PROBLEMAS AMBIENTAIS RELATIVOS AOS MOVIMENTOS DE MASSA NAS RODOVIAS DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO, DESTACANDO A BR 101 TRECHO SUL. KAREN CHRISTINE HENRIQUES DE ANDRADE Universidade do Estado do Rio de Janeiro [email protected] Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 1 1 – INTRODUÇÃO A implantação de rodovias tem grande importância para a sociedade, pois interligando lugares, como grandes centros urbanos favorecem o aumento de fluxos de mercadorias e pessoas. O Brasil, a partir da segunda metade do século XX, promoveu o crescimento de sua malha rodoviária, intensificando a construção de rodovias no país. Devido a este quadro, o país é totalmente dependente deste meio de transporte. O trabalho, em andamento, coloca-se dentro dessa temática, tendo como objetivo geral estudar as relações entre as rodovias e as condições ambientais dos lugares por onde elas passam, destacando os problemas decorrentes de sua implantação e de seu uso. Como objetivos específicos busca caracterizar a implantação da rodovia BR 101, especificamente o trecho Sul e as mudanças ocorridas com relação à ocupação e uso do solo. Pretende-se também identificar os problemas ambientais relacionados ao movimento de massa e inundação, propondo uma avaliação destes problemas através do uso do Geoprocessamento. A partir de levantamentos de dados em bibliografias sobre a temática, sobre as características ambientais do Estado, de registros de ocorrências de problemas ambientais relacionados a movimentos de massa e a utilização do Geoprocessamento a fim de identificar áreas de riscos, foi realizado o trabalho. Para a BR 101 foi feito um trabalho mais detalhado, com idas a campo, principalmente no seu trecho Sul (Rio de Janeiro - Parati), devido à sua importância econômica e turística e a freqüência de problemas que ocorrem ao longo de seus trechos. Assim, o trabalho busca oferecer informações sobre os principais problemas que têm acontecido relacionados aos movimentos de massa nas encostas e à drenagem, verificando também que as condições existentes na Rio Santos, trecho Sul, continuam oferecendo alto potencial de riscos de ocorrências desses fenômenos. Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 2 2 - RODOVIAS: CONTEXTO BRASILEIRO De uma maneira geral os meios de transportes são essenciais para o crescimento econômico de um país, pois são através deles que acorrem à circulação de pessoas, a comercialização de produtos, a integração social e o acesso as necessidades básicas como educação e saúde. A ausência desses meios pode gerar áreas vazias devido ao distanciamento de determinado local a locais que se integram através de fluxos de mercadorias e possuem tecnologia. O transporte rodoviário será mais abrangente do que os outros meios devido à sua maior influência no território brasileiro, especialmente na Região Sudeste que apresenta um número muito grande de rodovias tanto federais como estaduais. Isso se deve pela presença da capital do Brasil, o Rio de Janeiro, se localizar por muitos anos nessa região. No entanto, as rodovias sofrem mudanças devido ao histórico em que se inserem. No Brasil, a evolução do meio rodoviário foi feita inicialmente através de caminhos coloniais que ligavam zonas produtoras, como as lavouras de café, aos portos. Devido às mudanças do sistema vigente na época e a concorrência com as rodovias, em determinados locais, o meio ferroviário entrou em declínio e assim começaram a surgir muitas estradas, especialmente no Rio de Janeiro e em São Paulo. Assim, o meio rodoviário na época se tornou um sistema mais rápido e menos caro em comparação com a ferrovia. Porém foi na segunda metade do século XX que houve o crescimento, a melhoria e a modernização da malha rodoviária tendo como fator principal o desenvolvimento da indústria automobilística no país. Não é só o fato de existir uma concentração deste modal no país que o faz ser privilegiado quando comparado a outros meios de transporte. Atualmente, as rodovias quando comparadas a outros sistemas ainda possuem vantagens. Segundo Fagliatti, Fillipo e Goudard (2004, p.64): Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 3 "Por apresentar características específicas como operações de carga e descarga mais simplificadas, menor necessidade de mão -de - obra com níveis de remuneração menores e atendimento porta a porta (o grande diferencial em relação aos outros modais), o transporte rodoviário, oferece rapidez e regularidade podendo atender a uma diversidade de pontos de origem e destino.” Além dessas vantagens, as rodovias apresentam caráter dinâmico e integrador, interligando lugares favorecendo a intensificação de fluxos e incentivando a atração populacional para locais próximos, o que vai exigir manutenção e ampliação da rodovia conforme o