1 INTRODUÇÃO O perfil profissional do enfermeiro na atualidade exige que esteja focado em um modelo de gestão por resultados. o modelo gerencial com foco em resultados, o investimento em recursos humanos para desenvolvimento de competências profissionais e o trabalho integrado multidisciplinar determinaram transformações no processo de trabalho dos enfermeiros, tendo como conseqüência a necessidade de uma nova capacitação desses profissionais. (MARTINS et al.2006,p.4) Além disso, o enfermeiro necessita concomitantemente associar o seu trabalho burocrático, quando relacionados àqueles de sua competência com o atendimento humanizado do paciente e, assim sendo, proporcionar à organização um trabalho eficiente e eficaz satisfazendo ambos os lados. Martins (et al.2006, p.4 in Fleury,2000) explica também a questão da competência profissional: Entenda–se aqui por competência profissional o saber agir responsável e reconhecido, que implica mobilizar, integrar, transferir conhecimentos, recursos e habilidades, que agreguem valor econômico à organização e valor social ao indivíduo, adicionando à noção de competência, o conceito de entrega, de contribuição. A atuação do profissional é como agente de transformação de conhecimentos, habilidades e atitudes, em competências entregues à organização, ressaltando o entendimento de agregação de valor como algo que a pessoa entrega para a organização de forma efetiva, de forma a melhorar processos ou introduzir tecnologias e não somente como atingir metas organizacionais. Diante disso, esse trabalho de conclusão de curso tem por objetivo apresentar uma análise crítica sobre a importância do arquivamento de dados e prontuários médicosocupacionais para enfermagem e foi motivada pela observação cotidiana dos atendimentos realizados no Serviço de Saúde Ocupacional de uma determinada empresa, onde o acesso aos prontuários, quando solicitados pelos médicos, encontravam-se arquivados de forma desordenada, dificultando e / ou retardando o atendimento dos clientes que buscavam o setor. Sendo assim, surgiu o seguinte questionamento: de que forma o enfermeiro pode contribuir para a gestão da saúde 10 no que tange ao registro adequado das informações e arquivamento dos prontuários? Dessa forma busquei conhecer o papel do enfermeiro frente ao processo de Gestão em Saúde no que concerne ao registro das informações e arquivamento de prontuários, bem como na manutenção de arquivos administrativos, gerenciais e científicos, além da necessidade de aperfeiçoar o atendimento ao cliente com vistas a torná-lo mais eficiente e eficaz, verificar formas de facilitar o manuseio dos prontuários, descrever critérios de elaboração e atualização de prontuários de clientes e citar critérios para guarda legal e disponibilização dos prontuários médicos aos profissionais de saúde, para o desenvolvimento da assistência, ensino e pesquisa. E a partir daí foram levantadas as hipóteses de que a atuação do enfermeiro como gerente da assistência de enfermagem no atual mundo globalizado é relevante, levando-se em consideração seu conhecimento no que concerne à importância dos registros e arquivamento dos prontuários; o preparo deste profissional (o enfermeiro) para exercer seu papel no contexto de competências gerenciais, é hoje amplamente difundido como modelo de gestão; é de suma importância o desenvolvimento de competências gerenciais nos enfermeiros, desde a formação na graduação e de forma contínua nos serviços e que um prontuário arquivado e organizado de forma desordenada, resulta na ineficiência do atendimento ao cliente. Com base nas hipóteses descritas acima, a metodologia do trabalho apresenta um caráter documental, bibliográfico, e, o desenvolvimento da mesma levou em consideração a observação a partir do acesso aos prontuários, bem como na coleta em fontes bibliográficas e virtuais que abordam o tema em questão. Este trabalho trata-se de uma revisão de literatura e foi estruturado em capítulos. O capítulo 1 aborda o arquivamento de dados e prontuários, envolvendo diversos conceitos sobre arquivo, bem como sua historicidade; as questões referentes ao prontuário, seus diversos conceitos e definições; histórico e evolução; um confronto entre o prontuário manual e o eletrônico, levantando os aspectos relevantes de cada um, finalizando com a questão do sigilo das informações contidas nos prontuários 11 médicos; o capítulo 2 envolve as questões ligadas às competências dos profissionais de enfermagem, destacando o papel do enfermeiro (a) na gestão da saúde. Nos anexos constam as fotografias do arquivo médico autorizadas pelo chefe do Setor de Saúde Ocupacional, entretanto sem a revelação do nome da empresa; o objetivo destas é fazer um comparativo enfatizando a forma correta de se arquivar documentos, a ergonomia necessária para a realização das atividades, bem como tornar o atendimento ao cliente, mais eficiente e eficaz, tendo como suporte o gerenciamento do enfermeiro. 12 2 REFERENCIAL TEÓRICO 2.1 ARQUIVAMENTO O programa de administração de documentos tem suas origens na época colonial, que até então, estavam organizados pelo sistema de arquivamento da Inglaterra. Quando se estabeleceu o governo americano, receberam-se todos os materiais documentais da administração anterior ao governo. Após o primeiro presidente tomar posse, em 1780, os arquivos foram entregues a vários departamentos como o de Estado, o da Guerra, e o do Tesouro. Não existia uma política clara para os arquivos, mas o Congresso conseguiu elaborá-los e conserválos. Em 1800, antes da sede do Congresso se estabelecer em Washington, os arquivos foram extraviados durante sua transferência. Com a criação e acúmulo de muitos arquivos, houve uma pressão crescente para eliminar aqueles que não tinham valor. Durante a Guerra Civil, geraram-se muitos documentos com pouco valor. Como foi visto, o sistema de arquivamento americano foi um marco na administração de documentos, cujo modelo é usado por outras instituições. O programa de gestão de documentos surgiu quando "estava havendo" um grande acúmulo de documentos inúteis ocupando um significativo espaço físico, durante a Guerra Civil em 1875. Desde então foi aprovada pelo Congresso uma lei que definia uma política definitiva na eliminação de documentos desnecessários. A parte mais importante da história dos arquivos americanos foi a construção de um edifício que abrigaria os documentos de valor permanente. 13 2.2 O ARQUIVO A palavra archives de origem grega é definida no Oxford English Dictionary como: a) lugar onde são guardados os documentos públicos e outros documentos de importância; e b) registro histórico ou documento assim preservado. De acordo com a Associação de Arquivistas Brasileiros (1997): “Arquivo é o conjunto de documentos que, independentemente da natureza ou do suporte, são reunidos por acumulação ao longo das atividades de pessoas físicas ou jurídicas, públicas ou privadas”. Os conjuntos de atas de reuniões de Diretoria, de projetos de pesquisa e de relatórios de atividades, mais os conjuntos de prontuários médicos, de boletins de notas, de fotografias etc., constituem-se o arquivo de uma unidade, por exemplo, e devem naturalmente refletir as suas atividades. Arquivo também pode ser definido como a entidade ou órgão administrativo responsável pela custódia, pelo tratamento documental e pela utilização dos arquivos sob sua jurisdição. Casanova (1928, p.37-38) define arquivos como: a acumulação ordenada de documentos criados por uma instituição ou pessoa no curso de sua atividade e preservados para a consecução de seus objetivos políticos, legais e culturais, pela referida instituição ou pessoa. Já Brenneke (1953, p.37) define arquivos como: “o conjunto de papéis e documentos que promanam de atividades legais ou de negócios de uma pessoa física ou jurídica e se destinam à conservação permanente em determinado lugar como fonte de testemunho do passado.” Baseados nas primeiras definições pode-se dizer que existem vários tipos de arquivos, tudo depende dos objetivos e competências das entidades que os produzem. Segundo as entidades criador-mantenedoras, os arquivos podem ser 14 classificados em: públicos (federal, estadual, municipal); institucionais (escolas, igrejas sociedades, clubes, associações); comerciais (empresas, corporações, companhias) e pessoais (fotos de família, cartas, originais de trabalhos etc.). Têm-se também os arquivos que guardam e organizam documentos cujas informações são registradas em suportes diferentes do papel: discos, filmes, fitas e são chamados de Especiais. Estes podem fazer parte de um arquivo mais completo; existem aqueles que guardam documentos gerados por atividades muito especializadas como os Arquivos Médicos, de Imprensa, de Engenharia, Literários e que muitas vezes precisam ser organizados com técnicas e com materiais específicos. São conhecidos como Arquivos Especializados. 