticas públicas” (CARVALHO, 2014, p.19). Tendo como escopo um conjunto de atividades informativas, sócio-educativas e estruturantes, o trabalho social vinculado aos programas de provisão habitacional para famílias de baixa renda passa a ter um papel importante na promoção e consolidação das premissas do desenvolvimento territorial e urbano. A partir de eixos específicos de atuação, o trabalho social pressupõe a inserção dos beneficiários no processo construtivo, a geração de trabalho e renda, a educação sanitária, ambiental e patrimonial, a inclusão de gênero, a mobilização e organização comunitárias, participação nos processos decisórios, comunicação e transparência e a gestão Modelo tecnocrático e instrumental adotado na década de 1990, que sustentou a crença de que “a expansão da política social e seus serviços criavam por si próprios os insumos para a redução das desigualdades” e que sucedeu aquele adotado na década de 1960, em que a ênfase era colocada “nas metodologias de educação popular” sob influência das proposições de Paulo Freire (CARVALHO, 2014, p.18). 26 47 condominial nos empreendimentos verticalizados. Seu objetivo maior passa a ser o de contribuir na promoção da defesa dos direitos sociais, promover a participação e a mobilização social, o acesso à cidade, aos serviços públicos e à informação. Tais premissas inscrevem os programas habitacionais na política de desenvolvimento urbano integrado e sustentável27, guarnecendo a concepção de uma intervenção que promova o acesso das comunidades não só à habitação, mas aos serviços e equipamentos públicos e seu desenvolvimento social, político e econômico. Prover moradia passa a significar e demandar também inserção social das famílias, a mobilização comunitária e a participação das famílias no processo, desde a sua concepção até o pós-obra, a gestão democrática dos investimentos públicos, a verificação e análise prévia da viabilidade social e ambiental das intervenções, a plena apropriação dos bens e serviços disponibilizados, enfim, a implementação de ações inovadoras voltadas à gestão social e ao desenvolvimento local28 que têm no trabalho social seu instrumento de consolidação. Não se pode ter a intenção de imputar a esse trabalho social o papel patronal de promover a gestão social e o desenvolvimento socioterritorial ignorando as muitas condicionantes que dificultam sua realização, os diversos agentes envolvidos na consecução de suas premissas e o próprio Estado com suas atribuições, complexidades e responsabilidades. Como assinala Koga (2011, p. 19), “o social subjaz à economia” e nessa relação o trabalho social também não conquistou seu lugar de reconhecimento na prática. Embora se tenha ampliado o número de programas que o têm como componente obrigatório, sua execução ainda é realizada sem o apoio institucional de que necessita. Mas, como um conjunto de atividades a ser implementado em determinado território, o trabalho social adquire uma dimensão macro que se potencializa, dada a pluralidade existente no território de sua ação, catapultando-o a uma posição privilegiada na escala relacional que se volta à gestão social. 27 Abrangendo o desenvolvimento econômico, social, cultural, político e institucional, a organização físico-territorial e a gestão ambiental ( FRANCO, 1998, p.8 ). A sustentabilidade nesse sentido seria alcançada pela articulação de todas essas esferas de ação no processo de mobilização e organização social com foco na melhoria contínua do empreendimento e seu entorno. 28 Local como um espaço de atuação de diferentes indivíduos e segmentos sociais na busca do desenvolvimento que implica na necessidade da mobilização e articulação de atores sociais ( FRANÇA, 2002, p.6-7 ). 48 Koga afirma que “ o território [...] representa o chão do exercício da cidadania, pois cidadania significa vida ativa no território, onde se concretizam as relações sociais, as relações de vizinhança e solidariedade, as relações de poder [...] (KOGA, 2000, p. 33 ). É nesse território que o trabalho social deve estabelecer seu lugar buscando agir a partir do que nele acontece cotidianamente de forma coerente com a concepção de território adotada por Milton Santos que o considera “utilizável para a análise social [...] a partir do seu uso, a partir do momento em que o pensamos juntamente com aqueles atores que dele se utilizam” ( SANTOS, 2000, apud KOGA, 2011, p. 35 ). O trabalho social visto nessa perspectiva adquire uma outra envergadura que se volta para a totalidade ( figura 1 ) e não apenas para uma dimensão focal, devendo levar em consideração as relações, identidades, ações, vocações, saberes e contextos locais, onde a participação deve imbuir-se do significado da construção coletiva “ao intervir com novos e velhos princípios centrados no e com o território, na ação integrada e intersetorial e no fortalecimento de aportes culturais e vínculos sociorrelacionais” ( CARVALHO, 2014, p.22 ). Figura 1 - Fonte: CARVALHO, 2014, p.22. Há, portanto, nesse trabalho social que se propõe uma aproximação com a práxis social como “ação política do ser humano” que busca “a melhoria de suas condições 49 de vida e, consequentemente, da sociedade, uma vez que compreende também a dimensão coletiva” ( QUARESMA, 2012, p.185 ). O trabalho social inserido nesse contexto e representado na figura 1 pressupõe e requer ação transformadora a partir de um agir individual e/ou coletivo baseado na perspectiva da ação-reflexão-ação não alienante “[...] na qual o homem faz história com sua práxis nela, e, com ela, cria-se a si mesmo, produz-se a si mesmo” ( SÁNCHEZ VÁSQUEZ29, 2007, p. 404, apud QUARESMA, 2012, p.185 ) e assim transforma o ambiente vivido e construído. Adotando esses movimentos do processo pedagógico, o trabalho social incorpora um “componente estratégico” nos programas de desenvolvimento urbano, tornando-se capaz, a partir de metodologias adequadas, de “promover a retotalização da ação da política pública [...]” (CARVALHO, 2014, p.21 ) e assim assumir o desafiante papel de compartilhar e instigar competências para pensar, propor e executar projetos societários consistentes e avaliados permanentemente com vistas à sua efetividade. Tais premissas já haviam sido regulamentadas nas Instruções Normativas 050/2008 e 008/2009 que regulamentavam o trabalho social nos programas de desenvolvimento urbano, e a Portaria 21/2014, instituída pelo MCidades em 22/01/2014, e instruída pela Orientação Operacional 01/2014, vem ratificá-las principalmente na proposição dos eixos Mobilização, Organização e Fortalecimento Social e Desenvolvimento Socioeconômico e Territorial por meio dos quais propõe-se que o trabalho social implemente processos de informação e organização sociocomunitária e ações estruturantes que levem à autonomia e o protagonismo social, inserção das ações desenvolvidas pelas organizações existentes na macroárea no escopo do projeto, a constituição e a formalização de novas representações e novos canais de participação e controle social. Os demais eixos de atuação, igualmente importantes e obrigatórios previstos na Portaria 21/2014 são: Acompanhamento e gestão social da intervenção; educação ambiental e patrimonial e desenvolvimento socioeconômico e territorial. A ênfase a ser dada em cada um deles deve respeitar o perfil dos beneficiários, as características 29 SÁNCHEZVÁSQUES, A. Filosofia da práxis. 1. Ed.Buenos Aires: consejo Latino-americano de Ciencias sociales – CLACSO; São Paulo; Expressão Popular, 2007. 50 da área de intervenção e da macroárea30 indicadas no diagnóstico (BRASIL, 2014). As ações que constituem o escopo do trabalho social devem ser implementados antes, durante e após as obras, de acordo com um cronograma previamente estabelecido e aprovado por meio de três instrumentos distintos de execução: o Projeto Social Preliminar (PTS-P), o Projeto de Trabalho Social (PTS ) e o Plano de Desenvolvimento Socioterritorial (PDST), cada um com escopos e objetivos específicos e amarrados a marcos temporais próprios. A Portaria 21 estabelece alguns mecanismos de governança que, não fosse sua dificuldade de estruturação, mitigaria muitos problemas relativos ao processo de construção e destinação das unidades habitacionais às famílias como as invasões, ocupações irregulares, problemas construtivos, controle social. Vejamos: o PTS-P deve ser apresentado pelo Ente Público e aprovado pela Instituição Financeira com vistas à assinatura do convênio para realização do trabalho social em, no máximo, até 15% da obra. A partir desse momento o Ente Público inicia as ações relativas ao cadastro, seleção e hierarquização das famílias para caracterização da demanda. Nesse ínterim, período que tem duração de doze meses, ou até 65% da obra, a equipe técnica vai realizando o diagnóstico socioeconômico das famílias, a caracterização da macroárea e as atividades informativas iniciais e procede à elaboração e entrega do PTS à instituição financeira. A partir daí, e durante oito meses, até a assinatura dos contratos com os beneficiários, a equipe técnica implementa o PTS em cujo cronograma devem constar os arranjos necessárias à viabilização da intersetorialidade necessária à complementaridade de políticas e ações e a inserção da macroárea no processo. Já o PDST é elaborado a partir da consolidação dos arranjos intersetoriais voltados à integração territorial para o desenvolvimento econômico e deve ser apresentado pelo Ente Público e aprovado pela Instituição Financeira até no máximo o final da Fase de Obras e iniciado após a assinatura do contrato ou a mudança das famílias para as unidades habitacionais tendo duração de até doze meses. Incluindo a poligonal dos empreendimentos compreende todo o território da intervenção e constitui-se de “região relativamente homogênea de vulnerabilidades e riscos sociais, que inclui uma ou mais áreas de intervenção física, próximas e seu entorno com o qual tal(ais) área(s) de intervenção interage(m) para acesso a serviços e equipamentos públicos, ao mercado de trabalho, a organizações sociais (comunitárias, ONGs e movimentos sociais)”. BRASIL, 2014, P. 54. 30 51 Abnegado, para cumprir seu papel o trabalho social precisa ser diligente e fazer valer seu grande poder de comunicar e transitar pelas disciplinas, áreas, setores, instituições, lideranças, enfim, movimentar-se com inovação na direção de seu objetivo maior: transformar a qualidade da democracia uma vez que, abrindo espaço à participação de pessoas e instituições existentes no território, torna-se capaz de contribuir na formação de comunidades políticas fortalecidas e aptas a fazer a mediação entre sociedade e Estado na conquista e manutenção de direitos e na materialização do acesso a bens e serviços, viabilizando a emancipação dos indivíduos e a autonomia das comunidades. Nesse sentido, o trabalho social ganha um atributo especial de também poder intervir na promoção da qualidade da cidadania. Considerando a transversalidade31 e complexidade das questões que aborda e dos próprios fenômenos urbanos, o trabalho social demanda interdisciplinaridade e intersetorialidade, capacidade técnica e de gestão criativa, além de estreita interlocução entre as políticas públicas e as obras. Boa parte do que se espera do trabalho social, tanto como processo, quanto como resultado, depende essencialmente de um efetivo processo comunicativo e de participação com adoção de ferramentas adequadas para se pensar, propor e executar os projetos a partir de diagnósticos consistentes e preferencialmente participativos. Governança e governabilidade, portanto, são mecanismos imprescindíveis aqui. O trabalho social, privilegiando a informação e a formação, tem um enorme potencial de promover, para além de um formalismo burocrático e de projetos prescritos, uma mudança de consciência e a educação para a transformação do espaço de vivência das pessoas que, beneficiárias de programas de habitação de interesse social, devem transformar-se em sujeitos da ação capazes de impulsionar forças construtivas, cívicas, modificadoras da área de intervenção e seu entorno estimulando de forma contínua o desenvolvimento socioterritorial. 31 As ações que integram os eixos do trabalho social para a consolidação de suas premissas passam pela comunicação, informação, educação patrimonial, educação sanitária e ambiental, mobilização social, geração de trabalho e renda, inclusão de gênero, que encerram em si diversas atividades multidisciplinares e intersetoriais e uma multiplicidade de possibilidades de ação, atores e parcerias. 52 Cabe aqui ressaltar, entretanto, que, “para que as pessoas se mobilizem e tomem uma decisão de se engajarem em algum movimento, projeto ou ação, é preciso não só que estas pessoas tenham carências e problemas em comum, mas que compartilhem valores e visões de mundo semelhantes” (HENRIQUES; BRAGA; MAFRA, 2004, p.4 ). Os problemas nesse sentido devem ser colocados “em movimento e circulação na sociedade para o que é essencial estabelecer estratégias comunicativas” com “um mínimo de informação”, trabalhando “o imaginário, emoções e conhecimentos sobre a realidade das coisas [...], gerando a reflexão e o debate para a mudança” (HENRIQUES; BRAGA; MAFRA, 2004, p.3-4). Nesse quesito ressalte-se que “o grande desafio da comunicação32, ao mobilizar, é tocar a emoção das pessoas, sem, contudo, manipulá-las, porque se assim se fizer, ela será autoritária e imposta” (HENRIQUES; BRAGA; MAFRA, 2004, p.4 ). É preciso planejá-la “no sentido de permitir a tomada de posições [...] de motivar, associar e integrar os diversos públicos através da criação, da manutenção e do fortalecimento dos vínculos [...] com o projeto instituído”. E assim, “o fazer comunicativo” mais do que informar, tem por tarefa criar uma interação própria [...] através do compartilhamento de sentidos e de valores. Deseja-se, assim, que sejam fortalecidos os vínculos destes públicos com os movimentos e que sejam capazes de tomar iniciativas espontâneas de contribuir à causa (sic) dentro de suas especialidades e possibilidades HENRIQUES; BRAGA; MAFRA, 2004, p.5 ). Portanto, abona-se a conjectura de que a execução de um trabalho social consistente e estruturante demanda a utilização de mecanismos de intervenção social e participação que garantam legitimidade às ações e canais de comunicação eficientes, disponibilizados de forma acessível e abrangente para garantir um mínimo de vocalização, interlocução, alcance e transparência necessários e desejáveis em se tratando, em especial, de ações envolvendo a aplicação de recursos públicos. Acredita-se ser esta uma medida necessária à regulação e controle social. Fomentar a participação de qualidade, precedida e permeada pelos passos necessários ao entendimento de suas razões, entre eles a contínua construção, troca Comunicação aqui entendida não apenas como repasse de informações, “mas também como uma troca de ideias, pensamentos ou sentimentos entre pessoas [...] tanto por meio da linguagem falada, quanto da escrita, assim como de sinais, gestos, atitudes, atos ou até mesmo a omissão dos mesmos” ( PFEIFFER, 2006, p.29 ) 32 53 e disseminação de informações, permite garantir a regulação e o controle social permanentes, contribui na realização de um projeto democrático e um passo significativo na direção da mobilização e engajamento daqueles para quem se pensa as políticas e ações e da instituição de uma corresponsabilidade entre as partes envolvidas. Afinal, “as prioridades contempladas pelas políticas públicas são formuladas pelo Estado, mas nascem na sociedade civil” (ÁVILA, 2001, p.14). As políticas públicas, das quais fazem parte o trabalho social, dependem hoje de soluções democraticamente partilhadas entre Estado e sociedade. [...] Nenhuma política nasce do Estado. As prioridades em políticas públicas emergem na sociedade e só adentram a agenda do Estado quando se constituem em demanda vocalizada (CARVALHO, 2014, p.50). Imbuído de uma dimensão pedagógica, o trabalho social tem a prerrogativa de fomentar a gestão social que implica um processo de desenvolvimento societário constituído de poder, conflito, aprendizagem (FISCHER, 2002, apud MAIA, 2005) e transformação (DOWBOR, 1999 apud MAIA, 2005), sustentáculo da governança pretendida. Como tal, dá seguimento a “processos de adesão de sujeitos sociais implicados” e qualifica mecanismos “de tomada de decisão e de implantação de políticas e programas sociais” (CARVALHO, 2014, p. 33). Nesse sentido, o trabalho social constitui-se a base de um processo dialético de formação e consolidação de uma cidadania deliberativa que dará ancoragem à própria noção de gestão social. Citando Schön (1992; 2000), Alarcão (2003) e Gómez (1992), Silva e Araújo ( 2005 ) recuperam o conceito de reflexão a partir de Paulo Freire e apresentam um modelo de gestão social e participação que insere quatro movimentos no processo pedagógico implícito naquele conceito: “o conhecimento na ação; a reflexão na ação; a reflexão sobre a ação; e a reflexão para a ação” (SILVA; ARAÚJO, 2005, p. 2) todos atinentes ao trabalho social, tanto do ponto de vista do técnico que o implementa ou das entidades proponentes, quanto do beneficiário e da comunidade atendida. Os autores então explicam O conhecimento na ação é o conjunto de saberes interiorizados (conceitos, teorias, crenças, valores, procedimentos), que são adquiridos através da experiência e da atividade intelectual, mobilizados de forma inconsciente e mecânica nas ações cotidianas [...]. A reflexão na ação é a reflexão desencadeada durante a realização da ação pedagógica, sobre o conhecimento que está implícito na ação. Ela é o melhor 54 instrumento de aprendizagem [...], pois é no contato com a situação prática que [...] (se) adquire e constrói novas teorias, esquemas e conceitos, tornando-se um profissional flexível e aberto aos desafios impostos pela complexidade da interação com a prática. No entanto, a reflexão realizada sobre a ação e para a ação é de fundamental importância, pois elas podem ser utilizadas como estratégias para potencializar a reflexão na ação. A reflexão sobre a ação é a reflexão desencadeada após a realização da ação pedagógica, sobre essa ação e o conhecimento implícito nessa ação. Neste momento, também poderá ser realizada a reflexão sobre a reflexão realizada durante a ação. A reflexão para a ação é a reflexão desencadeada antes da realização da ação pedagógica, através da tomada de decisões no momento do planejamento da ação que será desenvolvida (SILVA; ARAÚJO, 2005, p.2). Defende-se essa aproximação com Paulo Freire uma vez que no trabalho social prevê a implementação de ações que promovam o desenvolvimento socioterritorial de longo prazo a partir da educação, da capacitação, da mobilização social, da participação e isso se torna possível somente se essas ações puderem pressupor uma “educação que promova a conscientização a partir da leitura crítica do mundo” (QUARESMA, 2012, p. 188 ) por meio da qual a ação não seja “puramente técnica” mas contribua para uma formação política ( idem ). A autora complementa esse pressuposto dizendo À educação, na perspectiva da práxis social, cabe a tarefa de construir situações de aprendizagem nas quais os interesses, as visões de mundo, os desejos, as experiências individuais e coletivas de participação e autogestão, os conflitos ideológicos surjam discutidos, debatidos, tendo em vista essa percepção crítica da realidade ( QUARESMA, 2012, p. 189 ) As intervenções no desenvolvimento urbano são potencialmente favoráveis à apropriação do local como espaço de “encontro das ações do Estado e da sociedade” [...] e ao mesmo tempo “alvo (grifo do autor) socioterritorial” dessas ações ( FRANCO, 1998, p.7 ), que demandam uma articulação entre o social, o político e o econômico na promoção do desenvolvimento que se quer local. Defende-se, portanto, o caráter mobilizador, socializador, mediador do trabalho social, pois é no território que se concentram os problemas, mas é também no território que residem “as energias e forças sociais da comunidade, constituindo o poder local [...]” (GOHN, 2004, p 24). Segundo Gohn (2004, p.24) no local onde ocorrem as experiências, ele” (o poder local) “é a fonte do verdadeiro capital social, aquele que nasce e se alimenta da solidariedade como valor humano. O local gera capital social quando gera autoconfiança nos indivíduos de uma localidade, para que superem suas dificuldades. Gera, 55 junto com a solidariedade, coesão social, forças emancipatórias, fontes para mudanças e transformação social. Assim, para um trabalho social consistente, estruturante e desafiador, que faça cumprir as diretrizes das normativas e promova o desenvolvimento local e a gestão social, é preciso criar competências locais, instituir metodologias de proposição, execução e monitoramento apropriadas. Os profissionais envolvidos em tais ações necessitam de capacitação para gerir processos, pessoas e recursos e buscar entender quais são os produtos que, construídos a partir de e junto com as comunidades atendidas, lideranças, conselhos e entidades representativas, devem ser apresentados aos agentes promotores e gestores dos programas e aos que residem na área de intervenção e seu entorno. Por ser recente sua inscrição no patamar das ações inerentes às intervenções urbanas, o trabalho social ainda requer profissionalização e necessita de metodologias específicas, adequadas às realidades encontradas. Os profissionais que nele atuam precisam conhecer melhor suas atribuições e funções e estar mais bem preparados para irem além da ação assistencial e da burocrática tarefa de favorecer a abertura e manutenção dos canteiros de obras e a facilitação do trabalho dos agentes executores dos empreendimentos e das construtoras. As deficiências do trabalho social decorrem também da fragilidade dos processos participativos, pois, num país de tenra democracia, as formas e canais de participação ainda estão sendo edificados e os instrumentos de controle social 33 persistem em se manter precários e conflitantes na perspectiva da vigilância social sobre as ações do Estado na implementação das políticas públicas e na defesa dos interesses das camadas menos favorecidas da sociedade. Nesse sentido, as intervenções sociais no âmbito dos programas habitacionais devem se desfazer do modelo tutelar que objetiva somente a informação unidirecional constituída para satisfazer às formalidades e preceitos normativos e imbuir-se de Atente-se para a ambiguidade do significado de “Controle social” no sentido do controle do Estado sobre a sociedade na medida do atendimento a algumas de suas demandas e da sociedade sobre o Estado. A perspectiva utilizada aqui considera a capacidade da sociedade civil tem de interferir na gestão pública (CORREIA, M.V.C, 2009) 33 56 estruturas interacionais inovadoras que motivem as interlocuções, a formação política e o protagonismo social para que, efetivamente, se processe mudanças no contexto socioterritorial a partir das pessoas. Segundo Carvalho ( 2014 ), “nenhuma mudança ocorre se não querida e apropriada” (CARVALHO, 2014, p. 176). Despertar nas pessoas e grupos beneficiários as aptidões de pertencer e apropriar-se de espaços constituídos, provocar nos indivíduos a disposição para fortalecer identidades a partir de atitudes mentais construtivas que se coloquem a serviço da coletividade, é algo que requer dos profissionais responsáveis pelos projetos de trabalho social certas habilidades específicas para a percepção, adoção e condução de metodologias apropriadas. Como assinala Carvalho (2014), tais metodologias “devem identificar e construir oportunidades que permitam à população processar mudanças desde dentro” ( CARVALHO, 2014, p. 176). Carvalho (2014, p. 170) ainda afirma que as “metodologias de trabalho social são constructos pensados a partir de intencionalidades, conhecimentos e experiências”. Na intervenção social, a efetividade das ações depende das metodologias adotadas pois são elas que, “sustentadas por um quadro referencial constituído de aportes teóricos e da experiência acumulada” garantem o “ordenamento da ação” que se quer exitosa. Não há como prescrever a melhor metodologia para o trabalho social que se vincula aos programas habitacionais, pois são programas implementados em distintas e complexas realidades e destinados a territórios dotados de uma dinâmica própria que incorpora ao mesmo tempo “totalidades e particularidades” que exigem “um olhar dialógico entre o todo e as partes, entre o singular e o coletivo” (CARVALHO, 2014, p. 173). Para pensá-la é preciso considerar o contexto em que irá se inserir tendo em mente que um “programa social é sempre sociorrelacional” (CARVALHO, 2014, p. 172). Os Projetos de Trabalho Social (PTS) desenvolvidos nos empreendimentos de habitação de interesse social são direcionados a territórios determinados envolvendo não somente as comunidades diretamente beneficiárias, mas também o seu entorno, tratado pela Portaria 21/2014 como macroárea, e, de forma indireta, contemplam a sociedade como um todo. Garantir a apropriação e o bom uso dos bens e serviços disponibilizados, despertar nas pessoas os sentidos de pertencimento e preparar os 57 beneficiários para dinamização e a melhoria contínua do território devem ser a essência das ações dos projetos de trabalho social. O êxito desses projetos demanda modos de organizar a alocação dos recursos em um cronograma físico-financeiro que leve em consideração todas as etapas que envolvem a proposição e execução de um conjunto de atividades, desde o planejamento, na fase pré-contratação, até o pós-entrega dos produtos aos beneficiários e usuários finais. O PDST dever representar a possibilidade de deixar na comunidade a perspectiva de continuidade da intervenção por outras entidades presentes na macroárea. Num processo de avaliação e monitoramento constantes, é preciso verificar ao longo de toda a sua execução a necessidade de redirecionar ações. A elaboração e execução de projetos de trabalho social requer dos profissionais da área social capacidade técnica para a definição e a aplicação de metodologias apropriadas às necessidades e objetivos dos projetos para a garantia da efetividade e eficácia das ações, mas requer também a sensibilidade necessária para conduzir o processo de apreensão da realidade. Pressupõe, portanto, uma atuação técnica ao mesmo tempo sistemática e flexível que dê conta de todas as variáveis relevantes contidas num projeto de intervenção, que requer habilidades de gestão e de gerenciamento de Projetos34. No trabalho social os projetos dispensam padrões e receitas, não são estanques nem engessados. Devem se valer da própria riqueza da estrutura social e territorial e da própria dinâmica que nela se encerra, mas isso não isenta o trabalho social e as metodologias eleitas em sua realização de métodos de planejamento e gerenciamento, pois o trabalho social, de acordo com Carvalho (2014, p. 180), [...] consolida-se como uma ação intencionada com base em diretrizes teóricas e metodológicas, que devem se materializar num ordenamento dos processos de trabalho no contexto da operação das políticas sociais. Isto quer dizer que as ações de diagnóstico, planejamento e avaliação, próprias do ciclo da gestão, também permeiam o cotidiano do trabalho social. A intervenção requer o processo sistemático de leitura e análise da realidade, Conforme Pfeiffer (2005), o termo “gerenciamento” aplicado a projetos está relacionado ao nível operacional relativo ao planejamento, organização e implementação. Diferente do termo “gestão” que tende a assumir uma conotação mais política, voltada mais para o nível estratégico e institucional. 34 58 da conjuntura e da própria intervenção no âmbito dos programas e serviços sociais. Dessa forma, o gerenciamento e a gestão de um projeto aplicado ao trabalho social no desenvolvimento urbano deve levar em consideração os sujeitos e suas demandas priorizando dessa forma não o objetivo final do projeto e as mudanças que irão se consolidar, mas o processo de construção dessa mudança e as deliberações dela decorrentes que se quer coletivas e compartilhadas. Gerenciar um projeto social, portanto, requer que se considere a heterogeneidade presente na coletividade, a dialogicidade e, consequentemente, a produção e a socialização de saberes como processo permanente (MACHADO, 2004 apud AFONSO, 2010). O ato de gerenciar projetos sociais, de certa forma, se assemelha ao ato de gerenciar projetos de desenvolvimento 35 pois implica aplicar “conhecimento, habilidades, ferramentas e técnicas às atividades do projeto a fim de atender aos seus requisitos” (PMI, 2004 apud PFEIFFER, 2005, p.3136) e assim pressupõe a participação não só dos beneficiários diretos e indiretos, mas de todas as partes interessadas, antecipando situações futuras desejadas, definindo os caminhos para alcançá-las e delimitando “o quê compartilhar e de que forma” (PFEIFFER, 2005, p.31). Antever as áreas implicadas nas ações propostas e definir os mecanismos que viabilizarão a inserção dessas áreas no processo de implementação do projeto é fundamental para o êxito dos propósitos. Garantir um modelo de governança a partir da intersetorialidade, da interlocução entre as áreas, do diálogo aberto, da troca entre os saberes constituídos, da interdisciplinaridade, é condição essencial na proposição e implementação de projetos sociais. O modo de trabalhar e gerenciar os projetos sociais influencia significativamente nesse processo de construção coletiva e interdisciplinar e impacta de maneira direta nos resultados pretendidos, e, nesse quesito, é preciso levar em conta a articulação de conceitos como identidade, comunicação, representações sociais, atitudes, 35 “ Voltados à mudança de uma situação social [...]. Processo de transição de uma situação atual, caracterizada pela existência de problemas [...], para uma situação futura, melhorada [...]. Se o projeto pretende alavancar a transição, não só com a instalação de bens e serviços, mas também procurando a participação dos envolvidos, ele pode ser considerado um Projeto de Desenvolvimento” ( PFEIFFER, 2005, p. 19). 36 PMI (Project Management Institute (2004): Um Guia do Conjunto de Conhecimentos de Gerenciamento de Projetos. 59 vínculos, grupos, instituições, poder, (AFONSO, 2010), controle social. A condução dos projetos deve ser feita na direção de uma execução responsável, que valorize o processo como premissa não apenas do resultado imediato, mas de um legado consistente e duradouro que seja resultante de uma dimensão ético-política intrínseca. Como menciona Cury (2001, p. 38) A dimensão técnica – maior competência na busca de conteúdos e de estratégias que nos permitam aferir resultados eficientes e eficazes – não é suficiente. Existe uma outra dimensão, a ético-política, que importa ressaltar, a qual organiza e sustenta esse processo, delimita-o em seu sentido e em seus fins, pois atuar na esfera pública, coletiva e social exige, antes de mais nada, um compromisso com a efetividade e, para isso, é preciso que tenhamos uma visão crítica que questione, a todo momento, o sentido desse nosso agir. É imprescindível conhecer a relação do projeto com a entidade proponente e definir a responsabilidade técnica para sua implementação. A garantia de execução e êxito, entretanto, é assegurada também por outras variáveis igualmente importantes: objetivos bem definidos, claros e exequíveis, abrangência ou escopo coerente com as limitações do projeto, planejamento realista e bom dimensionamento dos recursos (PFEIFFER, 2005), a interação entre os sujeitos, a nomeação de facilitadores constituídos do próprio grupo, a instituição de canais permanentes de informação e comunicação, a construção de diagnósticos participativos e interativos. Assim, gerenciar projetos, no contexto das políticas públicas, pressupõe desconstruir as relações hierárquicas em favor da participação horizontalizada. Uma coparticipação que leve os sujeitos a pensar e agir em suas próprias demandas (AFONSO, 2010). Pressupõe, além do que já foi dito, a preparação das comunidades beneficiárias para a fase do desligamento da equipe técnica para que, imbuídos do espírito de pertencimento, coletividade e solidariedade, pressupostamente desenvolvido pelas metodologias de intervenção no trabalho social, possam se fazer representar e, não só trabalhar pela melhoria contínua, mas demandar aos gestores dos programas, em qualquer instância governamental o incremento da área de intervenção e do seu entorno para a constituição de centralidades e consolidação de seus vínculos. Parte-se da premissa de que os programas de provisão habitacional não são capazes de promover emancipação e inclusão social pela tão somente disponibilização de 60 moradia sem que com ela estejam vinculadas políticas de inserção socioterritorial do público favorecido. O trabalho social então, constituindo-se como parte integrante dos programas habitacionais, assume uma dimensão estratégica de promoção da “retotalização da ação ” ( CARVALHO, 2014, p. 169) e articulação da intervenção física com uma intervenção social de caráter sociopedagógico que se quer dialógico e mediador ( CARVALHO, 2014, p. 169 ). Pelo exposto, considerando o longo caminho a percorrer na direção da consolidação do trabalho social como mediador nas implementação das políticas públicas, o presente estudo propõe como produto técnico um guia de orientações metodológicas para a atividade profissional dos técnicos responsáveis pelo trabalho social nas intervenções do desenvolvimento urbano sem que se tenha o propósito de engessar a ação, mas na intenção de facilitar a prática e contribuir com o tão necessário incremento da capacidade técnica para a conquista de maior efetividade dos projetos sociais. 1.3 Gestão social e Trabalho Social De acordo com Ávila (2001), “a gestão social é em realidade, a gestão das demandas e necessidades dos cidadãos” ( ÁVILA, 2001, p. 14 ), e como tal impõe às populações o desafio de serem protagonistas na construção de seus próprios territórios pois as políticas, programas e projetos virão em resposta a essas demandas que “reconhecidas como legítimas” ( ÁVILA, 2001, p.14 ) passam a se constituir em direito fundamentando, por sua vez, as políticas públicas ( ÁVILA, 2001). A gestão social impõe ao Estado o desafio e a condição de se estruturar para não só atender às necessidades da sociedade, mas de participar de forma ativa do processo de identificação e organização das demandas e contendas sociais. Na gestão social cabe ainda o planejamento das ações públicas necessárias à universalização das políticas sociais em conjunto com os demais atores e partes interessadas, rompendo de vez com seu modelo anacrônico de se aparelhar para se enclausurar na máquina burocrática e ineficiente. 61 O princípio da gestão social, assim como da governança e governabilidade, permite aos atores repensar a “concepção do exercício do poder”. Como processo sinérgico e intersetorial, demanda “capacidade de mediação entre opostos, conciliando conhecimentos, ética e efetividade” (ROCHA; SANTOS, 2012, p. 79 ) num processo contínuo e dialético de compartilhamento do agir por meio do qual a técnica e o conhecimento tácito (ou “poder político da população”) ( ROCHA; SANTOS, 2012, p. 79 ) retroalimentam os saberes, habilidades e potencialidades locais. Imbuído de tal princípio a gestão social “rompe o hiato entre a técnica e a política” (PAES DE PAULA37, 2005, p. 46, apud ( ROCHA; SANTOS, 2012, p. 79 ). De acordo com Rocha; Santos (2012) os processos de gestão assim instituídos “objetivam a consolidação de um projeto político societário” por meio do qual “a democracia e a participação cidadã ativa são exercidas dialeticamente por todos os sujeitos envolvidos” ( ROCHA; SANTOS, 2012, p. 79 ) e no qual o gestor passa a ser “[...] um mediador entre pessoas (dimensão individual), coletivos (dimensão relacional) e interorganizacional [...]” ( FISCHER38, 2006, p.22, apud ROCHA; SANTOS, 2012, p. 79 ). Mais do que uma “estratégia administrativa”, a gestão social é uma ação política contra-hegemônica frente às formas tradicionais de gestão. Entretanto, promover a gestão social em estruturas complexas de Estado e sociedade, emoldurados por profundos e históricos problemas sociais é naturalmente difícil quando em sua dimensão territorial novos atores emergem com seus interesses particulares. Essas políticas, tratadas sob o paradigma da benesse, da concessão, “como dotações exclusivas do Estado [...] e, portanto, dissociadas do plano de direitos subjetivos de seus destinatários” só agravam o processo de exclusão social ( PIRES, 2010, p. 186 ). Tais circunstâncias demonstram a existência de uma sociedade segmentada em seus interesses dificultando a construção e o fortalecimento das políticas públicas, a universalização de direitos, a oferta democrática de serviços e a formação de 37 PAES DE PAULA, A.P.Administração pública brasileira entre o gerencialismo e a gestão social. Revista de Administração de Empresas, São Paulo, v. 45, n. 1, p. 36-49, jan./mar. 2005. 38 FISHCER, T.; MELO, V.P. Programa de desenvolvimento e gestão social: uma construção coletiva. In: FISHCER,T. et al.( Org). Gestão do desenvolvimento territorial e residência social: casos para ensino. Salvador: EDUFBA, CIAGS/UFBA, 2006. P. 13-41. 62 “comunidades cívicas” 39 . Para ajustar essa engrenagem, Estado, sociedade civil, iniciativa privada e mercado devem se reordenar e buscar pontos de convergência para um trabalho conjunto na construção da cidadania e fortalecimento das ações que se destinem ao bem coletivo. Boschi (1999), em consonância com o que diz Putnam, afirma Práticas institucionalizadas de ‘bons governos’ são geralmente identificadas com o estabelecimento de relações sociais horizontais que tenderiam a fortalecer a sociedade civil frente ao Estado. [...]. Relações verticais, assimétricas e hierárquicas dariam lugar à instauração de práticas autoritárias e de relações sociais predatórias, por sua vez impeditivas da geração de políticas conducentes ao desenvolvimento. [...] com a consequente utilização de bens públicos como moeda de troca para se auferirem benefícios privados ( BOSCHI, 1999, p. 656 ) Carvalho (2014) complementa essas colocações dizendo que a ação pública para ser efetiva deve ser sinérgica e não setorial, em razão, inclusive, da heterogeneidade e complexidade dos fenômenos sociais, demandando para tal o “ amadurecimento das instituições” (SILVA, 2012, p. 22-23). Segundo Carvalho (2014, p. 53) fortalecer a gestão compartilhada pressupõe consolidar um novo padrão de articulação e complementaridade no qual a heterogeneidade de grupos sociais derive na construção de um novo compromisso social, engajando a todos de forma democrática, participativa e proativa. É relevante a atuação das organizações sociais no território no contexto das políticas públicas, o que revela a “incompletude do Estado e a necessidade de democratização da ação pública” (CARVALHO, 2014, p. 44). Para a autora, conjugar o papel do Estado com a participação da sociedade nas decisões públicas das cidades contemporâneas é o grande desafio. Segundo ela, “o fortalecimento da intelligentsia (grifo da autora) do fazer público, do ponto de vista da gestão, terá de apostar na consolidação dos mecanismos de integração, articulação, negociação e participação da sociedade” ( CARVALHO, 2014, p.44). De acordo com Putnam ( 2006) “numa comunidade cívica, a cidadania se caracteriza primeiramente pela participação nos negócios públicos [...]. Implica direitos e deveres iguais para todos. Tal comunidade se mantém unida por relações horizontais de reciprocidade e cooperação, e não por relações verticais de autoridade e dependência. Os cidadãos interagem como iguais, e não como patronos e clientes ou como governantes e requerentes. Nessa comunidade, [...] os líderes devem ser e considerar-se responsáveis por seus concidadãos” (PUTNAM, 2006, p. 101-102). 39 63 Putnam ( 2006 ) afirma que “as associações civis contribuem para a eficácia e a estabilidade do governo democrático” por disseminar “hábitos de cooperação, solidariedade e espírito público”. Segundo o autor, “a participação em organizações cívicas desenvolve [...] o senso de responsabilidade comum para com os empreendimentos coletivos” ( PUTNAM, 2006, 103-104 ). Constituir o vigor de um governo democrático e representativo e a vitalidade política de uma comunidade estaria por assim dizer diretamente relacionado a uma propriedade sócio-organizativa endógena, capaz de surgir no interior do próprio tecido social de forma pragmática a partir das condições locais instaladas e de visões e problemas compartilhados. Os cidadãos aqui representados adquirem a faculdade de, não só participar de, mas de participar em organizações que se constituem para gerir de forma organizada as demandas sociais. Essa estrutura de engajamento fortalece os propósitos e projetos comunitários e o próprio Estado. Trata-se de reconhecer as “novas potencialidades relacionadas à ampliação dos atores sociais envolvidos na gestão da coisa pública” (FREY, 2007, p.138) e a necessidade de promover a intersetorialidade e a articulação desses atores em favor da melhoria da capacidade de governar do Estado em prol do bem comum. Essa orientação inspira a adequação de um modelo de gestão pública de caráter mais gerencialista40 por uma gestão “democrático-participativa” (FREY, 1996, apud FREY, 2007, p. 138 ) no sentido de “mobilizar todo conhecimento disponível na sociedade em benefício da melhoria da performance administrativa e da democratização dos processos decisórios locais” ( FREY, 2007, p.138 ) e consolidar a gestão social. Em meio às diversas relações que se estabelecem entre os diferentes atores sociais; em meio aos “projetos societários de desenvolvimento em disputa” ( MAIA, 2005, p.2) que Maia polariza no “desenvolvimento do capital e desenvolvimento da cidadania” (MAIA, 2005, p.2 ), representando interesses públicos ou privados, individuais ou coletivos, torna-se exigência incondicional à criação de mecanismos estratégias, 40 Baseado no modelo gerencial que incorpora na administração pública o princípio da eficiência voltada a resultados e apadrinhado pelo conceito da Nova Gestão Pública ( New Public Management – NGP ) que propunha uma “reforma geral do Estado” ( PAES DE PAULA, 2005, apud FERREIRA NETO, 2012, p. 90 ) em razão das crises globais da década de 1970 que abalaram o processo de construção do Estado de Bem Estar Social. O modelo foi adotado no Brasil dentro do que se chamou “administração pública gerencial” ( BRESSER-PEREIRA, 1998, apud FERREIR NETO, 2012, p. 90 ) 64 ferramentas, metodologias ou instrumentos que sustentem os processos de condução desses interesses e que constitui em si a gestão social. Nessa estrutura composta de interesses hegemônicos e contra-hegemônicos, a gestão social como “processo social de desenvolvimento ou conjunto de processos sociais, viabilizador do desenvolvimento societário” (MAIA, 2005, p.14, grifo da autora) pode assumir o viés da “gestão do social” - como soma das ações em torno das políticas públicas e sociais - ou “gestão contra o social” (MAIA, 2005, p. 2-3). Sob a perspectiva gerencialista, que coloca o social como meio e o capital como fim (como nas ações de responsabilidade social), a gestão social, que deve ser “determinada pela solidariedade” (TENÓRIO, 2005, p.103), assume o caráter de gestão contra o social (MAIA, 2005). Enquanto aquela perspectiva gerencialista exclui do processo, ou do conjunto de processos, pessoas e comunidades, que deveriam, muito antes, ser tomadas como agentes da ação, a gestão social que se ancora na solidariedade, ao contrário, prima “pela concordância, em que o outro deve ser incluído” ( TENÓRIO, 2005, p. 103 ). O contexto desse estudo incorpora portanto o conceito de gestão social proposto por Maia (2005), para quem gestão social é então [...] um conjunto de processos sociais com potencial viabilizador do desenvolvimento societário emancipatório e transformador. É fundada nos valores, práticas e formação da democracia e da cidadania, em vista do enfrentamento às expressões da questão social, da garantia dos direitos humanos universais e da afirmação dos interesses e espaços públicos como padrões de uma nova civilidade. Construção realizada em pactuação democrática, nos âmbitos local, nacional e mundial; entre os agentes das esferas da sociedade civil, sociedade política e da economia, com efetiva participação dos cidadãos historicamente excluídos dos processos de distribuição das riquezas e do poder. Como o objeto de estudo aqui apresentado por si só já pressupõe os diversos segmentos da sociedade como partícipes do processo de implementação de programas e ações do governo, trazendo o setor privado representado, por exemplo, pelas grandes construtoras e incorporadoras, os especuladores imobiliários e latifundiários desejosos de desmembrar suas terras para implantação dos empreendimentos habitacionais e assim se beneficiarem da extensão da infraestrutura até suas propriedades, os cartórios que não abrem mão de suas 65 estruturas monopolizantes, o setor público, a sociedade e comunidades destinatárias das intervenções, é conveniente trabalhar também com o conceito de gestão social proposto por Tenório (2005) que a entende como “processo gerencial dialógico no qual a autoridade decisória é compartilhada entre os participantes da ação” (TENÓRIO, 2005, P. 102 ), pois nessa mesma concepção, o autor considera o ‘social’ que adjetiva a gestão como espaço de diálogo e interação “ sem nenhum tipo de coação” e ressalta o coletivo como centro do processo. Diante da “centralidade do mercado na gestão da vida social” (FERREIRA NETO, 2012, p. 89 ), e considerando que ao Estado cabe regular, normatizar e cuidar do interesse público, e compreendendo que “entre a administração pública e a cidadania não há um contrato comercial com base individual”, mas “um contrato social e político de base coletiva” (FERREIRA NETO, 2012, p. 97) é do Estado a incumbência de se organizar para que a gestão social genuinamente aconteça e se consolide. E nesse sentido é preciso que ele consiga aliar “resolutividade” às suas práticas gerenciais viabilizando o exercício do controle social por meio de canais efetivos de participação direta (FERREIRA NETO, 2012). Ao discorrer sobre governança urbana e participação pública, Frey ( 2007 ) traz uma colocação bastante interessante e complementar ao tema que diz: “Governar tornase um processo interativo porque nenhum ator detém sozinho o conhecimento e a capacidade de recursos para resolver problemas unilateralmente” (STOKER, 2000, p. 9341, apud FREY, 2007, p.138 ) e complementa com Kickert ( 1999 ): “O governo é apenas um entre muitos influentes atores sociais que estão envolvidos na formulação e implementação de políticas públicas” (KICKERT et al.42, 1999, p.5, apud FREY, 2007, p.138 ). Assim, permeiam entre si os conceitos de gestão social, governança e governabilidade e é tênue a linha que separa conceitualmente um do outro. Rocha e Santos ( 2012 ) afirmam que 41 Stoker, g. 2000. Urban political science and the challenge of urban governance. In J.Pierre (Ed.). Debating Governance: authorit, steering and democracy (pp.91-109). New York:Oxford university Press. 