UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE CURSO DE ODONTOLOGIA GABRIELLA NERCOLINI KARINE MARA PEDRON NÍVEL DE ANSIEDADE AO TRATAMENTO ODONTOLÓGICO: ESTUDO COM ADULTOS EM SITUAÇÃO CLÍNICA. Itajaí (SC), 2011 1 GABRIELLA NERCOLINI KARINE MARA PEDRON NÍVEL DE ANSIEDADE AO TRATAMENTO ODONTOLÓGICO: ESTUDO COM ADULTOS EM SITUAÇÃO CLÍNICA. Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito parcial para obtenção do título de cirurgião-dentista pelo Curso de Odontologia da Universidade do Vale do Itajaí. Orientadora: Profª. Elisabete RabaldoBottan. Itajaí (SC), 2011. 2 GABRIELLA NERCOLINI KARINE MARA PEDRON NÍVEL DE ANSIEDADE AO TRATAMENTO ODONTOLÓGICO: ESTUDO COM ADULTOS EM SITUAÇÃO CLÍNICA. Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito parcial para obtenção do título de cirurgião-dentista, Curso de Odontologia da Universidade do Vale do Itajaí, aos XX dias do mês de setembro do ano de dois mil e onze, é considerado aprovado. 1. Profª MSc Elisabete RabaldoBottan (Presidente)_______________________ Curso de Odontologia da Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI) 2 Profª Dra. Silvana Marchiori de Araújo _______________________________ Curso de Odontologia da Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI) 3. Prof. MSc José Agostinho Blatt____________________________________ Curso de Odontologia da Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI) 3 DEDICATÓRIA A Deus, pela nossa existência e por tudo o que nos rodeia, sobretudo pela prerrogativa que nos foi concedida de estarmos apresentando o conhecimento que adquirimos através do estudo, da observação e da experiência conscientemente realizada. Aos nossos pais, pelo sonho que realizamos agora, por todo amor, carinho, estímulo e compreensão que mesmo distantes acompanharam e torceram juntos para que este dia chegasse. Acreditamos que esta é a hora para dizermos o quanto nós os amamos e é com muito orgulho que dizemos: meu Pai e minha Mãe, obrigada. A vocês dedicamos esta conquista com a mais profunda gratidão. Amamos muito vocês. Aos nossos irmãos, neste momento sabemos que não basta somente agradecermos. Vocês são presença constante em todos os momentos de nossas vidas. As alegrias de hoje também são suas, pois o seu carinho e amor fazem parte desta vitória. Amamos vocês. Aos nossos avós, o nosso profundo respeito, por compartilharem nossos ideais e alimentarem nossos sonhos, pela maneira especial que contribuíram para nosso crescimento e amadurecimento. Nosso carinho é especial por vocês. Muito obrigada, amamos vocês. Aos nossos noivos, companheiros de todos momentos, em vocês encontramos força e incentivo para continuar, ainda que sofrendo com suas ausências, quando o dever dos estudos nos chamavam, e ainda assim souberam respeitar e valorizar nossos esforços. As alegrias de hoje também são suas, pois seu amor foi muito importante nessa vitória. Amamos vocês 4 AGRADECIMENTOS À Professora Elisabete RabaldoBottan. Sabemos que a vitória não foi só nossa, porque ao nosso lado caminhava alguém que acreditou, compartilhou nossos ideais, nos compreendeu, incentivou. Hoje, podemos perceber o quanto foi importante cada sorriso, cada beijo, cada abraço que nos foram oferecidos sem esperar nada em troca. Nosso agradecimento verdadeiro a você que não poupou esforços para que o sorriso que hoje trazemos no rosto fosse possível. Aos Professores da Banca Avaliadora, Professora Silvana e Professor José Agostinho Blatt, obrigada por gentilmente nos cederem parte de seus preciosos tempos, avaliando e trazendo importantes colaborações para a melhoria deste trabalho. Aos nossos amigos, Hoje, vibramos juntos, não porque vencemos sozinhos, mas porque juntos conquistamos mais um desafio em nossas vidas. Muito obrigada. Aos funcionários A cada um de vocês, toda a nossa gratidão pela participação em nossa vida acadêmica. Muito obrigada. Expressamos o reconhecimento e gratidão aos que, de um jeito ou de outro, contribuíram para que este trabalho pudesse ser realizado. 5 NÍVEL DE ANSIEDADE AO TRATAMENTO ODONTOLÓGICO: ESTUDO COM ADULTOS EM SITUAÇÃO CLÍNICA. Acadêmicas: Gabriella NERCOLINI; Karine Mara PEDRON Orientadora: Profa. Elisabete Rabaldo BOTTAN Defesa: setembro de 2011 Resumo O temor ao tratamento odontológico gera um problema cíclico e influencia no limiar da percepção dolorosa. Consequentemente, a ansiedade e a fuga ao tratamento odontológico se exacerbam, influenciando na qualidade de vida das pessoas. Com o objetivo de conhecer o perfil do paciente em atendimento odontológico quanto ao grau de ansiedade dentária, foi conduzida uma pesquisa descritiva do tipo transversal. A população-alvo foi constituída por pacientes que se encontravam em sala de espera de uma clínica odontológica particular, de Florianópolis (Santa Catarina). A coleta de dados foi efetuada através da aplicação de um questionário constituído por duas partes. A primeira parte caracterizava o paciente quanto ao gênero, idade, grau de escolaridade. A segunda parte constava de uma adaptação da Dental Anxiety Scale. A análise dos dados foi do tipo descritivo, através da distribuição de frequência relativa. Foram avaliados 94 pacientes; a maioria era do gênero feminino e com idade igual ou superior a 51 anos. A pontuação média do grupo avaliado quanto à ansiedade foi 6,2, classificando-o num nível de baixa ansiedade. A frequência de mulheres portadoras de ansiedade foi maior, quando comparada àquela dos homens. Os sujeitos mais velhos apresentaram graus mais elevados de ansiedade quando comparados aos mais jovens. Concluiu-se que o perfil de ansiedade ao tratamento odontológico no grupo investigado é similar ao relatado pela maioria dos estudos em diferentes contextos sócio-culturais. Palavras-chave: Ansiedade ao Tratamento Odontológico; Relações Dentista-Paciente; Saúde Bucal. 6 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO.......................................................................................... 07 2 REVISÃO DE LITERATURA.................................................................... 08 3 MATERIAS E MÉTODOS......................................................................... 33 4 RESULTADOS.......................................................................................... 35 5 DISCUSSÃO ............................................................................................ 39 6 CONCLUSÃO........................................................................................... 43 REFERÊNCIAS .......................................................................................... 44 APÊNDICE..................................................................................................... 47 7 1 INTRODUÇÃO As reações ansiosas são uma forma fundamental de resposta do ser humano a determinadas circunstâncias que ameacem a integridade física ou a própria sobrevivência. Ansiedade e medo estão intimamente relacionados, diferindo apenas em intensidade. Quando estes sentimentos ocorrem relacionados ao tratamento odontológico recebem o nome de ansiedade ou fobia odontológica. Ir ao dentista, conforme uma investigação conduzida por Malamed, em 1996, (apud ROCHA et al., 2000), foi identificado como sendo o segundo temor mais freqüente na população em geral. O temor ao tratamento odontológico gera um problema cíclico, além do que influencia no limiar da percepção dolorosa. Consequentemente, a ansiedade e a fuga ao tratamento odontológico se exacerbam, influenciando na qualidade de vida destas pessoas. (EITNER et al., 2006; ACHARYA, 2008b; FACCO, ZANETTI; MANANI, 2008; CROFTS-BARNES et al., 2010; OLIVEIRA et al., 2010; HUMPHRIS; KING, 2011) A reversão deste quadro requer intervenções de diferentes enfoques, entre as quais estão as comportamentais, através tranquilização verbal, e os métodos farmacológicos, mediante uso de sedação consciente. Neste sentido, o papel do dentista é fundamental, pois, o tipo de comunicação interpessoal (paciente/profissional) que se estabelece por ocasião da consulta poderá trazer inúmeros benefícios para a saúde bucal. Daí a importância de que, ao longo da formação profissional, os acadêmicos possam conhecer detalhadamente o fenômeno de ansiedade ao tratamento odontológico bem como as estratégias que minimizem os impactos deste fenômeno. Frente à importância da temática e à necessidade de se buscar respostas a estes e outros questionamentos, optamos pela realização de um estudo para investigar a ansiedade ao tratamento odontológico junto a pacientes em situação clínica. 8 2 REVISÃO DA LITERATURA Conforme Moraes (2003), os pacientes temem o desconhecido e os procedimentos a que serão submetidos durante o tratamento odontológico. Esse temor poderá ser ameno ou intenso, conforme forem suas antigas experiências. A redução deste temor está vinculada ao modo como o cirurgiãodentista trata seu paciente; ele deve ouvir e compreender. O fato de ser atendido de forma mais calma e humana, já torna o paciente mais cooperativo. Se o próprio cirurgião-dentista concorre para minimizar o medo de seus pacientes frente aos procedimentos clínicos, a valorização da sua imagem vai ser fortalecida, solidificando a sua credibilidade profissional, além de aumentar a confiança entre profissional e paciente. Quando os pacientes medrosos faltam às consultas, especialmente sem avisar, há vários tipos de perdas, tanto nos consultórios privados como nos públicos. Neste sentido, novos recursos, de preferência naturais, que contribuam para a solução desta problemática, são bem vindos. Vários e novos recursos terapêuticos estão sendo experimentados e aplicados para solucionarem o medo depois que este se encontra instalado. Entre eles, estão: as técnicas de relaxamento, a hipnose, as terapias de grupo educativas e a terapia com Florais de Bach. A odontologia não poderá ficar restrita sempre aos parâmetros técnicos ou alopáticos, pois a terapia medicamentosa, com substâncias ansiolíticas, não melhora muito o quadro dos pacientes fóbicos, além do que, pode ter efeitos desagradáveis, como xerostomia. Faria e Medeiros (2004) identificaram a relação entre o grau de ansiedade e as seguintes variáveis: gênero, faixa etária e grau de escolaridade, em indivíduos residentes na região de abrangência