2.1.1 História Segundo Schellenberg (2002, p.25): Os arquivos como instituição, provavelmente, tiveram origem na antiga civilização grega. Nos séculos V e IV a.C os atenienses guardavam seus documentos de valor no templo da mãe dos deuses, isto é Metroon, junto à corte de justiça na praça pública em Atenas. No templo conservavam-se os tratados, leis, minutas da assembléia popular e demais documentos oficiais. Entre outros, havia o discurso que Sócrates escrevera em sua própria defesa, manuscritos de peças de Ésquilo, Sófocles e Eurípides e as listas dos vencedores das olimpíadas. Esses documentos foram conservados e transmitidos desde os tempos primitivos, até talvez o século III da era cristã, na forma de rolos de papiro. Embora não sejam atualmente guardados em arquivos, a sua preservação inicial ocorreu em tais instituições. O desenvolvimento atingido pelos arquivos, durante o declínio das civilizações antigas e na Idade Média, exerce alguma influência no caráter dos arquivos que apareceram no início da Idade Moderna. O autor continua informando que: Durante a Revolução Francesa foram destruídas as instituições que se haviam desenvolvido gradativamente desde os tempos feudais. Atingidas as instituições do Estado, posteriormente outras, como as religiosas e econômicas, foram igualmente exterminadas. (SCHENLLENBERG 2002,p. 26). 15 No fervor da Revolução, em 1879, a Assembléia Nacional criou um arquivo no qual deveriam ser guardados e exibidos os seus atos. Um ano depois, por decreto, esse arquivo tornou-se os Archives Nationales de Paris. Foi o primeiro arquivo nacional criado no mundo. Durante todo o período da Revolução Francesa, os documentos foram considerados básicos para a manutenção de uma antiga sociedade e para o estabelecimento de uma nova. Os documentos da sociedade antiga foram preservados principalmente, para usos culturais; os da nova sociedade o foram para proteção de direitos públicos. O reconhecimento da importância dos documentos para a sociedade foi uma das grandes conquistas da Revolução Francesa, resultando em importantes realizações no campo arquivístico: a) criação de uma administração nacional e independente dos arquivos; b) proclamação do princípio de acesso do público aos arquivos; c) reconhecimento da responsabilidade do Estado pela conservação dos documentos de valor, do passado. (SCHENLLENBERG 2002, p. 27) Cerca de 50 anos mais tarde, impulsionado pelos historiadores, em 14 de agosto de 1838, foi criado na Inglaterra um arquivo central, o Public Record Office que tiveram razões de ordem prática e cultural para serem criados, visto as condições em que os documentos oficiais se encontravam. Desde o desenvolvimento da Arquivologia como disciplina, a partir da segunda metade do século XIX, talvez nada tenha sido tão revolucionário quanto o desenvolvimento da concepção teórica e dos desdobramentos práticos da gestão. A gestão de documentos é uma operação arquivística, "o processo de reduzir seletivamente a proporções manipuláveis a massa de documentos, que é característica da civilização moderna, de forma a conservar permanentemente os que têm um valor cultural futuro, sem menosprezar a integridade substantiva da massa documental para efeitos de pesquisa” (JARDIM, 1987). Embora sua concepção teórica e prática tenha se desenvolvido após a Segunda Guerra Mundial, a partir dos EUA e do Canadá, a gestão de documentos teve suas raízes no final do século XIX, em função dos problemas detectados nas administrações públicas destes dois países, referentes ao uso e guarda da documentação. Na primeira metade do século XX criaram-se comissões que visavam tornar mais eficiente o uso dos documentos por parte da administração 16 pública. Vale ressaltar que, durante esse período, as instituições arquivísticas (públicas) caracterizavam-se pela função de órgãos estritamente de apoio à pesquisa, comprometidas com a conservação e o acesso aos documentos considerados de valor histórico. Paralelamente, iniciava-se a era da chamada administração "científica", que procurava mostrar aos administradores como racionalizar o processo administrativo, desenvolvendo suas atividades de forma menos dispendiosa, melhor e mais rápida. A palavra-chave das administrações dos países desenvolvidos - sobretudo gestão de documentos os E U A passaram a ser eficiência. A aplicação dos princípios da administração científica para a solução dos problemas documentais gerou o conjunto de princípios da gestão de documentos, os quais resultam, sobretudo, na necessidade de se racionalizar e modernizar as administrações. Não se tratava de uma demanda setorizada, produzida a partir das próprias instituições arquivísticas. A gestão de documentos veio a contribuir para as funções arquivísticas sob diversos aspectos, ao garantir que as políticas e atividades dos governos fossem documentadas adequadamente; ao garantir a melhor organização desses documentos, caso tivessem valor permanente; ao inibir a eliminação de documentos de valor permanente ao definir criteriosamente a parcela dos documentos que constituiriam o patrimônio arquivístico do país, ou seja, 5% da massa documental produzida (UNESCO, 1983). No VIII Congresso Internacional de Arquivos, realizado em Washington, em 1976, gerou maior consciência em todo o governo, no caso norte-americano, quanto ao significado dos documentos, qualquer que fosse o suporte, e as suas necessidades de conservação. As instituições arquivísticas públicas, particularmente os Arquivos Nacionais dos Estados Unidos e do Canadá, adquiriram uma nova feição, assumindo também a função de órgão de apoio à administração pública, com a competência de orientar programas de gestão de documentos nos diversos órgãos governamentais. Considerando a literatura da área e as práticas desenvolvidas em alguns países, pode-se sugerir que as políticas arquivísticas têm como pressupostos: o reconhecimento da informação governamental como um recurso fundamental para o 17 Estado e a sociedade civil; a informação governamental contempla a sociedade civil com o conhecimento do Estado e da própria sociedade civil - passado e presente; a informação assegura transparência ao Estado, facilitando ao governo administrar suas diversas funções sociais; o livre fluxo de informação entre Estado e sociedade civil é essencial para uma sociedade democrática: cabe, assim, ao governo minimizar a carga de demanda sobre a sociedade civil, diminuindo o custo de suas atividades de informação e maximizando a utilização da informação governamental; os benefícios sociais derivados da informação governamental devem exceder os custos públicos da informação, ainda que tais benefícios não possam ser sempre quantificáveis; a gestão de documentos (correntes e intermediários) governamentais é essencial para assegurar transparência e, em conjunto com a administração dos arquivos permanentes, proteger os documentos históricos e assegurar direitos legais e financeiros ao Estado e à sociedade; o intercâmbio transparente e eficiente da informação científica e tecnológica, estimula a excelência na pesquisa científica e o uso efetivo dos recursos públicos de apoio à pesquisa e ao desenvolvimento;a tecnologia da informação não é um fim em si mesmo, trata-se de um conjunto de recursos que auxilia a efetividade e eficiência das ações do governo. No Brasil, o Arquivo Nacional, criado em 1838, foi o órgão central do Sistema de Gestão de Documentos de Arquivos (SIGA), da administração pública federal. Integrante da estrutura básica da Casa Civil da Presidência da República, estando diretamente subordinado à Secretaria-Executiva. O Arquivo Nacional tem por finalidade implementar e acompanhar a política nacional de arquivos, definida pelo Conselho Nacional de Arquivos (CONARQ), por meio da gestão, do recolhimento, do tratamento técnico, da preservação e da divulgação do patrimônio documental do País, garantindo pleno acesso à informação, visando apoiar as decisões governamentais de caráter políticoadministrativo, o cidadão na defesa de seus direitos e de incentivar a produção de conhecimento científico e cultural. No, Rio de Janeiro, o acervo de documentos textuais é proveniente dos poderes executivo, judiciário e legislativo e inclui também coleções privadas. A 18 correspondência e a legislação geradas em todo o império ultramarino português, os arquivos vindos com D. João VI em 1808, entre tantos outros, descrevem o início da sociedade brasileira. Com a ruptura do vínculo colonial, a formação do Estado imperial pode ser conhecida por meio dos documentos produzidos pelos ministérios, pelo poder judiciário e nos originais da Constituição de 1824 e da Lei Áurea. O início da República, no contexto da transição do trabalho escravo para o trabalho livre, é descrito nos conjuntos documentais produzidos pelo novo regime, em que se destaca a documentação sobre a entrada