PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP THERESÂNGELA GIONGO FLORES ARAES “O IMPACTO DE CRISES FINANCEIRAS E DE MEDIDAS PRUDENCIAIS ADOTADAS PELO BANCO CENTRAL DO BRASIL NO DESEMPENHO BURSÁTIL E CONTÁBIL DOS BANCOS BRASILEIROS NO PERÍODO DE JUNHO DE 2008 A JUNHO DE 2012” MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO SÃO PAULO AGOSTO DE 2013 1 PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP THERESÂNGELA GIONGO FLORES ARAES “O IMPACTO DE CRISES FINANCEIRAS E DE MEDIDAS PRUDENCIAIS ADOTADAS PELO BANCO CENTRAL DO BRASIL NO DESEMPENHO BURSÁTIL E CONTÁBIL DOS BANCOS BRASILEIROS NO PERÍODO DE JUNHO DE 2008 A JUNHO DE 2012” Dissertação apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de Mestre em ADMINISTRAÇÃO, sob a orientação do Professor Dr. José Odálio dos Santos. MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO SÃO PAULO AGOSTO DE 2013 2 BANCA EXAMINADORA __________________________________________ __________________________________________ __________________________________________ 3 À minha família 4 AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente a Deus e a minha família, especialmente ao meu marido Leandro, ao meu filho Francisco, ao meu pai Ery e aos meus pais adotivos, Rosângela e Antonio Carlos, pelo apoio, paciência e compreensão durante o período em que me dediquei a este projeto. Agradeço especialmente a minha querida mãe Noemir (em memória) pelo seu amor incondicional, pelos seus ensinamentos e exemplo de bondade, fé, persistência e dedicação. Agradeço ao Prof. Dr. José Odálio dos Santos, meu orientador, pelo forte incentivo, orientação, disponibilidade e contribuição, que foram essenciais ao meu desenvolvimento acadêmico durante o mestrado. Também sou muito grata pelas oportunidades de pesquisa em artigos e disciplinas no programa. Ao Professores Dr. Rubens Famá e Dr. João Carlos Douat, membro das bancas de qualificação e de defesa, pelas contribuições valiosas que aperfeiçoaram esse trabalho. Aos Professores Drs. José Roberto Securato, Belmiro Nascimento João, Edson Sadao, Arnaldo Nogueira e Onésimo Almeida pelas disciplinas no programa e oportunidades de pesquisas em artigos. Sou grata também a Srta. Rita e ao Programa de Estudos Pós-graduados em Administração da PUC/SP pelo ambiente crítico para desenvolver pesquisas. Agradeço aos colegas do programa, particularmente ao José Renato, Paulo Granela, Rodrigo Viana, Emerson Pedrosa e Maria Lúcia Novaes pelo suporte estatístico, pelo apoio, pelas discussões proveitosas, pelos artigos e pela convivência, na qual aprendi muito com essas pessoas. À instituição financeira em que venho exercendo minha profissão, especialmente ao meu chefe Sr. Marcos Barbosa e à minha equipe, que me permitiram o tempo necessário para dedicação ao mestrado e me auxiliaram na obtenção dos dados desta pesquisa. A todas essas pessoas, muito obrigada. 5 “Ignorar o inesperado (ainda que fosse possível) seria viver sem oportunidade, sem espontaneidade e sem os ricos momentos dos quais a vida é feita.” Stephen Cohen 6 RESUMO A falência do Lehman Brothers em 2008 rapidamente desencadeou um severo risco sistêmico no mercado bancário global e resultou na pior crise financeira desde a Grande Depressão em 1929. Esta crise afetou o sistema financeiro brasileiro, provocando a adoção de diversas medidas prudenciais para combater seus efeitos. Como desdobramento desta crise, surgiu a crise fiscal européia em meados de 2010 com novas medidas expansionistas sendo adotadas no Brasil em 2011. O presente trabalho avaliou como estas crises financeiras internacionais e as medidas prudenciais adotadas pelo Banco Central do Brasil afetaram o desempenho bursátil e contábil dos bancos brasileiros. Para isso, foram utilizados os métodos de estudo de eventos e a análise financeira baseada na leitura de índices contábeis tradicionais do segmento bancário (CAMELS). Percebeu-se que o desempenho bursátil dos bancos, de modo geral, não foi afetado de forma estatisticamente significativa pelos eventos sistêmicos selecionados. Em parte, tal comportamento pode ser explicado pela natureza dinâmica dos eventos, os quais somente são deflagrados após a divulgação sequencial de informações relevantes da conjuntura econômica e de empresas ao mercado. Quanto ao desempenho financeiro , constatou-se que em momentos de crise, os bancos adotaram uma postura mais cautelosa na concessão de crédito, resultante de aumento de inadimplência e queda de rentabilidade, concentrando esforços na construção de liquidez. Mesmo com os impactos negativos das crises financeiras sobre a rentabilidade e qualidade de ativos do bancos brasileiros estudados nesta pesquisa, a forte estrutura de capital do sistema bancário, permitiu a absorção de tais perdas. Palavras-Chave: Sistema Financeiro, Crises Financeiras, Estudo de Eventos 7 ABSTRACT The bankruptcy of Lehman Brothers in 2008 rapidly provoked a severe systemic risk in the global banking industry and resulted in the worst financial crisis since the Great Depression in 1929. This crisis affected the Brazilian Financial System, contributing to the adoption of several prudential measures to soften their effects. As a consequence of such crisis, the European fiscal crisis started in mid-2010, with new expansive measures being adopted in Brazil in 2011. This study evaluated how these international financial crises and prudential measures adopted by the Brazilian Central Bank affected the stock and the financial performance of Brazilian Banks. It was used the methodology of event study and of financial analysis based on the evaluation of accounting indexes, which are traditional in the banking system (CAMELS). It was noticed that the stock performance of the banks, in general, was not statistically affected by the selected events. This behavior can be partially explained by the dynamic nature of the events, which only happen after consecutive disclosure of relevant information about the economic environment and the companies to the market. Regarding the financial performance, it was noticed that, in moments of crises, the banks adopt a more conservative posture towards credit concession, due to higher delinquencies and lower profitability. Banks focus on improving their liquidity conditions. Despite overall negative impact of financial crises over the banks’ profitability and asset quality of Brazilian Banks, the strong capital structure of the banking system allowed the absorption of such losses. Key words: Financial System, Financial Crises, Events Study 8 SUMÁRIO 1. Introdução ...................................................................................................... 16 1.1 Problema de Pesquisa .......................................................................... 17 1.2 Objetivos .............................................................................................. 18 1.2.1 Geral ......................................................................................... 18 1.2.2 Específico ................................................................................. 19 2. 1.3 Justificativa ........................................................................................ 19 1.4 Metodologia ....................................................................................... 21 1.5 Hipótese testada para o desempenho bursátil .................................... 21 1.6 Limitações ......................................................................................... 21 Fundamentação Teórica ................................................................................. 22 2.1 Mercado Eficiente ............................................................................. 22 2.2 Finanças Comportamentais ............................................................... 24 2.3 Risco Sistêmico ................................................................................. 25 2.4 Contágios e crises financeiras ........................................................... 27 2.4.1 Crise Financeira de 2008 .......................................................... 29 2.4.2 Crise Européia 2010/2012 ........................................................ 32 2.5 Regulamentação e Supervisão Bancária ........................................... 35 2.5.1 Introdução ................................................................................ 35 2.5.2 O Papel da supervisão Bancária e o Comitê de Basiléia .......... 37 2.5.3 A atuação regulatória do Brasil nas crises ............................... 39 2.5.4 Depósito Compulsório ............................................................. 43 2.5.5 Liberação do depósito compulsório no Brasil .......................... 45 2.5.6 Seguro bancário ........................................................................ 46 2.5.7 Fundo garantidor de crédito no Brasil ...................................... 47 2.5.8 Depósito a prazo com garantia especial (DPGE) ..................... 48 2.6 3. Análise financeira direcionada aos bancos ....................................... 50 2.6.1 CAMELS ................................................................................. 53 Panorama do Setor Bancário Brasileiro ........................................................ 64 3.1 4. Metodologia ................................................................................................... 71 4.1 Estrutura do setor financeiro no Brasil ............................................. 68 Introdução ........................................................................................ 71 9 4.2 Método e Técnica de Pesquisa .......................................................... 72 4.3 Definição da amostra ........................................................................ 72 4.4 Origem e tratamento de dados .......................................................... 73 4.5 Período .............................................................................................. 74 4.6 Método e tratamento de análise de dados ......................................... 75 4.7 Estudo de Eventos ............................................................................. 75 4.7.1 Retornos Normais e Anormais ................................................. 76 4.7.2 Procedimentos de Estimação ................................................... 77 4.7.3 Procedimentos de Testes .......................................................... 77 5 Resultados ..................................................................................................... 78 5.1 Introdução ......................................................................................... 78 5.2 Resultados Gerais – Desempenho Bursátil ....................................... 78 5.2.1 Crise financeira em 15 de setembro de 2008 ........................... 79 5.2.2 Liberação do depósito compulsório em 02 de outubro de 81 2008 ................................................................................................... 5.2.3 Criação do DPGE em 26 de março de 2009 ............................ 83 5.2.4 Crise Fiscal Européia em 27 de abril de 2010 ......................... 83 5.2.5 Liberação do depósito compulsório em 22 de dezembro de 84 2011 ................................................................................................... 5.2.6 Redução da taxa básica de juros em 07 de março de 2012 ...... 5.3 85 Resultados Individuais – Desempenho Bursátil ................................ 85 5.3.1 Banco do Brasil ........................................................................ 86 5.3.2 Itaú Unibanco ........................................................................... 86 5.3.3 Bradesco ................................................................................... 87 5.3.4 Banco Panamericano ................................................................ 88 5.3.5 ABC Brasil ............................................................................... 89 5.3.6 Daycoval .................................................................................. 90 5.3.7 Banco da Amazônia ................................................................. 91 5.3.8 Pine ........................................................................................... 92 5.3.9 Sofisa ........................................................................................ 94 5.3.10 Indusval .................................................................................. 95 5.4 Resultados Individuais – Análise Financeira .................................... 96 5.4.1 Introdução ................................................................................ 96 10 5.4.2 Banco do Brasil ........................................................................ 96 5.4.3 Itaú Unibanco ........................................................................... 104 5.4.4 Bradesco ................................................................................... 109 5.4.5 Banco Panamericano ................................................................ 114 5.4.6 ABC Brasil ............................................................................... 118 5.4.7 Daycoval .................................................................................. 123 5.4.8 Banco da Amazônia ................................................................. 128 5.4.9 Pine ........................................................................................... 130 5.4.10 Sofisa ...................................................................................... 134 5.4.11 Indusval .................................................................................. 137 6 7 Conclusão ...................................................................................................... 142 6.1 Quanto a metodologia ....................................................................... 142 6.2 Quanto aos resultados da análise bursátil ......................................... 142 6.3 Quanto aos resultados da análise financeira ..................................... 143 6.4 Considerações Finais ......................................................................... 144 6.5 Sugestões para novos trabalhos ......................................................... 145 Bibliografia .................................................................................................... 146 11 LISTA DE QUADROS, FIGURAS E TABELAS Quadro 1 - Eventos analisados na pesquisa ....................................................... 17 Quadro 2 - Alguns estudos sobre análise financeira .......................................... 19 Quadro 3 - Formas de eficiência de mercado .................................................... 23 Quadro 4 - Principais tipos de anomalia financeira ........................................... 25 Quadro 5 - Principais crises financeiras desde 1997 ......................................... 28 Quadro 6 - Resumo da evolução das regras dos Acordos da Basiléia I, II e III 38 Quadro 7 - Elenco de contas adotado nas demonstrações financeiras de 52 bancos .............................................................................................. Quadro 8 - Fonte de dados da pesquisa ............................................................. 73 Quadro 9 - Agrupamento da análise financeira ................................................. 96 Figura 1 - Evolução dos Acordos da Basiléia, objetivos e consequências ...... 38 Figura 2 - Evolução da Taxa Selic (%) ............................................................ 43 Figura 3 - Principais diferenças DPGE I e DPGE II ........................................ 50 Figura 4 - Formas de Controle de capital das instituições financeiras ............. 68 Tabela 1 - Evolução dos Highlights Financeiros do SFN ................................. 67 Tabela 2 - Maiores bancos por ativos ajustados em 31 de dezembro de 2012 .. 70 Tabela 3 - Amostra dos bancos analisados na pesquisa .................................... Tabela 4 - Retorno das ações com p-value abaixo de 0,05 ................................ 78 Tabela 5 - Resultado das ações do Itaú com p-value inferior a 5% ................... 87 Tabela 6 - Banco do Brasil: Financial Highlights ............................................ 96 Tabela 7 - Banco do Brasil: Financial Highlights ............................................. 101 Tabela 8 - Itaú Unibanco: Financial Highlights ................................................ 104 Tabela 9 - Itaú Unibanco: Financial Highlights ................................................ 107 Tabela 10 - Bradesco: Financial Highlights ....................................................... 110 Tabela 11 - Bradesco: Financial Highlights ....................................................... 112 Tabela 12 - Panamericano: Financial Highlights ................................................ 115 Tabela 13 - ABC Brasil: Financial Highlights .................................................... 118 Tabela 14 - ABC Brasil: Financial Highlights .................................................... 121 Tabela 15 - Daycoval: Financial Highlights ...................................................... 73 123 12 Tabela 16 - Daycoval: Financial Highlights ....................................................... 125 Tabela 17 - Banco da Amazônia: Financial Highlights ...................................... 128 Tabela 18 - Banco da Amazônia: Financial Highlights ...................................... 129 Tabela 19 - Pine: Financial Highlights ............................................................... 131 Tabela 20 - Pine: Financial Highlights ............................................................... 132 Tabela 21 - Sofisa: Financial Highlights ............................................................ 134 Tabela 22 - Sofisa: Financial Highlights ............................................................ 135 Tabela 23 - Indusval: Financial Highlights ......................................................... 137 Tabela 24 - Indusval: Financial Highlights ......................................................... 139 13 LISTA DE SIGLAS BCB - Banco Central do Brasil BCE - Banco Central Europeu BIS - Bank for International Settlements BM&F Bovespa – Bolsa de Mercadorias e Futuros e Bolsa de Valores do Estado de São Paulo BNDES - Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social Bovespa - Bolsa de Valores do Estado de São Paulo CDS - Credit Default Swap COSIF - Plano Contábil das Instituições do Sistema Financeiro Nacional DPGE - Depósito Especial com Garantia do Fundo Garantidor de Crédito EESA - Emergency Economic Stabilization Act FDIC - Federal Deposit Insurance Corporation FED - Federal Reserve FGC - Fundo Garantidor de Crédito FIDCs - Fundo de Investimento em Direitos Creditórios FMI - Fundo Monetário Internacional FSI - Financial Soundness Indicators IBOVESPA – Índice Bolsa de Valores do Estado de São Paulo IFC – International Finance Corporation LTRO - Long Term Refinancing Operation NPL - Non-performing loans OCC - Office of the Comptroller of the Currency PCLD - Provisões para créditos de liquidação duvidosa PIB - Produto Interno Bruto PL - patrimônio Líquido PROER - Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento do Sistema Financeiro PROES - Programa de Incentivo à Redução do Setor Público Estadual na Atividade Bancária RIF - Receita de Intermediação Financeira Selic - Sistema Especial de Liquidação e Custódia SFN - Sistema Financeiro Nacional TARP - Troubled Asset Relief Program 14 UFIR - Sistema de Rating Uniforme de Instituições Financeiras VaR - Value at Risk 15 1. INTRODUÇÃO A concordata do Lehman Brothers, um grande banco de investimentos americano, em setembro de 2008, rapidamente desencadeou um severo risco sistêmico bancário global e resultou na pior crise financeira desde a Grande Depressão em 1929. Recentes pesquisas acadêmicas e de reguladores apontam que crise global foi parcialmente ocasionada e agravada por níveis insuficientes de quantidade e qualidade de capital, pela necessidade de uma definição de capital que facilitasse a absorção de perdas e pela baixa qualidade e ausência de colchão de liquidez. (OJO, 2010 BIS, 2010). O stress no sistema financeiro resultou na adoção de medidas extraordinárias, como amplas injeções de recursos no mercado financeiro, reduções de taxas básicas de juros, planos de resgate e recapitalização de instituições financeiras, aquisição de operações de grupos financeiros, aumento das garantias dos depósitos bancários e implementação de planos de compra de ativos financeiros considerados tóxicos. (BCB, 2009). Estas medidas conjugadas a adoção de políticas expansionistas refletiram uma ampla coordenação mundial para combater o agravamento da crise bancária e uma depressão econômica mais aguda. Tais medidas, no entanto, não foram suficientes para restabelecer o crescimento sustentável de economias maduras como Europa e Estados Unidos, refletindo na atual crise soberana e, consequentemente, resultando em um ciclo vicioso. O aumento do risco soberano vem aumentando a percepção de risco bancário, gerando aumento no custo de captação e perda no valor de ações da bolsa, resultando assim, em risco financeiro e desaceleração econômica. No Brasil, muitas medidas prudenciais foram e vêm sendo adotadas especialmente no setor bancário, em virtude de sua importância econômica. Tais medidas visaram, sobretudo, fortalecer e, até mesmo, restaurar a liquidez bancária através de aumento do volume de captação, para assim, também contribuir para o crescimento da oferta de crédito no Brasil. Adicionalmente, a estas medidas estudadas na presente pesquisa, o governo e o Banco Central também têm implementado outros mecanismos visando a retomada do crescimento econômico, tais como redução da taxa de juros e do percentual de depósito compulsório, diminuição de impostos sobre alguns produtos industrializados como automóveis e linha branca, dentre outras medidas. Com base neste contexto, o presente trabalho busca verificar se crises financeiras internacionais (SubPrime e Crise fiscal européia) e medidas prudenciais adotadas pelo Banco 16 Central do Brasil (Quadro 1) influenciaram, de forma estatisticamente significativa, o desempenho contábil e do retorno das ações das instituições financeiras listadas na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), no período de junho de 2008 até junho de 2012. Quadro1: Eventos analisados na pesquisa Evento Crise financeira Liberação do depósito compulsório Criação do Depósito Especial com Garantia Especial (DPGE) Data 15/09/2008 02/10/2008 26/03/2009 Crise Fiscal Européia 27/04/2010 Liberação do compulsório Redução da taxa básica de juros de 10,5% para 9,75%. 22/12/2011 07/03/2012 Referência Quebra do banco Lehman Brothers Circular 3.407/2008 Resolução 3.692/2009 Rebaixamento das notas soberanas de Grécia e Portugal pela agência de rating Standard and Poors Circular 3.569/2011 Copom - Selic Fonte: Elaborado pela autora/ Dados do Banco Central do Brasil 1.1 Problema de Pesquisa Diversos autores econômicos argumentam sobre a importância do desenvolvimento do sistema financeiro sobre o nível e a taxa de crescimento de uma país, considerando que os serviços e produtos financeiros oferecidos pelos bancos são indispensáveis para a promoção do crescimento econômico. Segundo Stiglitz (2010), “o sistema bancário tem duas funções essenciais. A primeira é de prover um mecanismo eficiente de pagamentos, na qual o banco facilita as transações transferindo o dinheiro dos seus depositantes àqueles de quem eles compram bens e serviços. A segunda função essencial é a avaliação e a administração de riscos e a realização de empréstimos. Esta se relaciona com a primeira função essencial, porque se o banco fizer avaliações creditícias deficientes, se fizer apostas irresponsáveis, ou se puser dinheiro demais em operações arriscadas que terminem por fracassar, não poderá honrar a promessa de remunerar o dinheiro dos depositantes. Se fizer bem o seu trabalho, o banco proporciona dinheiro para o estabelecimento de novos negócios e para expandir os existentes, a economia cresce, criam-se novos empregos e, ao mesmo tempo, seus próprios lucros aumentam, o que lhes possibilita pagar juros aos depositantes e recompensar os que investiram seus ativos no banco”. Visando a obtenção de lucros fáceis, muitos bancos nos Estados Unidos e em outros países negligenciaram suas funções essenciais, aumentando riscos, alavacangem excessiva e 17 custos de transação. Ao invés de focarem nas atividades tradicionais de intermediação financeira, concentraram esforços na promoção da securitização, a qual se mostrou fatal para a eclosão da crise financeira global de 2008. (STIGLITZ, 2010) Como o sistema financeiro atual é interligado e essencial para a economia, a falência de uma grande instituição pode impactar o sistema inteiro. Soma-se o tamanho da economia norte-americana como fator de influência para uma recessão global, dada a magnitude da crise financeira vivenciada. Assim, a crise rapidamente se espalhou para o mundo inteiro, consistindo na pior crise desde a Grande Depressão em 1929. Como a prosperidade e eficiência econômica encontravam-se ameaçadas pelos lucros excepcionais apresentados pelo setor financeiro nos Estados Unidos, muitos críticos economistas já previam que a economia norte-americana vivenciaria uma crise global (STIGLITZ, 2010). Segundo o autor, “economistas keynesianos que externavam a noção de que os mercados não se corrigem sozinhos”. Diante deste cenário, com o propósito de explorar o desempenho contábil e bursátil dos bancos brasileiros e verificar: i.) se o mercado previu e; ii.) quando e como os investidores efetivamente reagiram diante do advento das crises financeira e européia e respectivas medidas prudenciais adotadas pelo Banco Central do Brasil nos períodos de 2008 até 2012 (Quadro 1), a presente pesquisa objetiva responder a seguinte pergunta: Como as crises financeira e européia e as medidas prudenciais adotadas pelo Banco Central do Brasil impactaram o desempenho bursátil e contábil dos bancos brasileiros? 1.2 Objetivos 1.2.1 Geral O presente trabalho busca verificar se crises financeiras internacionais (SubPrime e Crise fiscal européia) e medidas prudenciais adotadas pelo Banco Central do Brasil (ver Quadro 1, p. 3) influenciaram, de forma estatisticamente significativa, o desempenho do retorno das ações, bem como o desempenho contábil das instituições financeiras listadas na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), no período de junho de 2008 até junho de 2012. 18 1.2.2 Específico a) Analisar a relação entre o desempenho contábil e o desempenho bursátil da amostra selecionada; b) Analisar em quais bancos foram observadas as maiores perdas com captação, liquidez e volume de crédito. 