da UNIVALI. A populaçãoalvo foi constituída por pacientes em atendimento nas clínicas dos diferentes cursos da área da saúde da UNIVALI (Campus I), pacientes das Unidades de Saúde de Itajaí e de Balnéario Camboriú, professores, acadêmicos e funcionários do Campus I. Os sujeitos da pesquisa foram distribuídos nas seguintes faixas etárias: de 18 a 34 anos; e de 50 ou mais anos. Também, foram classificados segundo o nível de escolaridade. Para a determinação do 9 grau de ansiedade adotaram uma modificação da escala Dental AnxietyScale (DAS). A maioria (49,3%) se classificou no nível baixo de ansiedade ao tratamento odontológico. Com relação ao sexo, as mulheres foram mais ansiosas que os homens. Em relação à faixa etária, os indivíduos mais jovens eram mais ansiosos do que os mais velhos. Os resultados apontaram que 81,2% dos sujeitos afirmam ter consultado o dentista nos últimos dois anos. A consulta preventiva foi a mais freqüente em indivíduos mais jovens, independente do sexo e grau de escolaridade. Os autores concluíram que o percentual de sujeitos ansiosos ao tratamento odontológico obtido na investigação foi alto. Gênero, idade e nível de escolaridade, na população pesquisada, foram fatores que exerceram influência no nível de ansiedade. Sujeitos do sexo feminino, mais jovens e de baixo nível de escolaridade são os que mais evidenciam ansiedade ao tratamento odontológico. Para Maniglia-Ferreira et al. (2004), a ocorrência da ansiedade odontológica, independentemente dos aspectos sociais e do comportamento de evitar o tratamento odontológico, apresenta características universais sendo que os indivíduos ansiosos são sensivelmente influenciados pelo sentimento de medo. Os pesquisadores avaliaram a ansiedade ao tratamento odontológico por meio da Escala de Ansiedade Dental (DAS) proposta por Corah e modificado por Rosa e Ferreira. Este estudo transversal foi desenvolvido com a população que busca o tratamento odontológico na Clínica Integrada de Odontologia da Universidade de Fortaleza. Foram aplicados questionários a 300 pacientes, sendo 150 homens e 150 mulheres escolhidos aleatoriamente. Na população estudada, 18% foram considerados ansiosos; não foram encontradas correlações entre aspectos sociais e nível de ansiedade, nem quanto à escolaridade; pacientes ansiosos evitavam frequentemente o tratamento odontológico, independentemente do seu nível social ou escolaridade. Marquez-Rodriguez et al. (2004) afirmaram que medo e ansiedade são sentidos por muitos pacientes, sendo um motivo para não irem ao dentista de forma regular. A ansiedade e os medos dentais devem ser considerados como padrões multidimensionais e comportamentos que resultam numa relação negativa para com o tratamento odontológico. Os fatores mais relacionados com o aumento da ansiedade e do medo são: a conduta de medo apreendida 10 do modelo familiar; o sexo feminino parece sentir mais medo e ansiedade; as crianças e jovens são mais ansiosos e medrosos; experiências desagradáveis prévias, especialmente durante a infância; fatores socioeconômicos; tempo de espera prolongado antes da consulta; número excessivo de pacientes na sala de espera, transparecendo ao paciente que o tratamento é realizado com pressa; sessões de tratamentos de longa duração. O conceito universalmente mais aceito de ansiedade se refere a um complexo padrão de condutas associadas a uma ativação fisiológica que ocorre em resposta a estímulos internos e externos que podem aparecer antes e depois dos procedimentos odontológicos. O medo pode ser definido como uma perturbação angustiosa do ânimo perante uma situação perigosa real ou imaginária. A ansiedade se apresenta de maneira antecipada ao tratamento. Os medos têm um caráter contemporâneo ao tratamento, têm uma relação imediata com o tratamento odontológico. A ansiedade e os medos dentais afetam negativamente a viabilidade do tratamento odontológico e repercutem de forma desfavorável na saúde dental da população. A ansiedade ante o tratamento odontológico cria seu próprio ciclo vicioso, em que a evasão do tratamento dental gera um mal estado de saúde bucal, reduzindo a autoestima dos indivíduos e impedindo a obtenção de uma qualidade de vida adequada. Nesse estudo foi analisado o medo ao tratamento odontológico em uma amostra de 399 sujeitos, com idades entre 10 e 80 anos, de ambos os sexos, que procuram a consulta odontológica na Unidade de Saúde Pública de Lepe (Huelva), durante os meses de março a maio de 2001. Foi utilizado para coleta de dados um questionário composto por 20 itens abordando atividades e experiências relacionadas com a consulta odontológica. Os itens geradores de medo mais destacadas foram: possibilidade de receber transmissão de infecções pelos instrumentos (57%) e rompimento ou corte dos lábios com algum instrumento (48,2%). Outro aspecto que suscita temor nos pacientes, só que em menor medida, é o tratamento humano inadequado, ou seja, a possibilidade de ser atendido por um dentista que está de mau humor, mal educado ou que seja brusco. As atividades vividas durante o tratamento que provocavam mais medo foram atuações terapêuticas que geram ou possibilitam dano físico ao indivíduo, quais sejam: ver, ouvir ou sentir o motor de alta rotação, a agulha e o sangue. 11 Pacini e D’el Rey (2005) verificaram a prevalência de fobia ao tratamento odontológico, ao longo da vida das pessoas com, bem como o impacto deste transtorno na saúde bucal. O estudo foi realizado com residentes do bairro de Moema na cidade de São Paulo, de ambos os sexos e maiores de 15 anos. Para todos os entrevistados, independente se preenchiam os critérios para fobia ou não, foi perguntado há quanto tempo eles não iam ao dentista. A pesquisa foi realizada no período de janeiro a março de 2004. Foram entrevistados 756 moradores, com idades entre 15 e 76 anos. Vinte e um entrevistados foram classificados cmo portadores de fobia ao tratamento odontológico, específica do tipo sangue-injeção-ferimentos ao longo da vida. Onze entrevistados com fobia relataram que seu medo de ir ao dentista era devido à possível dor causada pela broca odontológica; quatro disseram ter medo da anestesia; seis relataram que o medo da broca e da anestesia juntamente os impedia de ir ao dentista. Em relação à idade do início da fobia ao tratamento odontológico, a idade média foi de 12 anos. Neste grupo, a maior prevalência foi entre as mulheres (76,2%). Em relação às raças, as pessoas negras (42,8%) apresentaram uma maior prevalência em comparação às outras raças. Pessoas casadas (52,3%) com idade entre 25 e 34 anos com ensino fundamental completo e com atividades exclusivamente domésticas também apresentaram maior prevalência no quadro fóbico. Um achado importante deste estudo foi em relação ao tempo que as pessoas com fobia dental demoraram, em média, para realizarem as consultas odontológicas, ou seja, 19 anos. As pessoas não fóbicas demoram, em média, 3 anos para as consultas. É papel da odontologia e da psiquiatria um melhor reconhecimento deste distúrbio, para minimizar os prejuízos que este tipo de fobia impõe à saúde bucal das pessoas acometidas. Lima-Alvarez e Casanova-Rivero (2006) relataram que o comportamento dos indivíduos afeta a saúde oral de modo positivo, ou negativo. Na odontologia, o medo e a ansiedade são praticamente são indistinguíveis. Na literatura, porém, predomina o termo ansiedade dental. A ansiedade dental descreve apreensão mais profunda que interfere com o tratamento rotineiro e requer uma atenção especial. Estima-se que entre 10 e 15% da população tem ou sente ansiedade quando tem que ir ao dentista, o que pode induzir a cancelar ou adiar a consulta, o que pode acarretar efeitos negativos à saúde. 12 Estudos mostram que 31,5% dos japoneses preferem atrasar as consultas com os dentistas devido ao medo que provoca o tratamento dental. Alguns autores não têm encontrado diferenças significativas quanto ao sexo, na definição de níveis de ansiedade. Outros indicam alto grau de ansiedade em mulheres, quando comparadas com os homens. A causa destas diferenças pode ser atribuída à alta porcentagem de mulheres que responde aos inquéritos e, também, aos aspectos de aceitação social, que definem que as mulheres expressam de forma mais aberta seus sentimentos. As crianças têm maior sensação de medo que os adultos. O temor e a ansiedade frente ao tratamento odontológico são problemas freqüentes nas crianças e adolescentes. Os adultos entre 40 e 50 anos mostram mais temor que os de outros grupos de idade e à medida que aumenta a idade os pacientes se mostram mais temerosos já que podem ter vivenciado maior número de tratamentos odontológicos. As barreiras à consulta odontológica estão relacionadas às experiências passadas e antecedentes psicossociais do paciente. O medo depende, em grande parte, da preparação e experiência do profissional, porém, também, pode estar condicionado por influências familiares e sociais. Melhorar a relação paciente-profissional e oferecer atenção, competência, serenidade, responsabilidade e fidelidade frente aos pacientes são aspectos importantes na redução dos impactos ocasionados pela ansiedade. O profissional tem enorme responsabilidade na prevenção da ansiedade. O objetivo do estudo de Chaves et al. (2006) foi estimar a prevalência de ansiedade ao tratamento odontológico entre pacientes da Clínica Integrada da Faculdade de Odontologia de Araraquara, UNESP. A amostra foi composta por 60 pacientes tomados de forma não-probabilística. Como instrumento de medida, foi utilizado um formulário com questões para avaliação da ansiedade segundo a escala proposta por Corah, traduzida para o português. Os dados foram descritos em forma de distribuição de frequências e as associações entre nível de ansiedade e sexo, idade, renda e educação foram analisadas pelo testedequi-quadrado (χ2). A prevalência de ansiedade foi observada em 95% dos pacientes; a maioria (53,3%) apresentou nível moderado, 25% ansiedade baixa e 16,7% exacerbada. Pelo teste do qui-quadrado, foi identificada associação significativa entre ansiedade e sexo (p = 0,001) e não-significativa para idade (p = 0,754), renda (p = 0,307) e nível de instrução (p = 0,711). O 13 período de retorno ao tratamento odontológico a cada 