de imigrantes, patentes de inventos, livros de registro civil, processos de pretorias criminais, projetos de urbanização e de obras de saneamento originários das primeiras décadas do século XX. Na história recente do país, pode-se destacar o conjunto das Constituições Federais, os processos das pretorias cíveis e criminais, do Tribunal de Segurança Nacional, da Divisão de Censura e Diversão Pública e documentos de instituições como o Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial. (ARQUIVO NACIONAL, 1838). Ainda sobre o Arquivo Nacional: Entre os arquivos e coleções públicas e privadas, destacam-se o acervo audiovisual e cartográfico, formado por mapas e plantas, projetos e cartas de diferentes formatos e escalas; a iconografia, com os acervos do jornal Correio da Manhã, composto por fotografias produzidas entre as décadas de 1930 e 1970, e da Agência Nacional, correspondendo ao período de 1935 a 1979, além de fotografias, álbuns e negativos fotográficos, a documentação iconográfica inclui inúmeros cartazes, gravuras, caricaturas, charges e diapositivos; o acervo sonoro e o de imagens em movimento, referentes ao período entre os anos de 1937 e 1990, são procedentes da Rádio Mayrink Veiga, da Agência Nacional, da Divisão de Censura de Diversões Públicas, da Radiobrás, da TV Tupi, e de coleções particulares como o ex-presidente José Sarney, além de matrizes da produção cinematográfica brasileira contemporânea que formam a coleção da Cinemateca do Museu de Arte Moderna - MAM, do Rio de Janeiro. (ARQUIVO NACIONAL, 1838) A Coordenação-Regional do Arquivo Nacional no Distrito Federal (COREG) foi criada em 1975 e ocupou, inicialmente, as dependências da Biblioteca Central da Universidade de Brasília. Durante os anos de 1980 a 1999, também em caráter 19 provisório, ficou sediada nas instalações da Imprensa Nacional quando passou a funcionar em prédio próprio. Uma importante atribuição da Coordenação é oferecer apoio técnico às unidades produtoras de documentos públicos, tendo como objetivo garantir a preservação e o acesso eficaz aos acervos documentais gerados pelos órgãos da Administração Pública Federal. A Coordenação-Regional também possui uma equipe de conservadores que mantém um laboratório de restauração e um ateliê de encadernação os quais prestam assistência técnica aos órgãos do Poder Executivo Federal. A Coordenação Regional do Arquivo Nacional mantém cerca de 12 km de documentos, com datas-limite de 1724 a 2000, abrangendo conjuntos documentais provenientes de vários órgãos federais das regiões norte, nordeste, centro-oeste e Distrito Federal. Entre eles, destacam-se os acervos da Delegacia Regional de Mato Grosso do Ministério da Fazenda (1724-1964) com documentos sobre escravidão e a economia da região; do Serviço de Polícia Marítima, Aérea e de Fronteiras (19361987) com os registros de entrada de estrangeiros no Brasil; e da Divisão de Censura e Diversões Públicas (1960-1988), entre outros. A COREG foi concebida originalmente com o objetivo de ser um depósito intermediário dos órgãos do Poder Executivo, isto é, um espaço para a guarda dos documentos administrativos de caráter provisório os quais, após avaliação, passam para a guarda permanente da coordenação. Assim, seu acervo foi constituído com documentos dos Ministérios da Justiça, das Minas e Energia, da Educação e dos Transportes, entre outros, além daqueles provenientes de órgãos extintos como os do Banco Nacional de Crédito Cooperativo e os da Siderurgia Brasileira (SIDERBRAS). Em dezembro de 2005 a Coordenação-Regional recebeu para a guarda permanente os acervos dos extintos Serviço Nacional de Informações (SNI), Conselho de Segurança Nacional (CSN) e Comissão Geral de Investigações (CGI), cabendo ao Arquivo Nacional garantir o acesso a esses documentos. Atualmente os 20 três acervos podem ser consultados em uma base de dados o que agiliza as consultas probatória e acadêmica, assim como a emissão de certidões. Desde fevereiro de 2006, foram atendidas mais de mil pessoas interessadas na busca de informações que atestem direitos e comprovem, em muitos casos, a perseguição, a prisão e outras ações repressivas do Estado durante o regime militar. Dando continuidade à política da Casa Civil da Presidência da República de recolhimento de acervos dessa natureza, a Coordenação recebeu, recentemente, processos produzidos pelo Ministério da Justiça, documentação da Divisão de Segurança e Informações do Ministério das Relações Exteriores, e um novo conjunto de documentos do Conselho de Segurança Nacional o qual estava sob a guarda do Gabinete de Segurança Institucional. Desse modo, a COREG vem formando um importante núcleo de acervos com uma temática comum, cuja ênfase é a repressão política no Brasil, realizada pelos órgãos integrantes do sistema de segurança e informações nas décadas de 1960 a 1980. 2.3 O PRONTUÁRIO Apesar de erroneamente enfocar que a história da Medicina seja a ação médica exclusiva, não se pode, na atualidade, ignorar os diversos elos que unem a evolução clínica do paciente, com a ação do enfermeiro, nutricionista, assistente social, psicólogo, auxiliar de enfermagem; enfim, uma gama de profissionais atuantes, formando a equipe multidisciplinar, que tem a obrigatoriedade, responsabilidade individual e, em conjunto, manter um relacionamento horizontal informativo com o paciente trazendo-lhe segurança e bem-estar, bem como registro de sua atuação em um único documento , o prontuário médico. A justificativa corrobora para chamar a atenção dos profissionais de saúde e funcionários de clínicas e hospitais que manipulam o prontuário diariamente quanto 21 à responsabilidade pela integridade do conjunto documental, e assim possam estar a cada dia contribuindo para elevar o nível de qualidade das informações inseridas no prontuário desde a admissão do paciente até a sua alta hospitalar. O paciente estará mais bem amparado dado a precisão das informações, quando necessitar esclarecer a qualquer tempo algo sobre sua vida médica para outros, judicialmente ou não. 2.3.1 Conceitos e Definições Vários autores apresentaram inúmeras definições para o prontuário. Para Leal e Zimmermann (2002), “a Ficha Clínica é o documento onde deverão constar dados referentes à identificação do paciente, sua história médica e odontológica.” Sobre o prontuário médico é possível dizer que este é constituído de um conjunto de documentos padronizados, contendo informações geradas a partir de fatos, acontecimentos e situações sobre a saúde do paciente e a assistência prestada a ele, de caráter legal, sigiloso e científico, que possibilita a comunicação entre membros da equipe multiprofissional e a continuidade da assistência prestada ao indivíduo. O prontuário é um instrumento valioso para o paciente, para o médico e demais profissionais de saúde. O correto e completo preenchimento do prontuário tornam-se grandes aliados do médico para sua eventual defesa judicial junto a autoridade competente. Este documento é importante também para a instituição, quando utilizado para o ensino, a pesquisa, a elaboração de censos, propostas de assistência à saúde pública e para a avaliação da qualidade da assistência médica prestada. O Prontuário do Paciente denominado, ainda hoje, de Prontuário Médico, no entanto, em nível internacional, esta abordagem está se modificando para uma visão que parte do usuário, provedor de todas as informações constantes no prontuário e principal beneficiário destas. Sobre isso, Novaes (1987); Lawlor e Stone (2001) 22 afirmam que o adjetivo „Médico‟, empregado para os Prontuários, não parece refletir adequadamente a situação e, por este motivo, está sendo progressivamente substituído por „Paciente‟. Tem-se na literatura várias definições acerca do tema proposto, e segundo Tommasi (1989, p.15-33); Genovese (1992,p.356-357), quanto ao termo prontuário: ... é necessário um exame sistemático, ordenado e completo, através de um prontuário bem elaborado, [...] cada profissional ou instituição utiliza um prontuário ou ficha clínica que julgar conveniente, não sendo obrigada uma padronização...”; “[...] o prontuário odontológico faz parte hoje, de forma irrefutável, do arsenal diagnóstico dos dentistas, enfatizando que fotografias, modelos, radiografias e outros elementos também devem compor esse prontuário. Ao analisar o texto percebe-se que não há consenso na literatura sobre qual o formulário ideal, aquele que pode contribuir para, e não prejudicar, a boa dinâmica da consulta e maior precisão nos diagnósticos formulados. Para Massad; Marin; Azevedo Neto (2003, p.213): será apenas um elemento acessório e conseqüente nesse processo, que depende fundamentalmente do compromisso com a qualidade da atenção ao paciente no serviço e a competência profissional, tanto para o generalista quanto para o especialista. Entretanto, o prontuário apesar de ser o instrumento