1. OBJETO DE ESTUDO DA PSICOLOGIA O objeto da psicologia é o estudo científico do comportamento e dos estados mentais. O comportamento é o nome que se dá ao conjunto de todos os atos e reações observáveis, tudo o que o organismo faz e que se pode observar: chorar, correr, falar, dormir, sorrir, escrever… Os estados mentais são os sentimentos, atitudes, emoções, pensamentos, lembranças, fantasias… Para conhecer o seu objeto, a psicologia recorre a vários métodos e técnicas de investigação, que passam por inquéritos, entrevistas, testes, observação e investigação experimental. 2. INATO/ADQUIRIDO, CONTINUIDADE/DESCONT. No pólo inato, os autores defendem que o ser humano e o seu comportamento estão determinados por características biológicas e corporais: já nascem connosco e são hereditárias: FREUD, LORENZ e GESEL. Outros autores defendem que somos produtos do que adquirimos, aprendemos e do meio em que vivemos, pois somos influenciados pela educação, cultura e socialização: WATSON, BANDURA e SKINNER. Inato + Adquirido = PIAGET. Continuidade: os comportamentos mudam de forma gradual: WATSON (as transformações no comportamento partem da continuidade, da integração das novas aprendizagens) e TEORIA DA APRENDIZAGEM SOCIAL (acumulação de associações de resposta a estímulos) Descontinuidade: o desenvolvimento humano é uma sucessão de estádios e cada estádio tem uma lógica organizadora diferente: FREUD e PIAGET. 3. WUNDT – MÉTODO INTROSPETIVO Wundt foi um autor muito importante na História da psicologia pois demarcou-se do pensamento dominante da época, procurando autonomizar a psicologia da filosofia. Definiu um objeto (consciência) e um método de investigação (introspeção controlada – só o sujeito que vive a experiência é que pode descrevêla introspecionando-se, isto é, fazendo a autoanálise dos seus estados psicológicos em condições experimentais) com a finalidade de dar um estatuto de ciência à psicologia. Este método, no entanto, foi bastante criticado por Compte que dizia que “o indivíduo que pensa não se pode dividir em dois: um que raciocinaria enquanto o outro se veria raciocinar”. A condição fundamental da observação científica é a distinção clara entre observador e observado. Outras críticas apresentadas foram: • Os dados da introspeção só podem ser comunicados através da linguagem. Muitas vezes, o sujeito tem dificuldade em exprimir por palavras o que sente; • Os fenómenos psicológicos, como a emoção, a ira, a cólera, não são compatíveis com a introspeção. Se se está muito emocionado, não se consegue analisar a emoção; • O indivíduo que pratica a introspeção é o único que observa a sua experiência interna. A sua observação não pode ser controlada por outro observador; • O método introspetivo não se pode aplicar aos domínios da psicologia infantil, da psicopatologia ou da psicologia animal; • Só analisa os fenómenos conscientes, não permitindo aceder ao inconsciente, que segundo os psicanalistas influencia de modo determinante o nosso comportamento; 4. FREUD - PSICANÁLISE Conceções de Freud sobre o psiquismo: 1. O ser humano é governado e movido por impulsos e desejos que se encontram no nosso inconsciente. 2. A maioria desses desejos e impulsos inconscientes são de natureza sexual. Estes impulsos, ao serem reprimidos, desempenham um papel importante nas doenças nervosas (neuroses). 3. Método da Psicanálise: estudo dos processos mentais inconscientes. Superego, Ego e Id: estruturas essenciais da personalidade do ser humano Id – Prazer: é formado por tudo o que herdamos e está presente logo à nascença. Reservatório de energias, instintos (da vida e da morte) e necessidades básicas: Libido. Está totalmente desligado da realidade e não é capaz de distinguir o que é desejável do que é permitido e possível. Pretende realizar tudo o que lhe agrada, sem se preocupar com o facto de isso ser bom ou mau. Ego – Realidade: decide que instintos podem, na realidade, ser satisfeitos e de que modo. Começa a desenvolver-se por volta dos 6 meses de idade. Superego – Moralidade: Diz-nos o que devemos ou não devemos fazer, ao contrário do Ego, que nos diz se é ou não possível fazer (Dever vs Poder). Começa a desenvolver-se entre os 3 e os 5 anos e é o resultado da educação que recebemos, do conjunto de punições e de recompensas que fomos alvo -> Processo de Introjeção. Papel do Superego: 1. Inibir os impulsos inconscientes (sexuais e agressivos). 2. Substituir objetivos realistas por objetivos morais. 