1.3 Justificativa O tema desta pesquisa foi selecionado em razão da relevância da crise financeira de 2008 iniciada nos Estados Unidos, a qual rapidamente contagiou as economias no mundo inteiro e, cujos resquícios estão sendo observados até os dias de hoje, como evidenciado pela crise aguda que importantes países da Europa estão vivenciando. Dada a grande representatividade da economia dos Estados Unidos no mundo, a significativa retração vivenciada na crise de 2008, conjugada à intensa interligação entre os mercados financeiros internacionais impactaram negativamente a economia global. O impacto da crise na Europa decorreu não apenas da crise acima mencionada, mas foi intensificado por problemas criados por si mesmos, como a formação de enorme bolha imobiliária na Espanha e Reino Unido, desregulação na Islândia, etc. (STIGLITZ, 2010). Neste contexto, escolheu-se o setor bancário para a realização deste estudo em virtude da importância do setor bancário na economia, conforme observado pelo sua participação no Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. Conforme dados do Banco Central, os ativos do sistema financeiro nacional somaram R$ 5.97 trilhões, equivalente a 136% do PIB Brasileiro no ano de 2012 (BCB). Soma-se que o mercado financeiro foi um dos segmentos responsáveis e um dos mais afetados pelo alastramento e agravamento desta crise global. O tema sobre crise financeira vis-a-vis setor bancário vem sendo amplamente discutido no setor acadêmico, especialmente se considerarmos a literatura internacional, com existência de artigos de renomadas instituições como Wharton, Stanford, Columbia, dentre outras. Estes estudos abordam questões regulatórias, posição de capital e de liquidez, além de demais assuntos relacionados ao tema. Seguem alguns estudos no Quadro 2 abaixo: Quadro 2: Alguns estudos sobre crise financeira Título do estudo Outras informações Structural causes of the global financial crisis: a Crotti, J. Oxford Journals Economics & Social critical Sciences Cambridge Journal of Economics, Volume assessment of the ‘new financial 19 architecture’ 33, Issue 4Pp. 563-580 The current economic crisis: its nature and the Lawson, T. Oxford Journals Economics & Social course of academic economics Sciences Cambridge Journal of Economics Volume 33, Issue 4Pp. 759- Bank lending during the financial crisis of 2008 V Ivashina, D Scharfstein - Journal of Financial Economics, 2010 - Elsevier The real effects of financial constraints: Evidence M Campello, JR Graham, CR Harvey - Journal of from a financial crisis Financial Economics, 2010 - Elsevier Financial Policies, Investment, and the Financial K Kahle, R Stulz - Fisher College of Business Crisis: Impaired Credit Channel or Diminished Working Paper, 2011 - papers.ssrn.com Demand for Capital? Financial Crises: Theory and Evidence Franklin Allen, Ana Babus and Elena Carletti, June 2009 Annual Review of Financial Economics, November 2009 The Mortgage and Financial Crises: The Role of William W. Lang and Julapa Jagtiani, February Credit 2010 Forthcoming in Atlantic Economic Journal, 20 Risk Management and Corporate Governance Financial Crisis, Structure and Reform Franklin Allen, Xian Gu and Oskar Kowalewski, Journal of Banking & Finance 36 (2012) 2960– 2973 Understanding the subprime mortgage crisis Y Demyanyk, O Van Hemert - Review of Financial Studies, 2011 – Soc Financial Studies Fonte: Quadro elaborado pela autora Cabe ressaltar, no entanto, que o tipo de pesquisa aqui apresentado ainda não foi analisado especificamente com rigor metodológico. Desta forma, o presente estudo pretende contribuir para um conhecimento mais aprimorado sobre a relação entre eventos sistêmicos específicos relacionados às crises e às medidas prudenciais de liquidez e o desempenho bursátil e contábil de instituições financeiras. Finalmente, a escolha do presente assunto também está relacionada à minha atuação profissional como analista de crédito de instituições financeiras, em que sou responsável pelo acompanhamento do risco e do desempenho econômico-financeiro apresentado pelos bancos brasileiros. 20 1.4 Metodologia Para a operacionalização e análise dos resultados, será utilizada a metodologia de estudo de eventos e de análise financeira, considerando o desempenho nos períodos ex-ante e ex-post a cada evento sistêmico selecionado. 1.5 Hipótese testada para o desempenho bursátil Ho: As crises financeiras internacionais e as medidas prudenciais adotadas pelo Banco Central do Brasil não afetaram, de forma estatisticamente significativa, o desempenho do retorno das ações das instituições financeiras listadas na Bovespa. H1: As crises financeiras internacionais e as medidas prudenciais adotadas pelo Banco Central do Brasil afetaram, de forma estatisticamente significativa, o desempenho do retorno das ações das instituições financeiras listadas na Bovespa. 1.6 Limitações As considerações extraídas da amostra não permitem assumir que os resultados refletem apropriadamente a relação do trade-off risco e retorno para toda a população de bancos de capital aberto, haja vista as possíveis diferenças nas políticas de investimento, financiamento e dividendos que interferem na qualidade dos contratos internos e externos de relações de agência. 21 2 2.1 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA Mercado eficiente O clássico conceito de mercado eficiente foi introduzido por Fama (1970), inserido, assim, na Moderna Teoria de Finanças, que dispõe que o ser humano é perfeitamente racional e capaz de analisar todas as informações disponíveis e formular hipóteses para uma precisa tomada de decisões. Neste sentido, Fama definiu a eficiência de mercado como o mercado cujos preços dos títulos negociados sempre refletem inteiramente todas as informações relevantes disponíveis logica e instantaneamente. Considera-se, ainda, a inexistência de vantagem de um investidor sobre outro, na medida em que o anúncio e disseminação da informação ocorrem de forma igualitária a todos os investidores. Ainda segundo o autor, o grau de eficiência poderia ser classificado de acordo com o volume e a profundidade das informações disponíveis. Assim, a eficiência poderia ser verificada na forma fraca (quando existem informações disponíveis apenas das séries passadas de preços), semiforte (informações publicamente disponíveis sobre o desempenho recente e passado) ou forte (todas as informações estão disponíveis, inclusive as privilegiadas e estratégicas). Este conceito vem sendo amplamente estudado e tem gerado muitas controvérsias, em função da contínua busca por estudiosos da determinação de padrões de comportamento dos mercados que confirme a hipótese de eficiência, o que nem sempre se verificou empiricamente em todos os casos. Contudo, apesar das controvérsias e indícios de eventuais incoerências na Teoria de Mercado Eficiente (como, por exemplo, casos em que empiricamente ocorrem atrasos significativos na resposta a um evento), ainda não se pode rejeitar a hipótese de que os mercados agem de forma eficiente, mesmo com algumas discordâncias teóricas. Portanto, muitos estudos recentes baseiam-se na hipótese de um mercado formado por investidores racionais e este conceito encontra-se presente em trabalhos desenvolvidos por Modigliani, Markowitz, Miller, Sharpe, Lucas, Scholes e Merton – todos ganhadores de prêmios Nobel de Economia (FAMÁ e BRUNI, 1998). O Quadro 3, a seguir, sintetiza as diferentes formas de eficiência descritas por Fama (1970). 22 Quadro 3: Formas de Eficiência de Mercado Nível Forma de Eficiência Nível I Forma fraca Nível II Forma semi-forte Nível III Forma forte Características Os preços das ações refletem as informações contidas nos preços passados. Se os mercados são eficientes nesta forma, torna-se impossível fazer lucros consistentemente superiores ao estudar retornos passados. Os preços seguiram um caminho aleatório. Os preços das ações refletem tanto os preços passados como outras informações publicas, como divulgação de resultados. Se os mercados são eficientes nesta forma, os preços se ajustam imediatamente a informações públicas, como divulgação do desempenho financeiro do último trimestre, uma nova emissão de ações, e uma proposta de fusão entre duas empresas. Os preços das ações refletem todas as informações que podem ser adquiridas através de uma analise meticulosa da empresa e da economia. Neste mercado, há investidores com mais sorte ou não, mas nenhum com retornos superiores o suficiente que possam vencer consistentemente o mercado. Fonte: Elaborado pela autora/ Adaptado de Fama e Bruni (1998) Van Horne (1997, p. 51) reafirma a capacidade do mercado em reagir às informações novas através da constante atualização dos preços dos ativos comercializados em mercados de capitais, uma vez que, em muitos mercados os preços dos ativos são ajustados rapidamente em função do conjunto de todas as informações econômicas, financeiras e da própria empresa. Fama e Bruni (1998) corroboram esta visão e discorrem sobre a previsibilidade dos mercados financeiros, em que os preços das ações flutuam em torno do seu valor intrínseco e onde novas informações podem rapidamente ocasionar mudanças nesse valor em função da eficiência de mercado, mas o subseqüente movimento do preço do ativo flutua aleatoriamente. Finalmente, Ross, Westerfield e Jaffe (2002 p. 265-268) descrevem a importância da avaliação do comportamento dos agentes e do mercado em função de novas informações e, como estas interferem nos preços das ações. Por outro lado, em complemento à hipótese de mercado eficiente defendida por Fama (1970), Assaf Neto (2006, p. 205) determinou como hipóteses adicionais as seguintes premissas: i.) nenhum participante é capaz de influenciar os preços dos ativos; ii.) o mercado, de uma forma geral, compreende investidores racionais que investem em alternativas que lhes proporcionem o maior retorno possível para um determinado nível de risco, ou um menor risco para uma taxa de retorno especifica; iii.) todos os participantes de mercado possuem, sem custo e instantaneamente, acesso as informações; iv.) não existe racional de capital num mercado eficiente, em principio, considerando que todos agentes possuem acesso equivalentes as fontes de credito; v.) os ativos objetos do mercado são negociados sem restrições e perfeitamente divisíveis; vi) os investidores possuem conceito igual em relação ao 23 desempenho futuro do mercado. 2.2 Finanças comportamentais Segundo Haugen (2000, p. 15), os estudos de finanças comportamentais fazem parte das “Novas Finanças”, sendo que a abordagem principal dessa fase é o mercado ineficiente, ou seja, esta linha de pensamento financeiro baseia-se em estudos contrários ao comportamento racional de mercado. Lintner (1998, p. 7), por sua vez, conceitua as finanças comportamentais como “o estudo de como os investidores interpretam e agem de acordo com a informação para fazer decisões de investimento”. Nas últimas décadas foram publicados diversos trabalhos, dos quais destacamos a pesquisa dos psicólogos Kahneman e Tverski (1979) sobre o comportamento e o processo de tomada de decisão do ser humano em situações de risco. Nestes estudos, foram observados que a aversão à perda pode ser considerada como o principal padrão de comportamento e baseia-se na constatação de que as pessoas sentem muito mais com a perda do que o prazer com um ganho equivalente. Esse pressuposto contraria a Teoria da Utilidade, preceito microeconômico, o qual supõe que o investidor avalia o risco de um investimento de acordo com a mudança que ele proporciona em seu nível de riqueza. Portanto, na abordagem das Finanças Comportamentais, o agente nem sempre é totalmente racional. Dessa forma, esta teoria busca identificar como as emoções e os erros cognitivos podem influenciar o processo de decisão de investidores e como esses padrões de comportamento podem determinar mudanças no mercado. Baseando-se na prerrogativa de que as finanças comportamentais sugerem um princípio de racionalidade limitada, Brav e Healton (2006) consideram a existência de anomalias financeiras decorrentes de limitações humanas na produção de efeitos econômicos. Tais anomalias, conforme os autores, divergem dos pressupostos apresentados na Teoria de Mercado Eficiente. Conforme Quadro 4 apresentado por Gabriel et al. (2013), seguem as principais anomalias financeiras identificadas: 24 Quadro 4: Principais tipos de anomalias financeiras Tipo de Anomalia Evento Janeiro Mudança do Mês Anomalias de Calendário Segunda-feira Anomalias Técnicas Anomalias Fundamentais ou de Valor Uso de Médias Móveis e da quebra de faixa de negociação Sobre-Reação Tamanho Índice Preço/Lucro (P/L) Efeito do Evento sobre o Retorno das Ações Maiores retornos em relação aos outros meses do ano Maiores retornos no último dia e nos quatro primeiros dias de um mês Menores retornos do que nos demais dias da semana, em virtude de algumas más notícias serem divulgadas ao mercado na sexta-feira após o encerramento do mercado Movimentos extremos nos preços decorrentes de subestimação de dados anteriores e superestimação de dados recentes Maiores retornos ajustado ao risco das empresas de menor porte. Maiores retornos ajustados ao risco de ações com P/L baixo Fonte: Adaptado de Gabriel et al (2013) Cabe ressaltar, segundo Santos et al (2007), os defensores da teoria neoclássica afirmam, entretanto, que tais anomalias acontecem de maneira aleatória e não provocam resultados capazes de, quando somados, contrapor-se àqueles previstos pelos modelos baseados em expectativas racionais. Vários estudiosos, entre eles Eugene Fama, contestam os resultados encontrados pelos pesquisadores das finanças comportamentais alegando a falta de generalidade. 2.3 Risco sistêmico Risco é definido como a possibilidade de algum evento ocorrer de maneira diferente da expectativa do investidor. O risco total de um investimento compreende o somatório do risco diversificável (risco único) e do risco não diversificável (risco de mercado ou risco sistêmico). O risco diversificável deriva do fato de que muitos dos perigos que rodeiam uma instituição são peculiares àquela instituição, eventualmente, aos seus competidores imediatos. O risco de 25 mercado, por outro lado, refere-se ao risco que não pode ser evitado, uma vez que deriva de fatores que ameaçam todos os negócios (BRIGHAM e EHRHARDT, 2010). Este é o motivo das ações apresentarem a tendência de se movimentarem juntas e corresponde ao motivo dos investidores estarem expostos a incertezas do mercado, não importando quantas ações eles possuam Os fatores que ameaçam todos os negócios são caracterizados como eventos sistêmicos. Segundo Santos et al. (2008), os eventos sistêmicos podem resultar de ações concorrenciais, como redução de preço, extensão do prazo de financiamento; bem como de guerras, greves, atentados terroristas e acidentes naturais e climáticos. O retorno das ações negociadas do mercado de capitais inclui o risco esperado e o risco inesperado, sendo o risco esperado derivado das informações que os investidores têm sobre a ação que estão investindo, sobre a reação do mercado e sobre as consequências a serem observadas no futuro. O risco inesperado, por sua vez, caracteriza-se por acontecimentos e informações não esperadas que ocasionem mudanças anormais no retorno das ações negociadas (SANTOS et al, 2008). Este é considerado como o risco efetivo de um investimento. Risco sistêmico é também definido como o risco de que um choque a uma parte limitada do sistema se propague para todo o sistema financeiro, resultando em sucessivas falências e à quebra do sistema. O Comitê de Bancos da Basiléia também considera o risco sistêmico como o risco em que a inadimplência de uma instituição em honrar seus compromissos contratuais ocasione uma reação em cadeia em todo o sistema financeiro. A velocidade do contágio da crise financeira de 2008 em outras instituições financeiras, inclusive nas quais apresentavam condições econômico-financeiras saudáveis antes do efeito dominó, ocasionou um choque mais amplo e generalizado, atingindo diversos mercados e segmentos econômicos. O entendimento da natureza do risco sistêmico é essencial para a avaliação da ocorrência e propagação das crises financeiras. Allen e Gale (2000) e Freixas, Parigi e Rochet (2000) analisam o risco de contágio onde a falência de uma instituição financeira resulta na insolvência de outras instituições financeiras através de um efeito dominó. Este tipo de risco sistêmico é geralmente usado pelos órgãos reguladores como justificativa para intervenção e recuperação em instituições que são muito grandes para falir. 26 Nos últimos anos, a inovação do mercado financeiro com a criação de novos instrumentos financeiros na forma de derivativos de crédito, securitizações e obrigações de dividas colateralizadas possibilitou uma diversificação de riscos, porém, criou mais similaridades entre os portfólios, aumentando, assim, a probabilidade de falência e contágio em outras instituições financeiras similares. Em geral, a prevenção de risco sistêmico pode ser abordada através de três aspectos: fortalecimento da regulamentação e supervisão micro-prudenciais; criação de regulamentação e supervisão macro-prudencial mais robusta para suportar aumento do risco de crises sistêmicas como resultado da alta interconexão dos sistemas; e, melhorias gerais no procedimentos macroprudenciais. (OH E JUNG, 2012) 2.4 Contágios e crises financeiras Há diversos estudos acadêmicos que conceituam crises financeiras e contágio, visando, inclusive relacionar a relação entre ambos. De uma forma ampla, a crise financeira abrange diversos episódios, como crises bancárias, crises cambiais, inadimplência de dívidas, crises no mercado de securitização, dentre outros (VIDAL, 2011). Estudos apresentados por Reinhart e Rogoff (2010) apontam que, de uma maneira geral, as crises financeiras são prolongadas e, como consequência, compartilham três principais características: i.) Os colapsos no mercado de ativos são profundos e prolongados; ii.) o rescaldo das crises bancárias está associado à severas quedas na produção e no nível de emprego e; iii.) o valor da dívida do governo tende a explodir. Soma-se, ainda, segundo Corsetti, Pericoli e Sbracia (2010) que, em um evento de crise financeira, são esperadas significativa volatilidade e queda no preço das ações, bem como aumento de covariâncias e correlações entre os países, contribuindo, assim, para a transmissão dos choques financeiros para outras localidades. Segundo Vidal, 2011 (apud Bergmann et al(2010), a definição do termo contágio ganhou destaque a partir da década de 1990, após a extensão de choques em um mercado para diversos mercados de outros países, sem a explicação de mudanças em seus fundamentos econômicos. Bilio e Caporim (2010) distinguem três definições de contágio, seguindo classificação do Banco Mundial: i.) Definição abrangente, em que o contágio é definido como processo geral de transmissão de choques entre os períodos, sendo que tais choques podem estar associados a fatos 27 positivos ou negativos em períodos tranquilos ou de crise; ii;) Definição restritiva, em que ocorre a propagação de choque entre dois países em excesso do que seria esperado por fundamentos e; iii.) Definição muito restritiva, em que o contágio é interpretado como mudança dos mecanismos de transmissão em períodos turbulentos. No Quadro 5, são apresentadas as principais crises financeiras ocorridas nos últimos 15 anos: Quadro 5: Principais crises financeiras desde 1997 Crise/ Origem Crise da Ásia/ Hong Kong 1997-1998 Crise da Rússia/ Rússia 1998 Crise desvalorização cambial/ Brasil Bolha da Internet/ Estados Unidos 1999 Crise Argentina Argentina/ 2001 Ataque Terrorista 11 de 2001 setembro/ Unidos Período Estados 2000 Impactos e Consequências: Crise de confiança, processo de fuga de capitais, desvalorização cambial e deflação de ativos financeiros na Tailândia, Malásia, Indonésia, Filipinas, Coréia do Sul e Hong Kong. Queda do mercado de capitais em Hong Kong em meados de outubro de 1997. Circuit breaker da Bovespa acionado pela primeira vez em 1997. Causa da crise russa em 1998 e desvalorização cambial no Brasil em 1999. Desvalorização da moeda russa; Moratória da dívida externa russa Calote da dívida interna russa Aversão a risco e fuga de capitais de países emergentes, como o Brasil (queda de 63% do Ibovespa) e abandono de sistema de câmbio vigente. Queda global dos preços das commodities Aumento de inadimplência de bancos americanos e europeus: perda de USD 47 bilhões. Desvalorização do real após a mudança do regime de câmbio fixo para flutuante Supervalorização das empresas chamadas de pontocom após notável crescimento do segmento entre 1995 e 2001, crescimento este que levou ao aumento significativo no número de empresas do setor e em seu valor de mercado. Falência de quase cinco mil companhias e algumas das maiores corporações do setor de telecomunicações Redução das taxas de juros ao longo de 2001, no intuito de estimular o crescimento econômico. Congelamento de contas bancárias, desvalorização do peso, erosão de poupanças Moratória da dívida externa argentina Inatividade da bolsa de Nova York, NYSE, New York Securities Exchange por quarto dias, registrando em sua abertura perdas de USD 590 bilhões. Queda de outros índices norte-americanos e bolsas internacionais Redução drástica do consumo norte-americano, especialmente em setores como hotelaria e transporte, principalmente aéreo, devido à intensificação do controle de imigração. Redução da taxa básica de juros Abertura significativa de linhas de crédito imobiliário, inclusive 28 Crise Pré Eleitoral/ 2002 Brasil Crise Subprime/ Estados 2007-2008 Unidos Crise Européia/ Europa 2010 para clientes do segmento subprime. Aumento no risco Brasil de 1.227 pontos, valorização do dólar para quatro reais (R$ 4,00) e queda no Ibovespa de 65% entre janeiro e outubro de 2002. Perda de valor de títulos públicos emitidos pelo Tesouro Nacional e Banco Central brasileiros Aversão ao risco: saída de capital do país e inibição de novos fluxos. Aumento significativo na relação dívida/PIB. Redução da produção industrial e do volume de comércio internacional e quedas expressivas nos mercados acionários. Queda das importações norte americanas comprometendo a economia de diversas nações, levando à redução de investimentos estrangeiros, de preços das commodities e nas bolsas de valores de todo o mundo. Retração econômica impactou todos os países, principalmente a Europa e países que apresentavam uma economia dependente da exportação de commodities, com quedas expressivas em seus preços devido à redução das importações. Quebra de instituições financeiras Americanas e socorro do governo Desaceleração econômica Fonte: Elaborado pela autora/ adaptado de VIDAL (2011) Considerando que as crises financeira e a européia foram as crises mais relevantes dos últimos anos, o foco da presente pesquisa está concentrado em seus fatores determinantes e impacto no retorno das ações e na saúde financeira dos bancos brasileiros. 2.4.1 Crise financeira de 2008 As causas e consequências da crise financeira iniciada em meados de 2007, desdobramento da crise subprime, vem gerando novas preocupações e questionamentos entre as autoridades regulatórias e acadêmicos interessados em discussões financeiras, em virtude de sua severa importância em relação às demais crises ocorridas nas últimas décadas. Esta crise, iniciada nos Estados Unidos, foi consequência de alta exposição à créditos hipotecários de baixa qualidade, amparada por um cenário de taxas de juros baixas e condições financeiras acomodatícias (MESQUITA e TORÓS, 2010). A crise do subprime iniciou-se em 2006 com a quebra de algumas instituições de crédito norte-americanas que concediam empréstimos imobiliários para clientes sem comprovação de renda e com histórico ruim de crédito. O pagamento dos empréstimos ocorria mediante 29 sucessivas renegociações, que, em períodos de valorização contínua dos imóveis, permitia aos mutuários oferecer o próprio imóvel como garantia. Concomitantemente a este cenário, as instituições de crédito securitizavam os créditos imobiliários concedidos ao segmento subprime para bancos de investimentos, gerando oportunidades para que tais instituições pudessem financiar mais créditos imobiliários de alto risco. Caramaschi (2007) diz que os bancos compravam as hipotecas subprimes e agrupavam-nas em grandes carteiras com diversos títulos, segregados por diferentes taxas de juros e classificação de risco. Esta operação resultou num índice excessivo e até mesmo desconhecido de alavancagem de operações de crédito dentro e fora do balanço. Como as taxas de juros eram pós-fixadas, o aumento das taxas de juros nos Estados Unidos e, consequente, redução na queda do preço dos imóveis, provocou inadimplência em massa e situação de insolvência nos bancos. Em meados de 2007, a crise do crédito imobiliário resultou numa crise de confiança geral no sistema financeiro e redução de liquidez bancária no mercado norte-americano. As incertezas sobre a qualidade dos créditos hipotecários combinados à falta de transparência em produtos financeiros estruturados emitidos com lastro dos créditos hipotecários e altos níveis de alavancagem resultaram em problemas em dois fundos de hedge gerenciados pelo banco de investimentos Bear Stearns em junho de 2007. Assim, a aversão ao risco levou investidores a ajustarem o preço dos imóveis no período. Esta crise foi alastrada e agravada com a falência do banco de investimento Lehman Brothers em setembro de 2008, atingindo rapidamente o mercado financeiro global e resultando num risco sistêmico. A incerteza relacionada à liquidez e à solvência do sistema financeiro norte-americano provocou um significativo volume de resgates de cotas e de investimentos por investidores: USD 320 bilhões em uma semana de setembro de 2008, aumentando sensivelmente os custos de captação dos bancos norte-americanos e restringindo as condições de oferta de crédito doméstica e internacional. O prêmio médio dos credit default swaps (CDS) de cinco importantes bancos americanos atingiu o valor recorde de 328 b.p. em 17 de setembro de 2008 (BCB, 2009). O stress no sistema financeiro resultou na adoção de medidas extraordinárias, como amplas injeções de recursos no mercado financeiro, reduções de taxas básicas de juros, planos de resgate e recapitalização de instituições financeiras, aquisição de operações de grupos financeiros, 30 aumento das garantias dos depósitos bancários e implementação de planos de compra de ativos financeiros considerados tóxicos. Com a criação do programa Troubled Asset Relief Program (TARP) aprovado pelo Congresso Norte-Americano através da Lei Emergencial de Estabilização Econômica, (EESA), o Tesouro Americano adquiriu participações acionárias em importantes bancos norte-americanos como Goldman Sachs Group, Morgan Stanley, JP Morgan Chase, Cititgroup, Bank of America, dentre outros. (BCB, 2009) A degradação da qualidade de crédito sofrida pelo sistema financeiro americano foi evidenciada pelo incremento substancial no montante de empréstimos e arrendamentos mercantis em atraso em USD 44 bilhões apenas no quarto trimestre de 2008, sendo quase 70% oriundo de empréstimos imobiliários. O prejuízo apresentado pela indústria bancária assegurada pela Federal Deposit Insurance Corporation - FDIC atingiu USD 32.1 bilhões no quarto trimestre de 2008, o primeiro prejuízo trimestral desde 1990. Uma em cada três instituições financeiras registrou prejuízo no período, sendo que apenas quatro instituições financeiras foram responsáveis por metade do prejuízo apresentado. As dificuldades enfrentadas no sistema financeiro norte-americano levaram 78 instituições financeiras seguradas pela FDIC a serem absorvidas por meio de fusões, 12 instituições faliram e 5, receberam assistência da FDIC. Durante o ano de 2008, ocorreram 292 fusões bancárias, além de 25 falências. Soma-se a existência de 252 bancos comerciais e instituições de poupança com problemas, perfazendo ativos de USD 159 bilhões (BCB, 2009). No primeiro semestre de 2009, o sistema financeiro permaneceu em processo de desalavancagem, com instituições ainda detendo, em seus balanços, ativos lastreados em hipotecas de difícil precificação e enfrentando ambiente macroeconômico adverso, com impactos deletérios na qualidade do crédito e na lucratividade dessas instituições (BCB, 2009). Novas medidas continuaram a ser implementadas pelas autoridades norte-americanas para garantir liquidez e desobstruir os canais de crédito na economia americana. As grandes instituições financeiras começaram a divulgar resultados melhores do que os esperados pelo mercado em 2009, especialmente em função de mudanças contábeis e desinvestimentos de algumas atividades não essenciais. Assim, beneficiando de uma melhoria nos mercados financeiros, tais instituições acessaram o mercado de capitais para reforçar o capital próprio para 31 enfrentamento de futuras baixas contábeis e iniciar a devolução de recursos públicos captados pelo TARP. A melhora no desempenho norte-americano no inicio de 2010 contribuiu para que a indústria bancária registrasse resultado líquido positivo de USD 18 bilhões no primeiro trimestre, com tendência positiva registrada nos períodos subsequentes. 