42 Kickert, W. J. M., Klijn, E. 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A gestão social resgata o processo da gestão coletiva e democrática deixada como herança pela educação popular idealizada por educadores da geração dos anos de 1960 e 1970 e deve ser entendida como um processo educativo. [...] A gestão social supõe posicionamento político quanto à sua finalidade, ‘ a favor de quem e do quê ( ROCHA;SANTOS, 2012, pp.75-77 ). Dessa maneira, os servidores e gestores públicos, a que Carvalho (2014) chama de “atores internos” e os grupos da sociedade civil, que para essa autora são os “atores externos”, devem agir de modo conciliador buscando “fortalecer e construir novas relações entre Estado e sociedade civil para recuperar a confiança social perdida e fortalecer a dimensão da participação” (CARVALHO, 2014, p. 51) instituindo assim modelos de governança e governabilidade para organizar e gerir os interesses coletivos. 1.4 Considerações finais Vimos que o SNHIS instituído em junho de 2005 pelo Ministério das Cidades, por intermédio da Lei 11.124, criou mecanismos de governança e governabilidade na implementação da política de provisão habitacional para a população de menor renda e delegou às administrações públicas municipais uma corresponsabilidade no processo de implementação dos programas imputando-lhes atribuições para uma gestão compartilhada. As prefeituras ganharam papel central na articulação com o Governo Federal e interlocução entre os atores tendo que assumir um protagonismo na aplicação dos recursos destinados à execução das intervenções e na implementação da Política Nacional de Habitação (BRASIL, 2005). A constituição da SNHIS e da PNH foi um passo importante na direção de uma política urbana que contemple os princípios da função social da propriedade estabelecido na Constituição Federal e no Estatuto da Cidade e que abarque o estímulo à participação e ao compartilhamento de ações, a intersetorialidade e uma “atuação coordenada e 67 articulada entre os entes federativos” (BONDUKI; ROSSETO; GHUILLARD, 2006). Entretanto, a implementação da PNH depende de ações voltadas ao desenvolvimento institucional, pois as prefeituras continuam não dispondo de capacidade governativa para a consolidação de suas premissas. Tomamos as palavras de Milton Santos para ratificar tal postulado A luta pela cidadania não se esgota na confecção de uma lei ou da Constituição porque a lei é apenas uma concreção, um momento finito de um debate filosófico sempre inacabado. Assim como o indivíduo deve estar sempre vigiando a si mesmo para não se enredar pela alienação circundante, assim o cidadão, a partir das conquistas obtidas tem de permanecer alerta para garantir e ampliar sua cidadania (SANTOS, 2001, p. 104). Se os mecanismos de governança estão dados, prescritos e tratados, resta-nos pensar que o que esteja faltando sejam então os mecanismos de governabilidade e gestão social que façam permear pelo campo da exequibilidade aquilo que a norma guardou para si. E nesse sentido, dado que necessitamos de, para isso, promover espaços de vocalização, estimular a participação deliberativa, consciente, cívica, resta ao trabalho social um papel a desempenhar. Assim, o trabalho social que se deseja ver executado está exatamente centrado na preparação das comunidades para o exercício das virtudes cívicas ou no despertar das virtudes das comunidades, para que a reciprocidade, a interação, a solidariedade, a confiança mútua e a cooperação sejam resultantes de relações horizontalizadas e baseadas no princípio da igualdade política (PUTNAM, 2006). Considera-se como princípio desta dissertação que o trabalho social pode se constituir em uma oportunidade de investir nas consciências individual e coletiva (virtude cívica) como ingredientes na construção da ‘força social’ (LEFEBVRE, 1991, p. 116) necessária à transformação da realidade. Enxergar nos beneficiários dos programas e políticas públicas o potencial agente de transformação que reside em cada um, fazendo-os migrar do cômodo papel de pacientes suplicantes ou destinatários das ações e “favores”, para o lugar de protagonistas e coparticipantes da ação, poderá fazer da sustentabilidade das intervenções a consequência e não a meta a ser alcançada. Neste sentido, o trabalho social deve ser colocado não somente como mediador entre a norma e o concreto, mas como mecanismo que irá investir nas atitudes que 68 precedem a norma, ou seja, na preparação dos indivíduos para o cumprimento de acordos tácitos que viabilizem a superação dos ‘familismos amorais’43 ( BANFIELD, 1958, p. 85 apud PUTNAM, 2006, p. 102 ), que degeneram a própria lei ou norma. E por esse caminho o trabalho social toma para si também a ação naquilo que está formalmente expresso, normatizado. Mas objetiva-se pensar também num trabalho social que descubra a arte, que invista na cultura, na criatividade e potencialidade ao mesmo tempo latente, ao mesmo tempo oculta que existe nas comunidades mas que não encontra espaço de manifestação. Esse trabalho deve servir à sede de vocalização das pessoas em relação a expectativas, anseios, demandas ou simplesmente sentimentos. Em suas empreitadas, este trabalho social precisa encarregar-se de despertar nos indivíduos a compreensão daquilo que não precisa ser dito, mas que está implícito, subentendido no cotidiano das pessoas, dos núcleos familiares ou da comunidade de onde deve emergir a atitude cívica que os leve para além dos enunciados da lei. É essa a mediação que se espera do trabalho social na implementação das políticas públicas, pois o agir no tácito transcende o explícito, se encarrega dele. Segundo Carvalho (2014, p. 7), “toda política pública que se comprometa com a busca da equidade e enfrentamento das gritantes desigualdades sociais” deve ter um trabalho social como mediador capaz de gerar “uma reflexão sobre a gestão social (grifo da autora) com seus novos arranjos e especificidades próprios à condução da política pública em sociedades que são cada vez mais complexas” (CARVALHO, 2014). Descomplexificar a sociedade começa por reverter o processo de postergação do agir no e para o coletivo, extirpando das relações a acomodação de delegar ao outro a obrigação cívica sem ver-se no compromisso de também ter parte nela. Assim posto, conjuga-se o trabalho social como um conjunto de atividades psicopedagógicas e socioeducativas com uma concepção de práxis social como ‘ação política’ para conhecimento e transformação de uma dada realidade de forma dialética 43 Falta de virtude cívica existente na intenção de “maximizar a vantagem material e imediata da família nuclear”; supondo “que todos os outros agirão da mesma forma” ( BANFIELD, 1958, p. 85 apud PUTNAM, 2006, p. 102 ). A questão é abordada no segundo capítulo desta dissertação. 69 e dialógica (QUARESMA, 2012, p. 185) e permanentemente crítica, voltada à formação de cidadãos virtuosos e de estruturas sólidas de reciprocidade e respeito mútuo e viabilizador da gestão social, governança e governabilidade. Referências ABRAMOVAY, R. Discutiendo la dimensión local. Las coordenadas del debate. In: Descentralizacion y Desarrollo Local. Cuadernos del CLAEH. Revista Uruguaya de Ciencias Sociales, n. 48, 2 série, Ano 13, n. 1-2, pp.7-16, 1988. AFONSO, M.L.M. 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MITRE, Maristela Jorge1 ARAÚJO, Wânia Maria de2 RESUMO Este artigo apresenta os resultados da pesquisa realizada no Mestrado em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local do Programa de Pós-Graduação do Centro Universitário UNA referente ao trabalho social presente nos programas de habitação de interesse social da Política Nacional de Habitação regido pela Portaria 21/2014 do Ministério das Cidades. Concebido como um conjunto de ações para o desenvolvimento socioterritorial, o trabalho social objetiva o fomento à participação e à mobilização social, o apoio à inclusão produtiva, a articulação de políticas, a manutenção, apropriação e a sustentabilidade dos bens e serviços disponibilizados. Diante de tão complexas atribuições e a partir dos dados coletados na pesquisa a presente discussão busca fazer uma abordagem crítica em torno das metodologias de intervenção adotadas pelos técnicos sociais responsáveis pela execução do trabalho social para a consecução dos seus objetivos bem como às condições de realização do trabalho social nos programas de habitação de interesse social. Os dados oriundos da pesquisa foram distribuídos em 20 categorias de análise para identificar na prática dos técnicos sociais as dificuldades e deficiências da atuação profissional e a compreensão acerca das potencialidades do trabalho social, para proposição de melhorias. O levantamento de dados foi feito por meio de questionários autoaplicados, contendo questões abertas e fechadas, direcionados aos técnicos de prefeituras e técnicos credenciados pela Caixa Econômica Federal para prestação de serviços. Para análise dos fatos foi considerada a ação de sujeitos estruturada de forma dinâmica e relacional e o contexto social, jurídico, político, econômico e ambiental que envolve a questão urbana a partir dos princípios da fenomenologia e da dialética. Palavras-chave: Metodologias de intervenção, Trabalho Social, Projeto Social Desenvolvimento Urbano. Habitação de Interesse Social. 78 ABSTRACT This dissertation presents the results of the research carried out in the Master course in Social Management, Education and Local Development of the Post-graduation Program of UNA University Centre, carried out in the context of social work in social housing interest programs from the National Housing Policy ruled by the 21/2014 Therm of the Cities Ministry. The research looked for answers to the following questions: To what extent do the intervention methodologies adopted by the social work professionals allow the materialization of their guidelines, premises, and objectives? What are the limits and potentialities of social work as an enabler instrument of the social management? Conceived as a set of actions for the socialterritorial development, the social work aims to promote the participation and social mobilization, the support to productive inclusion, the articulation of policies, the maintenance, appropriation and sustainability of the riches and the available services. Facing so many complex assignments, and from the data collected in the research, the current discussion aims to provide a critical approach around the intervention methodologies adopted by the social technicians responsible for the execution of social work for accomplishing their objectives as well as the conditions for the achievement of social work in the programs of social housing interest. The data from the research, which also included literature and documentary review, were distributed in 20 analysis categories, all of them intending to identify in the practice of the social technicians the difficulties and the weaknesses in the professional performance, and the comprehension about the potentialities of social work, for the proposal of improvements. The data survey was done through self-administered questionnaires, containing open and close questions, directed to the municipalities technicians, and authorized technicians by Caixa Econômica Federal, as public bank, for the provision of services. For the analysis of the facts, it was considered the action of subjects structured in a dynamic and relational way, and the social, legal, political, economic, and environmental context which involves the urban issue from the principles of the phenomenology and dialectics adopting the qualitative paradigm. As a result from the research, there was the elaboration of a Methodological Guideline to the Social Work which doesn’t intend to plaster the social doing, mainly because they are the proponents that arbitrate the methodologies to be used in projects, but support the professionals in the difficult task of thinking and doing technical projects in dynamic and complex realities. Key-words: Intervention Methodologies. Social Work. Social Project. Urban Development. Social Housing Interest. Social Intervention. 79 2.1 INTRODUÇÃO O objetivo deste artigo, resultante da pesquisa realizada no Mestrado em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local do Programa de Pós-Graduação do Centro Universitário UNA, é construir uma reflexão em torno da prática dos profissionais do trabalho social e das metodologias de intervenção adotadas nos programas de habitação de interesse social. Buscou-se responder essencialmente às seguintes perguntas: até que ponto as metodologias de intervenção adotadas pelos profissionais do trabalho social permitem a materialização das diretrizes, premissas e objetivos prescritos nas normativas dos programas de habitação de interesse social? Quais os limites e potencialidades do trabalho social como instrumento de mediação entre as normas, as premissas e a ação? Como os profissionais do trabalho social conduzem a intervenção social no âmbito dos programas de habitação de interesse social? Os entes públicos garantem mecanismos de governança para a realização sistemática do trabalho social? As atividades que compõem o escopo dos instrumentos de execução do trabalho social devem contemplar “os temas da mobilização e organização comunitária, educação sanitária e ambiental e geração de trabalho e renda dispostos no Decreto 7.499, de 16 de Junho de 2011” ( BRASIL, 2014, p.30 ). Nesse sentido, a Portaria 21/2014 que regulamenta o trabalho social estabeleceu quatro eixos distintos de atuação que devem obrigatoriamente ser observados pelo trabalho social respeitando as características da intervenção indicadas no diagnóstico. Esses eixos são respectivamente: i) Mobilização, organização e fortalecimento social: voltado à autonomia, ao protagonismo social, bem como ao fortalecimento, a constituição e a formalização de novas representações e novos canais de participação e controle social; ii) Acompanhamento e gestão social da intervenção: voltado ao acompanhamento das obras e gestão tempestiva dos problemas construtivos junto às construtoras, com a participação representativa dos beneficiários; iii) Educação ambiental e patrimonial: voltado à percepção crítica e mudanças de atitude em relação ao meio ambiente, ao patrimônio e à vida saudável; iv) Desenvolvimento Socioeconômico: visando à inclusão produtiva, econômica e social, de forma a promover o incremento da renda familiar para um processo de desenvolvimento socioterritorial de médio e longo prazo ( BRASIL, 2014, p. 30). 80 De acordo com suas diretrizes, o trabalho social deve ter enfoque multidisciplinar e intersetorial, deve ser realizado em sincronia com a execução das obras viabilizando a disseminação permanentes de informações “sendo a transparência um elemento essencial na construção do processo participativo” (BRASIL, 2009, p.4). Além disso, deve promover a integração das políticas sociais de forma a contribuir para o acesso aos serviços essenciais como saúde, educação, esporte, lazer, cultura, assistência social, segurança alimentar, segurança pública, etc. De acordo com a portaria 21/2014 trabalho social compreende [...] um conjunto de estratégias, processos e ações, realizado a partir de estudos diagnósticos integrados e participativos do território, compreendendo as dimensões social, econômica, produtiva, ambiental e político-institucional do território e da população beneficiária, além das características da intervenção, visando promover o exercício da participação e a inserção social dessas famílias, em articulação com as demais políticas públicas, contribuindo para a melhoria da sua qualidade de vida e para a sustentabilidade dos bens, equipamentos e serviços implantados (BRASIL, 2014, p.5). Assim concebido, o trabalho social parte das premissas de que a participação dos beneficiários nos processos de planejamento e execução das intervenções e nas ações do trabalho social promove uma melhor adequação dos seus produtos e resultados às necessidades e demandas dos grupos envolvidos dando suporte à sustentabilidade das intervenções. Entende-se que a participação comunitária gera comprometimento e apropriação para um melhor uso dos bens e serviços disponibilizados, abre espaço para o exercício dos direitos e deveres para a consolidação dos princípios da cidadania ativa e do controle social. Nesse sentido, o trabalho social acabaria por se tornar um viabilizador da gestão social. Compreendendo quatro marcos temporais distintos (ver tabela 1), o trabalho social deve começar antes mesmo do início das obras com o processo de seleção da demanda habitacional e disseminação das informações preliminares sobre, entre outras coisas, o programa, requisitos de participação e seleção, procedimentos de destinação das unidades habitacionais e condições contratuais, estendendo-se por todo o período de obras e pós-obras. Para cada etapa está previsto um instrumento próprio de planejamento e execução das atividades de acordo com o Capítulo III da 81 portaria. O Projeto de Trabalho Social Preliminar (PTS-P) deve ser apresentado até quatro meses após o início das obras ou quando estas atingirem o percentual de 15%, com previsão de execução em doze meses ou até quando as obras atingirem o percentual de 65%, o que ocorrer primeiro. Ao atingir este percentual de obras apresenta-se o Projeto de Trabalho Social (PTS), que, elaborado durante a execução do PTS-P, deverá ter prazo de oito meses antes da assinatura dos contratos com os beneficiários. E, por último, o Plano de Desenvolvimento Socioterritorial (PDST) que deve ser apresentado até o final das obras e iniciado logo após a mudança das famílias para os imóveis, com duração de 12 meses. O PDST tem por objetivo o desenvolvimento econômico e a integração socioterritorial dos beneficiários. Dada sua relação com o território, o PDST necessita de articulações intersetoriais, cujos mecanismos devem ser garantidos explicitamente no PTS ( idem ). Tabela 1 Marcos temporais e instrumentos de execução do trabalho social Fases Marcos Temporais Instrumento de Planejamento Atividades 1. Pré-cotratação 2. Pré-obras 3. Obras 4. Pós-obra Da apresentação e seleção de propostas até a assinatura do instrumento de repasse/ financiamento. Da assinatura do instrumento de repasse/ financiamento até o início das obras. Do início das obras até a conclusão/ mudança das famílias. Da conclusão das obras ou mudança das famílias, pelo período de 6 a 12 meses. PTS-P - Projeto Social Preliminar PTS – Projeto de Trabalho Social PTS ou PDST (PDST-Plano de Desenvolvimento Socioterritorial ) PTS e PDST - Execução das ações do PTS para essa fase. - Execução das ações do PTS. - Elaboração e aprovação do PDST. - Eventual início da execução do PDST. - Execução do PTS e PDST. - Execução das ações para a elaboração e aprovação do PTS. Fonte: Portaria 21/2014 do Ministério das Cidades Os questionamentos que deram origem à pesquisa partiram do princípio de que o trabalho social traz em si um grande potencial de mediar a prescrição da norma que regulamenta os programas de habitação na concretização de um protagonismo social 82 humanizador das relações e na implementação de ações que resultem no despertar dos sentidos de pertencer à comunidade, ao bairro, à cidade nas populações destinatárias dos programas e na consolidação das próprias políticas. Como afirma Carvalho (2014, p. 17-18) [...] a política social como ação do Estado tem intencionalidades, diretrizes, planos, prevendo desenhos para a implementação das metas e resultados a serem perseguidos. Mas ela depende de processos que a concretizem no território, produzam adesão e participação dos cidadãos. A essa ação, chamamos de trabalho social. Acredita-se que os projetos sociais podem se tornar mais efetivos partir da adequação das metodologias de intervenção social que, adotadas de maneira criteriosa, permitem a realização de um trabalho social consistente e desafiador, fazendo cumprir suas diretrizes normativas de forma menos tutelar, unilateral e assistencialista e menos instrumental e mais interacional e inovadora. Para isso é preciso desenvolver competências e habilidades, instituir e adequar as metodologias de execução e monitoramento apropriadas, aprimorar os instrumentos e mecanismos de comunicação, preparar os profissionais para a sua aplicação na busca do protagonismo social e da autonomia nas comunidades envolvidas e promover o desenvolvimento institucional dos Entes Públicos para o incremento de sua capacidade governativa e consequentemente para a efetivação das políticas públicas e sociais. De acordo com Maria do Carmo Brant de Carvalho as novas gerações de trabalhadores sociais encontram-se pouco seguras para o agir competente na questão social tal qual se apresenta na sociedade complexa em que vivemos. [...] há uma baixa competência dos trabalhadores sociais em mover processos que produzam mudanças substantivas, emancipação, participação [...] (CARVALHO, 2014, p.17). Como fruto das observações recolhidas ao longo da prática profissional da autora deste estudo e da percepção crítica acerca da maneira como o trabalho social é visto, proposto e desenvolvido junto aos empreendimentos de habitação de interesse social, entende-se que a execução desse trabalho social ainda padece dos seguintes agravantes que, por sua vez, de alguma forma, encontram-se abordados na literatura que trata da questão urbana e social: 83 a) implantação e replicação de empreendimentos padrão, sem inovações, sem áreas de convívio, sem áreas verdes, em regiões destituídas dos serviços e equipamentos públicos, distantes dos centros geradores de renda e trabalho, desfocados das necessidades, expectativas e perfil das famílias beneficiárias; b) remanejamento e reassentamento de famílias sem as devidas e necessárias pactuações prévias sobre os impactos em suas vidas: desconsideração aos seus vínculos sociais e à prerrogativa do acesso à cidade, imposição da condição de habitar o não-lugar44; c) proposição de projetos e execução das obras à revelia das famílias beneficiárias, embora esteja prevista normativamente sua participação na concepção e acompanhamento das obras e da aplicação dos recursos; d) embaraço à sustentabilidade das intervenções no pós-obra e à viabilização das condicionalidades para a gestão social e o desenvolvimento local; e) deficiências na oferta e disponibilidade de equipamentos e serviços enfrentadas pelos beneficiários no pós-ocupação comprometendo os níveis de satisfação e apropriação por parte das famílias e descumprindo as diretrizes e premissas do Estatuto das Cidades e planos diretores; f) impactos negativos dos empreendimentos habitacionais de interesse social sobre o entorno, os quais são propostos e construídos sem a devida análise de viabilidade; g) tímida participação dos beneficiários nas atividades e ações e nítido esvaziamento dessa participação ao longo da execução do projeto e após a entrega das unidades habitacionais, extinguindo a representatividade do grupo e sua capacidade de mobilização e comprometendo a legitimidade das demandas; A partir do conceito de lugar como um “fenômeno da experiência humana” (RELPH, 1979, apud CARLOS, A.F.A; SOUZA, M.L, de; SPÓSITO, E.B (org), 2012, p. 100). Essas experiências definem o lugar como “histórico, relacional e identitário”. “Um espaço que não se pode definir de tal modo deve ser encarado então como um não lugar” (CARLOS, A.F.A; SOUZA, M.L, de; SPÓSITO, E.B (orgs), 2012). 44 84 h) reaplicação de projetos (social e construtivo) em toda e qualquer realidade, como matrizes pré-concebidas, sem verificação das especificidades, demandas e potencialidades de cada uma, sem pactuações prévias, sem participação e sem construção de conhecimento; i) execução de projetos sem registro e “benefícios das Lições Aprendidas” ( PFEIFFER, 2005, p.48 ) e sem a experimentação e consolidação de metodologias que possam se adequar ao tipo de intervenção que envolve os programas de habitação de interesse social; j) extensão do clientelismo e do patrimonialismo para além dos programas de transferência de renda a exemplo dos programas de provisão habitacional dificultando a gestão do déficit habitacional e a sustentabilidade das intervenções; k) fragilidade da governança e da governabilidade45; l) verticalização e periferização da moradia. Distanciamento das centralidades dos serviços, equipamentos e polos geradores de renda, sem garantia de constituição de outras centralidades; descumprimento da função social da propriedade ( Artigos 182 e 183 da Constituição Federal ). 2.2 O trabalho social no contexto dos programas de habitação de interesse social O Capítulo III da Portaria 21/2014, cuja aplicação é instruída pela Orientação Operacional 01/2014, é dedicado exclusivamente ao Programa Minha Casa Minha Vida implementado com recursos do Fundo de Arrendamento Residencial (FAR) 45 Governança como modus operandi do Estado (SANTOS, 1997) ou capacidade governativa ( World Bank, 1992:1, apud SANTOS, 1997) e governabilidade como a “capacidade conferida pela sociedade ao Estado para o exercício do poder, para governar e empreender as transformações necessárias” ( SILVA, 2012, p.17 ). Apreendese a governabilidade, portanto, resultante da gestão social e, como tal, essencial, não só para garantir que se promova a implantação e a universalização das políticas públicas, mas para que se instaure aptidões de gestão e avaliação contínua dessas políticas e consolide a participação. 85 destinado a municípios com mais de 50 mil habitantes, que caracterizando-se como programa de habitação de interesse social funda-se como objeto do presente estudo. A regulamentação em questão define as atribuições dos agentes envolvidos na implementação do programa ficando a Caixa Econômica Federal (CAIXA), como instituição financeira, responsável por prestar assistência técnica aos Entes Federados, as demais entidades responsáveis por executar o programa e aos profissionais do trabalho social, com a atribuição de acompanhar e monitorar a realização do Trabalho Social, assim como verificar a regular aplicação dos recursos financeiros, condicionando sua liberação ao cumprimento de metas previamente estabelecidas nos instrumentos de execução do trabalho social ( BRASIL, 2014 ). A regulamentação em questão imputa ao Ente Público 46 , na implementação do programa, a responsabilidade de, a partir de convênio específico assinado com o agente financeiro, elaborar e executar o projeto de trabalho social, definir a forma de execução do trabalho social, que pode ser com equipe própria ou contratada, “assegurar, na sua integralidade, a qualidade técnica dos projetos e da execução do trabalho social”[...], “articular e integrar políticas públicas em todas as fases do trabalho Social, de forma a promover a multidisciplinaridade, intersetorialidade e a sustentabilidade das intervenções, fomentando condições para o processo de desenvolvimento socioterritorial de médio e longo prazos, com a criação de arranjo institucional que possibilite a articulação de políticas públicas” ( BRASIL, 2014, p. 29). Cabe-lhe disponibilizar equipe multidisciplinar para o planejamento, execução e avaliação das ações devendo seus componentes comprovar experiência compatível com o escopo dos projetos. O coordenador, responsável técnico, dos trabalhos neste caso deve ser do quadro funcional da prefeitura e deve ter graduação preferencialmente em Serviço Social ou Sociologia, admitindo-se também graduação em Pedagogia e Psicologia, e prática profissional em processos participativos. Pode o Ente Público optar por realizar o trabalho social com equipe contratada, mas isso não o exime da responsabilidade de designar equipe de coordenação e acompanhamento dos trabalhos (BRASIL, 2014). 46 No contexto em questão, a administração pública do Distrito Federal, dos estados ou municípios responsáveis pela assinatura dos convênios para a execução das intervenções e realização do trabalho social 86 As famílias beneficiárias, por sua vez, cuja seleção é regulamentada pela Portaria 595/2013, do MCidades, também assumem responsabilidades específicas definidas na Portaria 21, entre elas, apropriar-se corretamente dos bens e serviços implantados pela intervenção, contribuindo para a manutenção e conservação do patrimônio gerado com investimentos públicos e cumprir as obrigações previstas em contrato, especialmente quanto à vedação de transferência ou alteração de uso e destinação. É prevista a participação financeira do beneficiário no Programa Minha Casa Minha Vida – FAR, uma vez que o programa se constitui na modalidade de alienação com parcelamento traduzida no financiamento, sem juros, para aquisição da unidade habitacional com subsídios do governo federal às famílias cuja renda não ultrapasse R$1600,00. O Programa Minha Casa Minha Vida, central nesse contexto, amarra-se em arcabouço legal que lhe assegura, na forma, mecanismos de governança. Há na regulamentação uma expectativa de transparência no processo de seleção da demanda depositada na determinação de uma definição conjunta dos critérios locais de seleção das famílias que devem ser somados aos critérios predefinidos pela norma. Espera-se uma participação ativa das equipes interdisciplinares na ação de definir as famílias beneficiárias, dos conselhos municipais e dos movimentos sociais, que devem ter ¼ dos assentos nos conselhos de habitação. Entretanto, diante do histórico caráter voluntarista presente na composição desses conselhos, do aspecto formal de sua composição, da essência patrimonialista que valoriza a cultura do favor, e do assistencialismo, essa transparência ao final torna-se frágil. A natureza de reduzir agudizações sem a presunção do direito impõe limites ao PMCMV na premissa da universalização da política habitacional. A esperada capacidade governativa dos municípios, a falta de intersetorialidade e interlocução entre os agentes envolvidos em sua implantação, bem como a falta de complementaridade das políticas, não permitem materializar muitos dos preceitos do programa. 87 Grandes empreendimentos, pequenas ilhas de privações. De serviços, equipamentos, lazer, cultura, espaço, privacidade, convívio, conforto, trabalho. Entre as modalidades do PMCMV encontra-se a produção de empreendimentos na tipologia de condomínio. Verticalizar as cidades tornou-se uma diretriz também para os municípios de pequeno e médio portes sob o argumento de que neles também não existem terras urbanizadas. Relega-se a grande massa da população despossuída a habitar o longínquo, distante das centralidades, que segundo Rolnik caracteriza o “urbanismo de risco” (ROLNIK, 2002, p.2). Confinar os beneficiários a esse modelo de habitação certamente não se constitui na melhor opção do ponto de vista da mobilidade urbana, do ponto de vista social, econômico, cultural. Na perspectiva da preservação do patrimônio, a verticalização da moradia para baixa renda requer a constituição de fundos de reserva para manutenções e conservação que não fazem parte dos hábitos das pessoas que compõem o público alvo. Por sua vez, o entendimento da coletividade sobre o compartilhamento de espaços coletivos e o viver em condomínios se embasam em uma outra noção, a da informalidade. O programa não dá, financia. O beneficiário então não ganha; adquire. Mas a compreensão dessa questão é mais complexa do que parecer. Deixar entender o contrário é melhor. Com efeito, sustenta-se o assistencialismo ao invés de dar sustentação aos cofres públicos para a superação do déficit habitacional no longo prazo. Mas por outro lado, não se quer entender, pois assim fica mais fácil se desobrigar com o encargo financeiro decorrente da aquisição. A inadimplência é o resultado e com ela a depreciação. Deprecia-se a própria vida e perpetua-se a alienação. Beneficiar-se de uma unidade habitacional do programa pode representar para muitas famílias enquadradas no público alvo uma oportunidade, ainda que a moradia não seja sua necessidade maior, mais imediata ou premente. Preterir outras famílias em piores condições muitas vezes não tem significado para algumas delas. O individualismo suplanta o espírito cívico e nesse sentido, beneficiários em certa proporção, se apropriam de uma colocação na fila de selecionados, favorecidos pela ausência de mecanismos de controle e da cultura do clientelismo e assistencialismo. 88 Ao ser contemplado, não se apropria do bem. Torna-o mercadoria, objeto de consumo. Cláusulas contratuais deixam de ter importância. Gestão e controle social se perdem nessa estrutura. Superação do déficit habitacional também. O civismo que reclama o direito, deveria também exercer o dever. E como diz Milton Santos A luta pela cidadania não se esgota na confecção de uma lei ou da Constituição porque a lei é apenas uma concreção, um momento finito de um debate filosófico sempre inacabado. Assim como o indivíduo deve estar sempre vigiando a si mesmo para não se enredar pela alienação circundante, assim o cidadão, a partir das conquistas obtidas tem de permanecer alerta para garantir e ampliar sua cidadania (SANTOS, 2001, p. 104). A sustentabilidade das intervenções tão aclamada pela norma não pode ser vista como meta, como objetivo, como algo que vem depois, mas como pressuposto, como algo que já nasce intrínseca, amarrada em uma estrutura de ética, compromisso, condições institucionais de torná-la pré-requisito e não uma expectativa remota, perdida num turbilhão de obstáculos a sua materialidade. Cumprir o que está previsto na lei, é sobretudo premissa, dever, não só do Estado, mas de todas as partes envolvidas. É diante desse cenário que o trabalho social se coloca como elemento estruturante dos programas de provisão habitacional da PNHIS. Recai sobre ele, portanto, uma grande responsabilidade, ao tempo em que se reveste de grande potencial. A acepção do termo potencial aqui deve ser literal, no sentido do que ainda se encontra em estado latente, como faculdade, uma possibilidade que necessita de outras variáveis. A governança, a governabilidade, o apoio institucional, logístico, operacional, político, a capacidade técnica, são as variáveis prementes. A prescrição do trabalho social como parte integrante e obrigatória nos programas de HIS, no contexto descrito, acaba por encerrar um caráter muito mais mitigador dos impactos, circunstâncias e agravantes, do que de propriamente intervir nas potencialidades. Nesse sentido, as expectativas nele depositadas, além de ultrapassar suas atuais e reais possibilidades, dadas as condições para a sua realização e o cenário em que se inscreve, desafiam as capacidades e competências locais constituídas, comprometendo seus resultados, perpetuando os problemas e estigmatizando o próprio trabalho social que, de forma cíclica, padece da falta de 89 métodos eficazes de gestão e execução. Faltam-lhe inovação e capacidade técnica, mas faltam-lhe antes, as condições necessárias para que as premissas ainda idílicas alcancem o exequível e factível. A opção, portanto, de se fazer uma abordagem em torno do trabalho social no Desenvolvimento Urbano, especificamente no que diz respeito à HIS, está posta em virtude das observações pessoais enquanto profissional da área que vem enfrentando as mais diversas frustrações em torno da ineficácia do trabalho social em se alinhar correta e satisfatoriamente, na prática, às suas diretrizes ao tempo em que padece de falta de reconhecimento, valorização e o apoio institucionais de que necessita e almeja. A pesquisa então realizada representou uma empreitada no sentido de se buscar descobrir as dificuldades e dilemas enfrentados pelos técnicos sociais na consecução dos objetivos do trabalho social nos programas de HIS, despertar para a necessidade de se criar condições para a sua efetividade, tanto pelo viés da capacitação, quanto do desenvolvimento da governança e da governabilidade. Nesse sentido, os questionamentos que recaem sobre a efetividade do trabalho social em relação ao que lhe é prescrito parte do pressuposto de que não somente a precária capacidade técnica dos profissionais dificulta a realização de um trabalho social consistente, mas a frágil governança e governabilidade também compromete sua realização. Além disso, postula-se que, assim como a gestão social, o exercício profissional dos técnicos do trabalho social, a governabilidade e a governança necessitam de um rompimento com a ação clientelista e assistencialista para dar lugar a uma “interação negociada” que despreze o caráter tecnoburocrático e instrumental em função da relação direta entre gestão e participação (TENÓRIO, 2004, p.1). Assim, a pesquisa teve como sujeitos dezoito profissionais do trabalho social, sendo cinco técnicos sociais dos municípios de Alfenas e Três Pontas, no sul de Minas Gerais e treze técnicos credenciados pela Caixa Econômica Federal ( CAIXA ) para prestação de serviços técnicos especializados na área do desenvolvimento urbano que atuam em Belo Horizonte e região metropolitana e em diversas cidades do Estado de Minas. 90 2.3 A metodologia da pesquisa Ao realizar sua investigação, o pesquisador lida com informações amplas, subjetivas e carregadas de símbolos e significados47 que oferecem uma gama de possibilidades de análise. O próprio pesquisador, ao embarcar numa pesquisa qualitativa, leva consigo sentimentos e valores que poderão interferir no processo de pesquisa e esbarra nos limites paradigmáticos que utiliza para entender seu objeto pesquisado em razão do que pensa, conhece ou pensa conhecer sobre a realidade (gnose) e da própria natureza da realidade. Nesse sentido, o ontológico e o morfológico podem conduzi-lo a uma compreensão ampla e menos profunda daquilo que quer investigar. Assim, nesse exercício de apreensão da realidade, considerando que os significados na pesquisa não são apenas social, material e historicamente dados, mas resultantes de uma interação do pesquisador com seu objeto no contexto de sua pesquisa e das próprias relações que se estabelecem no território-campo de sua investigação, tornase importante uma a aproximação da dialética com a fenomenologia como paradigma. Uma buscando o registro do vivido, o sentido histórico daquilo que se quer apreender, e a outra buscando conhecer sua essência, ouvir os sujeitos, conhecê-los para interpretá-los. Juntos, esses paradigmas podem ser complementares construindo o “vir-a-ser” do pesquisador e de seu objeto. Serpa (2006) em seu estudo sobre o trabalho de campo da geografia, que tem o território como ponto de intercessão com o presente debate, traz algumas considerações que respaldam a escolha do diálogo entre os paradigmas em questão em que [...] dialética e fenomenologia não se excluem [...]. Enquanto métodos podem funcionar como estratégias complementares, buscando-se sempre a construção da síntese sujeito-objeto, própria ao ato de conhecer, ora utilizando-se da história enquanto categoria de análise, ora buscando-se intencionalmente abstrair a historicidade dos fenômenos, visando à explicitação de sua “essência”. 47 Do ponto de vista da abordagem microssociológica do Interacionismo simbólico de George Herbert Mead (1862-1931) e Charles H. Cooley (1864-1929), que postula que a sociedade é constituída de pessoas que atuam em relação às outras pessoas e aos objetos em seu ambiente com base nos significados que essas pessoas e objetos têm para aquelas. Esses significados, por sua vez, surgem da interação que cada pessoa tem com as outras e são estabelecidos e modificados mediante um processo interpretativo. (...) Do ponto de vista metodológico, (...) como os símbolos e significados são forjados pelos atores, requer-se o conhecimento da natureza reflexiva dos sujeitos (GIL, A.C, 2008, pg. 23). 