3. Procurar a perfeição moral. Segundo Freud, o desenvolvimento da personalidade processa-se numa sequência de estádios psicossexuais. Se houver ansiedade excessiva, o desenvolvimento é perturbado, verificando-se uma fixação do indivíduo neste estádio. Estádio oral (até aos 12-18 meses) – a zona erógena é a boca. O bebé sente prazer ao mamar, ao levar os objetos à boca ou através de estimulações corporais. Se ocorrer uma fixação neste estádio, ou seja, se o bebé for desmamado muito cedo (ou muito tarde), isto pode ter reflexos na sua vida adulta. O adulto sentirá necessidade de procurar gratificação oral: fumar, beber, mascar pastilhas elásticas. Estádio anal (12-18 meses / 2-3 anos) – a zona erógena é a região anal. A criança obtém prazer pela estimulação do ânus ao reter e expulsar as fezes. A criança terá de aprender que não pode aliviar-se onde e quando quer, que há momentos e lugares apropriados, para tal efeito. Se esta fase não for ultrapassada corretamente, o adulto poderá ter obstinações excessivas, preocupações com a limpeza, tendência para a crueldade, sadismo, rebeldia e desorganização. Estádio fálico (2-3 / 5-6 anos) – a zona erógena é a região genital e, por isso, a criança sente prazer quando estimula os órgãos sexuais. A criança sente curiosidade pelas diferenças sexuais, entre os dois sexos. Neste estádio surge o complexo de Édipo, que consiste na atração da criança pelo progenitor do sexo oposto e agressividade pelo progenitor do mesmo sexo. Caso este estádio não seja bem desenvolvido, o adulto poderá ter uma personalidade bipolar, dificuldades no plano de relacionamento sexual e falta de maturidade no plano afetivo. Estádio de latência (5-6 anos até à puberdade) – caracteriza-se por uma aparente atenuação da atividade sexual. Corresponde a um período de amnésia infantil, porque a criança reprime no inconsciente as experiências que a perturbaram no estádio fálico e investe a sua energia nas atividades escolares, ganhando especial importância as relações que estabelece entre os colegas e os professores. Estádio genital (adulto) – a partir da puberdade a zona erógena principal é a região genital. Mecanismos de defesa do Ego 1. Recalcamento: Os conteúdos recalcados, apesar de inconscientes, continuam atuantes e tendem a reaparecer de forma disfarçada (sonhos, atos falhados, lapsos de linguagem...). 2. Regressão: o sujeito adota modos de pensar, atitudes e comportamentos característicos de uma fase de desenvolvimento anterior. Frente a uma frustração ou incapacidade de resolver problemas, a criança ou adulto regridem, procurando a proteção de épocas passadas (dependência excessiva, choro, chantagem). 3. Racionalização: pela racionalização ou intelectualização, o sujeito, ocultando a si próprio e aos outros as verdadeiras razões, justifica racionalmente o seu comportamento, retirando assim os aspetos emocionais de uma situação geradora de angústia e de stress. 4. Projeção: pela projeção, o sujeito atribui aos outros (à sociedade, a pessoas, a objetos) desejos, ideias, características que não consegue admitir em si próprio. São reflexos desde processo, frases como fulano detesta-me; aquele indivíduo não suporta críticas; a sociedade não tem ideais solidários; a boneca é má..., quando é a pessoa que as profere que tem esses sentimentos. 5. Deslocamento: o sujeito transfere as suas emoções para um objeto substitutivo, mudando assim o objeto que satisfaz a pulsão. Exemplos: o funcionário que sofre de conflitos no emprego e é agressivo ao chegar a casa; a criança que desloca a cólera sentida pelos pais para a boneca. Técnicas do método psicanalítico Associações livres – o psicanalista pede ao paciente que diga tudo o que sente e pensa, mesmo que lhe pareça que não tem importância ou que é absurdo. No decorrer deste procedimento vão-se manifestando resistências, desejos, recordações e recalcamentos inconscientes que o psicanalista procurará identificar e interpretar. Interpretação dos sonhos – o psicanalista pede ao paciente que relate os sonhos. Segundo Freud, o sonho é a realização simbólica de desejos recalcados. Cabe ao psicanalista procurar o sentido oculto, escondido no sonho, isto é, o conteúdo latente, o significado profundo do sonho, os desejos, medos e recalcamentos que estão subjacentes. Análise de transferência – a transferência é um processo em que o paciente transfere para o psicanalista os sentimentos de amor e ódio vividos na infância, sobretudo relativamente aos pais. Cabe ao psicanalista analisar e interpretar os dados do processo de transferência. Análise dos atos falhados – o psicanalista procura interpretar os esquecimentos, lapsos e erros de linguagem, leitura ou audição que tenham ocorrido no dia a dia do paciente. Segundo Freud, estes erros involuntários manifestariam desejos recalcados no inconsciente. 5. WATSON – BEHAVIORISMO Watson foi um autor bastante importante na construção da psicologia como uma ciência, pois criou a teoria do Behaviorismo que, como tendo como base o estudo do comportamento e estabelecendo relações entre os estímulos e as respostas e as causas e os efeitos como outra ciência qualquer, deu à psicologia um novo estatuto de ciência autónoma, objetiva e rigorosa. O behaviorismo defende que a psicologia é a ciência do comportamento. É uma parte da ciência natural cujo objeto é a conduta humana; a psicologia não é a ciência da consciência e dos processos mentais, como afirma Freud. O comportamento é o conjunto de respostas (R) de um indivíduo a um estímulo (E) ou a um conjunto de estímulos (S), totalmente condicionado pelo meio ou pela