2.4.2 Crise européia 2010/2012 Há três fases na relação entre o Euro e a crise da dívida fiscal soberana européia: 1) o arcabouço institucional inicial do Euro contribuiu para o crescimento de riscos fiscais no período anterior a crise financeira de 2008; 2) a crise financeira contribuiu para ampliar o impacto fiscal; 3) as restrições impostas pela União Européia também moldaram a duração e o tempo do período de recuperação pós-crise, juntamente com a resposta política caótica da Europa e falha em ter instituições para gerenciamento da crise. (LANE, 2012) A dívida fiscal soberana está intimamente relacionada com a crise bancária e imperfeições macroeconômicas européias, uma vez que o impacto combinado de recessão doméstica, dificuldades do segmento bancário e redução de apetite de risco entre os investidores internacionais contribuíram para a crise atual da Zona do Euro. As preocupações com a dívida Européia surgiram no final de 2009, considerando que tanto em 2008 como no início de 2009, o foco de atenção européia estava mais concentrado nas ações do Banco Central Europeu para endereçar o choque financeiro global, do que nos riscos fiscais individuais de cada país. Ao final de 2009, no entanto, o crescimento mais do que esperado de déficit sobre PIB de alguns países europeus, influenciado por redução de receitas fiscais na Irlanda e na Espanha, além de recessão e perdas de crédito bancárias em outros países, contribuiu para uma nova fase da crise da dívida soberana Européia. Em outubro de 2009, o novo governo da Grécia anunciou projeções de crescimento do déficit público de 3,7% para mais de 12,7% do PIB, marcando, assim, o início da crise da dívida soberana européia. O mercado financeiro reagiu agressivamente temendo atraso no cumprimento das obrigações financeiras da Grécia. As agências de rating rebaixaram a nota de risco soberano da Grécia de A- em dezembro de 2009 para junk bond no final de abril de 2010. (SEITZ E JOST, 2012) 32 Outros países da zona do Euro também enfrentaram problemas com déficit fiscal crescente e custos de refinanciamento da dívida soberana com aumento dramático. Esta crise que parecia estar relativamente localizada na Grécia em 2010, rapidamente se espalhou para Irlanda e Portugal, atingindo a Itália e a Espanha no segundo semestre de 2011. Assim, em meados de 2010, o mercado interbancário europeu sofreu grande volatilidade, resultante de incertezas sobre a efetividade das medidas fiscais em curso na área do Euro, a capacidade de alguns países obterem recursos para suprir suas necessidades de curto prazo e a existência de tais recursos para socorrer os mesmos. Programas de assistência promovidos pela União Européia e pelo Fundo Monetário Internacional foram estabelecidos através de linhas de financiamento de 3 anos condicionados à implementação de pacotes de austeridade fiscal e reformas estruturais visando o crescimento, recapitalização e desalavancagem dos sistemas bancários. A requisição de Euro 78 bilhões de assistência financeira de Portugal para a União Européia e para o Fundo Monetário Internacional (FMI) conjugado à percepção de que a Grécia não cumpriria as metas de ajuste fiscal estabelecidas em meados de 2010 contribuiu para a manutenção da deterioração no mercado de dívida européia e aversão ao risco por investidores ao longo de 2011. Entre maio e junho de 2011, foi estabelecido um novo conjunto de medidas de auxílio financeiro, o qual representou três importantes mudanças na abordagem de auxílio ao países europeus com dificuldades fiscais: i.) a previsão de redução nos juros cobrados pelos recursos provenientes do Estabilidade Financeira Européia; ii.) a extensão do prazo para o pagamento do empréstimo concedido; iii.) a participação de credores privados por meio de troca de bônus e recompra com deságio de parte da dívida detida por esses credores (BCB, 2012). Novas ações de rebaixamento de ratings de Portugal e Grécia juntamente com a percepção de que os recursos no montante de 440 bilhões de euros a serem fornecidos pela Estabilidade Financeira Européia seriam insuficientes para suportar a necessidade de financiamento de outros países continuaram reduzindo a confiança de investidores. Soma-se o agravamento da percepção de risco da Espanha e Itália em julho de 2011, em decorrência de altas taxas de desemprego, elevado nível de endividamento público e modesto crescimento econômico. Com o objetivo de restaurar a confiança dos investidores, o Banco Central Europeu começou a fornecer liquidez ao mercado secundário de dívida em agosto de 2011. A deterioração 33 econômica internacional, no entanto, continuou acarretando riscos para a estabilidade financeira global, em função das incertezas a respeito da capacidade de solvência de países europeus, contagiando, incluindo o sistema bancário, dada sua elevada exposição a dívidas soberanas de tais países. Assim, em dezembro de 2011, a Autoridade Bancária Européia constatou a necessidade de 114,7 bilhões de Euros para a recapitalização do sistema bancário europeu, sendo 30 bilhões de Euros para Grécia, 26,2 bilhões de Euros para a Espanha, 15,4 bilhões de Euros para a Itália e 6,9 bilhões de Euros para Portugal. As necessidades de capital para os bancos de Alemanha, França e Bélgica foram estimadas em 13,1 bilhões de Euros, 7,3 bilhões de Euros e 6,3 bilhões de Euros, respectivamente (Banco Central, 2012). Nesse cenário, o Banco Central Europeu (BCE) tomou medidas para garantir a liquidez e reduzir o custo de financiamento em dólar para os bancos da região. Para tanto, o BCE reintroduziu a Longer Term Refinancing Operation (LTRO), inicialmente com prazos de seis meses, em agosto, e de doze meses, em outubro, culminando com a LTRO de três anos ofertada em dezembro, quando então 532 bancos da região tomaram emprestados €489 bilhões por meio dessa linha de refinanciamento. Ao mesmo tempo, o BCE ampliou o número de colaterais elegíveis para essas operações. No entanto, nos primeiros dias de janeiro, havia cerca de €500 bilhões em depósitos dos bancos no BCE, sinalizando que os problemas no mercado bancário estão mais associados à percepção de risco de contraparte7 do que à falta de liquidez. Para reduzir os custos de financiamento em dólar, o BCE anunciou acordos bilaterais de swaps de moeda com diversos bancos centrais. As medidas de liquidez adotadas pelo BCE melhoraram as percepção de risco no primeiro trimestre de 2012, a qual foi novamente impactada negativamente no segundo trimestre, pelo impasse político na Grécia, pelos sinais de fragilidade do sistema bancário espanhol, pela sustentabilidade fiscal da Itália, além do crescente risco de recessão na Área do Euro. Conforme Seitz e Jost, 2012, os detalhes dos planos de captação estabelecidos para Grécia, Irlanda e Portugal apresentaram 6 principais riscos: 1.) Dada a escala dos problemas macroeconômicos, fiscais e financeiros, um período plausível de ajuste macroeconômico seria maior do que três anos; 2) Uma consolidação fiscal excessivamente rápida pode agravar fraquezas no sistema bancário; 3) As metas fiscais não foram condicionais nos estados de maior representatividade da economia européia; 4) A multa imposta pelo FMI no descumprimento do 34 plano pode encorajar falta de risco moral em obter tais financiamentos quando não realmente necessários e também compensa os financiadores para risco de inadimplência não trivial; 5) Os recursos têm sido utilizados para recapitalizar os sistemas bancários, além de cobrir déficits fiscais regulares; 6) o FMI adota como princípio básico para concessão de linha de financiamento de que caso o nível de dívida soberana não seja sustentável, há necessidade de que credores do setor privado concordem em uma redução no valor da dívida pertencida a eles. 2.5 Regulamentação e supervisão bancária 2.5.1 Introdução A regulamentação e supervisão bancária possuem como objetivo principal o monitoramento da exposição de risco enfrentado pelas instituições financeiras, visando também o gerenciamento de um adequado sistema financeiro. A responsabilidade desempenhada pelo regulador, desta forma, consiste na execução de mecanismos que visem a formação de uma rede de segurança financeira através de seguro-depósito, garantias e crença das severas consequências de uma falência bancária sobre o sistema financeiro (Berger et al, 1998). Segundo Ungureanu (2008), a importância da supervisão bancária reside na criação de um ambiente regulatório que permita que a qualidade e a efetividade no gerenciamento de risco possam ser otimizadas para contribuir com um sistema bancário adequado e confiável. A necessidade da existência de uma adequada regulamentação bancária reside no fato de que as perdas podem impactar negativamente o resto do sistema financeiro e até uma economia geral. Se uma parte significativa do sistema bancário é afetada, a infraestrutura financeira de uma economia pode entrar em colapso, resultando em consequências desastrosas para uma atividade econômica. (ADAMATI E HELLWIG, 2011). Uma crise do sistema bancário pode contribuir para a redução de crédito e para o baixo crescimento do PIB. Os bancos influenciam o crescimento econômico, população, condições no mercado de trabalho e oportunidade econômicas disponíveis para as pessoas (CAPRIO, BARTH, LEVINE, 2013). A regulamentação bancária estabelece, então, regras prudenciais para aquisição de um gerenciamento de risco e arcabouço operacional efetivo, bem como regras de divulgação de informações para promover disciplina de mercado. A supervisão bancária visa assegurar que na 35 prática as instituições monitorem e gerenciem efetivamente todos os seus riscos relevantes (UNGURIANU, 2008). A regulamentação prudencial visa proteger os depositantes e propiciar um estável e adequado funcionamento do sistema bancário, ao prevenir ou mitigar riscos de insolvências resultantes de problemas internacionais que possam comprometer outras instituições financeiras através da quebra de confiança no sistema. A supervisão e a regulamentação do sistema financeiro tornam-se, assim, fundamentais para prevenir crises, através do controle do risco moral e do desencorajamento de risco excessivo das instituições financeiras (VERRONE, 2007). O sistema bancário moderno tem se tornado muito complexo nas últimas duas décadas. Apesar da introdução de diversos mecanismos de mitigação de riscos, os bancos ainda permanecem sensíveis a pânicos e resgates como no passado. A diferença é que hoje ocorre também a fuga de liquidez do mercado de capitais de curto prazo, ao contrário de apenas depósitos, como antigamente. A crise bancária global de 2008, problemas bancários na Zona do Euro em 2012, além de mais de 100 crises bancárias ocorridas no sistema desde 1970 sugerem, pelo menos parcialmente, falhas na regulamentação e supervisão bancária. Estes acontecimentos, juntamente com a evolução do mercado financeiro nos últimos anos têm provocado mudanças nos aspectos de supervisão bancária. Uma supervisão e regulamentação bancária baseada apenas em uma perspectiva puramente micro prudencial não é suficiente para manter a estabilidade financeira, exigindo também a adoção de uma perspectiva macro que avalie e abranja o sistema financeiro como um todo. (HIRTLE ET AL, 2009). Neste sentido, tantos os reguladores como os bancos têm adotado uma abordagem nova de supervisão mais orientada ao mercado. O papel de supervisão tem adquirido uma importância cada vez maior e mais complexa com o intuito de encorajar os bancos a otimizarem o gerenciamento de seus riscos. O fortalecimento dos requerimentos de divulgação de informações para todos os acionistas têm mudado a abordagem de supervisão bancária, aumentando a importância da percepção de orientação ao mercado por bancos e autoridades relevantes. As autoridades regulatórias das economias emergentes, incluindo América Latina, têm adotado medidas prudenciais para conter o crescimento de crédito e suportar a manutenção da estabilidade de seus sistemas financeiros. Estas medidas incluem o uso de recolhimentos compulsórios, regras mais rígidas de requerimentos de capital, dentre outros. (Mora, et al., 2012). 36 O Comitê da Basiléia, como resposta a crise financeira de 2008, divulgou novos princípios de capital, como analisado no item 2.5.2; enquanto que, no Brasil, o Fundo Garantidor de Crédito teve seu objeto social modificado em 2012, visando a contribuição tanto para a manutenção da estabilidade do Sistema Financeiro Nacional, como para a prevenção de crise bancária sistêmica. 2.5.2 O Papel da supervisão bancária e o Comitê da Basiléia O atual Comitê de Supervisão Bancária da Basiléia (Comitê de Basiléia) foi constituído no final de 1974 como um fórum para bancos centrais e reguladores nacionais discutirem temas relacionados à instabilidade e à regulamentação do setor bancário internacional. Composto por representantes dos Bancos Centrais e por autoridades de supervisão bancária da Argentina, Austrália, Bélgica, Brasil, Canadá, China, França, Alemanha, Hong Kong, Índia, Indonésia, Itália, Japão, Coréia, Luxemburgo, México, Holanda, Rússia, Arábia Saudita, Cingapura, África do Sul, Espanha, Suécia, Suíça, Turquia, Inglaterra e Estados Unidos, o comitê encontra-se regularmente quatro vezes ao ano na sede do Banco de Compensações Internacionais (BIS – Bank for International Settlements) na Basiléia, Suíça. Desde sua criação, o Comitê de Supervisão Bancária de Basiléia objetiva fortalecer a solidez dos sistemas financeiros, através da compreensão de questões supervisórias fundamentais e do aperfeiçoamento da qualidade de supervisão bancária no mundo (FRANCISCO et al, 2010; BCBS, 2008). O Comitê, no entanto, não possui autoridade legal para regulamentar os bancos, apesar de propor princípios comuns e mecanismos que os bancos centrais nacionais são encorajados a adotar e a fiscalizar. As propostas mais importantes em relação aos requerimentos de capital e supervisão são agregadas em três separados acordos, os quais são conhecidos como Basiléia I, II e III, cuja evolução e principais características estão descritas na Figura 1 e Quadro 6. Através destes acordos, o comitê estabeleceu padrões internacionais para requerimentos de capital bancário. 37 Figura 1: Evolução dos Acordos de Basiléia, objetivos e consequências Fonte: Elaborado pela autora Enquanto que Basiléias I e II constroem o conceito inicial de requerimento mínimo de capital, ocorre o desenvolvimento de novos produtos no sistema financeiro, fazendo com que surjam novas ferramentas para mensurar e monitorar os novos riscos emergentes. Assim, o Comitê de Basiléia continuamente adapta e aperfeiçoa os princípios regulatórios propostos. Neste sentido, de forma a fortalecer a capacidade das instituições financeiras de absorverem choques resultantes de crises econômicas e financeiras, em 2009, o Comitê da Basiléia, em seu papel de supervisão bancária, divulgou novos procedimentos de requerimentos de capital, consubstanciados no Acordo de Basiléia III. O acordo proposto, neste sentido, tem como objetivo responder os efeitos da crise financeira através de um novo regime regulatório mais rígido, com adoção de métricas internacionais de alavancagem e de liquidez e de medidas de fortalecimento da qualidade de capital, que force os bancos a melhor se prepararem para períodos de stress. Quadro 6: Resumo da evolução das regras dos Acordos da Basiléia I, II e III Basiléia I Definições: capital nível 1 e capital nível 2 Índices e Metas de Capital Basiléia II Basiléia III Nova definição de capital Novas proteções de capital Novo índice de alavancagem Índices mínimos de capital mais altos 38 Risco Sistêmico Requisitos de ativos ponderados pelo risco Risco de mercado Risco de crédito Pilar 3 - Disciplina de mercado Pilar 2 - Revisão pela supervisão Pilar 1 - Risco operacional Pilar 1 - Risco de mercado Pilar 1 - Risco de crédito Medidas de Liquidez Risco de contraparte Revisões em securitização Índice de liquidez de curto prazo (LCR) Índice de liquidez de longo prazo (NSFR) Fonte: Adaptado pelos autores, PRICE WATERHOUSECOOPERS, 2011 2.5.3 A atuação regulatória do Brasil nas crises Tão logo a crise subprime eclodiu em meados de 2007, houve sinais de stress entre o mercado interbancário com redução de liquidez e aumento de aversão ao risco por parte de investidores. As autoridades regulatórias em muitos países prontamente atuaram na flexibilização da politica monetária e na provisão de liquidez das instituições financeiras, revitalizando os mercados interbancários e preservando os fluxos de capitais para economias emergentes (MESQUITA E TORÓS, 2010). “Mesmo economias emergentes, como o Brasil, com regimes cambiais flexíveis, passaram a apresentar valorização mais intensa de ativos (em parte derivada da antecipação, confirmada em abril de 2008, da atribuição de grau de investimento à dívida soberana), aceleração de crescimento, bem como crescentes pressões inflacionarias.” (MESQUITA E TORÓS, 2010) Entre Junho de 2007 e de 2008, o índice de bolsa de valores brasileira valorizou 20% em moeda nacional, o mercado de capitais emitiu R$165 bilhões (5.6% do PIB) e o crédito passou a representar 36% do PIB, ante 32% em 2007 (MESQUITA E TORÓS, 2010). Tal cenário, no entanto, mudou abruptamente com o agravamento da crise financeira internacional em setembro de 2008, com aumento de incerteza e deterioração das perspectivas de desempenho econômico global, resultando em forte volatilidade e acentuada desvalorização no mercado acionário brasileiro. O circuit breaker, procedimento que interrompe o pregão por trinta minutos quando o Ibovespa apresenta oscilação superior a 10% na mesma sessão, foi acionado três vezes entre setembro e outubro de 2008. (BCB, 2009) 39 As operações de crédito do SFN mantiveram trajetória de significativa expansão até setembro de 2008, cuja tendência foi interrompida pelas condições desfavoráveis associadas aos desdobramentos da crise financeira internacional. Soma-se que a redução da liquidez no mercado externo e a volatilidade da taxa de câmbio resultaram em aumento do grau de incerteza na economia doméstica, com reflexos sobre a oferta e a demanda por crédito bancário no último trimestre de 2008. Em consequência disso, verificouse expressivo aferrecimento no ritmo de contratações de crédito, nos financiamentos destinados tanto ao consumo quanto à atividade produtiva (BCB, 2009). Instituições financeiras, especialmente as de menor porte, enfrentaram redução de liquidez em dólares, em função da alta aversão ao risco, resultando numa maior vulnerabilidade de constrição de liquidez em moeda nacional. Atrelado a isto, ocorreu o efeito conhecido como “fly to quality”, em que investidores mais aversos ao risco, optaram por investirem em ativos com garantia explicita ou implícita do governo federal (MESQUITA E TORÓS, 2010). Estes fatores resultaram no incremento da utilidade da disponibilidade de liquidez no SFN, com 41 instituições financeiras acessando a reserva entre 6 a 10 de outubro de 2008, ante apenas 3 entre 8 a 12 de setembro de 2008 (MESQUITA E TORÓS, 2010). O expressivo volume de ativos líquidos mantidos pelas instituições financeiras no início de 2008, a existência de depósitos compulsórios elevados, os avanços institucionais verificados nos últimos anos, como a criação do Fundo Garantidor de Créditos (FGC), a eficaz regulamentação prudencial, o elevado montante de reservas internacionais e a evolução da supervisão bancária brasileira foram fundamentais para amenizar os efeitos da crise financeira internacional no mercado doméstico e evitar desdobramentos mais graves para toda a economia brasileira. Ainda assim, a perda de depósitos por algumas instituições, a redução nas linhas de financiamento do comércio internacional e os níveis crescentes de inadimplência nas operações de crédito pressionavam, no último trimestre de 2008, a liquidez de algumas instituições financeiras de menor porte, cujo modelo de negócio dependia predominantemente da captação de recursos de investidores institucionais e da cessão de crédito para os grandes bancos. (BCB, 2009). 40 Apesar do aumento no volume de depósitos nesse período, os grandes bancos reduziram o ritmo de concessão de operações de crédito e do fluxo de recursos para os bancos de menor porte, ocasionando o que ficou conhecido no mercado como “empoçamento de liquidez”. (BCB, 2009). “Entre agosto de 2008 e janeiro de 2009, enquanto o depósitos totais cresciam cerca de 13%, os depósitos em instituições de grande porte aumentaram em 20%, ao passo que os depósitos em bancos médios e pequenos tiveram quedas de 11% e 23%, respectivamente” (MESQUITA E TORÓS, 2010). Desta forma, o Conselho Monetário Nacional e o Banco Central do Brasil adotaram diversas medidas para restaurar a liquidez das instituições financeiras menores, normalizar a concessão de crédito e, assegurar, assim, o bom funcionamento do mercado financeiro nacional. Soma-se o papel fundamental exercido pelas instituições financeiras públicas na concessão de crédito para retomada do ritmo de crescimento econômico. Dentre as medidas anunciadas pelo Banco Central, destacam-se dois eventos analisados no presente estudo: i.) incentivos para aquisição de carteira de crédito de bancos menores através da liberação de depósito compulsório para os bancos maiores e; ii.) a criação do Deposito a Prazo com Garantia Especial do FGC (DPGE) com garantia complementar oferecida pelo Fundo Garantidor de Crédito – FGC para depósitos a prazo até R$ 20 milhões. Estas medidas foram essenciais para a retomada de liquidez nas instituições financeiras de pequeno e médio portes no primeiro semestre de 2009. A recuperação no ritmo de concessões de crédito e redução do volume de operações vencidas há menos de noventa dias, claramente indicou sinas de rápida recuperação da crise financeira por parte das instituições financeiras. Ao final de 2009 e primeiro semestre de 2010, as instituições bancárias privadas já haviam também recuperado em grande parte os níveis de concessão de crédito, que, juntamente com o papel exercido pelos bancos públicos, contribuíram para que o volume de crédito do Sistema Financeiro nacional retornasse aos níveis pré-crise, equivalente a 45% do Produto Interno Bruto. Este cenário contribuiu para que o Banco Central e o governo começassem gradativamente a reverter algumas medidas prudenciais previamente adotadas para combater a crise financeira de 2008. A robustez da atividade econômica conjugada a riscos de crescimento de inflação levaram o Banco Central do Brasil a aumentar a taxa básica de juros em 0,5 ponto percentual em janeiro 41 de 2011. Outras medidas visando o gerenciamento de um crescimento agressivo nas operações de crédito incluíram o aumento do recolhimento compulsório, assim como maior requerimento de capital para concessão de empréstimos consignados e de financiamentos de veículos de longo prazo. (MORA ET AL, 2012) A crescente incerteza no cenário econômico internacional, no segundo semestre de 2011, no entanto, resultou na desvalorização do Real, queda no mercado acionário e ajustes na estrutura de taxas de juros, contribuindo, assim, para que o Banco Central revertesse a direção da política monetária em agosto. Assim, com o intuito de amenizar os efeitos de desaceleração da atividade econômica brasileira, o Banco Central começou a reduzir as taxas de juros em outubro de 2011. Em novembro, o governo flexibilizou algumas medidas prudenciais adotadas em 2010, reduzindo para zero o Imposto sobre Operações de Crédito, Câmbio e Seguro, ou Relativas a Títulos e Valores Mobiliários (IOF), até então incidente nas aplicações de não residentes em títulos privados de longo prazo. O requerimento de capital para empréstimos pessoais até 36 meses e financiamento de veículos até 60 meses reduziu, enquanto que em dezembro de 2011, os bancos grandes foram novamente incentivados a adquirir operações interbancárias de bancos menores através de deduções no recolhimento compulsório de depósito a prazo. Em 2012, o Banco Central do Brasil manteve a estratégia de afrouxamento da política monetária, evidenciada pela redução da meta da taxa overnight do Sistema Especial de Liquidação e Custódia (taxa Selic) de 10,5% em 18 de janeiro de 2012 para 7.25% em 28 de novembro de 2012, como apresentado pela Figura 2. 42 Figura 2: Evolução da Taxa Selic (%) Fonte: BCB 2.5.4 Depósito compulsório Os recolhimentos compulsórios são estabelecidos a partir de um percentual sobre a parcela de depósitos e/ou outros passivos de uma instituição financeira, podendo os mesmos serem remunerados ou não (TAKEDA E DAWID, 2009). São depositados no Banco Central em espécie ou em títulos soberanos de alta liquidez. A regulamentação geralmente especifica o volume a ser recolhido conforme o tipo de depósito e a moeda, além de estabelecer o período de retenção e o tipo de remuneração, caso o mesmo seja efetivamente remunerado. O uso constante do recolhimento compulsório é válido para suportar diversos propósitos macroprudenciais: 1) O aumento do recolhimento compulsório pode acarretar em aumento de taxa de juros, redução da oferta de crédito e controle da alavancagem de crédito de tomadores na economia. Em contrapartida, a redução do mesmo pode facilitar restrições de liquidez no sistema financeiro, atuando como amortecedor; 2) Pode reduzir a dependência de financiamento externo no curto prazo ou captação doméstica de atacado, mitigando a vulnerabilidade do setor bancário a condições de liquidez mais apertadas; 3) Atua como uma ferramenta para alocação de crédito para facilitar pressões de liquidez, como utilizado pelo Brasil para direcionar recursos de banco grandes para bancos menores; 4) Desempenha uma ferramenta complementar útil para 43 requerimento de capital em países onde a valorização de ativos é altamente incerta, em função de falta de liquidez no mercado secundário, por exemplo; 5) Pode ser empregado para capitalização bancária, quando, por exemplo, o governo aumenta a remuneração do compulsório recolhido para auxiliar na capitalização, como ocorreu com a Coréia e; 6) Pode substituir alguns efeitos de política monetária para atingir metas macroprudenciais. Por exemplo, isto torna-se evidente quando grandes fluxos de entrada de capital alimentam uma rápida expansão de operações de crédito, colocando o ciclo de crédito em disputa com metas monetárias. Nestes casos, o requerimentos de compulsório podem substituir incrementos nas taxas de juros. (MORA, ET AL., 2012). Segundo Mora, et al. (2012), o uso de recolhimento compulsório vem sendo mais ativamente utilizado como uma maneira de gerenciar o risco sistêmico, diferenciando-se, assim, de uma visão antiga que considerava o compulsório apenas como uma política monetária suplementar para propostas macroeconômicas. Quando a autoridade monetária utiliza os recolhimentos compulsórios como instrumento complementar à taxa básica de juros, pode haver ganhos de estabilidade tanto sob a perspectiva do produto e da inflação quanto do macroprudencial. De modo particular, à medida que aumenta a importância de objetivos macroprudenciais, além da estabilidade da inflação e do produto, aumenta a relevância da utilização dos recolhimentos compulsórios. Além disso, note-se que o uso dos recolhimentos compulsórios se apresenta especialmente importante quando ocorrem choques no setor financeiro da economia. (ALENCAR ET AL, 2011) Segundo Mora, et al. (2012), no entanto, apesar do uso de compulsório como medida prudencial apresentar diversos benefícios, ele também é custoso e possui algumas desvantagens. De uma forma positiva, os requerimentos de compulsório auxiliam a endereçar a prociclicalidade de um ciclo de crédito ao acumular um amortecedor em momentos bons que pode ser implantado em momentos ruins, quando a liquidez está escassa. O mesmo pode também melhorar a estrutura de captação do sistema bancário, reduzindo a exposição aos bancos e, assim, mitigando um risco de contágio interbancário. Além disso, o compulsório pode ser usado como complemento para a política monetária. Negativamente, os requerimentos compulsórios são difíceis de serem calibrados em função das diversas dimensões que precisam ser consideradas e, podem induzir a desintermediação financeira, ao transferir riscos de segmentos regulados ou setores do sistema financeiro para segmentos não regulados. 