6 meses foi observado em apenas 2 pacientes (3,3%), enquanto 40% dos pacientes procuraram por atendimento apenas em situações de dor. Entre os procedimentos que mais incomodaram os pacientes estão os que envolvem o motor de alta rotação e o cirurgião, correspondendo a 21,7% em cada situação. Vinte por cento da amostra não se sentiam incomodados com qualquer procedimento odontológico, enquanto 10% referiram desconforto diante de qualquer procedimento a ser realizado. Os autores concluíram que a prevalência de ansiedade ao tratamento odontológico foi de 95% com predomínio do gênero feminino e que, entre pacientes ansiosos, o retorno ao consultório ocorreu por motivo de dor. Cogo et al. (2006) demonstraram o controle da ansiedade através de meios farmacológicos, por via oral, apresentando as características individuais dessas drogas. O Diazepam foi introduzido no mercado farmacêutico, em 1963, e é considerado o fármaco padrão do grupo, sendo ainda o ansiolítico mais empregado em procedimentos ambulatoriais. Sua metabolízação é hepática e sua eliminação é através dos rins. A dosagem usual para adultos varia de 5mg a 10 mg, geralmente, administrada uma hora antes do procedimento. Para crianças, a dosagem varia de 0,2 a 0,5mg/kg. Assim como outros ansiolíticos, o Diazepam pode produzir efeito paradoxal, em pequena quantidade. O lorazepam tem sido empregado como pré-medicação anestésica, nas dosagens que variam de 2 a 3mg em adultos e de 0,5 e 2mg em idosos e crianças. Por não produzir efeitos paradoxais, o lorazepam é considerado, por alguns autores, como o ideal para a sedação de pacientes idosos. Além do efeito sedativo, a administração de lorazepam 2mg, também, pode induzir amnésia anterógrada, definida como o esquecimento de fatos ocorridos a partir de um fato tomado como referência, o que é um benefício para muitos profissionais da Odontologia. O Alprazolam é um derivado dos benzodiazepínicos, sendo comumente empregado no tratamento da ansiedade generalizada e na síndrome do pânico. A dosagem é de 0,5 e 0,75mg, nos adultos, e 0,25 e 0,5mg, em idosos. A sedação consciente de pacientes odontológicos por meio do Alprazolam ainda não foi suficientemente testada; casos encontrados na literatura apresentam-se até certo ponto conflitantes. O Midazolan passou a ser utilizado na sedação pré-cirúrgica, suas doses 14 empregadas em odontologia variam de 7,5 a 15mg, em adultos, e 0,2 a 6,0 mg em crianças. O midazolam administrado por via oral, na dosagem de 0,5mg/kg, dez minutos antes do procedimento cirúrgico, também, produz amnésia anterógrada, em crianças. O Triazolam é um benzodiazepínico de curta duração, comparado ao lorazepam, é usado como medicação pré-anestésica, mas com o início mais rápido e menor tempo de recuperação. Os efeitos colaterais mais encontrados são sonolência, tontura, vertigem e problemas de coordenação motora. Com base nesta revisão, os autores concluíram que: o diazepam é indicado quando se deseja uma sedação pós-operatória mais prolongada; o midazolam é a droga de escolha para a sedação de pacientes adultos e pediátricos por produzir rápido início de ação e induzir a amnésia anterógrada; e o lorazepam é a droga mais indicada para a sedação de idosos por produzir menos efeitos paradoxais. De acordo com Eitner et al. (2006), a ansiedade ao tratamento dental pode levar à criação de estratégias de fuga da consulta odontológica. O objetivo deste trabalho foi investigar a prevalência e o relato de padrões de doenças orais de ansiedade ao tratamento odontológico, em militares jovens e adultos. Foram escolhidos aleatoriamente trezentos e setenta e quatro militares que foram submetidos aos exames de condição dental e periodontal. Foram determinados parâmetros psicológicos baseados em um protocolo que integra a Escala de Ansiedade Dental (DAS) e a Escala de Ansiedade Gatchell (GaFS= GatchellFearScale). Trinta e dois indivíduos (8,6%) apresentaram escores de DAS 13 e 14 (ansiosos) enquanto que 4,6% apresentaram escores maiores ou iguais a 15 (altamente ansiosos/fóbicos). Os mais altos valores de DAS foram encontrados entre os militares (262) com idade de 19 a 29 anos. Pacientes ansiosos apresentaram significativamente mais lesões cariosas (p<0,001). Os valores dos índices periodontais mostraram não haver diferenças significativas entre os grupos. A ansiedade resulta em uma anulação comportamental a qual somente pode ser descoberta após exames e está associada com alta morbidade decorrente de lesões cariosas e necessidade de reabilitação oral. Como a ansiedade tem influência direta na saúde oral, ela deve ser detectada e tratada mediante integração do tratamento dental com abordagem terapêutica cognitiva-comportamental. 15 Kanegane et al. (2006) verificaram a frequência de ansiedade e medo em um grupo de pacientes, que receberam tratamento de rotina, na Disciplina de Clínica Integrada da FOUSP, no período de novembro de 2002 a maio de 2003. Foi aplicado um questionário com perguntas sobre: frequência de visitas ao dentista antes de ser atendido pela Disciplina; motivo para as visitas; existência de algum evento causador de medo ao tratamento odontológico; situação de tratamento que mais provocava ansiedade. A ansiedade ao tratamento odontológico foi medida através da escala Modified Dental AnxietyScale (MDAS)e o medo através da GatchelFearScale (GFS). Foram entrevistados 111 pacientes, sendo 72 mulheres, com idade média de 47,3 anos, e 39 homens com idade média de 50,1 anos. A ansiedade foi encontrada em 12,6% dos pacientes. A prevalência da ansiedade encontrada foi menor que a observada em pacientes que procuravam por atendimento de urgência. Isto reforça a ideia de que pacientes ansiosos demoram mais para ir ao dentista, procurando atendimento somente nos casos de necessidade. Embora estudos demonstrem que mulheres se apresentam com mais ansiedade que os homens, neste estudo não houve diferença. A idade do paciente não influiu no nível de ansiedade e/ou medo. As situações que mais provocaram ansiedade para os pacientes em atendimento de rotina foram ser anestesiado, esperar ser atendido, exodontia e raspagem periodontal. Os autores concluíram destacando que pacientes portadores de ansiedade ou medo necessitam de uma conduta diferenciada, por parte do profissional, de modo a minimizar sua exposição aos estímulos desencadeadores destas alterações e transformar o tratamento em uma experiência positiva, desta forma contribuindo para a melhoria da saúde bucal destes indivíduos. Petry et al. (2006) afirmaram que, devido à ansiedade ao tratamento odontológico, muitas vezes, os pacientes evitam consultar o cirurgião-dentista até o momento em que sentem dor ou desconforto. Assim, a ansiedade pode levar a uma saúde bucal deficiente, perda dos dentes e também ao sentimento de vergonha e inferioridade. Neste artigo foram apresentados os resultados da mensuração dos níveis de ansiedade frente ao tratamento odontológico, em um grupo de pacientes idosos atendidos na disciplina de Odontogeriatria da Faculdade de Odontologia da UFRGS, visando. Foram entrevistados 60 idosos que aguardavam atendimento clínico. O instrumento de coleta de dados foi um 16 questionário abordando aspectos sobre sexo, idade, escolaridade, estado civil, local de moradia, regularidade e frequência das consultas, existência de algum cirurgião-dentista na família. Após foi aplicada a Escala de Ansiedade Odontológica (DAS); esta escala mede o nível de ansiedade do indivíduo no momento da entrevista. Foi concluído que, de modo geral, os pacientes entrevistados não foram considerados ansiosos embora se tenha encontrado um pequeno percentual de pessoas altamente ansiosas. Armfield, Stewart e Spencer (2007) realizaram uma pesquisa com base na hipótese de que num ciclo vicioso de medo odontológico existem possibilidades de o medo manter esse ciclo. Nesta pesquisa, a relação entre medo odontológico, estado de saúde oral e o uso de serviços odontológicos foram explorados. O estudo foi feito por entrevista telefônica realizado em 2002. Uma amostra aleatória de 6.112 australianos com idades entre 16 ou mais anos foi selecionada a partir de 13 amostras em todos os estados e territórios australianos. Os dados foram ponderados pelas amostras e prioridade e sexo para obter estimativas da população. Pessoas com maior medo odontológico que visitaram o dentista menos vezes indicaram um maior tempo de espera antes de visitar um dentista. Maior medo odontológico foi associada a maior necessidade de tratamento odontológico, o aumento do impacto social dos problemas de saúde oral e pior autopercepção de saúde bucal. Todas as relações assumidas por um ciclo vicioso de medo odontológico foram significativas. Ao todo, 29,2% das pessoas que estavam com muito medo de ir ao dentista tinham atrasado sua consulta, pobre saúde oral e tratamento dos sintomas orientado em comparação com 11,6% de pessoas sem medo odontológico. Os resultados são consistentes com a hipótese de um ciclo vicioso de medo odontológico em que as pessoas com alto medo são mais propensas a atrasar o tratamento estendendo problemas e sintomas dentários gerando um agravamento do existente medo odontológico. No entender de Camparis e Cardoso Júnior (2007), as condições psicológicas de cada pessoa podem produzir a percepção da dor ou aumentar a estimulação dolorosa. Quando os impulsos atingem o sistema límbico, a dor é influenciada a nível emocional; inicialmente as emoções manifestadas podem ser de medo ou ira, o que representa o instinto de luta ou fuga do indivíduo. A dor pode ser acompanhada de uma sensação de desamparo, que cria um 17 quadro psicológico no qual o indivíduo necessita, além dos cuidados técnicos, de uma atenção profissional e familiar que vise o restabelecimento de seu equilíbrio emocional. A tensão é outro fator que influencia na percepção da dor e pode ser definida como uma resposta do indivíduo a mudanças ambientais. O stress é uma resposta do organismo frente a desafios e situações ameaçadoras ou potencialmente ameaçadoras. Se o paciente está calmo e confiante, a experiência é minimizada; se tiver irritado ou agitado, a experiência de dor é aumentada. A ansiedade nem sempre é reconhecida, por isso a compreensão que o indivíduo tem sobre uma