tempo. Além de apresentar um histórico e vantagens, elas são classificadas conforme sua localização e possuem distinções quando comparadas as estradas. Segundo o Departamento de Trânsito do Rio de Janeiro (DETRAN), as vias são classificadas em urbanas e rurais. As vias urbanas, como o nome já diz, são localizadas na área urbana e são ruas, avenidas que se subdividem em: vias de trânsito rápido, pois não possuem cruzamento, semáforo e nem travessia de pedestres, vias arteriais que possuem cruzamento e semáforos, vias coletoras, que dão acesso às vias de maior porte e distribuem o trânsito e vias locais, que são destinadas para acesso local ou áreas restritas. Já as vias rurais são divididas em estradas que são vias não pavimentadas e rodovias que são vias pavimentadas. As vias sem pavimentação (estradas) possuem tráfego permanente ou temporário, onde o último vai depender da época com maior ou menor quantidade de chuva. Já as vias pavimentadas (rodovias) vão se diferenciar a partir da caracterização de mão-dupla, duas pistas, uma pista. Daí pode-se concluir que rodovia e estrada não são iguais, o que geralmente ocorre quando falamos de meio rodoviário. Porém, antes de defini-lás, há todo um processo que vai desde o estudo do local que ser feita à construção até a parte de operação, onde há processos para manter a vida útil de uma rodovia. A construção de uma estrada e os problemas decorrentes são muito menos significativos quando comparadas às rodovias. São construídas geralmente a partir de materiais como argila, areia, cascalho, pedregulho em um local plano e tem que possuir boas condições de rolamento e aderência. Os problemas mais freqüentes conforme o tempo são as deformações que ocorrem na pista como esburacamentos, materiais granulares soltos, pista escorregadia e que podem ser solucionados na maioria das vezes. Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 4 Já para a construção de uma rodovia é necessário o estudo do ambiente que será modificado, pois ele é que vai indicar qual será o melhor traçado a seguir para que se minimizem impactos gerados a partir dessa intervenção. É necessário atender a diversos fatores, além de sempre buscar o melhor trânsito, com menores distâncias e menores desníveis. Também tem que levar em conta os melhores níveis de segurança e manutenção, fato que nem sempre é atendido de forma satisfatória. Para Fogliatti, Filippo e Goudard (2004) são sempre três etapas (Figura 1) que serão seguidas para o projeto: planejamento, instalação e operação. A primeira fase envolve a elaboração do formato da futura rodovia e quais os materiais que serão utilizados para esse fim. Já na segunda, será feita as obras definidas a partir dos estudos dos meios físico, biótico e antrópico que envolve aspectos geomorfológicos, climáticos, de fauna e flora, de desapropriação entre outros. E finalmente a terceira etapa que é baseada na manutenção da rodovia. Figura 1: Etapas para a implantação de um rodovia. Elaboração própria. Power Point 2007. Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 5 Portanto, para a construção de rodovias é necessário à análise da topografia, da geologia, da cobertura vegetal e da intensidade de precipitações, pois estes são fatores que salientam processos que podem desencadear ou intensificar a ocorrência de problemas ambientais. 3 – CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO A rodovia Br 101 foi construída com o objetivo de interligar os dois pólos econômicos mais importantes, Rio de Janeiro e São Paulo, de modo mais vantajoso, pela Serra do Mar. Liga o Rio de Janeiro a Santos, em São Paulo, e à Vitória no Espírito Santo, cortando longitudinalmente todo o Estado e sendo dividida em parte Norte (Rio-Campos/Governador Mário Covas) e parte Sul (Rio-Paraty/ Rio-Santos). O trecho Norte se localiza em área de topografia menos elevada onde este trecho saí da baixada litorânea bordeando as serras litorâneas até Rio Bonito. Segue a baixada de São João, e depois, a baixada de Macaé. Depois de Macaé segue por terrenos relativamente baixos justamente pelo contato do cristalino e os tabuleiros costeiro, cortando algumas planícies maiores como a de Macabu. Mais adiante, a rodovia entra na baixada campista. Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 6 Já o trecho Rio-Paraty se localiza em grande parte no sul do Estado cortando as baixas encostas e algumas pequenas baixadas como a de Angra dos Reis e Paraty. A tabela 3 apresenta os municípios ao longo de todo Estado cortados pela BR 101. MUNICÍPIOS CORTADOS PELA BR 101 TRECHO NORTE-SENTIDO RIO-VITÓRIA MUNICÍPIOS LOCALIDADES Rio de Janeiro Santa Cruz Itaboraí Itaboraí Tanguá ----- Rio Bonito Rio Bonito Silva Jardim Boqueirão, Fazenda Maratuã Casimiro de Abreu ----- Carapebus ----- Macaé Macaé Campos dos Goytacazes Serrinha, Viana São Francisco do Itabapoana Morro Coco TRECHO SUL-RIO-SANTOS MUNICÍPIOS LOCALIDADES Itaguaí Porto de Sepetiba Mangaratiba Muriquí, Itacuruçá Angra dos Reis Usina Nuclear, Conceição de Parati Jacareí Barra Grande, Corumbé Tabela 3. Municípios cortados pela Br 101. Fonte: Guia Quatro Rodas-Mapa Rodoviário 2007. Além dos municípios acima apresentados, esta rodovia corta os rios Guandu, localizado em Itaguaí, o Paraíba do Sul, que corta longitudinalmente todo o Estado do Rio de Janeiro, e o Mambucaba localizado em Parati. Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 7 O trecho que vai do Rio de Janeiro a Paraty é conhecida como Rio Santos ou como "Rodovia da Costa Verde" e possui grande importância, pois permitiu a acessibilidade a locais que antes possuíam difícil acesso. Além disso, atende a um setor econômico que se desenvolve, como o turismo, o lazer e grandes empreendimentos como a Usina Termonuclear de Angra dos Reis, o porto e os terminais de minério de Sepetiba, estaleiros e o porto de Angra dos Reis. A especulação imobiliária também favoreceu um aumento significativo na população local e intensificação da pressão em Unidades de Conservação criadas no sul do Estado para proteger áreas ainda existentes da Mata Atlântica. Abaixo, a tabela 4 apresenta o crescimento populacional dos municípios cortados pela BR101- trecho Sul. População dos municípios cortados pe la Br 101 tre cho Sul.(mil/ hab.) 1970 2007 Angra dos Reis 40.276 148.476 Itaguaí 29.237 95.356 Mangaratiba 12.338 29.253 Parati 15.934 32.838 Tabela 4: Evolução da população dos municípios cortados pela Rio-Santos. Fonte: www.ibge.gov.br. Data de acesso: 06/08/2009. Esse trecho, Rio - Santos, foi construído na década de 70, é o mais novo das rodovias federais no Estado. Teve custos elevados em função de seu traçado e das obras necessárias para sua implantação e até hoje ocorrem problemas graves relacionados a movimentos de massa e à drenagem. Desde a sua inauguração, em 1974, é freqüente a ocorrência de desastres com movimentos de massa. O Rio de Janeiro por sua condição climática tropical com altos índices de precipitação e a presença de Serras como a do Mar e da Mantiqueira são condicionantes para o desenvolvimento de movimentos de massa nas encostas. Além dos fatores naturais como fortes declives, intensos diaclasamentos e forte intemperismo, a ação antrópica como exemplo os cortes feitos para a implantação de rodovias também induzem favoravelmente a ocorrência destes processos para as rodovias em seus trechos tanto de áreas elevadas quanto baixas. Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 8 Assim o trabalho oferece informações sobre os principais problemas que têm acontecido, as condições existentes que continuam oferecendo alto potencial de ocorrências desses fenômenos e apresenta um quadro da situação atual das rodovias mostrando em especial a Rio-Santos (BR 101) com análise de problemas ocorridos nos últimos anos e seu estado atual. 4 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CHRISTOFOLETTI, Antônio. Geomorfologia. 2ºedição. São Paulo: Editora Edgard Blucher, 1980. DER-RJ. Roteiro Rodoviário Fluminense organizado no Governo Amaral Peixoto. Rio de Janeiro, 1954. DETRAN. Renovação da CNH: conteúdo e provas simuladas. Rio de Janeiro: Coordenadoria de Educação do DETRAN-RJ, 2008. P.72. Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 9 FOGLIATTI, M.; FILIPPO, S; GOUDARD, B. Avaliação de impactos ambientais: Aplicação aos sistemas de transporte. São Paulo: Editora Interciência, 2004. GUERRA, A.J. T; CUNHA, S. B. Geomorfologia e meio ambiente. Rio de Janeiro. Editora Bertrand Brasil, 1966. p.372. Guia Quatro Rodas. Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Editora Abril, 2007.Mapa rodoviário. IBGE. Fundação Instituto Brasileiro de Geografia: Geografia do Brasil - Região Sudeste. Rio de Janeiro, 1977. Vol.3. LEANDRO, Eloísa. Arco Metropolitano. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 18/07/2008. JB Economia. MACHADO, Carlos Eduardo Carvalho Ribeiro Machado. Condições ambientais restritivas a expansão urbana: o caso de Angra dos Reis.2008.Trabalho de conclusão de curso (Graduação em Geografia). UERJ, Rio de Janeiro. Orientador: Jorge Soares Marques. MARQUES, Jorge Soares. Previsão de riscos ambientais. Revista Geociências, São Paulo. 1988. SOBRINHO, Roberto Ribeiro de Souza. Uma abordagem em direção à previsão de movimentos de massa: o caso da Rio Santos (Trecho Itaguaí - Conceição do Jacareí). 1986.Trabalho de conclusão de curso (Graduação em Geografia)-UFRJ, Rio de Janeiro. Orientador: Jorge Soares Marques 2º Simpósio sobre obras rodoviárias, 2002, São Paulo. Anais Rodo 2002. São Paulo: Associação Brasileira de Geologia de Engenharia, 2002. P.157. Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 10