mais utilizado pelo médico e sua equipe é também subestimado na sua importância ético-legal, principalmente quando os profissionais têm a sua conduta médica questionada e respondem por erro médico. Poucos da área de saúde conseguem alcançar a importância destes documentos, onde ficam registrados todos os atos profissionais. E alguns até desconhecem os artigos 69 e 70 do Código de Ética Médica que rezam respectivamente: a obrigatoriedade de se elaborar o prontuário de cada paciente e 23 que não se pode negar ao mesmo o acesso ao seu prontuário, ficha clínica ou similar e prestar esclarecimentos quando solicitados para facilitar a sua compreensão. Segundo Deborah Pimentel (2007, p.1): “Alguns médicos até se ofendem com este pedido, mas não se pode esquecer que o prontuário pertence ao paciente ainda que o hospital e o médico sejam os guardiões desta documentação”. Considerando o prontuário como um instrumento tão valioso, os médicos precisam ficar atentos sobre a precisão das informações, tornando-o de fato um registro completo não esquecendo de relatar as coisas mais elementares como a identificação completa do paciente com seu nome completo, data de nascimento, estado civil, sexo, nome da mãe e endereço. Nesse documento, além de não poder faltar a identificação do médico, a história clínica, exame físico, hipóteses diagnósticas, exames complementares e tratamento devem ser bem registrados sem economia de palavras, sem abreviaturas, salvo as consagradas pela literatura médica, e em letra legível, evitando os já famosos garranchos, motivos de piada e dores de cabeça, em algumas circunstâncias, principalmente na prescrição terapêutica, induzindo o farmacêutico ao erro e troca de medicações. Todas as evoluções e prescrições do paciente devem estar anotadas de forma minuciosa com datas e horário da avaliação. Os resultados dos exames solicitados devem estar todos transcritos. E se o paciente não fizer aderência ao tratamento também deve ser anotado. Maus resultados podem ser exatamente pela desobediência do paciente sobre recomendações médicas, fatos corriqueiros; as indicações ou transferências devem ser registradas e principalmente se o paciente concordou ou não com determinados procedimentos quer diagnósticos quer terapêuticos. O prontuário médico do paciente é o documento mais importante produzido pelas unidades hospitalares. Constitui-se em documento único, padronizado, organizado e conciso onde estão registrados os cuidados médicos prestados ao paciente desde o início do seu tratamento médico até a alta hospitalar. São a partir 24 desses documentos que são levantadas informações que podem ser compartilhadas entre os profissionais de saúde das Unidades, dando suporte à assistência e à avaliação do paciente. Os prontuários possuem valor secundário, ou seja, contém informações capazes de responder a questões diversas daquelas para as quais foram criados. Não são apenas a base do tratamento médico, são verdadeiros dossiês que podem ser utilizados para a avaliação dos serviços prestados pelo hospital, para pesquisas na área médica e nas áreas de ciências humanas (História, Sociologia e outras áreas). De acordo com a Resolução do Conselho Federal de Medicina nº 1331/89: O prontuário médico também possui valor jurídico, sendo utilizado como elemento de prova; sua guarda deve ser no mínimo por 20 anos, a contar do último atendimento; é um documento de manutenção permanente pelos médicos e estabelecimentos de saúde. Entre as diversas características, o prontuário ganha relevância por ser uma fonte de dados confiáveis, inteligíveis e recuperáveis; um meio para avaliar/ensinar os cuidados dispensados aos pacientes; uma base para a Instituição com a finalidade de ensino, pesquisa e assistência, além de ser uma estrutura organizada de modo a permitir realizar qualquer atendimento com agilidade. Os prontuários, assim como os documentos de arquivo em geral, passam por estágios de evolução, denominados pela Arquivologia como fases: corrente, intermediária e permanente. Segundo Oliveira (2008,p.2): A documentação permanente corresponde aos prontuários inativos e a corrente aos prontuários ativos. O prontuário médico deve estar organizado internamente de forma racional e coerente de maneira a agilizar o levantamento de informações sobre o paciente e o tratamento médico. Deve estar escrito de forma legível e conter: ficha clínica, exames complementares, evolução clínica, procedimentos cirúrgicos, prescrição médica, resumo de alta ou óbito, dentre outros. 25 2.3.2 Histórico e Evolução Com o surgimento da escrita por volta de 3000 a.C., iniciou-se a fase do registro histórico do conhecimento humano. “A cidade da Babilônia, durante a dinastia Hamurábi (1728 - 1686 a.C.), deixou inúmeras tábuas de argila com conhecimento de botânica e zoologia que são preservadas até os dias atuais” (LOPES, 1999). “Os egípcios também deixaram uma série de papiros datados dos séculos XIV, XV e XVI a.C. que são os documentos mais antigos relacionados à medicina egípcia.” (LOPES, 1999). Porém, foi após Hipócrates (século IV a.C.) que a medicina teve sua transição do caráter mitológico para o uso do pensamento lógico científico, quando se estabeleceu uma abordagem racional para encontrar as explicações para os fenômenos naturais. Os estudos de Hipócrates foram reunidos na grande biblioteca de Alexandria no século IV a.C., que se compõe de 72 livros e 59 tratados, o que leva a crer que a compilação colheu textos de diversos professores e praticantes da medicina. “A hipótese de que a obra de Hipócrates tenha sido escrita por mais de uma pessoa é aceita hoje em dia” (LOPES, 1999). Após a racionalização da prática da medicina, o registro médico tornou – se prática entre os adeptos ao pensamento pós-hipocrático. Os prontuários têm sua existência há mais de 2000 anos, no Antigo Egito. No entanto encontra-se em vigorosa discussão atual, o conteúdo e importância desse 26 instrumento de comunicação. Sabe-se que é competência das instituições a elaboração e desenvolvimento dos documentos que devem constar no prontuário. De acordo com Riolino; Kliukas ; Motta (2003, p 35-38): em toda instituição deve existir um Comitê de Revisão de Prontuário composto por uma equipe multiprofissional cuja função é: avaliar a existência de informações pertinentes ao atendimento prestado e seu registro em impressos institucionais, identificando, propondo e verificando ações de melhoria. Mediante todas as funções atribuídas a esse instrumento, sua importância e utilização por uma equipe multiprofissional consideram-se, sua suscetibilidade a erros e imprecisões. Logo uma análise aprofundada e imparcial de seu conteúdo deve ser realizada por meio da auditoria. O prontuário de papel vem sendo usado há vários anos e segundo Ginneken (1995); Bemmel (1997), “desde o século V, quando Hipócrates estimulou os médicos a fazerem seus registros por escrito.” Na revisão bibliográfica realizada, Slee, V; Slee, D; Schmidt (2000) relatam que: o prontuário foi desenvolvido por médicos e enfermeiros para garantir que se lembrasse de forma sistemática dos fatos e eventos clínicos sobre cada indivíduo de forma que todos os demais profissionais envolvidos no processo de atenção de saúde pudessem também ter as mesmas informações. Florence Nightingale (1820-1910), precursora da Enfermagem Moderna, durante a Guerra da Criméia (1853-1856) já relatava que a documentação das informações relativas aos doentes era de fundamental importância para a continuidade dos cuidados ao paciente. “Os dados, a partir de então, passam a serem as observações descritas pelos médicos, não mais apenas os sintomas relatados pelo paciente”. (NIGHTINGALE apud MÜLLER, 2006, p.3). 27 Para Ginneken (1995): “em 1907, Plummer introduz o registro por paciente, assim como em 1920, os médicos se preocupam com a metodologia do registro e com uma padronização para as observações.” (GINNEKEN, 1995, p.61-70) Massad; Marin; Azevedo Neto (2003) afirmam que: em 1969 Lawrence Weed introduz a idéia de prontuário orientado pelo problema, onde se identificam os problemas de saúde do paciente e as anotações são registradas e seguidas de acordo com uma estrutura sistemática de registro de dados. Dentre os aspectos legais a respeito do prontuário, Silva (1999), diz que: “o prontuário é passível de ser realizado por todo e qualquer profissional, podendo ser modificado ou adaptado à administração do consultório, desde que atenda às exigências legais para poder ser reconhecido judicialmente.” 