situação produtora de dor já ocorrida e o controle que ele tem sobre essa situação são fatores que podem contribuir para aumenta ou diminuir a ansiedade. Durante o tratamento, o profissional deve dar ao seu paciente certo grau de previsibilidade de seu problema de saúde e de sua dor presente ou iminente. A falta de informações contribui para a formação de medos exagerados, que aumentam mais a ansiedade do paciente, levando a um aumento da sensibilidade ao estímulo doloroso. Gonçalves e França (2007) explicaram que ter medo ou ansiedade diante de determinadas situações, dentro de certos limites, é considerado normal. O medo geralmente ocorre diante de objeto ou situação específica ou na eminência de perigo imediato. A ansiedade pode ser caracterizada por uma sensação desagradável de tensão e apreensão. Frente a estes quadros, no consultório odontológico, o paciente pode apresentar xerostomia, taquicardia, sudorese e agitação, dificultando o procedimento para anestesia local, daí a importância do ansiolítico. Os pesquisadores estudaram o efeito de um ansiolítico em cirurgias orais menores. Foram avaliadas 34 cirurgias para implantes osseointegrados ou enxertos ósseos, em 19 indivíduos. Os pacientes foram divididos em dois grupos experimentais, aleatoriamente, sem terem conhecimento sobre qual medicação fariam uso. Para um grupo foi administrada a medicação (Ansiodorom) uma hora antes da cirurgia, por via sublingual; para o outro grupo foi administrado um placebo. Os resultados indicaram que a medicação homeopática Ansiodoron foi capaz de reduzir significativamente a ansiedade no grupo que recebeu este tratamento, quando comparado com o grupo placebo. 18 Conforme Possobon et al. (2007), a submissão ao tratamento odontológico tem sido relatada por muitos pacientes como uma condição geradora de estresse e de ansiedade. A sensação de ter parte de seu corpo físico invadida leva o paciente a perceber a situação como ameaçadora. O objetivo deste estudo é evidenciar a importância da aquisição de conhecimentos sobre aspectos psicológicos de interesse do profissional da Odontologia. A principal função do cirurgião-dentista é manter uma boa condição de saúde bucal de seu paciente, entretanto para que o profissional possa implementar estratégias que minimizem o estresse comumente gerado pelo tratamento e pelo ambiente do consultório, é necessário que aprenda a identificar comportamentos indicadores de ansiedade e seja capaz de estabelecer uma adequada relação com o paciente. Segundo os autores, pacientes ansiosos tendem a superestimar a dor que sentiram e a recordar-se das experiências desagradáveis com mais ansiedade do que provavelmente ocorrem. O medo de dentista pode ter contribuído, significativamente, para que os indivíduos considerem suas experiências odontológicas traumáticas e dolorosas. As experiências traumáticas vivenciadas nas primeiras consultas podem levar o indivíduo a tornar-se temeroso em relação a tratamentos subsequentes. Assim a capacitação do estudante de Odontologia para avaliar as reações do paciente e para empregar estratégias psicológicas que minimizem a ansiedade e aumentem a frequência de emissão de comportamentos colaborativos deveria ser considerada tão importante quanto a sua preparação técnica. Santos, Campos e Martins (2007) avaliaram a ansiedade e o comportamento de indivíduos adultos frente às visitas realizadas ao dentista. A amostra foi composta por 984 indivíduos, entre 14 e 93 anos, moradores da cidade de Araraquara (SP) escolhidos aleatoriamente. A idade média do grupo foi de 32 anos. As variáveis estudadas foram gênero, idade, nível de escolaridade, presença de sentimentos de medo e/ou ansiedade, frequência de consultas ao dentista e procedimento odontológico. Os dados foram analisados por meio de estatística descritiva. Em relação à questão relacionada ao gênero como fator de medo, notou-se que não houve diferença significante entre o sexo masculino e feminino. Quanto ao nível de escolaridade foi observado que a maioria possuía nível médio. Não houve relação direta entre o nível de 19 ansiedade e o grau de escolaridade e o gênero. A maioria (74%) afirmou não ter medo de dentista. Dentre os que afirmaram ter medo de dentista, a principal causa referida foi experiências anteriores desagradáveis; outras justificativas foram: o medo pelo barulho produzido pelo ”motorzinho” da alta rotação, medo da agulha para anestesia. Quanto à frequência com que os participantes visitavam o dentista, 30,59% afirmaram que uma vez ao ano, 40,65% a cada 6 meses, 26,73% só quando tinham dor, 0,81% nunca foram e 1,22 uma vez ao mês. A ansiedade ou a fobia podem não somente levar a uma saúde bucal deficiente e perda dos dentes, mas também ao sentimento de vergonha e inferioridade. O tratamento endodôntico e a raspagem e polimento radicular foram considerados como os procedimentos que mais provocam ansiedade. Desta forma, os cirurgiões-dentistas necessitam encontrar formas de reduzir as exposições aos estímulos que desencadeiam a ansiedade e transformar o tratamento em uma experiência positiva. Portanto, uma maior ênfase deve ser dada às manifestações de ansiedade e medo odontológico por parte dos cirurgiões-dentistas no momento de avaliar a maneira como relatar os procedimentos a serem realizados, pois os indivíduos são relutantes e admitem seus medos, descuidando e fugindo assim da prevenção em saúde bucal. Acharya (2008a), com o objetivo de identificar os possíveis fatores e crenças que causam efeito sobre o nível e ansiedade dental, desenvolveu um estudo transversal com 482 pacientes, que estavam sob atendimento numa clínica odontológica, numa universidade da Índia. Os instrumentos de coleta de dados foram uma versão modificada da escala de avaliação da ansiedade dental, a MDAS (Modified Dental AnxietyScale), e da escala Dental BeliefsScale – MDBS. Também, foram coletadas informações sobre gênero, idade, grau de instrução, profissão e experiências pregressas em relação ao tratamento odontológico. A análise dos dados demonstrou que há uma relação estatisticamente significativa entre os escores da MDAS e MDBS. Quanto à variável faixa etária, foi detectada uma relação inversa entre idade e escores da ansiedade dental. Indivíduos com baixo nível de escolaridade apresentam índices mais elevados de ansiedade. Os sujeitos que informaram mais experiências desagradáveis com o tratamento odontológico foram os que apresentaram escores altos de ansiedade e negativas crenças relacionadas à consulta odontológica. 20 Acharya (2008b) descreveu a qualidade da saúde oral e seus fatores relacionados em uma população de adultos, na Índia. Um grupo de 414 pacientes foi avaliado clinicamente, quanto aos seguintes aspectos; índice de cárie, gengivite e uso de prótese. Os pesquisados, também, responderam a um questionário (OHIP) para determinação do perfil do impacto de saúde oral e um questionário (GHQ) sobre saúde geral. Os pesquisadores, após análise dos dados, concluíram que houve correlação positiva significativa entre níveis elevados de ansiedade dental e baixa condição de saúde. As mulheres apresentaram piores índices em comparação aos homens. Os resultados deste estudo mostraram que o índice de cárie e a ansiedade dental tiveram um efeito importante sobre a qualidade de saúde oral dos pesquisados. Bellini et al. (2008) avaliaram a presença de sintomas relacionados à fobia e à ansiedade dental e relacionaram estes sintomas com medos dentais específicos e com o estado de saúde geral de pacientes que seriam submetidos a procedimentos clínicos periodontais. A população-alvo do estudo foi constituída por todos os pacientes das clínicas de Periodontologia e Implantodontia da Escola de Odontologia da Universidade de Bologna (Itália), durante um período de doze meses, no ano de 2007. Os instrumentos para levantamento de dados constaram de questionários psicológicos (inventário da ansiedade - STAI - Y1; escala da fobia – MSPS), formulário sobre qualidade da Organização Mundial de Saúde – WHOQOL e avaliação clínica do paciente. A amostra constou de 250 pacientes. A análise dos dados coletados indicou que a maioria dos pacientes avaliados (86%) apresentou baixos níveis de ansiedade e fobia ao tratamento odontológico. Os medos dentais mais comuns foram medo da dor (48,8%) e de receber uma injeção (29,9%). A qualidade de vida destes sujeitos não estava afetada por estes medos. Os pesquisadores concluíram que os níveis de ansiedade e de fobia eram geralmente baixos ou ausentes, mas, quando presentes, eram independentes de medos dentais específicos. Segundo Facco, Zanette e Manani (2008), o medo do tratamento odontológico é um fenômeno universal, uma vez que em todo o mundo, aproximadamente, 25% dos pacientes evita consultas e tratamentos e cerca de 10% se classificam em níveis de ansiedade fóbica. As causas deste distúrbio são múltiplas, podendo ser de origem endógena e exógena. As causas 21 exógenas incluem aspectos como: más experiências anteriores, desconfiança dos profissionais de odontologia, reações somáticas em função da experiência odontológica. O problema do medo/ansiedade ao tratamento odontológico é de suma importância por várias razões: para se evitar causas que levem a uma saúde bucal deficiente e má qualidade de vida; altos níveis de ansiedade e fobia podem dificultar uma relação dentista-paciente, podem fazer com que o paciente evite tratamento dentário adequado e pode ser causa de complicações intra-operatórias; e a resposta simpática ao estresse causado pela ansiedade pode produzir reações prejudiciais, tais como síncope vasovagal, hipertensão, taquicardia, e os acidentes cardiovasculares. Portanto, o diagnóstico e o tratamento da ansiedade dental tornam-se essenciais para a segurança do paciente. Os pesquisadores verificaram a relação entre ansiedade ao tratamento odontológico e a classificação do estado físico (ASAPS), segundo critérios da Sociedade Americana de Anestesiologistas (ASA). A Dental AnxietyScale (DAS) foi traduzida para o italiano e aplicada a 1.072 pacientes italianos (620 homens e 452 mulheres, com idades entre 14-85 anos) que seriam submetidos à cirurgia oral. A avaliação da ansiedade ao tratamento odontológico evidenciou que 59,5% dos pacientes tiveram uma