UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE CENTRO DE CIÊNCIAS MÉDICAS FACULDADE DE MEDICINA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS MÉDICAS DETECÇÃO E CARACTERIZAÇÃO MOLECULAR DE NOROVÍRUS EM CASOS DE GASTROENTERITE AGUDA OCORRIDOS NA REGIÃO DO MÉDIO PARAÍBA, ESTADO DO RIO DE JANEIRO, 2005. Mônica Simões Rocha Ferreira Niterói 2007 UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE CENTRO DE CIÊNCIAS MÉDICAS FACULDADE DE MEDICINA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS MÉDICAS Mônica Simões Rocha Ferreira DETECÇÃO E CARACTERIZAÇÃO MOLECULAR DE NOROVÍRUS EM CASOS DE GASTROENTERITE AGUDA OCORRIDOS NA REGIÃO DO MÉDIO PARAÍBA, ESTADO DO RIO DE JANEIRO, 2005. Dissertação apresentada à Coordenação do Programa de Pós Graduação em Ciências Médicas da Universidade Federal Fluminense, como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre em Ciências Médicas - área de concentração: Ciências Médicas. Orientadores: Dra. Solange Artimos Oliveira Dra. Marize Pereira Miagostovich Niterói 2007 II Mônica Simões Rocha Ferreira DETECÇÃO E CARACTERIZAÇÃO MOLECULAR DE NOROVÍRUS EM CASOS DE GASTROENTERITE AGUDA OCORRIDOS NA REGIÃO DO MÉDIO PARAÍBA, ESTADO DO RIO DE JANEIRO, 2005. Orientadores: Dra. Solange Artimos Oliveira Dra. Marize Pereira Miagostovich Aprovada em: 31 de Outubro de 2007. Examinadores: Prof. Dr. Sérgio Setúbal - Presidente Prof. Dra. Liliana Cruz Spano Prof. Dra. Flavia Barreto dos Santos Membros Suplentes: Prof. Dra. Caroline Corediro Soares Prof. Dra. Rita de Cássia Nasser Cubel Garcia Niterói 2007 III Este trabalho foi realizado no Laboratório de Virologia Comparada do Departamento de Virologia do Instituto Oswaldo Cruz – Fundação Oswaldo Cruz e na Universidade Federal Fluminense sob orientação da Dra Solange Artimos de Oliveira e Dra Marize Pereira Miagostovich. IV Às minhas filhas. Sabor da minha vida, amor incondicional. V “Ninguém ignora tudo. Ninguém sabe tudo. Todos nós sabemos alguma coisa. Todos nós ignoramos alguma coisa. Por isso aprendemos sempre.” Paulo Freire VI AGRADECIMENTOS À Coordenação e aos professores ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Médicas - UFF. À Coordenação Nacional de Laboratórios e ao Instituto Oswaldo Cruz, Fiocruz pelo suporte financeiro deste trabalho. Às Secretarias Municipais de Saúde dos Municípios da Região do Médio Paraíba, pelo envio das amostras. Ao “American Fellows Program”, pelo treinamento da Dra. Marize Pereira Miagostovich no diagnóstico molecular de norovirus realizado no “Centers for Disease Control and Prevention”. À Dra. Solange Artimos de Oliveira, por aceitar a orientação deste trabalho, sempre tão delicada, com palavras de incentivo e apoio no decorrer deste projeto. À Dra. Marize Pereira Miagostovich, pela co-orientação, por me fazer acreditar na realização deste trabalho com incentivo e motivação, por seu apoio e carinho que foram indispensáveis para que pudesse trilhar esse caminho. E, finalmente, pela orientação com críticas e conselhos fundamentais a realização deste projeto estando sempre disponível e disposta a ajudar, mesmo de longe. Ao Dr. José Paulo Gagliardi Leite, uma amizade de muitos anos, exemplo de seriedade e comprometimento com a instituição, obrigada pela contribuição na finalização deste projeto. À Silvana Augusta Rodrigues Portes minha grande amiga irmã, comadre de ontem, hoje e sempre, com quem sempre pude contar nos piores e melhores momentos da minha vida. E a todos seus familiares que também são como minha família. VII Aos Drs. Sérgio Setúbal pela revisão e críticas construtivas, Dra. Flávia Barreto dos Santos, Dra. Liliane Cruz Spano, Dra. Rita de Cássia Nasser Cubel Garcia e Dra. Caroline Soares Cordeiro por aceitarem participar da banca examinadora desta dissertação. Aos colegas do Laboratório de Virologia Comparada: A cada um eu dedico um espaço especial, pois a convivência nos traz um aprendizado único, com cada um aprendi um pouco mais da vida. Alexandre Fialho, a convivência nos proporcionou respeitar as diferenças. Ana Maria Pinto, cara amiga sempre alegre e pronta para ajudar. Carmen Baur, pessoa especial sempre prestativa, que tive o prazer de orientar. Edson Pereira, amigo de todas as horas e excelente dançarino. Eduardo Volotão, que a pouco chegou, e já nos conquistou com sua amizade. Fabiana Fioretti, determinada, sabe o que quer. Flávia Guimarães, sempre um bom papo. Francisca dos Santos, pessoa iluminada que mora no meu coração. Gilmar Alcântara, para quem está sempre tudo certo. Irene Araújo, amiga de muitos anos, um carinho especial. Joeler Vargas, um bom amigo que cuida da nossa saúde. Juliana Bragazzi, obrigada pela leitura do texto das críticas e sugestões. Marcelle Silva, amiga, dedicada e sempre pronta para o trabalho. Maria da Penha Xavier, minha amiga nessa e em outras empreitadas da vida, irmã, a quem agradeço especialmente pelo incentivo e apoio em todo processo. Marilda Almeida, por seu trabalho sempre impecável. Matías Victória, esse estrangeiro que a todos conquistou amigo sensível e colaborador, saudades. Agradeço em especial por ter atuado diretamente nesse trabalho. Rosane Maria Assis, sempre presente nos desabafos ”laboratoriais.” VIII Tulio Fumian, sempre de bom humor, pessoa de convivência fácil, a quem agradeço de forma especial pela dedicação e atuação efetiva nesse trabalho. Aos colegas que recentemente ingressaram no laboratório, Patrícia Estrada, Julia Fioretti, Ludmila Rocha, Marcos Lima, Fernando López, Mariela Martinez. Que sejam bem vindos ao nosso grupo fraterno. Aos amigos que não compartilham mais nosso dia a dia, a minha comadre Celi Moreira, Cristiane Monteiro, Liliane Spano, Alex Pina, Marcos Barreiros, Nieli Costa, Andréa Marques, Vera Rocha, Joana D`arc, Marcos Brian pelos bons momentos compartilhados. Aos Colegas do Departamento de Virologia - Fiocruz, pela convivência de tantos anos o meu respeito e carinho. Ao meu marido Nivaldo, meu irmão, meus primos, tios, afilhados e amigos fora da esfera científica cada um deles com uma parcela de contribuição no decorrer deste trabalho com uma palavra, uma conversa, um sorriso. E finalmente a Deus pela vida e aos meus pais, por minha formação profissional e emocional, a base de tudo. IX SUMÁRIO SUMÁRIO............................................................................................................................................................IX LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS ........................................................................................................XI LISTA DE FIGURAS ......................................................................................................................................XIV LISTA DE QUADROS ..................................................................................................................................... XV LISTA DE TABELAS......................................................................................................................................XVI LISTA DE FLUXOGRAMA E GRÁFICO....................................................................................................XVI RESUMO ........................................................................................................................................................ XVII ABSTRACT ...................................................................................................................................................XVIII 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................................ 19 1.1 HISTÓRICO ................................................................................................................................................. 19 1.2 CLASSIFICAÇÃO ......................................................................................................................................... 21 1.3 MORFOLOGIA E GENOMA VIRAL ............................................................................................................... 23 1.4 CARACTERÍSTICAS FÍSICO-QUÍMICAS ....................................................................................................... 24 1.5 PATOGÊNESE E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS.............................................................................................. 26 1.6 DIAGNÓSTICO LABORATORIAL .................................................................................................................. 27 1.7 EPIDEMIOLOGIA E DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA ....................................................................................... 29 1.8 PREVENÇÃO E CONTROLE .......................................................................................................................... 32 2 RELEVÂNCIA DO ESTUDO......................................................................................................................... 33 3 OBJETIVOS ..................................................................................................................................................... 35 3.1 OBJETIVO GERAL ....................................................................................................................................... 35 3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ........................................................................................................................... 35 4 MATERIAL E MÉTODOS ............................................................................................................................. 36 4.1 MATERIAL .................................................................................................................................................. 36 4.1.1 Espécimes clínicos ............................................................................................................................. 36 4.1.2 Amostras controle ............................................................................................................................. 37 4.1.3 Comitê de ética .................................................................................................................................. 38 4.1.4 Oligonucleotídeos .............................................................................................................................. 38 4.2 SOLUÇÕES............................................................................................................................................... 40 4.2.1 Tampão TRIS/HCl/Ca++ 0,01M pH 7,2 ......................................................................................... 40 4.2.2 Sílica ................................................................................................................................................... 40 4.2.3 EDTA 0,2M pH 8,0 ........................................................................................................................... 41 4.2.4 Tris-HCl 0,1M pH 6,4 ....................................................................................................................... 41 4.2.5 Tampão L6......................................................................................................................................... 41 4.2.6 Tampão L2......................................................................................................................................... 42 4.2.7 Tampão tris-boro-EDTA 10X pH 8,4 (TBE) .................................................................................. 42 4.2.8 Gel de agarose a 1,5%....................................................................................................................... 42 4.2.9 Solução de brometo de etídio ........................................................................................................... 43 4.2.10 Etanol 75% ...................................................................................................................................... 43 4.3 MÉTODOS ................................................................................................................................................ 44 4.3.1 Fluxograma da rotina do laboratório e deste estudo. .................................................................... 44 4.3.2 Preparo da suspensão fecal .............................................................................................................. 