91 Trata-se de reconhecer que a própria relação da sociedade com seu espaço é dialética e assim voltar-se ao território, enxergar as interações e manifestações culturais que ali se estabelecem e perceber nele a sua própria dinâmica, as desigualdades existentes, as potencialidades latentes e “elementos aparentemente invisíveis, mas significativos, que dizem respeito aos valores, sentimentos, perspectivas que rodeiam as vidas das populações” (KOGA, 2012, p. 56). É o território o lugar dos sujeitos e é nele que se estabelece a condição de cidadania. Reafirmando tal postulado, Milton Santos assinala que “é impossível imaginar uma cidadania concreta que prescinda do componente territorial” (SANTOS, 2001, p.144). E Koga complementa Esse território que expande sua definição para além dos limites geográficos alcançando as gamas de relações nas suas formas objetivas e subjetivas, de vida individual e coletiva, literalmente ganha espaço à medida que se complexifica e faz a reflexão sobre a comunidade. Em contextos de fortes desigualdades sociais, de tendências à focalização cada vez mais presentes nas propostas de políticas sociais, o território representa uma forma de fazer valer as diferenças sociais, culturais que também deveriam ser consideradas nos desenhos das políticas públicas locais ( KOGA, 2012, p. 56). Nesse sentido, o objeto da pesquisa não foi recortado de forma objetiva e racional, restringindo-se o olhar às condições materiais do que lhe é dado a ver, mas analisado em um contexto ampliado considerando o lugar “como um fenômeno da experiência humana” (SERPA, 2012, p.99 ), os vários sujeitos envolvidos e suas relações, a realidade em que se inserem, com seus conflitos e contradições, e a necessidade do diálogo não só entre as diversas áreas e disciplinas que envolvem seu objeto, mas também entre os paradigmas definidos para a análise que consideram os sujeitos e o território, sua ação e sua história, suas relações e contradições, produções e reproduções. Ora o sujeito é visto como produto do espaço e de sua história, ora ele é abstraído de sua história, centrado em seu agir, entre o pensar e o viver em seu meio presente, constituído. Os procedimentos de coleta de dados para a presente pesquisa dividiram-se entre revisão bibliográfica e pesquisa documental em razão da natureza inter e multidisciplinar que rege o campo de interesse e a amplitude do objeto da pesquisa, considerando seu caráter institucional e sua relação com um programa do Governo Federal de abrangência nacional e com amplo arcabouço legal e normativo. As duas 92 formas de pesquisa, documental e bibliográfica, são semelhantes, porém com algumas distinções notadamente em relação à natureza das fontes. Pesquisa documental, de acordo com Gil (2008), é aquela por meio da qual o pesquisador utiliza-se de materiais que ainda não receberam um tratamento analítico, como arquivos de órgãos públicos e Instituições privadas, regulamentos, ofícios, etc. Lakatos e Marconi (2003) descrevem essa pesquisa como uma coleta de dados de documentos, constituindo o que se denomina de fontes primárias. Foram objeto da pesquisa documental os arquivos e publicações do MCidades, normas e leis entre elas a Lei 11.124/2005, que dispõe sobre o SNHIS, a Lei 11.977/2009, que dispõe sobre o Programa Minha Casa Minha vida, o Estatuto da Cidade, Lei 10.257/2001, e a Portaria 21/2014. A pesquisa bibliográfica, segundo Gil (2008), abrange o uso de documentos impressos para determinado público, como livros e artigos científicos. Para a realização da pesquisa em questão utilizou-se levantamento bibliográfico, por meio de livros, teses, artigos sobre o tema incluindo o material disponibilizado ao longo do Mestrado em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local, além da coleta de informações relativas ao objeto de estudo em jornais, revistas e pesquisa virtual em periódicos indexados. O critério de saturação foi utilizado com a suspensão dos questionários a partir da percepção de traços de redundância ou repetição nos dados levantados (FONTANELLA; RICAS.; TURATO, 2008 ); o que é esperado, pois, apesar do universo constituir-se de profissionais de diferentes formações na área social, com diferentes vínculos, que atuam em diferentes municípios e programas, e além da proposição de projetos seguir determinado roteiro com eixos de atuação e macroações predefinidos, essa atuação se desenvolve sob o mesmo rigor normativo e sob as mesmas orientações teórico e técnico-metodológicas advindas do Ministério das Cidades e da Caixa Econômica Federal, e mesmo da literatura que trata a questão urbana e suas implicações socioespaciais, econômicas e políticas. Pelo exposto e como pressuposto, foram utilizados como critérios de exclusão para a participação na pesquisa os técnicos sociais da prefeitura de Alfenas e Três Pontas 93 que não realizaram trabalho social em empreendimentos habitacionais de interesse social e os técnicos sociais credenciados48 pela Caixa Econômica Federal que não estiveram envolvidos em atividades de trabalho social em tais tipos de empreendimentos. Para realização da pesquisa empírica foram elaborados dois tipos de questionários semiestruturados. Um direcionado aos técnicos das prefeituras, que se constitui do Apêndice I e outro, que se constitui do Apêndice II, foi aplicado junto a treze credenciados da CAIXA. O primeiro foi aplicado junto a dois técnicos da Prefeitura do município de Alfenas e Três técnicos da Prefeitura de Três Pontas, ambas no Sul de Minas Gerais. Os dados oriundos da pesquisa foram distribuídos em 20 categorias de análise partindo da formação acadêmica e tempo de experiência dos profissionais, passando pela relação entre as formações acadêmicas e o preparo dos profissionais para atuação na área, dificuldades apresentadas na elaboração e execução dos projetos, metodologias adotas na execução do trabalho social, visão dos profissionais acerca do trabalho social, indo até sugestões de melhorias. Todas depositadas na intenção de identificar na prática desses profissionais as metodologias utilizadas nas intervenções de habitação de interesse social voltadas à participação e ao desenvolvimento sócio-territorial, as dificuldades e deficiências da atuação profissional e a compreensão acerca das potencialidades do trabalho social. 2.4 Coleta de dados e categorias de análise Explicar os fenômenos, dados e informações levantados em pesquisa não é um princípio ou a primazia do método qualitativo, portanto, cabe ao pesquisador primar pela compreensão de tudo o que buscar investigar ciente de que todo o conhecimento gerado a partir de sua investigação não se consagrará tampouco como verdade absoluta, infalível ou definitiva principalmente “numa ciência, onde o observador é da 48 Profissionais e empresas especializadas em coleta e análise de dados, elaboração e execução de projetos sociais e planos de intervenção, apoio técnico e consultoria especializada, contratados pela CAIXA ECONÔMICA FEDERAL por meio de editais específicos regidos pela Lei 8666/93, conforme Edital de Credenciamento nº 1447/2014 - CPL/GILOG/BH da Caixa Econômica Federal. 94 mesma natureza que o objeto, e o observador é, ele próprio, uma parte de sua observação” (LEVY-STRAUSS, 1975 apud DESLANDES; GOMES; MINAYO, 2012, p. )49. Assim, considerando o caráter descritivo da pesquisa e a utilização de método indutivo, característico da pesquisa qualitativa, a investigação não envolveu uma coleta de dados voltada à comprovação de teorias, mas adotou procedimentos interpretativos e exploratórios para desenvolvimento de uma teoria acerca do tema apresentado. Buscou-se uma compreensão maior dos símbolos e significados que cercam os erros e acertos, limites e possibilidades do trabalho social no desenvolvimento urbano. De acordo com Alves-Mazzotti; Gewandsznajder, (1998, p.170) Pesquisas qualitativas tipicamente geram um enorme volume de dados que precisam ser organizados e compreendidos. Isto se faz através de um processo continuado em que se procura identificar dimensões categorias, tendências, padrões, relações, desvendando-lhes o significado. Este é um processo complexo, não linear, que implica um trabalho [...] que se inicia já na fase exploratória e acompanha toda a investigação. À medida que os dados vão sendo coletados, o pesquisador vai [...] construindo interpretações e gerando novas questões e/ou aperfeiçoando as anteriores, o que, por sua vez, leva a buscar novos dados, complementares ou mais específicos, que testem suas interpretações [...]. Nesse sentido, todos os dados foram tabulados para sistematização das informações apuradas cuja análise foi norteada pelos pressupostos e pelo referencial teórico. Os dados foram organizados em vinte categorias de análise sobre as quais se tecem as considerações que seguem apresentadas no próximo tópico deste artigo. 2.4.1 CATEGORIA 1: Formação e experiência na área do desenvolvimento urbano/habitação Esta categoria teve o propósito de identificar a formação acadêmica e o tempo de experiência dos profissionais na área de desenvolvimento urbano uma vez que, por determinação do Ministério das Cidades, os profissionais que atuam como 49 LÉVY-STRAUSS, C. Aula inaugural. In ZALUAR, A ( Org.) Desvendando máscaras sociais. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1975, p. 211-244. 95 responsáveis técnicos nos projetos sociais atrelados ao desenvolvimento urbano devem ter experiência em processos participativos e graduação em nível superior, preferencialmente em Serviço Social ou Sociologia, mas também em pedagogia e psicologia ( BRASIL, 2014 ). Detectou-se que todos os sujeitos da pesquisa são graduados em uma dessas formações, sendo um deles ‘educador social’ e a maioria tem alguma especialização Lato Sensu na área de atuação. Entre os treze credenciados que participaram da pesquisa, somente seis possuem especialização. Dos dezoito respondentes, somente quatro, entre os credenciados, indicaram possuir mestrado. No âmbito das prefeituras a maioria dos profissionais possui entre cinco e dez anos de experiência na área de habitação e entre os credenciados a maioria está há mais de dez anos prestando serviços à CAIXA na área de desenvolvimento urbano em âmbito regional. 2.4.2 CATEGORIA 2: Relação entre formação e preparação para atuar na área Nesta categoria buscou-se identificar a contribuição da formação acadêmica para a atuação profissional dos técnicos na área objeto da pesquisa, a necessidade de especialização e a percepção dos técnicos em relação ao que lhes falta para uma atuação competente. Entre os cinco profissionais das prefeituras que responderam aos questionários, quatro consideram que os cursos de graduação e especialização lhes permitiram compreender a complexidade dos fenômenos sociais, mas que não adquiriram, pela graduação ou especialização, conhecimentos em gestão urbana e de projetos e consideram que os conhecimentos relacionados à questão urbana adquiridos na prática ou nos cursos realizados não os habilitam a elaborar, executar e gerenciar projetos sociais de habitação de interesse social. Para oito, dos treze credenciados CAIXA que responderam aos questionários, a formação e especialização proporcionaram à maioria a compreensão da complexidade dos fenômenos sociais e a formação necessária para a elaboração e execução de projetos sociais na área de desenvolvimento urbano, mas o 96 conhecimento em gestão urbana e gerenciamento dos projetos foi adquirido na prática. Todos os profissionais, tanto da prefeitura, quanto os credenciados, por unanimidade, acreditam que é preciso melhorar sua capacidade técnica, que “lhes falta algo” para sua atuação profissional. E, nesse sentido, os profissionais não se sentem aptos a elaborar projetos sociais e relatórios e realizar diagnósticos socioeconômicos e socioterritoriais. Seis credenciados e quatro técnicos municipais entenderam haver déficit de conhecimento específico relacionado ao gerenciamento de projetos e conhecimento acerca de métodos e técnicas de intervenção social/mediação em projetos de habitação. Dois dos cinco profissionais das prefeituras sentem falta de conhecimento teórico. Um desses profissionais expressou a necessidade do trabalho social em habitação romper com os métodos assistencialistas adotados nos programas de transferência de renda. Ressalta-se que onze, dos treze credenciados, em sua maioria com mais de 10 anos de experiência no desenvolvimento urbano, afirmaram que lhes faltam conhecimentos acerca de métodos e técnicas de intervenção social e mediação específicos para projetos em habitação. Sete credenciados mencionaram falta de conhecimento prático e experiência profissional seis mencionaram a falta de conhecimento específico relacionado a gerenciamento de projetos. Isso pode ser considerado um elemento que evidencia, portanto, a necessidade de especialização e capacitação dos técnicos sociais para a realização do trabalho social em habitação de interesse social ratificando a afirmação de Carvalho ( 2014 ) no sentido de que esses profissionais sentem-se inseguros para a atuação técnica. Ao afirmarem que os cursos de graduação não lhes proporcionaram conhecimentos acerca da questão urbana, que sentem falta de conhecimento teórico, apresentam um indicativo da necessidade de reforma ou maior enfoque da questão urbana com melhor orientação para a intervenção social nos currículos de graduação dos cursos das áreas de formação social e humana. Detectou-se também a partir das respostas a necessidade de preparação dos técnicos no quesito gerenciamento de projetos. 97 Carvalho, “como professora na universidade em cursos de Serviço Social e, ao mesmo tempo, como profissional na gestão pública” afirma Parece que as universidades, em sua missão formativa, nem sempre tem explicitado e instrumentalizado os jovens profissionais para as urgências éticas de busca concreta da transformação da qualidade de vida daqueles para os quais se destinam os programas sociais (CARVALHO, 2014, p. 17). Os dados da pesquisa aqui apresentados e as colocações de Carvalho nos mostram quão pertinente se faz nos perguntarmos: como os profissionais do trabalho social executam os projetos sociais nas intervenções do desenvolvimento urbano que, por sua natureza, exigem capacidade técnica e operacional para executar as políticas públicas e “incorporar uma agenda de desenvolvimento do território” (CARVALHO, 2014, p. 21 ). E assim chamar à reflexão os gestores dos programas e políticas públicas, as universidades, os Entes Federados, agentes financeiros e os próprios profissionais no sentido de que a capacitação para a realização do trabalho social não é somente necessária, é urgente para que possamos viabilizar a efetividade das políticas sociais e a consolidação da cidadania plena e ativa. Já a superação do clientelismo e do princípio da exceção, que privilegiam o favorecimento em lugar da universalização do direito e que segmentam o público-alvo das políticas públicas ( KOGA, 2011 ), cuja necessidade se fez presente tanto na fala dos técnicos das prefeituras, quanto na dos credenciados, depende fundamentalmente de uma profunda reformulação da cultura institucional no sentido de torná-la capaz de gerir os processos de tomada de decisão “em nível das partes em conflito” e não em nível dos elos ( DaMATTA, 1997, p.10750, apud KOGA, 2011, p. 43 ). Koga afirma que Na cultura institucional presente em organismos governamentais, nãogovernamentais, empresariais, partidários, eclesiais, de movimentos sociais... enfim, nas formas organizacionais mais diversas, é comum encontrarmos a prevalência do aspecto relacional sobre o aspecto racional. Trata-se de um enraizamento tão forte nas relações que chega a naturalizar práticas iníquas, do ponto de vista da cidadania e dos direitos humanos. Há que se reforçar, portanto, a governança e governabilidade numa agenda que defina prioridades, que compartilhe soluções de forma responsável, que reconheça e 50 DaMATTA, Roberto. A casa e a rua. 5.ed. Rio de Janeiro, Rocco, 1997. 98 institua a intersetorialidade como um princípio essencial na condução das políticas públicas e que instigue e valorize espaços de participação sustentados pela informação e conhecimento, pela técnica e pela mobilização social. 2.4.3 CATEGORIA 3: Logística e gestão do processo de elaboração e execução dos projetos A Categoria 3 centrou-se na análise da capacidade instalada das prefeituras e dos técnicos credenciados para a implementação do trabalho social. No âmbito das prefeituras pesquisadas, há assistentes sociais que trabalham na secretaria de assistência social e no Centro de Referência da Assistência Social (CRAS). Entre eles, somente um profissional fica com dedicação exclusiva aos projetos e contando com equipe de apoio. Esse profissional afirma trabalhar de forma interdisciplinar e intersetorial. Os demais acumulam atribuições da assistência social e do desenvolvimento urbano “prestando serviços” para o setor de habitação quando é necessário elaborar e executar projetos sociais. Os dados referentes a categoria 3 apresentam uma amostra da realidade presente nos municípios que enfrenta quadros deficitários de técnicos. Estes, por sua vez, acabam por acumular funções sob pena de se sobrecarregarem de atribuições e comprometer a qualidade dos serviços prestados à população. Apreende-se, portanto, um indicativo sobre a necessidade de se investir no desenvolvimento institucional dos municípios com incremento do quadro funcional e formação de equipes interdisciplinares para instauração de melhor capacidade governativa para atuar nas políticas públicas. Mas, sobretudo, é preciso inverter a lógica de que “o social subjaz à economia” ( KOGA, 2011, p. 19 ) e materializar o princípio de que é nas pessoas que se encontra o poder de transformação de qualquer realidade e é nelas que se deve investir. Quanto aos credenciados, cuja maioria é habilitada para atuar em âmbito regional, na elaboração e execução de projetos sociais fora do município-sede, identificou-se que o Responsável Técnico ou permanece com equipe própria no município da intervenção para elaboração e execução do projeto durante todas as etapas, desde o 99 diagnóstico até o pós-obra/pós-ocupação, ou subcontrata profissionais para a execução fazendo o acompanhamento da execução à distância e deslocando-se conforme a necessidade para acompanhamento no local. Somente quatro, dos treze representantes dos credenciados, permanecem com equipe própria no município da intervenção durante todas as etapas do projeto. Portanto, na maioria das vezes, quando as atividades são fora do município sede do credenciado, ocorre a subcontratação dos serviços nos municípios da intervenção. Tal logística acaba por demonstrar uma atuação polarizada na qual o responsável técnico se desdobra para realizar o acompanhamento das ações à distância, denotando muitas vezes o acompanhamento simultâneo de mais de um projeto em municípios diferentes. Pode-se inferir, pelas respostas dadas, que os responsáveis técnicos assinam os relatórios de execução dos projetos sem um acompanhamento sistemático das ações ou ainda um comprometimento da capacidade de avaliação periódica e gestão tempestiva de problemas e demandas geradas pela própria dinâmica dos projetos e consequentemente de sua efetividade; e ainda o comprometimento da capacidade de se fazer a representação institucional diante dos órgãos demandantes e de se garantir a intersetorialidade requerida. 2.4.4 CATEGORIA 4: Forma de atuação dos responsáveis técnicos credenciados na realização de suas atribuições Nesta categoria buscou-se avaliar a atuação dos responsáveis técnicos na execução dos projetos sociais visto que muitas vezes assumem a implementação simultânea de projetos Como responsáveis técnicos pela elaboração e execução dos projetos sociais, nove, dos treze credenciados CAIXA se encarregam de acompanhar a execução das ações fazendo pontos de controle com a equipe quando necessário, oito elaboram e executam os projetos, sete, mesmo não executando o projeto, vão a campo, participam de algumas atividades e verificam o cumprimento do escopo e do cronograma. Há entre os profissionais quatro que elaboram e assinam os projetos para uma equipe técnica constituída executá-los. Quanto aos relatórios das atividades, três dos respondentes disseram recebê-los da equipe técnica assinando- 100 os junto com a equipe. Curiosamente dois dos treze profissionais elaboram e assinam os relatórios das atividades que a equipe realizou. Essa questão, que não foi abordada com os técnicos das prefeituras, ratifica as ponderações da questão anterior relacionadas aos relatórios de execução. 2.4.5 CATEGORIA 5: Habilidades e experiência no desenvolvimento de ações Considerando que na execução de um projeto social está prevista a realização de ações complementares que passam pelo diagnóstico, avaliação e execução propriamente dita, buscou-se nesta categoria identificar onde se concentram as habilidades e experiências dos profissionais. Verificou-se que entre os técnicos municipais, três sentem-se mais aptos e possuem maior experiência em ações de mobilização comunitária e em processos participativos e quatro na seleção dos beneficiários. Dois deles têm maior experiência na em execução de projetos. Um técnico se sente apto a realizar diagnóstico e um se acha capaz de executar projetos sociais. Entre os credenciados que responderam aos questionários, sete se sentem aptos e possuem maior experiência em executar, acompanhar e avaliar projetos sociais, realizar atividades de mobilização e organização comunitária. Cinco se disseram aptos a elaborar projetos, três em gerenciar projetos sociais, cinco em trabalhar na seleção de beneficiários e elaboração de relatórios. Dos treze credenciados que participaram da pesquisa, três disseram possuir experiência em todas as atividades aqui mencionadas. Os técnicos das prefeituras possuem maior experiência em seleção de beneficiários e na realização de ações de mobilização e organização comunitária e processos participativos. Há indicação em menor incidência, de aptidão em execução de projetos sociais. Apenas um técnico se disse apto a realizar diagnóstico socioeconômico. A análise dos dados coletados indica a fragmentação do trabalho desempenhado pelos técnicos, fato que não deveria ocorrer, pois os programas de habitação de 101 interesse social são sociorrelacionais por essência e são implementados em territórios dotados não só de mazelas, mas de demandas, histórias, relações e potencialidades (GATTI51, 2004, apud CARVALHO, 2014 ). A execução polarizada e segmentada do trabalho social dificulta a consolidação da intersetorialidade, interlocução e simultaneidade que tanto se faz necessária nas intervenções do desenvolvimento urbano. Como afirma Carvalho (2014, p. 173) [...] para se avançar na ação é preciso romper com as fronteiras setoriais e disciplinares; tornou-se necessário um olhar, pensar e agir multidimensionais. [...]. A realidade está em movimento e se revela numa cadeia de múltiplas determinações e multicausalidades, de forma que intervir nela supõe agir na sua totalidade. Um outro ponto delicado na análise dos dados está no fato de que entre os técnicos das prefeituras apenas um deles possui experiência em diagnóstico socioeconômico e territorial sendo o diagnóstico o caminho necessário para romper a barreira entre a “intuição e a evidência” (PUTNAM, 2006, p. 28 ) na construção das percepções que balizam as ações de um bom projeto social. Como propor e realizar projetos sociais em determinado território sem conhecer sua dinâmica, suas relações, demandas, potencialidades com toda a complexidade que lhe é inerente? Como pensar a mudança sem conhecer seu ponto de partida? Desenvolver essa capacidade tornase portanto uma necessidade premente notadamente em razão das novas exigências da Portaria 21/2014. Carvalho (2014) afirma que [...] na formação do trabalhador social é absolutamente necessário um consistente e contínuo aprendizado voltado para a leitura e análise da conjuntura econômica, social, cultural, política, em seus desdobramentos reais no movimento de comunidades ou na sociedade em dado momento, considerando todos os atores sociais envolvidos (CARVALHO, 2014, p. 198). Não se espera que o profissional do trabalho social esteja preparado para todas as percepções necessárias à interpretação da realidade, razão da importância da interdisciplinaridade. Espera-se, ao contrário, que a incompletude seja sempre a premissa da busca do outro, da complementaridade, em especial no desenvolvimento urbano onde a intervenção requer mesmo a leitura sob o olhar da sociologia, da 51 GATTI, Bernadete. Avaliação de Projetos Sociais. São Paulo, 2004 (Mimeo.). 102 pedagogia, do serviço, social, da psicologia, da antropologia, da arquitetura, engenharia, meio ambiente, para a leitura das relações, permeadas de subjetividade, objetividade, cultura e poder, que produzem e reproduzem os territórios físicos e usados. 2.4.6 CATEGORIA 6: Preparação técnica para elaborar e executar projetos A Categoria 6 está centrada num dos pontos nodais desta pesquisa visto que focalizou a preparação técnica dos profissionais para a elaboração e execução de projetos sociais partindo do pressuposto de que os projetos são replicados sem inovação e particularização em relação ao território das intervenções. Para elaborar e executar projetos, os profissionais pesquisados utilizam-se principalmente de leis, decretos, portarias e normas do Ministério das Cidades, ou seja, de um arcabouço legal, bem como de textos, artigos e cartilhas, além de assistência técnica da CAIXA como fontes de consulta e orientação. Livros didáticos e técnicos somente um técnico de prefeitura e quatro credenciados utilizam. Infelizmente, sem surpresa, identificou-se, entre os pesquisados, dois credenciados e um técnico municipal que costumam replicar o mesmo projeto em intervenções diferentes mudando apenas alguns itens do escopo. Seis credenciados e um técnico municipal se valem de projetos elaborados por outros colegas profissionais da área ou de outras prefeituras. Na elaboração do escopo dos projetos, doze credenciados afirmam seguir as instruções e os roteiros predefinidos pelo Ministério das Cidades. Cinco credenciados buscam reproduzir ou adaptar outros cronogramas de outros projetos já realizados, uma vez que a estrutura e os eixos de atuação não variam, replicando o que já deu certo em outras experiências. Cinco dizem construir os projetos em conjunto com as comunidades que auxiliam na realização do diagnóstico e na proposição de ações participando ativamente das etapas do trabalho. Quatro profissionais buscam inspiração na própria comunidade e na realidade onde o projeto será implementado orientando-se pelo diagnóstico. A opção de resposta “ elabora escopo e cronograma enxutos, pois os projetos baseiam-se sempre em atividades expositivas que cansam as pessoas” foi marcada por um credenciado ( Questionário TCC 11). 103 Três dos técnicos das prefeituras disseram normalmente reproduzir ou adaptar cronogramas de outros projetos já realizados uma vez que a estrutura e os eixos de atuação não variam replicando, portanto, o que já deu certo em outras experiências, os mesmos três disseram também seguir as determinações contidas nas normas para elaboração dos projetos propondo ações informativas dentro dos eixos de ação previstos ou seguem roteiros predefinidos pelo Ministério das Cidades e por fim um deles preza a elaboração de escopo e cronogramas curtos e enxutos, pois os projetos baseiam-se sempre em atividades expositivas que cansam as pessoas. Todos os profissionais, tanto credenciados, quanto das prefeituras, foram unânimes em afirmar que, na elaboração e implementação dos projetos sociais, é dada maior ênfase em conhecer o projeto construtivo, a área de intervenção, seu entorno e o programa antes de pensar o projeto social atuando de forma interdisciplinar e intersetorial. Nas prefeituras, os dados mostram que, na hora de elaborar e executar os projetos sociais, os técnicos dão ênfase ao cumprimento das funções de controle do tipo elaboração de relatórios, documentos de registro e sistematização das atividades para envio à CAIXA e em reportar-se às comunidades apresentado o diagnóstico realizado informando sobre o plano de ação e o cronograma estabelecido. Um, entre os cinco técnicos municipais, dá maior ênfase em cumprir as formalidades relativas às exigências do Ministério das Cidades e da CAIXA. Apenas um entre eles indicou preocupação em construir um bom diagnóstico, participativo e discutido com a comunidade envolvida como ponto de partida para a elaboração do projeto. Os dados trouxeram a informação de que quatro técnicos dos municípios realizam os diagnósticos a partir de visitas às famílias para levantamento socioeconômico. Três o fazem por meio ou por meio do CADÚNICO 52 e outras fontes de informações existentes na prefeitura e no CRAS/CREAS. Um técnico informou que busca parceria 52 CADÚNICO, ou Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal, é um instrumento coordenado pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à fome (MDS) que identifica e caracteriza as famílias de baixa renda. Utilizado como base de informação e dados para obtenção de diagnóstico e seleção de beneficiários nos programas, incluindo o PMCMV ( BRASIL, 2010), o CADÚNICO funciona também como ferramenta de controle uma vez que nele ficam registrados os nomes dos beneficiários contemplados nos programas habitacionais do Governo Federal 104 com essas unidades de atendimento para o preenchimento de fichas socioeconômicas relativas ao diagnóstico necessário à elaboração dos projetos sociais. Os dados mostram que a “unidade de intervenção” (CARVALHO, 2014, p. 61) da assistência social enquanto responsável também pela realização do trabalho social no âmbito dos programas de provisão habitacional, é a família. Preocupa-se em identificar as condições de renda, saúde, escolaridade, adição (alcoolismo, drogas, dependência química), de forma apartada do contexto socioterritorial, desconsiderando a interdependência das vulnerabilidades sociais (CARVALHO, 2014). O que resulta desse modelo é a fragilização das capacidades e possibilidades de vocalização e perpetuação da relação clientelista e patrimonialista presente na gestão pública, sobre a qual se deve verter investidas de superação e rompimento definitivo. Ainda, de acordo com Paugam (2003), é importante estar atento ao peso que deve ser atribuído às relações que se estabelecem entre as populações destinatárias das políticas públicas e as instituições de assistência social. O autor reconhece “a dependência das populações-alvo em relação aos profissionais da ação social e sobretudo o efeito da estigmatização nascida dessa relação” (PAUGAM, 2003, p. 58) mas pondera dizendo Poder-se-ia dizer que os beneficiários dos serviços sociais participam também, ao menos em parte, na definição de seu status social e na constituição de sua identidade pessoal, ao aceitarem ou recusarem as imposições da intervenção pontual ou regular em sua vida privada [...]. Aceitar a designação de “pobre” depende, então, da condição social objetiva das populações em situação de precariedade econômica e social, de sua dependência em relação aos serviços assistenciais e, enfim, dos interesses recíprocos do assistente – que designa – e dos beneficiários – que são designados” (PAUGAM, 2003, p.59-60 ). Seguindo com os dados desta pesquisa, Sete credenciados disse dar ênfase também ao cumprimento das funções de controle do tipo elaborar atas, relatórios, listas de presença, fotografias de eventos e atividades para encaminhar à CAIXA e cumprir as formalidades relativas às exigências normativas do Ministério das Cidades e da CAIXA. Interessante é que entre os credenciados apenas cinco se preocupam em 105 construir um bom diagnóstico, de forma participativa, discutindo-o com a comunidade envolvida e, a partir dele, desenvolver de forma coletiva o projeto ou que se reportem às comunidades fazendo devolutivas e informando sobre a intervenção, as ações do projeto e o cronograma. Cinco credenciados disseram focar em cumprir os prazos para garantir a liberação dos recursos financeiros e dois afirmaram realizar diagnósticos gerais privilegiando fontes secundárias. Dos 13 credenciados, 06 costumam construir coletivamente os diagnósticos a partir de levantamento socioeconômico e territorial com utilização de metodologias de intervenção/mediação. Há credenciados que visitam todas as famílias e/ou utilizam dados do CADÚNICO, do IBGE e/ou de fichas de caracterização socioeconômica preenchidas em parceria com os CRAS/CREAS. Um credenciado criou um modelo de questionário com levantamento de “informações sobre saúde, educação, renda e conhecimentos de benefícios municipais para cada família” que utiliza alterando questões de acordo com o necessário. Na análise dos dados fica claro o caráter instrumental dado à execução dos projetos sociais ao perceber a grande preocupação que se tem com as atividades tecnocráticas da execução: elaborar relatórios, atas, listas de presença, cumprir prazos para garantir a liberação dos recursos financeiros. A ação de replicar projetos em diferentes intervenções adaptando o cronograma demonstra, por sua vez, uma despreocupação com a questão territorial e com a dimensão sociorrelacional do trabalho social que tem por objeto a transformação da realidade que por essência é complexa e dinâmica. Como personalizar, enrijecer e congelar cronogramas que devem antes passar por um planejamento vivencial, compartilhado, participativo no e com os sujeitos da área de intervenção? É comum ouvir dos profissionais do trabalho social que as realidades são diferentes e por isso os projetos devem ser diferentes. Mas na prática o que se tem são “escopos matriz” de replicação consecutiva de projetos que não se diversificam e se restringem a enquadrar os destinatários das ações a beneficiários. Fatos interessantes nesse sentido já aconteceram e como narrativa pessoal vejo oportunidade em colocar: como Assistente de Projetos Sociais na área de habitação da CAIXA, já testemunhei retornarem para mim projetos de uma determinada prefeitura com transcrições de 106 orientação técnica passada formalmente a outra prefeitura e que depois se multiplicaram em inúmeros outros projetos ao ponto de se legitimarem como necessárias. Tem-se ainda a percepção de que o “conhecer a área de intervenção e seu entorno” antes de pensar o projeto social, mencionado pelos técnicos como ênfase dada em sua atuação, refere-se à ação de dar vistas ao terreno, identificar os equipamentos públicos existentes (ou não existentes) no entorno imediato e, junto com os engenheiros (ou não), conhecer o projeto construtivo da unidade habitacional e de implantação do empreendimento. Não está evidente que essa seria uma preocupação em identificar o território, seus atores, seus agentes, suas relações, sua realidade de déficits e potencialidades, sua produção e reprodução. 2.4.7 CATEGORIA 7: Dificuldades apresentadas para elaboração, execução de projetos e aplicação do conhecimento e das orientações técnicas normativas Nesta categoria objetivou-se identificar as dificuldades apresentadas pelos profissionais na aplicação prática dos conhecimentos e das orientações técnicas na elaboração e execução dos projetos sociais pressupondo que os técnicos privilegiam o aspecto formal da execução e o caráter mais expositivo e informacional das ações. De acordo com os dados levantados nas pesquisas, quatro técnicos das prefeituras sentem dificuldades na aplicação prática do conhecimento elaborar os projetos sociais. Para três dos técnicos municipais, essa dificuldade reside principalmente na definição dos itens de custos dos projetos. De acordo com as respostas, ‘há mais recursos do que o necessário para os escopos propostos’ (questionário TSP3; TSP4; TSP5). Para dois técnicos falta conhecimento, experiência e para um deles não há orientação técnica, e um outro entende faltar apoio logístico, instrucional e institucional por parte dos demandantes dificulta o trabalho. Essa falta de apoio logístico, instrucional e institucional é sentida também pelos técnicos credenciados. Outras dificuldades sentidas por eles residem na definição dos custos dos projetos ( questionários TCC 9; TCC 11; TCC12; TCC13), na falta de 107 conhecimento e experiência ( questionários TCC5; TCC 9; TCC12; ). Dois dos credenciados disseram que os roteiros de projetos são confusos e complexos (questionários TCC1; TCC6); outros dois disseram apenas cumprir as exigências apostando no aspecto tecnocrático do projeto (executar, registrar as ações com fotos e listas de presença e elaborar relatórios) ( questionários TCC3; TCC10). Dois credenciados afirmaram: “é difícil pensar em ações estruturantes para compor o cronograma no contexto dos projetos, por isso me restrinjo a palestras” (questionáriosTCC5; TCC10). Para um dos credenciados, “a CAIXA não oferece treinamento e capacitação para os credenciados, especialmente das normativas e portaria seria importante nivelar informações com os credenciados” (questionário TCC 4). Quanto à execução dos projetos sociais foi interessante observar que somente um dos cinco técnicos das prefeituras sente dificuldades na aplicação do conhecimento e das orientações técnico-normativas na hora de executar os projetos sociais, mas ao mesmo tempo todos falam das maiores dificuldades na execução dos projetos e essas dificuldades variam entre a falta de compromisso das pessoas com a própria cidadania e interesse pelas questões da coletividade; gerenciamento de prazos e recursos; falta de colaboração e interesse das comunidades que só comparecem nas primeiras reuniões. Três técnicos disseram que a falta de mecanismos de promoção da intersetorialidade e interdisciplinaridade acaba por levá-los a executar os projetos sozinhos ou com um pequeno apoio de mais alguns funcionários. Um outro técnico afirmou ser difícil atrair o interesse do público beneficiário ao longo da execução do projeto, promover processos participativos e mobilização social. Dos treze credenciados, sete disseram sentir dificuldades na aplicação prática do conhecimento e das orientações técnicas na hora de executar os projetos sociais. Sete atribuíram essa dificuldade à falta de compromisso das pessoas com a própria cidadania e interesse pelas questões coletivas. Sete disseram também ser difícil gerenciar prazos e recursos. Atrair o interesse do público beneficiário ao longo da execução, promover processos participativos e mobilização social foram as outras dificuldades mais apontadas. Mas houve também apontamentos em relação à dificuldade de interlocução com a equipe de engenharia (questionários TCC1; TCC4; TCC6;TCC7;TCC10). Falta de colaboração e interesse das comunidades que só 108 comparecem nas primeiras reuniões ( questionáriosTCC8; TCC10) e dificuldades na adoção de mecanismos de comunicação eficazes que façam chegar as informações à população beneficiária de forma adequada foram também relatadas. Um credenciado sente dificuldades na execução de projetos sociais por desconhecer as metodologias de intervenção e mediação adequadas ao trabalho social vinculado a programas habitacionais (TCC6). Antes da PNH havia um consenso de que os recursos destinados ao trabalho social eram escassos e imputava-se a isso sua condição de não efetividade. Hoje, no Programa Minha Casa Minha Vida, é destinado o percentual de 1,5% do valor de aquisição de cada unidade habitacional ao trabalho social e considera-se que ‘há mais recursos do que o necessário para os escopos propostos’ (questionários TSP3 e TSP 4). Tomando como referência as análises das questões anteriores, apreende-se que sobra recurso porque faltam projetos consistentes uma vez que na prática, além de não se prezar a realização de diagnósticos socioterritoriais ampliados, intersetoriais, interdisciplinares, interinstitucionais, com a participação dos sujeitos e partes interessadas para balizar as ações e o escopo dos projetos (que certamente seriam mais ricos), tem-se a replicação de cronogramas que se constituem em sua grande maioria de atividades expositivas apoiadas basicamente em palestras que submetem os participantes a condição de ouvintes. Carvalho (2014 ), citando Gatti 53 (2004) afirma ser “preciso quebrar com a lógica dominante de processos diretivos de transmissão de informações/conhecimentos que consideram apenas sua dimensão cognitiva, para recuperar as dimensões socioafetiva, relacional e cultural envolvidas” (CARVALHO, 2014, p. 178). Complementando com Gatti (2004), ”os conhecimentos adquirem sentido ou não, são aceitos ou não, incorporados ou não, em função de complexos processos não apenas cognitivos, mas socioafetivos-culturais. Essa é uma das razões pelas quais tantos programas que visam mudanças de práticas, de posturas, mostram-se inefetivos. Seu centramento apenas nos aspectos cognitivos individuais esbarra nas representações sociais e na cultura de grupos (GATTI, 2004 apud CARVALHO, 2014). 53 GATTI, Bernadete. Avaliação de projetos sociais. São Paulo, 2004. 109 As dificuldades na elaboração de projetos estruturantes, de aplicar os conhecimentos nessa empreitada, também se deve ao fato de que o técnico centraliza nele e exclusivamente nele todo o esforço de pensar os projetos que por essência deve ser construído coletivamente. Se, além de pensá-los a partir de diagnósticos consistentes, resultantes de processos participativos, que por si só lhe garantirão imaginação, criatividade e pertinência, o técnico buscasse a intersetorialidade, compartilhasse com seus pares e as áreas complementares a tarefa de elaborar os projetos para determinada intervenção, seguramente poderia abrir-se uma janela na superação das dificuldades na aplicação prática do conhecimento. Uma outra imposição ao bom desempenho dos técnicos está relacionada inevitavelmente ao comprometimento dos governos com os programas e políticas públicas. Como diz Silva (2012, p. 22) Sem o envolvimento dos agentes participantes da política [...], o resultado não sai do papel. Afinal, a política é uma ação intencional, com objetivos a serem alcançados. [...]. Não adianta estabelecer apenas leis se não existem arranjos institucionais capazes de implementá-los, executá-los e acompanhá-los. 2.4.8 CATEGORIA 8: Metodologias utilizadas na execução de projetos e alcance dos objetivos propostos Nesta categoria a intenção foi identificar a percepção dos profissionais acerca das metodologias adotadas na realização dos projetos enquanto meio para o alcance dos objetivos. Nove dos treze credenciados e dois técnicos municipais acreditam que as metodologias adotadas nos projetos promovem o desenvolvimento da cidadania e a articulação de políticas sociais. Dois técnicos municipais e nove credenciados acreditam também na mobilização comunitária como ação promovida pelas metodologias do trabalho social. Para sete, dos treze credenciados, de acordo com essas metodologias, é possível fomentar o diálogo, quatro atribuem a elas a participação dos beneficiários nos processos de decisão, implantação e manutenção dos bens e serviços e o controle social. Três credenciados e dois técnicos municipais 110 acreditam que a aplicação de metodologias adequadas pode levar também à implantação de processos socioeducativos. Um credenciado acredita ser possível alcançar parcialmente todos os objetivos aqui descritos. De acordo com Carvalho (2014), “a dimensão metodológica é aquela que alia os fundamentos teóricos a formas de ação gerando métodos de trabalho, no sentido da criação de caminhos que dão significação concreta às perspectivas teleológicas” (CARVALHO, 2014, p.170). Nesse sentido, diante da necessidade de transformação de uma dada realidade, a escolha da metodologia pressupõe uma aposta que se faz nas metas e objetivos definidos a partir do conhecimento prévio mínimo que (já) se tem da realidade, a partir de um projeto de intervenção social. O que as respostas dos técnicos retratam é o reconhecimento do poder das metodologias de intervenção social de provocar mudanças, de fazer a mediação entre o teórico e o concreto, as políticas públicas e as demandas, entre a norma e a prática, entre o indivíduo e o coletivo, o sujeito, a família e o território e, portanto, de consolidar as premissas das políticas públicas. O que ocorre entretanto é que a falta do conhecimento teórico, da prática e experiência dos profissionais do trabalho social, e a conjuntura estrutural, institucional e logística retratadas na pesquisa, dificultam sua aplicação. 