pontuação DAS entre 12 e 07; para 26,1% a pontuação foi menor que 12; e 10,3% obtiveram pontuação superior a 15. A DAS média foi de 10,29, pacientes do sexo feminino demonstraram mais ansiedade do que pacientes do sexo masculino, pacientes acima de 60 anos mostraram uma diminuição significativa do nível de ansiedade. A classificação do estado físico indicou que 46,8% dos pacientes foram classificados como ASA PS classe P1 (paciente em condições normais de saúde), 46,8% como ASA PS classe P2 (pacientes com doença sistêmica leve) e 6,4% como ASA PS classe P3 (pacientes com doença sistêmica grave). Os pacientes P1 apresentavam uma pontuação DAS média de 9,69; para os pacientes P2, a pontuação DAS média foi de 10,78; e os pacientes P3 a pontuação DAS média foi de 11,09. A diferença entre estes os grupos foi significativa, evidenciando que a condição de saúde está relacionada ao nível de ansiedade. Ferreira, Manso e Gavinha (2008) avaliaram a prevalência da ansiedade dentária, nos pacientes das Clínicas de Medicina Dentárias da Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade de Fernando Pessoa (FCS-UFP), em 22 Lisboa (Portugal). O estudo ocorreu com uma amostra de 150 pessoas, entre adolescentes e adultos, tendo sido constituídas quotas calculadas com base na distribuição por gênero e faixa etária consideradas segundo os dados disponibilizados pelo Instituto Nacional de Estatística no Grande Porto no ano 2005. Os instrumentos de avaliação foram a escala Modified Dental AnxietyScale (MDAS) e a Dental FearScale (DFS). Foi constatado que 52,7% da amostra manifestou ansiedade, independentemente da sua severidade. Segundo a DFS, a maioria (55,3%) adiou a consulta e 54,7% admitiram já ter faltado ou adiado a consulta. Foi concluído que a maioria dos sujeitos da pesquisa, apenas, recorre a tratamentos médico-dentários quando tem dor, nunca falta à consulta por medo, não foi alvo de trauma durante tratamentos, desconhece a ocorrência de acidentes e não convivem com pessoas que manifestam medo de ir ao Médico Dentista. Os fóbicos manifestam ativação fisiológica exacerbada, padecem de ansiedade antecipatória ao marcar a consulta bem como na sala de espera temendo principalmente os estímulos agulha e broca. Para Gaudareto et al. (2008), a sensação de medo está ligada a cinco medos universais do homem: medo da dor, medo do desconhecido, medo do desamparo e da dependência, medo da mudança, da mutilação do corpo e medo da morte. O medo da dor e da mutilação do corpo está intimamente relacionado à visita ao dentista. O paciente ansioso sempre evita o tratamento dental e, uma vez no consultório, a administração deste sentimento torna-se difícil. A dor e a ansiedade estão diretamente relacionadas. Diante da ansiedade, a dor fica mais difícil de ser controlada, pois seu limiar está diminuído, podendo daí surgir o estresse. O impacto do medo, da ansiedade e da fobia frente ao tratamento odontológico, tem sido uma das causas de um grande índice de doenças bucais e manifestações sistêmicas, que se tornam um problema de saúde pública. Para minimizar o impacto deste quadro, existem alguns meios que o cirurgião-dentista pode utilizar. O controle farmacológico se dá através de duas formas: pela administração de medicamentos ansiolíticos por via oral (benzodiazepínicos), ou através da via inalatória, com a mistura dos gases óxido nitroso e oxigênio. Alguns antihistamínicos produzem leve depressão do SNC que provavelmente contribui para reduzir o efeito ansiolítico. Com relação às abordagens não 23 farmacológicas, a verbalização, técnicas de relaxamento e hipnose são também muito importantes. O controle da ansiedade em pacientes odontológicos pode ser feito por diferentes métodos, cada um apresenta vantagens e desvantagens, quando a opção recai no uso de drogas, torna-se imprescindível o conhecimento das vias de administração, do custo, das características farmacológicas bem como, quando técnicas sofisticadas exigem treinamento pra sua execução. Hakeberg e Cunha (2008) avaliaram diferentes grupos de pacientes para identificar a relação entre ansiedade ao tratamento odontológico, dor e procedimentos rotineiros do tratamento dental. Para tanto, constituíram uma amostra de 393 pacientes, sendo a maioria (59,7%) do gênero feminino. As idades variaram de 20 a 85 anos, sendo a idade média de 47,6 anos. O instrumento de coleta de dados foi um questionário que incluía informações sobre diferentes dados demográficos, níveis de ansiedade dental e experiência de dor com relação aos diferentes tratamentos. Foi identificado um nível mais elevado de ansiedade dental entre as mulheres e em relação aos procedimentos de periodontia. Com relação às experiências de dor elevada ou extrema, um percentual entre 7,1% e 9,7% dos participantes informaram-na para todos os procedimentos, no entanto, a dor referida aos procedimentos periodontais foi significativamente mais relatada quando comparada com outros procedimentos. Os níveis mais altos de ansiedade dental foram mais relacionados aos procedimentos clínicos do que os relacionados aos de higienização. Segundo Al-Omari e Al-Omiri (2009), a ansiedade dental é um problema reconhecido por pacientes e profissionais da área odontológica. A ansiedade odontológica refere-se a uma resposta específica dos pacientes, em relação ao tratamento odontológico. presença de níveis elevados de ansiedade, frequentemente, gera atitudes negativas em relação ao tratamento, acarretando dificuldades para o sucesso dos procedimentos clínicos. Pacientes ansiosos são considerados pelos dentistas como uma das maiores dificuldades a serem enfrentadas pelo profissional. A ansiedade ao tratamento odontológico pode afetar a relação paciente-profissional. Os autores realizaram um estudo para investigar os níveis de ansiedade dental entre os estudantes universitários matriculados em cursos de diferentes áreas do conhecimento, na Universidade 24 da Jordânia. A coleta de dados foi através da aplicação de uma versão modificada da Corah Dental AnxietyScale (DAS). Seiscentos estudantes da graduação dos cursos de Medicina, Engenharia e Odontologia da Universidade da Jordânia foram recrutados para o estudo. Quinhentos e trinta e cinco questionários completos foram devolvidos, o que representa uma taxa de resposta de 89,2%. A idade média dos sujeitos da pesquisa era de 22,3 anos; 49,5% eram do gênero masculino. Os totais dos escores médios de ansiedade foram os seguintes: estudantes de Medicina, 13,58%; estudantes de Engenharia, 13,27% e estudantes de Odontologia, 11,22%. O escore de 15 pontos foi identificado em 32% da população do estudo; sendo que os alunos do curso de Odontologia apresentaram o menor percentual neste escore. As mulheres demonstraram, estatisticamente, maior pontuação total de ansiedade odontológica do que os homens. Este achado pode ser explicado pelo fato de o neurotismo estar associado positivamente à ansiedade e pelas mulheres serem portadoras de níveis mais altos de neurotismo do que os homens. No entanto, como a diferença entre os sexos foi mínima, os autores argumentaram que esta diferença poderia ser considerada como clinicamente insignificante. As situações que mais geraram ansiedade foram perfuração do dente e injeção do anestésico local. A falta de educação para a saúde dental adequada pode resultar em um alto nível de ansiedade dental entre os estudantes universitários na Jordânia. Mais estudos são necessários para identificar os alvos da ansiedade odontológica entre estudantes universitários. O controle da ansiedade ao tratamento odontológico pode ser facilitado através de um bom processo de educação em saúde bucal, por visitas frequentes ao dentista, por um bom relacionamento paciente-profissional, por uma adequada comunicação paciente-profissional. Provavelmente, pelo fato dos alunos de Odontologia conviverem com estas condições favoráveis é que tenham evidenciado níveis menos elevados de ansiedade. Os pesquisadores destacaram que, para um tratamento bem-sucedido, é necessário que o dentista, seja gentil, simpático, tranquilo. Em sua primeira consulta os pacientes devem ser tratadas com mais sensibilidade, a fim de evitar a exacerbação da ansiedade e, assim, evitar a repulsa ao atendimento odontológico. As principais conclusões do estudo foram as seguintes: estudantes de odontologia obtiveram menor escore de ansiedade; as mulheres demonstraram maiores escores de ansiedade ao 25 tratamento; os alunos eram em sua maioria demonstraram maior preocupação com procedimentos de perfuração dental e injeção do anestésico. De acordo com Emmerich e Castiel (2009), quando criança, muitos de nós respondemos a uma pergunta do mundo dos adultos sobre o que queremos ser na vida. Esse diálogo simples, que até hoje se repete entre milhares de crianças todos os dias, revela um sentido inicial da vida humana para alguma atividade profissional. No campo da Saúde Coletiva, a Odontologia talvez seja uma das profissões menos citadas na infância, pelo estigma e imaginário social odontológico da dor de dente, sendo ainda associada a uma prática profissional cruenta que leva a pesadelos. Martinelli e Pinto (2009) elaboraram um estudo com objetivo de traçar o perfil de pacientes em relação ao tratamento odontológico. Desenvolveram um estudo descritivo, transversal, mediante coleta de dados primários. A população-alvo foi de adultos, na faixa etária acima de 30 anos, que participavam da Semana de Saúde Bucal, de Itajaí (Santa Catarina), em outubro de 2008. Foi obtida uma amostra não probabilística, com um total de 178 pessoas. O instrumento para coleta de dados foi um questionário com sete questões, assim distribuídas: duas para caracterização de gênero e idade; quatro para determinação do nível de ansiedade; e uma para identificação da freqüência e motivos da consulta odontológica. Para a classificação do nível de ansiedade, as questões foram adaptadas da escala Dental AnxietyScale (DAS). O grupo investigado foi formado por 54% de sujeitos do gênero masculino e 46% do feminino, com idades que variaram de 30 a 84 anos. Os resultados quanto à ansiedade mostraram que 74% dos entrevistados apresentavam ansiedade. O número de homens com ansiedade foi maior. No grau exacerbado, a relação foi de 3 homens