45 4.3.3 Extração do genoma viral................................................................................................................. 45 4.3.4 Reação de transcrição reversa (RT) ................................................................................................ 46 X 4.3.5 Reação em cadeia pela polimerase (PCR) para detecção do norovírus (região B)...................... 47 4.3.6 Determinação dos genótipos de norovírus pela reação em cadeia pela polimerase (PCR - região D) ................................................................................................................................................................. 48 4.3.7 Análise do produto da reação em cadeia pela polimerase ............................................................. 49 4.3.8 Purificação do amplicon obtido ....................................................................................................... 49 4.3.9 Reação de seqüênciamento e purificação da reação....................................................................... 50 4.3.10 Análise filogenética das seqüências da região D ........................................................................... 50 4.3.11 Reação em cadeia pela polimerase em tempo real (qPCR) ......................................................... 51 5 RESULTADOS................................................................................................................................................. 53 5.1 INVESTIGAÇÃO EPIDEMIOLÓGICA ............................................................................................................. 53 5.2 INVESTIGAÇÃO LABORATORIAL E IDENTIFICAÇÃO DO AGENTE ETIOLÓGICO ......................................... 54 5.3 CARACTERIZAÇÃO MOLECULAR DOS NOROVÍRUS .................................................................................... 56 5.4 QUANTIFICAÇÃO DE NOROVÍRUS PELA REAÇÃO EM CADEIA PELA POLIMERASE EM TEMPO REAL (QPCR)............................................................................................................................................................. 59 5.5 DISTRIBUIÇÃO DOS CASOS DE ACORDO COM A IDADE E AS MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS .......................... 60 6 DISCUSSÃO ..................................................................................................................................................... 62 7 CONCLUSÕES ................................................................................................................................................ 68 8 PERSPECTIVAS.............................................................................................................................................. 70 9 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................................................................ 71 10 ANEXOS ......................................................................................................................................................... 86 ANEXO 1- FICHA DE INFORMAÇÕES CLÍNICAS E EPIDEMIOLÓGICAS......................................... 86 ANEXO 2 - EMAIL DE ACEITE DO TRABALHO CIENTÍFICO. ............................................................. 87 ANEXO 3 - PDF DO ARTIGO CIENTÍFICO ................................................................................................. 88 XI LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS A – adenina Å – angstron A260 – absorbância a 260 nm aa – aminoácido AdV – adenovírus C – citosina CA – Califórnia CaCl2 – cloreto de cálcio CaCV– calicivírus canino CDC – “Centers for Disease Control and Prevention” cDNA – ácido desoxirribonucléico complementar CEP – Comitê de Ética em Pesquisa CME – criomicroscopia eletrônica cm3 – centímetro cúbico CsCl – cloreto de césio Ct – ciclo de contenção Da – dalton dATP – desoxiadenina dCTP – desoxicitosina dGTP – desoxiguanina DMSO – dimetil sulfóxido DNA – ácido desoxirribonucléico dTTP – desoxitimina dXTP – desoxiribonucleotídeos EDTA – ácido etilenodiamino tetracético EGPA – eletroforese em gel de poliacrilamida XII EIARA – ensaio imunoenzimático para detecção de antígenos de rotavírus e adenovírus EIE – ensaio imunoenzimático EUA – Estados Unidos da América FeCV– calicivírus felino Fiocruz – Fundação Instituto Oswaldo Cruz G – genogrupo g – grama G – guanina GG – grupo genético ou genótipo HAstV – astrovírus humanos HCl – ácido clorídrico HMSN – Hospital Municipal Salles Neto HuCV – calicivírus humanos ICTV – Comitê Internacional de Taxonomia Viral Ig – imunoglobulina IME – imunomicroscopia eletrônica kb – quilo bases kDa – quilodalton LVC-LRRR – Laboratório de Virologia Comparada-Laboratório de Referência Regional para Rotaviroses M – Molar ME – microscopia eletrônica mg – miligrama MgCl2 – cloreto de magnésio mL – mililitro mM – milimolar mm3 – milímetros cúbicos N – Normal NaOH – hidróxido de sódio ng – nanograma NLV – “norwalk like-vírus” nm – nanômetro NoV / NoVs – norovírus nt – nucleotídeo XIII NTPase – proteína nucleosídeo trifosfatase NVCP – proteína do capsídeo de norovírus ORF – “open reading frame” - fase aberta de leitura PA – pró-análise pb – pares de bases pH – concentração de íons hidrogênio livre qPCR – reação em cadeia pela polimerase (PCR) quantitativo em tempo real q.s.p. – quantidade suficiente para RJ – Rio de Janeiro RNA – ácido ribonucléico RNAm – ácido ribonucléico mensageiro RpRd – RNA polimerase RNA dependente RT – reação de transcrição reversa PCR – reação em cadeia pela polimerase RT-PCR – reação em cadeia pela polimerase precedida de transcrição reversa RV - A – rotavírus humano grupo A rVLPs – “partículas virus-like recombinante” SLV – “sapporo- like vírus” SRSV – “small round structured virus“ T – timina TBE – Tris Borato Edta Tris – hidroximetil-tris-aminometano U – unidades UTR – “untranslated region” - região não traduzida VLP – “virus like-particles” - partículas tipo-vírus VPA – vírus pequenos e arredondados VPg – “virus protein genome” - proteína viral associada ao genoma µL – microlitro µM – micromolar o C – graus centígrados 3D – três dimensões XIV LISTA DE FIGURAS Figura 1. Árvore filogenética do gênero Norovirus. 22 Figura 2. Morfologia dos norovírus. 23 Figura 3. Organização do genoma dos Norovirus. 24 Figura 4. Vias de transmissão dos norovírus. 29 Figure 5. Mapa da Região do Médio Paraíba, Estado do Rio de Janeiro. 37 Figura 6. Eletroforese em gel de agarose a 1,5% dos produtos amplificados pela PCR da região B para detecção de norovírus. 55 Figura 7. Eletroforese em gel de agarose a 1,5% dos produtos amplificados pela PCR da região D para caraterização de norovírus. 56 Figura 8. Árvore filogenética obtida a partir da análise de 56 aminoácidos da região pertencente ao capsideo dos norovírus. 58 XV LISTA DE QUADROS Quadro 1: Características dos iniciadores e sonda utilizados neste estudo para detecção, seqüenciamento e quantificação dos norovírus. 39 Quadro 2. Reagentes utilizados na reação da transcrição reversa para a obtenção do cDNA a partir do RNA viral extraído. 46 Quadro 3. Reagentes utilizados na reação em cadeia da polimerase para amplificação da região B do norovírus. 47 Quadro 4. Reagentes utilizados na reação em cadeia pela polimerase para amplificação da região D do norovírus. 49 Quadro 5. Reagentes utilizados na reação de seqüenciamento. 50 Quadro 6. Reagentes utilizados na reação de PCR em tempo real (qPCR). 52 XVI LISTA DE TABELAS Tabela 1: Distribuição das amostras estudadas para os NoVs pela reação em cadeia pela polimerase (região B) de acordo com os bairros e municípios da região do Médio Paraíba, estado do Rio de Janeiro, 2005. 55 Tabela 2: Matriz identidade (em vermelho aminoácidos e em preto nucleótideos) obtida a partir do alinhamento das seqüências do estudo, juntamente com as amostras do município de Carmo, amostra do Hospital Municipal Sales Neto-RJ (HMSN) e o protótipo GII.4 ("Bristol virus"). 57 Tabela 3: Detecção quantitativa de Norovírus utilizando a técnica de reação em cadeia pela polimerase em tempo real (qPCR), o número de dias com diarréia dos casos com gastroenterite aguda positivos e o número de cópias por grama de fezes. 59 Tabela 4: Manifestações clínicas apresentadas em 39 casos que relataram outros sintomas além da diarréia de acordo com o grupo etário e o resultado da RT-PCR para norovírus. 61 LISTA DE FLUXOGRAMA E GRÁFICO Fluxograma 1. Fluxograma da rotina laboratorial e das etapas do estudo. 44 Gráfico 1. Distribuição dos casos estudados de acordo com o grupo etário. 60 XVII RESUMO Em março de 2005, o Serviço de Epidemiologia do município de Resende, no estado do Rio de Janeiro, relatou a ocorrência de casos agudos de gastroenterite em crianças pertencentes a uma creche do município. A investigação epidemiológica realizada demonstrou que os familiares das crianças também foram afetados. Entre os meses de maio e junho, outros dois municípios, Piraí e Rio Claro, localizados no vale do Médio Paraíba, notificaram surto ou casos esporádicos de gastroenterite aguda. Um total de 50 amostras fecais foram coletadas entre março a junho de 2005 dos três municípios. As amostras fecais foram submetidas à investigação bacteriana e parasitológica e foram negativas. Iniciamos a investigação dos possíveis vírus envolvidos naqueles surtos e nos casos esporádicos de gastroenterite aguda. Foram utilizados os métodos de eletroforese em gel de poliacrilamida para detecção de rotavírus, ensaio imunoenzimático para detecção de adenovírus e rotavírus e a reação em cadeia pela polimerase precedida de transcrição reversa (RT-PCR) para investigar a presença de norovírus e astrovírus. Foi realizada ainda a reação em cadeia pela polimerase em tempo real -“TaqMan” (qPCR) para detectar, quantificar e comparar os resultados com aqueles obtidos com a RT-PCR convencional. O norovírus foi detectado em 33 das 50 amostras (66%) por ambos os métodos demostrando concordância de 100%. A análise parcial da seqüência do genoma que codifica para a proteína do capsídeo viral demonstrou que a amostra circulante pertencia ao genótipo GII.4. Os resultados deste estudo destacam o papel da infecção pelo norovírus em crianças e adultos em surtos bem como em casos esporádicos de gastroenterite aguda. XVIII ABSTRACT In March 2005, the Epidemiological Surveillance Service of Resende, municipality of the Middle Paraiba Valley, State of Rio de Janeiro, reported a sudden spontaneous occurrence of acute gastroenteritis cases in children in a public day care center. The follow investigation showed that children’s relative were also affected. From May to June, two other municipalities, Piraí and Rio Claro, also localized in the Middle Paraiba Valley, reported gastroenteritis outbreaks or sporadic cases. A total of 50 fecal samples were collected from March to June 2005. Since bacterial and parasitic investigations were negative in those samples, we performed virus investigation in those outbreaks and sporadic cases of acute gastroenteritis. Polyacrylamide gel electrophoresis for rotaviruses, enzyme immunoassay for adenovirus and rotavirus, reverse transcription-polymerase chain reaction (RT-PCR) were performed to investigate the presence of noroviruses (NoV) and astroviruses. Also, a quantitative TaqMan real time PCR for NoV was performed to detect, quantified samples and to compare these results with those obtained by conventional RT-PCR. NoV was detected in 33 out of 50 (66%) samples showing an agreement of 100% between both methodologies. Partial nucleotide sequence analysis of the genome sequence for the capsid showed that the circulating strain belonged to genogroup II and genotype 4. The results highlight the role of NoV infection in children and adults in outbreaks as well as in sporadic cases of acute gastroenteritis. 