44 2.5.5 Liberação do depósito compulsório no Brasil No Brasil, a Lei 4,595 da Reforma Bancária permitiu o recolhimento compulsório sobre os depósitos das instituições financeiras para ser usado não apenas como instrumento de política monetária, como também para outras finalidades (Barbosa, 2011). Historicamente, os mesmos vêm desempenhando um papel importante para a estabilidade do Sistema Financeiro Nacional, como na introdução do Plano Real em 1994, crise asiática em 1997, dentre outras. Recentemente, no entanto, os mesmos têm atuado também como instrumentos macroprudenciais, como evidenciado na ocasião da intervenção do Banco Santos em 2004 e na crises financeira e européia de 2008 e 2012. O Banco Central do Brasil tem utilizado os recolhimentos compulsórios para ajustar as condições de liquidez no sistema financeiro. De fato, logo após a crise financeira de 2008/2009, além de uma liberação horizontal, o Banco Central do Brasil também permitiu reduções dos recolhimentos compulsórios de grandes bancos caso fornecessem liquidez para bancos pequenos e médios. Em 2010, essas ações foram revertidas, como parte da estratégia de conter o crescimento do crédito em segmentos específicos (TAKEDA E DAWID, 2009 e 2011). Estas medidas foram novamente implementadas em 2011 como resposta à desaceleração econômica principalmente ocasionada pela crise européia. Uma das primeiras medidas anunciadas pelo Banco Central do Brasil para combater os efeitos da crise financeira de 2008 teve origem com a publicação da Circular 3.407, de 2 de outubro de 2008. Tal normativo, modificado e até revogado em virtude do anúncio de outras circulares posteriores, contribuiu para amenizar o impacto de liquidez enfrentado pelos bancos pequenos e médios resultante da fuga para qualidade provocada pelos investidores. Estima-se que tais medidas contribuíram para a liberação de aproximadamente 80 bilhões de reais ao sistema bancário. A Circular 3.407 dispôs sobre o cumprimento do recolhimento compulsório e do encaixe obrigatório sobre recursos a prazo, autorizando a utilização de até 40% da exigibilidade do recolhimento compulsório de depósito a prazo para aquisição interbancária de operações de crédito de bancos menores com patrimônio de referência nível I abaixo de 2,5 bilhões de reais. Caso os bancos brasileiros não efetuassem tais operações, o saldo correspondente de depósito a 45 prazo a ser recolhido no compulsório seria depositado no Banco Central do Brasil sem remuneração. As medidas de incentivo ao direcionamento de parte dos recursos dos recolhimentos compulsórios dos bancos de grande porte para compra de carteiras de crédito e para aplicação em depósitos interfinanceiros de bancos de menor porte, melhoraram a liquidez agregada e sua distribuição e contribuíram para assegurar a estabilidade do sistema financeiro. A liberação de parte dos compulsórios possibilitou aos bancos públicos e aos bancos de grande porte desempenhar papel importante na retomada das concessões de crédito após outubro de 2008. (TAKEDA E DAWID, 2009). Posteriormente, em dezembro de 2011, o anúncio da Circular 3.679, novamente modificado por normativos posteriores, contribuiu para o ressurgimento de tais medidas de liberação de compulsório, com estimativas de liberação de 30 bilhões de reais para a economia. Visando otimizar a liquidez do sistema financeiro e possibilitar o alongamento do perfil de captação das instituições financeiras, o ressurgimento da liberação do compulsório permitiu a emissão de letras financeiras pelos bancos elegíveis com patrimônio de referência nível I inferior a 2.2 bilhões de reais. 2.5.6 Seguro bancário O seguro bancário foi instituído com o objetivo de proteger o sistema de pagamentos da economia de pânicos financeiros, oriundos da vulnerabilidade operacional dos bancos em captarem depósitos de curto-prazo e oferecem operações de crédito de prazo mais longo. (CALOMIRIS, 1990 E OH E JUNG, 2012). Esta vulnerabilidade de incerteza dos depositantes quanto ao valor do seus portfólios pode resultar em distúrbios que aumentam a probabilidade de insolvência do sistema bancário, independente do valor agregado dos ativos ou concentração dos bancos. Isto pode culminar em uma desintermediação geral do sistema bancário, com onda de saques dos depositantes em virtude de falta de informação sobre a incidência ou grau do choque. Os custos sociais de tais distúrbios são elevados, uma vez que interrompem a capacidade das empresas de operarem no mercado bancário através de empréstimos, e, assim, de conduzirem eficientemente suas atividades operacionais. (CALOMIRIS, 1990). Entretanto, o seguro-depósito pode contribuir para um alto crescimento da alavancagem bancária, especialmente se tiverem perdas que prejudiquem a estrutura de capital dos bancos. 46 Faz-se, assim, necessária a adoção de um limite-teto de cobertura de seguro para cada depositante, o qual geralmente é pequeno, visando, assim, estimular uma melhor disciplina de mercado e adequado gerenciamento de riscos dos bancos (CALOMIRIS, 1990 E PIFFER, 2013). A crise financeira de 2008, considerada como a mais séria desde a Grande Depressão em 1929, fez com que os países rapidamente se engajassem em estabilizar o mercado financeiro e em solucionar os problemas dos bancos falidos através de oferta de liquidez, compra de ativos, garantias e recapitalização. Ele também reforçaram a cobertura do seguro-depósito e encurtaram o período de pagamento para proteger os depositantes e restaurar a confiança dos investidores no sistema financeiro. Esta crise demonstrou a grande importância do sistema de seguro-depósito como salvaguarda da rede financeira. (OH E JUNG, 2012). A experiência vivenciada na crise demonstrou que os fundos de seguro-depósitos desempenham um papel mais proeminente na manutenção da estabilidade financeira, do que apenas em prover cobertura de pagamentos às instituições financeiras falidas. Há inclusive argumentos de que algumas funções supervisórias podem ser atribuídas para o fundo de segurodepósito, com o argumento de que as autoridades de supervisão têm incentivos para tolerância regulatória, o que retarda o processo de solução de falhas e aumenta os custos. (OH E JUNG, 2012). O Comitê da Basiléia, juntamente com a Associação Internacional de Seguro-Depósito (International Association of Deposit Insurers) publicou em 2010 um relatório contendo os princípios essenciais para efetivos sistemas de seguro-depósito, que inclui, dentre outros, clara e objetiva fixação de objetivos que atendam ao público em geral, mitigação de risco moral, governança e transparência, associação compulsória das instituições financeiras, cobertura de seguro definida em normativos com limites e cobertura abrangendo a maioria dos depositantes, mecanismos de captação bem definidos para rápido reembolso aos depositantes e ferramentas que permitam identificação prévia de bancos com problemas de saúde financeira. (BCBS, 2010). 2.5.7 Fundo Garantidor de Crédito no Brasil No Brasil, o Fundo Garantidor de Crédito (FGC) foi constituído em 1995 através da Resoluções 2.197 e 2.211 do Conselho Monetário Nacional como uma associação civil, sem fins lucrativos, com personalidade jurídica de direito privado destinada a administrar mecanismos de proteção, a titulares de créditos contra instituições financeiras. 47 Foi criado especificamente com o propósito de prover o pagamento dos depósitos e outros instrumentos de captação (letras de câmbio, letras imobiliárias e letras hipotecárias, de emissão ou aceite de instituição financeira ou associação de poupança e empréstimo em funcionamento no país) garantidos em caso de intervenção ou liquidação extrajudicial de uma instituição financeira (COSTA, 2006). Quando implementado, o FGC cobria até 20 mil reais por investidor, montante que foi aumentado para 60 mil reais em junho de 2006 e, posteriormente, para 70 mil reais em dezembro de 2010. (OLIVEIRA, et al., 2011) Teve um desempenho fundamental na reestruturação do sistema bancário brasileiro após a implementação do Plano Real ao honrar os depósitos de 25 instituições financeiras que foram liquidadas pelo Banco Central do Brasil no período de 1996 até 2006. (COSTA, 2006). Nos últimos anos, no entanto, e especificamente após a crise de 2008, o escopo de atuação do FGC foi incrementado ao atuar como fomentador da liquidez de bancos de menor porte em 2008 e 2009, prevenir intervenções bancárias como ocorreu com o Banco Panamericano em 2010, dentre outros. Em maio de 2010, através da Resolução 4.087, foi incorporado ao objetivo do FGC a realização de operações de assistência e suporte financeiro às instituições financeiras, em situações especiais reconhecidas pelo Banco Central do Brasil. Assim, sua finalidade, além da proteção aos depositantes e investidores, também incorpora a contribuição tanto para a manutenção da estabilidade do Sistema Financeiro Nacional, como para a prevenção de crise bancária sistêmica. No combate a crise financeira de 2008, por exemplo, a atuação do FGC já havia sido indispensável para restaurar a liquidez nos bancos de pequeno e médio porte através da: i.) Estruturação de fundos de investimentos de direito creditório (FIDCs) e aquisição de operações de crédito de bancos menores; e, especialmente da, ii.) Constituição do Depósito a Prazo com Garantia Especial (DPGE, DPGE I). 2.5.8 Depósito a prazo com garantia especial (DPGE) A criação do DPGE é reconhecida como uma das principais medidas que provocaram a retomada da liquidez e, consequente, a concessão de créditos por parte dos bancos de menor porte. (Takeda e Dawid, 2009). Normatizado em março de 2009, através da Resolução 3,692/09, o DPGE é um depósito a prazo sem liquidez diária e resgate antecipado que prevê a garantia do 48 FGC de até 20 milhões de reais por investidor. Com prazo mínimo de 6 meses a 5 anos, no máximo, as instituições financeiras elegíveis a emitir o DPGE possuem um limite teto de 5 bilhões de reais. Assim como as demais medidas prudenciais que foram revertidas em 2010, o Conselho Monetário Nacional emitiu um normativo em dezembro, Resolução 3.931 prevendo a redução de 20% do limite do DPGE por ano para cada instituição financeira a partir de janeiro de 2012, reduzindo para zero em janeiro de 2016. Segundo Piffer (2013), esta decisão fez sentindo, considerando que a garantia diferenciada promovida pelo DPGE, só se justificava como solução para um situação de desordem financeira, não havendo necessidade, assim, de sua manutenção para além do período de perturbação. Porém, novamente, em julho de 2012, com a restauração de medidas prudenciais e quebra do Banco Cruzeiro do Sul, houve a publicação de Resolução 4.115, prevendo a criação do DPGE com garantia (DPGE II). De acordo com este normativo, o DPGE II pode ser emitido pelas instituições financeiras e garantido pelo FGC, desde que possuam contra-garantia de recebíveis dos bancos emissores. A Figura 3 mostra as principais diferenças entre o DPGE I e o DPGE II. 49 Figura 3: Principais diferenças DPGE I e DPGE II Fonte: Elaborado pela autora/ Informações do BCB 2.6 Análise financeira direcionada aos bancos A análise do desempenho contábil de instituições financeiras pode ser efetuada através do Sistema de Rating Uniforme de Instituições Financeiras “Uniform Financial Institutions Rating System – UFIRS”, o qual é conhecido como Sistema de Rating “CAMELS”. Este sistema de rating foi constituído pelas agências reguladoras bancárias norte-americanas em 1979 e, modificado posteriormente em 1996. 50 Outras formas de análise de instituições financeiras são sugeridas por Assaf Neto (2006). Dada certa similaridade no conceito de análise, adotaremos a metodologia “CAMELS” para o presente estudo. Os pilares do “CAMELS” estão divididos em seis aspectos que avaliam os principais componentes financeiros e operacionais que impactam o desempenho de uma instituição bancária: adequação de capital, qualidade de ativos, administração, rentabilidade, liquidez e sensibilidade ao risco de mercado. Soma-se ainda para a análise contábil do setor bancário, a utilização dos Indicadores de Solvência Financeira – Financial Soundness Indicadores (FSI) desenvolvidos pelo Fundo Monetário Internacional - FMI. O FSI, em consonância com a metodologia “CAMELS, visa suportar as análises macroprudenciais e avaliar as forças e as vulnerabilidades apresentadas pelo sistema financeiro. Desta forma, as rubricas contábeis e os indicadores selecionados a seguir para o desenvolvimento do presente estudo contêm informações sobre o patrimônio líquido, capital regulatório, ativo total, operações de crédito, depósitos e outros instrumentos de captação, receitas, despesas e lucro líquido. Mesmo apresentando um foco no mercado bancário, a elaboração de indicadores contempla conceitos existentes na análise de demonstrações financeiras de outros segmentos. Conforme especificam Assaf Neto (2002) e Matarazzo (2003), os indicadores servem para analisar a estrutura, a liquidez e a rentabilidade de empresas comerciais e industriais. Schmukler ET.al (2005) avaliam ainda que, no contexto da disciplina de mercado, a análise dos principais indicadores financeiros dos bancos busca dimensionar a capacidade que os bancos possuem de honrar suas dívidas. Por outro lado, cabe ressaltar que uma adequada análise financeira não está relacionada apenas da adoção de muitos ou complexos indicadores financeiros, mas sim de uma percepção individual do analista e da seleção discricionária de seus índices preferidos (MIRANDA, 2008). Antes de abordar detalhadamente a metodologia “CAMELS”, é importante destacar as particularidades existentes nas demonstrações financeiras dos bancos, os quais diferem de empresas não financeiras. 51 As instituições financeiras brasileiras adotam procedimentos e critérios contábeis específicos definidos pelo Plano Contábil das Instituições do Sistema Financeiro Nacional (COSIF). O COSIF foi criado em 1987 visando a unificação e uniformização dos procedimentos de registro e elaboração de demonstrações financeiras do Sistema Financeiro Brasileiro, contribuindo, assim, para o aprimoramento e acuracidade da análise e avaliação de desempenho das instituições bancárias brasileiras: As normas consubstanciadas neste Plano Contábil têm por objetivo uniformizar os registros contábeis dos atos e fatos administrativos praticados, racionalizar a utilização de contas, estabelecer regras, critérios e procedimentos necessários à obtenção e divulgação de dados, possibilitar o acompanhamento do sistema financeiro, bem como a análise, a avaliação do desempenho e o controle, de modo que as demonstrações financeiras elaboradas, expressem, com fidedignidade e clareza, a real situação econômico-financeira da instituição e dos conglomerados financeiros. (Cosif, Normas Gerais). O Quadro 7 apresenta de uma forma sumarizada, os principais grupos contábeis existentes nas demonstrações financeiras de um banco: Quadro 7: Elenco de Contas adotado nas demonstrações financeiras de bancos: Ativo Passivo Circulante e Realizável a Longo Prazo Circulante e Exigível a Longo Prazo Disponibilidades Depósitos Aplicações Interfinanceiras de Liquidez Obrigações por Operações Compromissadas Títulos e Valores Mobiliários Recursos de Aceites Cambiais, Letras Imobiliárias, etc. Operações de Crédito Obrigações por empréstimos e repasses Operações de Arrendamento Mercantil Instrumentos Financeiros derivativos Permanente Patrimônio Líquido Compensação Contas de Resultados Credoras Contas de Resultados Devedoras 52 Compensação Fonte: Cosif e Banco Central do Brasil Conforme apresentado pelo Quadro 7 notamos que as demonstrações financeiras de um banco são dividas em dois grandes grupos: ativo e passivo. Como nas empresas não financeiras, o ativo compreende os direitos a receber e, o passivo, as obrigações a pagar e, ambos, são classificados conforme sua liquidez. Assim, as operações de curtíssimo prazo incluem disponibilidades, aplicações interfinanceiras de liquidez e títulos e valores mobiliários no grupo do ativo; e depósitos a vista, de poupança e interfinanceiros, no grupo do passivo. Cabe ainda mencionar que as contas de receitas e despesas são agrupadas no passivo, por complementarem o patrimônio líquido da instituição financeira. O grupo de demonstrativo de resultados compreende não apenas os custos operacionais indispensáveis para a manutenção das atividades operacionais do banco, como também as despesas referentes à captação de depósitos, provisões para crédito de liquidação duvidosa, dentre outros. No âmbito das receitas, as principais fontes de ganhos são oriundos de operações de crédito, investimentos em títulos e valores mobiliários e de taxas de prestação de serviços. 2.6.1 CAMELS Para avaliar o desempenho econômico dos bancos, os reguladores norte-americanos (Federal Reserve, FDIC e OCC) utilizam o Sistema de Rating Uniforme de Instituições Financeiras (UFIR), conhecido mundialmente como sistema de rating “CAMELS”. O “CAMELS” corresponde a um acrônimo dos seis componentes usados para a avaliação de risco de uma instituição financeira: o “C” de “Capital Adequacy” referente à Adequação de capital, o “A” de “Asset Quality”, referente à Qualidade de ativos, o “M” de “Management”, equivalente à capacidade da administração na identificação, mensuração, monitoramento de controle dos riscos das atividades bancárias e adequação com legislação, o “E” de “Earnings” de rentabilidade, o “L” de “Liquidity” de liquidez e, finalmente, o “S” de “Sensitivity to Market Risk”, equivalente à sensibilidade ao risco de mercado. Segue abaixo uma explicação sumarizada dos seis componentes descritos acima. 53 “C” Capital Adequacy – Adequação de Capital Conforme Saunders (2000), para garantir a sobrevivência de uma instituição financeira há necessidade de proteger a mesma contra o risco de insolvência através de sua base de capital. A base de capital de uma instituição financeira é essencial para proteção de seus credores e para manutenção da confiança geral no suporte de crescimento consistente de suas atividades no longo prazo. Existem duas funções para a adequação de capital bancário: A função compartilhamento de risco de capital, a qual constitui um amortecedor que permite uma disposição ordenada dos ativos e protege os detentores de dívidas contra perdas; e a função incentivo de capital, em que, dado que os acionistas sofrem a perda primária, o capital é usado como um incentivo para evitar riscos desnecessários (GALE, 2010). Capelletto (2006) argumenta que o patrimônio líquido constitui o principal componente para avaliar a situação econômica das instituições, uma vez que um nível adequado de capital tem a capacidade de suportar, até determinado limite, problemas relacionados a qualidade nos ativos ou a perda de depósitos. As principais causas de fracassos de bancos resultam de perdas nas carteiras de empréstimos, modelos de negócios ruins ou fraudes que reduzem a base de capital da instituição financeira. Neste sentido, segundo Wheelock e Wilson (2000), os bancos menos capitalizados apresentam um risco maior de falência, assim como bancos com altos índices de crédito sobre ativos, com evidências de carteiras de crédito com baixa qualidade e rentabilidade baixa. Quanto menor a capitalização de um banco, maior a probabilidade do mesmo ser adquirido. A adequação de capital de uma instituição financeira não depende apenas da cobertura do volume absoluto de obrigações com terceiros, mas também da qualidade de ativos apresentada pela mesma. Desta forma, uma instituição financeira deve manter uma base de capital compatível com a natureza dos riscos que ela assume, e, demonstrar capacidade de gerenciamento de controle de tais riscos. As instituições financeiras devem, neste sentido, atender aos padrões mínimos de requerimentos de capital estabelecidos pelos seus reguladores, os quais, através dos Acordos da Basiléia, estabelecem limites de exposição a riscos de crédito, mercado e operacional, em relação à base de capital apresentada. 54 A importância do capital nos Acordos da Basiléia reflete a crença de que o nível necessário de capital depende primeiramente dos riscos apresentados pelos ativos bancários. Uma vez que o capital existe para proteger contra o risco, quanto maior o risco tomado, maior a necessidade de capital (ELLIOT, 2010). Assim, uma vez que o capital serve como um colchão contra perdas e, portanto, contra o risco de falência, a tendência dos bancos se envolverem em atividades de maior risco torna-se reduzida com maior quantidade de requerimentos de capital em risco (BARTH et al, 2004). Os requerimentos de adequação de capital desempenham um papel importante no alinhamento dos incentivos dos donos de bancos com depositantes e credores (BARTH et al, 2004). Neste sentido, apesar do alto custo, as instituições financeiras reconhecem a necessidade de um colchão de capital e são incentivadas a adotarem uma ótima estrutura de capital, que dentre outros motivos, lhes proporciona melhora no compartilhamento de risco e redução de custos de agência (ELLIOTT, 2010). A mensuração de adequação de capital através da metodologia “CAMELS” considera elementos como a quantidade e a qualidade de capital, a habilidade gerencial de incremento de capital, quando necessário, a natureza e o volume de ativos de alto risco e, a exposição às operações contingenciais. Desta forma, para efeito do estudo em questão, selecionamos os seguintes indicadores financeiros para a avaliação da estrutura de capital das instituições financeiras incluídas na amostra: • Índice de endividamento de crédito Mensura o quociente entre as operações de crédito e o patrimônio líquido de um banco. Quanto mais alto for o valor deste índice, mais endividada encontra-se a instituição financeira. Operações de crédito / Patrimônio Líquido. • Índice de Basiléia: Determina o nível de robustez da base de capital de uma instituição financeira de absorver choques e perdas resultantes de riscos de crédito, risco operacional e risco de mercado. 55 Refere-se a um conceito internacional definido pelo Comitê de Basiléia que recomenda a relação mínima de 8% entre o Patrimônio de Referência (PR) e os riscos ponderados conforme regulamentação em vigor (Patrimônio de Referência Exigido - PRE). No Brasil, a relação mínima exigida é dada pelo “fator F” de 0,11 para todas as instituições financeiras autorizadas a funcionar pelo Banco Central, com exceção das cooperativas de crédito independentes, conforme a Resolução do CMN nº 3.490, de 29 de agosto de 2007, e Circular do BC n° 3.360, de 12 de setembro de 2007. O Patrimônio de Referência (PR) é a medida de capital utilizada pelos órgãos reguladores para verificar o cumprimento dos limites operacionais das instituições financeiras. O Patrimônio de Referência considera somatório do capital de nível I e do capital de nível II, com as deduções previstas em regulamentações. O capital nível I, segundo Saunders (2000) é representado pelo capital primário e encontra-se fortemente relacionado ao valor contábil do patrimônio líquido do banco. Inclui basicamente o capital social, reservas de capital e de lucros, lucros acumulados e lucro do período, deduzidos de goodwill. O capital nível II, conforme definição apresentada por Saunders (2000) compreende um conjunto variado de recursos secundários de capital. Ele inclui reservas de reavaliação, ajustes de marcação a mercado de títulos e valores mobiliários e derivativos, bem como instrumentos híbridos de capital e dívida e dívidas subordinadas. O Patrimônio de Referência Exigido (PRE) é o patrimônio exigido das instituições financeiras, decorrente da exposição aos riscos inerentes às atividades desenvolvidas. No Brasil, e em linha com o Comitê de Basiléia, ele é calculado a partir da soma das parcelas de patrimônio exigido para a cobertura das exposições aos diversos riscos, conforme a seguinte fórmula: PRE = PEPR + PCAM + PJUR + PCOM + PACS + POPR + AdicBC onde: PEPR - exposições ponderadas pelo nível de risco a elas atribuídos; PCAM - exposições em ouro, moeda estrangeira e em operações sujeitas à variação cambial; PJUR - operações sujeitas à variação das taxas de juros; PCOM - operações sujeitas à variação do preço das mercadorias - commodities; PACS - operações sujeitas à variação do preço de ações; e 56 POPR - patrimônio exigido para cobertura do risco operacional. AdicBC é o aumento do valor do PRE da instituição que o Banco Central poderá determinar eventualmente. A fórmula apresentada pelo Banco Central para o cálculo do Índice de Basiléia está representada abaixo, sendo que as instituições financeiras com patrimônio de referência inferior ao patrimônio de referência exigido encontram-se desenquadradas em relação ao Índice de Basiléia, não apresentando, assim, patrimônio suficiente para cobertura dos riscos existentes em suas operações ativas, passivas e fora de balanço. PR*100 / (PRE/fator F) Para efeito do estudo em questão, utilizaremos o Índice de Basiléia apresentado pelas instituições financeiras em suas demonstrações financeiras ou disponíveis no site do Banco Central do Brasil. “A” Asset Quality – Qualidade de Ativos A qualidade de ativos constitui um fator preponderante nos resultados de uma instituição financeira, constituindo assim, uma fonte de geração ou erosão de capital. Como as carteiras de empréstimos constituem geralmente o principal ativo do balanço patrimonial de uma instituição financeira, há necessidade de considerar a qualidade da carteira dos empréstimos de um banco para avaliar sua idoneidade creditícia. Neste sentido, a carteira de crédito merece uma análise mais criteriosa quanto ao tipo de operação (empréstimos pessoais, corporativos, crédito rural, crédito hipotecário, crédito consignado, dentre outros.), quanto ao prazo, às taxas de juros e condições de garantia, quanto à distribuição geográfica e por clientes, dentre outros fatores. Pela metodologia “CAMELS”, a análise do volume de parcela de créditos de baixa qualidade, considerada non-performing loans (NPLs) constitui um fator importante na avaliação da qualidade dos ativos de uma instituição financeira. Pondera-se também na determinação da qualidade de ativos de uma instituição financeira, sua capacidade de constituir provisões suficientes para cobrir as possíveis perdas de seus ativos 57 (non-performing loans), bem como a relação de perdas efetivas baixadas contra prejuízo sobre o total da carteira de empréstimos. A análise da qualidade de ativos de uma instituição financeira está intimamente relacionada ao risco de crédito. O risco de crédito, conforme Bessis (1998) é definido pela perda no evento de não pagamento do devedor, ou no evento de deterioração da qualidade do crédito do devedor. Soma-se a existência de aumento deste tipo de risco não somente pelo inadimplemento, mas também pela redução da capacidade de pagamento do devedor. Segundo Saunders (2000), a mensuração do risco de crédito de empréstimos ou obrigações individuais é fundamental para que uma instituição financeira possa precificar um empréstimo ou avaliar uma obrigação corretamente e fixar limites apropriados ao volume de crédito a ser concedido a qualquer tomador, ou a exposição aceitável, a perdas com qualquer tomador. A crise do subprime demonstra evidências do impacto do crescimento de inadimplência sobre a solvência das instituições financeiras. Problemas de qualidade de crédito podem levar uma instituição financeira à insolvência. Ou, ainda, que podem acarretar perdas significativas de capital e patrimônio líquido que prejudiquem as perspectivas de crescimento e competição de uma instituição financeira localmente ou internacionalmente. Para mensurar adequadamente o risco de crédito, devem ser considerados dois fatores principais. Uma de ordem quantitativa, relacionado ao montante de crédito concedido, e outra, de ordem qualitativa, contemplando aspectos relacionados à situação econômico-financeira do tomador do crédito, ao histórico