para 1 mulher, nos demais houve similaridade entre os gêneros. A consulta odontológica em intervalo de tempo maior e por motivo de dor ocorreu mais entre os sujeitos com elevado nível de ansiedade. A maioria (87,7%) havia se consultado nos últimos dois anos, a consulta de rotina foi o principal motivo. Pelo teste do χ2 (qui-quadrado), não foi encontrada diferença significativa, ou seja, o grau de ansiedade não está relacionado ao gênero e à faixa etária. No entender de Armfield (2010a), para o cirurgião-dentista de clínica geral, pacientes com medo são mais difíceis e estressantes e mais propensos 26 a participar de forma irregular do tratamento odontológicoEste estudo apresenta as estimativas de prevalência de medo e fobia ao tratamento odontológico, na Austrália. A amostra foi constituída por um total de 1.084 adultos australianos, que representou uma taxa de resposta de 71,7%. O instrumento de coleta de dados foi um questionário enviado pelo correio. O questionário continha quatro medidas de medo e fobia dental e questões relativas ao potencial de ansiedade frente a determinados estímulos e experiências pregressas relacionadas ao tratamento odontológico. A prevalência de alto medo ao tratamento odontológico variou de 7,8% a 18,8% e a fobia dental foi identificada numa frequência entre 0,9% e 5,4%. A fobia dental foi significativamente associada com preocupações dos pacientes em relação a três fatores: sangue, injeção e ferimento. O custo do tratamento odontológico foi apresentado pela maioria (64,5%) dos pesquisados como uma situação geradora de ansiedade, seguido por medo de agulhas e injeções (46,0%) e procedimentos dolorosos ou desconfortáveis (42,9%). A ansiedade provocada por experiências aversivas pregressas variou significativamente em função do sexo, da idade, da renda, da educação, da língua falada em casa e da frequência de visitas ao dentista. O pesquisador concluiu que altos níveis de medo ao tratamento odontológico e fobia dental são fenômenos comuns na Austrália, embora as estimativas de prevalência sejam altamente dependentes dos instrumentos de avaliação adotados para determinar os níveis destes comportamentos. Armfield (2010b) destacou que a ansiedade ao tratamento odontológico apresenta características semelhantes àquelas de muitos outros transtornos clínicos de ansiedade. Estas condições incluem, frequentemente, diversas dimensões debilitantes, envolvendo aspectos cognitivos, emocionais, comportamentais e fisiológicos. Além disso, a ansiedade e o medo ao tratamento odontológico estão associados a uma série de consequências aversivas. Alguns índices têm sido desenvolvidos para medir ansiedade e medo ao tratamento odontológico, o que é um indicativo de que estes comportamentos são um problema que deve continuar a merecer uma atenção especial. Este artigo aborda a confusão generalizada na utilização dos termos ansiedade e medo e, também, discute os fundamentos teóricos de uma seleção das medidas mais amplamente utilizadas para a avaliação destes 27 comportamentos. O pesquisador concluiu que as escalas de medidas de ansiedade e de medo ao tratamento odontológico mais difundidas, ainda, carecem de uma adequada ou suficiente explicação dos fundamentos teóricos que as embasam. Isto é preocupante, uma vez que essas escalas, por sua natureza, servem para definir o conceito que pretendem medir. De acordo com Crofts-Barnes et al. (2010), pouco se sabe sobre a experiência dos pacientes com relação à ansiedade ao tratamento odontológico, antes de serem submetidos ao tratamento. O objetivo deste estudo era determinar, em pacientes dental fóbicos, os níveis de ansiedade antes dos procedimentos e no dia-a-dia destes sujeitos. Dezenove (19) pacientes dentais não-fóbicos e fóbicos foram selecionados. Quatro questionários validados foram usados para avaliar a ansiedade e a qualidade da vida, de cada paciente por cinco dias antes do tratamento e no dia do tratamento. Nos sujeitos do grupo fóbico, foram encontrados níveis significativamente maiores de ansiedade dental e geral e uma qualidade de vida significativamente pior quando comparados com aqueles o grupo não fóbico. As contagens de ansiedade (dental e geral) foram correlacionadas significativamente com as medidas da qualidade de vida. Este estudo sugere que os pacientes dentais fóbicos têm a ansiedade aumentada, de modo significativo, e efeitos negativos significativos com relação à qualidade de vida, nos períodos analisados. Segundo Mastrantônio et al. (2010), em Odontologia, o medo e a apreensão do paciente ocorrem devido à dor e ao desconforto, causados, na maioria das vezes, pela utilização de instrumentos rotatórios. O medo é definido como um sentimento de apreensão ante à noção de algum perigo real ou imaginário e pode ocorrer nos indivíduos e, principalmente, em crianças que passam por tratamento odontológico desagradável. Estudos comprovam que a caneta de alta rotação é um dos motivos que despertam o medo do paciente durante o atendimento odontológico, devido ao seu aquecimento sobre a estrutura dentária, gerando uma sintomatologia dolorosa. Além disso, o ruído que ela provoca é frequentemente associado a esta sintomatologia, trazendo sempre a lembrança de dor e desconforto. Nos últimos anos, objetivando minimizar os impactos negativos decorrentes de procedimentos odontológicos, novas tecnologias foram desenvolvidas, tais como o laser, abrasão a ar, 28 método químico-mecânico e método ultrassônico. Dentre os métodos ultrassônicos, destaca-se a utilização das pontas diamantadas CVD® associadas ao ultrassom. Através deste sistema a refrigeração é obtida pela água que percorre toda a haste da ponta e torna-se aquecida pela vibração do ultrassom, contribuindo para a diminuição da sintomatologia dolorosa. Outra vantagem deste sistema é que ele gera menor ruído, oferecendo maior conforto durante um procedimento que antes despertava lembranças desagradáveis. O paciente adapta-se facilmente ao tratamento, apresentando segurança e tranquilidade para realização dos procedimentos sem anestesia local infiltrativa. Desta forma a utilização de pontas diamantadas CVD associadas ao ultrassom contribuiu para a readaptação do paciente ao tratamento odontológico, além de possibilitar a realização de preparos cavitários conservadores. Naidu e Lalwah (2010) investigaram o nível de ansiedade ao tratamento odontológico e suas possíveis causas entre pessoas de Trinidad e Tobago. Este é um estudo transversal. A população-alvo foram pais e responsáveis que acompanhavam as crianças que estavam frequentando uma clínica de Odontopediatria. Os participantes preencheram um questionário, enquanto aguardavam a consulta na sala de espera. Este questionário incluía uma adaptação da Dental AnxietyScale (MDAS) e questões referentes ao sexo, idade e ocupação. Um item adicional foi incluído, que pediu aos participantes que classificassem a ansiedade sentida em ter um dente extraído. A amostra ficou constituída por 100 participantes, sendo que a maioria (81%) era de mulheres. Quarenta por cento (40%) dos participantes relataram níveis de ansiedade de moderada a gravedos participantes tinham ansiedade moderada (MDAS 15-18 pontos) e 17% tinham ansiedade severa/fobia (MDAS 19-20 pontos). O nível de ansiedade estava relacionado ao sexo Os fatores geradores de ansiedade foram: 48% em decorrência de ter um dente obturado, 53% por receber injeção do anestésico local e 52% pela exodontia. Trinta e seis por cento dos participantes tinham evitado o tratamento odontológico no passado, porque eles estavam muito ansiosos. Os autores concluíram que altos níveis de ansiedade odontológica foram encontrados na amostra de adultos de Trinidad. A escala foi capaz de detectar elementos significativos do que representa a ansiedade. A adição de uma pergunta sobre extração revelou 29 que esse procedimento pode contribuir substancialmente na ansiedade em relação ao tratamento odontológico no Caribe. Oliveira et al. (2010) relataram que a ansiedade e o medo ainda são os principais motivos pelos quais um paciente desiste de realizar o tratamento odontológico. Este medo, geralmente, inicia-se na infância ou na adolescência. A fuga à consulta ao dentista pode ser desencadeada por fatores como experiência dolorosa prévia, ambiente do consultório odontológico, ideias negativas, histórias traumatizantes repassadas por outras pessoas e, ainda, o desconhecimento em relação aos pacientes. A ansiedade é conhecida como uma resposta às situações nas quais a fonte de ameaça ao indivíduo não está bem definida, é ambígua ou não está objetivamente presente. A ansiedade implica na ocorrência de uma condição aversiva ou penosa, em algum grau de incerteza ou dúvida e em alguma forma de impotência do organismo em dada conjuntura. Por isso, muitas vezes o desconhecimento dos procedimentos realizados em consultório pode levar à ansiedade. O medo do tratamento odontológico torna-se um ciclo no sentido de que, quando o tratamento preventivo não ocorre, a patologia dentária passa a exigir tratamentos odontológicos curativos ou emergenciais inerentemente invasivos, portanto desconfortáveis, consequentemente o medo e a fuga ao tratamento se exacerbam estabelecendo-se, então, o ciclo. Indivíduos altamente temerosos acabam por se ausentar do consultório odontológico e não apresentam boa saúde bucal, quando comparados aos indivíduos não temerosos. A etiologia de medos clínicos severos parece estar relacionada à idade e ao condicionamento direto na presença de dor e vulnerabilidade. Mulheres tendem a reportar mais medo e ansiedade que homens; e crianças demonstram mais medo e mais ansiedade do que os outros indivíduos. Souza, Nicolau e Ribeiro (2010) avaliaram os fatores indutores de ansiedade na odontologia (FIAO), em pacientes pré-cirúrgicos. A média de indivíduos integrantes da pesquisa era de adultos jovens, com idades entre 20 e 29 anos, predominantemente do sexo feminino. Os resultados demonstraram que o nível de ansiedade é mais elevado em indivíduos na primeira e segunda décadas de vida, associado à restrita vivência de experiências que pudessem causar sensibilização prévia à situação pré-operatória. Para que o cirurgiãodentista consiga realizar um bom trabalho cirúrgico, deve haver