19 1 INTRODUÇÃO 1.1 Histórico Os primeiros casos descritos de infecção por norovírus (NoV) datam provavelmente da década de 30, quando a expressão “winter vomiting disease” foi introduzido por Zahorsky (1929), ao descrever uma doença altamente infecciosa cujas características clínicas predominantes eram vômito, dores abdominais e diarréia. Relatos subseqüentes de surtos com as mesmas características foram descritos por diversos pesquisadores (Reimann et al., 1945 a, b; Clark et al., 1972). Durante as décadas de 40 e 50 os vírus já eram considerados agentes etiológicos da gastroenterite aguda, embora o envolvimento destes nas infecções fosse estabelecido apenas por exclusão (Gordon et al., 1947, 1956; Jordan et al., 1953). Em 1968, um surto de “winter vomiting disease” ocorreu entre estudantes e professores de uma escola elementar em Norwalk, Ohio, nos Estados Unidos (Adler e Zickl., 1969). No período de dois dias, 50% (116/232) dos estudantes e professores apresentaram um quadro de gastroenterite aguda, seguido por uma taxa de 32% de infecções secundárias em conseqüência dos contatos. As manifestações clínicas mais freqüentes foram vômito/náusea (90%) e diarréia (38%), e o período de incubação de aproximadamente 48 horas. Na ocasião, estudos laboratoriais não evidenciaram o agente etiológico deste surto. Entretanto, na década de 70, estudos com voluntários foram realizados com o objetivo de identificar o agente etiológico desta doença. Amostras de fezes oriundas do surto primário e secundário de Ohio (Dolin et al., 1971, 1972), assim como amostras de três surtos ocorridos em Guildford, no 20 Reino Unido (Clark et al., 1972) foram utilizadas, sem sucesso, na tentativa de propagar o agente em cultivo celular e em animais de laboratório (Wyatt et al., 1978). Somente o surto de Norwalk induziu a doença em dois dos três voluntários que foram inoculados. No mesmo período, Kapikian et al.(1972) utilizando imuno microscopia eletrônica (IME) identificaram, a partir de filtrado de fezes provenientes do surto de Ohio, agregados de partículas “virus-like”, partículas semelhantes aos picornavírus e parvovírus denominadas de vírus “parvovirus-like” (Kapikian et al., 1973). O desenvolvimento de anticorpos tanto em condições naturais como em condições experimentais, juntamente com outras evidências, identificaram o vírus Norwalk como agente etiológico do surto de Ohio, sendo o primeiro vírus descrito como causador da gastroenterite aguda. Posteriormente, o diagnóstico de quadros de gastroenterite viral aguda pela microscopia eletrônica (ME) resultou na descrição de dois grupos morfológicos: com e sem característica definida, os calicivírus clássicos representados pelo vírus Sapporo e os SRSV, representado pelo vírus Norwalk. Os “Norwalk-like virus” vírus pequeno, não cultiváveis e associados a casos de gastroenterite aguda, antigenicamente distintos, cujo protótipo é o vírus do surto de Norwalk (NLV) foram classificados como pertencentes família Picornaviridade. O termo “small round structured viruses” (SRSV) descrito até então deixou de ser utilizado depois da clonagem e sequenciamento, quando esses vírus foram alocados na família Caliciviridae como gênero “Norwalk-like virus” (CDC, 2001). Greenberg et al. (1981), observaram a presença de uma proteína estrutural de 59Da (Dalton), e assim propuseram que os Norwalk passassem a constituir a família Caliciviridae, considerando as orientações propostas pelo III Comitê Internacional de Taxonomia de Vírus (ICTV), isto é: os vírus pertencentes a esta família teriam como características comuns presença de uma proteína estrutural principal, que dá origem ao capsídeo; simetria icosaédrica 21 e a apresentação de 90 capsômeros formando 32 depressões que mostram a imagem de cálice (calix, em latim), forma que deu origem ao nome da família (Green et al., 2000). Madeley e Cosgrove (1976) descreveram pela primeira vez em humanos a presença de calicivírus típicos em amostras de fezes de 10 crianças. Como em algumas crianças a infecção era assintomática, não houve conclusão quanto à patogenia destes vírus. Nesse mesmo ano, Flewett e Davies (1976) identificaram partículas de calicivírus típicos em biópsia de intestino proveniente de um caso de gastroenterite fatal. Entretanto, a detecção simultânea de adenovírus (AdV) no mesmo material não permitiu a determinação do agente causador da doença. Durante muitos anos, o papel dos calicivírus humanos (HuCV) em casos de gastroenterite aguda teve seu reconhecimento comprometido pela indisponibilidade de métodos diagnósticos capazes de detectar esses agentes. Entretanto, a partir da década de 90, com a utilização de métodos moleculares, estes vírus foram definitivamente associados com surtos de gastroenterites, sendo atualmente considerados, após os rotavírus, como os mais importantes agentes etiológicos de casos de gastroenterite aguda, principalmente em surtos onde o modo de transmissão é resultado da ingestão de água ou alimentos contaminados (Glass et al., 2000). 1.2 Classificação Em 2005, o gênero NLV foi renomeado como Norovirus pelo ICTV (Comitê Internacional de Taxonomia Viral), tendo como espécie protótipo o vírus Norwalk. Os vírus pertencentes a este gênero são denominados de acordo com o local onde foram inicialmente detectados, tais como: Hawaii, Snow Mountain, Sapporo, Southampton, Tauton, Toronto, Mexico entre outros (Em: ICVTdb: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/ICTVdb Acesso em: 26/05/2005; Green et al., 2000). 22 O gênero Norovirus está dividido em cinco genogrupos (GI-GV), baseado na análise da seqüência de aminoácidos (aa) da região que codifica o capsídeo viral (Figura 1). Os GI, II e IV são constituídos de vírus de origem humana, com a exceção do GII/11 que é de origem suína (Figura 1). Os genogrupos(G) são constituídos de grupos genéticos ou genótipos (GG), que representam a unidade mínima de classificação dos NoVs. A classificação para os GG consiste em agrupar por similaridade de nucleotídeos (nt) e aa os vírus em um determinado ramo de uma árvore filogenética (Ando et al., 2000; Zheng et al., 2006), sendo que dois vírus serão considerados como pertencentes a diferentes G se a distância entre as amostras, medido pelo método de distância sem correção for ≥ 45%. E quando apresentam distância ≥ 14,3% ≤ 43,8% são agrupadas em diferentes GG (Zheng et al., 2006). Figura 1: Árvore filogenética do gênero Norovirus. Fonte: adaptado de Zheng et al., (2006). Árvore filogenética do gênero norovirus baseada na seqüência completa de aminoácidos do capsídeo viral. A árvore contém os cinco genogrupos (G) e seus respectivos grupos genéticos ou genótipos (GG), indicados nas caixas. 23 1.3 Morfologia e genoma viral O vírion de 26 a 37nm de diâmetro, não envelopado, é composto de uma proteína de capsídeo que apresenta 90 capsômeros na superfície dispostas em simetria icosaédrica (Figura 2). A proteína do capsídeo VP1 é composta de 180 moléculas organizadas em 90 dímeros, que formam dois domínios: S e P. O domínio S forma a parte interna do capsídeo que envolve o genoma do RNA (ssRNA) e o domínio P é subdividido em dois domínios: P1 e P2. Estes domínios assumem uma forma semelhante a um cálice quando visualizados pela ME (Prasad et al., 1999; Wilhelmi et al., 2003; Cardoso e Borges et al., 2005). Figura 2. Morfologia dos norovírus. B C A D Fonte: Adaptado de Prasad et al. (1999) e Cornelia Buchen-Osmond Em: ICTVdB http://www.ncbi.nlm.nih.gov/ICTVdb Acesso em: 25 de março de 2006. A: Microscopia Eletrônica de partículas de vírus Norwalk vírus em filtrado de fezes - Barra 100 nanômetro, por C Büchen-Osmond; B: Reconstrução da imagem do Norwalk – Criomicrografia eletrônica, e C: Reconstrução da proteína do capsídeo por Dr. B.V.Venkataram Prasad's; D: Micrografia eletrônica de calicivírus inespecífico - Barra 100 nanômetro, por C Büchen-Osmond. O genoma do NoV é constituído por um RNA de fita simples, polaridade positiva, 7,7 kb, que contém três fases abertas de leitura (ORFs), uma região não traduzida (UTR), tanto no extremo 3’ quanto no extremo 5’ e uma cauda poli (A) 3' (Figura 3). Apresentam RNA subgenômico de 2,3 kb, UTR no extremo 3’e outra no extremo 5’ (Bertolotti-Ciarlet et al., 24 2003). A ORF1 representa 60% do genoma viral e codifica para uma poliproteína precursora (193kDa) de proteínas não estruturais, incluindo a RNA polimerase RNA dependente (RpRd) (Jiang et al., 1993). A ORF2 codifica a proteína VP1 que compõe o capsídeo viral (58kDa) e a ORF3 codifica um polipeptídio VP2 (22kDa) que parece ter função estrutural (Hardy, 2005; Vinjé et al., 2004). Figura 3. Organização do genoma dos Norovirus. ORF1 ORF2 ORF3 RNA sub genômico Fonte: Adaptado de Hardy (2005). p48: Proteína p48; NTPase: Proteína Nucleosídeo Trifosfatase; p22: Proteína p22; VPg: Proteína de União ao Genoma; 3CLpro: Protease; RdRp: RNA Polimerase RNA dependente; VP1: Proteína Principal do Capsídeo; VP2: Proteína Menor do Capsídeo. Círculo Verde: VPg; (A)n: Cauda Poli (A). 1.4 Características físico-químicas Os NoVs têm capacidade de flutuação em cloreto de césio de 1,33 a 1,41g/cm3 e são resistentes à inativação com cloro 3,75 a 6,25mg/L (cloro residual livre de 0,5 a 1,0mg/L), que é a concentração usada em sistemas de tratamento e distribuição de águas. Os NoVs são mais resistentes à inativação com o cloro do que o poliovírus tipo1 humano, os rotavírus 25 humanos (cepa Wa) e símio (cepa SA11) e os bacteriófagos F2 (Keswick et al., 1985), sendo inativados quando o sistema de água é tratado com 10mg/L de cloro (Green et al., 2001; Duizer et al., 2004). Os calicivírus permanecem infecciosos após aquecimento a uma temperatura de 60°C por 30 minutos, quando em filtrado de fezes com pH 2,7 e mantido em uma temperatura de 22-25°C por três horas, e após tratamento com éter 20% por 18 horas a 4°C (Dolin et al., 1972). Doultree et al.(1999) relataram que os calicivírus felinos (FeCV) mantêm infecciosidade após 20 dias sob superfície de vidro mantido a uma temperatura de 22-25°C. Os calicivírus parecem ter longa persistência, não perdendo sua infecciosidade em diferentes superfícies (Cheesbrough et al., 1997; D´Souza et al., 2006). Segundo D’Souza et al. (2006), o material orgânico presente na suspensão fecal parece proteger contra a inativação do vírus. Os NoVs são considerados resistentes a pH ácido, já que permanecem infecciosos após a passagem pelo estômago, como outros vírus entéricos quando submetidos a pH baixo e a altas concentrações de bílis, como os poliovírus, o vírus da hepatite A e os rotavírus (Dolin et al., 1972; Caul 1996). A inativação utilizando radiação ultravioleta é dose dependente para os calicivírus canino (CaCV) e FeCV (Duizer et al., 2004; Thruston-Enriquez et al., 2003). Os NoVs se mostraram sensíveis à temperatura de pasteurização regular (de 62ºC por 30 minutos), e à temperatura de pasteurização clássica (70°C por 2 minutos) (Duizer et al., 2004). A grande estabilidade dos NoVs, que permanecem estáveis em água clorada, pH ácido, viáveis após congelamento, aquecimento a 60°C e a pasteurização regular indica a importância da rota de transmissão da infecção envolvendo o preparo de comidas, bebidas e águas recreacionais (Ponka et al., 1999; Hoebe et al., 2004; Koopmans e Duizer, 2004; Widdowson et al., 2005). 26 1.5 Patogênese e Manifestações clínicas Os NoVs são estáveis em ambientes ácidos, atravessam o estômago e sua replicação ocorre no intestino delgado, onde ocorre a infecção primária. A mucosa inflama e as células epiteliais absortivas envolvidas apresentam aparência anormal, há expansão dos vilos e encurtamento dos microvilos, provocando lesões na mucosa, resultando na indução da diarréia. Após duas semanas, o intestino delgado retorna à sua aparência histológica normal. As náuseas e os vômitos resultam da transitória gastroparesia que se resolve com o término da infecção viral (Lopman et al., 2002). Indivíduos incapazes de manter uma hidratação (crianças menores de 5 anos e idosos) podem apresentar desidratação grave, resultando em distúrbios eletrolíticos e hospitalização. As infecções são auto limitadas e a maioria dos pacientes se recupera sem seqüelas, entretanto, óbitos podem ocorrer em pacientes com desidratação grave e subnutrição (Wilhelmi et al., 2003; Thornton et al., 2004). Os NoVs causam gastroenterite aguda de intensidade variável, caracterizada por diarréia, vômitos, náuseas, mal-estar, dores abdominais e musculares, dores de cabeça, anorexia e febre moderada (Thornton et al., 2004; Bull et al., 2006). O período de incubação varia de 10 a 50 horas (média 24 horas) e os vírus podem ser eliminados por até 22 dias. Em surtos, este período varia de 4 a 77 horas após a exposição ao vírus, podendo resultar em altas taxas de transmissão e grandes surtos (Dolin et al., 1971, 1972; Wyatt et al., 1974; Blacklow et al., 1979; Steinhoff et al., 1980; Kaplan et al., 1982; Rockx et al., 2002; Clark e McKendrick, 2004; Thornton et al., 2004). Geralmente, a principal característica da doença em adultos é a diarréia, enquanto que em crianças, é o vômito, sendo este sintoma menos freqüente em crianças menores de um ano de idade (Rockx et al., 2002; Lopman et al., 2004). 