2.3.3 Prontuário Manual X Prontuário Eletrônico Com o crescente aumento do volume de informações sobre o paciente, o registro médico tradicional em papel não tem sido suficiente para suprir todas as necessidades dos usuários da saúde. Os médicos de hoje não cuidam de uma pequena quantidade de pacientes, como faziam os médicos da família de antigamente; hoje pode ter milhares de pacientes, o que torna impossível lembrar-se dos detalhes clínicos de cada um (MARTHA, 2005, p.16) Além disso, existem alguns problemas críticos no prontuário em papel, como a falta de sistemática na inclusão de dados, o extravio, a redundância de informações e a dificuldade de recuperação seletiva das mesmas. Na tentativa de permitir que alguns dados sejam encontrados mais facilmente, esses podem aparecer mais de uma vez no prontuário médico 28 em papel (redundância) e com isso pode o prontuário tornar-se maior do que deveria e fazer a busca de informações mais ineficiente (SHORTLIFFE; BARNETT, 2001). Isso significa que, com o crescente volume de informações acerca do paciente, principalmente no âmbito organizacional, há necessidade de se manter um prontuário adicional contendo os exames mais antigos dos pacientes. Para alguns autores, fazer pesquisas com a leitura de vários prontuários em papel na busca de informações para a pesquisa clínica pode ser uma aventura tediosa, pois a informação está espalhada no prontuário. Ao longo dos anos, tem predominado na prática de enfermagem, nas unidades hospitalares, o sistema manual de registro dos cuidados prestados ao paciente. Em geral, todas as informações referentes às ações e observações realizadas pela equipe de enfermagem são registradas como um meio para gerenciar a assistência e avaliar a qualidade do atendimento. A enfermagem produz, diariamente, muitas informações inerentes ao cuidado dos pacientes. É possível estimar que ela seja responsável por mais de 50% das informações contidas no prontuário do paciente. Entretanto, compilar essa massa de informação, que cresce em progressão geométrica nos protocolos e registros manuais, torna ineficiente o gerenciamento para uma tomada de decisão racional e objetiva por parte dos enfermeiros. Além disso, há o fato de que as anotações são inconsistentes, ilegíveis e subjetivas, não havendo uma definição metodológica estruturada. Observa-se que os registros no prontuário do paciente são realizados, não só pelos enfermeiros, mas também pelos auxiliares de enfermagem, por meio de observações baseadas no estado geral do paciente e nas informações médicas. Por outro lado, há perdas no registro de informações dos prontuários, por serem muitas vezes ilegíveis e incompletos, além de conterem informações ambíguas. Some-se a isso a ocorrência de falhas nos mecanismos de armazenamento desses prontuários, gerando dificuldades quando se procura recuperar dados para fins de pesquisa e análise. O registro das ações de enfermagem no prontuário é um instrumento de 29 grande significado na assistência de enfermagem, sendo indispensável para a adequada prestação do cuidado ao paciente. O atual sistema de registro manual é considerado por muitos profissionais de enfermagem, limitado e ultrapassado. Além disso, alegam que os outros profissionais não lêem o que a enfermagem faz. Assim, para os enfermeiros, este sistema de registro não satisfaz a complexidade da assistência de enfermagem, considerando-o desmotivante. Pode-se inferir que a complexidade do assunto e a necessidade de mudar paradigmas na prática de enfermagem têm dificultado a implantação e a utilização dos diagnósticos de enfermagem no dia-a-dia do trabalho dos enfermeiros. Para eles, o registro torna-se algo enfadonho e desmotivante, porque, segundo estes profissionais, perdem tempo fazendo registros manuais, retratando dessa forma, a necessidade de mudanças na forma de desenvolver as anotações e no processo de sistematização do cuidado de enfermagem. Devido às dificuldades relatadas anteriormente sobre o prontuário em papel surgiu, então, a necessidade de criação do Prontuário Eletrônico do Paciente (PEP), visando uma melhoria no controle dos dados do paciente para melhor recuperação posterior, com acesso e distribuição rápidos, além da sua melhor organização. A necessidade de armazenamento de dados nos dias atuais não é um luxo e sim uma necessidade. Décadas atrás, o custo do armazenamento era muito alto, mas com a evolução da computação, os sistemas de hoje são capazes de armazenar cada vez mais informações e a um custo cada vez menor. O PEP (Prontuário Eletrônico do Paciente) surgiu, inicialmente, com o objetivo principal de controle de dados administrativo-financeiros de um hospital ou clínica visando o planejamento estratégico da instituição; porém, atualmente, os dados clínicos também assumem um papel fundamental nesse processo. ¹ _____________________ ¹ SHORTLIFFE, E.H.; BLOIS, M.S. The Computer Meets Medicine and Biology: Emergence of a Discipline In: SHORTLIFFE EH, PERREAULT LE, WIEDERHOLD G, FAGAN LM. Medical Informatics: Computer Applications in Health Care and Biomedicine. New York: Springer; 2nd Ed. 2001, p.3 – 40. 30 Porém, transformar um registro médico em papel para registro eletrônico, não é tarefa fácil. A maioria das informações médicas está em texto manuscrito e converter essa informação e introduzi-la em um banco de dados pode ser tarefa árdua e não completamente eficiente, pois nesta transição dados importantes sobre o paciente podem ser perdidos e/ou extraviados. Outra dificuldade que pode ocorrer é o ajuste cronológico entre o prontuário manual (que é organizado em pastas) e o eletrônico, pois ambos devem estar concatenados, e em caso de falha no sistema eletrônico, os prontuários manuais deverão estar na mesma ordem para que sejam localizados facilmente pelos profissionais da setor equipe médica. Enquanto os prontuários de papel são de conteúdo livre, o Institute of Medicine (IOM, 1997) define o prontuário eletrônico do paciente como: “um registro eletrônico que reside em um sistema especificamente desenhado para apoiar os usuários fornecendo acesso a um completo conjunto de dados, alertas e outros recursos”. Unindo, desta forma, todos os diferentes tipos de dados produzidos, em épocas diferentes, feitos por diferentes profissionais da equipe da saúde em distintos locais. Com o prontuário eletrônico todas as informações do paciente são trazidas de forma organizada, rápida e precisa. Podendo o mesmo ser acessado pelo setor de internação, de pronto socorro, de ambulatório e marcação de consultas, da farmácia e almoxarifado, de faturamento, centro cirúrgico, laboratório, de imagens ou pelo corpo clínico, ao mesmo tempo, em uma unidade hospitalar. Segundo informações do Departamento de Informática em Saúde da Universidade Federal de São Paulo, no que diz respeito às informações de cada paciente, a utilização da informática pode abranger, desde um nível básico de banco de dados de exames laboratoriais, até níveis mais complexos de intercâmbio e armazenamento de informações de diferentes departamentos ou em diferentes organizações. 31 Ainda sob a perspectiva do prontuário eletrônico, a Secretaria Municipal da Saúde de Curitiba adotou a CIPESC® (Classificação Internacional das Práticas de Enfermagem em Saúde Coletiva), num sistema operacional informatizado, para registro da consulta de Enfermagem. Este sistema interroga as potencialidades e os limites dos instrumentos de trabalho da Enfermagem em saúde coletiva para a captura da face coletiva dos indivíduos. Apresentando como objetivo a formulação das bases para a construção de uma ferramenta re-leitora do Processo Saúdedoença, com privilégio para a face coletiva, por meio da relação dialógica entre as categorias sociais e as variáveis funcionais contidas no sistema CIPESC® – Curitiba. A ferramenta propõe um modelo analítico de apoio à tomada de decisão, permitindo que ao atender o indivíduo, o sistema desvele sua face coletiva, por meio da interligação de dados num banco denominado “data warehouse”. Para captar a face coletiva, o banco deve integrar dados das subcategorias: perfil saúde-doença, fração de classes sociais, sexo, faixa etária e raça. As subcategorias, quando associadas, formam diferentes grupos homogêneos na constituição interna, e heterogêneos em relação à vulnerabilidade. Visualizam-se quatro graus de vulnerabilidade: nula, baixa, média e alta, de acordo com a qualificação dada por onze marcadores, que se diferenciam conforme a localização do indivíduo em condições de vulnerabilidade distintas. Há marcadores que sozinhos podem localizar o grau de vulnerabilidade alta como: morar em área de risco, estar desempregado e não ter renda. Outros marcadores, se encontrados em conjunto com as outras condições, elevam o grau de vulnerabilidade, como ser adolescente ou negro, levando à conclusão de que o prontuário eletrônico do paciente é capaz de levantar características do espaço singular e, ao captá-las, relacioná-las às categorias, desvelando a face social e atribuindo vulnerabilidade aos grupos sociais homogêneos, favorecendo com isso a um diagnóstico preciso da realidade vivenciada, além de permitir que cada paciente atendido possa ter acesso às suas informações, desde consultas a exames de imagem, passando por prescrições médicas, garantindo que estas informações possam ser acessadas por qualquer médico. 