situação. Somos resultado da influência social, mas a própria sociedade é modificável e o indivíduo pode ser descondicionado, aprender mediante uma espécie de reeducação. R = f(S) Resposta: reação observável de um individuo face ao efeito de um ou mais estímulos. Estímulo: qualquer impressão ou dado proveniente do meio ambiente em que alguém está situado. (ex: luminosidade, ondas sonoras, palavras desta folha, choro de um bebé, etc.) Situação: conjunto de estímulos. (a letra f indica que as respostas ou comportamentos variam em função das situações que nos condicionam) Metodologia de Investigação: Segundo Watson, o único método que garantiria o caráter científico à psicologia era o método experimental. Assim sendo, definia uma amostra da população e dividia-a em dois grupos. No grupo experimental fazia variar o fator que considerava responsável pelo comportamento. No grupo de controlo não havia qualquer intervenção. O comportamento dos dois grupos depois era comparado. Se concluísse que a variável que se manipulou modifica o comportamento, e depois de confirmado por outras experiências, fazia-se a generalização da população. O behaviorismo teve um papel bastante importante na história da psicologia pois acabou com as conceções da época e adotou um modelo de investigação e de interpretação que dotou a psicologia com o estatuto de ciência objetiva. No entanto, foi uma teoria insuficiente, pois não teve em conta os estados mentais e as representações mentais: remeteu a psicologia apenas para o estudo dos comportamentos observáveis. 6. PIAGET – TEORIA COGNITIVA Piaget defende uma posição interacionista: o conhecimento depende da interação entre as estruturas inatas do sujeito e os dados provenientes do meio. Os cinco conceitos-chave da teoria cognitiva de Piaget são: esquema, adaptação, assimilação, acomodação e equilibração. 1. Esquema – ações fundamentais do conhecimento que podem ser físicas (visão, sucção) ou mentais (comparação e classificação). As experiências novas são assimiladas num esquema e o esquema é criado ou modificado por acomodação. 2. Adaptação – modificação dos comportamentos que permitem o equilíbrio das relações entre o organismo e o meio. Este processo decorre da assimilação (integração de novos conhecimentos nas estruturas anteriores) e da acomodação (as estruturas mentais modificam-se em função das situações novas). 3. Equilibração – provoca uma autoestruturação do sujeito. Este processo desenvolve-se por etapas, a que Piaget dá o nome de estádios de desenvolvimento. Estádio sensório-motor (até aos 2 anos) – a criança apresenta uma inteligência prática, em que não há linguagem nem a capacidade de representar mentalmente os objetos. É nesta fase que aparece a noção da permanência do objeto: a criança procura um objeto escondido porque tem a noção de que o objeto continua a existir mesmo quando não o vê. Estádio pré-operatório (2 anos / 6-7 anos) – é neste estádio que emerge a função simbólica, isto é, a capacidade de representar mentalmente objetos ou acontecimentos que não ocorrem no presente, através de objetos, palavras e gestos. Os objetos passam a representar o que a criança deseja: um garfo pode ser o telefone, etc. Nesta fase, a criança já pensa mas ainda não é capaz de fazer operações mentais. É um pensamento intuitivo baseado na perceção dos dados sensoriais, imaginários e intuitivos. A criança responde com base naquilo que vê (exemplo: dois copos com a mesma quantidade de líquido mas um de base mais larga e outro mais alto). Outra característica deste estado é o egocentrismo: a criança é incapaz de perceber que existe outra realidade para além da sua. Estádio das operações concretas (6-7 anos / 11-12 anos) – o pensamento é mais lógico, desenvolvendo conceitos e sendo capaz de realizar operações mentais. No entanto, só é capaz de resolver os problemas se estiver na presença dos objetos e situações. A criança desenvolve a noção de conservação da matéria (já é capaz de perceber que apesar da forma dos copos ser diferente, a quantidade de líquido é a mesma) sólida e líquida e, mais tarde, do peso e do volume. Desenvolve também os conceitos de tempo, espaço, número e lógica. Estádio das operações formais (11-12 anos / 16 anos) – aparecimento do pensamento abstrato, lógico e formal. 1. A distinção entre o real e o possível – o adolescente é capaz de raciocinar com sentido acerca de situações que nunca vivenciou. 2. Raciocínio hipotético-dedutivo - coloca mentalmente as hipóteses e deduz as consequências. 3. Egocentrismo intelectual – o jovem considera que através do seu pensamento pode resolver todos os problemas e que as suas ideias e convicções são as melhores. Metodologia de Investigação: Piaget centrou-se sobretudo na aplicação do método clínico (entrevistava crianças sobre o que pensavam, assumindo uma atitude de abertura: as respostas das crianças guiam o próprio diálogo) e na observação naturalista (observação naturalista dos seus filhos, dos filhos dos seus amigos, de crianças em várias situações do dia a dia, etc.)