27 1.6 Diagnóstico laboratorial Os NoVs não são propagados em culturas celulares convencionais. Estudos utilizando a técnica de “microcarriers” estão sendo conduzidos demonstrando a infecção e a replicação do RNA viral dos NoVs em células epiteliais de intestino humano em 3D. Até o momento não existe modelo animal que possa reproduzir a doença (Kapikian et al., 1996; Glass et al., 2000; Straub et al., 2007). A dificuldade em se estabelecer um diagnóstico acessível aos médicos para identificar a etiologia das gastroenterites causadas pelos NoVs, fizeram com que Kaplan et al.(1982) criassem uma série de critérios para distinguir os surtos causados por bactérias dos causados pelos NoVs: vômito em mais de 50% das pessoas afetadas em um surto; período de incubação entre 24 e 48 horas; duração da doença entre 12 e 60 horas e a não identificação de um agente bacteriano (Kaplan et al., 1982). Esses critérios foram reavaliados pelos pesquisadores do “Centers for Disease Control and Prevention”, que concluíram que tais critérios ajudam a discriminar os surtos de origem alimentar causados pelos NoVs. Entretanto, esses critérios não devem ser utilizados individualmente, e sim em conjunto e sempre que possível, as a mostras devem ser enviadas ao laboratório (Turcios et al., 2006). A ME continua sendo uma ferramenta importante para a investigação dos NoVs. A partir dos primeiros sintomas, já é possível visualizar partículas virais em amostras de fezes pela ME (Kapikian, 1994), que detecta 106 partículas por mg de fezes, sendo esta a taxa de excreção destes vírus em pessoas infectadas. A ausência de partículas com a característica peculiar dos HuCV (forma de cálice) pode dificultar sua identificação por este método (Caul e Appelenton, 1982; Doane, 1994; Glass et al., 2000). A IEM realizada com soros de pacientes convalescentes (Doane, 1994) foi bastante utilizada para determinar a ocorrência de outros HuCV, porém essa ferramenta é limitada 28 para diagnóstico devido a uma lacuna na definição do anti-soro a ser utilizado (Thornhill et al., 1977; Dolin et al., 1982; Vial et al., 1990). Os ensaios imunoenzimáticos (EIE) para detecção de NoV tornaram-se possíveis quando Jiang et al.(1992b) estabeleceram um sistema para expressão de proteínas do capsídeo do Norwalk em baculovírus, permitindo tanto a obtenção de antígeno viral como a produção de soro hiperimune em animais (Jiang et al., 1992b; Lopman et al., 2002). Antígenos recombinantes têm sido desenvolvidos para detecção de diferentes vírus do gênero Norovirus, tais como México, Snow Mountain, Hawaii (Atmar e Estes, 2001; Lopman et al., 2002). Embora os EIEs apresentem baixa sensibilidade devido à grande diversidade genética desses vírus, é um método aplicável em surtos como teste de triagem. Um teste mais sensível e específico, como a RT-PCR, deve ser aplicado nas amostras que apresentarem resultado negativo por EIE (Jiang et al., 2000; Richards et al., 2003; Cardoso e Borges, 2005). A detecção de NoV pela RT-PCR foi primeiramente descrita por Jiang et al.(1992a) e De Leon et al.(1992), sendo uma ferramenta de pesquisa utilizada em todo o mundo. A clonagem e o seqüenciamento dos vírus Norwalk (Jiang et al., 1990) e Southampton (Lambden et al., 1993) permitiram avanços nos estudos e na determinação da importância epidemiológica dos NoVs. Com o seqüenciamento completo dos HuCVs (Jiang et al., 1993; Lambden et al., 1993; Dingle et al., 1995; Lopman et al., 2002) foi possível o desenvolvimento de diversos iniciadores para serem utilizados nas técnicas de RT-PCR, que é mais sensível que a ME e é capaz de detectar o vírus até duas semanas após a infecção (Yamazaki et al., 1996; Parashar et al., 1998; Lopman et al., 2002). Devido à grande diversidade genética dos NoVs, até o momento não foram descritos iniciadores capazes de detectar todos os genogrupos em uma única reação. Usualmente, é necessária a utilização de uma mistura de iniciadores específicos para os diferentes genogrupos (GI, GII, GIV) (Jiang et al., 2000) ou mesmo de iniciadores que amplifiquem diferentes regiões do genoma como a 29 RpRd (ORF1), a região da junção da ORF 1-ORF2, que são as mais conservadas do genoma e o capsídeo (ORF2) (De Leon et al., 1992; Ando et al., 1995; Green et al., 1995; Green et al., 2000; Lopman et al., 2002; Vinjé et al., 2004). A PCR em tempo real (qPCR) é uma técnica que tem menor risco de contaminação e pode estimar a concentração viral, além de ser rápida, bastante sensível e especifica. A detecção é dada por captação de fluorescência permitindo a observação em tempo real do processo de amplificação do produto da reação. Recentemente, o estabelecimento de um protocolo de amplificação genômica quantitativo para detecção direta de NoV GI e GII em espécimes clínicos tem permitido a detecção de NoV em amostras consideradas negativas por ME e mesmo pela RT-PCR convencional (Kageyama et al., 2003; Trujillo et al., 2006; Vainio et al., 2006). 1.7 Epidemiologia e distribuição geográfica O modo de transmissão dos NoVs é predominantemente por via oral, pela ingestão de água e alimentos contaminados, pelo contato pessoa a pessoa, ou mesmo por aerossóis produzidos durante o vômito (Figura 4) (Marks et al., 2000; Pang et al., 2000; MorenoEspinosa et al., 2004; Jones et al., 2007). As infecções por NoV ocorrem, usualmente, em instituições com grandes aglomerados tais como: orfanatos, escolas, creches, asilos, cruzeiros marítimos, hospitais e quartéis militares (Ho et al., 1989; Sharp et al., 1995; Monroe et al., 2000; Gallimore et al., 2004; Goodgame, 2006). Os NoVs infectam indivíduos de todas as idades, o que raramente ocorre com os outros vírus que causam gastroenterite (Glass et al., 2000). O NoV GII tem sido descrito como o genogrupo detectado com maior freqüência em todo o mundo (Fankhauser et al.,1998; Hale et al., 2000; Koopmans, 2001; Lopman et al., 2002). 30 Figura 4. Principais vias de transmissão dos norovírus. Fonte: Adaptado de Moreno-Espinosa et al.(2004). Um estudo internacional demonstrou a soroprevalência de anticorpos para HuCV em todas as idades, encontrando níveis superiores a 70% no Nepal, Bangladesh, Suíça, Equador, Bélgica e Estados Unidos (Greenberg et al., 1979). Em países onde foi detectada baixa soroprevalência, como na Itália (Pelosi et al., 1999) e Noruega (Myrmel et al., 1996), foram encontrados problemas na estratégia dos estudos realizados. No Brasil foram descritos dois estudos de soroprevalência: Gabbay et al.(1994) detectaram prevalência de anticorpos para Norwalk de 39% a 100% em oito comunidades indígenas da Amazônia. Talal et al.(2000) encontraram 71% de soroprevalência para os NoV em crianças menores de quatro anos de comunidades carentes no estado do Ceará. Na última década, surtos de NoV foram descritos em diferentes países como Estados Unidos (Fankhauser et al., 2002), Peru (Parashar et al., 2004), Austrália (Wright et al., 1998), Chile (O’Ryan et al., 2000), países da Europa e Canadá (Ponka et al., 1999; Rockx et al., 2002) e em países do continente Asiático (Okitsu-Negishi et al., 2004). 31 No Brasil, são raros os relatos de casos de gastroenterites associados a NoV. Timenetsky et al.(1993) observaram pela ME a presença de SRSVs em fezes de crianças com e sem diarréia em São Paulo. O primeiro estudo de prevalência dos NoV no Brasil foi descrito por Parks et al.(1999), demonstrando a ocorrência 7% de casos de NoV GI e GII em crianças com e sem diarréia e em crianças hospitalizadas com diarréia persistente. O primeiro relato brasileiro de surtos de gastroenterite associado ao NoV foi descrito por Gallimore et al.(2004). Os NoVs foram detectados em três dos quatro surtos de gastroenterite ocorridos em uma creche na cidade do Rio de Janeiro. O genogrupo GII foi detectado e sua prevalência variou de 23% a 67% nas amostras estudadas. Castilho et al.(2006), em um estudo de prevalência e diversidade genética dos NoV envolvendo crianças menores de três anos atendidas em ambulatórios de diferentes hospitais do estado de São Paulo, demostraram que os NoVs foram detectados em 36,2% de casos de diarréia aguda, em 26,7% de casos de diarréia persistente e em 36,4% das amostras de fezes de crianças sem diarréia. O genótipo predominante foi o GII.4. Borges et al.(2006), na região centro-oeste do Brasil, detectaram 8,6% de calicivírus em amostras coletadas de crianças menores de cinco anos com diarréia aguda internadas em hospitais públicos. Soares et al.(2007) demonstram 14,5% de NoV em fezes de crianças menores de 10 anos que apresentaram o quadro clínico de gastroenterite e procuraram atendimento médico em hospitais, serviços de emergência e ambulatórios da cidade do Rio de Janeiro, no período de janeiro de 1998 a dezembro de 2005, sendo detectados genogrupos I (48%) e II (52%). Os NoVs GI e GII também foram detectados na população pediátrica internada em hospitais públicos no Rio de Janeiro com gastroenterite aguda, sendo o GII responsável por 96% dos casos de infecção por NoV (Victória et al., 2007). 32 1.8 Prevenção e controle Atualmente, os NoVs são considerados vírus emergentes pelo "National Institute of Health" (Monroe et al., 2000), sendo a principal causa de surtos de gastroenterite aguda não bacteriana transmitidos por água e alimentos contaminados, ocorrendo em diversos países desenvolvidos ou não, e atingindo todos os grupos etários (Beller et al., 1997, Noel et al., 1999, Ponka et al., 1999, Daniels et al., 2000; Goodgame, 2006). Estes dados sugerem que somente a implantação de medidas de saneamento básico, melhoria de condições sanitárias e de higiene da população não serão suficientes para prevenir esta infecção (Vinjé e Koopmans, 1996; Fankhauser et al., 1998; Wright et al., 1998). A vacina é um instrumento de prevenção que poderá ser utilizado para reduzir a morbidade e a mortalidade na população. Contudo, até o momento, não foi possível estabelecer essa estratégia na prevenção e controle da gastroenterite por NoV. Vacinas utilizando partículas de “virus-like” recombinantes (rVLPs) defectivas do capsídeo viral produzidas em baculovírus demostraram ter potencial altamente imunogênico quando administradas por via parenteral em animais (Green et al., 1993), entretanto com resposta homotípica. O emprego de vacinas orais, utilizando plantas transgênicas, representa um novo conceito em vacinas economicamente mais viáveis, está sendo desenvolvido (Tacket et al., 2000; Tacket, 2005). Tacket (2005) utilizou batatas transgênicas expressando proteína do capsídeo dos NoVs (NVCP) para determinar se voluntários humanos alimentados com esse tubérculo seriam capazes de desenvolver anticorpos, produzindo um aumento de IgA secretória e/ou IgG específica. Porém, somente 35% dos voluntários desenvolveram IgG ou IgM. A prevenção das infecções por NoV tem como obstáculo a sua grande diversidade genômica e antigênica, um grande desafio para o controle das gastroenterites por NoV. 33 2 RELEVÂNCIA DO ESTUDO A gastroenterite aguda constitui um problema de impacto mundial em termos de saúde pública, principalmente nos países em desenvolvimento. No mundo estima-se que mais de 700 milhões de casos/ano ocorram em crianças com até cinco anos de idade (Kapikian, 1994). Há uma estimativa de que ocorram 1,5 bilhão de episódios de diarréia a cada ano, sendo considerada uma das maiores causas de morte entre as doenças infecciosas em todo mundo. A taxa anual estimada é de 3,5 a 5 milhões de mortes, principalmente nos países em desenvolvimento (Linhares, 2000; Fruhwirth et al., 2001; Nguyen et al., 2001; Rohayem et al., 2004). Recentemente, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) divulgou que pela primeira vez desde que começaram a ser feitos os primeiros levantamentos sobre mortalidade infantil, na década de 60, o número de mortes entre crianças em 2006 em todo o mundo foi inferior a 10 milhões. A gastroenterite aguda é causada por diferentes agentes etiológicos, entre os quais os vírus, sendo os rotavírus, os adenovírus entéricos, os astrovírus e os norovírus os principais agentes virais responsáveis por esta enfermidade (Lopez et al., 2000; Monroe et al., 2000; De Wit et al., 2001; Koopmans, 2001; Trevino et al., 2001). Durante muitos anos, as dificuldades de diagnóstico dos NoVs resultaram em uma freqüência subestimada dos casos de gastroenterite por estes vírus. Entretanto, surtos ocorridos em comunidades afetando indivíduos de todos os grupos etários, atingindo pequenos grupos ou resultando em surtos com centenas de pessoas infectadas, demonstram 34 que os NoVs têm se tornado um crescente problema de saúde pública em todo o mundo (Marks et al., 2000; Froggatt et al., 2004; Widdowson et al., 2004). No Brasil, existem poucos estudos sobre a ocorrência de casos de gastroenterite aguda por NoV (Parks et al., 1999; Gallimore et al., 2004; Borges et al., 2006; Castilho et al., 2006; Soares et al., 2007; Victória et al., 2007). Essas investigações estão restritas a laboratórios de pesquisas. Portanto, somente uma investigação mais abrangente, incluindo laboratórios clínicos, a exemplo do que ocorre com relação aos RV, é que poderá fornecer a verdadeira dimensão das infecções por NoV. A ausência de métodos de diagnóstico rápido e de baixo custo tem resultado no não esclarecimento de surtos e casos esporádicos desta infecção. Desta forma, a investigação de NoV em espécimes clínicos obtidos a partir de casos de gastroenterite aguda ocorridos na Região do Médio Paraíba contribuirá com dados laboratoriais e epidemiológicos sobre as infecções por esses vírus no estado do Rio de Janeiro. A caracterização molecular determinará os genótipos circulantes, permitindo a realização de estudos de epidemiologia molecular desses vírus. Além disso, poderá ainda contribuir para o estabelecimento de medidas preventivas a serem tomadas e fornecer conhecimento para o desenvolvimento de uma vacina eficaz para o controle da gastroenterite aguda pelos NoVs. 35 3 OBJETIVOS 3.1 Objetivo geral Investigar a presença de NoV em espécimes clínicos obtidos de casos de gastroenterite aguda ocorridos na Região do Médio Paraíba, Estado do Rio de Janeiro. 