32 No trabalho de Massad; Marin; Azevedo Neto (2003,p.213): “os principais bloqueios para o uso do prontuário eletrônico seriam a falta de legislação que regulamente o uso do meio eletrônico como meio de armazenar o prontuário sem papel e o uso da assinatura digital.” Em relação aos aspectos legais e de segurança do prontuário eletrônico, sabe-se que não existe sistema impossível de ser violado, desta forma além da importância de se estabelecer mecanismos de segurança para acesso aos dados armazenados, como quem, quando e como pode ter acesso ao prontuário eletrônico do paciente, é fundamental dispor, além de sistemas de controle e monitorização, de um sistema que permita saber quem, quando e de que local foi acessado o prontuário. Conforme Moehr (1995, p.97): é fácil prever que os prontuários do futuro serão baseados em sistemas de informações conectados em rede, resultando em um “prontuário virtual”. Um sistema de informações integrado deve ter a capacidade para a comunicação e integração de todos os dados do paciente durante sua vida. Segundo Collen (1988, p.3-9): um dos fundamentos para melhorar a qualidade e a eficiência da assistência ao paciente é o de estabelecer e manter arquivos para funções administrativas e gerenciais, incluindo registro de pacientes, controle de admissões, marcação de consultas entre outros. Ante aos avanços tecnológicos, muitos profissionais de enfermagem ainda não estão familiarizados com a tecnologia da informação, nem com sistemas de informação. Essa situação pode causar insegurança quanto ao uso do computador e dificuldades no domínio do conteúdo da informática. Os enfermeiros precisam estar dotados de habilidades e conhecimentos necessários para atender as demandas de informação, associadas com a qualidade da assistência de enfermagem. 33 Embora alguns enfermeiros demonstrem ter pouco conhecimento e familiaridade com a tecnologia da informação, eles sentem necessidade de um sistema de informação computadorizado que permite o registro dos cuidados de enfermagem com mais rapidez e confiabilidade; naturalmente, o propósito do sistema de informação automatizado é tornar acessíveis os dados, além de garantirlhes uma melhor organização. A enfermagem, portanto, tem um papel importante nesse contexto, em virtude da complexidade de suas ações, bem como do volume de dados e informações que circulam em sua volta para registrar e organizar os dados clínicos no ambiente hospitalar e/ou organizacional, levando-se em consideração a diversidade de sua prática. Por essa razão, o sistema de informação em enfermagem deve ser eminentemente prático, ou seja, o seu desenvolvimento precisa ser extraído das necessidades dos profissionais de enfermagem que atuam diretamente na assistência ao paciente. 2.3.4 A Questão do Sigilo A obrigatoriedade da formulação de prontuário para cada paciente traz consigo não só a obrigação de documentação, com informações de todos os fatos evidenciados desde o diagnóstico, tratamento até a alta; como de sigilo e de informação, ainda que eletrônico. O dever de guarda deste documento pertence ao estabelecimento do qual foi instituído o contrato entre as partes, ficando em disponibilidade ao paciente quando solicitado e resguardado de pessoas alheias à relação contratual entre o profissional ou a instituição e o paciente, bem como a organização e o funcionário. 34 Assim dispõem os artigos 69, 70 e 108 do CEM (Código de Ética Médica), sob a Resolução nº 1.331/89 do CFM (Conselho Federal de Medicina), a guarda do prontuário é por tempo indeterminado. Mas, após dez anos, pode este ser substituído por registros resumidos, desde que se permita fornecimento de dados elucidativos ao interessado. De acordo com Alcântara (1979, p.253): É uma obrigação e um direito irmanados da moral e da lei, que o médico tem, diante do paciente, de não revelar fatos, considerados sigilosos, que tome conhecimento, direta ou indiretamente, no exercício de sua profissão. É um daqueles imperativos hipotéticos, da teoria de Kant, porque dele depende a confiança que a medicina precisa do paciente, para que seu fim seja alcançado. No sigilo hospitalar, está contido o sigilo médico, haja vista que aquele contém, no próprio prontuário médico, informações e relato da equipe multidisciplinar que atua junto ao paciente, devendo ser cuidadosamente preservado. Inclusive, às suas informações sigilosas devem ter acesso apenas o médico e o próprio paciente. Assim, a conservação documental e as informações reveladas pelo paciente devem ser mantidas sob sigilo, exceto por iniciativa do interessado ou por determinação judicial (sob restrições), é de fundamental importância. O sigilo médico está relacionado não só ao testemunho médico, como aos anexos que compõem o prontuário como: papeletas, boletins, folhas de rosto, evolução clínica e qualquer forma de anotação referente à evolução psicossocial– físico–clínico do referido paciente, que, antes de tudo, é um ser social. A obrigação do sigilo está nos seguintes artigos do Código de Ética Médica: “Art. 102 - Revelar fato de que tenha conhecimento em virtude do exercício de sua profissão, salvo por justa causa, dever legal ou autorização expressa do paciente.” 35 “Art. 109 - Deixar de guardar o segredo profissional na cobrança de honorários por meio judicial ou extrajudicial.” A evolução da informática vem, paulatinamente, adentrando as questões documentais na área da Medicina. Acredita-se que em um lapso pequeno de tempo, será de ação continuada na área de saúde, gravando-se assim imagens, relatórios, exames complementares e outros, trazendo redução tempo/espaço. No modelo de qualidade em uso, os atributos são classificados em quatro características: efetividade (refere-se à capacidade de o produto permitir aos usuários atingir metas com acurácia), produtividade (refere-se à capacidade de o produto permitir aos usuários utilizar uma quantidade adequada de recursos), segurança (refere-se à capacidade de o produto oferecer níveis aceitáveis de risco de danos), satisfação (refere-se à capacidade do produto em satisfazer os usuários). Especificamente, quanto à qualidade do software médico, a confiabilidade da representação está na: legibilidade (clareza, concisão, estilo, correção da representação, uniformidade de terminologia, uniformidade no grau de abstração) e manipulabilidade (disponibilidade da documentação, estrutura, rastreabilidade). As características de qualidade de sistemas de informação hospitalar, quanto à confiabilidade conceitual está na: Integridade (auditabilidade, sinalização, privacidade, prevenção e contingências, fidedignidade, cobertura, atualidade). Têmse, assim, como princípios básicos para a validade desse tipo de documentação e segurança da informação a: integridade, confidencialidade, disponibilidade e a legalidade. No seu conteúdo, deve conter a identificação do paciente, bem como anamnese, exames físicos e complementares e seus respectivos resultados, prognóstico, diagnóstico, tratamento indicado, tratamento efetivado, evolução diária médica e multidisciplinar se for o caso, ou seja, exatamente tudo o que manualmente se realiza, só que eletronicamente. Ratifica o artigo 6º do Conselho Federal de Medicina: 36 autorizar no caso de digitação dos prontuários a eliminação do suporte de papel dos mesmos, desde que a forma de armazenamento dos documentos digitalizados obedeça à norma específica de digitalização contida no anexo desta resolução e após análise obrigatória da Comissão Permanente de Avaliação de Documentos da unidade médico-hospitalar geradora do arquivo. A guarda permanente do prontuário médico arquivado eletronicamente deve ser em meio óptico ou magnético e micro filmado. Deve assim, estar o prontuário médico eletrônico submetido à integralidade e integridade de informação, assinatura eletrônica, qualidade do serviço, comprovação de autenticidade, auditabilidade, haver cópia de segurança, sistema de bancos de dados, privacidade, confidencialidade e a guarda. Ainda de acordo com a Resolução do Conselho Federal de Medicina no artigo 5º: autoriza no caso de emprego da microfilmagem, a eliminação de suporte de papel dos prontuários, de acordo com os procedimentos previstos na legislação arquivística em vigor (Lei nº 5.433/68 e Decreto. 