2.4.9 CATEGORIA 9: Metodologias consideradas mais adequadas e ferramentas/técnicas mais utilizadas A Categoria 9 indagou aos técnicos sobre as metodologias consideradas mais adequadas para a intervenção social sob o pressuposto de que os projetos sociais padecem de inovação social por falta de conhecimento acerca das metodologias de intervenção social mais apropriadas ao trabalho social em habitação ou de como aplicá-las. 111 Para Wanderley e Oliveira54 (2004 apud CARVALHO, 2014, p. 170, p. 17), “definir uma metodologia de intervenção significa exercer a difícil arte de transformar os pressupostos teóricos escolhidos em diretrizes operacionais, e detalhar processos e técnicas de abordagem no seio das relações sociais que se pretende alterar”. É correto afirmar que as metodologias não são prescrições transmutáveis de uma realidade a outra sem ponderação de sua pertinência ou adequação se o que se almeja na intervenção em territórios que são dinâmicos, complexos e diferentes entre si é a efetividade da ação. Portanto, no trabalho social não há a metodologia mais adequada na estrutura de um projeto, mas a mais adequada no contexto em que esse projeto se coloca, no nível da ação que se quer imprimir e dos resultados que se quer alcançar, das transformações que se quer realizar. Ainda assim, com monitoramento e avaliação constantes, que, mais que desejáveis, são necessárias, a opção feita estará sujeita à própria dinâmica do processo que pode requerer redirecionamentos no percurso de sua execução, pois “avançar na intervenção social” requer uma “proximidade dialética entre teoria e prática. Inovação e compromisso se constroem nesta cumplicidade reflexão-ação-reflexão” (CARVALHO, 2014, p. 174). Às perguntas sobre as metodologias consideradas mais adequadas às intervenções de desenvolvimento urbano voltadas à habitação de interesse social e aos objetivos dos projetos, os credenciados responderam Grupo focal, grupo operativo e plantão social (questionário TCC2). Até então utilizamos as metodologias participativas de pesquisa ação que tem demonstrado eficácia no alcance dos objetivos propostos ( questionário TCC3). Informação, implantação e organização condominial, educação sanitária e ambiental, ações envolvendo crianças e adolescentes (questionárioTCC8). Participativas, questões práticas, vividas por beneficiários ( questionário TCC7). Metodologias participativas que atuem a partir de questões de prática da população (questionário TCC6). Junto aos beneficiários levantar suas reais necessidades e organizar a estruturação do TTS (Trabalho Técnico Social) de acordo com os apontamentos feitos por eles, buscando a partir disso intervir nessas 54 WANDERLEY, M.B; OLIVEIRA, I.C ( Org.). Trabalho com famílias: metodologia e monitoramento. São Paulo: IEE-PUC-SP, 2004.v.1. 112 necessidades, criando uma organização comunitária entre estes beneficiários (questionário TCC1 ) Metodologias participativas, encontros que promovam a participação das pessoas e a discussão dos sentidos das intervenções, metodologias que os próprios moradores possam propor (questionário TCC4) Participativa, onde os beneficiários durante o desenvolvimento do projeto possam discutir, refletir e dar sugestões de interesse do grupo e da comunidade. Iniciar as intervenções antes mesmo das famílias adquirirem o imóvel para conscientização dos seus direitos e deveres. No plano ideal, a participativa é sempre mais adequada. Contudo não se viabiliza muitas vezes, especialmente em grandes grupos. Com pequenos grupos, ou aqueles beneficiários que apresentam maior disposição em “estar junto”, aplicamos o método ZOPP (uso de tarjetas). Entendo que como o diagnóstico, o planejamento – a atividade em si – vai acontecendo “na hora”, ao vivo, isso atrai a atenção dos participantes/beneficiários (questionário TCC10 ). Metodologias participativas como pesquisa-ação, fenomenologia, grupo operativo, pesquisa participante (questionário TCC9). Informação, conscientização ( TCC5 ) Para técnicos das prefeituras as metodologias mais condizentes com as intervenções em habitação seriam: Metodologias participativas que realmente incluam a população atendida no processo como um todo, fazendo com esta assuma de fato seu papel dentro do programa ou projeto; reuniões e encontros para esclarecimentos e repasse de informações ( atividades informativas ). Mobilização de grupo através de propostas contextualizadas na sua realidade (questionário TSP2). As de mobilização comunitária, cidadania. Onde tem um grande agente transformador, onde o beneficiário começa a ter sua autonomia (questionário TSP1) Participativa onde os beneficiários durante o desenvolvimento do projeto possam: discutir, refletir e dar sugestões de interesse do grupo e da comunidade (questionário TSP 3 ) As atividades estratégicas de acordo com o perfil do grupo, clareza quanto as informações que serão repassadas aos mesmos (questionário TSP4) Metodologia participativa, uma vez que proporciona um maior interesse da população; através de pesquisa de campo ( questionário TSP5) Um diagnóstico para levantamento de demandas. Desta forma fico conhecendo a realidade de cada família encaminhando quando necessário e mediando da melhor forma com a realidade da população beneficiada ( questionário TSP4) 113 Considero a pesquisa de campo uma das metodologias de extrema importância para a transformação de um contexto social ( TSP3) Planejamento estratégico para as ações (questionário TSP4) Na pergunta sobre as ferramentas e técnicas utilizadas, os técnicos das prefeituras disseram adotar formulários, reuniões, “explicações visuais e depois um espaço para eles falarem, expor suas dúvidas e sugestões, reclamações” (questionário TSP1), grupos de discussão, gráficos, pesquisa, parcerias, encaminhamentos, relatórios, entrevistas, dinâmicas de grupo, palestras, campanhas, cartilhas, panfletos (questionários TSP3, TSP4, TSP5), “formulários socioeconômico; relatórios, questionários de avaliação, reuniões, assembleias, visitas domiciliares, entrevistas, dinâmicas de grupo, palestras, campanhas, cartilhas [...] ” ( questionário TSP2) Os credenciados adotam como ferramentas: grupo focal, grupo operativo e plantão social, diagnóstico e pesquisa de campo, entrevistas, avaliação constante, discussão mensal do planejamento, Diagnóstico Rápido Urbano Participativo (DRUP55), mapa falado, formação de grupos, reuniões de planejamento e avaliação, dinâmicas, visitas, mapas interativos, fotografias para construção de diagnóstico de trabalho em grupo, produção coletiva de eventos, grupos de discussões, gráficos, “o projeto desenvolvido e aprovado pela Caixa Econômica Federal” ( questionário TCC13), exposições dialogadas , Ferramentas e técnicas que busquem a integração/interação [...] a valorização do indivíduo [...]. É importante ratificar o quão importante eles são para o projeto, para suas famílias, para a vida do bairro, do condomínio. Tenho percebido que o componente motivacional tem que estar inserido em qualquer abordagem: rodas de conversas, reuniões informativas, oficinas. Como hoje a participação/a adesão é frágil, tenho refletido bastante e buscado estudar as técnicas ou melhor a prática de utilizar a “mistica” dos antigos movimentos de base – e tentar introduzi-la nas ações do social. Uma vez que participar é “caro” para o indivíduo, no sentido de ser custoso, tem que fazer escolhas entre programas de TV, internet, o próprio descanso. E o retorno, a contrapartida do indivíduo não é imediata e também não se tem garantias. Então promover um espaço/momento agradável, gostoso de se estar é tão importante. Acolher bem é importante (questionário TCC10). 55 Diagnóstico Rápido Urbano Participativo 114 E sobre as metodologias consideradas pelos credenciados como mais adequadas aos objetivos dos projetos sociais em programas de habitação, o quadro mostra as respostas Quadro 1 Categoria 9 Você conhece as metodologias de intervenção/mediação mais adequadas aos objetivos dos projetos sociais e premissas dos programas voltados à habitação? A mais adequada é difícil dizer, pois depende da realidade/demanda da população. É importante sempre, informação constante, incentivo a grupalização, capacitação das equipes e trabalhos educativos ( questionário TCC8) Durante nosso período de atuação temos desenvolvido metodologias próprias (TCC7) A experiência de longos anos de atuação na área social nos possibilita a adequação de várias metodologias participativas, a realidade e necessita do trabalho. O enfoque dado por nós ao trabalho social está relacionado aos seguintes apelos: a) informação sistemática todos os moradores e aos grupos, b) a grupalização, incentivando, apoiando e constituindo grupos que além de se tornarem elementos de apoio e mobilizadores da comunidade, se constituirão em mediadores entre comunidade e outros agentes, em especial públicos: a qualificação e capacitação desses grupos para o exercício de suas funções; a formação da comunidade e dos grupos, trabalho essencialmente educativo; ação sistemática junto a comunidade (imersão nesta), processo avaliativo permanente (questionário TCC6) Os eixos de intervenção indicados como educação patrimonial, saúde, educação, entre outros são importantes porém o mais importante é atender as famílias, dentro da realidade local, ex: trabalhar transporte em uma cidade com mais de 100 mil habitantes é importante, já em uma cidade de 10 mil seria necessário ( questionário TCC1) Metodologia de participação com a formação de grupos de interesse de acordo com as demandas e proposições do público beneficiário ( TCC4 ) Os projetos elaborados e executados pelo município foram embasados no Caderno de Orientações Técnico Social - COTS56; Portaria 21 e demais orientações sobre MCMV ( TCC11) O caderno de orientações para o trabalho técnico (TCC13) Entendo que a melhor metodologia é aquela mais hibrida e porosa, no sentido de ser possível de ser reformada em qualquer etapa ( questionário TCC TCC10) pesquisa-ação, diagnóstico participativo, fenomenologia ( questionário TCC 9) Fonte: Apendice II, questão 34 Percebe-se nas respostas dos profissionais certa falta de discernimento entre paradigma, metodologia, ferramenta, técnica, ação e atividade. A perspectiva da grupalização, da mobilização social e da mediação das comunidades com os agentes públicos citada pelos técnicos representa uma aproximação com os objetivos do trabalho social, mas pela frequência com que entendem que a melhor metodologia é a ‘participativa’, apreende-se um entendimento de que é comum a incorporação da 56 Com a publicação da Portaria 21/2014, a CAIXA suspendeu a utilização do COTS. Para os credenciados, entretanto, a CAIXA disponibiliza o COT-“Caderno de Orientações Técnicas para Empresas Credenciadas do Trabalho Social”, o qual não apareceu citado nas entrevistas pelos profissionais. 115 participação como princípio e fim do método sem ser possível reconhecer nas manifestações, o reconhecimento das formas de se viabilizar essa participação, o seja, quais metodologias adotam para tal, nem de que participação estão falando. As respostas a essa questão, que é central na pesquisa, ratifica mais uma vez as colocações de Carvalho (2014 ) acerca da “baixa competência dos trabalhadores sociais em mover processos que produzam mudanças substantivas, emancipação, participação, autorias, qualidade de vida duradoura e inclusão social” (CARVALHO, 2014, p.17). E, nesse sentido, é tácita e explícita a necessidade urgente de investimento na formação técnica dos profissionais do trabalho social, mas de, sobretudo, esses profissionais tomarem contato com essa realidade que se lhes apresenta para começarem a enxergar nela a possibilidade de emergirem nas múltiplas possibilidades de transformação social existentes no trabalho social e buscarem sua própria formação para o exercício profissional. 2.4.10 CATEGORIA 10: Mecanismos de comunicação utilizados na execução de projetos e identificação de possíveis ruídos nessa comunicação Enquadrou-se na categoria 10 os mecanismos e o processo de comunicação no trabalho social. Considera-se essa uma questão importante na análise da efetividade do trabalho uma vez que a comunicação aqui está relacionada ao caráter dialógico do trabalho social e pressupõe mais do que informar. Em relação aos mecanismos de comunicação na execução de projetos sociais, nove credenciados e quatro técnicos das prefeituras disseram utilizar o celular. Sete credenciados utilizam também faixas e cartazes em pontos estratégicos da área de intervenção e entorno; cartas e bilhetes também são empregados. Nas prefeituras, os técnicos utilizam-se também do envio de cartas e bilhetes às famílias, além de panfletos e flyers, carros de som e faixas. Um credenciado e um técnico de prefeitura utilizam a internet como instrumento de comunicação. Alguns credenciados fazem “contatos individuais entregando convites ou outro instrumento, jornal, mural, jornal institucional, folder, boletim informativo” ( questionário TCC6), e usam ainda os cultos, missas e eventos locais para as comunicações necessárias e jornais e boletins informativos locais. Um credenciado informou que 116 na primeira entrevista cada beneficiário recebe um cronograma de todo o projeto, com datas e horários e todo mês na reunião recebem por escrito e assinam a ata de possível alteração ou nova reunião. Quando necessário ligo de casa em casa mantendo assiduidade dos beneficiários (Questionário TCC1). Todos os técnicos das prefeituras disseram verificar se as informações estão chegando às pessoas de forma adequada e tempestiva verificando e cuidando dos possíveis ruídos de comunicação fazendo-o por meio de reuniões e visitas domiciliares. Entre os credenciados, dez verificam das seguintes formas: “em todos os encontros é verificado como as informações estão niveladas. E são ajustados os possíveis ruídos” (questionário TCC2); “fazendo uma visita e conversando” ( questionário TCC8); “nas reuniões ou atividades, contatando as pessoas e reproduzindo as informações” (questionário tcc6); com “pesquisa” (questionário TCC7); “via telefone e visita domiciliar” (questionário TCC11); “através de reuniões comunitárias e ligações” (questionário TCC13); “contato com lideranças locais que servem de termômetro metodológico” (TCC3); “programação de carro de som ao meio-dia e a tardinha/noite. Entrega de convite porta a porta com coleta de assinatura, confirmando o recebimento. Perguntamos no plantão social57 e na atividade como e quando ficou sabendo da atividade” (questionário TCC10) De acordo com Carvalho (2014, p. 177), “a natureza sociorrelacional do trabalho social exige relações de proximidade e supõe mover ações em duas dimensões-chave de fundamental importância: a arte da comunicação e a arte da articulação”. E complementa Comunicação e articulação têm como perspectiva construir participação, mobilizar vontades e implementar pactos de complementaridade entre atores sociais, organizações, projetos e serviços. Movem processos e atividade em coautoria com os próprios implicados na ação. É preciso que os diversos sujeitos envolvidos queiram, valorizem e reconheçam como factíveis as ações desenvolvidas e as metas traçadas. Dessa forma, a produção de metodologias de trabalho social não pode ser mais pautada numa racionalidade apenas instrumental (CARVALHO, 2014, p. 179 ). 57 “Estrutura(s) de escritório/plantão social, constituída(s) por, no mínimo, uma estrutura fixa na área da intervenção, dotada de recursos humanos e equipamentos, eventualmente complementada por outro imóvel dependendo do tamanho da área, que deverão ser mantidas ao longo de toda a intervenção para o atendimento da população, onde serão disponibilizadas todas as informações necessárias, funcionando também como base logística para o Trabalho Social e para funcionamento do mecanismo para prevenção e mediação de eventuais conflitos” ( BRASIL, 2014, p, 17-18). 117 Nesse sentido, é importante que o trabalho social se desvista do caráter instrumental do qual se vale para construir uma performance mais interacional, da articulação, em que os próprios destinatários das políticas sejam reconhecidos como atores. Utilizar essa premissa para a construção de redes de relacionamentos no território, trazer para dentro dos projetos as tecnologias que hoje já se encontram ao alcance de parte significativa dos seus usuários é premissa básica da comunicação minimamente diretiva. Mas a comunicação de que se fala no trabalho social não é apenas a informacional ou de construção de agendas, mas aquela relacionada às leituras e tradução da realidade, construção de pactos, participação, inserção e para essa comunicação, são necessárias as metodologias de intervenção adequadas ao processo dialógico que se quer construir. Não se detectou essa compreensão nas colocações dos participantes da pesquisa, conforme se descreve a seguir na categoria 11. 2.4.11 CATEGORIA 11: Ações para motivar e envolver o público beneficiário nas ações Nesta categoria encontra-se um dos pontos altos da pesquisa e que está relacionada às formas de promover os processos participativos, de angariar o interesse, a motivação para a participação visto que na execução dos projetos sociais é comum uma maciça “presença” no início das atividades e um esvaziamento ao longo da intervenção. O que se quer detectar é se os técnicos têm essa percepção em relação ao que é promover essa participação ativa, de sujeitos, e o que é viabilizar a presença nas atividades. As formas de buscar a motivação e o envolvimento do público alvo nas atividades do trabalho social não variaram muito entre os credenciados e os técnicos dos municípios. Em três das respostas dadas pelos técnicos das prefeituras à questão percebe-se que o argumento da importância da participação é utilizado no processo de sensibilização do público alvo. Os técnicos informam a necessidade da participação “avisando com antecedência por bilhetes, visitas e convites entregues em casa” ( questionário TSP1), dizem ser uma “exigência da CAIXA” ( questionário TSP4) 118 ; apresentam “os objetivos e as melhorias que os projetos e programas trarão no grupo beneficiado e mostrando aos beneficiários possibilidades de crescimento pessoal e até profissional através das ações do TTS” (questionário TSP2). Foram dadas duas possibilidades de resposta à essa pergunta: anunciando que haverá lanche ou informando que haverá distribuição ou sorteio de brindes. Apenas um técnico de prefeitura e um credenciado informaram utilizar a distribuição ou sorteio de brindes como elemento de incentivo e um credenciado diz utilizar o lanche em todas as atividades como fator de motivação. A prática não variou muito entre os credenciados. Afirmando a necessidade de mobilizar constantemente esses técnicos também focam no argumento de que o trabalho social é exigência da CAIXA e da importância da participação apropriandose também de visitas, convites individuais, flyers, ‘reuniões dinâmicas, com informações claras e transparentes’. Encontrou-se entre eles as seguintes respostas “Na primeira entrevista com a família, explico a importância do ‘TTS’ (Trabalho Técnico Social) e convoco a responsabilidade deles em frequentar as reuniões, cada um assina uma declaração dizendo da importância do TTS e firmando o compromisso de estar presente em todas elas e quando necessário faltar, enviar um representante” ( questionário TCC1) “O lanche e o brinde são práticas que a empresa que trabalho sempre combateu, no sentido de servirem de isca para as atividades. Atualmente temos lançado mão dos brindes. Contudo quando a indiferença da população é significativa, nem mesmo o brinde é suficiente para atrair. [...] fizemos uma confraternização junina. Foi anunciado o bingo com distribuição de cartelas gratuitas e que um dos prêmios era um forno microondas. E mesmo assim nem 20 pessoas compareceram ao bingo” (questionário, TCC10) “Escolhendo horários alternativos, como noturno e finais de semana, escolhendo técnicas adequadas de acordo com o tema, visitas e ou contatos mais diretos com a população, escolha de locais apropriados/próximos para a realização das atividades” (questionário TCC 9) Nas atividades do trabalho social cabe a participação consultiva e deliberativa, mas cabe também aquela participação conduzida pela “intencionalidade pedagógica” de aproximação dos sujeitos, de construção dos espaços de vivência, de valorização e resgate de saberes, “de organização espacial das relações entre as pessoas da cidade, voltando o olhar para os suportes espaciais dos intercâmbios e atividades de troca (econômicos e/ou sociais)” (DUARTE; VILLANOVA, 2013, p. 7). Para isso é preciso convocar vontades e “[...] apoiar o indivíduo, o grupo no ato de conhecer e no 119 agir, com ênfase nas capacidades de ligar e religar fatos e significados, realizar mediações, expressar, argumentar, pesquisar, construir nexos de compreensão do mundo e dele(s) no próprio mundo” (CARVALHO, 2014, p. 208). Essa participação que se espera no trabalho social não se concretiza em reuniões ou em assembleias de comunicação unidiretiva, onde se expõe um tema e depois se abre (ou não) um debate onde ninguém se manifesta, ou, ao se manifestar finda-se ali a exposição do tema sem valorizar os desdobramentos necessários. Nem tampouco se tratada como imposição ou exigência de terceiros. Nesses formatos ela poderá ser avaliada quantitativamente, mas não qualitativamente. Apenas dizer que é importante participar não provoca a ação. É como dizer que preciso cuidar da casa, dos espaços e equipamentos coletivos, da saúde, que é preciso ser cidadão. O dizer não induz à ação. Se não houver um estímulo, uma motivação que ‘venha de dentro’ para que os indivíduos e a coletividade tragam os seus conhecimentos, experiências, a sua vivência e a sua contribuição ao processo, dificilmente o argumento da exigência ou da importância de participar os retirará da inércia. É importante ressaltar que responsabilidade pelo estímulo à participação e pela qualidade técnica da execução do trabalho social não recai apenas sobre os técnicos, mas deve ser compartilhada, pois está amarrada a uma “estrutura cívica e cidadã” (SOUZA58, 2001, apud MILANI, 2008, P. 557) ainda incipiente. Portanto, desenvolver espírito cívico é meio e fim precípuo para a participação ativa, premissa da participação espontânea, da gestão social e do poder local. Nesse sentido, planejar a participação requer que se pense nela não em termos percentuais, computando o número de presentes nos eventos e atividades realizadas, mas que se valorize o processo participativo, com toda a sua riqueza e poder. 58 SOUZA, Celina. A nova gestão pública. In: Gestão pública: desafios e perspectivas. Salvador: Fundação Luís Eduardo Magalhães, 2001. p. 38-62., 2001. 120 2.4.12 CATEGORIA 12: Ferramentas utilizadas para interpretar os problemas mais relevantes do diagnóstico Um bom diagnóstico é o ponto de partida para um bom projeto de intervenção social. E esse diagnóstico não pode e não deve se restringir ao caráter socioeconômico das famílias, mas estender-se ao território da ação. Nesse sentido, esta categoria também, aliadas às demais, constitui-se numa oportunidade essencial para analisar o significado do diagnóstico para os técnicos e identificar o modo como o realizam já pressupondo a ênfase que é dada ao núcleo familiar como objeto dos levantamentos. Perguntados sobre as ferramentas que utilizam para estabelecer a relação causa e efeito entre os problemas mais relevantes do diagnóstico os técnicos das prefeituras e os credenciados, em sua maioria, demonstraram não valorizarem (ou não reconhecerem) essas percepções. Vejamos: Cinco credenciados deixaram a questão em branco, nem responderam. Um afirmou que não utiliza ( questionário TCC7). Os técnicos municipais encaminhamentos mencionaram: quando necessário, “um questionário reuniões com com temas tabulação, identificados” (questionário TSP1); “coleta de dados e construção de gráficos” (questionário TSP3); “aplicação de questionários para a coleta de dados” (questionário TSP5); Dois técnicos municipais disseram Visitas domiciliares para discussão de questões gerais e também particulares, assembleias para discussão, avaliação e votação de conteúdos do projeto. Inscrição de beneficiário nos trabalhos e delegação de atribuições de apoio ao TS59 entre outros (questionário TSP2). Como às (sic) do Residencial são referenciadas ao CRAS ( Centro de Referência de Assistência Social ) muitos dos problemas apresentados são encaminhados aos órgãos competentes para providências. Nas análises os pressupostos se confirmaram. Entre os profissionais das prefeituras, a centralidade das intervenções está na família. Não são consideradas as variáveis socioterritoriais, as dificuldades, problemas e desajustes advindos das relações que se estabelecem no território das intervenções. Consequentemente não são reconhecidas as ferramentas de intervenção social aplicáveis a diagnósticos socioterritoriais. 59 Técnico Social ou Trabalho Social. Não é possível identificar o emprego que o técnico quis dar à sigla. 121 Entre os credenciados elencam-se as seguintes respostas: “a ferramenta comumente utilizada são os relatórios de pesquisa, gráficos dos diagnósticos” (questionário TCC3); “avaliação com os beneficiários” (questionário TCC1); “coleta de dados e planejamento de ações com alternativas para solucionar e/ou minimizar os apontamentos” (questionário TCC11); “parcerias e encaminhamentos para resolução dos problemas apresentados” (questionário TCC13). Houve credenciado que informou não utilizar ferramentas de interpretação dos problemas mais relevantes. Outras três respostas foram “Dinâmicas de construção de mapas interativos para identificação de pontos fracos, potencialidades e proposições. Reuniões por blocos de apartamentos, diagnóstico fotográfico dos problemas e potencialidades dos próprios moradores” (questionário TCC4) . “Entrevistas em profundidade com pessoas ‘chave’ do território, seja beneficiários e/ou órgãos prestadores de serviços” (questionário TCC10); . “Técnicas do PES – Planejamento estratégico situacional” (questionário TCC 9) Entre as respostas observou-se relevantes as percepções acerca do PES – Planejamento Estratégico Situacional e mapas interativos 60 como ferramenta de análise de situações problemáticas adaptável ao contexto do trabalho social na habitação social. Entretanto, a centralidade nos beneficiários ainda se manifesta forte. De acordo com Reg e Filho ( 2002, p.164 ) O PES apresenta três características principais. A primeira é o subjetivismo, que tem por objetivo identificar e analisar uma situação problemática, centrase nos indivíduos envolvidos (atores), em suas percepções e pontos de vista, pressupondo, portanto, que se cada indivíduo tem suas próprias características, sua interpretação de determinada situação vai depender de seus conhecimentos, experiências, crenças, posição no jogo social etc (RIEG; FILHO, 2002, p. 164 ) Dos profissionais do trabalho social espera-se certa capacidade de análise e compreensão da realidade, e de também agir sobre essa realidade numa busca conjunta da mudança que se quer imprimir sobre ela unindo a técnica aos 60 Embora não se tenham definido do uso de tais ferramentas. 122 conhecimentos tácitos, implicando todos os envolvidos nas análises da realidade que se quer mudar. A matéria de sua ação, as relações sociais, seus frutos e desdobramentos, as vulnerabilidades, deficiências e potencialidades, esta se consolida no território e sobre esse território não se pode contentar com uma visão genérica e pessoal. Como afirma Koga (2014, p. 26) É preciso um exercício de revisita à história, ao cotidiano, ao universo cultural da população que vive nesse território, se o considerarmos para além do espaço físico, isto é, com toda gama de relações estabelecidas entre seus moradores, que de fato o constroem e reconstroem. E nesse sentido a perspectiva multidimensional, interdisciplinar e intersetorial deve nortear essa ação sobre o território de forma a romper com a percepção fragmentada da realidade. Na prática do diagnóstico, por exemplo, o olhar compartilhado, buscando o destinatário das políticas públicas para além de sua capacidade expectante, “permitiria inventar novos tipos de relação entre os diferentes atores que intervêm num projeto urbano” (VILLANOVA, 2013, p.224). Essa mesma autora diz O compartilhamento do diagnóstico leva à tomada de consciência de pontos de vista e de usos em uma apreensão comum e diferenciada do espaço perceptível. Ela solicita a responsabilidade de cada um em reavaliar seu comportamento e suas preferências. Assim, adquire-se uma cultura da concertation, que permite a reapropriação do espaço com que o habitante se identifica, invertendo a prescrição de identidades verificadas nas relações assimétricas entre governantes e governados (VILLANOVA, 2013, p. 224). São muitos e múltiplos os modos, meios e mecanismos de leitura e compreensão da realidade que, consequentemente sustentam os procedimentos de realização de diagnósticos, cada um com suas incompletudes e complementaridades. Na “sociologia cartográfica ou cartografia simbólica” (SANTOS 61 , 200, apud KOGA, 2011), pela qual se lê o território como um “sujeito em ação” (KOGA, 2011, p.21 ), tudo o que se vê, implícito nos conceitos que representam a realidade, é imprescindível à compreensão das relações sociais. E nesse sentido Koga lembra o que disse Milton Santos: “o homem não vê o universo a partir do universo” mas “desde um lugar” (KOGA, 2011, p. 26). 61 SANTOS, B.S de. A crítica da razão indolente: contra o desperdício da experiência. São Paulo: Cortez, 2000. 123 Indo um pouco mais além, é ainda possível se trabalhar com “experiências sensoriais da cidade” (DUARTE; VILLANOVA, 2013, p. 9) no âmbito da “microescala, como a antropologia sempre pensou” ( DUARTE; VILLANOVA, 2013, p. 9). Para as autoras, “os instrumentos de observação da cidade e de seus usos” deve “levar em consideração o discurso do morador para o conhecimento do universo urbano”, para “apreensão da dimensão vivida do espaço, seja ela individual ou coletiva; a dimensão dos sentimentos, das sensações, das representações e das significações dos locais no interior da moradia e em espaços públicos” (DUARTE; VILLANOVA, 2013, p.9-15). De qualquer maneira, as formas de analisar e interpretar a realidade não será nunca absoluta, estará sempre permeada de erros e acertos, será sempre semiplena, inacabada, imperfeita. O tempo, o espaço, as relações (de poder, de troca, de afeto), as comunicações, o mercado, a política, serão sempre senhores de sua incompletude e de suas mutações. Não é em vão que as equipes técnicas do trabalho social devem ser multidisciplinares e interdisciplinares. Para que os olhares se cruzem num processo produtivo de visões e apropriações menos sujeitas ao erro ou, pelo menos mais complementares, onde o sociólogo, o antropólogo, o assistente social, o pedagogo, o psicólogo, o arquiteto, possam contribuir com suas disciplinas para além do funcionalismo histórico (que rotula as funções de cada uma dessas áreas do conhecimento), sem hierarquia. Como afirma Villanova (2013, p. 224) O compartilhamento do diagnóstico leva à tomada de consciência de pontos de vista e de usos em uma apreensão comum e diferenciada do espaço perceptível. Ela solicita a responsabilidade de cada um em reavaliar seu comportamento e suas preferências. Assim, adquire-se uma cultura de concertation que permite a reapropriação do espaço com que o habitante se identifica invertendo a prescrição de identidades verificadas nas relações assimétricas entre governantes e governados. A busca da compreensão mútua certamente não evita os jogos de poder na arte de tomar a palavra, contudo, a relação se abre para a circulação dos saberes top-down e bottomup [...]. Trata-se, de algum modo, de fazer emergir os saberes de minorias étnicas e culturais. 124 2.4.13 CATEGORIA 13: Atividades realizadas para a execução do projeto Esta categoria, a exemplo das demais, busca confirmar pressupostos de que há nos projetos uma configuração expositiva desvinculada dos sujeitos, apartada do território. Na implementação dos projetos sociais os técnicos das prefeituras privilegiam atividades informativas realizadas em reuniões, assembleias e no plantão 62 social, cujo objetivo foca na apresentação do projeto, da equipe, dos agentes envolvidos, informação sobre o andamento das obras e abordagens sobre o tema da saúde e da questão ambiental. Palestras, oficinas, confraternizações, filmes e cursos também são atividades que os técnicos dizem realizar.. Em uma das respostas houve indicação do “acompanhamento pós-ocupação 63 através de visitas in loco, participação nas reuniões de comissões e/ou associações no empreendimento ou entorno” ( questionário TSP3). Seguem transcritas algumas das respostas Atividades informativas como reuniões e assembleias, além do plantão social; Levantamento de demandas para trabalhos como palestras, filmes, dinâmicas de grupo que agreguem os temas levantados e os objetivos do projeto. Avaliações periódicas para levantamento de resultados ao final do projeto (questionário TSP2) Informações aos beneficiários: apresentação do projeto e dos responsáveis por sua execução; origem dos recursos, atribuição dos agentes envolvidos, dentre outras. Participação e organização comunitária: reuniões e demais eventos tais como palestras, encontros, oficinas, confraternização com temas voltados para a participação, andamento das obras, educação sanitária ambiental e saúde, dentre outras ( questionário TSP3). Reuniões; palestras; curso de acordo com a necessidade; encaminho quando necessário ;plantão social ( questionário TSP1). reuniões com o público alvo para expor sobre o trabalho que será realizado (questionário TSP4). Fica evidente nas respostas dadas pelos técnicos das prefeituras que os projetos sociais executados nos municípios assumem uma modelagem expositiva, permeada 62 “Estrutura(s) de escritório/plantão social, constituída(s) por, no mínimo, uma estrutura fixa na área da intervenção, dotada de recursos humanos e equipamentos [...] que deverá(ão) ser mantida(s) ao longo de toda a intervenção para o atendimento da população, onde serão disponibilizadas todas as informações necessárias, funcionando também como base logística para o Trabalho Social e para funcionamento do mecanismo para prevenção e mediação de eventuais conflitos” ( BRASIL, 2014, p.17-18 ). 63 Etapa que se inicia após a conclusão das obras e se consolida com a mudança das famílias para os imóveis. 125 de informações unidirecionais, que lida com os destinatários das políticas públicas mais como pacientes ouvintes do que como sujeitos partícipe, ratificando todas as ponderações já feitas até aqui. As respostas dadas pelos técnicos credenciados à questão encontram-se no quadro abaixo. Um dos profissionais deixou a questão em branco. Quadro 2 Categoria 13 Que atividades costuma realizar na implementação dos projetos sociais? Grupos focais, palestras, oficinas ( questionário TCC2). Costumo realizar as atividades integrantes no escopo de cada projeto social apresentado e aprovado ( questionário TCC3). 1)pesquisa quantitativa e qualitativa, 2) reuniões informativas, 3) atendimentos, visitas, 4) representantes de bloco e subsíndicos mirins, 5) utilização de informativos ( questionário TCC 8). Pesquisas quantitativas e qualitativas, atuação com jovens e crianças (GR meio ambiente, síndicos mirins), monitoramento, teatros, oficinas ( questionário TCC7). Pesquisa quantitativa e qualitativa (DPR 64, grupo focal, observação participante, mapa falado), diagnóstico, reuniões informativas com pequenos grupos; visitas domiciliares, monitoramento dos domicílios e famílias; implantação de grupos diversos: representantes de quadra de blocos, subsíndicos mirins, agentes mirins, outros; planejamento participativo, avaliações de resultados; distribuição de material informativo e educativo a partir das atividades em andamento, festas apresentações teatrais, jornal mural; dinâmicas diversas; oficinas, seminários e palestras ( questionário TCC6). Na geração de renda ofereço cursos de capacitação na educação e possibilidade de formação com cursos do PRONATEC que além de trazer formação trazem aumento de renda. Na saúde palestras de informação e direcionamento, acompanhado do beneficiário, quando necessário, entre outros eixos como organização comunitária e educação patrimonial que trabalhamos em palestras e grupos de discussão ( questionário TCC1). Mobilização: arrastão de informação porta a porta, elaboração conjunta de formas e canais de comunicação; organização comunitária: reuniões por blocos, formação de grupos de interesse, criação de um grupo de gestão do empreendimento, representação, formação de um grupo intersetorial com as prefeituras para o atendimento das demandas. Esse grupo intersetorial deveria ser constituído antes da entrega do empreendimento. Só depois da mudança da família é que as prefeituras se mobilizam para resolver as demandas; Eixo educação sanitária/ambiental: nesse eixo o objetivo é criar um espaço saudável de viver. A noção ambiental está ligada à construção de espaços saudáveis de moradia. Dessa forma, temos promovido atividades de lazer e esportivas para gerar apropriação dos espaços coletivos e discutir o bem-estar dos moradores. Para as crianças e adolescentes também propomos a mesma forma com a discussão da defesa dos seus direitos. Normalmente todos os problemas de depredação condominial são atribuídos a esse público; Eixo educação patrimonial: as atividades são na mesma linha da discussão ambiental acrescentado a tratativa do empreendimento como patrimônio coletivo e patrimônio da família, construção de segurança e tranquilidade; Eixo Empreendedorismo: é o eixo mais problemático e de difícil execução, o tempo de execução do PHS não permite o desenvolvimento de ações, esse eixo acaba sendo desenvolvido com ações fracas e sem diagnóstico da situação de trabalho das famílias. E os 64 Diagnóstico Rápido Participativo 126 técnicos não tem capacidade e nem treinamento para essa ação. Na minha avaliação ele não deveria constar no PHS e precisa ser revisto (TCC4). Informação ao beneficiário [...] encontros voltados para fortalecimento da convivência comunitária, orientações sobre a preservação e valorização do meio ambiente, discussão sobre o uso racional dos recursos hídricos, valorização do imóvel, adimplência e inadimplência. [...] incentivo à criação de comissões, associações ou participação em associações já existentes no entorno do empreendimento [...]( questionário TCC 11) Reunião Comunitária para explicar no que consiste o trabalho social. Monitoramento das atividades e avaliação dos resultados alcançados. Abordagem de temas de interesse geral dos moradores. Emancipação dos usuários através da realização do TTS ( questionário TCC 13) Reunião para apresentação e rápido diagnóstico de demandas para realizar encaminhamentos, grupos de convivência: crianças e adolescentes, mães e idosos. Visitas guiadas a horto florestal, dia de lazer com cinema na rua. Distribuiçao de mudas de plantas frutíferas ou hortaliças ou ornamentais de pequeno porte. Atendimento individual para empreendedores locais, orientação jurídica para acesso a direitos, benefícios, como pensão, questões trabalhistas, oficinas de esporte: jogos para crianças e adolescentes e exercícios e caminhadas para adultos e idosos. Confraternização em datas comemorativas ( questionário TCC 10) Evento inicial para expor o trabalho que será realizado; reuniões de mobilização comunitária, articulação interinstitucional, cursos e oficinas de acordo com o diagnóstico inicial; pesquisa sócio familiar; palestras com profissionais específicos; escolha de representantes dos moradores; encaminhamentos para setores públicos/privados; plantão social; visitas domiciliares ( questionário TCC 9) Mobilização e comunicação: ações informativas, suporte as intervenções físicas, articulação para parcerias, avaliação e monitoramento. Participação comunitária e desenvolvimento sócioeducativo: monitoramento e organização comunitária, atividade sócio cultural, geração de trabalho e renda, educação ambiental, patrimonial saúde e sanitária ( questionário TCC 5) Fonte: Apêndice II, questão 36 Da fala dos técnicos credenciados, apreendem-se algumas questões que merecem ser ressaltadas: Pergunta-se acerca das atividades realizadas na implementação dos projetos. Um dos técnicos, ao referir-se ao trabalho realizado com os jovens na Educação Sanitária e Ambiental, diz que “normalmente todos os problemas de depredação condominial são atribuídos a esse público” ( questionário TCC 4) e menciona que “para as crianças e adolescentes também propomos [...] a discussão da defesa dos seus direitos”. Entendemos que nesse caso faltou o tratamento da dimensão jurídica do cidadão, seja ele criança, jovem ou adulto, que implica não somente o conhecimento e a defesa de seus direitos, mas a exata noção de seus deveres, repaginando o assistencialismo comum na gestão pública. Mas algumas respostas trazidas por esse mesmo profissional demonstram uma compreensão diferenciada acerca do Eixo Educação Ambiental e Patrimonial no qual relaciona a variável ambiental na perspectiva do “ambiente saudável de viver” e o patrimônio na perspectiva do coletivo. ( questionário TCC4). Outra percepção desse profissional que reflete o modelo de trabalho social realizado até então relaciona-se ao eixo do empreendedorismo, da geração de trabalho e renda e do desenvolvimento socioeconômico. De acordo com esse profissional, esse “é o eixo mais problemático 127 e de difícil execução”. Segundo ele o tempo do trabalho social não é suficiente para “desenvolver ações efetivas” ( questionário TCC4). Cabe ressaltar que, é possível extrapolar o eixo do empreendedorismo de negócio, onde empreender é apenas engajar-se em uma atividade lucrativa qualquer. No trabalho social é possível e pertinente trabalhar com a noção de empreendedorismo cívico e empreendedorismo social 65 que, por sua vez, faz interface com o próprio empreendedorismo de negócio, pois, para este é necessário antes promover a formação ética e cívica dos indivíduos e da coletividade. E para a consolidação do eixo do desenvolvimento socioeconômico, no qual está incluído o empreendedorismo, está previsto, a partir da publicação da Portaria 21/2014, o Plano de Desenvolvimento Socioterritorial, que deve ser construído de forma coletiva, prevendo a complementaridade e a participação dos diversos agentes presentes na macroárea, inserindo o público alvo da intervenção nas ações e programas implementados pelas instituições que atuam no território. Já o Eixo Educação Patrimonial precisa extrapolar a noção do patrimônio enquanto empreendimento ou unidade habitacional e incorporar a noção de patrimônio em suas variadas manifestações culturais tangíveis e/ou intangíveis, que reconheçam memória, história, valores, lugares como fonte de conhecimento, reconhecimento (de fatos, coisas, vivências), desenvolvimento sócio-organizativo e construções coletivas a serem apropriadas pelo trabalho social. De acordo com Carter A Educação Patrimonial objetiva o estabelecimento de uma relação de afeto da comunidade pelo patrimônio histórico-cultural, sendo a sua metodologia aplicável aos mais variados grupos sociais e podendo ter como objeto qualquer tipo de bem cultura. [...] permite à comunidade reapropriar-se de objetos, lugares e saberes importantes para o reconhecimento de sua cidadania (CARTER, 2004, p.38-50) 65 Em consonância com um dos conceitos trazidos por Oliveira (2004 ) da Foud Schwab, Suíça: "São agentes de intercambiação da sociedade por meio de: proposta de criação de idéias úteis para resolver problemas sociais, combinando práticas e conhecimentos de inovação, criando assim novos procedimentos e serviços; criação de parcerias e formas/meios de auto-sustentabilidade dos projetos; transformação das comunidades graças às associações estratégicas; utilização de enfoques baseados no mercado para resolver os problemas sociais; identificação de novos mercados e oportunidades para financiar uma missão social. [...] características comuns aos empreendedores sociais: apontam idéias inovadoras e vêem oportunidades onde outros não vêem nada; combinam risco e valor com critério e sabedoria; estão acostumados a resolver problemas concretos, são visionários com sentido prático, cuja motivação é a melhoria de vida das pessoas, e trabalham 24 horas do dia para conseguir seu objetivo social." (OLIVEIRA, E.M, Empreendedorismo social no Brasil: atual configuração, perspectivas e desafios – notas introdutórias. Rev. FAE, Curitiba, v.7, n.2, p.9-18, jul./dez. 2004). 