uma boa 30 comunicação e a orientação prévia ao paciente, pois a maioria dos entrevistados mostra-se receosa por complicações pós-operatórias, gerando tensão e dificuldade para relaxar antes da cirurgia. Assim, é necessário de que o profissional tenha conhecimento sobre o grau de ansiedade de seu paciente, para que possa haver uma relação dentista-paciente de respeito e confiança, trazendo conforto ao paciente e credibilidade ao profissional. Costa et al. (2011) explicaram que, dentre as especialidades que compõem a área da saúde, a Odontologia, desde a sua origem, é a que mais suscita medo e ansiedade. Ir ao dentista, dentre uma relação de atividades, foi considerado o segundo maior temor, para a população em geral, perdendo apenas para o medo de falar em público. O medo de ir ao dentista dificulta o trabalho do profissional durante o atendimento clinico e, pode comprometer o comparecimento de alguns pacientes para o tratamento. Pacientes com muito medo são considerados por dentistas como de difícil atendimento. O medo e a dor subjetiva frente ao tratamento odontológico podem gerar a ansiedade. A ansiedade se caracteriza por um estado de apreensão frente a uma situação de perigo não claro, que se apresenta de maneira vaga e persistente, ou até mesmo quando os sinais de um dano iminente não são conscientemente percebidos. A ansiedade, também, agrava o sofrimento psicológico causado pela dor. Uma das opções para a redução do medo ao tratamento odontológico é a técnica de Sedação Consciente com Oxido Nitroso. O emprego do Oxido Nitroso para o controle da ansiedade não é novo. Trata-se de um anestésico inalatório, não irritante e de baixa solubilidade, que não sofre metabolização e, por isso, não produz efeitos colaterais de relevância. O paciente permanece consciente e cooperativo durante o tratamento. Este método elimina ou reduz a apreensão, o medo e a ansiedade dos pacientes. De acordo com Humphris e King (2011), medo e ansiedade ao tratamento odontológico são problemas mundialmente difundidos; 25% dos adultos, no Reino Unido, e 20% nos Estados Unidos da América relataram que retardam a visita ao dentista devido ao medo do tratamento. E, numerosos estudos apontam que altos níveis de ansiedade ao tratamento odontológico são encontrados em uma frequência de, aproximadamente, entre 10 e 20% dos sujeitos pesquisados. Indivíduos portadores de ansiedade ao tratamento odontológico manifestam sentimentos e pensamentos negativos, medo, susto e 31 alterações na vida pessoal e profissional. Os sujeitos ansiosos costumam evitar a consulta odontológica o que lhes acarreta efeitos prejudiciais à saúde oral. A experiência precedente em relação à consulta odontológica é considerada como o principal fator para explicar a ansiedade ao tratamento odontológico; alguns autores confirmam que sujeitos portadores de altos níveis de ansiedade ao tratamento odontológico reportam de forma significativa mais experiências traumáticas do que sujeitos portadores de baixo nível de ansiedade. Este artigo relata os resultados de uma pesquisa desenvolvida com o objetivo de identificar a predominância da ansiedade ao tratamento odontológico elevada em uma amostra de estudantes do Reino Unido, comparando-a com uma amostra de sujeitos holandeses. A população-alvo foi formada por estudantes universitários do Reino Unido, tendo sido constituída uma amostra de 1024 estudantes. O teste aplicado foi a Dental Anxiety Scale modificada (DASM) e o questionário que determina o nível de Exposição-Dental às experiências com a consulta odontológica (LOE-DEQ). A frequência de sujeitos com alto grau de ansiedade ao tratamento odontológico foi de 11,2%, com um escore médio de 19 pontos. A predominância significativa do alto grau de ansiedade ao tratamento odontológico foi identificada em amostras de britânicos e de holandeses. Aspectos como falta de compreensão do dentista e vergonha extrema durante o tratamento odontológico foram os fatores mais relacionados ao alto grau de ansiedade. Os pesquisadores concluíram que o traumatismo decorrente de várias experiências anteriores, em relação ao atendimento odontológico, pode ser um fator de aumento do risco de ansiedade ao tratamento odontológico elevada. Para Shaikh e Kamal (2011), o comportamento referente à atenção para com a saúde oral é comprometido pela ansiedade ao tratamento odontológico, o que afeta a qualidade de vida. Este estudo teve por objetivo determinar a predominância e as correlações da ansiedade ao tratamento odontológico. Para tanto, foi utilizada uma amostragem de conveniência, que foi obtida entre estudantes universitários, nas cidades de Islamabad, Rawalpindi e Multan (Paquistão). Os instrumentos de coleta de dados foram escalas estandardizadas, validadas. O total de participantes da pesquisa foi de 503 estudantes, sendo 278 do gênero masculino e 225 do feminino. A ansiedade severa foi relatada por 60 (21,6%) sujeitos do sexo masculino e por 54 do sexo 32 feminino (24%). Setenta e cinco homens (27%) e 62 (27,6%) mulheres relataram ser completamente receosos ou muito receosos. Os resultados desta pesquisa ratificam a necessidade de estudos representativos sobre a determinação da predominância e as correlações da ansiedade ao tratamento odontológico para a melhora da saúde bucal no Paquistão. 33 3 MATERIAIS E MÉTODOS Esta investigação se caracteriza como uma pesquisa descritiva, do tipo transversal, mediante coleta de dados primários. A população-alvo foi formada por pacientes que se encontravam na sala de espera de um consultório odontológico particular situado em Florianópolis (Santa Catarina). A partir da população-alvo foi constituída uma amostra não probabilística, obtida de modo acidental, isto é, integraram a amostra todos os sujeitos que, por livre e espontânea vontade, aceitaram participar da pesquisa. A coleta de dados foi efetuada através da aplicação de um questionário constituído por duas partes. A primeira parte caracterizava o paciente quanto ao gênero, idade, grau de escolaridade. A segunda parte constava de uma adaptação da Dental AnxietyScale (DAS modificada). O período de coleta de dados ocorreu de agosto de 2010 a junho de 2011. A DAS é uma escala psicométrica que classifica os indivíduos em temerosos, ou não, em relação ao tratamento odontológico. A versão desta escala consta de quatro questões, cada uma com quatro alternativas de resposta. Para cada alternativa, é atribuído um valor, em ordem crescente, ou seja, a alternativa “A” vale 1,0 ponto, a “B” 2,0 pontos, a “C” 3,0 pontos e a “D” equivale 4,0 pontos. O somatório dos escores define o perfil dos sujeitos quanto à ansiedade ao tratamento odontológico, nos seguintes termos: Até 04 pontos indivíduo não apresenta ansiedade; de 05 a 08 pontos - indivíduo apresenta baixo grau de ansiedade; de 09 a 12 pontos - indivíduo apresenta moderado grau de ansiedade; de 13 a 16 pontos - indivíduo apresenta exacerbado grau de ansiedade. As respostas foram tabuladas com auxílio do programa Microsoft Office Excel 2007. A análise dos dados foi do tipo descritivo, através da distribuição de frequência relativa, para cada um dos graus de ansiedade, conforme a escala DAS, segundo o gênero e a faixa etária. Esta investigação está ao abrigo das pesquisas do Grupo de Pesquisa Atenção à Saúde Individual e Coletiva em Odontologia. O projeto da pesquisa 34 foi submetido e aprovado pela Comissão de Ética em Pesquisa da UNIVALI, protocolado no SISNEP sob nº 0014.0.223.000-05. 35 4 RESULTADOS Foram avaliados 94 pacientes que se encontravam na sala de espera do consultório odontológico, cujo atendimento seria nas áreas de periodontia e implantodontia, prótese e dentística. A maioria dos integrantes da pesquisa era do gênero feminino (Gráfico 1) e da faixa etária de 51 ou mais anos (Gráfico 2). Feminino Masculino 39% 61% Gráfico 1: Distribuição da frequência relativa das categorias identificadoras do gênero dos sujeitos pesquisados. 20 a 35 anos 36 a 50 anos 51 ou mais 31% 41% 28% Gráfico 2: Distribuição da frequência relativa das categorias identificadoras das faixas etárias dos sujeitos pesquisados. No gráfico 3, está a distribuição da frequência dos sujeitos em função do gênero e faixa etária, onde se identifica que a maioria dos homens se encontra 36 na faixa etária de 51 ou mais anos, enquanto as mulheres, na sua maioria, estão na faixa de 20 a 35 anos. Feminino % Masculino 100 80 59,5 60 40 20 38,6 31,6 18,9 29,8 21,6 0 20 a 35 anos 36 a 50 anos 51 ou mais anos Gráfico 3: Distribuição da frequência relativa das categorias identificadoras das faixas etárias dos sujeitos pesquisados. Com relação ao grau de ansiedade dos pacientes pesquisados, 68,8% se classificou como portador de ansiedade. A pontuação média do grupo investigado foi de 6,2 o que o classifica num grau de baixa ansiedade. A pontuação média das mulheres foi de 6,5 e a dos homens foi 5,75. A frequência de cada um dos graus de ansiedade manifestados pelos pacientes encontra-se no gráfico 4, onde se ratifica que a maioria (57%) dos pesquisados se classifica no grau baixa ansiedade e 11% se classificaram nos graus mais altos (moderado e exacerbado). 37 Sem Baixo Moderado Exacerbado 3% 8% 32% 57% Gráfico 4: Distribuição da frequência relativa das categorias identificadoras dos graus de ansiedade ao tratamento odontológico dos sujeitos pesquisados. Quando se analisou o grau de ansiedade em função do gênero, observou-se que o percentual de homens sem ansiedade é maior do que o de mulheres; e, para os graus de ansiedade mais elevados (moderado e exacerbado), houve um predomínio de sujeitos do gênero feminino (Gráfico 5). Sem % Baixo Moderado Exacerbado 80 40 20 58,3 57,1 60 36,1 28,6 8,9 5,4 5,6 0,0 0 Feminino Masculino Gráfico 5: Distribuição da frequência relativa das categorias identificadoras dos graus de ansiedade ao tratamento odontológico dos sujeitos pesquisados, segundo o gênero. A distribuição dos graus de ansiedade em função da faixa etária evidenciou que a frequência de sujeitos sem ansiedade é maior entre os de mais idade (51 ou mais anos). Os graus mais elevados (moderado e exacerbado) foram mais frequentes nos grupos mais jovens, quando comparados aos da faixa etária de 51 ou mais anos de idade (Gráfico 6). 