1799/96), após análise obrigatória da Comissão Permanente de Avaliação de Documentos da unidade médico–hospitalar geradora do arquivo. A qualidade do prontuário médico eletrônico facilita a assistência profissional prestada ao paciente, documentando a história dos exames, o diagnóstico e o tratamento a que um paciente foi submetido, em menor volume. Este conjunto de informações sobre um paciente é vital para a continuidade da assistência médica durante sua vida profissional em uma organização, bem como durante a hospitalização do paciente, ao longo de consultas médicas realizadas ou quando um novo prestador de assistência médica torna-se responsável pelo mesmo. Este também pode ser utilizado em situações de acusação de má conduta médica ou de outras acusações e/ ou investigações relativas à assistência médica ou multidisciplinar prestada ao paciente. O prontuário médico eletrônico apresenta algumas vantagens e, dentre elas destacam-se: a disponibilidade de acesso imediato às informações mais completas, legíveis e mais bem organizadas, a adição de funcionalidades que realizem a agregação das informações apoiando a pesquisa médica e a gerência da prática 37 médica, a adição de funcionalidades que apóiem a tomada de decisão, a identificação de eventos clínicos que necessitam de atenção, emissão de lembretes, agilidade e eficiência no atendimento ao paciente, em pesquisas ou levantamento de dados e diminuição de tarefas manuais. Acredita-se, assim, que o prontuário médico eletrônico está muito próximo de se tornar vital no cotidiano daqueles que dele se utilizam, como seus proprietários, os profissionais que nele relatam os fatos e sua evolução e os que detêm o poder de guarda. 38 3 A QUESTÃO DAS COMPETÊNCIAS NA ENFERMAGEM As organizações, incluindo as de saúde, vivem a crise econômica, gerando ampla demanda por uma gestão eficiente, que administre a escassez de recursos e o desenvolvimento de programas sociais e realize uma articulação maior com os diferentes grupos sociais. Com isso, surge uma sobrecarga de demandas, tornando necessária uma melhoria da capacidade gerencial das instituições e/ou organismos que tratam das políticas públicas. Portanto, para atender as demandas atuais acima descritas, as instituições exigem dos seus colaboradores, um perfil profissional em constante desenvolvimento para acompanhar as inovações tecnológicas, com potencial para resolução de problemas, capacidade de negociação, proatividade. Dessa forma, também, no que diz respeito às organizações de saúde, exige– se atualmente um perfil de enfermeiro que requer agilidade e decisões assertivas, criativas, inovadoras, agregando valor econômico à empresa e social, ao indivíduo. Considera–se que o estabelecimento do perfil do enfermeiro requer reconhecimento de que toda pessoa tem direito à adequada assistência de enfermagem, que o atendimento de enfermagem ao ser humano deve ser considerado em sua totalidade e em constante interação com o meio ambiente, que o enfermeiro atua em diversos campos de ação, exercendo atividades de assistência, administração, ensino, pesquisa e integração, nos níveis primário, secundário e terciário e que a constante evolução das ciências da saúde exige do enfermeiro permanente atualização e, muitas vezes, especialização, que deve ser adquirida após a formação básica, fazendo–se necessário que os hospitais e os serviços de enfermagem repensem qual é o perfil desejável do enfermeiro e que este que vá ao encontro dos valores, da missão e da visão da organização, tendo como horizonte o alcance das metas estabelecidas. 39 3.1 O PAPEL DO ENFERMEIRO NA GESTÃO DA SAÚDE A atenção à saúde ao longo da história da humanidade vem sendo desenvolvida de muitos modos e por diversos atores sociais. "Nunca foi um espaço exclusivo de atuação profissional, e nem envolveu uma única abordagem diagnóstico–terapêutica" (PIRES 1999, p.115-116). É possível, no entanto, identificar em diferentes períodos históricos abordagens hegemônicas. Desenvolve–se em diversos espaços sociais, porém, atualmente, no mundo todo ocorre majoritariamente em instituições formais públicas e privadas de âmbito ambulatorial, hospitalar ou organizacional. Ainda de acordo com Pires (1999, p.176), sobre o trabalho em saúde: é um trabalho essencial para a vida humana e é parte do setor de serviços. É um trabalho da esfera da produção não–material, que se completa no ato de sua produção. [...] O produto é indissolúvel do processo que o produz, é a própria realização da atividade. O trabalho em saúde envolve um trabalho profissional, realizado por trabalhadores que dominam os conhecimentos e técnicas especiais para assistir o indivíduo ou grupo com problemas de saúde ou com risco de adoecer, em atividades de cunho investigativo, preventivo, curativo ou com o objetivo de reabilitação. No espaço institucional, esse trabalho envolve um conjunto de profissionais especializados, sendo que o número e a composição da equipe são definidos, dentre outros critérios, pelo tipo e complexidade do serviço prestado. Nos espaços ambulatoriais atuam, pelo menos, médico, enfermeiro e trabalhadores de enfermagem de nível médio (quando existem), porém, dependendo da complexidade destes serviços pode–se observar a presença de outros profissionais como: nutricionistas, psicólogos, bioquímicos, odontólogos, assistentes sociais dentre outros. No hospital, instituição geralmente mais complexa, observa–se uma inserção cada vez maior de profissões da saúde além de trabalhadores das áreas administrativas, limpeza, manutenção ou outras que se fizerem necessárias. Uma análise da organização do trabalho, nestes espaços tem que considerar os diferentes processo de trabalho e as diferenças institucionais. Além disso, as 40 necessidades de atenção à saúde e o modelo assistencial adotado demandam mudanças gerenciais. Exemplo disto é o processo de implantação, no Brasil, do Sistema Único de Saúde (SUS) cujas diretrizes de descentralização e regionalização, e princípios de integralidade, equidade e resolutividade geram demandas gerencias diferenciadas, exigindo mudanças na organização e gestão do trabalho para sua concretização. A organização do trabalho e o gerenciamento no setor saúde, especialmente no ambiente hospitalar sofre, até hoje, forte influência do modelo taylorista/fordista, da administração clássica e do modelo burocrático. As organizações de saúde configuram–se em instituições complexas, em que convivem projetos políticos bastante diferenciados entre si, influenciando a gestão e organização do trabalho. A instituição hospitalar coloca–se como um amplo campo de disputas de grupos profissionais altamente qualificados e com grande autonomia de trabalho, os quais não se subordinam às chefias superiores ou a uma direção, no clássico modelo taylorista/fordista. Além disso, existe uma forte fragmentação das linhas de mando entre as várias categorias e as corporações organizam–se, até certo ponto, segundo lógicas próprias. De acordo com Cecílio (1999; p. 315-329): Estudos recentes realizados no Brasil apontam que nas instituições hospitalares existem três grupos principais: os médicos, a enfermagem e o corpo administrativo. A enfermagem constitui um corpo profissional muito fechado, com elevado grau de autonomia em relação à direção. Gerencia diariamente as unidades assistenciais e possui, internamente, uma linha de mando vertical formalizada e legitimada, nos moldes taylorista/fordista. Nesta estrutura, os enfermeiros têm grande “poder” sobre os técnicos e auxiliares de enfermagem, porém, isto não se observa em relação à categoria médica, com quem disputa o projeto assistencial e vivencia cotidianamente uma série de conflitos. A área administrativa funciona de acordo com uma lógica própria, aparentemente é o grupo mais silencioso dentro do hospital, porém detém recursos estratégicos fundamentais para o cotidiano da vida organizacional. É uma área bem 41 estruturada, regida por normas e rotinas, com linha de mando verticalizada, formalizada e considerada legítimas. Na segunda metade do século XIX, o modelo proposto por Florence Nightingale na Inglaterra, influenciado pela lógica de organização capitalista do trabalho, institui a divisão entre trabalho intelectual e manual e a hierarquização no trabalho da enfermagem, ainda tão presente em nossos dias. Neste modelo, o enfermeiro desempenha a função de gerente centralizador do saber, que domina a concepção do processo de trabalho de enfermagem e delega atividades parcelares aos demais trabalhadores de enfermagem. Segundo Kurgant (1991, p.161-164): a teoria da administração científica, que tem influenciado a organização e gestão do trabalho industrial, também tem influenciado os serviços de saúde e a enfermagem. Como herança desta teoria, presente até os dias atuais, destaca–se: a ênfase no "como fazer", a divisão do trabalho em tarefas, a excessiva preocupação com manuais de procedimentos, rotinas, normas, escalas diárias de distribuição de tarefas, fragmentação da assistência, dentre outros. Destaca–se na equipe a preocupação em cumprir a tarefa e o desempenho é avaliado pelo quantitativo de procedimentos realizados. Técnicos e auxiliares cuidam da assistência direta e o enfermeiro assume a supervisão e o controle do processo de trabalho. Collet (1994, p.258-264) critica a atuação do enfermeiro (a), afirmando que: A enfermeira gerencia