128 2.4.14 CATEGORIA 14: Monitoramento e avaliação de projeto A Categoria 14 apresenta as questões relativas ao monitoramento e avaliação de projetos sociais. Os técnicos das prefeituras responderam que realizam as avaliações “com relatórios, avaliações dos beneficiários” (questionário TSP1); “aplicação de questionário de avaliação das ações” (questionário TSP4); “não somente através do cumprimento de metas e prazos como também da satisfação dos beneficiários através de questionários aplicados” (questionário TSP3). Um dos técnicos não respondeu à questão e outro especificou dizendo que “Acontece da seguinte forma: 1ª avaliação no início dos trabalhos ( marco zero); 2ª avaliação no início dos trabalhos ( 50% das ações executadas ) e 3ª avaliação no último encontro, geralmente uma assembleia para discussão do projeto como um todo, avaliação final e encerramento do trabalhos” (questionário TSP2). Um entre os treze credenciados não realiza monitoramento dos projetos. Nas respostas dos doze outros foi dito que o monitoramento é realizado por meio de “avaliações dos beneficiários de todas as ações realizadas” (questionário TCC2); “pesquisa de monitoramento ao final de cada atividade” (questionário TCC3); “através de visitas nas casas dos beneficiários e questionários de avaliação dos resultados” (questionário TCC1); “através de pesquisa com os moradores” (questionário TCC13); “aplicando avaliação” (questionário TCC5); “pesquisa e avaliação” (questionário TCC7). Seguem outras respostas extraídas dos questionários, Apêndice II Pesquisa Ex-Ante (questionário, DRUP, outros ), monitoramento, reuniões de equipe, reuniões de avaliação com a população, dinâmicas com população, reuniões com a prefeitura, seminários, oficinas, avaliação pós-ocupação, pesquisa quantitativa e qualitativa ( geralmente grupo focal ), relatório (questionário TCC6); Relatórios e dinâmicas e avaliação após os encontros com os moradores. Esse é um item que avalio como fraco no meu trabalho. Ainda temos uma dificuldade de gerar processos avaliativos com os participantes. Se o público se distancia, temos poucas ferramentas para avaliar os motivos e reprogramar o trabalho (questionário TCC4); Nosso monitoramento tem sido pela sistematização das fichas de avaliação e listas de presença. Por meio de nº de participantes nas atividades, pelo conceito de avaliação que ele dá à atividade e pelas anotações-avaliação qualitativa. Além da manifestação da equipe técnica (questionário TCC10). 129 Avaliações feitas com a equipe técnica, contratante e beneficiários verificando listas de presença, fichas de inscrição, fichas de atendimento do plantão social, pesquisa final avaliação ( questionário TCC9). Em relação à percepção dos técnicos sobre o significado da avaliação final dos projetos sociais em habitação, todas as opções de respostas foram consideradas nos diferentes questionários, sendo que dois profissionais, um técnico credenciado e um técnico municipal, marcaram todas as opções, ou seja, entendem-na como um momento de medir as competências dispensadas ao projeto, os desempenhos, o êxito, as lições aprendidas, a pertinência das metodologias empregadas, como um momento de fazer a análise crítica do projeto, de fazer a prestação de contas e zerar pendências, de verificar a eficácia e se os esforços dispensados foram adequados e compensadores. Entre os credenciados há o entendimento de que a avaliação final representa uma oportunidade de “verificar as falhas e excessos e tentar corrigi-los [...]”(questionário TCC1). “Avalio que todos os itens acima ( referindo-se a todas as respostas dadas no questionários e que foram acima elencadas ) correspondem à finalização do projeto, contudo como as ações de monitoramento são fracas, essas avaliações poderiam ocorrer durante a execução do projeto” (questionário TCC4). Em todas as respostas é possível verificar que em nenhum momento foi mencionada a utilização de indicadores de monitoramento e avaliação nem tampouco a discriminação de métodos relacionados à relação temporal das avaliações face aos momentos de execução do projeto ou à própria natureza das avaliações. Além disso, fica explícita a assimilação da avaliação como um instrumento relacionado à intervenção microespacial, no âmbito do empreendimento, da família, das pessoas, muitas vezes na intenção de avaliar a “satisfação dos beneficiários” em relação à intervenção ou às atividades realizadas sem se preocupar com a verificação de seus impactos no âmbito macroespacial, sem trazer para dentro dessa avaliação a dimensão socioterritorial. Ainda assim resta a pergunta: satisfação em que nível? Medida de que forma? Em relação a quê? Como foram estabelecidos os critérios de participação na “pesquisa” de avaliação? Como foi feita a análise? Com que profundidade e consistência? A julgar pelo beneficiário que não participou efetivamente das atividades, mas está feliz por ter sido contemplado com a moradia a avaliação não serve para medir o trabalho social propriamente dito nem para medir as transformações sociais geridas no âmbito da família, do empreendimento ou da 130 comunidade. E ainda, a satisfação daquele indivíduo com sua moradia espelha o contexto em que essa moradia se constituiu? Ou seja, a satisfação está atrelada ao sentido da gratidão pela oportunidade de se ter obtido um “teto” para si e para sua família ou pelo fato de que a moradia representou para ele a propriedade de um bem que se constitui de uma infraestrutura dotada dos equipamentos e serviços necessários, da qualidade ambiental, controle urbanístico, inserção urbana, vida social e comunitária? A qualidade dos serviços e equipamentos está implícita nessa avaliação? Analisando comparativamente as respostas às questões relativas ao monitoramento e à avaliação final, parece ser precário o discernimento entre a ação de monitorar e a ação de avaliar que, embora se complementem e intercedam, cada uma tem suas “particularidades de sentido, metodologias e estratégias” ( BRASIL, 2010, p.117 ) que devem ser cuidadas separada e paralelamente para a gestão técnica, política e gerencial do projeto. E nesse sentido é necessário compreender que a avaliação engloba o monitoramento, pois para avaliar é preciso monitorar. Nesse sentido, a avaliação, amparada no monitoramento, é capaz de identificar “processos, resultados e impactos”, e de comparar “dados de desempenho”, julgar, informar e propor ações, redirecionamentos, políticas, programas, articulações (BRASIL, 2010, p.117 ). Ressalta-se que em se tratando de intervenções vinculadas a políticas públicas e realizadas com recursos públicos a avaliação torna-se uma obrigação pública, um dever ético, pois envolve recursos que são da coletividade, exigindo maior probidade no gasto e maior distributividade social. Por isso, está relacionada à relevância social, ao desempenho, eficiência, resultados e impactos do projeto no contexto dos objetivos estabelecidos, sendo um instrumento de gestão pública e de controle social das políticas públicas (BRASIL, 2010, p. 117). E é, portanto, esperado na execução dos projetos sociais em programas de provisão habitacional que as avaliações ocorram durante todo o ciclo de vida de seu processo de implementação, desde sua concepção ou marco zero ( ex-ante ), passando pelo monitoramento, ou avaliação ‘intra’, onde se avaliam as atividades do processo enquanto estas se desenvolvem, identificando os acertos, os erros, as dificuldades de 131 forma a permitir que, tempestivamente, se redirecione ações com vistas à efetividade do projeto, e pelo post, que coincide com a finalização imediata da execução do projeto, detectando, registrando e analisando os primeiros resultados (ABDALA, 2004). A avaliação ex-post, realizada tempos após a conclusão do projeto para verificação dos impactos e resultados consolidados no tempo, pode agora, com a sistemática da Portaria 21/2014, ser feita ao final do prazo de elaboração e execução do PDST para verificação do projeto social propriamente dito. Quanto ao ex-post do próprio PDST, fica a sugestão para o Ministério das Cidades criar condições de sua realização uma vez que este instrumento pressupõe um prazo de incubação e maturação. A aplicação da Portaria 21/2014, com a consistência necessária à materialização do que acima se expõe, esbarra inevitavelmente nas limitações, e até mesmo na inexistência, dos métodos e técnicas de gerenciamento dos projetos da intervenção integrada por parte da gestão municipal e dos projetos sociais elaborados e implementados pelos profissionais responsáveis pelo trabalho social resultando em ações isoladas e numa entrega dos produtos descomprometida com a sustentabilidade. Ressalta-se, entretanto, que o ciclo de vida dos projetos de trabalho social não permite a avaliação ex-post no rigor do método e de suas premissas. Para um levantamento mais apurado dos impactos do trabalho social e das intervenções não só na vida das pessoas, mas no território, seria necessário que os programas fossem constituídos da prerrogativa do retorno das equipes aos empreendimentos após determinado período de tempo para os levantamentos necessários ao aprimoramento das ações e políticas públicas e ao controle social Considerando que, de acordo com a portaria 21/2014, o Ministério das Cidades, responsável por definir as diretrizes e procedimentos operacionais de implementação do trabalho social, tem a atribuição de definir com as instituições financeiras os instrumentos de avaliação e monitoramento do trabalho social, além de desenvolver e apoiar ações de capacitação voltadas aos Entes Públicos, fica aqui uma sugestão: que o Governo Federal/MCidades institua programas e ações de avaliação ex-post 132 das intervenções de habitação de interesse social como uma ação a ser realizada pelas equipes do trabalho social. 2.4.15 CATEGORIA 15: Como considerar o projeto concluído A Categoria 15 traz a compreensão dos técnicos acerca do processo de conclusão de um projeto social no sentido do que isso significa para eles em termos dos objetivos dos projetos, de como é feita a transição, ou a “transferência” dos bens e serviços à população para então a equipe deixar a área de intervenção. Para sete credenciados e dois técnicos municipais, concluir um projeto social em habitação significa a entrega e aceitação do relatório final do projeto. Para cinco credenciados e um técnico municipal significa também a conclusão dos contratos firmados. Para cinco credenciados e um técnico de prefeitura, o pagamento/recebimento de todos os produtos e serviços entregues e realizados também representa a conclusão de um projeto. Entre os técnicos das prefeituras houve dois outros entendimentos além das opções dadas acima: “significa a possibilidade da realização de muitas famílias terem seu lar, sua casa, com dignidade, sendo desta forma agentes transformadores tendo assim uma moradia digna” (questionário TSP1); “significa cumprir todas as ações propostas de forma minimamente satisfatória, podendo observar na realidade de vida dos beneficiários a reprodução dos conteúdos trabalhados e discutidos durante o TS 66 ” (questionário TSP2). Dois credenciados entendem que a conclusão do projeto seria o momento de realizar evento de encerramento e desmobilizar a equipe (questionários TCC7 e TCC 13), o momento em que a comunidade encontra-se “organizada” (questionário TCC 7). Houve quem dissesse que “o prazo de execução define o encerramento do trabalho e assim acaba sendo um elemento limitador do projeto” (questionário TCC4). Alguns deles se expressaram além das opções dadas afirmando 66 Trabalho Social 133 Concluir um trabalho social é realizar todas as atividades, ações programadas e contratadas, tendo avaliado todo o trabalho ( equipe e comunidade ), tendo a segurança de deixar a comunidade com bom nível de organização (questionário TCC6). Ao final de uma execução, pessoalmente, busco avaliar e identificar um legado, algo que o TS possa ter deixado naquele bairro/residencial/polígono ou público alvo. Com poucos anos de experiência que tenho na área, infelizmente o legado não é tão significativo quantitativamente, mas o é qualitativamente. Exemplo do curso de manicure e pedicure e cabeleireiro, em Campo Belo (MG), formou-se um salão comunitário junto a associação de moradores. Em Itaúna, houve maior utilização dos serviços de cata-treco, pois os móveis eram deixados na rua do residencial Santa Edwirges. Em Nova Serrana estamos deixando uma associação de moradores bastante ativa, especialmente com diálogo com o poder público municipal. Em Araguari o que comoveu e envolveu os moradores foram as mudas de plantas frutíferas que foram distribuídas. Como também a escolhinha de futebol e o curso de fotografia. Enfim, não são em todos os eixos do TS que os beneficiários se envolvem e interessam. E a conclusão do projeto pra mim é quando consigo identificar um item, uma atividade que deixou um legado ao bairro (questionário TCC 10). Ao serem perguntados sobre como percebem que o projeto atingiu seus objetivos, Os credenciados responderam: quando “possibilitou modificação no comportamento dos beneficiários” (questionário TCC2); quando os moradores estão “organizados” (questionário TCC7); “quando as avaliações realizadas, principalmente pela população beneficiada, foram positivas nas atividades realizadas, demonstrando que a metodologia foi adequada” (questionário TCC9); “quando houve compreensão das famílias de tudo o que foi trabalhado, e conhecimento para a realização de mudandas” (questionário TCC1); Quando os beneficiários entendem qual é o verdadeiro objetivo do trabalho e quando o mesmo modifica por completo a vida das famílias envolvidas ( questionário TCC13). Outras respostas dos credenciados acerca do que significa para eles concluir um projeto seguem transcritas Consegue implantar uma equipe administrativa que consegue atuar de forma objetiva e defendendo os interesses da comunidade (questionário TCC8); Quando houve mudança de comportamentos e atitudes frente à moradia; consolidaram-se atitudes em direção à autogestão; representantes da comunidade conseguem conduzir e solucionar problemas coletivos, encaminhando-os (questionário TCC6); Pelo grau de satisfação demonstrado pelos beneficiários durante a execução do projeto e avaliação final (questionário TCC11);. Quando repassou informações úteis aos mutuários/beneficiários. Esclacreceu e informou sobre os serviços públicos, atendimentos e horários; conversou e conscientizou sobre o patrimônio adquirido. Conscientizou sobre 134 a manutenção e conservação do território e seus equipamentos (questionário TCC10); “quando os objetivos propostos são alcançados e verifica-se o envolvimento e participação de todos os agentes envolvidos no processo. Quando todos estão informados e conscientes de seus deveres e obrigações” (questionário TCC3) Quando o mesmo contribui e viabiliza a promoção da qualidade de vida das famílias beneficiárias. Fator de grande relevância para diminuição do déficit habitacional e controle social ( questionário TCC5). Quando é possível identificar um nível de organização dos moradores reconhecido pela maioria da pop67 (sic) do empreendimento ( questionário TCC4). Para os técnicos dos municípios o projeto atingiu seus objetivos quando “a população se apoderou das informações repassadas e discutidas durante o TS e passou a agir na realidade de forma consciente e efetiva, fazendo com que estes conteúdos sejam usados no dia-a-dia [...]” (questionário TSP2); quando “todas as famílias estão morando no empreendimento, respeitando o outro, que é público e privado, e principalmente tendo sua autonomia com direito a educação, saúde e lazer” (questionário TSP1); “quando os beneficiários ou maioria deles compreenderam o objetivo das ações realizadas e no seu cotidiano usufruem do que foi aprendido” (questionário TSP4); “pelo grau de satisfação demonstrado pelos beneficiários durante a execução do projeto e avaliação final” (questionário TSP3); Sobre o momento de transição e entrega, ou seja, o momento em que a equipe técnica irá “sair de campo” pela conclusão do trabalho social, os técnicos das prefeituras dizem consistir: Dos beneficiários terem sua autonomia, enfim de se verem como responsáveis pelo empreendimento e pelas suas casas (questionário TSP1); No início de uma nova etapa dos gestores da política de assistência social junto aos beneficiários objetivando a sustentabilidade do empreendimento (questionário TSP3); Em conscientizar os beneficiários que desse momento em diante eles devem assumir seus imóveis de forma responsável e consciente, pois todo o TS foi realizado para dar suporte a este momento de assumir as responsabilidades sobre a UH, sobre outros bens que por ventura foram construídos no projeto e sobre as atribuições de cada pessoa em seu meio comunitário (questionário TSP2); 67 População 135 Consiste em ‘sair de campo’ sabendo que o trabalho contribuiu com a melhora da qualidade de vida dos beneficiários. Ter a consciência que eles poderão repassar o que foi aprendido aos seus familiares, amigos, entre outros e principalmente a valorização do bem adquirido ( questionário TSP4). Os técnicos das prefeituras afirmaram que preparam os beneficiários para esse momento ao longo da execução do projeto “com palestras, encontros pertinentes, já tratando do assunto” (questionário TSP1); Um dos técnicos disse que “esse momento já vem sendo trabalhado desde o início do projeto com os beneficiários, através de informações aos mesmos que o TTS (Trabalho Técnico Social) será finalizado, visando o protagonismo dos usuários” (questionário TSP4); Um dos técnicos afirmou durante os trabalhos os beneficiários são constantemente lembrados que quando receberem seus imóveis devem zelar dos (sic) mesmos, devem assumir a responsabilidade sobre os mesmos por si só, sabendo que não mais contarão com o apoio das equipes técnicas, que estarão trabalhando em novos projetos e não cuidando constantemente de projetos já encerrados (questionário TSP2); Para os credenciados, a transição do projeto, “significa cortar os laços com o público alvo deixando a certeza de uma intervenção bem feita e uma comunidade mais madura” (questionário TCC3); “consiste na autonomia dos beneficiários em relação ao protagonismo de suas vidas” (questionário TCC13); consiste no “momento de finalização do projeto” (questionário TCC2); na “avaliação final e a certeza da população organizada” (questionário TCC7); na avaliação final do trabalho e definição de um plano compartilhado para o futuro” (questionário TCC6); “momento importante para ocorrer o empoderamento da população (questionário TCC9); “desde o início [...] a população é preparada [...].No final ]...] essa etapa é considerada normal pelos moradores, fazendo parte de uma sequência” (questionário TCC6); “oportunidade de empoderamento da sustentabilidade habitacional à população atendida” (questionário TCC5). Outros três credenciados responderam No programa Minha Casa Minha Vida, sinto que a transferência é penosa. A equipe administrativa, nem os moradores estão (sic) preparados, ainda, devido a vários fatores, à ‘saída de campo’ da equipe técnica (questionário TCC8); Um momento de avaliação do que foi realizado, e a definição de uma nova agenda para os grupos que foram criados/formados. A elaboração de um pequeno plano de ação para o grupo (questionário TCC4); 136 Penso que seja o momento de um grupo gestor ou associação de moradores já estar constituído, e a equipe repas sar as informações sobre articulações realizadas, órgãos e entidades/instituições de relevância para o bairro (questionário TCC10); A partir do momento que a família tem a capacidade de escolher o caminho pelo qual quer seguir, tendo conhecimento de todas as possibilidades que foram apresentadas (questionário TCC1). Ao analisar o conjunto das respostas, percebe-se que preparar os beneficiários para o momento da conclusão do projeto significa informar o prazo da intervenção, realizar “capacitação, dinâmica na qual o objetivo principal é o fortalecimento da equipe administrativa” (questionário TCC8);. Um credenciado afirmou que realiza “grupo focal para a avaliação do que foi realizado e elaboramos conjuntamente um plano de ação para o grupo desenvolver” (questionário TCC4); outro disse que os prepara “transmitindo informações dos locais e pessoas que eles podem procurar para ajudálos a resolver os problemas que surgem no dia-a-dia e me colocando à disposição quando há dúvidas permitindo que eles liguem, enviem e-mail e dando orientações para eles” (questionário TCC1); “[...] informando [...] durante todo o projeto que o mesmo vai ter fim e as pessoas precisam se apropriar do que for oferecido no TS” (questionário TCC9). Percebe-se o aspecto formal e tecnocrático dispensado ao trabalho realizado pelos profissionais do trabalho social ao responderem que concluir um projeto significa principalmente a entrega e aceitação do relatório final do projeto, conclusão dos contratos firmados e o pagamento/recebimento de todos os produtos e serviços entregues e realizados. Na conclusão dos projetos de trabalho social os técnicos devem antes ter a certeza do que se legou ao território, à área de intervenção, às comunidades, às pessoas, e a si próprios enquanto parte das relações que se estabeleceram no processo de implementação dos projetos, que por sua natureza é dialética - ao trabalhar no e com o território, esse técnico modifica a si mesmo. Portanto, ter a certeza de que o trabalho social foi capaz de contribuir na subversão da ordem patrimonialista e clientelista enraizada na gestão pública, criou condições e espaços de vocalização, instaurou capacidades de problematização e transformação das relações para uma práxis social transformadora (QUARESMA, 2012, p. 198 ), e, ressalte-se, foi dito ‘contribuir’, pois essa obra será sempre inacabada e em contínua construção - é minimamente aí que o trabalho social poderá ser considerado concluído 137 enquanto projeto de intervenção, mas outras e novas e contínuas intervenções serão necessárias. Não é o caso de ignorar a importância das questões práticas, administrativas, operacionais, racionais e objetivas desse momento como romper os laços construídos, desmobilizar as equipes, preparar as pessoas para seguirem seus caminhos aplicando os conhecimentos adquiridos, que são parte integrante do processo, mas estas sucedem àquelas, caso contrário, as metodologias de avaliação, se aplicadas, indicariam a necessidade de redirecionar alguma ação para que os objetivos e metas do trabalho social se concretizassem. E hoje, considerando a normatização do trabalho social vigente, é preciso levar em consideração o Plano de Desenvolvimento Socioterritorial (PDST) que pressupõe a aproximação do setor privado e do terceiro setor atuantes na macroárea com o trabalho social. Implica inserir projetos e proposições desses segmentos no cronograma de desenvolvimento do território. Nesse sentido, encerrar o projeto social poderia significar a entrega da comunidade, do empreendimento, à outro segmento para a continuidade de uma intervenção potencializadora das ações iniciadas pelo trabalho social visto que o setor privado e as entidades do terceiro setor lidam com o princípio da responsabilidade social tendo equipes e departamentos exclusivamente voltados à elaboração e execução de projetos nas comunidades com as quais se relacionada direta ou indiretamente e trabalham com fundos incentivados como o Fundo a Infância e da Adolescência ( FIA ), leis de incentivo à cultura, ao esporte e à aprendizagem ( BRASIL, 2010, p.268-273 ). 2.4.16 CATEGORIA 16: Identificação de problemas após a saída de técnico Nesta Categoria buscou-se identificar o conhecimento dos técnicos acerca de problemas ocorridos nos empreendimentos após o término do trabalho social ou mesmo durante sua realização que não tenham sido solucionados ao longo do período de execução do projeto de intervenção. 138 Treze técnicos, entre os municipais e os credenciados afirmaram ter tido conhecimento de problemas que não tenham sido solucionados ou encaminhados pela equipe técnica ou seus respectivos responsáveis. Entre os problemas relatados pelos credenciados encontram-se aqueles relativos às questões construtivas, falta de equipamentos e serviços públicos (escola, creche, transporte, posto de saúde ), segurança, violência, “violência relacionada à droga”(questionário TCC7). Seguem transcritas algumas colocações dos técnicos credenciados Geralmente problemas de violência são constantes durante o trabalho social e em muitos casos costumam piorar com a saída dos técnicos sociais (de campo/conclusão dos trabalhos). São problemas estruturais que fogem a competência com o trabalho social. Geralmente ligados a grupo a margem da lei, ligados ao tráfico, em suas diversas formas (questionário TCC6); Depredação das áreas coletivas/do salão comunitário; as denúncias de imóveis alugados; os vícios construtivos dos imóveis sem solução pela construtora (questionário TCC4); Relacionados à segurança: assassinato e estupro. Também invasão, roubo ao escritório social. Vícios construtivos que não são respondidos pela ouvidoria do MCMV. Assassinato: uma mutuaria alugou o imóvel para traficantes. Após buscar o pagamento do aluguel, que teve dificuldades em receber, ela foi encontrada enterrada de cabeça para baixo próximo ao imóvel, o fato aconteceu no residencial Geraldo Veloso em Formiga/MG. O caso referente ao estupro foi no Portal de Fátima em Araguari/MG. A equipe do TS identificou nas reuniões informativas, por meio de desenhos de moradores, problema da sujeira em áreas institucionais e áreas não capinadas, sujas, em que a CEMIG 68 dizia que era responsabilidade da prefeitura e vice-versa. Em Janeiro/14 a equipe comunicou às secretarias pertinentes. Nada foi feito. Em fevereiro comunicou novamente. No final de março uma senhora foi estuprada na área de matagal. Em abril o secretário de limpeza urbana visitou o escritório social (questionário TCC10); Nas respostas dos técnicos dos municípios encontram-se relatados “alguns conflitos entre vizinhos e interesse em comercialização do imóvel” (questionário TSP3); “abandono do apartamento, “moradores irregulares” 69 (questionário TSP1). Dois relatos desses técnicos merecem destaque 68 69 Centrais Elétricas de Minas Gerais. Moradores que residem nos imóveis sem terem sido os destinatários originais dos subsídios e que, portanto, são desprovidos de contrato formal com a CAIXA. De acordo com a regulamentação do programa e as condições contratuais, a destinação dos imóveis é única e exclusivamente para a moradia da família beneficiária não havendo a possibilidade, por exemplo, da utilização do imóvel para fins comerciais e o prazo para mudança do para os imóveis, que antes era de 30 dias, agora deve ser imediatamente após o recebimento das chaves. Como os subsídios financeiros concedidos para a aquisição da unidade habitacional são pessoais e intransferíveis, o beneficiário não pode vender o imóvel até a quitação do valor do financiamento. Muitos, entretanto o fazem, descumprindo cláusulas contratuais. Mas há também o caso de unidades habitacionais invadidas, cedidas, doadas e dominadas pelo crime organizado ( como o caso do Residencial Guadalupe no subúrbio do Rio de janeiro que ficou nacionalmente conhecido pela veiculação na grande mídia que foi invadido pelos traficantes em Novembro de 2014 que necessitou de intervenção do Estado para reintegração de posse). 139 Venda de UH (unidades habitacionais) para terceiros pouco tempo depois da entrega da mesma; invasão da UH antes do término da obra ou mesmo antes da entrega destas ao beneficiário de direito, roubo de materiais das UH durante de depois da conclusão das obras; locação de UH. Inadimplência nos programas de financiamento; desistência de beneficiário durante o processo (questionário TSP2). A entrada dos técnicos em campo já é precedida de uma carga de problemas, dificuldades e obstáculos que as equipes precisam enfrentar para criar as condições mínimas de trabalho. Alguns absolutamente insolúveis pelas mãos do trabalho social. Estes, relacionados aos problemas construtivos, para os quais a equipe técnica tem no máximo, hoje, a prerrogativa de prover as condições para os encaminhamentos necessários, trabalhando, claro, paralelamente, como lhe é atribuição, a formação de consciências, a capacidade de mobilização social em torno da questão, para criar meios de conduzir o enfrentamento aos interesses políticos e às leis de mercado que até então legitimaram o princípio de que se é os pobres pode ser de qualquer jeito e em qualquer lugar. Outras condições antepostas, que prejudicam o legado do trabalho social e que lhe fogem ao controle por serem objeto de interlocução entre políticas públicas, alinhamse às condições macroeconômicas e sociais. Os empreendimentos em sua grande maioria localizam-se em áreas de periferia, onde facções criminosas constituem um “terceiro poder” contra o qual trabalho social não tem forças, capacidade e nem autoridade para enfrentar, não lhe sendo também atribuição direta. Promover a inserção social, econômica, cultural e política das comunidades constitui o enfrentamento a longo prazo da questão da droga, da ociosidade, da marginalidade, da criminalidade, da adição, mas isso é ação indireta prevista no trabalho social. As outras ações cabem ao poder público, às políticas públicas. Resta ainda o enfrentamento à falta de civismo, de vontade coletiva. O trabalho social aqui consegue apenas contribuir na construção de comunidades cívicas, compostas de cidadãos com obrigações a cumprir, “virtuosos e imbuídos de espírito público” (PUTNAM, 2006, PP.100-101 ). Essas, a longo prazo, serão capazes de combater a 140 outra vertente que dificulta a ação eficiente do trabalho social: o patrimonialismo e a cultura do favor. Putnam utiliza a expressão “familismo amoral”, de “Edward Banfield”70, para elucidar a falta de virtude cívica existente na intenção de “maximizar a vantagem material e imediata da família nuclear”; supondo “que todos os outros agirão da mesma forma” (BANFIELD, 1958, p. 85 apud PUTNAM, 2006, p. 102 ). Seria falta de virtude cívica, portanto, as questões elucidadas pelos técnicos de depredação dos espaços coletivos (a pedra que se joga para o alto ), aquelas situações já ditas, em que as famílias, ainda que reconheçam não preencher os requisitos previstos nos programas, invistam na tentativa de deles se beneficiar ou, uma vez beneficiadas, não se apropriam daquilo que lhes foi concedido, como nos programas de habitação de interesse social, em que não utilizam o imóvel para sua própria moradia e fazem desse imóvel um objeto de reserva patrimonial. Não se espera altruísmo das comunidades beneficiárias dos programas de habitação de interesse social ou das políticas públicas de um modo geral, mas um mínimo de civismo e compreensão do que lhe é atribuído enquanto cidadãos que, ao se apropriarem de direitos, lhe são reservadas expectativas de cumprimento de deveres. Como diz Putnam que nos convida a uma análise bastante interessante Pode muito bem haver um exagero na dicotomia entre interesses próprios e altruísmo, pois nenhum mortal e nenhuma sociedade bem-sucedida podem ( sic ) prescindir do poderoso estímulo do interesse próprio. Os cidadãos da comunidade cívica não têm que ser altruístas. Mas na comunidade cívica os cidadãos buscam o que Tocqueville (1996) chamava de “interesse próprio corretamente entendido”, isto é, o interesse próprio definido no contexto das necessidades públicas gerais, o interesse próprio que é “esclarecido” e não “míope”, o interesse próprio que é sempre sensível aos interesses dos outros [...].Os cidadãos de uma comunidade cívica não são santos abnegados, mas consideram o domínio público algo mais do que um campo de batalha para a afirmação do interesse pessoal ( PUTNAM, 2006, p. 102 ). Essa foi a base inspiradora da realização do presente estudo e é nela que se acredita que o trabalho social realizado nas intervenções do desenvolvimento urbano deve se apoiar para a construir o caminho da superação de toda a estrutura que emperra a consolidação da gestão social, governança e governabilidade. 70 BANFIELD, EDWARD C. The moral basis of a backward society. Chicago Free Press, 1958, p. 85. 141 2.4.17 CATEGORIA 17: Papel transformador do trabalho social Nesta categoria objetivou-se verificar se os técnicos do trabalho social reconhecem nele algum potencial transformador da realidade. Primeiramente, cabe destacar que todos os técnicos respondentes dos questionários desta pesquisa consideraram que o trabalho social tem um papel transformador. De acordo com Carvalho (2014), referindo-se aos idos dos anos de 1960, quando “a ênfase era colocada nas metodologias de educação popular [...] sob influência das proposições de Paulo Freire” (CARVALHO, 2014, p. 18), o trabalho social [...] era compreendido como ação sociopedagógica que requeria a combinação de saberes múltiplos convertidos em processo, argumento, instrumento, conteúdo, relação. Abarcava processos políticos de mobilização e, igualmente, aqueles processos clássicos do trabalho social consubstanciados no trato psicossocial, na pedagogia emancipatória, na afetividade, no cuidado. [...] Na década de 1990, de acordo com a autora, o trabalho social atravessou momentos de uma “razão instrumental” baseada em controles técnicos, e hoje vem resgatando seu papel de mediação no processo de implementação das políticas públicas e promotor de processos participativos “associados à transformação e à emancipação social” (CARVALHO, 2014, p. 18). É possível dizer que, a julgar pelo número de programas de desenvolvimento urbano com exigência de sua realização a exemplo das ações de provisão habitacional, saneamento, urbanização de assentamentos precários, regularização fundiária, seu o lugar de reconhecimento está posto. A consagração da premissa de que a disponibilização de bens e serviços por si só, apesar de essenciais, não promove inclusão social nem emancipa se feita sem as mediações necessárias que o trabalho social é capaz de fazer, é condição essencial à sua consolidação. O trabalho social tem, portanto, um grande poder de transformar a realidade das comunidades/pessoas destinatárias dos programas e políticas públicas, de contribuir na promoção da mobilidade social, de despertar nas pessoas atitudes cívicas, de promover mobilização social e abrir trincheiras para o desenvolvimento socioterritorial. 142 Sua concepção avançou significativamente no sentido de incorporar a macroárea como seu campo de atuação, de ser objeto de maiores percentuais de recursos para sua execução, de considerar a educação patrimonial e ambiental e o desenvolvimento socioeconômico como eixos de ação, falta entretanto o apoio institucional e político, logístico, operacional e instrucional para que o reconhecimento suplante as dificuldades de sua efetiva aplicação, pois o fato de estar normatizado, ser parte integrante dos programas e ser potencialmente viabilizador da gestão social, não garante sua concretude. 2.4.18 CATEGORIA 18: Grau de intensidade e objeto central do poder transformador do trabalho social A Categoria 18 teve o propósito de verificar junto aos profissionais onde reside o maior poder transformador do trabalho social e em que intensidade. De acordo com as análises todos os técnicos das prefeituras acreditam que o trabalho social tem um intenso poder de transformar a realidade. Entre os técnicos credenciados esse entendimento, entretanto não é unânime. Oito credenciados acreditam ser intensa essa capacidade do trabalho social de mediar as políticas públicas e promover transformações importantes. Um deles acredita ser “intensa em alguns casos” e “pouco intensa em outros” ( questionário TCC6). Dois acreditam ser pouco intensa e dois acreditam ser muito intensa. Entre os técnicos das prefeituras, quatro acreditam na perspectiva socioeducativa e de formação política para a construção da cidadania presente no trabalho social. Dez credenciados também o creem. Outras perspectivas presentes no trabalho social consideradas pelos técnicos: portunidade de se colocar profissionais da área social em campo atuando como agentes desta transformação ( 03 credenciados e 03 técnicos municipais ); proposição de ações voltadas à informação e formação a partir de metodologias adequadas ao tipo de intervenção a que se vincula o trabalho social( 02 técnicos municipais e 4 credenciados ). Entre esses técnicos, dois técnicos municipais atribuíram ao trabalho social o poder de transformar a realidade a partir das ações de educação ambiental e quatro credenciados, sendo que um destes credita essa possibilidade ao “público infanto-juvenil” e à possibilidade da “venda do 143 óleo de cozinha usado [...] ou na coleta de móveis e utensílios domésticos” (questionário TCC10), na oportunidade de reunir pessoas explanando sobre temas importantes relacionados à saúde e à higiene (02 credenciados e 02 técnicos municipais). Enquanto quatro técnicos municipais acreditam que esse poder se concentra também na oportunidade de agir no território, somente três, dos treze credenciados, atribuem a essa possibilidade o potencial transformador do trabalho social. Cabe ressaltar que as dificuldades relacionadas ao trabalho social vão além da capacidade de se propor e executar projetos. Devem levar em consideração também a precária inserção urbana dos empreendimentos, a falta de conexão do trabalho social com a intervenção física que impacta sobremaneira a efetividade do trabalho social, as deficiências na capacidade governativa dos municípios, que assumiram pelo Sistema Nacional de Habitação de Interesse Social novas atribuições, mas não promoveram seu desenvolvimento institucional. Além disso, há falhas importantes no encadeamento do processo produtivo que precisam ser corrigidas, a começar do momento da concepção da intervenção quando os gestores institucionais se reúnem, deliberam, a equipe de engenharia é convocada a elaborar o projeto sem a participação das equipes sociais e, consequentemente, sem considerar as variáveis sociais implícitas no processo e na implantação do empreendimento. A implementação dos programas de habitação de interesse social ainda é feita sem garantia dos princípios da intersetorialidade e da interdisciplinaride necessária, consequentemente fica deficitária a articulação com outras políticas setoriais. A Portaria 21/2014 estabelece alguns parâmetros de governança na relação do trabalho social com as obras ao propor marcos temporais que determinam o momento de iniciar a seleção das famílias e de elaborar e executar cada um dos instrumentos do trabalho social – PTS-P, PTS e PDST. Entretanto, a sistemática exige uma capacidade de gestão e comunicação entre todos os agentes envolvidos no processo – CAIXA, prefeituras, construtoras, equipes técnicas e gerenciais, órgãos de licenciamentos, cartórios. Essa conexão ainda não chegou a um nível de precisão que permita um fluxo satisfatório de execução e até que as equipes do trabalho social se organizem (visto que sua inserção no processo é tardia) para entregar os produtos do trabalho social – projetos e seleção das famílias, as obras tomaram seu curso de 144 forma descompassada as ações sociais. O resultado acaba sendo muitas vezes desastroso ao ponto dos empreendimentos serem concluídos sem a relação de beneficiários estar definida ou sem que o próprio trabalho social tenha iniciado sujeitando o empreendimento a invasões e outros problemas como desistências de beneficiários, destinação irregular das unidades habitacionais, etc. Por oportuno ainda é importante lembrar que no Programa Minha Casa Minha Vida, a obrigação de selecionar as famílias é do Ente Público seguindo a orientações normativas da Portaria 595/2013, a qual estabelece três critérios de priorização do público alvo: famílias residentes em áreas de risco ou insalubres ou que tenham sido desabrigadas; famílias com mulheres responsáveis pela unidade familiar; e famílias de que façam parte pessoas com deficiência. De forma a complementar os critérios nacionais; Distrito Federal, estados, municípios e entidades organizadoras poderão estabelecer até três critérios adicionais de priorização. Os critérios adicionais deverão harmonizar-se com os nacionais, estabelecidos no subitem 4.1 da Portaria 595/2013. 2.4. 19 CATEGORIA 19: Sentidos do trabalho social nos PHIS Na Categoria 19 a pergunta norteadora foi relativa às possibilidades contidas no desenvolvimento do trabalho social. Para onze dos treze técnicos credenciados e três técnicos das prefeituras, o trabalho social contribui para o fortalecimento das relações de vizinhança, familiares e o vínculo patrimonial garantindo assim a sustentabilidade das intervenções. Dez técnicos credenciados e três municipais acreditam que o trabalho social estimula o envolvimento das pessoas com as questões sociopolíticas vinculadas ao seu território; promove a cidadania e o protagonismo social. Seis credenciados acreditam que o trabalho social garante a participação ativa, a mobilização e a organização comunitárias. Interessante é que nenhum técnico municipal atribuiu essa perspectiva ao trabalho social. Sete, dos treze credenciados, e quatro, dos cinco técnicos das prefeituras, disseram que o trabalho social realmente provoca mudanças de comportamento das pessoas em relação à saúde, ao meio ambiente, aos bens e serviços disponibilizados nas intervenções, à moradia. 145 Com a fala de Dirce Koga é possível apreender o potencial que o trabalho social tem enquanto um conjunto de ações capaz de viabilizar o que se apresenta em suas colocações faz parte da cidadania a incorporação do território como espaço não somente de habitação, mas também de vivência e convivência. Significa morar bem, passear com prazer e segurança, usufruir bem dos serviços. A cidadania significa vida ativa no território [....]. Assim, parece se fazerem necessárias novas formas de resgatar o pertencimento ao lugar à cidade. [...] é preciso que estes territórios exerçam um papel de sujeito e não apenas de objeto das políticas públicas. [...]. território permite esta consideração das totalidades dos lugares e das pessoas, das diferenças e das desigualdades, das necessidades e das potencialidades. Esta visão traz consequentemente à tona a questão da intersetorialidade não simplesmente como uma soma de programas e projetos, mas fundamentalmente como um instrumento de mobilização de recursos e potências locais considerados na sua totalidade territorial (KOGA, 2011, p.117-118 e p. 296 ). 