38 Sem % Baixo Moderado Exacerbado 80 60,7 57,7 60 40 53,8 35,9 30,8 25 20 10,7 3,6 7,7 3,8 7,7 2,6 0 20 a 35 anos 36 a 50 anos 51 ou mais Gráfico 6: Distribuição da frequência relativa das categorias identificadoras dos graus de ansiedade ao tratamento odontológico, segundo a faixa etária. 39 5 DISCUSSÃO O medo é uma reação imediata ao tratamento odontológico e pode ser de origem real ou imaginária; já, a ansiedade, pode ser gerada através do medo do desconhecido, que pode ser ameno ou intenso dependendo das antigas experiências de cada um. (MORAES, 2003). A ansiedade, geralmente, se manifesta de forma antecipada ao tratamento odontológico e pode influenciar negativamente no atendimento, pois se cria um ciclo vicioso, que gera uma pobre saúde oral dos sujeitos portadores de ansiedade. Este ciclo se inicia com a evasão ao tratamento, acarretando um mal estado de saúde bucal, redução da autoestima do indivíduo, desmotivação para encarar a sociedade e procurar um atendimento adequado, reduzindo então a qualidade de vida destes sujeitos. (ACHARYA, 2008b; FACCO; ZANETTE; MANANI, 2008; ARMFIELD; STEWART; SPENCER, 2007; MANIGLIA-FERREIRA et al., 2004). Logo, a ansiedade pode ser considerada como um importante indicador de risco a uma pobre condição de saúde oral e de baixos índices de qualidade de vida. Entre 10 e 15% da população, têm ou sentem ansiedade em relação ao tratamento odontológico. Este comportamento pode ser gerado pelo cirurgiãodentista, em decorrência da forma como ele conduz o atendimento. Um profissional mal humorado, irritado, mal educado, pode gerar experiências traumáticas logo na primeira consulta, podendo então o paciente tornar-se temeroso nos tratamentos subsequentes. (POSSOBON et al., 2007; LIMA ALVAREZ; CASANOVA RIVERO, 2006). No grupo investigado, o percentual de sujeitos com algum grau de ansiedade foi de 68%, no entanto, a maioria se classificou no grau baixo. Há que se destacar, porém, que 11% destes sujeitos foram considerados portadores de altos graus (moderado ou exacerbado). A frequência de mulheres com ansiedade foi maior do que a de homens. O gênero feminino é apontado pela literatura como sendo mais ansioso. (OLIVEIRA et al., 2011; SHAIKH; KAMAL, 2011; AL-OMARI; AL-OMARI, 2009; FACCO; ZANETTE; MANANI, 2008; HAKEBERG; CUNHA, 2008; CHAVES et al., 2006; PACINI; D’EL REY, 2005; FARIA; MEIDEIRO, 2004). O fato de as 40 mulheres manifestarem-se como mais temerosas ao tratamento odontológico pode ser atribuído a alta porcentagem de mulheres que respondem aos inquéritos e, também, porque elas, por questões culturais, expressam seus sentimentos com muito mais facilidade que os homens. (LIMA ALVAREZ; CASANOVA RIVERO, 2006). Com relação à faixa etária, na literatura, há diferenças entre os estudos quanto à relação entre faixa etária e ansiedade ao tratamento odontológico. Há autores indicando que os mais velhos são mais temerosos (LIMA ALVAREZ; CASANOVA RIVERO, 2006), outros referem que são os mais jovens (FACCO; ZANETTE; MANANI, 2008; ENKLING; MARWINSKI; JÖHREN, 2006; PACINI; DEL´REI, 2005; FARIA; MEDEIROS, 2004). Há, também, autores que explicam não existir influência da idade sobre o grau de ansiedade. De acordo com algumas investigações (OLIVEIRA et al., 2010; SOUZA; NICOLAU; RIBEIRO, 2010), o percentual de ansiedade é maior entre crianças e jovens; este comportamento é explicado em virtude de que, geralmente, o temor ao tratamento odontológico se inicia na infância, ou na adolescência, podendo ser desencadeado por fatores como experiências dolorosas prévias, ideias negativas, histórias traumatizantes repassadas por outras pessoas, e ainda que esses indivíduos tiveram uma restrita vivência de experiências que podem causar sensibilização prévia ao tratamento. No grupo investigado, os sujeitos mais jovens apresentaram-se mais ansiosos do que os de mais idade (51 ou mais anos); este resultado vai ao encontro dos trabalhos de Facco, Zanette e Manani (2008), Enkling, Marwinski e Jöhren (2006), Pacini e Del´Rei (2005), Faria e Medeiros (2004), que, também, relataram ter encontrado entre os sujeitos mais jovens maiores percentuais de ansiedade. Pacientes ansiosos demoram mais para ir à consulta odontológica. As condições psicológicas de cada pessoa podem produzir a percepção da dor ou aumentar a estimulação dolorosa, ou seja, quando uma pessoa está irritada, tensa, agitada, a experiência de dor é aumentada, isto explica em partes o porquê que pacientes ansiosos sentem muito mais dor do que aqueles que se apresentam tranquilos frente ao tratamento odontológico. Esse quadro psicológico indica que, além de o indivíduo necessitar de cuidados técnicos, ele precisa de uma maior atenção profissional e familiar para que ele possa 41 controlar e estabilizar seu equilíbrio emocional. (CAMPARIS; CARDOSO JÚNIOR, 2007; EITNER et al., 2006; PACINI; DEL’REI, 2005). Ainda, a ansiedade pode gerar um quadro perigoso e pode ser uma das causas de complicações intra-operatórias, a resposta pode produzir reações prejudiciais como síncope vaso-vagal, hipertensão, taquicardia e acidentes cardiovasculares. (FACCO; ZANETTE; MANANI, 2008). O medo e a apreensão do paciente ocorrem devido a dor e ao desconforto, causados na maioria das vezes pela utilização de materiais rotatórios, como a caneta de alta rotação, causado pelo ruído desagradável que o paciente acaba associando a uma sintomatologia dolorosa, trazendo lembranças de dor e desconforto, ainda apontam o medo da agulha e injeção, e ainda por procedimentos que envolvam sangramento. (MASTRANTÔNIO et al., 2010) A principal função do cirurgião-dentista é manter uma boa condição de saúde bucal de seu paciente; o medo depende, em grande parte, da preparação e experiência do profissional em atender este tipo de paciente. Entretanto, para que o profissional possa amenizar o estresse gerado pelo tratamento odontológico é necessário identificar os comportamentos geradores de ansiedade e estabelecer uma boa relação com seu paciente, tratando-o de forma calma, conversando, ouvindo-o e compreendendo-o, discutindo que fatores que levam o indivíduo a sentir-se temeroso diante de uma consulta odontológica. (POSSOBON et al., 2006) Estes são detalhes que fazem a diferença, pois os tornam mais cooperativos, a imagem do profissional vai sendo fortalecida com o tempo, aumentando a confiança entre o profissional e o paciente. Uma forma de identificar ansiedade em um paciente é observando a quantidade faltas às consultas, pois, geralmente, o paciente ansioso evita a consulta com muita frequência. O impacto deste medo repercute diretamente sobre a saúde bucal e a condição sistêmica destes indivíduos, o que se torna um problema de saúde pública. (GUADARETO et al., 2008) Então, recursos devem ser adotados para a solução desta problemática. Há uma variedade de métodos para minimizar a ansiedade gerada pelo tratamento odontológico. Entre os procedimentos não farmacológicos, ou seja, aqueles que utilizam recursos naturais estão a verbalização, as técnicas de 42 relaxamento, a hipnose, as terapias de grupo educativas e a terapia com Florais de Bach. Estes procedimentos não trazem nenhum efeito indesejado aos indivíduos. (MORAES, 2003). O controle farmacológico pode ser utilizado de três formas: a medicação homeopática, que mostra resultados positivos para a resolução dos sintomas de ansiedade; o uso de medicamentos ansiolíticos por via oral; e a via inalatória, com a mistura dos gases óxido nitroso e oxigênio. Dentre os benzodiazepínicos, o diazepan é a droga padrão, sendo o ansiolítico mais empregado em situações ambulatoriais. A mistura dos gases óxido nitroso e oxigênio é um anestésico inalátorio que não sofre metabolização e não produz efeitos colaterais de relevância; o paciente permanece consciente e cooperativo durante o tratamento. (COSTA et al., 2011; GONÇALVES; FRANÇA, 2007; COGO et al., 2006). Cabe ao profissional escolher a melhor técnica para seu paciente, para tanto, deve considerar os custos envolvidos, ter conhecimento sobre as vias de administração, dosagens para cada grupo específico de pacientes e seus efeitos sobre o organismo. Ainda que as técnicas de sedação consciente através do óxido nitroso e oxigênio exijam capacitação e treinamento do profissional para que ele possa fazer o uso desta técnica com segurança. O profissional deve dar uma atenção especial a este tipo de comportamento, uma vez que o medo pelo desconhecido, por parte dos pacientes, pode levar a fuga ao tratamento odontológico, agravando seu estado de saúde. A falta de informações contribui para a formação de medos exagerados que aumentam ainda mais a ansiedade do paciente. 43 6 CONCLUSÃO Com base nos dados analisados, conclui-se em relação ao grupo investigado que: • a pontuação média foi de 6,2 o que classifica o grupo num nível de baixa ansiedade; • 11% classificaram-se como portadores de altos graus de ansiedade; • 32% não apresentaram ansiedade; • a frequência de mulheres portadoras de ansiedade é maior, quando comparada àquela dos homens; • os sujeitos mais jovens apresentaram mais ansiedade quando comparados aos mais velhos. Portanto, a partir da análise dos resultados obtidos e da literatura revisada, pode-se afirmar que o perfil de ansiedade ao tratamento odontológico no grupo investigado é similar ao relatado pela maioria dos estudos em diferentes contextos sócio-culturais. 44 REFERÊNCIAS ACHARYA, S. Factors affecting dental anxiety and beliefs in an Indian population. 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( d ) Eu sentiria tanto pavor que fugiria da consulta. 2.Quando você está na sala de espera do dentista, como se sente? ( a ) Tranqüilo (a). ( b ) Um pouco preocupado(a). ( c ) Muito preocupado(a). ( d ) Tão preocupado(a) que começo a suar ou me sentir mal. 3.Quando você está na cadeira odontológica, esperando que o dentista comece a trabalhar nos seus dentes, como você se sente? ( a ) Tranqüilo(a). ( b ) Um pouco preocupado(a). ( c ) Muito preocupado(a). ( d ) Tão preocupado(a) que começo a suar ou me sentir mal. 4.Quando você está na cadeira odontológica esperando o dentista pegar os instrumentos que ele usará como você se sente? ( a ) Tranqüilo(a). ( b ) Um pouco preocupado(a). ( c ) Muito preocupado(a). ( d ) Tão preocupado(a) que começo a suar ou me sentir mal.