o trabalho da equipe com muitas características das abordagens taylorista, fayolista e burocrática”. Volta–se para o cumprimento de normas rotinas e tarefas, reproduzindo aquilo que outros profissionais e a instituição esperam, deixando, muitas vezes, de priorizar as necessidades do doente e gerando descontentamento e desmotivação nos trabalhadores de enfermagem. O poder de decisão é centralizado no enfermeiro (-a), enfatiza–se a disciplina desconsiderando as pessoas e as relações interpessoais. Para Castro (2005), “O pessoal de enfermagem assume características de técnicos especializados, com comportamento institucionalmente, valorizando normas e regras”. Kurgant (1991), afirma ainda que: e posições definidas 42 As chefias de enfermagem assumem um papel administrativo voltado para os interesses da instituição; a vontade do enfermeiro se sobrepõe a dos demais trabalhadores, caracterizando um processo de dominação, impessoalidade, relações hierárquicas e ênfase na comunicação formal. Influenciada pelo movimento das relações humanas surge a discussão acerca da importância da liderança e da comunicação na formação do enfermeiro para qualificar o seu trabalho com o pessoal de enfermagem. Percebe–se que mais recentemente a enfermagem tem sofrido a influência de outras teorias da administração. Estas influências ainda não são suficientemente significativas e não representam mudanças maiores na organização dos serviços de enfermagem. "A busca por novas formas de gestão nos serviços de saúde torna necessária à incorporação de novos conhecimentos e habilidades, sintonizados a uma prática administrativa mais aberta, mais flexível e participativa" (GALVÃO, 1998). No debate atual sobre a necessidade de mudança na gestão e organização do trabalho na enfermagem destacam–se contribuições teóricas e práticas envolvendo a defesa e implementação dos chamados "cuidados integrais"; o envolvimento da equipe de enfermagem, bem como do usuário e família no planejamento e avaliação da assistência; a gestão participativa dos serviços de enfermagem; o trabalho em equipe; a educação no trabalho como forma de garantir o desenvolvimento contínuo dos trabalhadores e também como fator de motivação para o trabalho. O enfermeiro, como o gerente da assistência de enfermagem prestada ao paciente, requer o conhecimento, as habilidades e as atitudes que possibilitarão com que exerça seu trabalho objetivando resultados com eficiência. Este papel gerencial, amplamente discutido desde anos passados, passa pelo próprio desenvolvimento da enfermagem como ciência, que de uma prática "antes independente, torna–se subordinada à prática médica". (FORMIGA, 2005). Estudos sobre a prática gerencial e o mundo do trabalho na Enfermagem têm mostrado que as competências constituem um tema de discussão imediata a fim de 43 se dar respostas às necessidades desta prática. Autores têm abordado individualmente competências como a interpessoal, a liderança, a motivação da equipe, a comunicação, entre outras, também importantes, num claro sinal que discuti–las tem sido uma necessidade percebida e manifestada. O Nursing Leadership Institute (Instituto de Liderança em Enfermagem), nos Estados Unidos da América, criou um modelo de competências para o enfermeiro gestor, após pesquisas com enfermeiras gerentes naquele país. Nele, foram identificadas seis competências que desdobram–se em vários itens, e que podem ser assim traduzidas: poder pessoal, efetividade interpessoal, gestão financeira, gestão de recursos humanos, cuidados com o staff (equipe), com os pacientes e consigo mesmo, pensamento sistematizado e como atributos adicionais destaca o otimismo e a resiliência. Este modelo dá conta de competências que envolvem aspectos da pessoa individualmente, dela com o grupo e dela na sua atuação na empresa, e parece responder a alguns questionamentos que este palpitante tema nos remete. Muitas são as competências que parecem ser necessárias ao enfermeiro na sua prática profissional e desenvolvê–las é, pois um grande desafio tanto dos órgãos formadores, como dos serviços na perspectiva da educação permanente e torna–se responsabilidade de todos estes atores: docentes, enfermeiros dos serviços e do próprio aprendiz. 44 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS Acredita-se que o prontuário médico unificado é um fato inusitado conquistado pela medicina neste século. Não se imagina, hoje, uma instituição hospitalar, consultório médico, odontológico ou organização sem o serviço de Arquivo Médico, salvaguardando os prontuários dos clientes/pacientes que, por ali, sempre transitam; seria impossível uma equipe multidisciplinar eficaz, sem a comprovação dos relatos sobre os tratamentos e encaminhamentos efetuados. O sistema de informação manual, tendo em vista as observações anotadas pela enfermagem nos prontuários, ainda é visto pelos enfermeiros como um veículo de comunicação limitado e ultrapassado diante da moderna tecnologia digital. Observa-se que atualmente os enfermeiros estão assumindo uma nova postura profissional em relação ao sistema de informação. Para reverter esse quadro, eles são favoráveis às mudanças tecnológicas que contribuam para minimizar a lacuna entre a teoria e a prática, por meio do desenvolvimento de sistemas que permitam maior envolvimento com a assistência de enfermagem e diminuam o tempo gasto com anotações. É importante destacar que se faz necessária uma mudança de paradigma no desenvolvimento de sistemas de informação para uma abordagem participativa, centralizada no relacionamento social, no conhecimento explícito e tácito, na competência, na interação interpessoal e na experiência vivenciada pela prática do trabalho. A partir de pesquisa em Arquivos Médicos de uma organização, constatou-se a urgência na implantação de uma infra-estrutura que atendesse às necessidades do setor e que possibilitasse o acondicionamento adequado dos documentos, na criação de normas e procedimentos para o controle do fluxo interno dos prontuários 45 e, ainda, na utilização de sistema de informática que comportasse a tramitação dos mesmos. Com base no trabalho realizado, obtiveram-se resultados que favoreceram conclusões e deduções pertinentes, salientando entre elas, a atuação do enfermeiro (a) como gerente da assistência de enfermagem, considerando seus conhecimentos específicos, principalmente no que concerne aos registros e arquivamento de prontuários e que é de suma importância o preparo do enfermeiro (a) para exercer seu papel no contexto das competências gerenciais, bem como o desenvolvimento das mesmas , desde a formação na graduação e de forma contínua nos serviços, com vistas a garantir ao cliente um atendimento eficiente e eficaz; a disponibilidade dos prontuários médicos aos profissionais de saúde, auxiliando no desenvolvimento da assistência, ensino e pesquisa, com maior eficiência; a garantia de confiabilidade e agilidade das informações arquivadas, bem como da rotina de trabalho; a garantia de fonte de dados confiáveis, inteligíveis e recuperáveis; a padronização dos prontuários médicos; a segurança na movimentação dos documentos, bem como a rapidez e eficácia na obtenção das informações. Assim, pode-se inferir que ainda não há consenso sobre todas as competências gerenciais que sejam indispensáveis ao enfermeiro gestor no contexto atual dos serviços de saúde em nosso país. Todavia há que se estimular esta discussão, assim como desenvolver pesquisas futuras sobre o tema a fim de que o debate possa despertar–nos a todos, para não só no âmbito gerencial definí–las, mas principalmente como desenvolvê–las nos enfermeiros. 46 REFERÊNCIAS ALCÂNTARA, Hermes Rodrigues de. Deontologia e Diceologia: normas éticas e legais para o exercício da medicina. São Paulo: Organização Andrei, 1979. p.253. ASSOCIAÇÃO DE ARQUIVISTAS BRASILEIROS. Artigos. Núcleo São Paulo. Dicionário de terminologia Arquivística. AAB. São Paulo, 1997. Disponível em: <http://www.aab.org.br/.> Acesso em 06 abr.2009. BEMMEL, J; VANBEMMEL, V; MUSEN, M. A. Handbook of Medical Informatics. 1st edition. Springer, Verlag, 1997. BRASIL. Ministério da Saúde. Resolução nº 1331de 21 de setembro 1989. 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Fonte do Autor. 59 ANEXO I – Prontuários do Arquivo Inativo Digitalizados. Fonte do Autor. 60 ANEXO J – Forma como os Prontuários chegam de outras unidades. Fonte do Autor. 61 ANEXO L - Prontuários arrumados cronologicamente e com pastas novas. Fonte do Autor. 62 ANEXO M – Pastas mal conservadas. Fonte do Autor. 63 ANEXO N – Pastas Novas Fonte do Autor. 64 ANEXO O – Entrada para o Arquivo Antigo. Fonte do Autor. 65 ANEXO P – Porta de entrada para o Novo Arquivo. Fonte do Autor. 66 Anexo Q – Prontuário Eletrônico Fonte do Autor. 67 Anexo Q – Prontuário Eletrônico Fonte do Autor. 68 Anexo Q – Prontuário Eletrônico 000000-1 – ANTONIO DE JESUS Fonte do Autor.