2.4.20 CATEGORIA 20: Sugestões para incremento do trabalho social no desenvolvimento urbano Essa categoria teve o propósito de identificar as observações e sugestões dos técnicos para o incremento do trabalho social no desenvolvimento urbano. Pressentiase obter desse espaço concedido aos técnicos uma gama de colocações importantes, de sugestões para o aprimoramento das intervenções sociais e da relação do técnico com seu objeto de ação. Entre os técnicos credenciados, cinco não fizeram uso do espaço. As colocações dos participantes apresentam-se no quadro abaixo. Quadro 3 Considerações gerais e sugestões dos profissionais para o incremento do trabalho social CREDENCIADOS PREFEITURAS Percebo ao longo de minha experiência que os verdadeiros efeitos do trabalho social só são realmente sentidos a longo prazo. Temos um público em programas de habitação voltados a vida de maneira muito informal e a adaptação a esta realidade mais formal com normas, regras, deveres e obrigações dificulta no entendimento de que qualidade de vida e moradia melhor exige o cumprimento de várias normas e combinados estabelecidos. A maior dificuldade do trabalho social nestes programas consiste em favorecer a Sinto a necessidade dos técnicos sociais terem mais cursos de capacitação, mais ferramentas de trabalho, e menos burocracia para a realização efetiva do trabalho social. Afinal de contas trabalham com pessoas (seres humanos), fragilizados pois se a família não tem nem uma moradia digna, ela não tem educação, não tem saúde, e muitas vezes nem o que comer, já que uma casa é muito mais do que quatro paredes e um teto. Desta forma trabalhamos com sonhos, com 146 apreensão destes novos valores e criar neste público novos hábitos de vida (questionário TCC3). Uma questão que dificulta o trabalho social é a burocracia. Tanto na elaboração, como na execução. Diferentes critérios de acordo com os técnicos que analisam os projetos, demora na análise dos relatórios parciais e final e consequente demora no repasse dos recursos (questionário TCC2). Uma investigação com maior tempo para verificar a real necessidade da família, mais visitas e orientações; durante o tempo de pagamento do imóvel durante o tempo de pagamento deveria ocorrer fiscalização ao menos uma vez por ano e nessa visita verificar a situação da família e quando necessário convidá-la a participar dos grupos de T.T.S novamente, instituir encontros trimestrais com o grupo de beneficiários 1 ano após a finalização do projeto. Ter a possibilidade de mais tempo e recurso financeiro para acompanhar as famílias mais de perto (questionário TCC1). O programa minha casa minha vida, é um programa que atende uma população de baixa renda. Uma população sem acesso a moradia digna, a saúde, a educação, a segurança, ao transporte, ao lazer. Para a efetivação deste programa tem-se vários agentes envolvidos. Se estes agentes cumprirem com os seus compromissos, com certeza este programa será a menina dos olhos (questionário TCC8) Penso que não há uma maneira uniforme de se avaliar os projetos sociais. Relatórios são analisados diferentemente de acordo com a capacidade técnica do contratante. Uns são mais exigentes do que outros, muitas vezes despendendose muito tempo para as questões burocráticas, de formatos de relatórios, do que na realização in loco das ações e atividades em contato direto com os beneficiários. Muito obrigado, é muito importante essa pesquisa para uma melhor qualificação dos profissionais que desenvolvem TS (questionário TCC9). possibilidades, e o trabalho social acompanha essas famílias, desde a visita na sua "casa" , até a casa nova, é um grande potencializador de mudança na vida dessas pessoas (questionário TSP1). Investimento em capacitações para técnicos devido as dificuldades encontradas na elaboração e execução do projeto técnico social em habitação. Outro ponto relevante que precisa ser pensado a nível municipal é a criação de uma Secretaria e/ou setor específico para habitação evitando a fragilização do trabalho (questionário TSP3). É essencial ao TS que os beneficiários só sejam incluídos no CADMUT quando receberam as UH por conta das desistências e problemas para retirar os beneficiários deste cadastro quando não receberam a U.H; seria muito proveitoso se o ministério das cidades montasse uma "equipe itinerante" para visitar as cidades periodicamente para dar suporte aos técnicos sociais em seus trabalhos; outra ideia é que a primeira fase do TS - seleção de famílias parte informativa de assinatura de contrato, etc; esteja executada e seja condição para a emissão da ordem de serviço (para o inicio da obra), e que a partir disso, todas as medições de obras não ultrapassem percentual de TS realizado; seria interessante também uma maior quantidade de eventos como simpósios, congressos, cursos de capacitação, entre outros. para melhorar a capacidade profissional dos técnicos e disseminar as trocas de experiência entre os mesmos e também que fosse firmado um calendário anual para estes eventos, para que os técnicos pudessem se preparar para os mesmos (questionário TSP2). No decorrer das avaliações sociais das famílias inscritas no Programa MCMV, foi observado um grande número de candidatos que possuem imóveis, sendo constatado, inclusive, que uma pessoa possuía 7 (sete) imóveis. Outra situação também observada, foi a omissão de companheiros/cônjuge por um grande número de mulheres, no intuito de serem incluídas no critério (de seleção) “mulheres chefes de família”, sendo tal omissão confirmada em loco/visita domiciliar. Com essa constatação sugere-se que o quesito “mulher chefe de família” seja excluído como critério classificatório, mas observado na avaliação social. Em relação ao programa como um todo, é de extrema valia que se tenha mais capacitações e exigência de uma equipe multiprofissional ( setor de habitação ) por parte das prefeituras para um bom desenvolvimento do programa (questionário TSP5). 147 Fator dificultador de maior relevância tem sido a falta de comprometimento do poder público municipal e despreparo técnico. Sugestões: estabelecer a co-participação dos municípios e capacitação técnica conforme os normativos dos programas (questionário TCC5). O item do questionário que deu origem a esta categoria constituiu-se de um espaço para os técnicos fazerem suas considerações, sugestões para o incremento do trabalho social no desenvolvimento urbano, apontamentos importantes, enfim, colocações que julgassem pertinentes e necessárias. Mais de uma resposta refletiu o clamor por capacitação e apontamentos acerca das dificuldades tecnocráticas do trabalho social que foram atribuídas à “burocracia”, à “falta de comprometimento do poder público municipal e despreparo técnico” e falta de uniformidade nas análises dos projetos e relatórios. Reflete aí também um clamor em relação à atenção da instituição financeira no sentido de oferecer melhor assistência técnica e às prefeituras o apoio necessário. A ambos, melhor condição de realização do trabalho social no que tange à descomplexificação de processos. Os apontamentos do questionário TSP5 ratificam as considerações apresentadas nesse artigo relativos aos familismos amorais e à falta de atitude cívica e à necessidade de se instituir mecanismos de controle e gestão das políticas públicas. Também ratificam a centralidade da família, do beneficiário e a ausência de foco no “binômio família-território” ( CARVALHO, 2014, p. 71). 2.5 Considerações Finais A discussão aqui proposto teve início com os questionamentos acerca das potencialidades do trabalho social e das condições institucionais, logísticas, instrucionais, técnicas e políticas para sua realização no âmbito das políticas de habitação de interesse social. Pretendia-se responder a algumas questões relacionadas à sua capacidade de concretizar no território da ação aquilo que lhe é prescrito, notadamente no que tange ao desenvolvimento sócio-organizativo e à participação social e, então, por pertinência indagava-se acerca da capacidade técnica dos profissionais por ele responsáveis. Mas também nos perguntávamos de que forma seria possível contribuir na proposição de melhores projetos. Já nos 148 antecipando na certeza de que a pouca efetividade do trabalho social amarra-se a várias condicionantes, queríamos também saber se as instituições estão preparadas para um fazer intersetorial, interdisciplinar e aberto à noção de território como requerido na implementação dos programas de provisão habitacional e do trabalho social. Importante resgatar em que contexto esse trabalho se coloca e então caminhar para algumas considerações que não pretendem e não devem ser conclusivas e sim alusivas ao desejo de continuar na busca de novas perguntas e novas respostas que conduzam a novas ações. Esse contexto, do SNHIS e da PNH, abarca mecanismos de governança e governabilidade que são essenciais à efetividade do trabalho social como foi dito no capítulo anterior. Pressupõe coparticipação, responsabilidades compartilhadas, conselhos municipais de habitação atuantes, transparência. Os mecanismos de governança e governabilidade previstos no SNHIS não se consolidaram. A gestão do programa é segmentada. Assim, é parte essencial, com lugar de destaque, a necessidade urgente de que se promova o desenvolvimento institucional dos municípios, compreendendo conhecimento, processos, pessoas e logística. As distâncias entre sociedade e governos devem ser encurtadas, os servidores públicos devem unir seus conhecimentos aos conhecimentos que genuinamente emergem da sociedade promovendo juntos, governos e sociedade, a “praxis produtiva” e a “práxis social ou política” transformando “a realidade natural, física, humana e social a partir do trabalho” e a sociedade por meio dela própria e do Estado (QUARESMA, 2012, p. 185). Conduzir a gestão social e a gestão pública por esse caminho, sem assistencialismo e patrimonialismo, rompendo a cultura do favor, é conciliar técnica, conhecimento e política de maneira construtiva e estruturante em proveito da democracia e de projetos societários. Quanto aos profissionais do trabalho social? Suas dificuldades foram expostas. Constituiu-se aqui um espaço de vocalização de suas angústias, expectativas, visões, percepções. De seu fazer social. São muitos os obstáculos a superar. Seu campo de atuação exige esforço hercúleo. Algum investimento no incremento da preparação técnica dos responsáveis pelo trabalho social está sendo feito a exemplo dos cursos 149 do Programa Capacidades do Ministério das Cidades, gratuitos, na modalidade à distância. É incipiente essa oferta, mas é aberta à participação. Cabe-lhes a busca. Inovar, conhecer, estudar, investigar, melhorar sua capacidade técnica. Se lhes oferece como resultado de sua contribuição nesse estudo, um Guia de Orientações Metodológicas Para a Intervenção Social para mais um passo nessa direção. Aos demais agentes cabe a responsabilidade pela governança e o reconhecimento de que investir no trabalho social é investir na complementaridade de políticas e ações, nos arranjos intersetoriais, na interdisciplinaridade, no desenvolvimento socioterritorial. Portanto, tentando responder à pergunta inicial, é possível dizer, de acordo com os dados da pesquisa, que há no trabalho social um intenso potencial de mediação entre a norma e o concreto, a prescrição e realidade, de incentivo ao protagonismo, de mitigador das condições de privação e intercessor na preparação das comunidades para o exercício do controle social e a formação de comunidades cívicas, para o incremento dos programas e políticas públicas e acesso a uma cidade democrática, de direitos e deveres consolidados. O Plano de Desenvolvimento Socioterritorial proposto na Portaria 21/2014, incorpora a variável território na definição do escopo dos projetos e traz para o trabalho social uma perspectiva de fortalecimento de sua capacidade de intervir na realidade e consolidar suas premissas a partir do princípio da complementaridade de ações em parcerias estabelecidas com outros atores presentes no território. Os técnicos e as entidades executoras precisam compreender essa proposta, descobrir e estruturar mecanismos para viabilizá-la. Existem inúmeros obstáculos a transpor e que devem ser reconhecidos por todos os agentes que integram o complexo processo de elaboração e implementação de políticas públicas. A intersetorialidade, a interdisciplinaridade, a complementaridade dessas políticas e a governança constituem as condições mínimas necessárias à consolidação do trabalho social como promotor da gestão social e da governabilidade. Reconhecê-lo dotado das capacidades aqui mencionadas, disponibilizando as condições mínimas de realização é um passo importante na direção dessa consolidação. A participação, ponto nodal do trabalho social, é um outro enfoque dado pela portaria. A comunicação também ganha centralidade quando a questão do 150 trabalho esbarra na necessidade de inovação. É preciso começar a inserir no trabalho social a perspectiva de utilização das Tecnologias de Informação e Comunicação, encurtar tempo e distância, trabalhar com ferramentas visuais. Nas mãos dos técnicos estão os desafios da criatividade, adaptabilidade, inovação e metodologias apropriadas. Aos outros agentes envolvidos, resta o apoio e a estruturação das condições necessárias à sua materialização. Buscar pontos de intercessão entre mercado, Estado e sociedade para viabilização de empreendimentos melhor inseridos, mais acessíveis, com menor incidência de verticalização também torna-se questão central. Referências ABRAMOVAY, R. 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Acesso em 07/09/14 156 Capítulo 3 Produto Técnico – Guia de Orientações Metodológicas para o trabalho social em intervenções de habitação MITRE, Maristela Jorge1 ARAÚJO, Wânia Maria de2 RESUMO Este capítulo foi reservado ao produto técnico resultante da pesquisa realizada com técnicos sociais municipais e técnicos sociais credenciados pela Caixa Econômica Federal para prestação de serviços técnicos especializados. A pesquisa teve por objetivo identificar os limites e potencialidades do trabalho social enquanto elemento integrante dos programas de habitação de interesse social composto por um conjunto de ações estratégicas voltadas ao desenvolvimento socioterritorial e à sustentabilidade das intervenções. Este artigo acrescenta algumas considerações teóricas focalizando as reflexões no campo das práticas sociais daqueles profissionais e apresenta um Guia de Orientações Metodológicas para Intervenções Sociais. Este Guia foi elaborada a partir da revisão da literatura, das percepções pessoais da autora enquanto Assistente de Projetos Sociais na área de habitação da Caixa Econômica Federal e nos dados apurados na pesquisa de campo. Não há uma pretensão em dizer que o trabalho social seja uma prática austera, rígida, inflexível, engessada em ferramentas e metodologias preconcebidas, prescritas por agentes externos à sua realização. O Guia tem como propósito apresentar modos de intervir na realidadecampo do trabalho social de forma a contribuir com os profissionais do trabalho social. Embora esteja contextualizado no âmbito dos programas de habitação de interesse social que integram a Política Nacional de Habitação, espera-se que sua aplicação seja atemporal e que possa ser estendida a construção de diagnósticos e apreensão da realidade em toda intervenção urbana que se pretenda emancipatória, mediadora e construtora de processos participativos e aprendizados coletivos. Palavras-chave: Trabalho Social, Metodologias de Intervenção social, Projeto Social. Habitação de Interesse Social.Diagnóstico socioterritorial. Gestão Social. 157 ABSTRACT This chapter was reserved to the technical product resulting from the research carried out with municipal social technicians and social technicians authorized by “Caixa Econômica Federal” for the provision of specialized technical services. The research aimed to identify the limits and potentialities of social work as a component element of the social housing interest programs composed by a set of strategic actions towards the social-territorial development and the interventions sustainability. The article which composes the chapter adds some theoretical considerations to the ones brought in the previous articles focusing the reflections in the field of social practices from those professionals, and presents one Methodological Guideline for Social Interventions. Aware about the impossibility of exhausting the theme, on the contrary, knowing that this debate is emerging, it was searched in literature, in the author’s personal perceptions as Assistent of Social Projects in the housing area of “Caixa Econômica Federal” and in the data abtained in the research, the theoretical and conceptual basis to sketch a proprosal which is applicable to the social practice and it’s expected that other reflections can be expressed and aggregated to this one in a continuous building process. There’s not a pretension in saying that social work is an austere, strict, inflexible practice plastered in preconceived tools and methodologies, precribed by external agents to its accomplishment. Definitely not. The choice of the best methodology is up to the executor of the intervention in perfect harmony and interaction with their object, territory, and the people who compose it, with views to the objectives and goals to reach from constructive processes. Carvalho says that “in the condition of prescription, the methodology puts on second place and even kills the intentionality; standardizes and infantilizes the professionals who move the action. Its application subdues to the context in which it is applied.” (CARVALHO, 2014, p.172). It’s expected, however, that this guide, structured in the process of completion of the Professional Master course from the Post-graduation Program of UNA University Centre, can be put into service of this process of apprehension of the ways to intervene in the social work’s field-reality. It’s ended in the instrument the objective of contributing with the professionals in the difficult task of recognizing the best way to do it, making sure that, even so, the choices may inhabit the threshold of uncertainties which reflect attempts and mistakes characteristic of relational and dynamic processes found in the reality and that may require correction of paths and adequacies. Although it is contextualized in the ambit of the social interest housing programs that integrate the National Housing Policy, it is expected that its application is timeless and can be extended to the construction of diagnosis and aprehension of reality in the whole urban intervention that intends to be emancipatory, mediator, and builder of participative processes and collective learning can be extended. Key-words: Social Work, Social Project. Social Interest Housing. Social-territorial Diagnosis. Social Management. 158 3.1 INTRODUÇÃO O trabalho social nos programas de habitação de interesse social encontra-se sob a regência da Portaria 21/2014, publicada em 22 de janeiro de 2014 pelo Ministério das Cidades. Como componente da política pública de habitação, o trabalho social de que trata a norma constitui-se de ações a serem realizadas nos territórios onde os empreendimentos habitacionais são construídos. Dessa forma, estrutura-se em torno de estratégias que viabilizem, mais do que ações informacionais unidirecionais, a inserção dos beneficiários71 no processo de produção dos empreendimentos numa perspectiva socioeducativa voltada ao fortalecimento da capacidade participativa e sócio-organizativa das comunidades em articulação com outras políticas públicas para a defesa de direitos, a consolidação de atitudes cívicas, o desenvolvimento socioterritorial e a sustentabilidade das intervenções. De acordo com a portaria as ações devem ser realizadas “a partir de diagnósticos integrados e participativos compreendendo as dimensões social, econômica, produtiva, ambiental e politico-institucional do território e da população beneficiária” (BRASIL, 2014, p.5). Almeja-se não só desenvolver entre os beneficiários a capacidade de acompanhar a implantação dos bens e serviços disponibilizados, como forma de melhor adequá-los à realidade local e às necessidades identificadas, mas sua manutenção, ao longo prazo, e a continuidade do processo de defesa de direitos e exercício dos deveres em todas as dimensões acima citadas. Nesse sentido, o trabalho social tem a participação como meio e fim de sua concretude. Entretanto, a defesa que se faz aqui é que esta participação seja construtiva, engajada e responsável, promotora da gestão social, do controle social e da gestão democrática, como preceito constitucional. Essa participação pelo viés do trabalho social não deve ser apenas consultiva e deliberativa, mas voltada a uma aproximação dos sujeitos numa perspectiva relacional direcionada ao conhecimento, E assim, promover a ressignificação de “beneficiário” para “destinatário” das políticas públicas de habitação que na condição de direito, não devem ser postas como benefício, vinculado a uma noção assistencialista e estigmatizante. 71 159 reconhecimento e construção dos espaços de vivência e convivência (VILLANOVA72, 2013) e consecução de processos cognitivos. As estratégias de ação do trabalho social, portanto, devem incorporar o componente territorial pensando-o para além do beneficiário buscando substituir a ação patrimonialista do Estado para com os destinatários das políticas por relações horizontais que possam se estabelecer nesse território e que promovam governabilidade, construções coletivas, processos societários e emancipatórios. Em se tratando de programas de provisão habitacional, é preciso levar em consideração as escalas, pois, de acordo com Villanova (2013), “o espaço de morar” se coloca entre o “espaço monumental” e as “ relações entre os homens” e cria um movimento dialético de produção e reprodução desses espaços e das relações. Carlos (2012), ao analisar a “espacialidade como imanente à existência constitutiva da sociedade” afirma Tal enfoque aponta para a ideia de que a sociedade, ao produzir-se, o faz num espaço determinado, como condição de sua existência, mas através dessa ação, ela também produz, consequentemente, um espaço que lhe é próprio e que, portanto, tem uma dimensão histórica com especificidades ao longo do tempo e das diferentes escalas e lugares do globo [...]. A sociedade se apropria do mundo, enquanto apropriação do espaço-tempo determinado. Nesse contexto, a reprodução continuada do espaço se realiza como aspecto fundamental da reprodução ininterrupta da vida. Nessa perspectiva, revelase uma prática social que é e se realiza espacialmente, o que implica pensar a relação dialética sociedade/espaço ( um se realiza no outro e através do outro ) e as mediações entre eles (CARLOS, 2012, p.53). Apreende-se, portanto, a importância de focalizar a ação nas relações e atividades dos grupos humanos em espaços e realidades mutantes, numa articulação da “teoria (a produção do conhecimento como ato de compreensão do mundo) e prática (práxis) em sua indissociabilidade [...]” ( CARLOS, 2012, p.55). De acordo com a autora, tornase então essencial apropriar-se da realidade buscando entender o que seria passível de transformação como perspectiva de futuro da sociedade. 72 In DUARTE, C.R; VILLANOVA, R.de. Novos olhares sobre o lugar: ferramentas e metodologias, da arquitetura à antropologia. 160 Portanto, o território ganhou centralidade no trabalho social e com ele vem a ideia dos sujeitos que o usam e o transformam em seu cotidiano imputando-lhes uma apropriação interventiva de criação e recriação de significados. Koga busca em Guy de Méo (1998) um significado para essa ‘territorialidade’ “Ela nos leva à sua lógica pessoal, ao seu espaço vivido, feito de relatos íntimos, reais ou imaginários junto aos lugares, relatos enriquecidos por suas experiências, por suas aprendizagens sociais e espaciais (MÉO, 1998 apud KOGA, 2011, p. 39). Para consolidar o território como centralidade no trabalho social é preciso, entretanto, o ajuste das engrenagens que comandam seu funcionamento, ou seja, para a questão em pauta, seus atores, representados aqui pelos diversos segmentos presentes na macroárea, devem buscar minimamente uma convergência de objetivos, um ponto de intercessão que permita direcionar parte de suas ações ao reordenamento social desse território num propósito de gestão compartilhada capaz de instituir a complementaridade como princípio essencial da mudança para a universalização de direitos. Nesse sentido, este artigo, resultante da conclusão do Mestrado em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local, do Programa de Pós-Graduação do Centro Universitário UNA objetiva apresentar algumas orientações metodológicas voltadas ao trabalho social como componente dos programas de habitação de interesse social. Partiu-se da premissa de que o ajuste da engrenagem depende, não só da interlocução dos diversos agentes, colocando o trabalho social como mediador nesse processo, mas da premissa de que antes, esse trabalho social deve imbuir-se de sua capacidade de gerar conhecimento, de provocar uma dinâmica de consolidação das intercessões (de objetivos, políticas, ações, recursos, saberes ) na promoção de projetos societários. 3.1 Pré-Produção e contratação do empreendimento 3.1.1 Concepção da intervenção Reza a norma e o bom entendimento do que seja premissa de sustentabilidade, que a participação dos beneficiários no processo de concepção e implantação dos 161 empreendimentos de habitação de interesse social seja fundamental para que o sentimento de pertencer ao processo dê lugar à correta apropriação dos bens e serviços que serão disponibilizados. Garantir espaços de discussão e proposições nesse decurso, de forma tempestiva, desde as primeiras tratativas, não será garantia de atender a todos os interesses, em especial em um contexto de forças antagônicas sob a autoridade soberana do mercado e das relações patrimonialistas e clientelistas, mas seguramente promoverá uma melhor adequação das propostas/projetos às necessidades e expectativas das partes interessadas, conduzindo o processo no caminho da correta apropriação dos bens e serviços que serão disponibilizados. Pertencer torna-se condição da apropriação que se quer. Em se tratando de programas de provisão habitacional, aos moldes de algumas modalidades do Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV), em que os beneficiários ainda não tenham sido definidos 73 , a participação destes logicamente não será possível. Caberá então aos gestores e à equipe técnica do trabalho social (esta sim, já deve estar definida e constituída de forma interdisciplinar) garantir a participação dos grupos representativos dos interesses do público alvo, da população e da comunidade onde o empreendimento será implantado. Nesse sentido, a orientação deve ser a de convocar a participação do Conselho Municipal de Habitação, constituído por determinação da Política Nacional de Habitação exatamente para fazer essa representação, dos demais conselhos municipais, entidades de interesse, associações de moradores e movimentos sociais, estes obrigatoriamente com ¼ dos assentos no conselho, presentes na área do empreendimento e entorno. O que se propõe nesse modelo de gestão interinstitucional é, mais do que uma simples “conversa sobre projetos”, mas uma pactuação de princípios, uma corresponsabilidade, um compartilhamento de interesses, a busca da intercessão, pois, como a pedra que se joga para o alto, os impactos daquilo que não se planejou recai sobre todos que com eles não se preocuparam. Na questão urbana, sobre todos os citadinos. Mais do que mitigar, é precaver, mais do que remediar, é cuidar, preventivamente, envolver-se com, ao invés de ignorar, afastar-se pensando não ser 73 No PMCMV- Recursos FAR ( Fundo de Arrendamento Residencial ) cabe ao poder público local a seleção dos beneficiários a qual não se conclui antes do início das obras. 162 parte. Esse é o espírito, essa é a condição para a formação de uma sociedade mais igualitária, justa, democrática, evoluída e cívica. Temos um histórico de elaboração de instrumentos de gestão urbana que não são postos em prática em toda a sua plenitude: Estatuto das cidades, com seus vários mecanismos de acesso à cidade, os planos diretores, a própria Constituição Federal com seus capítulos 182 e 183, o Sistema Nacional de Habitação e Política Nacional de Habitação, ambos com capítulos exclusivos direcionados à habitação de interesse social, Fundos Locais de Habitação de Interesse Social e Conselho Local de Habitação de Interesse Social. Todos elaborados com a participação e em atendimento às demandas dos movimentos sociais. Enquanto isso, continuamos produzindo cidades espraiadas que, para atender a interesses privados, não só oneram os cofres públicos na ação de estender a infraestrutura aos seus confins, como na destinação das periferias dessas cidades aos mais despossuídos, consolidando o “ urbanismo de risco” (ROLNIK, 2002, p.2). A estes, não se dá o direito de estar próximo dos polos geradores de renda, de se locomover com facilidade da casa para o trabalho e do trabalho para a casa. As áreas que lhes são destinadas para moradia são destituídas dos serviços e equipamentos necessários ao bom uso e ocupação do território. Nesse sentido, esse território se fragmenta em seu caráter de espaço do vivido, quase se restringindo ao espaço geográfico de onde as pessoas se deslocam bem cedo para o trabalho e voltam à noite, privando-se das relações que ali deveriam estar estabelecidas. O passo primeiro para fazer frente a esse cenário de segregação socioespacial é trabalhar para a aplicação concreta dos instrumentos de regulação do uso e destinação do solo urbano, a exemplo dos supracitados, dialogando com os diversos segmentos sociais na busca das intercessões diante de tão conflitantes interesses. O outro, e este sim, se constitui em objeto primeiro do presente estudo, é fazer com que as pessoas que habitam aqueles territórios longínquos se reconheçam neles. Esse é um dos grandes objetivos do trabalho social nas intervenções do desenvolvimento urbano. Na habitação de interesse social, esse trabalho social incorpora esse grande desafio, o de não só fazer a mediação entre as premissas dos programas de desenvolvimento urbano, entre a norma e a realidade, mas a remediação naquilo que 163 se consolidou ou poderá se consolidar como problema, dificuldade, carência, necessidade, demanda. Assegurar a participação dos diversos segmentos que em algum momento farão parte da implementação dos empreendimentos habitacionais, ou de intervenção urbana, de um modo geral, é uma condição premente na busca da inserção social e do desenvolvimento socioterritorial. As construtoras, loteadores e incorporadores, instituição financeira, concessionárias, cartórios, prestadores de serviços, executivo, legislativo, movimentos sociais, conselhos municipais, população, sociedade civil, todos esses atores precisam iniciar um diálogo urgente para a mitigação dos grandes problemas urbanos que estamos enfrentando, mas principalmente para a busca de soluções locais. Sem o caráter tecnocrático como foi o processo de discussão do estatuto das cidades, ou de elaboração dos planos diretores municipais e dos Planos Locais de Habitação de Interesse Social (este último determinado pelo Sistema Nacional de Habitação de Interesse Social (BRASIL. Lei nº 11.124, 2005, Art.12). De acordo com Paugam ( 2003, p. 9) Hoje, as orientações da intervenção social ultrapassam a esfera tradicional da assistência. Pelo fato de elas abordarem o problema da integração, no sentido sociológico, e consequentemente o problema do vínculo social, revelam uma das dimensões essenciais das sociedades contemporâneas [...]. Constata-se, hoje, tentativas de promover um outro modo de intervenção na realidade que não se baseia exclusivamente no “trabalho social personalizado”, ou seja, numa abordagem psicologizante da pobreza e das dificuldades das populações atendidas pelos serviços sociais [...]. Uma nova concepção da intervenção social esforça-se hoje em completar a ação individual por uma ação dita “global”, favorecendo a negociação entre diferentes parceiros para tratar de situações complexas. Sem entrar em detalhes, é possível afirmar que esse modelo consiste em agir mais sobre o meio social do que sobre os indivíduos ou grupos. A ação volta-se, então para o espaço vital, os esquipamentos coletivos dos bairros urbanos socialmente desqualificados, por exemplo [...], para a animação sociocultural, baseandose frequentemente numa política conjunta de urbanização, de ordenamento do território [...] (PAUGAM, 2003, p. 276). Diante da “incompletude do Estado” (CARVALHO, 2014, p. 44) torna-se necessário chamar as organizações sociais presentes na macroárea, trazê-las para dentro do trabalho social valorizando as forças endógenas e incentivando hábitos de cooperação. Mobilizar recursos, conhecimentos, objetivos comuns, e compartilhar responsabilidades, no rigor do princípio da interinstitucionalidade, é a premissa básica 164 da complementaridade das políticas e ações pela realização de projetos societários (mais do que comunitários). Seguramente, esta busca da intercessão permitirá costurar análises e discussões para a proposição de melhores empreendimentos viabilizando as condicionantes de sua implantação – localização, projeto de implantação, projetos executivos, acessibilidades, adequação de serviços e equipamentos necessários, garantias de preservação da cultura local e de disponibilização de áreas de convívio e lazer da população destinatária, minimização de impactos e maximização das potencialidades existentes, fluxo e gestão do processo. Inovar nas propostas de moradia para a baixa renda e garantir o atendimento daquelas condicionantes para promoção da inserção social, é premência na hierarquia dos problemas decorrentes das intervenções dos programas de provisão habitacional. Não se está, nesse sentido, tratando apenas do universo que se resume ao empreendimento, conjunto de casas ou apartamentos, mas da escala que se relaciona à produção do espaço que produz e reproduz as relações que, como diz Carlos, [...] importa conteúdos e determinações, obriga-nos a considerar os vários níveis da realidade como momentos diferenciados da reprodução geral da sociedade em sua complexidade. Obriga-nos a considerar o sujeito da ação: O Estado, como aquele da dominação política; o capital, com suas estratégias objetivando sua reprodução continuada ([...] e suas articulações com os demais setores da economia, como o mercado imobiliário); os sujeitos sociais que, com suas necessidades e seus desejos vinculados à realização da vida humana, têm o espaço como condição, meio e produto de sua ação ( CARLOS, 2012, p. 64 ). Pelo exposto, tão logo se tenha o grupo de beneficiários definido, deve-se providenciar sua inserção no processo começando por apresentar a metodologia de concepção do empreendimento, os mecanismos de representatividade adotados, as questões que foram consideradas para a definição dos produtos que lhes serão entregues (visto que nesta modalidade de intervenção, em especial, sua participação neste processo não se fez possível. Quando o é, assim o deve ser). Paralelamente, deve-se organizar um momento especificamente para que a instituição financeira, que tem atribuições relativas à liberação de recursos financeiros, acompanhamento das obras e do trabalho social, assistência técnica, análise de documentos e projetos e geração de contratos, preste os esclarecimentos necessários acerca do programa, das condições 165 contratuais, das obrigações e direitos das partes no processo desde sua produção até o pós-obra (BRASIL, 2014; BRASIL, 2005) Nesse sentido, toda estrutura e mecanismos para garantir transparência, fluxo de informações, interação e participação é necessária. Quanto antes for possível inserir as pessoas no processo, melhor. Sugere-se por exemplo um “escritório social” (BRASIL, 2014, p. 36) na área de intervenção com assento para a interdisciplinaridade. Nele deve ser colocada a maquete do empreendimento (sinalizando todo o seu entorno e que, entende-se, foi utilizada como ferramenta do planejamento), pois, de acordo com Villanova (2013, p. 11, 12) A maquete para o sociólogo ou para o antropólogo é uma representação fria, estanque, de formas construídas em que o vivo está ausente, enquanto para o arquiteto ela diz muita coisa: representação do espaço em sua globalidade, ela suscita o devaneio, desenvolve sua totalidade, enfrentando o espaço praticado, vivido [...]. Ela pode ser então uma ferramenta de discussão sobre o projeto urbano, um suporte para exprimir os usos [...]. Uma ferramenta buscada pelas oficinas de discussão envolvendo o poder público, os técnicos planejadores e os habitantes em situações de motivação ou participação. Ela pode favorecer novos modos de acesso às representações dos atores nas intervenções urbanas [...]. Ela pode suscitar, para os moradores, representações que escapam habitualmente a nossos modos de conhecimento [...] levando [...] à reflexão da microescala, do subjetivo, do sensível e, no melhor dos casos, do papel ativo do habitante. A equipe técnica do trabalho social, em interlocução com a equipe de engenharia, deve integrar-se ao grupo de planejamento e execução desde as fases de concepção, alinhada também, nos casos de empreendimentos com mais de 500 unidades, com Grupo de Análise de Empreendimentos, responsável pelo Relatório de Diagnóstico da Demanda por Equipamentos e Serviços Públicos e Urbanos, previstos na Portaria 518/2013, do Ministério das Cidades, trabalhando de forma integrada ( BRASIL, 2013). 3.1.2 Diagnóstico socioeconômico e seleção de beneficiários Qual o sentido do diagnóstico? Por que empregar um termo médico para as atividades de planejamento das políticas urbanas? Por que seu uso pelos profissionais do trabalho social, pelos arquitetos e urbanistas. Villanova (2013) apresenta esses 166 questionamentos que lhe foram feitos por Francois Laplatine e ela própria traz importantes considerações acerca da questão no sentido de que esse emprego representa “tão somente a continuidade de uma longa história entre o pensamento higienista e a arquitetura” [...] que “faz do habitat degradado um corpo doente” ( VILLANOVA, 2013, p. 209 ). A autora então complementa dizendo que “a mobilização de um saber especializado na realização de um diagnóstico instaura, de imediato, uma relação assimétrica entre o sujeito doente e aquele que sabe nomear e prescrever medicamentos” (VILLANOVA, 2013, p. 209 ). Nesse sentido, para conhecer os destinatários das políticas públicas é necessário que eles próprios se apresentem. Deixar que eles contem suas histórias de vida, sua relação consigo mesmos, com a família, com a comunidade, com o trabalho, com seus sonhos e frustrações, com suas doenças e suas vocações, com o bairro, a cidade, é portanto horizontalizar a relação e despertar seres adormecidos na ação assistencialista e patrimonialista, na discriminação e na segregação social que reprimem os espaços de vocalização. É buscar a “legitimidade do diagnóstico” ( VILLANOVA, 2013, p. 2011 ). De acordo com Paugam ( 2003 ), muitas famílias frequentam os serviços de assistência social contra sua vontade74, às vezes por desemprego prolongado e falta de perspectiva de recolocação e “precariedade das condições de vida”. De acordo com o autor, “o sentimento de serem inúteis podem levar algumas dessas pessoas a romper totalmente com a sociedade” ( PAUGAM, 2003, p. 31 ). Nesse sentido, ratificando as ponderações acerca da legitimidade do diagnóstico, é necessário que os indivíduos que compõem o público alvo das políticas de habitação expressem “sentimentos subjetivos acerca da própria situação que esses indivíduos experimentaram no decorrer de suas experiências sociais, e, enfim, as relações sociais que mantém entre si e com o outro” ( PAUGAM, 2003, p. 47 ). É o que o autor chama de “sentido vivido, ou seja, o sentido que essas populações atribuem à sua existência e ao lugar que ocupam na sociedade” (PAUGAM, 2003, p. 47 ). 74 Em uma pesquisa que o autor realizou na França, ele estabelece três tipos de população segundo a relação mantida com a assistência social: “os fragilizados, os assistidos e os marginalizados”, distinguindo as respectivas experiências vividas. 167 Apreender que a moradia tem primazia na escala de valor, que um endereço referencia, o endereço tem o poder de inserir ou reinserir indivíduos na sociedade, e que o seu fim último é exatamente promover o sentimento da segurança como premissa da autonomia, não cabe no diagnóstico para provisão habitacional uma relação de perpetuação da condição de dependência e manutenção da assistência, mas uma possibilidade de alavancagem de processos de rompimento dos indivíduos com a condição de assistidos. Favorecer a implementação de um novo modelo de intervenção, em substituição ao que Paugam ( 2003 ) chama de “trabalho social personalizado ( Paugam, 2003, 276), é “[...]atenuar os efeitos indesejáveis da assistência, sobretudo os que se referem à atomização e à rotulação das famílias desfavorecidas” (PAUGAM, 2003, p. 276 ). Paugam (2003) apresenta os instrumentos que utilizou em sua pesquisa realizada na França sobre o perfil da nova pobreza indicando um agrupamento dos dados levantados junto às famílias que pode ser incorporado aos nossos diagnósticos habitacionais e que abordam “a trajetória residencial; a trajetória socioprofissional; a vida familiar; as relações de vizinhança; os ritmos cotidianos; o tempo livre”; a “reputação” da comunidade” (reputação da cité) ( PAUGAM, 2003, p. 75 ). No grupo de perguntas direcionado às relações do entrevistado com o território ele focaliza questões relacionadas com eventuais conflitos entre os habitantes da comunidade, porque razões elas ocorrem e se são duradouras; existência de pequenos grupos no interior da comunidade, como se formaram, comportamentos dos membros da comunidade, usufruto de equipamentos, participação do entrevistado em associações de moradores (PAUGAM,2003, p.314). Essas perguntas ajudam a suscitar a percepção do beneficiário em relação ao seu bairro, à sua comunidade e a construir proposições de intervenção. Ressalta-se a importância de se realizar a análise e interpretação dos dados obtidos nas entrevistas, questionários e observações de forma interdisciplinar com a participação dos conselhos municipais de habitação e de assistência social. E nesse sentido, os técnicos precisam estar atentos não às respostas que se irá ouvir, mas à escuta, ao processo, aos contornos da relação que se está estabelecendo entre quem pergunta, quem responde, como responde, e o que o ambiente diz sobre aquilo que 168 se está perguntando, buscando perceber “os sentidos atribuídos pelos indivíduos entrevistados às suas condutas e às suas experiências” ( PAUGAM, 2003, p. 85). Para Paugam (2003), muitas vezes os sujeitos não dizem o que querem dizer, mas aquilo que acreditam que os entrevistadores gostariam de ouvir. O componente relativo à trajetória de vida e a variável territorial presentes nos grupos de perguntas propostos por Paugam permitem estabelecer um outro olhar sobre a condição do indivíduo e da família na comunidade. Com atenção no processo de análise, os técnicos tormam-se capazes de identificar como ele a vê, mas sobretudo de instigar um processo de reflexão sobre como também o indivíduo e a família se veem nela. 3.2 Diagnóstico socioterritorial Sob regência da Portaria 21/2014, publicada pelo Ministério das Cidades, o trabalho social nos programas de habitação de interesse social passa a incorporar o componente territorial no escopo de seus instrumentos de execução. Nesse sentido as equipes técnicas precisam verter seu olhar sobre a macroárea da intervenção que, de acordo com a portaria, engloba a poligonal dos empreendimentos compreende todo o território da intervenção e constitui-se de “região relativamente homogênea de vulnerabilidades e riscos sociais, que inclui uma ou mais áreas de intervenção física, próximas e seu entorno com o qual tal(ais) área(s) de intervenção interage(m) para acesso a serviços e equipamentos públicos, ao mercado de trabalho, a organizações sociais (comunitárias, ONGs e movimentos sociais)”. BRASIL, 2014, P. 54. Trazer a macroárea para dentro do trabalho social significa aproximar os diversos setores que ali atuam para pensarem um projeto societário comum, e de forma conjunta, numa perspectiva de retotalização da ação ( CARVALHO, 2014, p.169 ) e integração do território. Mas isso não é tarefa fácil, requer sinergia e amplitude de visão. Olhar para além dos beneficiários, para fora dos projetos, para fora do empreendimento, e de seu núcleo executor. O Plano de Desenvolvimento Socioterritorial ( PDST ) previsto na Portaria 21 tem esse propósito de reconhecer na macroárea as potencialidades do território, considerando 169 “as dimensões social, econômica, produtiva, ambiental e político-institucional” (BRASIL, 2014, p. 5) e promover arranjos intersetoriais e interinstitucionais para a articulação e a integração de recursos, políticas e ações. Seu propósito é o de conjugar ações durante a execução do trabalho social e garantir a entrega dos produtos desse trabalho a outras instituições existentes na macroárea e que possam dar continuidade às intervenções como uma estratégia voltada ao desenvolvimento contínuo das comunidades. A ideia é inserir no cronograma do trabalho social os projetos e ações desenvolvidos por outras instituições presentes no território e que permitam a continuidade da intervenção iniciada no trabalho social, visto que o setor privado e as entidades do terceiro setor investem em ações de responsabilidade social com estrutura própria para tal objetivo e recursos oriundos de leis de incentivo e outros fundos (como Fundo a Infância e da Adolescência ( FIA ), leis de incentivo à cultura, ao esporte e à aprendizagem) ( BRASIL, 2010, p.268-273 ), além de recursos próprios. Muitas vezes faltam-lhes projetos e comunidades aptas ao investimento. Entretanto, tais premissas exigem a realização de um criterioso diagnóstico socioterritorial que não deve ser realizado sob o olhar exclusivo da equipe técnica, mas a partir de uma construção coletiva que valorize a perspectiva sociorrelacional presente no território. Identificar quais os segmentos estão presentes ali, qual sua política de relacionamento com as comunidades nas quais estão inseridas, quais os projetos e ações são realizados em favor dessas comunidades, com que recursos e garantir os arranjos intersetoriais e interinstitucionais torna-se premissa da consolidação do PDST no território. Por sua vez, é preciso também inserir as próprias comunidades no processo. Os beneficiários devem trazer suas impressões, suas expectativas, suas visões. Construir o olhar compartilhado é a grande missão do diagnóstico socioterritorial. Como afirma Villanova, o diagnóstico deixou de ser o apanágio de governantes e especialistas, pois pode ser realizado também pelos moradores, que têm um papel a desempenhar. Estes se tornam sujeitos e não mais objeto do diagnóstico, aprisionados numa relação de dependência (VILLANOVA, 2013, p. 210 ). 