de inadimplemento, à aplicação dada aos recursos, à moeda, ao indexador e ao prazo da operação, à atividade econômica predominante e às garantias (Bessis, 1998). Os seguintes indicadores serão considerados para avaliação da qualidade de ativos de uma instituição financeira: • Índice de Non-performing Loans sobre Operações de Crédito Este indicador financeiro tem como objetivo identificar problemas com qualidade de ativos no portfólio de crédito de uma instituição financeira. Conforme definido pelo Fundo Monetário Internacional, muitos países adotam o conceito de non-performing loans para os empréstimos cujo principal ou juros encontram-se vencidos e não pagos por 90 dias ou mais. 58 O cálculo deste índice, como demonstrado pela fórmula abaixo, considera a relação de créditos considerados non-performing sobre o total da carteira de crédito bruta de uma instituição financeira. Um índice alto e crescente significa deterioração na qualidade de empréstimos de um banco. Non-performing loans / Carteira de Crédito Bruta Para os bancos brasileiros, adotaremos como non-performing loans, o somatório de operações de crédito classificadas entres os níveis de risco E até H, atraso acima de 90 dias, em consonância com a Resolução CMN 2.682, de 2000. • Índice de Non-performing Loans líquidos de provisões sobre Patrimônio Líquido Este indicador, conforme indicado pelo FMI no FSI, visa medir o impacto de possíveis perdas com a carteira de crédito no patrimônio líquido de uma instituição financeira. Seu cálculo compreende o valor de non-performing loans líquidos de provisões para créditos de liquidação duvidosa em relação ao patrimônio líquido, como segue: Non-performing loans (-) Provisões para créditos de liquidação duvidosa / Patrimônio Líquido. “M” Management – Capacidade de Administração A capacidade de administração visa avaliar a competência dos executivos no gerenciamento dos riscos de uma instituição financeira, assegurando, assim, saúde financeira, eficiência e aderência às exigências regulatórias. Como apontado pelo Federal Reserve (1996), a demonstração de boas práticas de administração consideram a qualificação dos funcionários, proatividade dos executivos, adoção de procedimentos internos e controles adequados, auditoria interna, dentre outros fatores. O setor bancário faz uso intensivo de recursos humanos e tecnológicos, e a redução de custo é um ponto estratégico para bancos que buscam maior eficiência. A maior concorrência e a 59 comoditização do produto bancário fazem com que seja difícil aumentar a receita. A eficiência pode permitir que um banco satisfaça mais facilmente aos acionistas, que exigem crescimento de lucros, sem precisar assumir riscos de forma agressiva. Desta forma, a capacidade de administração das instituições financeiras analisadas nesta pesquisa será mensurada através de um índice de eficiência, conforme apresentado a seguir: • Índice de eficiência Com base na metodologia “CAMELS”, o índice de eficiência calculado pelo FSI do FMI visa avaliar o nível de comprometimento das principais fontes de receitas operacionais apresentadas por uma instituição financeira (resultado de intermediação financeira e receitas com prestação de serviços) em relação aos custos da estrutura (despesas de pessoal e despesas administrativas). Quanto menor for esta relação, como demonstrado pela fórmula de cálculo a seguir, mais produtivo e eficiente encontra-se o banco. (Resultado de Intermediação Financeira + Receitas com Serviços) / (Despesas Pessoais + Despesas Administrativas). “E” Earnings – Rentabilidade O poder de geração de receitas de uma instituição financeira constitui um fator determinante no sucesso ou no fracasso da mesma no longo prazo, uma vez que considera a capacidade um banco em criar valor econômico e, ao somá-lo aos seus recursos próprios, preservar ou aumentar a proteção de risco aos credores. A rentabilidade recorrente é a primeira linha de defesa de um banco para absorver perdas relacionadas a crédito ou geradas pelo risco comercial, operacional e de mercado. Para avaliar a rentabilidade das instituições financeiras selecionadas na amostra, adotaremos os seguintes indicadores financeiros: • Índice de Rentabilidade sobre Patrimônio Líquido Este indicador, baseado no “CAMELS” mede a relação do lucro líquido com o patrimônio líquido, com o objetivo de mensurar quanto a instituição bancaria obtém de retorno sobre os 60 recursos próprios investidos. A relevância deste indicador fundamenta-se no fato de que os resultados constituem o principal elemento de sustentação do capital. Assim, quanto maior for a relação apresentada, mais lucrativo e menos arriscado apresenta-se o banco. Lucro Líquido / Patrimônio Líquido • Índice de Margem Financeira Este indicador, baseado no FSI do FMI e alinhado com a metodologia “CAMELS” busca comparar o resultado de intermediação financeira, excluindo as despesas com provisões, com a receita bruta de intermediação financeira. Quanto maior o índice, maior a rentabilidade da instituição financeira em intermediar captações e aplicações. Resultado de Intermediação Financeira – Provisões / Receita Bruta de Intermediação Financeira Considerando que as instituições financeiras analisadas no estudo em questão apresentam como atividade principal a intermediação financeira, tal resultado corresponde ao ponto inicial para a formação do lucro líquido. “L” Liquidity – Liquidez Segundo Assaf Neto (2002), a liquidez de um banco reflete sua capacidade financeira de pronto atendimento a demandas por recursos de caixa. A posição de liquidez revela a capacidade de uma instituição financeira gerar caixa para atender adequadamente suas obrigações financeiras. A liquidez refere-se à capacidade do banco em vender ativos, ou convertê-los em caixa, sem incorrer em excessivas perdas. De uma forma mais abrangente, a liquidez bancária geralmente está relacionada ao casamento de seus recebíveis com suas fontes de captação (ELLIOTT, 2010). Uma crise de liquidez pode ser considerada como “o tipo clássico de crise bancária em que os bancos por alguma razão não podem pagar todas as suas obrigações” (LASTRA e WOOD, 2010). 61 Assim, a falta de liquidez é quase sempre a causa imediata de falência bancária, enquanto que uma robusta liquidez ajuda uma instituição fraca a permanecer com recursos adequados durante períodos difíceis. No entanto, esse elemento torna-se sensível, uma vez que o acesso à captação de recursos no mercado (interbancário, títulos de renda fixa, derivativos) pode não estar baseado em relacionamentos de longo prazo, mas sim em percepções de idoneidade creditícia. Consequentemente, notícias negativas ou outras informações podem provocar interrupções na captação de recursos. O Comitê Internacional de Basiléia define liquidez como “a capacidade de um banco captar aumentos de ativos e cumprir suas obrigações no vencimento, sem incorrer em perdas inaceitáveis. O papel fundamental dos bancos na transformação do vencimento de depósitos de curto prazo em empréstimos de longo-prazo contribui para que eles se tornem inerentemente vulneráveis ao risco de liquidez, em termos de natureza especifica da instituição e que afeta o mercado como um todo” (BCBS, 2008). Miranda (2008) considera que a liquidez, no modelo CAMELS, analisa, dentre outros fatores, a adequação de liquidez, a habilidade de suprimento de necessidades de caixa em momentos de crise, o acesso ao mercado de capitais. Assim, tendo em vista a importância da liquidez e capacidade de captação de recursos de uma instituição financeira, foi selecionado o indicador de liquidez abaixo. • Índice de Ativos Líquidos sobre Depósitos Baseado no “CAMELS” e FSI do FMI, este indicador financeiro procura capturar descasamentos entre ativos e passivos e prover uma indicação de quanto as instituições financeiras tomadoras de depósitos podem suportar de resgate de depósitos sem enfrentarem problemas de liquidez. Quanto maior for o índice apresentado abaixo, maior a liquidez apresentada pelo banco. Ativos Líquidos / Depósito Total 62 Onde, Ativos Líquidos compreendem o somatório de disponibilidades, aplicações interfinanceiras de liquidez e títulos e valores mobiliários. “S” Sensitivity to Market Risk – Sensibilidade ao Risco de Mercado Este item está totalmente relacionado ao Risco de Mercado apresentado pelas instituições financeiras. O risco de mercado ocorre quando uma instituição financeira assume uma posição a descoberto, comprada ou vendida, em títulos de renda fixa, ações, mercadorias e derivativos, e os preços variam em direção oposta à esperada. Saunders (2000) explica que o aumento da volatilidade dos preços dos ativos implica em maiores riscos de mercado enfrentados pelos bancos que fazem operações sem cobertura financeira. De acordo com Lima, Pimentel (2007), o risco de mercado refere-se ao tipo de risco oriundo de alterações nos preços dos ativos financeiros. Segundo eles, o VaR “Value at Risk” é uma medida de gerenciamento de risco de mercado, que junto com outras metodologias, tem o objetivo de alertar as instituições financeiras sobre o risco que estão correndo, analisando a adequação do nível de risco ao perfil do investidor e, assim, adequar a carteira ao nível de risco aceitável. Desta forma, a melhor maneira de avaliar o impacto da instituição financeira em relação a sua exposição ao risco de mercado seria através do VaR. Dado que nem todos os bancos disponibilizam este tipo de informação em suas demonstrações financeiras, a análise da sensibilidade de um banco ao risco de mercado no presente estudo, levará em consideração a exposição dos bancos a variações na taxa de juros, no câmbio, nos preços das mercadorias e no preço das ações em relação ao capital apresentado. Esta análise já está incorporada no cálculo do índice da Basiléia. 63 3. PANORAMA DO SETOR BANCÁRIO BRASILEIRO O sistema bancário brasileiro vem passando por diversas transformações desde a constituição do Banco do Brasil em 1808. Tais transformações, tendo a implementação do Plano Real em 1994 como uma das mais importantes, marcaram a presença de dois tipos diferentes de sistemas financeiros. O primeiro tipo de sistema financeiro foi caracterizado pela forte relevância de bancos públicos, número limitado de bancos estrangeiros, grande oferta de crédito direcionado, competição limitada e forte dependência de receitas associadas à inflação. O segundo tipo, por sua vez, foi marcado pelo redução do número de bancos públicos em contrapartida com uma maior presença de bancos estrangeiros, maior alocação de créditos livres, existência de bancos bem capitalizados e lucros não dependentes do fator inflacionário (GOLDFAJN, ET AL, 2003). A origem do segundo tipo de instituição financeira veio com a implementação do Plano Real em 1994, quando as medidas introduzidas pelo mesmo forçaram os bancos a adotarem um novo modelo de negócios. De fato, o Plano Real contribuiu para um processo de reordenamento da economia brasileira, como abertura ao comércio exterior, mudanças na política industrial visando maior competitividade internacional; além de reformas no ordenamento constitucional, especialmente no âmbito econômico e estrutural do setor público. Tal reordenamento econômico revelou o grau de ineficiência de alguns setores comerciais e industriais no desenvolvimento de produtos e serviços ágeis e competitivos, resultando na incapacidade de honrar compromissos financeiros obtidos juntos aos bancos. O aumento da inadimplência bancária conjugado ao desaparecimento de ganhos inflacionários demonstraram a fragilidade de algumas instituições bancárias, as quais não foram capazes de sobreviverem no novo cenário econômico. Em resposta a situação de solvência das instituições financeiras, as autoridades regulatórias adotaram procedimentos para reestruturar e fortalecer o sistema financeiro, como a instituição do Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento do Sistema Financeiro (PROER) e do Programa de Incentivo à Redução do Setor Público Estadual na Atividades Bancária (PROES), bem como a criação do Fundo Garantidor de Crédito (FGC). Soma-se ainda neste período a adoção dos Princípios da Basiléia, reforçando o compromisso dos órgãos reguladores no fortalecimento da regulamentação e supervisão bancaria. 64 Diante deste cenário, foi observada uma grande reestruturação do Sistema Financeiro Brasileiro, com 40 intervenções realizadas pelo Banco Central entre 1994 a 1997. Com isso, o número de instituições bancárias reduziu de 264 em 1994 para 217 em 1997 e, posteriormente, para 164 em 2003. (GREGÓRIO, 2005). Soma-se o aumento da consolidação bancária no período, também influenciada pela flexibilização de normas de entrada de bancos estrangeiros, em um primeiro momento; e por uma onda de fusões e aquisições conduzida pelo próprio mercado, em um segundo momento. A reestruturação econômica e bancária pós-Real contribuiu para que as instituições financeiras adotassem parâmetros mais seletivos de concessão de crédito, levando os bancos a privilegiarem aplicações em títulos públicos federais. Esta abordagem mais conservadora foi intensificada com as inúmeras crises econômicas subsequentes: Crise Mexicana em 1994, Crise Asiática em 1997, Crise Russa em 1998, Crise Argentina em 2001 e Crise Pré-eleitoral em 2002. A representatividade das operações de crédito sobre o PIB reduziram de 36% em 1994 para 24% em 2002. (GREGÓRIO, 2005). No entanto, a estabilidade econômica observada a partir de 2003 contribuiu para a redução da rentabilidade de ativos de maior liquidez, motivando os bancos brasileiros a aumentarem a oferta de crédito; movimento, este que perdurou até setembro de 2008, quando eclodiu a crise financeira. Assim, a representatividade das operações de crédito sobre PIB retornou aos parâmetros observados à época da implementação do Plano Real, atingindo 35,5% em dezembro de 2007. Entre 2005 e 2007, ocorreu uma onda de bancos que abriram capital na Bolsa de Valores de São Paulo, impulsionados por motivação econômica, associando oportunidades de crescimento a períodos de liquidez acentuada na economia (SCHIOZER, R ET AL, 2010). Em 2007, onze instituições financeiras de pequeno e médio porte, com patrimônio liquido inferior a R$ 7 bilhões, captaram mais de R$ 6 bilhões em ofertas de ações primárias e secundárias (MESQUITA E TORÓS, 2010). Esta oferta pública inicial constituiu uma importante fonte de capital, permitindo a expansão de depósitos e ativos do sistema financeiro brasileiro. A crise financeira de 2008, no entanto, interrompeu o ciclo de crescimento do segmento bancário, ao provocar forte volatilidade no mercado acionário brasileiro, aumentar a aversão ao risco por parte dos investidores, reduzir a liquidez nos mercados interno e externo e frear o ritmo de concessão de crédito como contenção ao crescimento da inadimplência. Além das diversas 65 medidas adotadas pelos órgãos reguladores para combater a crise, destacaram-se também a contribuição do sistema financeiro público na concessão de crédito no Brasil, notadamente Banco do Brasil, BNDES e Caixa Econômica Federal. A atuação anticíclica dos bancos públicos foi essencial na retomada da concessão de crédito no Brasil, impulsionando a retomada do crescimento econômico. (FREITAS, 2011). Com isso, os bancos públicos aumentaram sua participação de mercado no sistema bancário de 34,3% em junho de 2008 para 36,1% em dezembro de 2008 e 41,4% em dezembro de 2009. Com a recuperação da crise financeira no final de 2009 e início de 2010 pela reativação da crescimento da atividade econômica, bem como dos planos de investimentos da indústria, os bancos brasileiros, notadamente os bancos privados, restauraram suas estratégias de crescimento, evidenciado pela expansão anual do volume de crédito equivalente a 20,6% em 2010. Soma-se a trajetória decrescente da inadimplência bancária no período como fator motivacional para ampliação da oferta de crédito com taxas de juros mais atrativas e prazos mais longos. Pressões inflacionárias conjugadas à agressiva expansão das operações de crédito, sobretudo em financiamento ao consumo, resultou na reversão gradual das medidas anticíclicas adotadas pelo governo e Banco Central do Brasil no período da crise no final de 2010. Com isso, a expansão de crédito foi mais moderada ao longo de 2011, conforme evidenciado pelo crescimento de 19% em comparação ao ano anterior. (FREITAS, 2011) Apesar da manutenção de bons indicadores econômicos, como elevação da renda, baixo nível de desemprego e aumento na participação do crédito direcionado, a inadimplência do setor apresentou uma trajetória crescente ao longo de 2011. Esta tendência refletiu basicamente ao aumento do comprometimento de renda das famílias, além da elevação dos juros até o terceiro trimestre e do aferrecimento da economia no final do ano. O crescimento do PIB foi apenas de 2,7% em 2011, já refletindo os impactos da crise européia. Com isso, os bancos começaram a adotar parâmetros mais rígidos na concessão de crédito, preferindo a alocação de recursos em ativos mais líquidos. O Banco Central, juntamente com o governo, prontamente restabeleceu algumas medidas anticíclicas ao final de 2011, visando, assim, recuperar o nível de atividade econômica brasileira ao longo de 2012. Apesar de tais medidas, o crescimento do PIB em 2012 foi modesto em 0,9%. A menor velocidade da expansão de crédito foi mantida no período, através do incremento de 16,4% em 66 comparação a 2011 e, registrando, assim, um ritmo mais sustentável de aumento no longo prazo. Os bancos públicos lideraram o crescimento creditício no período, ao adotarem um movimento liderado pelo governo de redução de taxas de juros cobradas nos empréstimos. A taxa básica de juros permaneceu em queda, atingindo 7,25% em outubro de 2012. A inadimplência de pessoa física, por outro lado, começou a reduzir, suavizando a inadimplência geral do setor. De uma maneira geral, os relatórios de estabilidade financeira preparados semestralmente pelo Banco Central do Brasil demonstram a solidez do sistema bancário brasileiro, evidenciado pela alto nível de capitalização, liquidez e rentabilidade. Testes de estresse conduzidos pelas autoridades regulatórias demonstram a manutenção de robusta estrutura de capital dos bancos brasileiros, mesmo em cenários de extrema deterioração da situação econômica. Um relatório apresentado pelo Fundo Monetário Internacional em julho de 2012 corrobou com tal afirmativa, ao considerar o sistema financeiro brasileiro sólido, bem capitalizado, líquido e com alto nível de provisão contra a inadimplência. As medidas anticíclicas anunciadas pelo Banco Central do Brasil foram consideradas rápidas e eficazes, permitindo que o Brasil e o sistema financeiro brasileiro reagissem adequadamente à crise financeira de 2008. A Tabela 1 apresenta a média dos principais indicadores contábeis apresentados pelo Sistema Financeiro Brasileiro nos períodos de 2007 até 2012. Tabela 1: Evolução dos Highlights financeiros do Sistema Financeiro Nacional Valores em milhões de reais Ativo Total Operações de Crédito Non performing loans Depósitos Patrimônio Líquido Resultado de Intermediação Financeira Despesas com Provisões de Crédito Despesas Pessoal e Administrativas Receita com Serviços Lucro Líquido Índice da Basiléia Capital Nível I Crédito/ Patrimônio Líquido Eficiência Non performing loans/carteira de crédito bruta Rentabilidade sobre Patrimônio Líquido 2007 2.559.108 935.973 75.192 926.734 249.919 149.749 33.433 104.063 59.058 57.423 17,3% 13% 375% 201% 2008 3.295.992 1.227.294 95.228 1.274.828 299.140 146.093 52.176 108.614 59.240 52.913 17,7% 14% 410% 189% 2009 3.610.296 1.414.304 127.084 1.325.663 345.065 195.819 72.448 123.447 62.371 52.258 18,8% 15% 410% 209% 2010 4.385.829 1.705.890 124.530 1.491.305 432.934 225.423 57.346 140.295 72.862 67.135 17,1% 14% 394% 213% 2011 5.135.489 2.029.998 158.340 1.701.528 477.832 239.625 79.132 156.735 83.508 72.357 16,3% 13% 425% 206% 2012 5.966.748 2.359.634 179.332 1.766.826 523.789 269.543 97.542 172.420 92.091 66.860 16,4% 12% 450% 210% 8,0% 23,0% 7,8% 17,7% 9,0% 15,1% 7,3% 15,5% 7,8% 15,1% 7,6% 12,8% 67 Fonte: Elaborado pela autora/ Dados do Banco Central do Brasil 3.1 Estrutura do setor financeiro no Brasil Em 31 de dezembro de 2012, o Sistema Financeiro Nacional era composto por 2.088 instituições, incluindo 137 bancos múltiplos, 22 bancos comerciais, 14 bancos de investimento, 4 bancos de desenvolvimento e 1 Caixa Econômica. Soma-se a existência de 1.254 cooperativas de crédito e 222 administradoras de consórcio. Considerando apenas o rol de bancos múltiplos, comerciais e a Caixa Econômica, o sistema bancário abrangia em 2012, 160 instituições financeiras, das quais 151 com controle privado e 9 com controle público, como demonstrado na Figura 4: Figura 4: Forma de controle do capital das instituições financeiras Fonte: Elaborado pela autora/ Banco Central do Brasil Apesar do grande número de bancos no Brasil, o sistema bancário brasileiro é altamente concentrado em poucas instituições. Os 5, 10 e 20 maiores bancos, respondiam, respectivamente, por 68,8%, 84,6% e 90,6% dos ativos totais ajustados do Sistema Financeiro Nacional em 31 de dezembro de 2012. 68 A Tabela 2 apresenta os maiores bancos por ativos ajustados (sem operações compromissadas) em 31 de dezembro de 2012. Os bancos grandes caracterizam-se por oferecem uma variedade grande de produtos e serviços financeiros, variando de empréstimos pessoais e corporativos a operações estruturadas de mercado de capitais, seguros, capitalização e fundos de investimentos. Estes bancos, juntos, detêm 91% da rede de distribuição bancária brasileira, além de possuírem milhares de correntistas. Este amplo leque de atividades e perfil de atividade permite que os mesmos se beneficiem de uma grande penetração de produtos financeiros por cliente e baixo custo de captação para financiamento de suas atividades. Dada a sua grande representatividade no sistema financeiro, e, consequentemente na economia brasileira, são considerados grandes demais para falir. As instituições menores, por sua vez, são basicamente consideradas bancos de nicho, uma vez que suas atividades são basicamente concentradas em poucos produtos financeiros com foco para atender as necessidades de um determinado público. Além de possuírem uma limitada rede de distribuição, apresentam um base de captação cara, volátil, de curto prazo e concentrada, decorrente de uma base de investidores de atacado, geralmente institucionais qualificados, como seguradoras, fundos de pensão e empresas de capitalização. Em geral, podemos classificar as atividades destes bancos em quatro grandes categorias, como abaixo: 1.) Bancos com foco em empréstimos de capital de giro e financiamento ao comércio exterior para empresas de médio e grande portes. Neste nicho, as operações de crédito são geralmente de curto prazo e colateralizadas por recebíveis. Alguns exemplos são Banco Pine, Banco ABC Brasil, embora os mesmos ainda concentrem em operações de crédito ao segmento de upper-middle ou low-corporate. 2.) Bancos com foco em empréstimos pessoais e financiamento a veículos para pessoas físicas. As operações de crédito são geralmente de longo prazo e bem diversificadas por número de clientes. Dentre os empréstimos pessoais, destacam-se as operações de crédito consignado, cujo pagamento ocorre mediante desconto na folha de pagamento. O Banco Panamericano encontra-se classificado nesta categoria. 3.) Bancos mistos com foco em empréstimos para empresas de médio porte e para pessoas físicas. Nesta categoria, temos como exemplo o Banco Daycoval. 69 Tabela 2: Maiores bancos por ativos ajustados em 31 de dezembro de 2012. Fonte: Banco Central do Brasil/ Valores em milhares de Reais. 70 4. METODOLOGIA 4.1 Introdução Os detalhes dos procedimentos adotados na presente pesquisa são apresentados neste capítulo. Primeiramente, explicam-se a metodologia e a técnica aplicada, para, então, descrever a amostra e os dados selecionados. Finalmente, são apresentadas as metodologias utilizadas para o desenvolvimento das análises financeiras e bursátil dos bancos brasileiros. Destacam-se, então, o método de estudo de eventos, o método de análise financeira e o tratamento dos dados mensurados no trabalho em questão. 4.2 Método e Técnica de Pesquisa Quanto à abordagem, a presente pesquisa é considerada quantitativa, uma vez que se baseia em variáveis numéricas relacionadas ao preço das ações e a dados contábeis obtidos no Yahoo finance e na ferramenta de rating Austin Asis, respectivamente. Busca-se, assim, averiguar o impacto de eventos sobre o desempenho bursátil e econômico-financeiro do sistema bancário após a crise financeira de 2008. De acordo com Fonseca (2002), a pesquisa quantitativa é baseada na objetividade e, tendo como referência o positivismo, retrata a realidade a partir de dados brutos, obtidos com o auxílio de instrumentos padronizados e neutros. A linguagem matemática auxilia na descrição das causas de um fenômeno, as relações entre as variáveis, dentre outros. Uma vez que esta pesquisa é baseada em eventos ocorridos no passado, sem influência alguma do pesquisador quanto aos fatos e resultados obtidos, a mesma pode ser considerada como ex-post facto. Tal tipo de pesquisa objetiva relacionar causa e efeito de um determinado fato identificado e um fenômeno ocorrido posteriormente. Soma-se, ainda, que, como o presente trabalho objetiva esclarecer se a ocorrência de determinados eventos contribui para a observação de alguns fenômenos, não visando, assim, explicar o fenômeno em sua totalidade, esta pesquisa, quanto ao seu objetivo, pode ser considerada explicativa, segundo Vergara (2000). 71 De acordo com Raupp e Beuren (2006), um vez que a pesquisa explicativa tem a necessidade de explicar os determinantes na ocorrência dos fenômenos, procurando responder à questão-problema, ela torna-se mais complexa, delicada e mais suscetível a erros do que os demais tipos de pesquisa. 