3.2 Objetivos específicos - Detectar NoV pela RT-PCR em amostras de fezes provenientes de casos de gastroenterite aguda; - Detectar e quantificar o NoV pela qPCR e comparar com a PCR qualitativa convencional; - Realizar o seqüenciamento parcial do gene que codifica para a proteína do capsídeo viral para determinação do genótipo dos NoVs detectados; - Realizar estudo de epidemiologia molecular dos NoVs pela caracterização molecular das seqüências obtidas. 36 4 MATERIAL E MÉTODOS 4.1 Material 4.1.1 Espécimes clínicos Foram estudadas 50 amostras fecais obtidas de 50 casos de gastroenterite aguda, cujos espécimes clínicos foram enviados ao Laboratório de Virologia Comparada-Laboratório de Referência Regional para Rotaviroses (LVC-LRRR), Instituto Oswaldo Cruz – Fiocruz, no período de março a junho de 2005. O estudo corresponde a casos atendidos nas Secretarias Municipais de Saúde das cidades de Resende, Rio Claro e Piraí, localizadas na região do Médio Paraíba do Estado do Rio de Janeiro (Figura 5). As amostras fecais foram enviadas ao laboratório acompanhadas com Ficha de Informações Clínicas e Epidemiológicas (Anexo 1) e mantidas sob refrigeração (2 - 8 °C) até o momento da análise. Todas as amostras foram previamente testadas pela técnica de eletroforese em gel de poliacrilamida (EGPA), pelo ensaio imunoenzimático para detecção de rotavírus e adenovírus (EIARA) e pela reação de RT-PCR para detecção de astrovírus, conforme protocolo descrito previamente (Pereira et al., 1983; 1985; Noel et al., 1995). Em seguida todas as amostras do estudo foram testadas pela PCR para umfragmento da região B, codificadora da região RNA polimerase RNA dependentete (RdRp). As amostras positivas de NoVs para esta região foram também testados para região D extremidade 3’da ORF2, codificadora da região do capsídeo viral, que caracterizou o genogrupo dessas amostras (Beuret et al, 2002; Vinjé et al 2004). Destas amostras caracterizadas pela região D, quatro amostras representando os municípios do estudo foram seqüenciadas. Foi construída uma 37 árvore filogenética, a partir do alinhamento das amostras do estudo com os protótipos de NoV, e as seqüências do estudo foram depositadas no “GenBank”. Todas as 50 amostras dos 50 casos do estudo foram submetidas à reação qPCR (Fluxograma 1). Figura 5: Mapa da Região do Médio Paraíba, Estado do Rio de Janeiro. Fonte: http://www.codin.rj.gov.br/Images/mapas/Municipios/MP_MUNICIPIOS.pdf Acesso em 25 de Março de 2006. Mapa parcial do Estado do Rio de Janeiro mostrando a região do Médio Paraíba, destacada na cor bege. 4.1.2 Amostras controle Controles positivos e negativos foram introduzidos durante todos os procedimentos deste estudo. Todos os cuidados e precauções para o trabalho com métodos de amplificação genômica foram estritamente seguidos, sendo cada etapa realizada em áreas distintas. Para todos os métodos, o controle negativo foi utilizado H2O livre de Dnase/Rnase. 38 Amostras padrões de NoV GI e GII, gentilmente cedidas pelo Dr. Chris Gallimore pesquisador do “Enteric, Respiratory and Neurological Virus Laboratory - Health Public Agency”, Colindale - Reino Unido, foram utilizadas para padronização e estabelecimento dos protocolos de RT-PCR qualitativo e quantitativo. Posteriormente, uma amostra analisada e caracterizada geneticamente como NoV no LVC-LRRR foi utilizada como controle positivo nas reações. Para aferição das reações de PCR em tempo real quantitativo (qPCR) foram utilizadas alíquotas de plasmídeos recombinantes contendo a região alvo de NoV GII. Os plasmídeos recombinantes, foram preparados previamente de acordo com o protocolo de Kageyama et al. (2003). 4.1.3 Comitê de ética Este estudo faz parte de um estudo global que abrange diagnóstico, vigilância e epidemiologia molecular dos vírus envolvido na etiologia da gastroenterite aguda no Rio de Janeiro, sendo submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Fiocruz - CEP 311/06. 4.1.4 Oligonucleotídeos Para síntese do DNA complementar (cDNA) foi utilizado o oligonucleotideo randômico pd(N)6 (Amersham Biosciences, USA). As seqüências dos oligonucleotídeos e da sonda, a localização no genoma dos oligonucleotídeos que foram utilizados neste estudo para detecção e caracterização molecular dos NoVs estão listados no Quadro 1. 39 Quadro 1: Características dos iniciadores e da sonda utilizados neste estudo para detecção e seqüenciamento e quantificação dos nororovírus. Iniciadores/ sonda (Polaridade) Seqüência 5´ 3´ Posição no genoma Concentração Produto (pb) PCR NoV Região B Mon 432 * (+) Tgg ACI CgY ggI CCY AAY CA 5093-5114 Mon 434 * (-) gAA SCG CAT CCA RCG gAA CAT 5285-5305 Tgg ACI AGR ggI CCY AAY CA 5093-5114 ggA YCT CAT CCA YCT GAA CAT 5285-5305 Mon 431 ** (+) Mon 433** (-) 100 mM 213bp 50 mM 253bp PCR NoV GII Região D Cap C (-) CCT TYC CAK WTC CCA Ygg 6667-6684 Cap D1 (+) TgT CTR STC CCC CAg GAA Tg 6432-6451 Cap D3 (+) TgY CTY ITI CCH CAR gAA Tgg 6432-6452 Taq Man NoV GII COG2F (+) COG2R (-) CAR gAR BCN ATg TTY AgR Tgg ATg Ag 5003 600nM TCg ACG CCA TCT TCA TTC ACA 5100 600nM 5048 250nM FAM – Tgg gAg ggC gAT CgC AAT CTSonda RING2 -TP (+) TAMRA *Genogrupo I, **Genogrupo II I: inosina, R: purina (A/G), Y: pirimidina (C/T), S: forte (C/G), W= (A/T). A Posição dos iniciadores é baseada Norwalk (M87661) para GI e para GII Lordslade(X86557). _ 40 4.2 SOLUÇÕES 4.2.1 Tampão TRIS/HCl/Ca++ 0,01M pH 7,2 Tris - hidroximetil-tris-aminometano (SIGMA®) 1,21g Cloreto de Cálcio -CaCl2- 0,0015M (Vetec®) 0,02g Água destilada q.s.p. 1000mL Em um bécher de 2000mL foram adicionados os reagentes, homogeneizados com agitador magnético e ajustado o pH (7,2) com ácido clorídrico PA (Merck®) antes de completar o volume final em balão volumétrico de 1000mL. A solução foi transferida um para frasco com vedação e autoclavada a 121°C por 20 minutos. Foi conservada entre 2 - 4ºC. 4.2.2 Sílica Dióxido de silício (SIGMA®) Água destilada q.s.p. 60g 500mL Em uma proveta de 500mL foram adicionadas água e 60g de sílica, a solução foi homogeneizada vertendo-se a proveta, deixando sedimentar por 24 horas. Por sucção foram desprezados 430mL do sobrenadante e adicionados 500mL de água destilada à sílica. Após sedimentação por 5 horas, foram desprezados 440mL do sobrenadante. O pH (2,0) foi ajustado adicionando-se 600µL de ácido clorídrico PA 37% (Merck®). A solução foi separada em frascos de cor âmbar em alíquotas de 10mL e foi autoclavada a 121°C por 20 minutos e estocada a 22°- 25°C. 41 4.2.3 EDTA 0,2M pH 8,0 EDTA-ácido etilenodiamino tetracético-(SIGMA®) Água destilada q.s.p. 37,22mg 500mL Em um bécher de 1000mL foram adicionados EDTA e 300mL de água destilada. Após homogeneização com agitador magnético, o pH (8,0) foi ajustado com NaOH. A solução foi transferida para um balão volumétrico de 500mL e ajustado o volume final. A solução foi tranferida para um frasco com tampa e conservada a 22°- 25°C. 4.2.4 Tris-HCl 0,1M pH 6,4 Tris (hidroximetil-tris-aminometano) (SIGMA®) Água destilada q.s.p. 12,11g 1000mL Em um bécher de 1000mL foram adicionados os reagentes, homogeneizados com agitador magnético e ajustado o pH (6,4) com ácido clorídrico PA (Merck®). O conteúdo foi transferido para um balão volumétrico de 1000mL, e completado o volume final. A solução foi acondicionada em frasco com tampa e conservada a 22°- 25°C. 4.2.5 Tampão L6 Isotiocianato de guanidina (Invitrogen®) 120g Triton X-100 (SIGMA®) 2,6g EDTA 0,2M pH 8,0 (SIGMA®) Tris-HCl 0,1M pH 6,4 (SIGMA®) q.s.p 22mL 100mL Em um bécher de 250mL foram adicionados os reagentes e homogeneizados com agitador magnético. A solução foi transferida para balão volumétrico de 100mL, o volume final completado e transferido para frasco âmbar, que foi conservado a 22°- 25°C. 42 4.2.6 Tampão L2 Isotiocianato de guanidina (Invitrogen®) 120g Tris-HCl 0,1M pH 6,4 (SIGMA®) q.s.p. 100mL Em um bécher de 250mL foram adicionados os reagentes e homogeneizados com agitador magnético. O conteúdo foi transferido para balão volumétrico de 100mL e o volume final completado. A solução final foi transferida para frasco âmbar e conservada a 22°- 25°C. 4.2.7 Tampão tris-boro-EDTA 10X pH 8,4 (TBE) Tris-base (Invitrogen®) 108g Ácido bórico (Reagen®) 55g EDTA 0,5M pH 8, 8 (Sigma®) Água Milli-Q q.s.p. 40mL 1000mL Em um bécher de 2000mL foram adicionados os reagentes e homogeneizados com agitador magnético. O conteúdo foi transferido para um balão volumétrico de 1000mL, completado o volume final e transferido para frasco com vedação. A solução final foi conservada entre 2 - 4ºC. 4.2.8 Gel de agarose a 1,5% Agarose (Invitrogen®) Tampão TBE 0,5 X pH 8,4 (Invitrogen®) 1,2g 80mL A agarose foi pesada e colocada em um erlenmeyer adicionados 80mL de tampão TBE 0,5X. O erlenmeyer foi levado ao forno de microondas por 1minuto (em potência alta) até que a agarose fosse dissolvida, deixando resfriar até +/- 50°C. A seguir, a agarose foi colocada na cuba de eletroforese, tendo sido evitada a formação de bolhas. 43 4.2.9 Solução de brometo de etídio Brometo de etídio 10mg/mL (Invitrogen®) Água destilada 15µL 300mL A solução de brometo de etídio foi dissolvida em água em recipiente plástico com tampa, homogeneizada suavemente, em agitador magnético e conservada a 22°- 25°C. A incidência direta da luz foi evitada. 