170 O compartilhamento do olhar na realização de diagnóstico socioterritorial participativo é eficaz do ponto de vista da concertation, do aspecto dialógico intrínseco. Permite a apropriação e a “reapropriação do espaço com que o habitante se identifica” ( VILLANOVA, 2013, p.224 ). Um desafio que demanda método, comprometimento, interdisciplinaridade e cuidado. Trata-se de abrir espaço à fala, à vocalização, portanto, saber ouvir, saber ‘fazer a leitura’ do que se fala com os olhos, nas percepções dos participantes, nas manifestações que emergem em suas mais diversas formas requer sensibilidade. As metodologias de intervenção neste caso devem voltar-se à percepção da necessidade de uma interação do indivíduo com o território e vice-versa, dos indivíduos entre si, dos indivíduos com as equipes, das equipes com os indivíduos, dos segmentos e atores, num processo dialético e dialógico. Os profissionais devem estar atentos para perceber as posturas políticas, as atitudes cívicas e não cívicas, os desejos, as expectativas, os sonhos, as relações, as frustrações, as interações e, sobretudo, as potencialidades que emergem do processo. A sensibilidade do profissional que irá empregá-las é que instituirá seu valor enquanto instrumento da intervenção social. De acordo com Duarte75 ( 2013 ), ao adotar determinados métodos de intervenção arrisca-se a que os participantes ajam ou respondam o que suponham que o profissional queira ver e ouvir, ao tempo em que todo o resto diz diferente. A autora afirma ‘O que você espera, o que você gosta, como gostaria que fosse?’ perguntávamos a nossos informantes, que imbuídos de boa vontade, pareciam por vezes responder o que supunham que o pesquisador gostaria de ouvir. Ao mesmo tempo, os móveis de suas casas, seus objetos, suas paredes, seus telhados ‘falavam’ junto, exigindo também uma leitura e, consequentemente, abordagens e métodos para essa ‘escuta ( DUARTE, 2013, p. 32 ). Essa tarefa exige muito da equipe técnica. Exige olhar atento, exige método, ferramentas próprias, interdisciplinaridade e capacidade dialógica. Certamente não será uma tarefa fácil, como também não se deve ter a expectativa de solucionar tudo 75 In DUARTE, C.R; VILLANOVA, R.de. Novos olhares sobre o lugar: ferramentas e metodologias, da arquitetura à antropologia. 171 em um único tempo. É uma construção, um processo de desenvolvimento da capacidade de reflexão, de conhecimento e reconhecimento de si, do outro, do ambiente e de si no ambiente. Essa é, sem dúvida, premissa essencial para despertar nos indivíduos as percepções de pertencimento que geram comprometimento, confiança, responsabilidades e condição indivisível para a consecução da gestão social e da governabilidade. Demanda a superação de muitos obstáculos, inclusive aqueles relacionados à necessidade de transparência, gestão da informação, apoio institucional, governança e capacidade técnica. Como contribuição técnica ao desenvolvimento das capacidades, apresenta-se neste artigo um conjunto de ferramentas que, pretende-se, possa ser empregado pelos profissionais do trabalho social na difícil tarefa de promover o desenvolvimento socioterritorial, a participação e a gestão social. Este guia foi elaborado a partir da análise comparativa das normativas e dos resultados da pesquisa de conclusão de Mestrado do Programa de Pós-Graduação do Centro Universitário UNA, a qual permitiu conhecer as limitações técnicas e as dificuldades enfrentadas pelos profissionais e o que vem sendo realizado na prática. Vislumbra a adoção de métodos e técnicas mais condizentes com o fortalecimento de processos participativos e cognitivos, fazendo-os coesos e consistentes, e promotores da sustentabilidade das intervenções, fim supremo do trabalho social. 3.3 Ferramentas para a intervenção social O trabalho social como componente dos programas de habitação de interesse social tem no território seu campo de ação e nos destinatários dos programas sua finalidade. Conjugar esses dois elementos torna-se então objeto do trabalho social. Nesta perspectiva, o trabalho social abre-se para uma ação totalizante de fortalecimento das potencialidades locais e de construção coletiva que tem aproximação direta com a práxis social como ação política de dimensão dialógica. O trabalho social nesse sentido, adquire, de forma dialética, a capacidade de fomentar a gestão social e a proposição de projetos societários ao tempo em que promove no território espaços de cidadania que por sua vez regam os caminhos da gestão social. Resta então a pergunta: Como materializar essa capacidade do trabalho social de promover esses processos construtivos no âmbito de sua área de atuação? Que metodologias adotar? 172 Como intervir na realidade garantindo a consecução de suas premissas e seus objetivos? A escolha dos métodos, técnicas e ferramentas a empregar nas intervenções sociais é arbitrada ao agente executor e isso está claro, não só no senso comum, mas nas orientações normativas que regulamentam o trabalho social. A equipe técnica, conhecendo a realidade, a dinâmica do território, o perfil da população envolvida, as características da intervenção, objetivos do projeto, recursos e prazos disponíveis é que irá definir que caminho seguir. Não cabe a agentes externos tentar propor as metodologias próprias. Presume-se, entretanto, que nenhum técnico se negaria a conhecer ou ter a seu dispor uma “caixa de ferramentas” em apoio ao seu trabalho, principalmente quando se tem em mãos dados que demonstram as dificuldades que os técnicos sociais têm em relação à definição das metodologias de intervenção social voltadas ao trabalho social em habitação. Ressalta-se que não se tem a pretensão de engessar a prática social, transformá-la em um receituário transmutável, replicável em qualquer território, de forma estéril e fechada em si mesma, transformando o meio em fim. Pretende-se sim, disponibilizar uma caixa de ferramentas que podem ser utilizadas em determinadas situações sob a condição de sua adaptabilidade ao seu objeto. Este guia pretende, portanto, visa a contribuir no sentido de apresentar orientações metodológicas e ferramentas para a intervenção social em programas de provisão habitacional com foco na realização de atividades dialogadas, diagnósticos participativos e na implementação de atividades socioeducativas voltadas ao desenvolvimento do território, ao tempo em que se ressalta toda metodologia é sujeita a adaptações ao contexto no qual se pretende empregá-las. O segmento que deu origem às orientações aqui contidas foi o do trabalho social desenvolvido nos programas de habitação de interesse social contidos na Política Nacional de Habitação, sob a regência da Portaria 21/2014. Entretanto, espera-se que as orientações metodológicas e as ferramentas disponibilizadas neste guia, possam ser aplicadas em outros programas de intencionalidades. 173 O trabalho social no contexto aqui proposto assume um caráter de promoção de processos cognitivos acreditando que a experiência do vivido promove a percepção de sentidos e, portanto, de significados. Essa percepção muito se aproxima do princípio da etnografia, que tem como objeto um “conjunto de significantes com que os eventos, fatos, ações e contextos são produzidos, percebidos e interpretados [...] (DUARTE, 2013, P. 31). As proposições relacionadas à etnografia no sentido de “captar a dimensão da cidade sensível” (DUARTE; VILLANOVA, 2013, p; 9 ) muito se aproximam das novas perspectivas do trabalho social que demandam uma incursão de “experiência sensorial” ( DUARTE; VILLANOVA, 2013, p; 9 ) do território não só para identificá-lo mas para promover sua integração e seu desenvolvimento como propõe a Portaria 21/2014. As autoras fazem uma aproximação da antropologia com a arquitetura, num convite à interdisciplinaridade e a interação da técnica com os saberes genuínos, da teoria com a prática, dentro das possibilidades existentes nas localidades da intervenção. De acordo com Duarte; Villanova (2013), as ferramentas “foram concebidas” [...] “para agir sobre o espaço construído com seus usurários [...] na intenção de renovar o olhar sobre os espaços de vida, o espaço doméstico, a morada, o bairro, a cidade em interação do vivido com o construído” [...]. Apresenta técnicas de compilação de narrativas, desvendando os desdobramentos possíveis da cidade – da objetivação formal ao sensível subjetivo, do programado ao espontâneo – e consiste num convite à multiplicidade de olhares. Entretanto, para garantir a eficácia das metodologias adotadas, é preciso que se tenha “um amplo conhecimento da realidade territorial, um conhecimento sobre o perfil da população e de suas relações no território, um amplo levantamento dos serviços e programas [...]” ( TABOADA, 2006, p.2). É necessário também que o profissional garanta o conhecimento teórico necessário à aplicação dos métodos e técnicas escolhidos e não abdique da dimensão ético-política, valorizando os saberes constituídos. De acordo com Carvalho ( CARVALHO, 2014, p.170-173). é a metodologia que costura e assegura a intencionalidade e a efetividade social almejada e estabelece um ordenamento da ação, sustentado por um quadro referencial constituído de aportes teóricos e da experiência acumulada [...]. O rigor da construção metodológica e a construção de percursos objetivos da ação não podem estar dissociados da realidade [...]. Uma metodologia de ação reconhece totalidades e particularidades exigindo 174 um olhar dialógico entre o todo e as partes, entre o singular e o coletivo. Pressupõe, assim, pensar a realidade como processo [...] É nessa perspectiva da aproximação dialética entre teoria e prática, singular e coletivo, produção e reprodução das relações, do território, na dimensão micro e macro, que então se apresentam as ferramentas de intervenção social para a prática do trabalho social nos programas de desenvolvimento urbano, considerando os sujeitos inseridos em seu contexto, na vida coletiva e cotidiana em dado território ( CARVALHO, 2014, p. 176). 3.3.1 Maquetes A maquete do empreendimento (sinalizando todo o seu entorno e que, entende-se, foi utilizada como ferramenta do planejamento), é uma ferramenta de representação e de significação do espaço. Construída de forma dialogada conjuga o imaginário das pessoas e provoca a reflexão acerca de desejos, possibilidades, limites. Deve ser trabalhada em espaços que permitam uma movimentação das pessoas em torno dela. Sugere-se a adoção do “Escritório Social” ( BRASIL, 2014, p.17) como seu ponto de apoio. De acordo com Villanova (2013, p. 11, 12) A maquete para o sociólogo ou para o antropólogo é uma representação fria, estanque, de formas construídas em que o vivo está ausente, enquanto para o arquiteto ela diz muita coisa: representação do espaço em sua globalidade, ela suscita o devaneio, desenvolve sua totalidade, enfrentando o espaço praticado, vivido [...]. Ela pode ser então uma ferramenta de discussão sobre o projeto urbano, um suporte para exprimir os usos [...]. Uma ferramenta buscada pelas oficinas de discussão envolvendo o poder público, os técnicos planejadores e os habitantes em situações de motivação ou participação. Ela pode favorecer novos modos de acesso às representações dos atores nas intervenções urbanas [...]. Ela pode suscitar, para os moradores, representações que escapam habitualmente a nossos modos de conhecimento [...] levando [...] à reflexão da microescala, do subjetivo, do sensível e, no melhor dos casos, do papel ativo do habitante. 3.3.2 Croqui de campo O “Croqui de Campo é uma ferramenta utilizada na pesquisa etnográfica por arquitetos, antropólogos, sociólogos, é, de acordo com Duarte ( 2013 ), “muito mais do que ilustração. Ele se transforma na própria descrição” ( DUARTE, 2013, p. 35), uma vez que permite ao observador registrar suas impressões enquanto desenha, 175 conscientizando-se do que lhe chama a atenção. Mais utilizada por arquitetos “para a descrição espacial dos eventos e sua verificação física no ambiente” ( DUARTE, 2013, p. 36), essa ferramenta pode ser utilizada tanto no trabalho de observação quanto de interpretação imediata” ( DUARTE, 2013, p. 36), De acordo com a autora, o Croqui de Campo consiste em um produto gráfico da observação, constituído de desenhos arqutetônicos, rabiscos, esquemas [...] é muito mais do que ilustração. Sua adaptação para o trabalho social deve ser feita com a participação de equipes interdisciplinares, com participação notadamente de arquitetos. 3.3.3 Arquivo mnemônico do lugar De acordo com Duarte (2013), essa metodologia privilegia as narrativas dos moradores da cidade que, ao falar sobre ela, remexem em suas lembranças e externam suas percepções e lógicas de inserção e interpretação do meio urbano. [...] todas as narrativas coletadas [...] são encerradas em um mesmo quadro, identificando-se, em seguida, tanto as metáforas que delas emergem, quanto os esquecimentos, as lacunas [...]. A cada metáfora, é atribuída uma cor, o que transforma as narrativas em gráficos coloridos, que poderão [...] ser comparados em termos de frequência do aparecimento das metáforas, repetição do tema ou ressignificação do lugar ( DUARTE, 2013, p.38). 3.3.4 Mapeamento de manifestações Essa ferramenta foi aplicada por Duarte (1993) para o mapeamento das manifestações de afeto ou desafeto de vizinhos em conjunto habitacional comprovando a relação entre “excessiva aglomeração e stress urbano” (DUARTE, 2013, p. 41). A metodologia consiste “na espacialização em planta baixa das manifestações de afeto [...] ou outro evento social ocorrido em campo” (DUARTE, 2013, p. 41). O método das visitas guiadas, também chamado de método dos itinerários ou de diagnóstico em processo, é frequentemente utilizado [...]. Ele repousa sobre o reconhecimento da equivalência da fala do outro, razão pela qual se consideram a relação que os moradores mantêm com o meio ambiente, o que relatam como experiências pessoais ou coletivas, e as emoções no momento em que efetuam o percurso proposto.[...] Alguns percursos se constituem em uma das maneiras de apreender as grandes sociabilidades de bairro e as 176 relações entre os moradores 76 [...] permite observações comparativas dos comportamentos sobre, por exemplo, calçadas e pracinhas ( VILLANOVA, 2013, p. 220 ). 3.3.4. Diagnóstico Rápido Urbano Participativo O Diagnóstico Rápido Participativo-DRUP tem por objetivo identificar, de forma breve e rápida, informações, sentimentos, expectativas, angústias, percepções, e a partir dos dados levantados construir, de forma coletiva as proposições para a mudanças que se deseja implementar. Não se deve atribuir um caráter de “participação concedida” (SOUZA, 2009, p.36), em que os parâmetros da participação são dados por uma equipe técnica detentora de uma sabe , mas promover a dinamização do processo participativo. De acordo com Souza (2009) Um processo participativo deve proporcionar a oportunidade de autoavaliação de si e da cultura do grupo a que pertence, capacidade reflexiva sobre os efeitos de vida cotidianos, capacidade de criar e recriar não somente objetivos materiais, mas, também, e, fundamentalmente, criar e recriar formas novas de vida e de convivência social. As técnicas de diagnóstico e planejamento participativo devem valorizar, por sua vez, o processo de obtenção de informações. É importante que este processo seja, ele mesmo, um fator de formação e discussão política no seio no seio da comunidade. Os dados devem ser utilizados, principalmente, pela própria comunidade (SOUZA, 2009, p.36) O emprego do DRP como metodologia participativa é o processo de construção do diagnóstico que deve ser valorizado. Tudo deve ser observado e apropriado pelo técnico que deve se colocar atento a todos os eventos que se estabelecem durante sua realização. A comunidade envolvida não tem um papel apenas de fornecer informações, mas de suscitá-las e participar do processo de interpretação dos dados e informações. Esse processo pode ser implementado por meio de diversas ferramentas e técnicas. Entre elas o “Diagrama de Venn”, “Técnica da realidade/desejo”. A autora cita aqui a complementação da ação com “observação participante em inúmeras reuniões, festas e visitas [...] (VILANOVA, 2013, p. 221 ). 76 177 3.3.4.1 Diagrama de Venn O diagrama de Venn consiste em identificar os atores presentes no território e sua relação com a comunidade. De acordo com Souza ( 2009 ) nessa técnica as pessoas vão identificando as entidades que de alguma forma se relacionam com a comunidade. Uma vez identificadas todas elas, o grupo discute suas atribuições, sua relação com a comunidade e esses papéis são representados graficamente. Quanto mais próxima da comunidade, que na representação gráfica deve estar no centro, a entidade estiver, maior a sua relação com essa comunidade. A dimensão dessa proximidade também pode ser representada graficamente a partir do uso de figuras maiores ou menores para cada uma delas (SOUZA, 2009) Essa é uma ferramenta que pode ser utilizada no processo de elaboração do Plano de Desenvolvimento Socioterritorial Previsto na Portaria 21/2014. 3.3.4.2 Mapa da Realidade/Desejo ou Realidade/Sonhos Essa técnica consiste em discutir, a partir de temas previamente acordados, as expectativas, desejos, sonhos, e os obstáculos à sua concretização. Um mediador é fundamental para que o processo se construa na confrontação com a realidade. Um painel deve representar o resultado da construção coletiva buscando a partir disso refletir sobre as possibilidades de mobilização em torno das expectativas do grupo e da percepção dos limitadores tangíveis e intangíveis, sobre os quais se tem ou não gestão e a quem compete fazê-la. No contexto do DRUP e da realização de diagnósticos socioeconômicos e socioterritoriais ampliados, existem ainda outras técnicas voltadas à mediação e à consolidação de processos de cognição e reflexão, como os “Mapas Conceituais, Nuvens de Palavras e construção de Mapas Colaborativos” “Rodas de Conversa” ou “Rodas de Diálogo”, Observação Participante, todas mediadoras no processo de reflexão e cognição em que podem ser abordados diversos temas como “cidadania e direitos humanos; gênero e direitos humanos; trabalho, cidadania e direitos humanos; Direitos de cidadania e ciclos de vida (infância, adolescência, idade adulta e terceira 178 idade); Etnia, raça e direitos humanos” (AFONSO; ABADE, 2008, p.5). As visitas guiadas, o “método ‘dos percursos comentados’ ou do “diagnósticos ao caminhar”, que permitem o “cruzamento de olhares” técnicos e comunitários para leitura de determinada realidade, também consistem em metodologias muito adequadas aos objetivos dos diagnósticos socioterritoriais (como também às ações da Educação Patrimonial prevista na Portaria 21/2014). Aos profissionais responsáveis pelas intervenções cabe o olhar crítico e sensível para identificar qual a técnica que melhor se aproxima das percepções que se deseja abstrair em cada situação ou etapa da intervenção, responsabilizando-se sempre por realizá-la de forma sistematizada, compartilhada e de forma interdisciplinar. Garantir o ‘diálogo’ entre a leitura técnica e a leitura comunitária na construção das percepções torna-se premissa básica para consolidação dos processos cognitivos e socioafetivos necessários às mudanças que se deseja implementar. Ressalta-se entretanto a necessidade de se adotar nas intervenções sociais a utilização das tecnologias de informação e comunicação (TIC)77. 3.3.4.3 Planejamento Estratégico Situacional O PES é uma ferramenta de planejamento de ações intersetoriais (e por isso, bem empregado no Plano de Desenvolvimento Socioterritorial Previsto na portaria 21/2013) que pode ser empregada de forma complementar aos diagnósticos. O PES tem centralidade na subjetividade dos indivíduos que dotada de características próprias influencia a forma como esses indivíduos interpretam determinada situação. Dada a pessoalidade dessas percepções, o método preconiza que a realidade não pode ser explicada por uma simples descrição (diagnóstico), mas pelas diferentes interpretações dadas pelos atores envolvidos (apreciação situacional). A exemplo da proposta de construção de “Cenários Motivacionais” com “interface de aplicativos, utilizando o Google Maps, apresenta-se, a partir de diagnósticos realizados, as tendências de transformação urbana do contexto estudado [...]”, com “sobreposição de objetos virtuais ao espaço real ou físico” (MEDVEDOVSKI; SILVA; SOPEÑA, 2014 , p. 2876). 77 179 De acordo com Teixeira e Paim (2000), no PES deve-se primeiramente identificar e analisar o problema, definindo os objetivos a alcançar. A partir daí deve-se elaborar “módulos operacionais” avaliando a “viabilidade de implementação das propostas e Definição dos indicadores de acompanhamento e avaliação” (TEIXEIRA; PAIM, 2000, p. 74). Os autores complementam afirmando que do ponto de vista metodológico inclui análise dos problemas, o desenho da situação-objetivo [...] que se pretende alcançar no médio e longo prazos, a definição dos cenários prováveis nos quais se estará atuando no curto prazo e a formulação dos objetivos propriamente ditos; o desenho das estratégias, que inclui a definição das linhas de ação, a análise de viabilidade das ações propostas e a elaboração de projetos dinamizadores para a construção da viabilidade; a programação, o gerenciamento da execução e a avaliação, o que corresponde à programação detalhada das ações a serem realizadas, concomitantemente à condução e ao estabelecimento dos mecanismos de acompanhamento e avaliação periódica dos resultados alcançados e à gerência cotidiana da execução das ações propostas ( TEIXEIRA; PAIM, 2000, 72 ) É uma ferramenta que pode ser utilizada para avaliação dos problemas existentes no território e a forma como esses problemas afetam a coletividade, verificando em que grau essa comunidade é atingida e quais são as possibilidades de enfrentamento. Sua aplicabilidade deve ser feita de acordo com a ilustração da figura 2. Figura 2: Os quatro momentos do PES 180 Fonte: RIEJ;FILHO, 2002, 165. 3.5. Gerenciamento de projetos 3.5.1 Método ZOPP O Método Zopp (planejamento de projetos orientado para resultados) trabalha com o princípio da moderação tomando a comunicação como o ponto alto no processo de gerenciamento de projetos ( Pfeiffer, 2005 ). De acordo com Pfeiffer, “a participação é facilitada por uma boa comunicação. E se a participação funciona, as decisões são mais facilmente compreendidas e compartilhadas, o que por sua vez leva a um compromisso maior com o projeto” ( PFEIFFER, 2005 p. 144). De acordo com Pfeiffer, No Método Zopp, o Quadro Lógico, ou Matriz de Marco Lógico ou ainda Martriz de Planejamento de Projeto ( MPP) , pressupõe um planejamento que toma por base uma análise da situação que se deseja mudar com a intervenção e deve ser usado desde a fase de concepção do projeto com o objetivo de descrever os aspectos mais importantes do projeto. Essa ferramenta permite ao técnico avaliar 181 se o projeto está bem estruturado, permitindo um acompanhamento sistemático e uma avaliação mais objetiva do projeto ( PFEIFFER, 2005). 3.6 Educação patrimonial Eixo Educação Patrimonial previsto na regulamentação do trabalho social deve extrapolar a noção do patrimônio enquanto empreendimento ou unidade habitacional e incorporar a noção de patrimônio em suas variadas manifestações culturais tangíveis e/ou intangíveis, que reconheçam memória, história, valores, lugares como fonte de conhecimento, reconhecimento (de fatos, coisas, vivências), desenvolvimento sócio-organizativo e construções coletivas a serem apropriadas pelo trabalho social. De acordo com Carter A Educação Patrimonial objetiva o estabelecimento de uma relação de afeto da comunidade pelo patrimônio histórico-cultural, sendo a sua metodologia aplicável aos mais variados grupos sociais e podendo ter como objeto qualquer tipo de bem cultura. [...] permite à comunidade reapropriar-se de objetos, lugares e saberes importantes para o reconhecimento de sua cidadania (CARTER, 2004, p.38-50) Nessa perspectiva, além de ações que despertem o sentimento de apropriação dos bens e serviços disponibilizados pela intervenção, o técnico deverá também realizar outras que promovam o resgate ou a consolidação das manifestações culturais, artísticas, hábitos e costumes. Cabe nessa ação atividades que permitam a união de grupos identitários, que compartilham interesses, vocações, habilidades e que se identifiquem entre si. Nessa “identificação” compartilhada o grupo é levado a compartilhar também o aprendizado e desenvolver objetivos comuns (grupalização, agremiações, rodas de conversa). Essas ações podem evoluir para um projeto maior de empreendedorismo, gestão social, de criação de espaços para divulgação da arte, de desenvolvimento socioterritorial. 182 3.7 Desenvolvimento socioeconômico e empreendedorismo No senso comum, o empreendedorismo está relacionado apenas com a geração de pequenos negócios, onde empreender é apenas engajar-se em uma atividade lucrativa qualquer. No trabalho social é possível e pertinente trabalhar com a noção de empreendedorismo cívico e empreendedorismo social que, por sua vez, faz interface com o próprio empreendedorismo de negócio, uma vez que, para este é necessário antes promover a formação ética e cívica dos indivíduos e da coletividade. Esse empreendedorismo cívico, de acordo com um dos conceitos trazidos por Oliveira (2004 ) da Foud Schwab, Suíça: "São agentes de intercambiação da sociedade por meio de proposta de criação de ideias úteis para resolver problemas sociais, combinando práticas e conhecimentos de inovação, criando assim novos procedimentos e serviços; criação de parcerias e formas/meios de auto sustentabilidade dos projetos; transformação das comunidades graças às associações estratégicas; utilização de enfoques baseados no mercado para resolver os problemas sociais; identificação de novos mercados e oportunidades para financiar uma missão social. [...] características comuns aos empreendedores sociais: apontam ideias inovadoras e vêem oportunidades onde outros não vêem nada; combinam risco e valor com critério e sabedoria; estão acostumados a resolver problemas concretos, são visionários com sentido prático, cuja motivação é a melhoria de vida das pessoas, e trabalham 24 horas do dia para conseguir seu objetivo social." (OLIVEIRA. 2004, p.11). 4 Considerações finais De acordo com Carvalho ( 2014 ) as metodologias de intervenção social não podem ser reduzidas a meras prescrições para uma aplicação apartada da realidade , desconectada do território da ação. Citando GATTI, a autora complementa afirmando que nas intervenções de caráter social, há de se considerar o contexto de implementação e desenvolvimento dos programas em um território que possui identidade, histórias, relações, necessidades e demandas, porta experiências e potências, porta projetos. Portanto, exige o reconhecimento de identidades e trajetórias, exige interlocução com ações simultâneas 183 desenvolvidas por vários outros setores e sujeitos sociais no mesmo território ( GATTI, 2004, apud CARVALHO, 2014, p. 172) O importante é ter a compreensão de que a construção de espaços comunitários ricos de conhecimento, sentimentos de pertença e apropriação, postura cívica, enfim, que a promoção da gestão social requer o olhar atento dos profissionais (com ênfase no plural para reforçar a necessidade da interdisciplinaridade ) que fazem a mediação no processo cuidando para que as trocas entre os saberes genuínos, “de quem vive a realidade” ( CARVALHO, 2014, p.99) e as leituras técnicas sejam totalizantes e geradoras e aprendizagens ( Carvalho, 2014). Longe da intenção de esgotar o universo de possibilidades, de métodos e técnicas de intervenção social, esse guia, modesto, se coloca apenas como um instrumento de incentivo à curiosidade e à busca de novos caminhos para o fazer social, levando em consideração que cada ferramenta que se apresenta pode ser adaptada e se desdobrar em outras técnicas desenvolvidas no calor da própria intervenção e no processo de interação com o grupo. Neste artigo foram sugeridas algumas ferramentas, mas não foram disponibilizados os procedimentos necessários à sua aplicação, deixando assim aos profissionais a possibilidade da investigação. Desvendar os meios de sua aplicação é algo, portanto que se coloca aos técnicos, entendendo não haver, apesar de seus preceitos, uma liturgia para sua aplicação uma vez que, na escolha da metodologia para uma ação que almeja-se transformadora, os profissionais deverão ter sempre em mente que “não é possível avançar na intervenção social sem a proximidade dialética entre teoria e prática. Inovação e compromisso se constroem nesta cumplicidade reflexão-açãoreflexão” (CARVALHO, 2015, p. 174). Conclusão No contexto das cidades, onde o processo de produção e reprodução do espaço urbano reforça as condições de exclusão e vulnerabilidade social impondo aos grupos sociais menos favorecidos a condição de habitar o longínquo, destituído de espaços de participação e sem opção de usufruir dos bens e serviços produzidos, torna-se 184 premente garantir a complementaridade de programas e políticas públicas para que se possa minimamente mitigar as condições de privação advindas desse contexto socioeconômico que lhes são impostas. Nessa perspectiva o trabalho social constituise num elemento agregador, capaz de promover a intersetorialidade, a interdisciplinaridade e a complementaridade das políticas e ações, a participação e a mobilização social, buscando a intercessão de práticas, objetivos, recursos, para orquestrar as transformações que se deseja implementar nos territórios. Para isso, as metodologias de intervenção social que o trabalho social precisa adotar devem ter centralidade na intencionalidade da ação, consequentemente, nas relações que se estabelecem no território, valorizando o processo de construção de saberes para que delas resulte governabilidade e gestão social, tendo como fim último a consolidação de comunidades cívicas, atuantes e participantes da vida política da cidade, do bairro, do lugar de moradia. Nesse sentido, a gestão social que o trabalho social é capaz de instituir permite que os atores repensem suas relações para a construção de projetos políticos societários contra-hegemônicos e formação de protagonistas para a sustentabilidade das intervenções e promoção do desenvolvimento socioterritorial contínuo. A pesquisa que encerra a presente dissertação buscou analisar os desafios e possibilidades do trabalho social, enquanto elemento integrante e essencial nos programas de habitação de interesse social, de colocar-se como mediador nessas premissas. Identificou-se muitas de suas potencialidades e foram reconhecidos seus limites. Estes residem nas dificuldades enfrentadas pelos profissionais na aplicação prática dos conhecimentos, e da própria falta de conhecimento teórico e das metodologias que se aplicam nas intervenções em questão, na aplicação das metodologias adequadas, na capacidade de gerenciar os projetos de intervenção, na falta de interesse dos destinatários das políticas em participar das atividades, na falta de apoio institucional. Verificou-se pelas informações extraídas das pesquisas, a necessidade de capacitação técnica dos profissionais para o incremento do fazer social. Uma grande dificuldade enfrentada pelos profissionais do trabalho social reside na falta de governança, na ausência de intersetorialidade nas gestões públicas 185 municipais, na postura patrimonialista e assistencialista, centrada na família fora de seu contexto social, ainda presentes na gestão pública. Mas o executivo não é o único poder responsável pela governança e pela interface das políticas com a sociedade. É igual e essencialmente importante que as casas legislativas da esfera municipal, estadual e federal, como ágoras contemporâneas, se consolidem como espaços de cidadania, abertas ao debate político, incentivando a participação formal, deliberativa, organizada, delegando à sociedade, de forma responsável, a faculdade de agir na discussão e na construção das políticas públicas aproximando-se de suas bases no pleno exercício de seus papéis e atribuições. Agir como representantes de sua ordem maior: a comunidade na qual estão inseridas – sem favoritismos, sem clientelismo ou patrimonialismo, sem o uso do prestígio ou poder político local como fonte de arranjos políticos e privilégios pessoais. Promover a educação legislativa da população, portanto, integra esse processo. Reforça-se ainda a necessidade de se dar mais sentido aos fóruns, conferências, órgãos colegiados, conselhos para que se consolidem como espaços permanentes de discussão e proposições na promoção de uma gestão democrática e de construções coletivas. Os movimentos sociais devem voltar-se às suas bases e instigar a participação e uma interlocução contínua com o legislativo e o executivo locais. Essas, são estruturas essenciais para a consolidação da gestão social e do exercício do controle social sobre as políticas públicas para que os programas, planos, projetos e o próprio arcabouço legal sejam representativos das demandas territoriais e objeto de melhoria contínua em prol do desenvolvimento com sustentabilidade. Cabe ressaltar, entretanto, que essas instâncias, a dos conselhos em especial, embora estejam no papel de “servir ao Estado”, devem ser mais pragmáticas, cuidando daquilo que pertence ao comunitário, e menos voluntariosas, pois se está a serviço primeiro da própria sociedade. E assim ocuparem-se mais de conhecer, reconhecer e discutir de forma continuada as causas dos problemas, seus antecedentes e consequências possíveis, buscando fazer a gestão das condições em que estes se apresentam. Esse exercício relativo ao que é de interesse comunitário ou de Estado permitirá aos seus agentes, com o tempo, a antecipação de demandas vindouras contribuindo para promover a eficiência do Estado. 186 A defesa que se faz aqui muito se assemelha àquela experimentada pela ex Secretaria de Habitação e Desenvolvimento Urbano dirigida por Ermínia Maricato, no nascedouro do MCidades, entre os anos de 1989 e 1992. Naquela gestão lançou-se o mote “inverter prioridades”, procedimentos em referindo-se realmente à transformação públicos, “incluindo do orçamento corações, e dos mentes e ‘especializações’ dos servidores da máquina ‘pública’” (MARICATO, 2011, p.21-22) para que a cidadania não seja tratada como um “privilégio de classe fazendo-a ser uma concessão regulada e periódica da classe dominante às demais classes sociais, podendo ser-lhes retirada [...]” (CHAUI78, 1986, p.54-54, apud KOGA, 2011, p.41). Para uma sociedade atuante e uma cidadania deliberante, capaz de empreender reflexões e discussões importantes, é preciso haver um Estado organizado, aberto à participação popular e sensível às causas sociais provocando de modo contínuo o “empoderamento social nas decisões coletivas que sustenta a própria democracia” (SILVA, 2012, p. 22 ). Não um empoderamento concedido por uma benevolência superior e oriundo de relações hierarquizadas típicas das sociedades patriarcais e autoritárias, mas resultante de uma repactuação social por meio do qual o cidadão possa ocupar o centro das relações e de onde suas demandas, desejos e necessidades possam reverberar no enfrentamento ao patrimonialismo que institui a cultura do favor “intrínseco ao próprio funcionamento institucional” ( KOGA, 2011, p. 43). A superação do clientelismo e do princípio da exceção, que privilegiam o favorecimento em lugar da universalização do direito e que segmentam o público-alvo das políticas públicas ( KOGA, 2011 ), depende fundamentalmente de uma profunda reformulação da cultura institucional no sentido de torná-la capaz de gerir os processos de tomada de decisão “em nível das partes em conflito” e não em nível dos elos ( DaMATTA79, 1997, p.107, apud KOGA, 2011, p. 43 ). Dirce Koga afirma que 78 CHAUI, Marilena. Conformismo e resistência. São Paulo:Brasiliense, 1986. 79 DaMATTA, Roberto. A casa e a rua. 5.ed. Rio de Janeiro, Rocco, 1997. 187 Na cultura institucional presente em organismos governamentais, nãogovernamentais, empresariais, partidários, eclesiais, de movimentos sociais... enfim, nas formas organizacionais mais diversas, é comum encontrarmos a prevalência do aspecto relacional sobre o aspecto racional. Trata-se de um enraizamento tão forte nas relações que chega a naturalizar práticas iníquas, do ponto de vista da cidadania e dos direitos humanos. Essa tendência poderia ser observada, como uma alternativa explicativa da naturalização do clientelismo e do favor na realidade brasileira (KOGA, 2011, 43-44). Nesse sentido, é recomendável quebrar paradigmas, Subverter a ordem patrimonialista enraizada na gestão pública, enxergar a complexidade da questão urbana e inovar de forma cuidadosa para que o território, constituído de relações, não se transforme no território da ação estratégica, que reproduz as formas de dominação do próprio Estado e das grandes corporações e que está cada vez mais presente e constituindo o arcabouço das políticas públicas e programas habitacionais. Um cenário no qual “em vez da ação que [...] procura compreender o Outro em suas circunstâncias, adotam-se intervenções que buscam a rendição do Outro” (RIBEIRO, 2011, p.27 )80 muito presente na formatação dos programas de habitação de interesse social sobre os quais se desenha essa discussão. Referências AFONSO, M.L.M. Produto 2. Revisão bibliográfica sobre metodologias de trabalho social com famílias e análise do “estado da arte” do emprego das mesmas. Trabalho apresentado ao Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, através do TERMO DE REFERÊNCIA 132028 do PNUD. Brasília, Janeiro de 2010, pp 93-116. AFONSO, Maria Lúcia; ABADE, Flávia Lemos. Para reinventar as rodas. REDE DE CIDADANIA MATEUS AFONSO MEDEIROS – RECIMAM. Belo Horizonte, 2008 _______. Lei Nº 11.124, de 16 de Junho de 2005. Dispõe sobre o Sistema Nacional de Habitação de Interesse Social – SNHIS, cria o Fundo Nacional de Habitação de Interesse Social – FNHIS e institui o Conselho Gestor do FNHIS. Presidência da República, Casa Civil. _______. Lei Nº 11.977, de 07 de Julho de 2009. Dispõe sobre o Sistema Nacional de Habitação de Interesse Social – SNHIS, cria o Fundo Nacional de Habitação de RIBEIRO, A.C.T. Território da sociedade: por uma cartografia da ação. In SILVA, C.A, da (Org.). Território e Ação Social: sentidos da apropriação urbana/Cátia Antônia da Silva (Org.). – Rio de Janeiro: 80 Lamparina, 2011. 188 Interesse Social – FNHIS e institui o Conselho Gestor do FNHIS. Presidência da República, Casa Civil. _______. Ministério das Cidades. Secretaria Nacional de Habitação. Portaria 518/2013. Brasília, 2013. 96 p. _______. Ministério das Cidades. Secretaria Nacional de Habitação. Portaria nº 21, de 22 de janeiro de 2014. Aprova o Manual de Instruções do Trabalho Social nos Programas e Ações do Ministério das Cidades. CARLOS, A.F.A; SOUZA, M.L, de; SPÓSITO, E.B (org). A Produção do Espaço Urbano: Agentes e Processos, Escalas e Desafios. São Paulo: Contexto, 2012. CARTER, Karin Kreismann EDUCAÇÃO PATRIMONIAL E BIBLIOTECONOMIA: uma interação inadiável. Inf. & Soc.: Est., João Pessoa, v. 14, n. 2, p. 31-52, jul./dez. 2004 .CARVALHO Maria do Carmo Brant de. Gestão Social e Trabalho Social. Desafios e percursos metodológicos. – São Paulo: Cortez, 2014. DUARTE, C.R; VILLANOVA, R.de ( Org ). Novos Olhares Sobre o Lugar: ferramentas e métodos, da arquitetura à Antropologia.. Rio de Janeiro: Contra Capa; FAPERJ, 2013. HIRATA, Francini. Minha Casa, Minha Vida: Política Habitacional e de Geração de Emprego ou Aprofundamento da Segregação Urbana? Aurora, Ano III, número 4, Julho de 2009. KOGA, D.Medidas de Cidades: entre territórios de vida e territórios vividos. 2.ed. São Paulo : Cortez, 2011. MARICATO, E. O Impasse da Política Urbana no Brasil. Petrópolis, RJ: Vozes, 2011. MEDVEDOVSKI, NIRCE; SILVA; ALMEIDA; SOPEÑA. Análise de estratégias para requalificação urbana frente ao conceito de tecnologia social. XV encontro nacional de tecnologia do ambiente construído ,2014; P. 2874). OLIVEIRA, E.M, Empreendedorismo social no Brasil: atual configuração, perspectivas e desafios – notas introdutórias. Rev. FAE, Curitiba, v.7, n.2, p.9-18, jul./dez. 2004. PAUGAM, Serge. A desqualificação social:ensaio sobre a nova pobreza / Seerge Paugam / Trads. Camila Giorgetti, Tereza Lourenço; pref. E ver. Maura Pardini Bicudo Véras. – São Paulo ; Educ/Cortez, 2003. PAZ, Rosângela Dias Oliveira da; TABOADA, Kleyd Junqueira. Política Nacional de Habitação, Intersetorialidade e Integração de Políticas Públicas. Trabalho Social em Programas e Projetos de habitação de Interesse Social. Ensino à distância, Ministério das cidades, p.24, 2006. PFEIFFER, Peter. Gerenciamento de Projetos de Desenvolvimento: Conceitos, instrumentos e aplicações. RJ, Brasport, 2005. 189 RIEG Denise Luciana; FILHO Targino Araújo de. – O Uso das Metodologias “Planejamento Estratégico Situacional”e “Mapeamento Cognitivo”. Gestão e Produção - ago. 2002v.9, n.2, p.163-179, ago. 2002 SOUZA Murilo Mendonça Oliveira de. A utilização de metodologias de diagnóstico e planejamento participativo em assentamentos rurais: O diagnóstico rural/rápido participativo ( DRP). EM EXTENSÃO, Uberlândia, v. 8, n. 1, p. 34 - 47, jan./jul. 2009. TEIXEIRA, CARMEM FONTES; PAIM, Jairnilso Silva Planejamento e programação de ações intersetoriais para a promoção da saúde e da qualidade de vidaRevi st a de Administração Pública 6/2000. 190 X. ANEXO X.1 Anexo I - Parecer consubstanciado do Comitê de Ética em Pesquisa – CONEP 191 APÊNDICE II QUESTIONÁRIO AOS TÉCNICOS SOCIAIS DAS PREFEITURAS CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Programa de Mestrado Profissional em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local Projeto de Pesquisa: TRABALHO SOCIAL NOS PROGRAMAS DE HABITAÇÃO DE INTERESSE SOCIAL: análise e proposições para adequações metodológicas Prezado colaborador, este formulário é parte integrante da pesquisa de conclusão do curso de mestrado Profissional em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local, que está sendo realizado por mim no Centro Universitário UNA, em Belo Horizonte, sob orientação da professora Dra. Wânia Maria de Araújo. Sua participação neste processo irá contribuir na identificação das formas como o trabalho social vem sendo conduzido junto aos programas de Desenvolvimento Urbano e na construção e consolidação deste conceito para uma prática mais coerente com as diretrizes e premissas dos programas de governo, em especial aqueles voltados à Habitação de Interesse Social. O conteúdo do formulário está relacionado ao gerenciamento de projetos e aos métodos e técnicas de intervenção social para a construção de processos participativos. Aproveite esta oportunidade e contribua. Busque ser verdadeiro pensando no que efetivamente você realiza e não o que deveria ser realizado por você para que possamos identificar onde o trabalho social precisa e pode melhorar para a consecução dos objetivos dos programas de desenvolvimento urbano. Não é necessário se identificar, basta responder às perguntas abaixo. Quando julgar pertinente, poderá marcar mais de uma resposta. 