4.3 Definição da amostra O grupo de instituições financeiras brasileiras listadas na Bolsa de Valores de São Paulo (BOVESPA) foi selecionado como unidade de análise, contribuindo, assim, para a delimitação do foco de estudo para o desenvolvimento da presente pesquisa. Desta forma, a amostra escolhida é considerada, conforme Fonseca (2002) como intencional, ao ser escolhida propositalmente pelo pesquisador. A mesma abrange um grupo de dez bancos brasileiros com registro na BOVESPA, classificados quanto ao porte. O Banco Central do Brasil, através do Relatório de Estabilidade Financeira do Banco Central (2012), apresentou a definição do porte das instituições financeiras, como segue: “O porte da instituição financeira é determinado considerando-se o ativo total ajustado, calculado de forma consolidada. As instituições financeiras cuja participação relativa no total dos ativos exceda a 15% são consideradas de grande porte e são retiradas do rol de instituições a serem classificadas. As instituições restantes são classificadas em ordem decrescente de participação, e o porte é obtido por meio dos seguintes critérios: i.) as instituições que compõem a faixa de 0% a 75%, inclusive, do montante de participação acumulada no total de ativos do Sistema Bancário são consideradas de grande porte;ii.) as instituições que compõem a faixa entre 75% e 90%, inclusive, de participação acumulada são consideradas de médio porte; iii.) as instituições que compõem a faixa entre 90% e 99%, inclusive, são consideradas de pequeno porte; e iv.) as demais instituições, que compõem a faixa acima de 99% até 100%, são consideradas de microporte”. Dada a limitação de dados disponíveis para proceder esta classificação de forma precisa, a segregação de subgrupos de instituições financeiras quanto a porte foi simplificada, ajustada intencionalmente conforme o volume de seus ativos. Assim, para a presente pesquisa, foi considerado como banco de grande porte, a entidade que apresentasse ativo total ajustado e patrimônio líquido superiores a R$ 150 milhões e R$ 20 milhões, respectivamente, em 31 de 72 dezembro de 2012. O demais bancos foram considerados de porte pequeno/médio. Os dados foram obtidos junto ao website do Banco Central do Brasil através do ranking dos maiores bancos por ativos. Sendo assim, com base no registro de instituições financeiras listadas na BOVESPA e informações financeiras obtidas junto ao website do Banco Central através do ranking dos maiores bancos por ativos de dezembro de 2012, obteve-se a amostra apresentada no Tabela 3: Tabela 3: Amostra dos bancos analisados na pesquisa Instituições Porte Ticker Bovespa Banco do Brasil Grande BBAS3 Itau Unibanco Bradesco Panamericano ABC Brasil Banco Daycoval Banco da Amazônia Banco Pine Banco Sofisa Banco Indusval Grande Grande Médio Médio Médio Médio Médio Médio Médio ITUB3/ ITUB 4 BBDC3 BPNM4 ABCB4 DAYC4 BAZA3 PINE4 SFSA4 IDVL4 Tipo de Ação Analisada Ativo total (R$ mil) em 31Dez12 Ordinária Ordinária/ Preferencial Ordinária Preferencial Preferencial Preferencial Ordinária Preferencial Preferencial Preferencial 1.087.268.923 Patrimônio líquido (R$ mil) em 31Dez12 66.350.927 951.222.533 755.467.474 18.331.868 13.489.543 13.017.369 10.517.798 10.408.176 4.532.471 4.033.745 82.825.221 70.236.524 2.804.703 1.679.473 2.203.507 2.030.163 1.219.947 786.267 587.200 Fonte: Elaborado pela autora/ Dados do Banco Central do Brasil e BM&F Bovespa 4.4 Origem e tratamento dos dados Conforme orientado por Gerhardt e Silveira (2009), “a coleta de dados é a busca por informações para a elucidação do fenômeno ou fato que o pesquisador quer desvendar. O instrumental técnico elaborado pelo pesquisador para o registro e a medição dos dados deverá preencher os seguintes requisitos: validez, confiabilidade e precisão”. Para o desenvolvimento deste trabalho, os dados são classificados como secundários e foram selecionados eletronicamente através de websites, conforme apresentado no Quadro 8. Quadro 8: Fonte dos dados da pesquisa Dado Bancos listados na BOVESPA Período / Data Pesquisa em Fevereiro de 2013 Finalidade Definição da amostra Fonte Website da BM&F Bovespa Observações Foram excluídos os bancos que não 73 Maiores bancos por ativos Dezembro de 2012 Definição amostra da Preço diário das ações dos bancos definidos na amostra Junho de 2008 até junho de 2012 Análise bursátil dos bancos através do método de estudo de eventos Dados contábeis mensais e trimestrais Junho de 2008 até junho de 2012 Análise econômicofinanceira dos bancos através de indicadores financeiros Website do Banco Central do Brasil: informações contábeis (50 maiores bancos) Website da Yahoo finance Austin Asis apresentaram retorno de ações, bem como o Santander e o BTG Pactual que abriram capital, respectivamente, em outubro de 2009 e em abril de 2012. - Foram excluídos os bancos que não apresentaram retorno de ações, bem como o Santander e o BTG Pactual que abriram capital, respectivamente, em outubro de 2009 e em abril de 2012. - Fonte: Quadro elaborado pela autora. 4.5 Período O período selecionado para a elaboração do desempenho econômico-financeiro foi de junho de 2008 até junho de 2012, abrangendo um intervalo de 4 anos. Ressalta-se, entretanto, que para a análise do desempenho bursátil dos bancos brasileiros após os eventos selecionados, o intervalo de análise compreendeu uma janela de 0, 5, 10 e 20 dias antes e depois dos mesmos. A delimitação do período, embora possa ser considerada arbitrária, decorreu da necessidade de verificar o comportamento bursátil e econômico-financeiros dos bancos selecionados na amostra num intervalo de tempo anterior e posterior aos eventos selecionados para o desenvolvimento da pesquisa. 74 4.6 Método e tratamento de análise de dados Para a análise do desempenho econômico-financeiro dos bancos listados na BOVESPA foi utilizado o método de análise financeira. Para operacionalização desta metodologia, foram utilizados os indicadores financeiros apresentados no Referencial Teórico da presente pesquisa. Para obtenção destes indicadores, foi desenvolvida uma planilha contendo os dados contábeis dos bancos da amostra obtidos junto a ferramenta de análise de ratings Austin Asis. Para o estudo do comportamento bursátil dos bancos brasileiros e, consequente, verificação das hipóteses levantadas na pesquisa, foi utilizado o método de estudo de eventos, conforme apresentado a seguir. 4.7 Estudo de Eventos Para investigar o impacto das crises e medidas prudenciais sobre o retorno das ações ordinárias das instituições bancárias brasileiras listadas na Bolsa de Valores, considerou-se o método de Estudo de Eventos. Campbell, Lo e Mackinley (1997) definem estudo de evento como a metodologia que permite mensurar o efeito de um evento econômico no valor de uma empresa específica. Como o método visa quantificar o impacto de uma informação pública no comportamento dos preços dos títulos, este é muito utilizado para aferição da eficiência do mercado em sua forma semi-forte, de que os preços dos ativos refletiriam imediatamente o efeito de um determinado evento tornando-o público. Para mensurar o impacto de um determinado evento, o método de estudo de evento utiliza um modelo de retorno normal ou esperado, o qual é considerado como o retorno que o título teria caso o evento analisado não tivesse ocorrido. Calcula-se a diferença entre o retorno esperado fornecido pelo modelo e o retorno observado no período de análise com o intuito de identificar se houve um comportamento anormal nos períodos posteriores ao evento especifico objeto do estudo. Busca-se, assim, caracterizar como estatisticamente significante a influência do evento sobre o comportamento do título, nos dias posteriores ou mesmo na data do anúncio de um evento. O retorno anormal é considerado um desvio dos retornos dos títulos ex ante não condicionados ao evento (KLOECKNER, 1995). 75 4.7.1 Retornos Normais e Anormais O estudo de evento consiste em avaliar o comportamento de uma variável (neste caso o preço das ações ordinárias) a partir da ocorrência de um evento específico. A principal idéia é calcular se o evento ocorrido gerou algum desvio no resultado esperado. Este desvio no resultado esperado é mais conhecido por retorno anormal (RA). De acordo com Vachadze (2001, p. 43) esta metodologia se tornou a tradicionalmente utilizada em finanças para estimar o impacto de diferentes divulgações de informações no preço de ações. Como o foco da pesquisa é analisar se houve retorno anormal dos títulos (RAit), este pode ser calculado pela seguinte fórmula: RAit = Rit – E(Rit) (1) Onde: Rit é o retorno observado; E(Rit)= o retorno calculado pelo modelo e t = a medida temporal em que se mediu o preço. O retorno normal (Rit), por sua vez, foi calculado através do Modelo de Retornos Ajustados ao Mercado, descrito por Camargos e Barbosa (2003), o qual assume que o retorno normal (ou esperado ex ante) de um portfólio composto de todos os títulos do mercado é a média ponderada do volume financeiro negociado dos retornos das ações negociadas. O retorno anormal ex post, em qualquer título i, neste método, é dado pela diferença entre seu retorno e o do portfólio de mercado, considerando a princípio que as ações seguiriam fielmente o comportamento do principal índice de mercado. O Modelo de Retornos Ajustados ao Mercado seria consistente com o Modelo de Mercado (Rit =α + βRit +ε) e com o CAPM, com as premissas de que o risco sistemático (β) da ação seja igual a um e de que o intercepto α seja nulo (KLOECKNER, 1995). Conclui-se desta metodologia que sua implementação envolverá necessariamente a comparação do retorno do título durante o período do evento com o retorno de um índice de mercado. As possíveis diferenças observadas entre o retorno do título e o retorno de mercado serão classificadas como retorno anormal, em razão do evento analisado. No presente estudo utilizamos para efeito de estimação dos retornos esperados o índice IBOVESPA utilizando-se a forma logarítmica de capitalização. O uso do logaritmo natural visa obter uma melhor aderência à distribuição normal dos retornos, premissa dos testes estatísticos 76 paramétricos (SOARES; ROSTAGNO; SOARES, 2002). Na fórmula de capitalização logarítmica, os retornos anormais no Modelo de Retornos Ajustados ao Mercado são dados por: RAit = Ln ((Pt+1/Pt0) /(It+1/It0)) (2) A equação que pode ser reescrita na seguinte forma: RAit = Ln (Pt+1/Pt0) - Ln (It+1/It0) (3) Sendo: Pt0: valor de mercado a preço corrente das empresas na data-base; Pt+1: valor de mercado a preço corrente das empresas em um dia t posterior; It0: cotação do índice de mercado em uma data-base; It+1: cotação do índice de mercado em um dia t posterior. 4.7.2 Procedimentos de Estimação Nesta etapa é estimado o desempenho dos títulos no período ao evento, o chamado “período da janela de Estimação”, definida como um período anterior à janela de Evento. 4.7.3 Procedimentos de Testes Tendo estimado o comportamento dos títulos previamente ao evento, os retornos anormais podem ser calculados e os procedimentos de testes estatísticos definidos, utilizando janelas de Comparação (no período pós-evento). 77 5. RESULTADOS 5.1 Introdução Neste tópico, apresentaremos os resultados encontrados referentes ao impacto dos eventos selecionados na pesquisa sobre o retorno das ações dos bancos brasileiros, bem como sobre suas demonstrações financeiras. Em um primeiro momento, abordamos exclusivamente sobre o desempenho bursátil dos bancos brasileiros, apresentando, assim, os resultados encontrados através da metodologia de estudo de eventos. Partimos de uma análise da amostra geral, apresentando os resultado comuns entre os bancos selecionados, para, posteriormente, identificarmos os efeitos de retorno anormal apresentados isoladamente por cada banco da amostra. Após a análise do desempenho bursátil, discorremos sobre o desempenho financeiro individual dos bancos brasileiros selecionados no presente estudo. 5.2 Resultados Gerais – Desempenho Bursátil Tabela 4: Retorno das ações com p-value abaixo de 0,05. Fonte: Elaborado pela autora 78 De uma forma geral, os resultados apresentados no Tabela 4 confirmaram a hipótese nula na data dos eventos estudados, ao apresentarem p-value maior que o nível de significância (5%). Tais resultados indicaram que a probabilidade dos retornos se manterem normais é elevada, ou seja, que os eventos, por eles mesmos, não influenciaram de forma determinante os retornos das ações. Apresentamos, a seguir, o resultado do retorno das ações dos bancos brasileiros em cada um dos eventos selecionados no presente estudo. 5.2.1 Crise Financeira em 15 de setembro de 2009 Todos os bancos da amostra, com exceção do Banco Pine (p-value igual a 2,2%), apresentaram p-value maior que o nível de significância de 5% na data da quebra do banco americano Lehman Brothers. O p-value dos bancos analisados variou de 6,81% no retorno das ações do Banco ABC Brasil para 54,5% no caso do Banco do Brasil, pressupondo que o mercado já se preparava para a ocorrência da crise financeira. Tais resultados indicam que o mercado foi eficiente de forma antecipada. Isto ocorreu, sobretudo, porque a crise financeira corresponde a um evento dinâmico, ou seja, os sinais de deterioração dos fundamentos econômicos norte-americanos, bem como da saúde financeira dos bancos de investimentos já estavam sendo observados pelos agentes de mercado em decorrência da crise do subprime iniciada em 2007. As bolsas de valores globais já apresentavam queda desde o ano anterior ao evento em função do temor de inadimplência do setor imobiliário, dos prejuízos apresentados por fundos de alto risco (exemplo: Bear Stearns, em março de 2007), da desaceleração do crescimento das vendas do varejo, do crescimento do desemprego nos Estados Unidos, do aumento da inadimplência e da redução de rentabilidade no setor bancário, dentre outros fatores. Apesar desta previsibilidade e antecipação do mercado, o evento da crise financeira, dentre os demais eventos apresentados nesta pesquisa, foi o que apresentou, após janela no momento zero, o maior número de testes com p-value inferior ao nível de significância de 5%. Estes resultados evidenciaram a magnitude da crise financeira, a tensão e, até mesmo, especulação dos investidores nas negociações na bolsa de valores no Brasil e, no mundo. O p-value dos bancos selecionados foi, de uma forma geral, menor que o nível de significância de 5% nas janelas superiores a 10 e a 20 dias após a quebra do Lehman Brothers. A 79 alta probabilidade dos retornos anormais apresentada pelos bancos nestas datas específicas decorreu de desdobramentos da crise financeira, sendo mais intensa no sistema bancário do que em outras indústrias. Na janela superior a 10 dias da data da quebra do Lehman Brothers, a qual correspondeu ao dia 29 de setembro de 2008, a Bolsa de Valores de São Paulo interrompeu o pregão e acionou o circuit breaker. Nesta data, o p-value dos bancos variou de 0,2% no caso das ações dos bancos Panamericano e Sofisa até 4,3% no caso das ações ordinárias do Itaú Unibanco. A única exceção foi o retorno das ações do Banco Daycoval, que apresentou p-value de 91%, como analisado individualmente no item 5.3.6. De acordo com o Manual de Procedimentos Operacionais da Bolsa de Valores de São Paulo - BVSP, o circuit breaker é um mecanismo utilizado pela Bolsa que permite, na ocorrência de movimentos bruscos de mercado, o amortecimento e o rebalanceamento das ordens de compra e de venda. Esse instrumento constitui-se em uma “proteção” à volatilidade excessiva em momentos atípicos de mercado. Os mecanimos de circuit breaker incluem a interrupção dos negócios na Bolsa por 30 minutos quando a baixa do Ibovespa for maior que 10% em relação ao dia anterior, por 1 hora quando a oscilação negativa for superior a 15% e, até mesmo, por prazo definido a seu critério, quando a oscilação negativa dos negócios atingir 20%. A piora do mercado na data analisada refletiu primordialmente a decisão da Câmara dos Deputados dos Estados Unidos em rejeitar o pacote de US$ 700 bilhões proposto pelo governo americano para socorrer instituições financeiras afetadas pela crise. Soma-se, ainda, que nesta data foi anunciada a aquisição do Wachovia, o quarto maior banco americano, pelo Citigroup. Acordo este desfeito que resultou na aquisição do Wachovia pelo Banco Wells Fargo, posteriormente. Na Grã-Bretanha, o governo confirmou a nacionalização do banco de hipotecas Bradford & Bingley, ao assumir o controle de financiamentos e empréstimos do banco no valor de 50 bilhões de libras (cerca de R$ 171 bilhões) e vender as operações de poupança e agências para o Santander, da Espanha. O governo da Islândia também, na referida data, assumiu o controle do terceiro maior banco do país, Glitnir, depois que a companhia apresentou problemas com fundos de curto prazo. (BBC BRASIL). A outra ocorrência de retorno anormal no preço das ações dos bancos brasileiros, que rejeitou a hipótese nula, no evento “Crise Financeira” ao apresentar bancos com p-value abaixo de 5%, aconteceu na janela superior a 20 dias da janela “0, no dia 13 de outubro de 2010. Nesta 80 data, o p-value foi inferior a 0,5% para todos os bancos da amostra, com exceção novamente do Banco Daycoval, que apresentou p-value de 77%. A rejeição da hipótese nula nesta data específica basicamente refletiu, ao contrário do movimento observado no dia 29 de setembro de 2008, uma forte recuperação da Bolsa de Valores, que, segundo notícias veiculadas na imprensa, registrou alta de 14,7% para 40.829 pontos. Esta recuperação foi considerada a maior do Ibovespa desde janeiro de 1999 e refletiu a boa reação dos investidores a diversas medidas adotadas pelos governos para combater a crise financeira. Em 12 de outubro, os chefes de Estado ou de Governo dos países da Zona do Euro concordaram em adotar um plano conjunto contra a crise, refletindo uma injeção de até US$ 2,5 trilhões nas instituições financeiras, visando, assim, restaurar a confiança no sistema financeiro e assegurar seu funcionamento adequado. Em uma declaração de 14 tópicos, eles reconheceram a gravidade da situação, comemoravam o corte de juros feito por Bancos Centrais de diversas localidades e se comprometeram a agir conjuntamente para restaurar a confiança do mercado, aumentando a liquidez, refinanciando bancos e investindo em projetos de infraestrutura. À frente da ação estavam a França e a Alemanha, que editaram um pacote próprio de US$ 675 bilhões contra a crise. Com base nos resultados apresentados, não podemos afirmar que a ocorrência do evento “quebra do Banco Lehman Brothers” foi o exclusivo fator gerador da oscilação no retorno das ações. Por outro lado, podemos inferir que o desdobramento deste evento determinou a rejeição da hipótese nula nos períodos subsequentes para o setor bancário brasileiro, mais afetado pela crise financeira. 5.2.2 Liberação do depósito compulsório em 02 de outubro de 2008. Todos os bancos da amostra apresentaram p-value maior que o nível de significância de 5% na data da liberação do depósito compulsório em 02 de outubro de 2008. Os p-values dos bancos analisados oscilaram de 13,9% no retorno das ações preferenciais do Banco Itau para 97,8% no caso do Banco do Brasil. Tais resultados confirmaram a eficiência antecipada do mercado, aceitando, assim, a hipótese nula proposta neste dissertação. Nas janelas posteriores a data do evento, foram observados retornos anormais específicos, que serão abordados individualmente a seguir. 81 No entanto, na janela de 20 dias após o evento, o qual correspondeu ao dia 30 de outubro de 2008, 7 dos 10 bancos analisados apresentaram p-value inferior a 5%. Tais bancos apresentaram p-value que variaram de 0,2% no caso do Indusval para 4,7% para as ações preferenciais do Banco Itaú. Nesta data específica, houve um movimento de recuperação das bolsas de valores e, especificamente, no Brasil, o ex presidente do Banco Central do Brasil, Henrique Meirelles anunciou medidas de intervenção cambial, incluindo o anúncio de uma linha de USD 30 bilhões com o Banco Central Americano, Federal Reserve – FED. Nota-se, assim, que o evento de depósito compulsório pode não ter explicado por si só o movimento anormal do retorno das ações dos bancos brasileiros, 20 dias após seu anúncio na data zero. A medida do Banco Central para aliviar a liquidez em reais dos bancos médios, juntamente com outros pacotes de combate a crise financeira, como o do incremento de liquidez em dólares através da parceria do Banco Central do Brasil com o Federal Reserve, repercutiram positivamente no retorno das ações dos bancos brasileiros da amostra. Os resultados obtidos na janela 20 dias após o evento da liberação do depósito compulsório apresentaram dois fatos curiosos. Primeiramente, o Itáu foi o único banco grande da amostra a apresentar retorno anormal. Os p-values do Banco do Brasil e do Bradesco, foram, respectivamente 21,1% e 22,3%, confirmando a hipótese nula. Prováveis justificativas para a rejeição da hipótese nula no caso das ações do Banco Itaú podem refletir: i.) a reação do mercado quanto ao anúncio de resultados preliminares referentes ao terceiro trimestre de 2008 no dia 27 de outubro, que mostraram queda de lucro trimestral antes ao mesmo período de 2007 ou, ii.) antecipação do mercado à fusão do bancos Itaú e Unibanco, anunciada no dia 3 de novembro de 2008. Soma-se, ainda, que o Itaú é o mais globalizado dentre os bancos grandes contidos na amostra, com operações em diversos países da América Latina, além de presença na Europa, Estados Unidos e Ásia. Este posicionamento mais internacional pode também ter contribuído para a anormalidade dos preços das ações do Itaú na data específica. Em um sentido oposto, as ações do Banco Daycoval novamente se movimentaram em sentido oposto ao retorno das ações dos bancos médios no período 20 dias superior ao anúncio da liberação do depósito compulsório, possivelmente, em decorrência do programa de recompra de ações efetuado em abril de 2008. 82 5.2.3 Criação do Depósito a Prazo com Garantia Especial (DPGE) em 26 de março de 2009 A criação do DPGE não provocou nenhuma anormalidade estatisticamente significativa sobre o retorno das ações dos bancos brasileiros, de uma forma geral. Assim, os resultados encontrados confirmaram a hipótese nula na data deste evento específico, indicando que o mesmo, por si só, não influenciou de forma determinante os retornos das ações. Os p-values encontrados nas 4 janelas do estudo variaram de 9,1% até 99,1%, com exceção de Banco da Amazônia, Banco Panamericano e Banco Daycoval, que apresentaram em datas específicas p-value inferior a 5%, como estudado posteriormente. Como o Banco Central do Brasil, juntamente com o Fundo Garantidor de Crédito, já estavam atuando a favor do incremento da liquidez dos bancos médios desde outubro de 2008, a criação do DPGE pode ter sido percebida como mais um mecanismo de suporte. Assim, este evento específico insere-se no contexto de um evento mais dinâmico referente às medidas de injeção e restauração de liquidez dos bancos médios, no combate à crise financeira de 2008. 5.2.4 Crise Fiscal Européia em 27 de abril de 2010 O rebaixamento das notas soberanas de Grécia e de Portugal pela agência de ratings Standard and Poors não provocou, num primeiro momento, nenhum comportamento anormal no retorno das ações dos bancos brasileiros estudados nesta pesquisa. Com exceção do Banco Sofisa, todos os bancos da amostra apresentaram p-value superior ao nível de significância de 5% na janela “0 do evento da crise fiscal européia. Os p-values dos bancos analisados variaram de 6,7% no retorno das ações do Banco Pine até 60,5% no caso do Banco do Brasil, pressupondo que o mercado já se preparava para a ocorrência da crise européia. Tais resultados confirmaram a eficiência de mercado de forma antecipada, aceitando assim, a hipótese nula proposta nesta dissertação. Conforme abordado no referencial teórico desta pesquisa, a crise da dívida fiscal soberana européia remonta num período anterior a crise financeira de 2008, sendo agravada após a ocorrência da mesma. Em outubro de 2009, por exemplo, o novo governo da Grécia já havia anunciado projeções de incremento do déficit público, contribuindo, assim, para o temor dos investidores. 83 Assim, tal qual a crise financeira de 2008, a crise fiscal européia também constituiu um evento dinâmico, com sinais de estouro da mesma sendo observados desde períodos mas longos. Não obstante esta antecipação e eficiência do mercado, a janela de 20 dias após o evento provocou variações estatisticamente significativas no retorno das ações de 80% dos bancos brasileiros analisados neste estudo. Os p-values destes bancos variaram de 0,02% no caso das ações dos bancos Pine e Sofisa até 1,8% no Banco Indusval, sendo, assim, inferiores ao nível de significância de 5%. No dia 25 de maio de 2010, correspondente a janela de 20 dias após o rebaixamento das notas soberanas gregas e portuguesas, a Ibovespa apresentou queda em decorrência, dentre outros fatores, de maiores preocupações com a Zona do Euro e com o sistema financeiro espanhol. Embora o efeito do rebaixamento das notas soberanas já havia, de um certo modo, sido antecipado pelos investidores, o desdobramento do mesmo com aumento de incertezas sobre a capacidade de pagamento da dívida de alguns países, e provável contagio deste efeito sobre o sistema financeiro europeu, resultou na anormalidade estatisticamente significativa no retorno das ações dos bancos brasileiros, segmento mais afetado que os demais setores econômicos. 5.2.5 Liberação do depósito compulsório em 22 de dezembro de 2011 Conforme já abordado no referencial teórico desta dissertação, sinais de desaceleração econômica, provocados, inclusive pelo agravamento da crise fiscal européia e, consequente, redução econômica em alguns países da Zona do Euro, incentivaram o Banco Central do Brasil a retomar alguns medidas anticíclicas adotadas em 2008 no combate a crise financeira. Dentre as medidas adotadas, o Banco Central do Brasil restaurou a liberação do depósito compulsório de forma a otimizar a liquidez do sistema financeira e, promover, assim, crescimento das operações de créditos aos diversos setores da economia. Os resultados encontrados na análise deste evento especifico confirmaram, de uma forma geral, a hipótese nula proposta nesta dissertação, ao apresentarem p-value maior que o nível de significância (5%). Tais resultados indicaram que a probabilidade dos retornos se manterem normais é elevada, ou seja, que tal evento, por si só, não influenciou de forma determinante os retornos das ações dos banco brasileiros de forma geral. 84 Os p-values encontrados nas janelas deste evento variaram de 12,2% no caso do Banco Daycoval até 99,07% no caso do Banco da Amazônia. Exceções, como o próprio Banco da Amazônia, Banco Pine e Banco Panamericano, serão tratadas nas análises individuais dos bancos. Um dos motivos prováveis para a manutenção do comportamento normal dos preços das ações dos bancos brasileiros pode ser explicado, novamente, pelo dinamismo implícito nestes eventos. Medidas prudenciais para amenizar os efeitos da desaceleração da atividade econômica brasileira já vinham sendo adotadas desde outubro de 2011, com a reversão da tendência de alta da taxa básica de juros brasileira, além de redução de impostos e de requerimento de capital para operações de consumo. 5.2.6 Redução da taxa básica de juros em 07 de março de 2012. Assim como ocorreu no evento anterior, a redução mais acelerada de 0,75 pontos percentuais na taxa básica de juros anunciada em 07 de março de 2012 não provocou anormalidade estatisticamente significativa no retorno das ações dos bancos brasileiros. Conforme já comentado, a redução da taxa de juros já tinha começado em outubro de 2011, confirmando, assim, a efetividade do mercado na data do evento estudado. Os p-values encontrados foram, de uma forma geral, superiores ao nível de significância de 5%, variando de 12,2% no caso do Banco ABC Brasil até 99,9% no caso das ações do banco Panamericano. Exceções ocorreram com o Banco Pine e Banco Indusval, cuja análises individuais serão apresentadas posteriormente. 5.3 Resultados Individuais – Desempenho Bursátil Nesta seção são apresentados os resultados do desempenho bursátil encontrados para a amostra selecionada de 10 instituições financeiras bancárias (bancos comerciais e múltiplos) listadas na Bolsa de Valores de São Paulo. A apresentação está ordenada de forma decrescente por valor de ativos em 31 de dezembro de 2012, conforme demonstrado na tabela 3. 85 5.3.1 Banco do Brasil Os resultados do Banco do Brasil apresentaram p-value superior ao nível de significância de 5% em quase todos os eventos, indicando, alta probabilidade de manutenção de retornos normais. Nestes casos, os p-values dos eventos estudados nesta pesquisa variaram de 11,1% até 97,8%. Os p-values do Banco do Brasil variariam de 21,1% até 97,8% na primeira liberação de depósito compulsório, de 25,7% até 89,3% no evento da criação do DPGE, de 14,2% até 97% na segunda liberação do depósito compulsório e de 37,7% até 94,2% na redução da taxa de juros. Nota-se, assim, que os investidores do Banco do Brasil, de um modo geral, reagiram de forma eficiente aos eventos analisados. Parte desta previsibilidade refere-se ao fato do Banco do Brasil ser o maior banco do país com milhões de correntistas e considerado “grande demais para quebrar”. Em momentos de crise, dada tal fortaleza, o banco claramente se beneficia do seu perfil de risco reduzido em que os investidores privilegiam segurança, ao invés de alta rentabilidade. No entanto, apesar de toda esta previsibilidade, a alta volatilidade dos mercados nos momentos da crise financeira e crise européia não pouparam o Banco do Brasil de apresentar retornos acionários com anormalidade estatisticamente significativa. Além dos casos sistêmicos abordados no tópico anterior, em que praticamente todos os bancos da amostra apresentaram retornos anormais, na janela de 10 dias da crise européia, o pvalue encontrado no Banco do Brasil também foi inferior a 5%. Nesta janela, equivalente ao dia 10 de maio de 2010, como desdobramento da crise fiscal européia, a bolsa de valores apresentou grande volatilidade, após anúncio do pacote de ajuda a Grécia de Eur 750 bilhões e incertezas sobre países da zona do Euro. Cabe ressaltar, no entanto, que além do evento analisado por si só, outros motivos podem ter contribuído para um incremento na volatilidade do preço das ações do Banco do Brasil neste período. Nas janelas de 10 dias antes e depois do evento da crise fiscal européia ocorreram, respectivamente, a incorporação do Banco do Estado de Santa Catarina em 13 de abril de 2010 e do Banco Nossa Caixa em 11 de maio de 2010. 