4.2.10 Etanol 75% Etanol PA 75mL Água destilada 25mL Em uma proveta de 100mL foram adicionados 75mL de álcool e o volume final completado com a água destilada para 100mL. O conteúdo foi homogeneizado por inversão, transferido para frasco com vedação e conservado a temperatura entre 2 - 4ºC. 44 4.3 MÉTODOS 4.3.1 Fluxograma da rotina do laboratório e deste estudo. No fluxograma 1 estão descritos a rotina dos procedimentos do LVC-LRRR e os procedimentos deste estudo. Fluxograma 1. Fluxograma dos procedimentos laboratoriais na rotina do LVC-LRRR e os procedimentos para as amostras do estudo. AMOSTRA DE FEZES PREPARO DA SUSPENSÃO FECAL A 10% (Tris-HCl-Ca++) EIARA RV – AdV EGPA – RV PCR - AdV EXTRAÇÃO RNA SÍNTESE DE cDNA Iniciador randômico pd(N)6 RV-A PCR NoV HAstV Detecção NoV (reg. B) qPCR TaqMan Genotipagem NoV (reg. D) Seqüenciamento Árvore filogenética Seqüências no “GeneBank” Obs.: Rotina do LVC-LRRR (cor preta) e procedimentos para as amostras do estudo (cor laranja) 45 4.3.2 Preparo da suspensão fecal As suspensões fecais foram preparadas a 10% em tampão Tris-Ca++ 0,01 M pH 7,2, homogeneizadas e clarificadas a 3000xg por 10 minutos a 4°C e estocados à - 20°C. 4.3.3 Extração do genoma viral Para obtenção do RNA viral foi utilizado o método de Boom modificado (Boom et al., 1990), como descrito a seguir: Em um tubo tipo Eppendorf® foram adicionados 800µL de tampão L6 e 400µL de suspensão fecal a 10%. Após homogeneização em vórtex por 10 segundos, o conteúdo foi incubado a 56°C por 10 min. Foram acrescentados ao tubo 15µL de sílica, homogeneizado em vórtex por 10 segundos e o tubo foi colocado em plataforma orbital com agitação lenta por 20 minutos. A seguir, o tubo foi centrifugado a 16.000 x g por 1 minuto e o sobrenadante descartado em solução de NaOH 10N. O tubo foi vertido em papel de filtro, para secar. Foram adicionados ao tubo 500µL de tampão L2, feita homogeneização em vórtex por 10 segundos e centrifugação a 16.000 x g por 1 minuto. O sobrenadante foi descartado em solução de NaOH 10N e o tubo foi vertido em papel de filtro para secar. Foram adicionados 500 µL de etanol 70% gelado, feita homogeneização em vórtex por 10 segundos e o tubo centrifugado a 16.000 x g por 1 minuto, sendo o sobrenadante descartado e o tubo vertido em papel de filtro para secar. Foram adicionados 500µL de acetona PA gelada, feita homogeneização em vórtex por 10 segundos e o tubo centrifugado a 16.000 x g por 1 minuto, sendo o sobrenadante descartado e o tubo vertido em papel de filtro para secar. A seguir, o tubo foi levado em banho-maria a 56°C por 15 minutos, com as tampas do banho-maria e do microtubo abertas para que a sílica ficasse completamente seca. Foram adicionados ao tubo 60µL de água livre de Rnase/Dnase (Invitrogen®), feita a homegeneização em vórtex por 10 segundos e o tubo 46 incubado a 56°C por 15 minutos. Finalmente foi acrescentado ao tubo 1µL (40U) de inibidor de Rnase (Invitrogen®), feita a homogeneização em vórtex por 10 segundos e o tubo foi centrifugado a 16.000 x g por 4 min. Foram coletados 45µL do sobrenadante e o ácido nucléico viral foi estocado a -70°C. 4.3.4 Reação de transcrição reversa (RT) A síntese do cDNA a partir do RNA extraído foi realizada utilizando-se o iniciador randômico pd(N)6 (Amersham Biosciences®, USA). Em um Eppendorf® de 200µL foram adicionados 4µL de dimetil sulfóxido (DMSO) a 10µL de RNA extraído. Após incubação a 97°C por 7 minutos, o tubo foi mantido em banho de gelo por 2 minutos. A seguir, foram adicionados 36µL da mistura de reagentes (Quadro 2), e o tubo foi incubado a 42°C por 1 hora, seguido de 10 minutos a 95°C. O produto foi estocado a – 20°C até o momento da PCR. Quadro 2. Reagentes utilizados na reação da transcrição reversa para a obtenção do cDNA a partir do RNA viral extraído. Reagentes Concentração Volume/Reação - 20,5µL 10X 5,0µL dxtp: dATP, dTTP, dGTP, dCTP ( Invitrogen®) 2,5 mM 4,0µL MgCl2 (Invitrogen®) 50 mM 1,5µL 200U/µL 1µL 50 unidades (A260) 4µL H2O livre de Dnase/Rnase (Invitrogen®) Tampão de PCR sem MgCl2 (Invitrogen®) RT Superscript IIITM (Invitrogen®) pd(N)6 (Amersham Biosciences®) 47 4.3.5 Reação em cadeia pela polimerase (PCR) para detecção do norovírus (região B) O protocolo utilizado tem sido descrito como adequado para triagem das infecções por NoV, uma vez que utiliza quatro iniciadores que detectam simultaneamente os GI e GII ao amplificarem um fragmento da região conservada do gene que codifica a RpRd, denominada região B (Beuret et al., 2002; Zheng et al., 2006), como descrito a seguir: Em um Eppendorf® de 200µL foram adicionados 5µL de cDNA em 20µL da mistura, (Quadro 3), para volume final de 25µL. As amostras foram submetidas à desnaturação inicial a 94ºC por 3 minutos e 40 ciclos subseqüentes de desnaturação (94oC/30 segundos), anelamento (50oC/1 minuto), extensão (60oC/1 minuto) e um ciclo de extensão final (72oC/7 minutos), mantendo temperatura de 4°C por até 24horas. Os tubos foram colocados em Termociclador, (Termocicler Applied Biosystems®, Foster City, CA, USA – modelo 2400). Os produtos amplificados foram analisados por eletroforese (100 volts por 1 hora) em gel de agarose a 1,5% (Invitrogen®) conforme descrito no item 4.3.7. Quadro 3: Reagentes utilizados na reação em cadeia da polimerase para amplificação da região B do norovírus. Reagentes H2O livre de Dnase/Rnase (Invitrogen®) Concentração Volume/Reação - 14,1µL 10X 2,5µL dxtp: dATP, dTTP, dGTP, dCTP ( Invitrogen®) 2,5 mM 2,0µL MgCl2 (Invitrogen®) 50 mM 0,8µL Taq DNA polimerase platinum (Invitrogen®) 5 U/µL 0,3µL Mistura de iniciadores Mon 431 – 432 – 433 – 434 100µM 0,3µL Tampão de PCR sem MgCl2 (Invitrogen®) 48 4.3.6 Determinação dos genótipos de norovírus pela reação em cadeia pela polimerase (PCR - região D) Foram utilizados iniciadores (Quadro 1) para amplificação de um fragmento da região do genoma que codifica para a proteína do capsídeo (região D), segundo Vinjé etal. (2004), descrita como adequada para a posterior caracterização dos GG pelo sequenciamento desta região (Zheng et al., 2006). Como descrito a seguir: Em um Eppendorf® de 200µL foram adicionados 10µL de cDNA em 40µL da mistura, (Quadro 4), para volume final de 50µL. As amostras foram submetidas à desnaturação inicial à 95ºC por 3 minutos e 40 ciclos subseqüentes de desnaturação (94°C/1 minuto), anelamento (44°C/1 minuto), extensão (72oC/1 minuto) e um ciclo de extensão final (72°C/10 minutos) mantendo temperatura de 4°C por até 24 horas. Os tubos foram colocados no termociclador Termocicler Applied Biosystems®, Foster City, CA, USA – modelo 2400. Quadro 4. Reagentes utilizados na reação em cadeia pela polimerase para amplificação da região D do norovírus. Reagentes H2O livre de Dnase/Rnase (Invitrogen®) Concentração Volume/Reação - 26,20µL 10X 5,0µL dXTP: dATP, dTTP, dGTP, dCTP ( Invitrogen®) 2,5mM 4,0µL MgCl2 (Invitrogen®) 50mM 1,5µL Taq DNA polimerase platinum (Invitrogen®) 5U/µL 0,3µL Mistura de iniciadores CAP C /D1/D3 100µM 3,0µL Tampão de PCR sem MgCl2 (Invitrogen®) 49 Os produtos amplificados foram analisados por eletroforese (100 volts por 1 hora) em gel de agarose a 1,5% (Invitrogen®) conforme descrito no item 4.3.7. Quatro produtos representando uma amostra do município Rio Claro, uma amostra de Piraí e duas amostras do município de Resende foram posteriormente purificadas para seqüenciamento nucleotídico. 4.3.7 Análise do produto da reação em cadeia pela polimerase Os produtos amplificados foram analisados por eletroforese (100 volts por 1 hora) em gel de agarose a 1,5% (Invitrogen®) utilizando-se cuba Horizon 11.14 9 Life Technologies® em tampão TBE 1X (Invitrogen®) pH 8,4. Foram aplicados em cada poço 10µL do produto da reação somando-se a 2µL do corante azul de bromofenol (Invitrogen®). Como referência para o tamanho do amplicon utilizou-se um padrão de tamanho molecular de 100pb ou 50pb (Invitrogen®). O gel foi submerso em solução de brometo de etídio (Sigma Chemical Company®) 0,5µg/ml por 20 minutos. Os “amplicons” foram visualizados em transiluminador de luz ultravioleta (Labnet®). A imagem foi registrada em sistema de captura de imagem “BioImaging Systems®”utilizando o programa Labworks 4.0. Foram consideradas positivas as amostras que apresentaram fragmentos amplificados de 213 pares de bases para região B e 253 pares de base para região D. 4.3.8 Purificação do amplicon obtido Os produtos amplificados foram purificados com o kit comercial “QIAquick® PCR Purification Kit” (QIAGEN®, Valencia, CA, USA), seguindo as recomendações do fabricante. Após a purificação, os “amplicons” foram quantificados em gel de agarose a 2% por visualização com a utilização de padrão de massa, “Low DNA Mass Ladder” (Invitrogen®). 50 4.3.9 Reação de seqüênciamento e purificação da reação Para o seqüenciamento direto dos produtos amplificados e purificados foi utilizado o kit comercial “Big Dye Terminator® v 3.1 Cycle Sequencing Kit” (Applied Biosystems®, CA, USA), conforme recomendado pelo fabricante (Quadro 5). Foram utilizados os mesmos iniciadores da reação de amplificação genômica da região D. Os produtos da reação de seqüência foram purificados com as colunas CENTRI-SEP® (Princeton Separations®, CA, USA) conforme orientação do fabricante. O seqüenciador automático ABI Prism 3100 (Applied Biosystems®) foi utilizado e os eletroferogramas obtidos foram analisados. Quadro 5. Reagentes utilizados na reação de seqüenciamento. Reagente DNA (25ng) Volume/Reação 2-10µL Tampão de seqüenciamento (Invitrogen®) (5X) 2µL Big Dye (Invitrogen®) 2µL Iniciadores CAP C /D1/D3 (1 iniciador por tubo de reação) 2µL H2O livre de Dnase/Rnase (Invitrogen®) q.s.p. 10 - 20µL 4.3.10 Análise filogenética das seqüências da região D O “BioEdit Sequence Alignment Editor” (Hall, 1999) foi o programa utilizado para edição e alinhamento das seqüências obtidas. A análise filogenética das seqüências foi realizada utilizando o programa MEGA2 versão 2.1 (Kumar et al., 2001) e a distância genética calculada pelo modelo Kimura 2parâmetros, utilizando o método “neighbor-joining” com “bootstrap” de 2000 réplicas. Para 51 esta análise foram utilizadas as seqüências dos protótipos dos diferentes genótipos GII NoV, as quatro seqüências representando os municípios do estudo, as duas seqüências do município de Carmo, pertencente ao estado do Rio de Janeiro. (Portal Entrez Pubmed – GenBank http://www.ncbi.nlm.nih.gov/entrez/query.fcgi?db =Nucleotide&itool=toolbar) 4.3.11 Reação em cadeia pela polimerase em tempo real (qPCR) Foi utilizado o protocolo descrito por Kageyama et al.(2003) adaptado para o aparelho ABI 7500 (Applied Biosystems®, USA). O protocolo utiliza iniciadores específicos para NoV GII, amplificando a seqüência da junção da ORF1-ORF2, região mais conservada do genoma entre os NoVs (Quadro 1). As amostras foram aplicadas em duplicatas em uma microplaca de 96 cavidades (MicroAmp®, Applied Biosystem, Foster City, Califórnia, EUA), contendo 20µL da mistura e 5 µL do cDNA (Quadro 6) para volume final de 25µL. Inicialmente as amostras foram submetidas à temperatura de 50ºC por 2 minutos e posteriormente seguido por desnaturação à 95ºC por 10 minutos e 45 ciclos subseqüentes de desnaturação (95°C/15 segundos) e ciclo de anelamento e extensão (56°C/1 minuto). Os dados de amplificação e quantificação foram coletados e analisados no software Sequence Detector versão 1.6 (Applied Biosystems®). Em cada reação, foi gerada uma curva padrão especifica para NoV GII pela adição de 5 µL da diluíção seriada (1:10) do plasmídeo recombinante purificado contendo o inserto de NoV GII nas concentrações de 107 a 101 cópias cDNA/reação. A curva apresentou “threshold cycle” (Ct) 36.88 para a diluição 101 e o método apresentou um limite de detecção de 10 cópias de cDNA por reação. 52 Quadro 6: Reagentes utilizados na reação em cadeia pela polimerase em tempo real (qPCR). Reagente Volume/Reação H2O livre de Dnase/Rnase (Invitrogen®) 3,875µL Taq Man ® Universal PCR Master MIX (Invitrogen®) 12,5µL Iniciadores COG 2F [10µM] 1,5µL Iniciadores COG 2R [10µM] 1,5µL Sonda RING2 [10µM] 0,625µL 53 5 RESULTADOS 5.1 Investigação epidemiológica Entre a 10ª e 11ª semanas epidemiológicas (março) de 2005, a Secretaria Municipal de Saúde - Serviço de Vigilância Epidemiológica de Resende notificou 12 casos de diarréia, vômito e febre ocorridos em uma creche municipal no bairro de Fazenda da Barra II. A investigação epidemiológica identificou que a primeira criança a adoecer foi a filha da cozinheira que vomitou no refeitório e em outras salas da creche. Além das crianças, dois dos 19 funcionários da creche apresentaram quadro clínico semelhante no mesmo período e outros três relataram algum desconforto gastrointestinal. A água da creche foi enviada ao Laboratório Central de Saúde Pública para investigação bacteriológica e o resultado foi negativo para enterobactérias patogênicas. No mesmo bairro e período, outros 23 casos de gastroenterite foram notificados, sendo 15 em crianças e oito em adultos residentes no mesmo bairro. No mês de março, um total 112 casos de gastroenterite aguda foram notificados em 34 (40%) dos 85 bairros do município de Resende, sendo que 34 casos ocorreram no bairro Fazenda da Barra II. No mês de abril, 21 novos casos foram notificados nos municípios de Rio Claro e Piraí, também localizados na Região do Médio Paraíba. 54 5.2 Investigação laboratorial e identificação do agente etiológico Entre março e junho de 2005 o LVC-LRRR do Instituto Oswaldo Cruz recebeu 50 amostras de fezes de 50 casos de gastroenterite aguda ocorridos em três municípios da região do Médio do Paraíba para investigação laboratorial e identificação de um possível agente viral envolvido nestes casos. Todas as amostras recebidas foram previamente testadas pelo EGPA e pela EIARA, segundo o fluxograma de trabalho adotado no laboratório (Fluxograma 1), sendo todas negativas para rotavírus, tanto no EIARA quanto no EGPA, descartando a infecção por este vírus. Somente uma (2%) das 50 amostras testadas foi positiva para adenovírus, detectado pelo EIARA, e uma outra amostra foi positiva para astrovírus, detectado pela RT-PCR específica. Todas as 50 amostras foram testadas pela RT PCR para NoV região B. A reação de RT PCR para região B, foi realizada para detecção do NoV utilizando iniciadores para os genogrupo I e II (Quadro1). Das 50 amostras recebidas 33 (66%) foram positivas para NoV pela RT-PCR convencional (Figura 6). Onze das 12 (92%) amostras inicialmente recebidas no laboratório para investigação foram positivas para NoV pela RT-PCR convencional. Estas amostras foram provenientes de cinco crianças que freqüentavam a creche municipal do bairro de Fazenda da Barra II, da mãe de uma delas e de dois irmãos, além de quatro casos não relacionados com a instituição, porém do mesmo bairro. A Tabela 1 apresenta a distribuição e o percentual de casos de gastroenterite aguda associado a infecções por NoV no período estudado. Todas as 50 amostras do estudo submetidas à reação de PCR em tempo real, sendo que 33 amostras foram detectadas, tendo sido esse o mesmo percentual de detecção obtido pela PCR convencional. Todas as 33 amostras foram quantificadas Tabela 3. 