ultraconservadores? futebol neblina - Nu-Sol

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n. 359, 14 de outubro de 2014. Ano VIII.
ultraconservadores?
Surpreendidos com a composição do congresso e assembleias na última eleição formados, majoritariamente, por
ultraconservadores, analistas procuram a causa nos efeitos das jornadas de junho de 2013. Estas teriam provocado
a reação conservadora. A constatação é apressada. Se considerarmos que as diversas forças envolvidas naquele
acontecimento questionavam a representação, seus votos obrigatoriamente dados são de difícil localização, assim
como pouco se sabe e se saberá sobre eles no universo das abstenções, considerando a incapacidade, apesar da
eleição ser eletrônica, para excluir os mortos das listas de presença. Como de fato só interessam votos válidos e a
regência do voto obrigatório, nenhuma atenção se dá para as variáveis que poderiam indicar o comportamento
eleitoral de cidadãos que se abstêm de votar. Portanto, a constatação desta causalidade é meramente ideológica e
partidária.
futebol neblina
A empresa Fifa faz seu calendário empresarial de seleções nacionais, expondo aos governos ricos seus melhores
elencos para depois classifica-los, rigorosamente, em seu ranking. Brasil e Argentina foram decidir uma taça
qualquer em Beijing, na China, para deleite do mandarinato burguês-revolucionário. A poderosa China, com suas
imensas emissões de CO2, recebeu as seleções sul-americanas debaixo de uma neblina de poluição inimaginável
até para o mais reaça defensor do neoliberalismo. Os poderosos empresários-revolucionários pagaram seu lazer,
mostraram seu poder e sua displicência com protocolos internacionais sobre o clima, a poluição e a
sustentabilidade. Desse modo se isentam e constroem a culpabilidade do cidadão pela merda que se respira no
planeta em nome dos empregos, produtividades, empoderamentos e melhoras na condição de pobreza.
pergunta ingênua
Porque os futebolistas não jogaram de máscaras? Seria hilário ver os brasileirinhos e los hermanitos usando
máscaras com as cores similares aos de seus uniformes. Seria? Até agora, os uniformes apenas podem e devem
estampar as marcas de seus bilionários patrocinadores. Como muitos jogadores ganham milhões e vivem nas
melhores cidades da Europa, então que respirem merda e sorriam com a taça erguida na neblina. Até que uma
conduta politicamente correta introduza a máscara, assim como outros equipamentos foram acrescentados aos
corpos dos atletas com o gerenciamento da AIDS.
democracia xing ling!
Há duas semanas, estudantes de Hong Kong ocupam praças e fecham avenidas protestando contra a intervenção
do governo de Pequim em futuras eleições locais. Os jovens nas ruas querem votar em seus candidatos. O Comitê
Central quer indicar em quem eles podem votar. Hong Kong é um dos laboratórios da China contemporânea:
capitalismo high tech + concessões locais + autoritarismo político central. Na antiga colônia britânica, uns tantos
querem democracia no estilo ocidental; o politburo não quer nem saber, e tem gente reclamando que protesto
atrapalha os negócios. Passam os dias e as manifestações murcham. Uma concessão aqui, um convite para líder
estudantil virar candidato biônico ali, e tudo se ajeita. Na China, o autoritarismo pode até acomodar laivos de
democracia... enquanto a grana corre rápida e solta no ritmo do time is money!
deixar morrer
No mês de agosto, dois estadunidenses na África, um médico e uma missionária brancos, também foram
diagnosticados com o vírus do ebola. Logo foram transferidos para a América, onde foram tratados com uma droga
experimental e sobreviveram. Na Inglaterra, um enfermeiro inglês branco, também foi tratado com a droga
experimental e sobreviveu. Nas últimas semanas, surgiu um novo caso nos EUA de um liberiano preto, motorista
em uma empresa. Enquanto a situação de saúde do liberiano se tornava crítica, a droga experimental, classificada
como de “difícil produção”, não foi utilizada porque, segundo os médicos e especialistas, poderia “agravar” o quadro
do paciente. As autoridades afirmaram que na última semana a droga foi administrada, mas sem sucesso, não
impedindo o óbito do paciente. Ainda que ele não tenha sido o primeiro a morrer em decorrência do vírus, há nessa
história algo sinistramente familiar e comum que há séculos se propaga para além do território estadunidense.
vitalidade é outra coisa
Desde 1500, as violências contra os índios no Brasil seguem em curso com a expansão das cercas das
propriedades rurais, das balas de capatazes serviçais dos agronegócios e do maciço encarceramento pelos quatro
cantos do país. No último mês, a FUNAI decidiu identificar o número de índios sequestrados pelo Estado visando
com isto “garantir direitos diferenciados”. Logo na primeira visita a um presídio de Roraima, os agentes da Fundação
declararam surpresa com o óbvio, isto é, a quantidade de índios amontoados nas celas é superior ao apontado
pelas últimas estatísticas. Na prisão de Roraima, quase todos eram índios! O que ninguém comentou diante da
iniciativa da Fundação é que o número de índios encarcerados não pode ser mensurado, visto que a prisão não é
somente um prédio constituído por celas. Para os índios, a prisão existe desde 1500 e ela se chama Brasil.
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