5.3.2 Itaú Unibanco Assim como o Banco do Brasil, o tamanho e diversidade de operações do Banco Itaú Unibanco caracterizam-no como um “banco grande demais para falir”. Desta forma, os resultados 86 obtidos através do método de estudo de eventos confirmaram a eficiência do mercado de forma antecipada, ao apresentar, de modo geral, p-value com nível de significância maior que 5%. Os p-values variaram de 6,9% a 96,4% no caso das ações ordinárias e de 6% a 90,4% nas ações preferenciais. Exceções a estes valores referiram-se às janelas de crise financeira, primeira liberação do compulsório e crise européia, em que mais que 70% dos bancos da amostra apresentaram p-values inferiores a 5%, como já descrito no tópico anterior. Nestas janelas, os pvalues estão descritos na Tabela 5: Tabela 5: Resultado das ações do Itaú com p-value inferior a 5% Evento Janela P-Value: Ações P-Value: Ações Ordinárias Preferenciais Crise financeira 10 dias 4,3% 0,4% Crise financeira 20 dias 0,1% 0,1% Compulsório 1 20 dias 2,7% 4,3% Crise européia 20 dias 0,7% 0,4% Fonte: Elaborado pela autora Nos demais eventos em que a hipótese nula proposta neste estudo foi aceita, os p-values variaram de 33,7% até 87,5% e de 42% até 85,8% nas ações ordinárias e preferenciais no evento do DPGE, de 43,9% até 74,1% e de 17,6% até 83,3%, respectivamente na segunda liberação do compulsório e de 52,3% até 96,4% e 41,1% até 90,4% na redução de juros. 5.3.3 Bradesco O método do estudo de eventos para o retorno das ações do Banco Bradesco confirmou que o mercado foi eficiente para quase todos os eventos estudados nesta dissertação. Apesar de ser o terceiro maior banco do Brasil por ordem de volume de ativos e apresentar grande variedade de produtos e serviços financeiros, o Banco Bradesco, ao contrário dos demais bancos grandes incluídos na amostra, não apresenta estratégia de internacionalização de suas atividades, ficando, assim, menos exposto aos eventos de crise e de medidas anticíclicas para combate às mesmas. O Bradesco também, conforme anunciado em suas apresentações de resultados na época da crise financeira, não realizou operações com derivativos exóticos, denominadas “target 87 forward” ou outras operações alavancadas, especialmente com seus clientes. Este tipo de operações especulativas, especialmente cambiais, gerou muitas tensões nos mercados, sobretudo bancário, em função da desvalorização do Real no período. A valorização da moeda norteamericana resultou em altas perdas acumuladas por empresas, entre elas Aracruz e Sadia e, consequente, incremento no nível de inadimplência bancária. Neste sentido, dentre todas as instituições financeiras analisadas neste estudo, o Bradesco foi o único banco de grande porte que apresentou menor nível de incidências de p-values inferiores ao nível de significância de 5%. Tais resultados confirmaram a eficiência do mercado de forma antecipada para a maioria dos eventos. Os p-values variaram, de uma forma geral, de 5% a 94%; sendo que na primeira liberação do compulsório ficaram entre 14,9% até 75%, no DPGE, de 10% até 61,4%, na crise fiscal européia de 18% até 63,1%, na segunda liberação de compulsório, de 23,8% até 94% e na redução de juros, de 24,9% até 86,2%. Exceções a estes valores ocorreram na crise financeira, na janela de 5 dias e, num movimento similar aos demais bancos da amostra, nas janelas de 10 e de 20 dias de tal evento, em que a anormalidade verificada no retornos das ações retratou um efeito generalizado e sistêmico na bolsa de valores. Nestas janelas, os p-values do Bradesco foram, respectivamente, 0,3% e 0,013%. 5.3.4 Banco Panamericano Juntamente com o Banco da Amazônia, o Banco Panamericano, logo após o Banco Pine, foi o banco que apresentou maior número de incidências de p-values superiores a 5%. Parte destes resultados refere-se ao seu perfil de negócios mais arriscado, voltado ao mercado de financiamento ao consumo e, assim, mais exposto a aumentos do nível de inadimplência e suscetível a um natural descasamento de prazo entre ativos e passivos. Além dos eventos em que a amostra em geral apresentou alta probabilidade de anormalidade de retorno de ações, o Banco Panamericano apresentou p-value equivalente a 1,5% nas janelas de 5 dias após o evento da crise financeira, rejeitando, assim, a hipótese nula proposta. A criação do DPGE, em março de 2009, também resultou em retornos anormais nas ações do Banco Panamericano, com p-values de 4,5% e 0,3%, respectivamente, nas janelas de 10 e de 20 dias do evento. Como melhor abordado na análise financeira, o Banco Panamericano, dada a 88 natureza de suas operações, apresenta um perfil de captação mais volátil, concentrado e de curto prazo vis-a-vis uma carteira de crédito diversificada e de longo-prazo. No evento da segunda liberação do compulsório em dezembro de 2011, o retorno das ações do Banco Panamericano mantiveram-se normais em praticamente todas as janelas, com pvalues superiores a 5%, confirmando, assim, a hipótese nula. No entanto, na janela de 20 dias do evento, o p-value do Panamericano foi de apenas 1,6%, rejeitando a hipótese nula e, indicando, anormalidade estatisticamente significativa no retorno das ações. Nesta janela, que correspondeu ao dia 18 de janeiro de 2012, o Banco Panamericano anunciou aprovação de aumento de capital, bem como proposta de incremento de distribuição de dividendos obrigatórios. Neste sentido, pode-se inferir que o evento, por si só, não influenciou no retorno das ações do banco neste período. A redução da taxa de juros, anunciada em março de 2012, também não teve impacto no retorno das ações do Banco Panamericano, indicando que o mercado foi eficiente antecipadamente a este evento. Os p-values, neste evento, variaram de 61% a 99,9%. 5.3.5 ABC Brasil A análise do desempenho do retorno das ações do Banco ABC Brasil demonstrou, de forma, geral, que o mercado reagiu eficientemente de forma antecipada a ocorrência dos eventos estudados, com exceção da crise financeira e da primeira liberação do depósito compulsório. Nestes dois eventos, o Banco ABC Brasil apresentou p-values equivalentes a 0,5% e 0,0012% nas janelas de 10 e de 20 dias após a crise financeira, em um movimento idêntico a 90% dos bancos da amostra deste estudo. De forma também sistêmica, o p-value de 2,27% ficou abaixo do nível de significância na janela de 20 dias após a primeira liberação do depósito compulsório, identificando a alta volatilidade no retorno das ações provocada pela crise financeira e seus desdobramentos subsequentes. Além dos datas mencionadas acima, notamos que a primeira liberação do depósito compulsório teve um efeito maior sobre o retorno das ações do Banco ABC Brasil do que na maioria dos bancos da amostra. Similar ao desempenho de Pine e de Banco da Amazônia (Basa), nas janelas de 5 e de 10 dias deste evento, os p-values do Banco ABC Brasil ficaram abaixo do nível de 5%, indicando, assim, alta probabilidade de retornos anormais. Os p-values encontrados foram, respectivamente, 0,97% e 0,9% nas janelas descritas acima e, podem ser explicados pela 89 maior sensibilidade dos bancos médios à volatilidade de mercado provocada pelos efeitos da crise financeira. Além dos eventos por eles mesmos, parte deste desempenho diferenciado no retorno das ações pode estar relacionado a outras medidas adotadas pelo Banco Central do Brasil, como a isenção de recolhimento compulsório de bancos menores, anunciada em 25 de setembro de 2008. Soma-se a veiculação de notícias a respeito da performance financeira de bancos médios nas datas de 9 e 16 de outubro de 2008. Tais resultados, desdobramentos do período de crise financeira, podem evidenciar que o desempenho no retorno das ações do Banco ABC Brasil não foi influenciado exclusivamente pelos eventos estudados. Nos demais eventos analisados, os retornos das ações do Banco ABC Brasil posicionaram-se acima do nível de significância de 5%, indicando, eficiência de mercado de forma antecipada. Os p-values do Banco ABC Brasil variaram de 9,11% até 99,15% no evento da criação do DPGE, de 6,02% até 38,74% no crise fiscal européia, de 13,8% até 97,69% na segunda liberação do depósito compulsório e de 12,23% até 99,86% na redução de taxa de juros. 5.3.6 Daycoval O Banco Daycoval foi uma das instituições finnceiras da amostra que apresentou a menor incidência de retornos anormais no preço de suas ações nos eventos analisados na presente pesquisa. Assim, os resultados do Banco Daycoval, de forma geral, confirmaram a eficiência de mercado de forma antecipada, ao apresentarem resultados com p-value superior ao nível de significância de 5%. Tanto no evento da crise financeira como no da primeira liberação do depósito compulsório, o retorno das ações do Banco Daycoval mantiveram alta probabilidade de retornos normais, ao contrário dos resultados apresentados pela indústria bancária, em geral. Pode-se inferir que, parte desde resultado, deva-se ao programa de recompra de ações de emissão própria lançado pelo Daycoval em abril de 2008 visando capturar um potencial importante de criação de valor em razão do preço das ações do Banco no mercado nos meses anteriores. O Programa teve duração de 360 dias, sendo permitida a aquisição de no máximo 6.426.316 (seis milhões, quatrocentas e vinte e seis mil e trezentas e dezesseis) ações preferenciais, o que representou dez 90 por cento (10%) das ações preferenciais em circulação no mercado, conforme anunciado pelo banco. Os p-values do Banco Daycoval variaram de 25,3% até 91% no evento da crise financeira, de 44,6% até 84% na primeira liberação do depósito compulsório, de 12,2% até 80,5% na segunda liberação do depósito compulsório e de 25,3% até 91% na redução de juros. Exceções ocorreram no evento da criação do DPGE e na crise fiscal européia. Na janela “0” do evento do anúncio da implementação do DPGE, o p-value do Banco Daycoval foi de apenas 2%, confirmando a hipótese alternativa proposta nesta dissertação. Comportamento similar foi verificado na janela de 20 dias do efeito da crise fiscal européia, em que o p-value apresentado pelo banco foi de 0,6%. 5.3.7 Banco da Amazônia Além de apresentar p-values superiores a 5% nas janelas em que a amostra de bancos em geral, também tiveram alta probabilidade de retornos anormais, o Banco da Amazônia foi significativamente impactado pela primeira liberação do depósito compulsório em outubro de 2008 e, parcialmente, pelos eventos subsequentes. Na primeira liberação do depósito compulsório, os resultados obtidos com a metodologia de estudo de eventos indicaram que os investidores não reagiram de forma antecipada ao evento específico. O Banco da Amazônia apresentou p-values de 0,7%, 1,7% e 0,6% nas janelas de 5, 10 e 20 dias após o evento, respectivamente. Tais resultados, assim, confirmaram a hipótese alternativa proposta nesta dissertação. Similar comportamento foi observado na crise européia com p-value de 2,28% e 0,9% nas janelas de 10 e de 20 dias após o evento, em que as ações do banco se mostraram mais suscetíveis em relação aos temores oriundos do default da Grécia e contágio para outros países da zona do Euro. Com menor impacto, na criação do DPGE e na segunda liberação do depósito compulsório, o banco também apresentou p-value inferior a 5%, respectivamente, nas janelas de 20 dias (4,59%) e na janela 0 (1,12%) dos eventos. Infere-se destes resultados que tais eventos, por eles mesmos, não impactaram o retorno das ações. 91 A redução da taxa de juros, anunciada em março de 2012, também não teve impacto no retorno das ações do Banco da Amazônia, indicando que o mercado foi eficiente antecipadamente a este evento. Os p-values, neste evento, variaram de 62,7% a 68,4%. 5.3.8 Pine Dentre os bancos analisados neste estudo, o Banco Pine, de uma forma geral, foi o banco que mais apresentou retornos dos preços de ações com alta probabilidade estatística de anormalidade. Na crise financeira de 2008, o Banco Pine foi o único banco que apresentou p-value inferior ao nível de significância de 5% na janela “0” do evento, indicando, assim, que a probabilidade de retorno anormal no preço de ações no período estudado foi alta. Nesta data, o pvalue do Banco Pine foi de 2,2%, rejeitando, assim, a hipótese nula proposta nesta dissertação. Resultados similares foram encontrados nas janelas de 10 e de 20 dias ao evento, conforme já observado na seção de resultados gerais, em que os p-values do Banco Pine foram respectivamente, 0,4% e 0,1%. No segundo evento estudado nesta pesquisa, referente a primeira liberação do depósito compulsório ocorrida em outubro de 2008, os resultados do Banco Pine rejeitaram a hipótese nula nas janelas de 5, 10 e 20 dias após o evento. Os p-values encontrados nestes períodos foram respectivamente, 0,2%, 3,6% e 1,3%. Além da janela de 20 dias após o evento em que os bancos, em geral, apresentaram p-value inferior ao nível de significância de 5%, a alta probabilidade dos retornos das ações do Pine apresentaram anormalidade estatística nos demais períodos pode ser explicada pelo evento da crise financeira e os mecanismos de suporte a liquidez aos bancos médios. Especificamente em relação a necessidade de otimização do fluxo de liquidez, nota-se que a carteira de captação do Pine, melhor explicada na seção de análise financeira, reduziu aproximadamente 40% entre junho a dezembro de 2008, confirmando a alta aversão ao risco de investidores aos bancos médios. Diante desta conjuntura de alta volatilidade e aversão ao risco, o Banco Pine, num movimento similar a outras empresas de capital aberto, anunciou nos dias 01 de outubro de 2008 (após janela de 10 dias do evento crise financeira) e 16 de outubro de 2008 (janela de 10 dias do evento liberação do compulsório) a aquisição de ações de emissão da própria companhia e 92 cancelamento de ações de emissão própria e de ações em tesouraria. Este movimento de recompra de ações pode ter sido resultante do aumento na volatilidade do preço dos ativos negociados no mercado mobiliário, situação comum em momentos de crise econômica, em que as ações tendem a estar subavaliadas, tornando-se assim, uma boa opção de investimentos para a própria companhia (NASCIMENTO, GALDI E NOSSA, 2008). Soma-se que na janelas acima, o Banco Central isentou os bancos menores a recolherem depósito compulsório, melhorando, assim, o nível de liquidez dos mesmos; além de serem veiculadas notícias na internet sobre a perspectiva de redução de rentabilidade de bancos médios. Contrariamente ao ocorrido nos dois primeiros eventos, na criação do DPGE, a hipótese nula foi aceita, com o mercado reagindo com eficiência antecipada a mais uma medida de injeção de liquidez aos bancos médios durante a crise financeira. Os p-values do Banco Pine nesse período foram respectivamente 42,1%, 51,7%, 67,8% e 16,0%, portanto, superiores ao nível de significância de 5%, indicando, assim, alta probabilidade de retornos normais. Novamente os retornos do Banco Pine mostraram sensibilidade ao evento de crise em 2010, quando eclodiu a crise fiscal européia. Embora o p-value de 6,7% na janela “0” do evento tenha indicado alta probabilidade de manutenção de retorno normal, os p-values encontrados nas janelas de 5, 10 e 20 dias, respectivamente: 1,8%, 0,1% e 0,02%; mostraram a ineficiência de antecipação do mercado diante do evento. Em ambas janelas de 5 e de 10 dias após o evento, houve volatilidade da Bolsa em função do temor sobre default da Grécia e contágio em outros países com elevada razão de dívida e PIB e, posterior, anúncio de pacote de socorro a Grécia. Cabe ressaltar que o evento da crise européia pode não ter sido o único responsável para a anormalidade das ações, uma vez que, nas datas posteriores ao mesmo, o Banco Pine apresentou resultados do primeiro trimestre de 2010 em 12 de maio de 2010, bem como teve seus ratings externos elevados pela agência de ratings Fitch em 25 de maio de 2010. Nos eventos posteriores estudados nesta pesquisa, o Banco Pine, de forma geral, apresentou p-values superiores ao nível de significância de 5%, que variaram de 5,4% a 85,3%. Exceções a estes valores ocorreu na janela “0”da segunda liberação do depósito compulsório (pvalue de 2,6%). Nesta data, além do evento estudado, o Banco Pine também anunciou a captação de recursos externos no montante de US$ 25 milhões com o organismo multilateral francês Proparco do grupo Agence Française de Développement - AFD por 10 anos, indicando, assim, acesso de liquidez ao mercado externo. 93 Ainda na janela de 10 dias da redução da taxa de juros, os retornos das ações do Banco Pine também apresentaram p-value de 4,8%, indicando alta probabilidade de retorno anormal. 5.3.9 Sofisa As ações do Banco Sofisa apresentaram grande volatilidade durante o evento da crise financeira de 2008. Apresentando p-values inferiores ao nível de 5% nas janelas de 5, 10 e 20 dias do evento, o mercado não reagiu totalmente de forma antecipada ao evento. A generalizada aversão ao risco, especialmente aos bancos de nicho e com porte menor, impactaram não apenas as ações do Sofisa, como também do Panamericano de uma forma mais recorrente que os demais bancos da amostra. Os p-values apresentados pelo Banco Sofisa nas janelas de 5, 10 e 20 dias do evento da crise financeira foram, respectivamente, 3,8%, 0,2% e 0,01%, confirmando a hipótese alternativa proposta nesta dissertação. A alta volatilidade dos preços das ações no período motivaram o Banco Sofisa a anunciar dois programas de recompra de ações: em 13 de outubro de 2008 e em 1 de dezembro de 2008. Conforme informado nas demonstrações financeiras anuais de 2008 do Banco Sofisa, o programa de recompra de ações para permanência em tesouraria ou cancelamento sem redução do capital social visou maximizar a geração de valor para o acionista na eventualidade de cancelamento das respectivas ações. Ainda, neste relatório, o Banco Sofisa comentou que a performance de suas ações foi impactada pela crise global, que fez com que investidores estrangeiros se desfizessem de ações ao redor do mundo, principalmente de instituições financeiras. Não obstante os desdobramentos da crise financeira e anúncio da liberação do compulsório em outubro de 2008, um motivo adicional e, eventualmente complementar para o pvalue de 1,3% apresentado pelo Sofisa na janela de 20 dias do evento do compulsório, pode ser auferido pela divulgação dos resultados do terceiro trimestre de 2008 nesta data (30 de outubro de 2008). Neste trimestre, como melhor explicado no tópico de análise financeira, o Banco Sofisa apresentou redução de aproximadamente 20% na sua base de depósitos em relação ao trimestre anterior, confirmando a aversão ao risco por parte dos investidores e busca por “flight to quality” para bancos maiores. 94 A antecipação eficiente do mercado em resposta ao anúncio da crise do DPGE foi confirmada pela oscilação do p-value de 11,1% até 93,7% nas janelas do evento, confirmando, assim, a hipótese nula proposta nesta dissertação. Na crise fiscal européia, o Banco Sofisa apresentou p-values inferiores a 5% na janela “0”do evento (2,23%) e de 20 dias (0,02%), rejeitando a hipótese nula, demonstrando maior sensibilidade deste banco frente aos efeitos da mesma. A segunda liberação do compulsório em 2011 e redução da taxa de juros em março de 2012 não impactaram os retornos das ações do Banco da Sofisa, indicando que o mercado foi eficiente antecipadamente a estes eventos. Os p-values oscilaram de 14,4% até 78,7% no evento do compulsório e, de 26,97% até 91,7% no evento de juros. 5.3.10 Indusval Os resultados dos retorno das ações do Banco Indusval foram totalmente aderentes ao desempenho apresentado pela maioria dos bancos, em geral. De uma forma ampla, os investidores reagiram antecipadamente aos eventos estudados, com alta probabilidade de retornos anormais sendo verificados nas janelas em que mais que 80% da amostra também apresentou pvalue inferior a 5%, conforme já explicado. Assim, os p-values inferiores ao nível de significância de 5% ocorreram nas janelas de 10 e de 20 dias da crise financeira (0,85% e 0,04%, respectivamente), na janela de 20 dias da primeira liberação do compulsório (0,207%) e na janela de 20 dias da crise fiscal européia (1,79%). Além destes eventos, o Banco Indusval também apresentou p-value de 1,633% na janela de 5 dias da redução de juros. Dado que foi o único banco da amostra a apresentar probabilidade de retorno anormal apenas nesta janela do evento, pode-se concluir que o desempenho das ações do Banco Indusval não foi impactado pela redução de juros. Presume-se que tal desempenho tenha ocorrido em função da migração das ações do banco para o nível II de governança corporativa no dia 28 de fevereiro de 2012, um dia antes da janela do evento estudado. A criação do DPGE e a segunda liberação do compulsório não impactaram os retornos das ações do Banco Indusval, indicando que o mercado foi eficiente antecipadamente a estes eventos. 95 Os p-values oscilaram de 18,5% até 82,1% no evento do DPGE e, de 34,7% até 57,4% no evento do compusório. 5.4 Resultados Individuais - Análise Financeira 5.4.1 Introdução Agrupamos as análises financeiras dos bancos selecionados na amostra em dois tópicos, de forma a contemplar efetivamente os efeitos dos eventos pesquisados nesta dissertação, como demonstrado no Quadro 9. O racional deste agrupamento considera a forte correlação entre os eventos, cujos impactos nas demonstrações financeiras dos bancos brasileiros puderam ser também observados em períodos posteriores à respectiva data de algum evento específico. Quadro 9: Agrupamento da análise financeira Tópicos Crise financeira e Eventos Período de Análise Financeira Crise financeira De Junho de 2008 até Março de desdobramentos 2009 1ª liberação do compulsório Criação do DPGE Crise Fiscal desdobramentos Européia e Crise Fiscal Européia De Março de 2010 até Junho de 2ª liberação do compulsório 2010 e; de Setembro de 2011 até Redução da taxa de juros Junho de 2012 Fonte: Elaborado pela autora 5.4.2 Banco do Brasil • Crise Financeira de 2008 e desdobramentos – Análise Financeira trimestral de junho de 2008 até março de 2009 Tabela 6: Banco do Brasil: Financial Highlights BANCO DO BRASIL – Valores em Milhares de Reais Ativo Total Ativos Líquidos Operações de Crédito Jun-08 416.503 141.123 190.082 Set-08 458.873 162.634 202.233 Dez-08 521.273 209.586 224.808 Mar-09 591.925 248.489 241.926 96 Non performing loans Provisões para crédito de liquidação duvidosa Depósitos Dívida Subordinada Patrimônio Líquido Receita de Intermediação Financeira Resultado de Interm. Fin. Antes Provisões Despesas com Provisões de Crédito Despesas Pessoais e Administrativas Receita com Serviços Lucro Líquido Crédito/ Patrimônio Líquido Índice da Basiléia NPL/ Carteira de Crédito NPL - Provisões/ Patrimônio Líquido RIF + Serviços/ Despesas Fixas Retorno sobre PL Resultado de Interm. Fin. Antes Provisões/ Receita Interm. Fin. Ativo Liquido/ Deposito Total 18.186 11.165 195.216 11.581 26.371 22.397 10.902 3.347 7.727 5.820 3.992 7,2x 13,1% 9,6% 26,6% 1,7x 30,3% 18.288 11.187 229.810 12.202 27.889 37.872 15.936 4.714 12.172 8.753 5.859 7,3x 13,6% 9,0% 25,5% 1,6x 28,0% 20.880 13.829 270.841 12.957 29.937 57.116 21.425 8.606 16.787 11.811 8.803 7,5x 15,2% 9,3% 23,6% 1,5x 29,4% 23.749 15.829 305.002 15.545 30.859 15.144 6.012 2.654 5.844 2.943 1.665 7,8x 15,4% 9,8% 25,7% 1,1x 21,6% 48,7% 72,3% 42,1% 70,8% 37,5% 77,4% 39,7% 81,5% Fonte: Elaborado pela autora/ Austin Asis. O cenário econômico benigno no 1º semestre de 2008 impulsionou a manutenção do ritmo acelerado de crescimento de crédito, conforme evidenciado pela expansão de 10% nas operações de crédito no 2º trimestre para R$ 190 milhões. A qualidade dos ativos do Banco do Brasil manteve-se estável com índice de NPL equivalente a 9,6% do total da carteira de crédito em Junho 2008. O incremento verificado nas operações creditícias, combinado a diversificada geração de receitas do Banco do Brasil, contribuiu para a manutenção de uma forte geração de receitas com rentabilidade anualizada sobre o patrimônio líquido superior a 30% em Junho de 2008. Tal crescimento, por outro lado, pressionou os indicadores de capital do banco, com redução trimestral do índice da Basiléia em 2,2 p.p. para 13,1%, ainda acima do mínimo de 11% exigido pelo Banco Central do Brasil. A quebra do Banco Lehman Brothers em 15 de setembro de 2008 e, consequentemente, o estouro da crise financeira, já provocou impactos nas demonstrações financeiras do Banco do Brasil ao final de setembro deste ano. A aversão generalizada ao risco contribuiu para que o Banco do Brasil privilegiasse o incremento de liquidez, em detrimento da manutenção do acelerado ritmo de concessão de empréstimos. Ao contrário do movimento observado no 2º trimestre de 2008, os números de Setembro de 2008 demonstraram um crescimento mais moderado nas operações de crédito em 97 relação ao trimestre anterior (+6,4%). Em contrapartida, os ativos líquidos aumentaram 15,2% no 3º trimestre, compensando, assim, toda a redução observada no 2º trimestre de 2008. O crescimento dos ativos líquidos para R$162,6 bilhões foi impulsionado pelo forte crescimento da carteira de depósitos em 17,7% no trimestre. Este movimento acelerado na carteira de captação do banco é denominado “flight to quality” (vôo para segurança). Este terno é analisado nos itens subsequentes. Reflete o resgate de aplicações em investimentos e emissores mais arriscados para aqueles que apresentam maior segurança, como o Banco do Brasil. A credibilidade creditícia apresentada pelo banco considera não apenas sua estrutura acionária vinculada com o governo federal, mas também seu tamanho e diversidade de operações e de receitas. A redução no ritmo de concessão de crédito conjugada ao aumento de liquidez provocou uma leve redução nos indicadores de rentabilidade do Banco do Brasil (retorno anualizado sobre patrimônio líquido de 28%), bem como contribuiu para uma melhora nos indicadores de capital. O índice da Basiléia aumentou 0,5 p.p para 13,6% ao final de setembro. O nível de inadimplência também melhorou para 9% em setembro de 2008, em relação a 9,6% em junho de 2008. O impacto da crise financeira sobre as demonstrações financeiras do Banco do Brasil continuou a ser observado nas demonstrações financeiras de dezembro de 2008. Como detalhado a seguir, além do papel estratégico do banco para suprimento de linhas de crédito, regras do Banco Central do Brasil no período influenciaram em seu nível de capitalização, crescimento e rentabilidade. De uma maneira geral, o Banco do Brasil continuou apresentando fortes fundamentos econômicos. O efeito “flight to quality” continuou a ser observado no volume de captação do Banco do Brasil, cuja carteira de depósitos cresceu 17,9% no 4º trimestre de 2008 para R$270,8 bilhões. Segundo informações obtidas na transcrição de resultados do banco no período: “O volume médio de CDBs realizados pelo Banco do Brasil até agosto era em torno de R$12 bilhões, em setembro este volume duplicou para R$24 bilhões, em outubro quase que triplicou, em novembro e dezembro observamos uma pequena retração, mas em patamares bem superiores à média histórica do período pré-crise”. Estes recursos foram não apenas direcionados ao incremento de liquidez do banco, mas também à retomada de originação de crédito. Soma-se neste contexto a liberação do compulsório anunciada em 02 de outubro de 2008, intensificando as operações entre instituições financeiras. 