55 Figura 6: Eletroforese em gel de agarose 1,5% dos produtos amplificados pela PCR da região B para detecção de norovírus. 1 2 3 4 5 6 7 8 9 213 pb Linha 1: Tamanho Molecular 100 pares de bases; Linhas 2, 3, 5, 6, 7: amostras positivas; Linha 4: amostra negativa; Linha 8: controle negativo; Linha 9: controle positivo. Tabela 1: Distribuição das amostras estudadas para os NoV pela RT- PCR (região B) de acordo com os bairros e municípios da região do Médio Paraíba, estado do Rio de Janeiro, 2005. Município Resende Bairro Amostras Positivas / Amostras Estudadas (%) Barra II Capelinha Cidade da Alegria Fazenda da Barra II Nova Alegria Parque Embaixador Visconde de Mauá São Caetano Novo Surubim Não Informado 5/7 1/1 1/2 3/4 1/1 3/3 1/1 2/2 0/6 1/1 Subtotal Piraí 18/28 (64.2) Arrozal Centro Varjão Subtotal Rio Claro Total 1/1 0/2 5/8 6/ 11 (54.5) Fazenda Gama 9/11 (81.8) 33/50 (66.0) 56 5.3 Caracterização molecular dos norovírus Todas as 33 amostras positivas para a RT-PCR da região B, foram submetidas à caracterização molecular e o protocolo utilizado foi o da RT-PCR para região D, com iniciadores específicos para GII. Todas as 33 amostras previamente positivas para região B foram positivas para região D que caracterizou o genogrupo das mesmas como GII (Figura 7). Figura 7: Eletroforese em gel de agarose 1,5% dos produtos amplificados pela RT-PCR da região D para caracterização de norovírus. 13 14 1 3 2 1 4 2 5 3 6 1 7 4 10 11 8 5 6 7 13 12 8 9 14 14 10 11 253 pb Linha 1: Tamanho Molecular 50 pares de base; Linhas 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9: amostras positivas; Linha10: controle negativo; Linha 11: controle positivo. Das 33 amostras caracterizadas para região D, quatro amostras representando os municípios estudados foram seqüenciadas para a determinação do genótipo. Quatro amostras, uma do município Piraí, uma do município de Rio Claro e duas do município de Resende foram seqüenciadas utilizando os mesmos inicidores da região D e as mesmas foram caracterizadas com 0,02% de divergência de nucleotídeos (nt), não houve divergência na seqüência de aminoácidos (aa) entre elas (Tabela 2). Foram também analisadas duas amostras oriundas de um surto ocorrido no mesmo período do estudo no município de Carmo, na região Serrana do Estado do Rio de Janeiro e estas amsotras mostraram o mesmo 57 perfil de divergência de nucleotídeos 0,02% e 100% de similaridade na seqüência de aa entre elas e com as amostras do estudo (Tabela 2). A análise filogenética dos aa confirmou que as amostras estudadas e as do município de Carmo pertenciam ao genogrupo II e genótipo 4 (Figura 8). As quatro amostras seqüênciadas no estudo e as amostras do município de Carmo foram depositadas no GenBank conforme identificação do número de acesso: DQ857344-Hu/GII-4/10942/2005/Bra/Resende; DQ857342-Hu/GII-4/10689/2005/Bra/Resende; DQ857340-Hu/GII-4/10641/2005/Bra/RioClaro; DQ857341-Hu/GII-4/10668/2005/Bra/Piraí; DQ997036-Hu/GII/4/10840/2005/Bra/Carmo; DQ997035-Hu/GII/4/10842/2005/Bra/Carmo. Tabela 2: Matriz identidade (em vermelho os aminoácidos e em preto os nucleótideos) obtida a partir do alinhamento das seqüências do estudo, juntamente com as amostras do município de Carmo, amostra do Hospital Municipal Sales Neto-RJ (HMSN) e o protótipo GII.4 ("Bristol virus"). Número registro - Local de origem (AcessoGenbank) 10840 - Carmo 10840 1,000 0,996 10942 - Resende Rio Claro HMSN Protótipo GII 4 1,000 1,000 0,964 0,880 1,000 - 1,000 1,000 1,000 0,964 0,880 1,000 - 1,000 1,000 0,964 0,880 1,000 - 1,000 0,964 0,880 1,000 - 0,964 0,880 0,964 - 0,880 0,996 0,992 1,000 0,996 0,996 1,000 0,996 0,996 1,000 0,984 0,988 0,980 0,984 0,984 0,940 0,944 0,936 0,940 0,940 0,932 0,873 0,877 0,869 0,873 0,873 0,873 10641 - Rio Claro (DQ857340) 9546 - HMSN (DQ997040) 0,880 - Protótipo GII 4 (X76716) X76716 1,000 10668 - Piraí (DQ857341) 10668 10641 9546 1,000 10689 - Resende (DQ857342) 10689 - 10842 - Carmo (DQ857344) 10942 Carmo Carmo Resende Resende Piraí (DQ997036) (DQ997035) 10842 0,865 58 Figura 8: Árvore filogenética obtida a partir da analise de 56 aminoácidos da região pertencente ao capsideo dos norovírus. DQ857344-Hu/GII-4/10942/2005/Bra/Resende DQ857340-Hu/GII-4/10641/2005/Bra/Rio Claro 95 DQ997036-Hu/GII/4/10840/2005/Bra/Carmo DQ997035-Hu/GII/4/10842/2005/Bra/Carmo 98 99 DQ857342-Hu/GII-4/10689/2005/Bra/Resende DQ857341-Hu/GII-4/10668/2005/Bra/Piraí DQ997040-Hu/GII/4/9546/2004/Bra GII/4(X76716) 1 GII/6(AJ277620) 12 GII/11(AB074893) GII/14(AY130761) 4 GII/7(AJ277608) 64 19 GII/8(AF195848) 47 86 GII/9(AY038599) GII/2(X81879) 40 32 GII/5(AJ277607) GII/10(AF427118) 86 GII/16(AY502010) 9 72 6 GII/1(U07611) GII/12(AJ277618) GII/13(AY113106) 32 39 GII/17(AY502009) GII/3(U02030) GII/15(AY130762) GI/1(M87661) 0.05 Árvore filogenética obtida a partir da análise de 56 aminoácidos da região do capsídeo (região D). Aplicando o programa MEGA2 versão 2.1 (Kumar et al., 2001) a distância genética calculada pelo modelo Kimura 2-parâmetros, e o método “neighbor-joining” com “bootstrap” de 2000 réplicas. Utilizando as amostras obtidas neste estudo, as amostras do município de Carmo, dos protótipos de GII e protótipo GI. Denominação do protótipo: Genogrupo /genótipo seguido pelo número de acesso no “GenBank” e para as amostras brasileiras: o número de acesso seguido pelo número registro, ano, país e município. 59 5.4 Quantificação de norovírus pela reação em cadeia pela polimerase em tempo real (qPCR) Foi utilizado o qPCR para detecção e quantificação rápida das amostras. Das 50 amostras fecais testadas, 33 foram positivas, demonstrando 100% de concordância com os resultados obtidos com a RT-PCR convencional para região B. As amostras positivas foram quantificadas pelo sistema “TaqMan” e o número de cópias detectadas foi avaliado de acordo com os dias de diarréia. A faixa de detecção variou de 2,6 x 101 a 2,2 x 106 cópias de cDNA de NoV por reação ou de 5.5 x 104 to 4.6 x 109 cópias de RNA de NoV por grama de fezes (Tabela 3). Não foi observada diferença significativa na freqüência das amostras positivas quando comparadas à freqüencia das amostras negativas em relação ao número de dias de diarréia (< de cinco dias e ≥ a cinco dias χ2 = 0,59 p= 0,44 (p> 0,05)). Tabela 3: Detecção quantitativa de norovírus por número de cópias de RNA por grama de fezes utilizando a técnica da PCR em tempo real de acordo com o número de dias com diarréia dos casos com gastroenterite aguda positivos. 1 Número de casos positivos/ Número de casos estudados (%) 3/4 2 Número de dias com diarréia Número de cópias/ por g de fezes Média ± Desvio Padrão Mínimo – Máximo 8.2 x104 - 3.8 x 108 1.8 x 108 ± 1.9 x 108 4/7 8.0x 106 - 2.5 x 109 7.2 x 108 ± 1.2 x 108 3 8/9 4.6 x 106 - 4.6 x109 1.1 x 109 ± 1.6 x 109 4 6/10 5.0 x 106 - 1.4 x 109 5.5 x 108 ± 6.2 x 108 5 2/4 1.2 x 107 - 3.2 x 107 2.2 x 107 ± 1.4 x 107 6 0/2 ND* 7 5/5 3.2 x 10 - 3.2 x 10 1.3 x 10 ± 1.1 x 107 8 1/3 5.5 x 104 - 9 0/1 ND* - Não informado 4/5 1.6 x 105 - 1.5 x 109 5.0 x 108 ± 6.7 x 108 Total de amostras 33/50 (66) *ND - Não determinado 5 7 7 60 5.5 Distribuição dos casos de acordo com a idade e as manifestações clínicas A distribuição dos 49 casos estudados de acordo com o grupo etário evidenciou que mais de 50% dos casos das infecções por NoV ocorreram em crianças com idade inferior a 10 anos, porém acometeu todas as faixas etárias atingindo adultos até 65 anos de idade (Gráfico 1). Em um caso a idade não foi informada. Gráfico 1: Distribuição dos casos estudados de acordo com o grupo etário. 12 PCR Negativo 10 Número de casos PCR Positivo 8 6 4 2 0 ≤1 > 1 a ≤10 >10 a 19 ≥20 Grupo etário (anos) * Em um caso a idade era ignorada. Todos os 50 casos investigados laboratorialmente apresentaram quadro de diarréia aguda. Destes, 39 indivíduos relataram outras manifestações clínicas que usualmente acompanham os quadros de gastroenterite aguda (Tabela 4). Entre os casos positivos para NoV as principais manifestações observadas foram: vômito (19 - 55.9%), dor abdominal (14- 61 41.2%), e febre ≥ 37,5°C (13 - 38.2%). A freqüência destas manifestações clínicas não foi estatisticamente significativa (p> 0,05) quando os casos positivos foram comparados com os negativos (Vômito χ 2= 0,64 p= 0,423 - Dor abdominal χ 2 = 0,03 p= 0,855 - Febre (≥ 37,5°C) χ 2 =0,05 p= 0,828). Tabela 4: Manifestações clínicas apresentadas em 39 casos que relataram outros sintomas além da diarréia de acordo com o grupo etário e o resultado da RT-PCR para norovírus. Grupo etário RT-PCR Vômito Dor Abdominal Febre Inapetência Muco Coriza Tosse Pos 3 2 2 1 4 2 2 Neg 2 0 2 1 1 1 1 Pos 9 5 7 4 2 3 4 Neg 2 3 5 3 2 3 3 Pos 2 1 0 0 0 0 0 Neg 0 0 1 1 0 0 0 Pos 5 6 4 4 0 0 0 ≥20 Neg 3 3 0 1 0 0 0 Total Pos 19 14 13 9 6 5 6 Neg 7 6 8 6 3 4 4 ≤1 >1- ≤ 10 >10 - 19 A desidratação ocorreu em dois casos no grupo etário >1- ≤ 10, cujas amostras foram positivas para norovírus. O exantema esteve presente em somente em um caso no grupo etário ≤ 1, cuja amostra foi positiva para norovírus, assim como o sangue detectado em uma amostra no grupo etário >1- ≤ 10, cuja amostra foi negativa para norovírus. 62 6 DISCUSSÃO Com os avanços dos métodos moleculares de detecção viral tem sido possível demonstrar a importância dos NoVs como um dos mais importantes agentes etiológicos da gastroenterite aguda (Willhemi et al., 2003). Diferentemente dos RV, os NoVs atingem igualmente crianças e adultos, ocasionando surtos em comunidades onde haja aglomerado de pessoas de diferentes idades. Esse agente viral, sem dúvida, deve ser considerado entre os principais vírus responsáveis por surtos da doença, podendo envolver um grande número de pessoas (Green et al., 2001; Fankhauser et al., 2002; Chan et al., 2006). A rotina de laboratórios concentra-se em investigar a presença do RV-A e seu impacto como agente etiológico da gastroenterite não bacteriana utilizando métodos para detecção de RNA em amostras fecais (EGPA) e para detecção de antígenos por ensaios imunoenzimáticos (EIE). O grande número de amostras negativas utilizando esses métodos, com casos envolvendo crianças e adultos, sugerem a necessidade de investigar outros vírus gastroentéricos como os HAstV, os AdV entéricos e os NoVs que têm um papel importante na etiologia das gastroenterites virais (Bereciartu et al., 2002; Liu et al., 2006). Como os NoVs não possuem, até o momento, um sistema de replicação em cultura celular adequado e não há um modelo animal experimental satisfatório, o desenvolvimento de métodos de diagnóstico destes vírus ficou restrito por muito tempo a estudos epidemiológicos que eram limitados a pequenas vigilâncias realizadas em laboratórios de centros de referência, utilizando a técnica de ME para a detecção viral. Em 1995, o estabelecimento da RT-PCR 63 para detecção de NoV, com sensibilidade de detecção de 102 partículas virais, representou um grande avanço para o diagnóstico destas infecções (Glass et al., 2000). Assim sendo, os NoVs despontaram como importantes agentes etiológicos da gastroenterite aguda, tanto em casos esporádicos quanto em surtos (Bon et al., 2005). No Brasil são poucos os estudos sobre NoV e sua prevalência ainda não foi bem estabelecida. Parks et al.(1999) descreveram pela primeira vez a prevalência de NoV em casos de gastroenterite aguda em crianças pertencentes a comunidades carentes de Fortaleza e encontraram uma positividade de 7%. Gallimore et al.