192 I – FORMAÇÃO E EXPERIÊNCIA PROFISSIONAL 1. Sua formação acadêmica ( ) Ciências Sociais ( ) Sociologia ( ) Pedagogia ( ) Serviço Social ( ) Psicologia ( ) Outra. Qual: _______________________________________ 2. Você tem especialização? ( ) Não. Se não, pule para a questão 4. ( ) Sim. Se sim responda a questão 3 3. Seu nível de especialização ( ) MBA. Curso: _________________________________________________ ( ) Especialização Lato Sensu. Curso: ________________________________ ( ) Mestrado. Curso: ______________________________________________ ( ) Doutorado ( ) Pós-Doutorado. 4. Na Prefeitura você ( ) é assistente social do Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) ou Centro de Referência Especializado de Assistência Social ( CREAS) e presta serviços para o setor de habitação quando é necessário elaborar e executar projetos sociais ( ) é assistente social da secretaria de assistência social e presta serviços para o setor de habitação quando é necessário elaborar e executar projetos sociais; ( ) trabalha com os programas de transferência de renda e dá apoio ao setor de habitação na elaboração e execução de projetos sociais; ( ) é sociólogo, pedagogo ou psicólogo de setores da Assistência Social e presta serviços ao setor de habitação na elaboração e execução de projetos sociais; 193 ( ) é sociólogo, pedagogo, psicólogo ou assistente social atuando na secretaria de educação ou outro departamento da prefeitura com função distinta de sua formação e quando necessário presta serviços na elaboração e execução de projetos sociais na habitação; ( ) é técnico social com uma das formações acima e atua nos programas de habitação; ( ) é contratado pela prefeitura sempre que é necessário elaborar e executar projetos sociais para o setor de habitação; ( ) outros. Especifique __________________________________________ _____________________________________________________________. 5. Se trabalha no CRAS ou outro setor da prefeitura, quando é chamado a elaborar e executar projetos sociais no setor de habitação, você ( ) acumula as atribuições; ( ) fica com dedicação exclusiva ao projeto social e tem equipe de apoio; ( ) acumula atribuições mas tem uma equipe técnica de apoio; ( ) fica com dedicação exclusiva ao projeto mas atua sozinho(a) desde o diagnóstico até a conclusão do projeto; ( ) fica com dedicação exclusiva ao projeto, tem equipe de apoio e trabalha de forma interdisciplinar e intersetorial. 6. Quantos anos de experiência na área de Desenvolvimento Urbano/habitação? ( ) Menos de 01 ano ( ) De 01 a 05 anos ( ) De 05 a 10 anos ( ) Mais de 10 anos 7. Você considera que o seu curso de graduação e especialização lhe proporcionaram ( ) conhecimento na área de gestão urbana; ( ) conhecimento na área de gestão de projetos sociais; ( ) conhecimento em gestão urbana e projetos sociais; ( ) compreensão da complexidade dos fenômenos sociais; 194 ( ) a formação necessária para elaboração e execução de projetos sociais na área de desenvolvimento urbano; ( ) os conhecimentos necessários para gerenciar projetos sociais; ( ) O conhecimento em gestão urbana e em gerenciamento de projetos sociais foi adquirido na prática. ( ) não proporcionou conhecimento em nenhuma das áreas. 8. Você considera que o conhecimento relacionado à questão urbana adquirido na prática ou nos cursos realizados é suficiente para elaborar, executar e gerenciar projetos sociais de habitação? ( ) Sim. ( ) Não. 9. Você acredita que falta algo para melhor capacitar a atuação dos técnicos sociais? ( ) Sim. Se sim, responda a questão 10 ( ) Não. 10. No seu entendimento lhe falta ou falta aos técnicos sociais em geral ( ) conhecimento teórico; ( ) conhecimento prático, experiência profissional; ( )conhecimento acerca de métodos e técnicas de intervenção social/mediação específicos para projetos em habitação; ( ) conhecimento específico relacionado a gerenciamento de projetos; ( ) desvinculação dos métodos e técnicas de cunho mais assistencialistas adotados na assistência social e nos programas de transferência de renda. ( ) outros. Especifique ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ 11. Sente-se mais apto e possui maior experiência em ( ) diagnóstico socioeconômico e territorial; ( ) seleção de demanda/beneficiários; ( ) elaboração de projetos sociais; 195 ( ) execução de projetos sociais; ( ) elaboração de relatórios e sistematização de processos; ( ) mobilização e organização comunitária/Processos participativos; ( ) acompanhamento e avaliação de projetos sociais; ( ) gerenciamento, elaboração e execução de projetos sociais com experiência equivalente em todas as ações acima descritas; ( ) outros.______________________________________________________ II – ELABORAÇÃO E EXECUÇÃO DOS PROJETOS SOCIAIS 12. Quais são suas fontes de consulta para a elaboração e execução de projetos? ( ) leis, decretos, portarias e normas do Ministério das Cidades; ( ) livros didáticos/livros técnicos; ( ) textos, artigos e cartilhas; ( ) assistência técnica da CAIXA ( ) outras consultorias; ( ) projetos elaborados por outros colegas/profissionais da área/de outras prefeituras; ( ) costumo replicar o mesmo projeto em intervenções diferentes mudando apenas alguns itens do escopo/conteúdo; ( ) nenhuma; ( ) outros. Quais_____________________________________________________. 13. Qual a sua inspiração para a elaboração do escopo dos projetos? ( ) normalmente busco reproduzir ou adaptar cronogramas de outros projetos já realizados uma vez que a estrutura e os eixos de atuação não variam. Replico o que já deu certo em outras experiências; ( ) sigo as instruções e os roteiros predefinidos pelo Ministério das Cidades; ( ) Realizo palestras e outras atividades expositivas aos moldes do que é adotado em outros trabalhos comunitários executados pelos CRAS e CREAS; não aplico 196 metodologias de intervenção/mediação específicas para projetos sociais em habitação; ( ) elaboro escopo e cronogramas curtos e “enxutos” pois os projetos baseiam-se sempre em atividades expositivas que cansam as pessoas; ( ) não sigo roteiros. Busco inspiração na comunidade e na realidade onde o projeto será implementado. Oriento-me pelo diagnóstico o qual inspira possíveis inovações metodológicas; ( ) Vou seguindo as determinações contidas nas normas para elaboração dos projetos propondo ações informativas dentro dos eixos de ação previstos; ( ) construo o projeto em conjunto com as comunidades. Os beneficiários auxiliam no diagnóstico e na proposição das ações e participam de forma ativa nas etapas do processo desenvolvendo a própria dinâmica do projeto; 14. Sua maior ênfase na elaboração e implementação dos projetos sociais está relacionada a ( ) cumprir as formalidades relativas às exigências normativas do Ministério das Cidades/CAIXA; ( ) cumprir os prazos para garantir a liberação dos recursos financeiros de forma tempestiva; ( ) cumprir as funções de controle do tipo elaborar atas, relatórios, listas de presença, fotografias de eventos e atividades para encaminhar à CAIXA; ( ) elaborar e executar projetos simplificados com um mínimo de ações em cada etapa prevista priorizando a realização de palestras e outras atividades expositivas; ( ) conhecer o projeto construtivo, a área de intervenção, seu entorno e o programa antes de pensar o projeto social atuando de forma interdisciplinar e intersetorial; ( ) fazer um diagnóstico geral, privilegiando fontes secundárias e a partir daí elaborar o projeto social; ( ) fazer devolutivas às comunidades envolvidas, se reportar a elas apresentando o diagnóstico realizado, informando sobre a intervenção, sobre as ações do projeto, o plano de ação e o cronograma estabelecido; ( ) construir um bom diagnóstico, de forma participativa, discuti-lo com a comunidade envolvida e, a partir dele, desenvolver de forma coletiva o projeto; 15. Como costuma realizar o diagnóstico? 197 ( ) faço o levantamento socioeconômico das famílias por meio do CADÚNICO e outras informações existentes na prefeitura local; ( ) faço visitas amostrais para levantamento socioeconômico das famílias; ( ) visito todas as famílias para levantamento socioeconômico; ( ) busco parceria com o CRAS/CREAS local para preenchimento de ficha socioeconômica e me baseio nesses dados; ( ) faço levantamento socioeconômico e territorial a partir de metodologias de intervenção/mediação para a construção coletiva do diagnóstico; ( ) outros. Especifique. 16. Sente dificuldades na aplicação prática do conhecimento na hora de pensar os projetos sociais? ( ) Sim ( ) Não 17. Quais as maiores dificuldades na elaboração dos projetos? ( ) falta orientação técnica; ( ) falta conhecimento e experiência; ( ) falta apoio logístico, instrucional e institucional por parte dos demandantes; ( ) roteiros de projetos confusos e complexos; ( ) dificuldades na definição dos itens de custo. Normalmente há mais recursos do que o necessário para os escopos propostos e por isso nunca sei onde aplicá-los; ( ) é difícil pensar em ações estruturantes para compor o cronograma no contexto dos projetos, por isso me restrinjo a palestras; ( ) apenas cumpro a exigência e aposto no aspecto tecnocrático do projeto ( executar, registrar as ações com fotos e listas de presença e elaborar os relatórios ). 18. Acredita que a(s) metodologia(s) adotada(s) nos projetos que realiza auxilia(m) na promoção de qual(is) dos objetivos relacionados ao Trabalho Social abaixo descritos ( ) participação dos beneficiários nos processos de decisão, implantação e manutenção dos bens e serviços; ( ) mobilização comunitária; 198 ( ) desenvolvimento da cidadania; ( ) articulação de políticas sociais; ( ) inclusão produtiva coerente com o potencial econômico e as características culturais da região/área de intervenção; ( ) fomento ao diálogo e controle social; ( ) implantação de processos socioeducativos; ( ) parcialmente todos os objetivos acima descritos; ( ) parcialmente alguns dos objetivos acima descritos. Neste caso, quais? ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ 19. Sente dificuldades na aplicação do conhecimento e das orientações técnico/normativas na hora de executar os projetos sociais? ( ) Sim. ( ) Não 20. Quais as maiores dificuldades na execução dos projetos sociais? ( ) as comunidades não colaboram, não se interessam pelas questões propostas, só comparecem nas primeiras reuniões; ( ) falta compromisso das pessoas com a própria cidadania e interesse pelas questões da coletividade; ( ) desconhecimento das metodologias de intervenção e mediação adequadas ao trabalho vinculado a programas habitacionais; ( ) faltam mecanismos de promoção da intersetorialidade e interdisciplinaridade e acabo executando os projetos sozinho (a) ou com um pequeno apoio de mais alguns funcionários ( o que não chega a ser uma equipe); ( ) as responsabilidades não são compartilhadas; ( ) falta interlocução com a equipe de engenharia e qualquer atraso e/ou paralisação das obras interfere significativamente no trabalho social dificultando sua execução pois os beneficiários ficam inseguros com relação ao seu término; ( ) é difícil gerenciar prazos e recursos; 199 ( ) é difícil atrair o interesse do público beneficiário ao longo da execução do projeto, promover processos participativos e mobilização social; ( ) enfrento grandes dificuldades na adoção de mecanismos de comunicação eficazes. É difícil produzir e fazer chegar à população beneficiária de forma adequada as informações necessárias. ( ) Só elaboro os projetos e outros técnicos executam. 21. Quais os mecanismos de comunicação você utiliza na execução dos projetos? ( ) carro de som; ( ) faixas em pontos estratégicos da área de intervenção e entorno; ( ) Cartazes em pontos estratégicos da área de intervenção e entorno; ( ) envio cartas aos beneficiários; ( ) envio bilhetes às famílias; ( ) utilizo panfletos e flyers; ( ) celular; ( ) internet; ( ) uso as missas, cultos e eventos locais para as comunicações necessárias; ( )outros. Quais__________________________________________________. 22. Costuma verificar se as informações estão chegando às pessoas de forma adequada e tempestiva verificando e cuidando de possíveis ruídos de comunicação? ( ) Não ( ) Sim; Se sim, de que forma? ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ 23. Você acredita que o Trabalho Social tenha um potencial transformador? ( ) Sim. Se sim, responda a questão 24 e 25; 200 ( ) Não. Se não, pule a questão 24 e 25; 24. Para você, qual a intensidade do poder de transformação de uma realidade por meio do Trabalho Social ( ) muito intensa ( ) intensa ( ) pouco intensa 25. Onde você acredita que esteja centrado o maior poder transformador do Trabalho Social? ( ) na oportunidade de se colocar os profissionais da área social em campo atuando como agentes desta transformação; ( ) nas ações de educação ambiental; ( ) na oportunidade de reunir pessoas explanando sobre temas importantes relacionados à saúde e higiene; ( ) na proposição de ações voltadas à informação e formação a partir de metodologias adequadas ao tipo de intervenção a que se vincula o trabalho; ( ) na perspectiva socioeducativa e de formação política para a construção do protagonismo e da cidadania; ( ) na oportunidade de agir no território. 26. Para você o Trabalho Social nos programas de habitação ( ) de fato promove a cidadania e o protagonismo social; ( ) garante a participação ativa, a mobilização e a organização comunitárias; ( ) estimula o envolvimento das pessoas com as questões sociopolíticas vinculadas ao seu território; ( ) realmente provoca a mudança de comportamento das pessoas em relação à saúde, ao meio ambiente, aos bens e serviços disponibilizados nas intervenções, à moradia; ( ) contribui para o fortalecimento das relações de vizinhança e familiar e o vínculo patrimonial garantindo assim a sustentabilidade das intervenções; 201 ( ) não promove participação ativa, não provoca mudanças e não estimula o exercício do controle social. 27. Nas intervenções de desenvolvimento urbano voltadas à habitação de interesse social quais as metodologias você considera mais adequadas? ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ 28. Quais as ferramentas e técnicas costuma usar? ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ 29. Como busca motivar e envolver o público beneficiário nas atividades, ou seja, como incentiva a participação, o engajamento e a coesão do público beneficiário durante todas as etapas do projeto ( ) anunciando que haverá lanche em todas as atividades; ( ) informando que haverá distribuição ou sorteio de brindes; ( ) Outros. Especificar_________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________. 30. Costuma buscar apoio das pessoas do próprio grupo e/ou entidades locais para a realização das atividades? ( ) Sim, de pessoas do próprio grupo; ( ) Sim, de entidades locais; ( ) Sim, de pessoas do grupo e de entidades locais; ( ) Não. Porque ______________________________________________________ 202 ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________. 31. Você conhece as metodologias de intervenção/mediação mais adequadas aos objetivos dos projetos sociais e premissas dos programas voltados à habitação? ( ) Não ( ) Sim. Se sim, quais utiliza e considera mais eficientes? ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ 32. Que ferramentas utiliza para estabelecer a relação causa e efeito entre os problemas mais relevantes do diagnóstico? ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________. 33. Que atividades costuma realizar na implementação dos projetos sociais? Tente responder por eixo de atuação. Se não for possível, responda de forma geral. ( Se for necessário utilize o verso da folha identificando o nº da questão) ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ___________________________________________________________________. 34. Você realiza o monitoramento dos projetos verificando a produção dos resultados almejados e de impactos? ( ) Não ( ) Sim. De que forma? ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ 203 ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________. 35. Para você, o que significa concluir um projeto social em habitação? ( ) a entrega e aceitação do relatório final do projeto; ( ) o pagamento/recebimento de todos os produtos e serviços entregues e realizados ( ) a conclusão dos contratos firmados ( ) a desmobilização da equipe ( ) a realização de evento de encerramento ( ) outros. Especifique___________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ 36. Como você enxerga a avaliação final de um projeto social em habitação? ( ) oportunidade de analisar a pertinência das metodologias envolvidas no curso do projeto; ( ) oportunidade de realizar a prestação de contas e zerar pendências ( ) oportunidade de verificar o que foi alcançado ( ) oportunidade de verificar o grau de eficácia do que foi alcançado ( ) oportunidade de analisar se os esforços aplicados foram adequados e compensadores ( ) momento de medir as competências dispensadas ao projeto, os desempenhos, o êxito, as lições aprendidas. Momento de fazer a análise crítica do projeto. ( ) outros. Especifique _________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ 37. Para você um projeto social em programas habitacionais atingiu seus objetivos quando ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ 204 ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ 38. Como todo projeto é finito, há sempre o momento em que a equipe técnica irá “sair de campo”. É o momento da “transferência” dos bens e serviços realizados à população beneficiária. Para você, no que consiste esse momento? ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________. 39. Você prepara e trabalha esse momento da transferência? Se sim, como o faz? ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________. 40. Você tem informação sobre algum tipo de problema que tenha ocorrido nos empreendimentos após o término do Trabalho Social ou mesmo durante sua realização que não tenha sido solucionado durante sua realização? ( ) Não; ( ) Sim. Quais? ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ___________________________________________________________________. 205 41. Este espaço está reservado para suas considerações, sugestões apontamentos importantes, enfim, colocações que julgar pertinentes e necessárias. ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ Muito obrigada por sua valiosíssima colaboração! 206 APÊNDICE III QUESTIONÁRIO PARA OS TÉCNICOS SOCIAIS CREDENCIADOS CAIXA CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA Programa de Mestrado Profissional em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local Projeto de Pesquisa: TRABALHO SOCIAL NOS PROGRAMAS DE HABITAÇÃO DE INTERESSE SOCIAL: Análise e proposições para adequações metodológicas Prezado colaborador, este formulário é parte integrante da pesquisa de conclusão do curso de mestrado profissional em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local que está sendo realizado por mim no Centro Universitário UNA, em Belo Horizonte, sob orientação da professora Dra. Wânia Maria de Araújo. Sua participação neste processo irá contribuir na identificação das formas como o trabalho social vem sendo conduzido junto aos programas de Desenvolvimento Urbano e na construção e consolidação deste conceito para uma prática mais coerente com as diretrizes e premissas dos programas de governo, em especial aqueles voltados à Habitação de Interesse Social. O conteúdo do formulário está relacionado ao gerenciamento de projetos e aos métodos e técnicas de intervenção social para a construção de processos participativos. Aproveite esta oportunidade e contribua pensando no que efetivamente você realiza e não o que deveria ser realizado por você para que possamos identificar onde o Trabalho Social precisa e pode melhorar para a consecução dos objetivos dos programas de desenvolvimento urbano e como ele já vem contribuindo para a sustentabilidade das intervenções. Não é necessário se identificar, basta responder às perguntas abaixo. Quando julgar pertinente, poderá marcar mais de uma resposta. 207 I – FORMAÇÃO E EXPERIÊNCIA PROFISSIONAL 1. Sua formação acadêmica ( ) Ciências Sociais ( ) Sociologia ( ) Pedagogia ( ) Serviço Social ( ) Psicologia ( ) Outra. Qual: _______________________________________ 2. Você tem especialização? ( ) Não. Se não, pule para a questão 4. ( ) Sim. Se sim responda a questão 3 3. Seu nível de especialização ( ) MBA. Curso: _________________________________________________ ( ) Especialização Lato Sensu. Curso: ________________________________ ( ) Mestrado. Curso: ______________________________________________ ( ) Doutorado. ( ) Pós-Doutorado 4. A empresa foi credenciada ( ) em âmbito municipal. Se marcou esta opção, pule a questão 5. ( ) em âmbito regional. Se marcou esta opção, responda à próxima questão 5. Para a elaboração e execução de projetos em âmbito regional sua empresa ( ) subcontrata outras empresas em âmbito local para todas as fases do projeto; ( ) subcontrata empresas locais para a fase de diagnóstico e posteriormente elabora e executa o projeto com equipe própria; ( ) elabora o diagnóstico com equipe própria e subcontrata empresas para elaborar e executar o projeto; 208 ( ) subcontrata profissionais autônomos/prestadores de serviços para todas as etapas do projeto; ( ) subcontrata profissionais autônomos/prestadores de serviços para a fase de diagnóstico e posteriormente elabora e executa o projeto com equipe própria; ( ) elabora o diagnóstico com equipe própria e subcontrata profissionais autônomos/prestadores de serviços para elaborar e executar o projeto; ( ) Permanece com equipe própria no município da intervenção para elaboração e execução do projeto durante todas as etapas desde o diagnóstico até o pós-obra/pósocupação; ( ) Desloca-se para o município e lá seleciona empresa ou profissionais autônomos para a elaboração e execução do projeto inclusive diagnóstico. retorna ao município sede da empresa e faz o acompanhamento da execução à distância; ( ) adota outras formas. Especifique ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ 6. Há quanto tempo a empresa foi credenciada? ( ) Menos de 01 ano ( ) De 01 a 05 anos ( ) De 05 a 10 anos ( ) Mais de 10 anos 7. Quantos anos de experiência na área de Desenvolvimento Urbano/habitação você tem? ( ) Menos de 01 ano ( ) De 01 a 05 anos ( ) De 05 a 10 anos ( ) Mais de 10 anos 8. Você responde pela empresa e atua na elaboração e execução de projetos sociais como Responsável Técnico? ( ) Sim, respondo pela empresa e pela responsabilidade técnica nos projetos sociais; 209 ( ) Sim, respondo pela empresa, atuo nos projetos mas não como responsável técnica; ( ) Sim, sou Responsável Técnico nos projetos mas não respondo pela empresa; ( ) Apenas componho a equipe técnica mas não respondo nem pela empresa, nem pela responsabilidade técnica nos projetos; 9. Você como Responsável Técnico pela elaboração e execução dos projetos sociais ( ) elabora e executa os projetos; ( ) elabora e assina os projetos para uma equipe técnica constituída executar; ( ) elabora e assina os relatórios das atividades que a equipe realizou; ( ) recebe da equipe técnica os relatórios de execução e assina junto com elas os relatórios; ( ) acompanha a execução do projeto fazendo intervenções e pontos de controle com a equipe quando necessário; ( ) mesmo não executando o projeto vai a campo, participa de algumas atividades, verifica resultados, impactos, cumprimento satisfatório do escopo e do cronograma aprovado 10. Na empresa credenciada você ( ) é sócio-proprietário, coordenador/gestor, coordenador de equipe ( ) contratado por projeto ( ) é o responsável técnico respondendo pelos projetos sociais ( ) atua em outros projetos e quando necessário presta serviços na elaboração e execução de projetos sociais na habitação compondo a equipe; ( ) outros. Especifique _________________________________________________ ____________________________________________________________________ 11. Você considera que o seu curso de graduação e especialização(ões) lhe proporcionaram ( ) conhecimento na área de gestão urbana; ( ) conhecimento em gestão urbana e projetos sociais; ( ) compreensão da complexidade dos fenômenos sociais; ( ) a formação necessária para elaboração e execução de projetos sociais na área de desenvolvimento urbano; ( ) conhecimentos necessários para gerenciar projetos sociais; 210 ( ) conhecimento em gestão urbana e gerenciamento de projetos sociais foi adquirido na prática. 12. Você acredita que falta algo para melhor capacitar a atuação dos técnicos sociais? ( ) Sim. Se sim, responda a questão 13 ( ) Não 13. No seu entendimento, o que lhe falta ou falta aos técnicos sociais em geral? ( ) conhecimento teórico; ( ) conhecimento prático, experiência profissional; ( ) conhecimento acerca de métodos e técnicas de intervenção social/mediação específicos para projetos em habitação; ( ) conhecimento específico relacionado a gerenciamento de projetos; ( ) desvinculação dos métodos e técnicas de cunho mais assistencialistas adotados na assistência social e nos programas de transferência de renda; ( ) outros. Especifique ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ 14. Sente-se mais apto e possui maior experiência em ( ) diagnóstico socioeconômico e territorial; ( ) seleção de demanda/beneficiários; ( ) elaboração de projetos sociais; ( ) execução de projetos sociais; ( ) elaboração de relatórios e sistematização de processos; ( ) mobilização e organização comunitária/Processos participativos; ( ) acompanhamento e avaliação de projetos sociais; ( ) gerenciamento, elaboração e execução de projetos sociais com experiência equivalente em todas as ações acima descritas; ( ) outros.______________________________________________________ 211 II – ELABORAÇÃO E EXECUÇÃO DOS PROJETOS SOCIAIS 15. Quais são suas fontes de consulta para a elaboração e execução de projetos? ( ) leis, decretos, portarias e normas; ( ) livros didáticos/livros técnicos; ( ) textos, artigos e cartilhas; ( ) assistência técnica da CAIXA ou outras consultorias; ( ) projetos elaborados por outros colegas/profissionais da área/de outras prefeituras; ( ) costumo replicar o mesmo projeto em intervenções diferentes mudando apenas alguns itens do escopo/conteúdo; ( ) nenhuma; ( ) outros. Quais_____________________________________________________. 16. Como elabora o escopo dos projetos ( e/ou, caso seja o responsável técnico/coordenador ) como orienta sua equipe na elaboração)? ( ) normalmente busco reproduzir ou adaptar outros cronogramas de outros projetos já realizados uma vez que a estrutura e os eixos de atuação não variam. Replico o que já deu certo em outras experiências; ( ) sigo as instruções e os roteiros predefinidos pelo Ministério das Cidades; ( ) Realizo palestras e outras atividades expositivas aos moldes do que é adotado em outros trabalhos comunitários executados pelos CRAS e CREAS das prefeituras onde atuo; não aplico metodologias de intervenção/mediação específicas para projetos sociais em habitação; ( ) construo o projeto em conjunto com as comunidades. Os beneficiários auxiliam no diagnóstico e na proposição das ações e participam de forma ativa nas etapas do processo desenvolvendo a própria dinâmica do projeto; ( ) elaboro escopo e cronogramas curtos e “enxutos” pois os projetos baseiam-se sempre em atividades expositivas que cansam as pessoas; ( ) não sigo roteiros. Busco inspiração na comunidade e na realidade onde o projeto será implementado. Oriento-me pelo diagnóstico o qual inspira possíveis inovações metodológicas. 212 17. Sua maior ênfase na elaboração e implementação dos projetos sociais está relacionada a ( ) cumprir as formalidades relativas às exigências normativas do Ministério das Cidades/Caixa Econômica Federal; ( ) cumprir os prazos para garantir a liberação dos recursos financeiros; ( ) cumprir as funções de controle do tipo elaborar atas, relatórios, listas de presença, fotografias de eventos e atividades para encaminhar à Caixa Econômica Federal; ( ) elaborar e executar projetos simplificados com um mínimo de ações em cada etapa prevista priorizando a realização de palestras e outras atividades expositivas; ( ) conhecer o projeto construtivo, a área de intervenção, seu entorno e o programa antes de pensar o projeto social atuando de forma interdisciplinar e intersetorial; ( ) fazer um diagnóstico geral, privilegiando fontes secundárias e a partir daí elaborar o projeto social; ( ) fazer devolutivas às comunidades envolvidas, se reportar a elas apresentando o diagnóstico realizado, informando sobre a intervenção, sobre as ações do projeto, o plano de ação e o cronograma estabelecido; ( ) construir um bom diagnóstico, de forma participativa, discuti-lo com a comunidade envolvida e, a partir dele, desenvolver de forma coletiva o projeto; 18. Como costuma realizar o diagnóstico? ( ) faço o levantamento socioeconômico das famílias por meio do CADÚNICO e outras informações existentes na prefeitura local; ( ) faço visitas amostrais para levantamento socioeconômico das famílias; ( ) visito todas as famílias para levantamento socioeconômico; ( ) busco parceria com o CRAS/CREAS local para preenchimento de ficha socioeconômica e me baseio nesses dados; ( ) faço levantamento socioeconômico e territorial a partir de metodologias de intervenção/mediação para a construção coletiva do diagnóstico; ( ) Outros. Especifique ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ 19. Sente dificuldades na aplicação prática do conhecimento na hora de pensar os projetos sociais? 213 ( ) Sim ( ) Não 20. Quais as maiores dificuldades na elaboração dos projetos? ( ) falta orientação técnica; ( ) falta conhecimento e experiência; ( ) falta apoio logístico, instrucional e institucional por parte dos demandantes; ( ) roteiros de projetos confusos e complexos; ( ) dificuldades na definição dos itens de custo ( ) é difícil pensar em ações estruturantes para compor o cronograma no contexto dos projetos por isso me restrinjo a palestras; ( ) apenas cumpro a exigência e aposto no aspecto tecnocrático do projeto ( executar, registrar as ações com fotos e listas de presença e elaborar os relatórios ). 21. Acredita que as metodologias adotadas nos projetos que realiza garantem o alcance de qual (is) dos objetivos relacionados ao Trabalho Social abaixo descritos. ( ) participação dos beneficiários nos processos de decisão, implantação e manutenção dos bens e serviços; ( ) mobilização comunitária; ( ) desenvolvimento da cidadania; ( ) articulação de políticas sociais; ( ) inclusão produtiva coerente com o potencial econômico e as características culturais da região/área de intervenção; ( ) fomento ao diálogo e controle social; ( ) implantação de processos socioeducativos. ( ) parcialmente todos os objetivos acima descritos; ( ) parcialmente alguns dos objetivos acima descritos. Neste caso, quais? ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ 22. Sente dificuldades na aplicação do conhecimento e das orientações técnico/normativas na hora de executar os projetos sociais? 214 ( ) Sim. ( ) Não 23. Quais as maiores dificuldades na execução dos projetos sociais? ( ) as comunidades não colaboram, não se interessam pelas questões propostas, só comparecem nas primeiras reuniões; ( ) falta compromisso das pessoas com a própria cidadania e interesse pelas questões da coletividade; ( ) desconhecimento das metodologias de intervenção e mediação adequadas ao trabalho vinculado a programas habitacionais; ( ) falta interlocução com a equipe de engenharia e qualquer atraso e/ou paralisação das obras interfere significativamente no trabalho social dificultando sua execução pois os beneficiários ficam inseguros com relação ao seu término; ( ) É difícil gerenciar prazos e recursos; ( ) É difícil atrair o interesse do público beneficiário ao longo da execução do projeto, promover processos participativos e mobilização social; ( ) enfrento grandes dificuldades na adoção de mecanismos de comunicação eficazes. É difícil produzir e fazer chegar à população beneficiária de forma adequada as informações necessárias. 24. Quais os mecanismos de comunicação você utiliza na execução dos projetos? ( ) carro de som; ( ) faixas em pontos estratégicos da área de intervenção e entorno; ( ) Cartazes em pontos estratégicos da área de intervenção e entorno; ( ) envio cartas aos beneficiários; ( ) envio bilhetes às famílias; ( ) utilizo panfletos e flyers; ( ) celular; ( ) internet; ( ) missas, cultos e eventos locais para as comunicações necessárias; 215 ( )outros. Quais______________________________________________________. 25. Costuma verificar se as informações estão chegando às pessoas de forma adequada e tempestiva verificando e cuidando de possíveis ruídos de comunicação? ( ) Não ( )Sim. Se sim, de que forma? ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ 26. Você acredita no potencial transformador do Trabalho Social? ( ) Sim. Se sim, responda a questão 27 e 28; ( ) Não. Se não, pule as questões 27 e 28. 27. Para você, qual a intensidade do poder de transformação de uma realidade por meio do Trabalho Social ( ) muito intensa ( ) intensa ( ) pouco intensa 28. Onde você acredita que esteja centrado o maior poder transformador do Trabalho Social? ( ) na oportunidade de se colocar os profissionais da área social em campo atuando como agentes desta transformação; ( ) nas ações de educação ambiental; ( ) na oportunidade de reunir pessoas explanando sobre temas importantes relacionados à saúde e higiene; ( ) na proposição de ações voltadas à informação e formação a partir de metodologias adequadas ao tipo de intervenção a que se vincula o trabalho; 216 ( ) na perspectiva socioeducativa e de formação política para a construção do protagonismo e da cidadania. ( ) na oportunidade de agir no território. 29. Para você o Trabalho Social nos programas de habitação ( ) promove a cidadania e o protagonismo social ( ) garante a participação ativa, a mobilização e a organização comunitárias ( ) estimula o envolvimento das pessoas com as questões sociopolíticas vinculadas ao seu território ( ) realmente provoca a mudança de comportamento das pessoas em relação à saúde, ao meio ambiente, aos bens e serviços disponibilizados nas intervenções, à moradia ( ) contribui para o fortalecimento das relações de vizinhança e familiar e o vínculo patrimonial garantindo assim a sustentabilidade das intervenções; ( ) não promove participação ativa, não provoca mudanças e não estimula o exercício do controle social 30. Nas intervenções de desenvolvimento urbano voltadas à habitação de interesse social quais as metodologias você considera mais adequadas? ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ 31. Quais as ferramentas e técnicas costuma usar? ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ 217 32. Como busca motivar e envolver o público beneficiário nas atividades, ou seja, como incentiva a participação, o engajamento e a coesão do público beneficiário durante todas as etapas do projeto ( ) anunciando que haverá lanche em todas as atividades; ( ) informando que haverá distribuição ou sorteio de brindes; ( ) Outros. Especificar_______________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ 33. Costuma buscar apoio das pessoas do próprio grupo e/ou de entidades locais para a realização das atividades? ( ) Sim, de pessoas do próprio grupo; ( ) Sim, das entidades locais; ( ) Sim, das pessoas do grupo e de entidades locais; ( ) Sim, de lideranças locais constituídas ou natas; ( ) Não. Explique porque _______________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________. 34. Você conhece as metodologias de intervenção/mediação mais adequadas aos objetivos dos projetos sociais e premissas dos programas voltados à habitação? ( ) Sim ( ) Não ( ) Se sim, cite a(s) que considera mais adequada(s) ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ 35. Que ferramentas utiliza para estabelecer a relação causa e efeito entre os problemas mais relevantes do diagnóstico? ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________. 218 36. Que atividades costuma realizar na implementação dos projetos sociais? Tente responder por eixo de atuação. Se não for possível, responda de forma geral. ( Se for necessário utilize o verso da folha identificando o nº da questão) ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________. 37. Você realiza o monitoramento dos projetos verificando a produção dos resultados almejados e impactos? ( ) Não ( ) Sim. De que forma? ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________. 38. Para você, o que significa concluir um projeto social em habitação? ( ) a entrega e aceitação do relatório final do projeto; ( ) o pagamento/recebimento de todos os produtos e serviços entregues e realizados ( ) a conclusão dos contratos firmados ( ) a desmobilização da equipe ( ) a realização de evento de encerramento ( ) outros. Especifique___________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ 39. Como você enxerga a avaliação final de um projeto social em habitação? ( ) oportunidade de analisar a pertinência das metodologias envolvidas no curso do projeto; ( ) oportunidade de realizar a prestação de contas e zerar pendências ( ) oportunidade de verificar o que foi alcançado ( ) oportunidade de analisar se os esforços aplicados foram adequados e compensadores ( ) momento de medir as competências dispensadas ao projeto, os desempenhos, o êxito, as lições aprendidas. Momento de fazer a análise crítica do projeto. ( ) outros. Especifique 219 ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ 40. Para você um projeto social em programas habitacionais atingiu seus objetivos quando ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ 41. Como todo projeto é finito, há sempre o momento em que a equipe técnica irá “sair de campo”. É o momento da “transferência” dos bens e serviços realizados à população beneficiária. Para você, no que consiste esse momento? ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________. 42. Você prepara e trabalha esse momento da transferência? Se sim, como o faz? ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________. 43. Você tem informação sobre algum tipo de problema que tenha ocorrido nos empreendimentos após o término do Trabalho Social ou mesmo durante sua realização que não tenha sido solucionado durante sua realização? ( ) Não; ( ) Sim. Quais? ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________. 220 44. Este espaço está reservado para suas considerações, sugestões para o incremento do Trabalho Social no desenvolvimento urbano, apontamentos importantes, enfim, colocações que julgar pertinentes e necessárias ( utilize o verso da folha, se necessário). ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ Muito obrigada por sua valiosíssima colaboração! 221 APÊNDICE III TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO Trabalho Social nos Programas de Habitação de Interesse Social: análise e proposições para adequações metodológicas Maristela Jorge Mitre Prezado Técnico Social, você está sendo convidado a participar desta pesquisa que tem como finalidade conhecer os limites e potencialidade do Trabalho Social no desenvolvimento urbano, em especial nos programas de Habitação de Interesse Social. A pesquisa consistirá da análise das normas a partir das metodologias de intervenção social adotadas pelos profissionais na implementação de projetos e, como resultado, pretende-se criar proposições para um melhor desempenho profissional a serem disponibilizadas como contribuição técnica, que se constituirá de orientações teórico-metodológicas para o fazer social no contexto em questão. Além de revisão bibliográfica e pesquisa documental, a pesquisa irá se valer de questionário autoaplicado contendo questões abertas e fechadas, os quais serão aplicados junto aos técnicos sociais de prefeituras municipais e profissionais que prestam serviços para a Caixa Econômica Federal na elaboração e execução de projetos sociais. Espera-se que esses questionários forneçam algumas respostas que possam auxiliar na elaboração das orientações teórico-metodológicas pretendidas. A sua participação nessa pesquisa permitirá ao pesquisador conhecer um pouco mais acerca das metodologias empregadas pelos profissionais na implementação de projetos sociais nos programas de provisão habitacional, suas dificuldades na aplicação prática do conhecimento e das normas e orientações técnicas para a elaboração e execução dos projetos e os limites e possibilidades do Trabalho Social na consecução dos objetivos e premissas desses programas. Antecipadamente lhe será assegurada a liberdade de se recusar a participar ou de suspender sua participação em qualquer fase da pesquisa, sem lhe acarretar qualquer prejuízo, e, sempre que desejar poderá solicitar mais informações sobre a pesquisa 222 por meio do telefone (35 ) 9961.4846 ou (3729.6600) ou ainda, se necessário, pelo telefone do Comitê de Ética em Pesquisa ( 31 ) 35089110. Esclarece-se que todas as informações coletadas nesta pesquisa serão de conhecimento apenas do pesquisador e seu orientador. Neste sentido, serão assegurados todos os procedimentos que garantam a confidencialidade e privacidade das respostas de forma a resguardar o respondente de todo e qualquer tipo de constrangimento, desconforto ou risco à sua dignidade, zelando para que as informações obtidas por meio do questionário não sejam utilizadas de forma prejudicial aos participantes ou mesmo à categoria profissional dos técnicos sociais. Tais procedimentos obedecem aos Critérios da Ética em Pesquisa com Seres Humanos conforme Resolução no. 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde. Reconhece-se que, ao participar dessa pesquisa, não lhe serão concedidos benefícios diretos, entretanto espera-se que os conhecimentos construídos a partir das informações obtidas por meio dos questionários e dos estudos realizados permitam sistematizar os pontos negativos e positivos, limitadores e possibilidades do Trabalho Social nos programas habitacionais viabilizando proposições que possam ser colocadas à serviço dos técnicos sociais para uma atuação mais satisfatória e realizadora na área do desenvolvimento urbano. Em tempo, esclarece-se que não há qualquer tipo de despesa ou remuneração por sua participação e, caso seja de seu interesse, poderá obter mais informações acerca das diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos na Resolução nº 466, de 12 de Dezembro, de 2012. Após estes esclarecimentos, solicitamos o seu consentimento de forma livre para participar desta pesquisa. Portanto preencha, por favor, os dados abaixo solicitados. Obs: Não assine esse termo se ainda tiver dúvida a respeito. 223 Consentimento Livre e Esclarecido Tendo em vista os itens acima apresentados, eu, __________________________________________________, de forma livre e esclarecida, manifesto meu consentimento em participar da pesquisa. Declaro que recebi cópia deste termo de consentimento, e autorizo a realização da pesquisa e a divulgação dos dados obtidos neste estudo. __________________________________ Nome: __________________________________ Pesquisador: Maristela Jorge Mitre CPF: 489.526.216-20 ___________________________________ Orientadora: Dra. Wânia Maria de Araújo Orientadora Dúvidas, esclarecimentos, informações, entre em contato com: Maristela Jorge Mitre - ( 35 ) 3729.6600 - ( 35 ) 9961.4846 Ou Comitê de Ética em Pesquisa Una: Rua Guajajaras, 175, 4º andar – Belo Horizonte/MG Telefone: ( 31 ) 3508.9110.