(2004) associaram pela primeira vez os NoVs como agente etiológico em três de quatro surtos ocorridos em uma creche na cidade do Rio de Janeiro. Posteriormente, algumas outras citações relatando a circulação de NoV em crianças hospitalizadas foram descritos (Borges et al., 2006; Castilho et al., 2006; Victória et al., 2007; Soares et al., 2007). No presente estudo, a infecção por NoV em cinco crianças e em três familiares atendidos em março de 2005 no ambulatório localizado em Fazenda da Barra II, no município de Resende, sugere a ocorrência de um surto de NoV na mesma localidade. No mesmo mês, novos casos ocorreram em outros dois municípios, Rio Claro (81,8%) e Piraí (54.5%) e novos casos esporádicos foram detectados em Resende nos meses seguintes, demostrando a circulação do NoV na região. Koopmans e Duizier (2004) relatam que quando os NoVs são introduzidos numa comunidade ou população, pode ocorrer a disseminação da doença, resultando em um grande número de infecções secundárias e o acometimento de mais de 50% dos contatos. Freqüentemente, os NoVs são descritos como o principal agente causador de gastroenterite aguda em adultos (De Wit et al., 2001; Fankhauser et al., 2002; Lopman et al., 2002). Entretanto, especialmente em países em desenvolvimento, incluindo o Brasil o papel destes vírus em casos esporádicos e em surtos de gastroenterite é ainda subestimado. 64 Neste estudo, foi utilizado iniciador randômico, Pd(N)6, para obtenção do cDNA viral. A realização da RT-PCR em dois passos com iniciador randômico para a fase de transcrição reversa é descrito como 100 vezes mais sensível do que a PCR com iniciadores específicos na síntese de cDNA. Além de aumentar a sensibilidade, o emprego de iniciadores randômicos para a síntese de cDNA permite que o mesmo seja utilizado para a detecção molecular de outros vírus (Pang et al., 2005). Rotineiramente, a utilização de EIE comercial, permite a análise de um grande número de amostras. Porém seus resultados são desapontadores para detecção dos NoVs (de Bruin et al., 2006). Embora mais rápido e menos trabalhoso que a RTPCR, não é recomendável, principalmente devido à diversidade antigênica dos NoVs (BurtonMacLeod et al., 2004). Usualmente, a baixa sensibilidade e especificidade do EIE resultam na necessidade de amostras negativas serem testadas utilizando a RT-PCR, o que aumenta o custo para um diagnóstico correto (Gunson et al., 2003). O uso da PCR convencional com dois pares de oligonucleotídeos cuja seqüência alvo é a região conservada da extremidade 3’da ORF 1, que codifica a RdRp (região B), detectou o NoV em 33(66%) das 50 amostras analisadas. Esse resultado quando comparado com o protocolo da PCR em tempo real utilizando o sistema “TaqMan”, que obteve a mesma taxa de detecção, mostra que a PCR convencional é uma boa ferramenta para diagnóstico de laboratório e pode ser recomendada para investigação de surtos. Neste estudo, o NoV afetou igualmente crianças e adultos como descrito em outros estudos de surtos de NoV (Green et al., 2001; Wilhelmi et al., 2003; Froggat et al., 2004; Lopman et al., 2004; Chan et al., 2006). Uma interessante observação que deve ser considerada é a presença concomitante de sintomas respiratórios sugerindo a co-infecção com vírus respiratórios em crianças de até 9 anos, o que foi previamente descrito por Victória et al. (2007) em um estudo realizado em crianças que foram hospitalizadas em Rio de Janeiro. 65 Embora o vômito tenha sido descrito como principal manifestação clínica geralmente observada em crianças (Moreno-Espinosa et al., 2004), neste estudo mais de 50% dos adultos foi acometida por vômito. E quando comparamos os casos positivos para NoV com os casos negativos, assim como para as outras manifestações clínicas como febre e dor abdominal, não encontramos significância estatística. O protocolo usado para a detecção do NoV (região B) tem sido um bom método de triagem pois detecta os dois genogrupos prevalentes em uma única reação de PCR. A genotipagem dos NoVs foi realizada utilizando o protocolo segundo Vinjé et al.(2004), descrito como mais adequado para caracterização dos genótipos de NoV (Zheng et al., 2006). O GII.4 caracterizado neste estudo revelou que há circulação do mesmo genótipo desde, pelo menos ,1997 no estado do Rio de Janeiro, quando Gallimore et al.(2004) detectaram esse genótipo em um dos surtos de gastroenterite ocorridos em uma creche na cidade do Rio de Janeiro. Na primeira semana de junho de 2005 o LVC-LRRR recebeu dez amostras de Carmo, região serrana do estado do Rio de Janeiro, das quais oito (80%) foram positivas para NoV. Duas destas amostras foram seqüenciadas (dados não demostrados) e o genótipo GII.4 foi detectado e as seqüências foram inseridas na árvore filogenética do estudo (Figura 8). Essas informações foram importantes, pois reforçam os nossos resultados demonstrando que há circulação deste genótipo no Estado e corrobora com os dados da prevalência deste genótipo no mundo (Bull et al., 2006; Kroneman et al., 2006). O uso da RT-PCR, tanto para região B para detecção como para região D para genotipagem dos NoVs utilizando o mesmo cDNA, mostra que esse método poderá ser utilizado no diagnóstico laboratorial. Este procedimento, usando um iniciador randômico para a obtenção do cDNA, reduz o custo do diagnóstico na rotina para detecção dos diferentes 66 vírus que são responsáveis por casos de gastroenterite aguda e permite a detecção da ocorrência de co-infecção. Neste estudo detectamos somente um caso de co-infecção NoV e AdV entérico. Embora as co-infecções entre vírus gastroentéricos sejam bem documentadas (Oh et al., 2003; De Grazia et al., 2004; Froggatt et al., 2004; Phan et al., 2004; Gabbay et al., 2005; Liu et al., 2006), a detecção de um vírus geralmente resulta no término da investigação para outros agentes infecciosos. A técnica de qPCR tem sido apontada como mais sensível e mais rápida do que a PCR, sendo capaz de detectar até 10 cópias do transcrito (Kageyama et al., 2003; Trujillo et al., 2006). Neste estudo, a detecção na qPCR e da PCR convencional obtiveram o mesmo percentual de detecção 33/50 (66%). Este resultado pode ser explicado porque as amostras continham título viral acima do limite de detecção de ambas as técnicas. Com quantificação entre 104 a 109 partículas virais por grama de fezes. A vantagem da técnica do qPCR é a possibilidade de detectar e quantificar partículas virais em tempo real, ser mais rápida e com menor risco de contaminação pós-reação. Neste estudo embora tenha havido um discreto declínio na quantificação das partículas virais nas amostras positivas, não houve significância estatística quando comparamos a freqüencia das amostras positivas com a freqüencia das amostras negativas em relação ao número de dias de diarréia. De acordo com Rockx et al.(2002) os NoVs podem ser eliminados por até 22 dias depois da infecção e as amostras do estudo tinham até nove dias de doença. Entretanto, alguns autores descrevem que o título de excreção pode não estar relacionado diretamente com os dias da infecção e sim com uma série de fatores como idade, pacientes imunocomprometidos e hospitalizados, com diarréia prolongada e ainda tentando relacionar essas altas taxas de excreção ao GII.4 quando comparado as taxas de excreção pelo GI (Chan et al., 2006; Lee et al., 2007). 67 Os nossos resultados revelam a importância de investigar a presença de outros vírus diferente dos RV-A nos surtos de gastroenterite aguda, a fim de estabelecer medidas preventivas para evitar a disseminação da infecção e para o conhecimento da circulação de outros agentes virais causadores de gastroenterite aguda. O diagnóstico rápido e eficiente usando uma reação de transcrição reversa com iniciadores randômico seguido por uma reação de PCR convencional incentivou-nos a extender a vigilância para outros agentes virais e juntamente com ferramentas epidemiológicas foi possível determinar uma relação de causa e efeito entre a gastroenterite e o NoV GII.4 identificado. 68 7 CONCLUSÕES • O alto percentual de positividade (92%) das primeiras amostras investigadas no laboratório, originárias dos contatos do primeiro caso ocorrido na creche do município de Resende, evidenciou a ocorrência de um surto de gastroenterite aguda na região do Médio Paraíba. • A detecção de NoV em 66% dos casos de gastroenterite aguda provenientes dos municípios de Resende, Piraí e Rio Claro no Estado do Rio de Janeiro demonstraram a circulação deste vírus na região e caracterizaram outros pequenos surtos e casos esporádicos nestes municípios. • A utilização de um iniciador randômico pd(N)6 para transcrição reversa se mostrou útil e econômico na determinação do agente etiológico viral em um surto de gastroenterite aguda, permitindo a realização de diversos métodos de detecção, quantificação e caracterização molecular dos vírus investigados a partir de um único cDNA. • O diagnóstico de NoV pelo método qualitativo de RT-PCR apresentou 100% de concordância com o método quantitativo utilizando o sistema TaqMan, sugerindo a utilização do primeiro para o diagnóstico de NoV. • A detecção quantitativa de NoV demonstrou uma alta taxa de eliminação viral nas fezes variando de 104 a 109 partículas virais . • Não houve significância estatística na positividade das amostras pelo qPCR quando comparamos a excreção de partículas virais com menos de cinco dias de diarréia e amostras dos casos com cinco dias ou mais. 69 • O seqüenciamento de um fragmento da região do genoma que codifica para a proteína do capsídeo viral (região D) permitiu a caracterização molecular do NoV demonstrando a circulação do genótipo GII.4 o que confirma a distribuição global desse vírus. • Percentual de similaridade de 100% de aminoácidos entre as amostras do estudo corrobora a ocorrência de um surto na região. • Vômito, febre e dor abdominal foram as principais manifestações clínicas observadas acompanhando os quadros de gastroenterite aguda, pelo NoV embora não tenha sido evidenciada significância estatística quando os casos positivos foram comparados com os negativos. • As manifestações como tosse e coriza observadas no grupo etário de um a nove anos, sugerem a associação destas infecções com agentes etiológicos de infecções respiratórias. • A distribuição por grupo etário demonstrou a ocorrência de NoV em menores de um ano de idade e adultos de até 65 anos. • Os resultados obtidos neste estudo alertam a necessidade do estabelecimento do diagnóstico de NoV em surtos de gastroenterite aguda de forma a se determinar a real importância epidemiológica destes vírus neste quadro clínico. 70 8 PERSPECTIVAS Continuar investigando a prevalência de NoV na população do estado do Rio de Janeiro e outros estados do Brasil nos casos de gastroenterite aguda recebidos no LVC-LRRR. Participar em colaboração com Instituto Malbran na Argentina de um estudo para determinar quais genótipos de norovírus estão circulando no Brasil e na Argentina. E conduzir um estudo retrospectivo dos últimos dez anos das amostras de casos de gastroenterite aguda recebidas no laboratório. 71 9 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Adler JL, Zickl R. Winter vomiting disease. J Infect Dis 1969; 119: 668-673. Ando T, Jin Q, Gentsch JR. Epidemiologic applications of novel molecular methods to detect and differentiate small round structured viruses (Norwalk-like) J Med Virol 1995; 47:145152. Ando T, Noel JS, Fankhauser RL. Genetic classification of “Norwalk-like viruses. J Infect Dis 2000; 181: S336-348. Atmar RL, Estes MK. Diagnosis of no cultivatable gastroenteritis viruses, the human caliciviruses. Clin Microbiol Rev 2001; 14: 15-37. Beller M, Ellis A, Lee SH. Outbreak of viral gastroenteritis due to a contaminated well. International consequences. JAMA 1997; 278: 563-568. 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Enviada: ter 25/9/2007 10:11 Para: Jose Paulo Assunto: JMV-07-0375.R1 - Decision 25-Sep-2007 Dear Dr. Leite, It is a pleasure to accept your manuscript entitled "ACUTE GASTROENTERITIS CASES ASSOCIATED WITH NOROVIRUSES INFECTION IN THE STATE OF RIO DE JANEIRO" in its current form for publication in Journal of Medical Virology. A signed copyright transfer agreement is needed for publication. If you have not already provided one you should do so immediately. You can access the copyright transfer agreement at http://www3.interscience.wiley.com/homepages/central/cta/USscta.pdf Please print the form, complete both sides and forward to the Production Editor, Mrs Lori Hamilton at: [email protected] or fax to Mrs Hamilton in the United States: 001 (937) 885 3289. PLEASE ENSURE THAT YOUR MANUSCRIPT NUMBER IS INCLUDED ON THE CORRESPONDENCE. You will receive your typeset proofs in due course. Thank you for your contribution. Kind regards, Dr. Brian Mahy US Editor Journal of Medical Virology [email protected] 88 Anexo 3 - PDF do artigo científico