98 Segundo informações obtidas na apresentação de resultados do Banco do Brasil referentes ao 4º trimestre de 2008, o volume de operações contratadas até dezembro de 2008 totalizou R$14 bilhões. O saldo no balanço de dezembro de 2008 foi de R$9,8 bilhões, sendo 60,8% destinado para aplicações em depósitos interfinanceiros, 31,6% para aquisição de operações de crédito consignado e 7,6% para aquisição de operações de financiamento de veículos. As operações de crédito apresentaram um crescimento trimestral de 11,2% para R$224,8 bilhões, indicando a importante atuação do Banco do Brasil no suporte ao mercado local em suas necessidades de liquidez e linhas de crédito. No ano de 2008, o Banco do Brasil apresentou um crescimento de crédito anual de 39,9%, um ritmo maior ao observado pelo Sistema Financeiro Nacional (31% em 2008). Apesar da acelerada expansão nas operações de crédito, os indicadores de qualidade de ativos do Banco do Brasil já começaram a dar sinais de uma pequena deterioração, conforme evidenciado pelo índice de non-performing loans de 9,3% em dezembro de 2008, superior aos 9% no trimestre anterior. Os sinais de maior fragilidade no nível de inadimplemento das operações de crédito decorreram especialmente da maior aversão ao risco por parte dos investidores em geral, resultando na redução de limites de crédito disponíveis às empresas, enfraquecimento nos fundamentos econômicos, aumento do número de empresas com pedido de falências e recuperações extrajudiciais e, consequentemente, maior nível de inadimplência por parte de pessoas físicas e pessoas jurídicas. Com isso, o Banco do Brasil reforçou o nível de provisionamento de suas operações de crédito em R$ 1,6 bilhões em 2008, frente à tendência de deterioração na qualidade de ativos nos períodos subseqüentes. A constituição de provisões adicionais aos percentuais mínimos requeridos pelas regras do Banco Central (Resolução 2.682) foi autorizada pelos órgãos reguladores a integrarem o nível I do Patrimônio de Referência através da Resolução 3.674 de 30 de dezembro de 2008, fortalecendo, assim, a estrutura de capital do Banco do Brasil em dezembro de 2008. Além deste fator, o aumento do índice de Basiléia do Banco do Brasil em 1.6 p.p. no trimestre para 15,2% foi também influenciado pela implementação das Circular 3.425 e Resolução 3.655 que permitiu não apenas a redução do fator de ponderação de capital de créditos tributários oriundos de diferenças temporais de 300% para 100%, como limitou em 10% do 99 capital nível o total de créditos tributários decorrentes de prejuízos fiscais e bases de cálculo negativas de contribuição social sobre o lucro líquido. A melhora no nível de Basiléia do banco para o patamar de 15%, confortavelmente acima do percentual mínimo exigido pelo Banco Central (11%) permitiu a evolução das atividades creditícias do banco, em consonância com sua atuação mais forte no combate a crise financeira. O aumento das provisões conjugado a outros fatores extraordinários foram compensados pela mudança no reconhecimento dos ganhos atuariais do fundo de previdência, resultando, assim, em ganhos extraordinários de R$2,1 bilhões no exercício de 2008. Assim, o banco manteve forte rentabilidade como evidenciado pelo retorno sobre patrimônio líquido de 29,4% em 2008. Ainda no 4º trimestre de 2008 foi anunciada a Medida Provisória 443, de 21 de outubro de 2008, a qual foi posteriormente convertida na Lei 11,908 de 03 de março de 2009. Este normativo permitiu a aquisição de participações em instituições financeiras pelo Banco do Brasil e pela Caixa Econômica Federal. Neste sentido, foi anunciada a aquisição de 49.9% no capital votante do Banco Votorantim pelo Banco do Brasil em 12 de janeiro de 2009. A criação do depósito especial com garantia do FGC (DPGE) não afetou os resultados do Banco do Brasil no 1º trimestre de 2009, por ter sido uma medida de reforço de liquidez aos bancos pequenos e médios brasileiros. No entanto, as demonstrações financeiras do Banco do Brasil no período permaneceram influenciadas pelo ambiente econômico adverso decorrente da crise financeira de Setembro de 2008, bem como pela consolidação dos números do Banco Nossa Caixa. A aquisição do controle acionário do Banco Nossa Caixa foi efetivada no 1º trimestre de 2009 e adicionou R$54,3 bilhões aos ativos do Banco do Brasil, com destaque de R$22,6 bilhões para a carteira de títulos e valores mobiliários e de R$12,6 bilhões para operações de crédito. Excluindo as operações de crédito oriundas do Banco Nossa Caixa, o Banco do Brasil registrou um crescimento de apenas 2% no volume de operações no período, percentual este, que mesmo tímido em função da sazonalidade do período, foi superior a expansão de 1,1% registrada pela indústria bancária no período. O crescimento das operações creditícias acima da média da indústria reforçou o papel anticíclico adotado pelos bancos públicos em decorrência do apetite de crédito mais restrito dos bancos privados. Como demonstrado nas análises individuais a seguir, o Bradesco registrou crescimento de 0,4% nas operações de crédito no 1º trimestre de 2009, enquanto que o Itaú Unibanco reduziu sua carteira em 0,3% no mesmo período. 100 Os indicadores de inadimplência continuaram a apresentar sinais de deterioração conforme evidenciado pelo índice de non-performing loans de 9,8% em março de 2009, 0,5 pontos percentuais acima do trimestre anterior, não obstante todo crescimento da carteira verificado no período. Apesar de não repetir a rentabilidade do ano anterior, o Banco do Brasil manteve alta lucratividade com retorno sobre patrimônio líquido equivalente a 21,6% no trimestre. A excelente estrutura de capital do banco foi mantida como evidenciado por índice de Basiléia equivalente a 15,4%, confortavelmente acima do mínimo de 11% exigido pelo Banco Central do Brasil. • Crise Fiscal Européia e desdobramentos – Análise Financeira trimestral de Março de 2010 até Junho de 2010 e; de Setembro de 2011 até Junho de 2012 Tabela 7: Banco do Brasil: Financial Highlights BANCO DO BRASIL - Valores em Milhares de Reais Ativo Total Ativos Líquidos Operações de Crédito Non performing loans LLR Depósitos Dívida Subordinada Patrimônio Líquido Receita de Intermediação Financeira Resultado de Interm. Fin. Antes Provisões Despesas com Provisões de Crédito Despesas Pessoais e Administrativas Receita com Serviços Lucro Líquido Crédito/ Patrimônio Líquido Índice da Basiléia NPL/ Carteira de Crédito NPL - Provisões/ Patrimônio Líquido RIF + Serviços/ Despesas Fixas Retorno sobre PL Resultado de Interm. Fin. Antes Provisões/ Receita Interm. Fin. Ativo Liquido/ Deposito Total Mar-10 724.881 278.161 305.551 24.663 18.316 342.624 24.451 37.646 18.813 8.584 2.959 6.297 3.634 2.351 8,1x 14,1% 8,1% 16,9% 1,5x 25,0% Jun-10 755.706 273.110 326.522 24.466 18.088 343.961 24.983 39.332 38.565 17.381 5.484 12.441 7.588 5.076 8,3x 12,8% 7,5% 16,2% 1,6x 25,8% Set-11 949.781 334.677 402.555 24.550 18.611 419.519 32.566 56.224 77.623 29.148 8.764 20.411 13.215 9.208 7,2x 14,5% 6,1% 10,6% 1,6x 21,8% Dez-11 981.230 343.155 422.989 25.839 19.015 442.386 33.730 57.972 103.330 39.488 11.975 28.335 18.242 12.126 7,3x 14,5% 6,1% 11,8% 1,6x 20,9% Mar-12 1.004.971 352.496 430.748 26.518 19.573 446.870 37.600 59.590 26.055 10.129 3.440 7.977 5.051 2.502 7,2x 14,3% 6,2% 11,7% 1,5x 16,8% Jun-12 1.051.410 373.417 459.794 27.883 20.340 466.959 45.220 61.777 53.885 20.018 6.934 15.846 10.308 5.510 7,4x 14,2% 6,1% 12,2% 1,5x 17,8% 45,6% 81,2% 45,1% 79,4% 37,6% 79,8% 38,2% 77,6% 38,9% 78,9% 37,1% 80,0% Fonte: Elaborado pela autora/ Austin Asis. 101 Os bons fundamentos econômicos brasileiros, com demonstração de forte resiliência diante da crise financeira em 2008, não foram impactados em um primeiro momento pelo início da crise fiscal européia. Neste cenário, o desempenho econômico-financeiro do Banco do Brasil ao longo do primeiro semestre de 2010 não foi influenciado por tal evento. Neste período, o Banco do Brasil manteve a estratégia de crescimento das operações de crédito, privilegiando especialmente operações de financiamento a veículos e crédito consignado, bem como a pequenas e médias empresas. Em março de 2010, o crescimento da carteira de crédito foi de 1,6%, um pouco abaixo ao aumento de 2,6% verificado no Sistema Financeiro Nacional no período. Este indicador refletiu basicamente o volta de apetite por operações de crédito pelos bancos privados, num movimento oposto ao verificado ao final de 2008 e primeiro semestre de 2009. A benigna conjuntura econômica contribuiu não apenas para o crescimento das operações de crédito, como também para a melhora constante dos indicadores de qualidade de ativos. Após atingir o pico de 9,8% do total da carteira de crédito em março de 2009, o índice de NPL do Banco do Brasil veio caindo gradualmente até 8,1% em março de 2010. Mesma observação serve para o indicador de NPL líquido em relação ao patrimônio líquido do banco que caiu sistematicamente de 25,7% em março de 2009 para 16,9% em igual período do ano posterior. A carteira de depósitos cresceu 1,5% no trimestre, mesmo ritmo de crescimento das operações de crédito. O destaque no período foi a emissão de R$ 1 bilhão de letras financeiras subordinadas, que conjugado aos bons resultados do período, contribuíram para a manutenção do índice de Basiléia em 14,1%, apesar do aumento das operações de crédito no período. A boa rentabilidade em março de 2010 foi confirmada pelo lucro líquido publicado de R$ 2,4 bilhões, rentabilizando o patrimônio líquido em 25% de forma anual. Além do crescimento geral das operações do banco, especialmente as creditícias, os bons resultados do período também foram influenciados por fatores extraordinários, como reversão de provisões trabalhistas e venda da participação na Visa International. Em Junho de 2010, o Banco do Brasil acelerou o crescimento das operações de crédito, que aumentaram 6,9% em relação ao trimestre anterior, ritmo maior que a média de 5,4% registrada pela indústria bancária no período. Este desempenho continuou refletindo a conjuntura econômica favorável no Brasil, ao contrário do momento econômico mais turbulento na Zona do 102 Euro. Os indicadores de qualidade de ativos mantiveram a tendência de melhora, com redução de NPL e de NPL líquido sobre PL para 7,5% e 16,2%, respectivamente. O aumento da alavancagem creditícia de 8,1x em março de 2010 para 8,3x em junho de 2010 foi o principal responsável pela redução do índice da Basiléia para 12,8% no segundo trimestre de 2010. Crescimento este também impulsionador da manutenção de forte rentabilidade, conforme evidenciado pelo ROE anualizado de 25,8%. Como já mencionado no referencial teórico desta dissertação, os efeitos da incerteza no cenário econômico internacional começaram a surtir efeito na economia brasileira no segundo semestre de 2011. A desaceleração da atividade econômica brasileiro resultou na flexibilização de medidas prudenciais no quarto trimestre de 2011, incluindo a segunda liberação do depósito compulsório em dezembro de 2011 e a redução acelerada da taxa de juros em março de 2012. A conjuntura destes fatores teve impacto no desempenho econômico-financeiro do Banco do Brasil, o qual, dada sua importante atuação no desenvolvimento econômico, manteve acelerado crescimento das operações de crédito. Entre setembro de 2011 até junho de 2012, as operações de crédito evoluíram 14,2% vis-a-vis a média de 12,4% da indústria bancária no período. Este acelerado crescimento nas operações de crédito no período contribuíram para a manutenção de adequados indicadores de qualidade de ativos, que se mantiveram estáveis em aproximadamente 6,1% em relação a carteira de crédito e 11,5% em relação ao patrimônio líquido. Não obstante todo o crescimento da carteira de crédito, o índice de Basiléia manteve-se estável em 14% em decorrência não apenas do aumento do capital social em R$ 7 bilhões em julho de 2010 (oferta pública de ações), como também de subsequentes emissões de dívida subordinada. O saldo total de dívida subordinada totalizou R$ 45,2 bilhões em junho de 2012, um incremento de 39% em relação a setembro de 2011. O maior impacto dos eventos anticíclicos estudados em 2011 e 2012 referem-se a pressão sobre a margem financeira e, consequente, rentabilidade; que reduziram gradativamente no período dada a redução da taxa de juros e aumento de competitividade. Apesar destes fatores, a rentabilidade permaneceu elevada em 18% ao final de junho de 2012. 103 5.4.3 Itaú Unibanco • Crise Financeira de 2008 e desdobramentos – Análise Financeira trimestral de junho de 2008 até março de 2009 Tabela 8: Itaú Unibanco: Financial Highlights ITAU UNIBANCO – Valores em Milhares de Reais Ativo Total Ativos Líquidos Operações de Crédito Non performing loans Provisões para crédito de liquidação duvidosa Depósitos Dívida Subordinada Patrimônio Líquido Receita de Intermediação Financeira Resultado de Interm. Fin. Antes Provisões Despesas com Provisões de Crédito Despesas Pessoais e Administrativas Receita com Serviços Lucro Líquido Crédito/ Patrimônio Líquido Índice da Basiléia NPL/ Carteira de Crédito NPL - Provisões/ Patrimônio Líquido RIF + Serviços/ Despesas Fixas Retorno sobre PL Resultado de Interm. Fin. Antes Provisões/ Receita Interm. Fin. Ativo Liquido/ Deposito Total Jun-08 343.870 139.023 134.879 11.929 Set-08 396.599 167.046 151.015 12.338 Dez-08 632.728 261.132 241.043 21.463 Mar-09 618.943 265.782 240.290 25.583 8.388 83.496 12.559 30.341 17.797 11.877 3.221 6.179 5.086 4.084 4,4x 16,4% 8,8% 11,7% 2,2x 26,9% 8.789 113.078 12.512 31.591 35.259 16.818 5.072 9.720 7.678 5.932 4,8x 14,7% 8,2% 11,2% 2,0x 25,0% 19.972 206.189 22.465 43.664 64.741 23.433 12.991 15.993 11.439 7.803 5,5x 16,1% 8,9% 3,4% 1,4x 17,9% 21.637 202.458 22.946 44.999 20.989 10.610 3.425 5.264 3.563 2.015 5,3x 16,6% 10,6% 8,8% 2,0x 17,9% 66,7% 166,5% 47,7% 147,7% 36,2% 126,6% 50,6% 131,3% Fonte: Elaborado pela autora/Austin Asis A falência do Banco Lehman Brothers em 15 de setembro de 2008 que culminou no estouro da crise financeira afetou as demonstrações financeiras do Banco Itáu ao final do período. O principal impacto observado foi o efeito “flight to quality” na base de captação do Itaú, com crescimento trimestral de depósitos em mais de 35% em setembro de 2008. Com isso, o Itaú conseguiu fortalecer seu nível de liquidez em 20% e manter a estratégia de crescimento de ativos de risco de crédito. Ativos líquidos representaram aproximadamente 150% do total de depósitos, indicando confortável colchão de liquidez. As operações de crédito totalizaram R$ 151 bilhões em setembro de 2008, correspondendo a um incremento trimestral de 12%. 104 A manutenção do ritmo de concessão de crédito não só resultou na diluição dos níveis de non-performing loans em 0,6 pontos percentuais para 8,2% em relação a junho de 2008, como também aumentou a alavancagem de crédito do Itaú para 4,8x. Com isso, o índice da Basiléia reduziu de 16,4% em junho de 2008 para 14,7% em setembro de 2008, permanecendo confortavelmente acima do mínimo de 11% exigido pelo Banco Central do Brasil. O banco manteve forte rentabilidade como evidenciado pelo retorno sobre patrimônio líquido equivalente a 25% em setembro de 2008, levemente inferior aos 26,8% em junho de 2008. A redução trimestral da rentabilidade resultou especialmente do provisionamento adicional de R$ 100 milhões no terceiro trimestre de 2008. Tal provisionamento visou acomodar piora de crédito esperada para os períodos subsequentes em função das consequências oriundas da crise financeira. Em 3 de novembro de 2008, o Banco Itáu e o Unibanco anunciaram a fusão de suas operações, visando constituir “o maior conglomerado financeiro privado do Hemisfério Sul, cujo valor de mercado fará com que ele fique situado entre os 20 maiores do mundo.”(ITAU UNIBANCO). Esta associação foi aprovada pelo Banco Central do Brasil em 18 de fevereiro de 2009. Embora ambos os bancos tenham comunicado que esta fusão já havia sido desenhada há 15 meses, acredita-se que a alta volatilidade do mercado bancário em decorrência da crise financeira e uma possível fuga de liquidez bancária do Unibanco tenham antecipado esta negociação. Sob a denominação de Itaú Unibanco Holding S.A., o novo conglomerado já consolidou as operações de ambos bancos em dezembro de 2008, encerrando o exercício de 2008 com ativos de R$ 632,7 bilhões e patrimônio líquido de R$43,7 milhões. Desta forma, o desempenho no período não pode ser comparado aos trimestres anteriores. Ressalta-se, no entanto, que o Itaú Unibanco apresentou bons fundamentos financeiros em dezembro de 2008, refletidos pela forte base de capital (Basiléia de 16,1%), adequado nível de inadimplência de 8,9% vis-a-vis 7,8% do Sistema Financeiro Nacional), robusta rentabilidade (retorno sobre patrimônio líquido de 18%) e confortável colchão de liquidez (ativos líquidos equivalentes a 127% de depósitos). Cabe mencionar o crescimento dos ativos interfinanceiros de liquidez em mais de R$ 14 bilhões no quarto trimestre de 2008, resultado não apenas da consolidação dos bancos, como 105 também dos efeitos da liberação de compulsório. O Itaú Unibanco atuou fortemente no suporte de injeção de liquidez aos bancos menores, via aplicações em depósitos interfinanceiros e compra de operações de crédito. Não obstante a manutenção de bons fundamentos econômicos, uma análise consolidada pró-forma divulgada pelo Itaú Unibanco menciona sobre aumento de inadimplência, resultante da reclassificação de risks ratings de grandes empresas e impacto da desaceleração econômica sobre a qualidade de risco de crédito de pequenas e médias empresas e de pessoas físicas. Soma-se a constituição de R$ 3 bilhões de provisões adicionais com impacto no resultado do exercício, visando a absorção de eventuais incrementos de inadimplência ocasionados por forte reversão do ciclo econômico brasileiro. Como a constituição de provisões adicionais aos percentuais mínimos requeridos pelas regras do Banco Central (Resolução 2.682) foi autorizada pelos órgãos reguladores a integrarem o nível I do Patrimônio de Referência através da Resolução 3.674 de 30 de dezembro de 2008, a estrutura de capital do Itaú Unibanco seguiu fortalecida em dezembro de 2008, como já mencionado. A criação do depósito especial com garantia do FGC (DPGE) não afetou os resultados do Itaú Unibanco no 1º trimestre de 2009, por ter sido uma medida de reforço de liquidez aos bancos pequenos e médios brasileiros. No entanto, as demonstrações financeiras do banco no período permaneceram influenciadas pelo ambiente econômico adverso decorrente da crise financeira de Setembro de 2008. Como antecipado no trimestre anterior, em virtude de uma ciclo econômico menos virtusoso, os indicadores de inadimplência mantiveram a tendência de deterioração conforme evidenciado pelo índice de non-performing loans de 10,6% em março de 2009, superior ao 8,9% apresentado no trimestre anterior. Neste sentido, o banco adotou uma postura mais conservadora e restrita na concessão de crédito, com o total de operações reduzindo 0,3% para R$240 bilhões em março de 2009 em relação a dezembro de 2008. Soma-se o reforço de liquidez para mais de 130% em relação aos depósitos no período e a manutenção de rentabilidade em 17,9%. A excelente estrutura de capital do banco foi mantida como evidenciado por índice de Basiléia equivalente a 16,6%. Este índice foi superior em 0,5 p.p. sobre o trimestre anterior em 106 virtude da redução de risco de crédito e mantido confortavelmente acima do mínimo de 11% exigido pelo Banco Central do Brasil. • Crise Fiscal Européia e desdobramentos – Análise Financeira trimestral de Março de 2010 até Junho de 2010 e; de Setembro de 2011 até Junho de 2012 Tabela 9: Itaú Unibanco: Financial Highlights ITAU UNIBANCO - Valores em milhares de reais Ativo Total Ativos Líquidos Operações de Crédito Non performing loans Provisões para crédito de liquidação duvidosa Depósitos Dívida Subordinada Patrimônio Líquido Receita de Intermediação Financeira Resultado de Interm. Fin. Antes Provisões Despesas com Provisões de Crédito Despesas Pessoais e Administrativas Receita com Serviços Lucro Líquido Crédito/ Patrimônio Líquido Índice da Basiléia NPL/ Carteira de Crédito NPL - Provisões/ Patrimônio Líquido RIF + Serviços/ Despesas Fixas Retorno sobre PL Resultado de Interm. Fin. Antes Provisões/ Receita Interm. Fin. Ativo Liquido/ Deposito Total Mar-10 634.663 260.688 252.117 28.851 Jun-10 651.583 248.455 263.498 29.277 Set-11 836.994 282.752 335.279 35.527 Dez-11 851.332 305.049 345.483 37.692 Mar-12 896.842 346.943 347.369 38.265 Jun-12 888.809 335.839 356.789 37.117 23.170 183.490 25.756 52.975 18.375 10.105 3.021 5.860 4.120 3.234 4,8x 17,3% 11,4% 10,7% 1,9x 24,4% 22.900 189.657 28.255 55.074 37.271 20.979 6.073 12.380 8.419 6.399 4,8x 15,7% 11,1% 11,6% 1,9x 23,2% 24.719 220.675 37.638 68.206 75.154 34.495 10.544 20.315 13.960 10.940 4,9x 15,1% 10,6% 15,8% 1,9x 21,4% 25.772 242.636 38.974 71.347 101.366 47.259 14.424 27.456 19.048 14.621 4,8x 16,4% 10,9% 16,7% 1,9x 20,5% 25.951 231.345 44.984 72.484 26.081 13.801 4.839 6.820 5.003 3.426 4,8x 16,1% 11,0% 17,0% 2,0x 18,9% 27.056 234.975 42.948 75.636 52.120 25.684 9.701 13.918 10.082 6.730 4,7x 16,9% 10,4% 13,3% 1,9x 17,8% 55,0% 142,1% 56,3% 131,0% 45,9% 128,1% 46,6% 125,7% 52,9% 150,0% 49,3% 142,9% Fonte: Elaborado pela autora/Austin Asis Os bons fundamentos econômicos brasileiros, com demonstração de forte resiliência diante da crise financeira em 2008, não foram impactados em um primeiro momento pelo início da crise fiscal européia. Neste cenário, o desempenho econômico-financeiro do Itaú Unibanco ao longo do primeiro semestre de 2010 não foi influenciado por tal evento. Neste período, o Itaú Unibanco manteve a estratégia de crescimento das operações de crédito, em detrimento de liquidez. A benigna conjuntura econômica contribuiu não apenas para 107 o crescimento das operações de crédito em 2,6% e 4,5%, respectivamente, no primeiro e no segundo trimestres de 2010, como também pela melhora constante dos indicadores de qualidade de ativos. Após atingir o pico de 12,5% do total da carteira de crédito em setembro de 2009, o índice de NPL do Itaú Unibanco veio caindo consistentemente para 11,4% em março de 2010 e 11,1% em junho de 2010. A carteira de depósitos reduziu 3,8% no primeiro trimestre, aumentando apenas em 3,4% no segundo, em virtude especialmente do incremento de captação via emissão de dívidas subordinadas. Enquanto que no primeiro trimestre, o banco emitiu mais que R$ 3 bilhões de CDBs subordinados, no segundo trimestre, emitiu US$ 1 bilhão de eurobônus com vencimento em 2020. A emissão destes instrumentos subordinados permitiu a manutenção da trajetória de expansão de crédito do Itaú Unibanco sem detrimento da estrutura de capital do banco. Após atingir índice de Basiléia de 17,3% em março de 2010, o mesmo retrocedeu para 15,7% em junho de 2010, permanecendo confortável para suportar o crescimento das operações do banco. A boa rentabilidade em março e em junho de 2010 foi confirmada pelo lucro líquido semestral de R$ 6,4 bilhões, rentabilizando o patrimônio líquido em 23% de forma anualizada. Os bons resultados do período foram influenciados pelo crescimento das atividades e melhora dos indicadores de qualidade de ativos, apesar da maior pressão sobre as margens em virtude do acirramento da competitividade. A margem financeira alcançou 56,3% em junho de 2010, vis-avis 60,3% em setembro de 2009. Como já detalhado, os efeitos da incerteza no cenário econômico internacional começaram a surtir efeito na economia brasileira no segundo semestre de 2011, e, consequentemente, no desempenho econômico-financeiro do Itaú Unibanco no período. Entre setembro de 2011 até junho de 2012, as operações de crédito evoluíram apenas 6,4% vis-a-vis a média de 12,4% da indústria bancária no período, indicando a adoção de uma postura mais conservadora e seletiva na concessão de crédito. Os indicadores de qualidade de ativos começaram a dar sinais de deterioração entre setembro de 2011 e março de 2012, como evidenciado pelo aumento do índice de non-performing loans de 10,6% para 11% no período analisado. Tal piora, atrelada às condições econômicas mais modestas no período, bem como ao perfil mais endividado do consumidor, foi observado num 108 primeiro momento, na carteira de pequenas e médias empresas, agravada, posteriormente pelo fraco desempenho da carteira de financiamento a veículos. Adotando uma postura mais restrita na concessão de financiamento a veículos, através de maiores requerimentos de entrada e menor prazo; bem como concentração em clientes com menor perfil de risco, o Itaú Unibanco conseguiu reduzir os indicadores de inadimplência em junho de 2012 para 10,4%, antes 11% no trimestre anterior. Apesar do crescimento de 6,3% na base de depósitos entre setembro de 2011 e junho de 2012, mesmo ritmo observado na carteira de crédito; o banco emitiu mais de R$ 20 bilhões de letras financeiras; exibindo ao final de junho de 2012, R$ 17 bilhões em letras financeiras seniores e R$ 17 bilhões em letras financeiras subordinadas. Com isso e em virtude do menor ritmo de crescimento de crédito, houve melhora nos indicadores de liquidez do banco, como mensurado pelo incremento da razão de ativos líquidos sobre depósitos de 128% em setembro de 2011 para 143% em junho de 2012. As letras financeiras são títulos emitidos por instituições financeiras criados em abril de 2010. A atratividade deste instrumento de captação local em relação aos depósitos consiste no seu perfil de longo prazo, mínimo 2 anos sem previsão de resgate antecipado e isenção de recolhimento compulsório. O índice de Basiléia melhorou de 15,1% em setembro de 2011 para 16,9% em junho de 2012, impactado especialmente pela redução da alavancagem de crédito e, aumento de emissões de dividas subordinadas, consideradas como capital nível II. O maior impacto dos eventos anticíclicos estudados em 2011 e 2012 referem-se a pressão sobre a margem financeira e, consequente, rentabilidade; que reduziram gradativamente no período dada a redução da taxa de juros e aumento de competitividade. Apesar destes fatores, a rentabilidade permaneceu elevada em 18% ao final de junho de 2012. 5.4.4 Bradesco • Crise Financeira de 2008 e desdobramentos – Análise Financeira trimestral de junho de 2008 até março de 2009 109 Tabela 10: Bradesco: Financial Highlights BRADESCO - Valores em Milhares de reais Ativo Total Ativos Líquidos Operações de Crédito Non performing loans Provisões para crédito de liquidação duvidosa Depósitos Dívida Subordinada Patrimônio Líquido Receita de Intermediação Financeira Resultado de Interm. Fin. Antes Provisões Despesas com Provisões de Crédito Despesas Pessoais e Administrativas Receita com Serviços Lucro Líquido Crédito/ Patrimônio Líquido Índice da Basiléia NPL/ Carteira de Crédito NPL - Provisões/ Patrimônio Líquido RIF + Serviços/ Despesas Fixas Retorno sobre PL Resultado de Interm. Fin. Antes Provisões/ Receita Interm. Fin. Ativo Liquido/ Deposito Total Jun-08 403.271 195.709 148.408 9.745 8.652 122.752 16.709 33.711 24.949 13.130 3.501 7.235 5.578 4.105 4,4x 14,4% 6,6% 3,2% 2,1x 24,4% Set-08 422.706 195.057 160.634 10.254 9.136 139.170 17.544 34.168 39.848 18.282 5.325 11.171 8.397 6.015 4,7x 16,2% 6,4% 3,3% 1,9x 23,5% Dez-08 454.413 212.720 173.423 11.461 10.263 164.493 19.249 34.257 57.611 23.656 7.884 15.311 11.215 7.620 5,1x 16,9% 6,6% 3,5% 1,8x 22,2% Mar-09 482.141 229.410 174.121 13.561 11.424 169.103 19.745 35.306 16.500 7.753 2.920 3.903 2.837 1.723 4,9x 16,6% 7,8% 6,1% 2,0x 19,5% 52,6% 159,4% 45,9% 140,2% 41,1% 129,3% 47,0% 135,7% Fonte: Elaborado pela autora/ Austin Asis A crise financeira de 2008 afetou a estratégia de crescimento das operações do Banco Bradesco. Em um movimento similar aos demais bancos grandes já analisados, o Bradesco se beneficiou do efeito “flight to quality” em sua base de captação, com crescimento trimestral de depósitos em 13% em setembro de 2008 e, em 18% em dezembro de 2008. Como os depósitos cresceram num ritmo maior que os ativos líquidos, já que o Bradesco apresentou crescimento consistente da carteira de crédito no segundo semestre de 2008, a razão de liquidez e depósitos sofreu uma redução de 159% em junho de 2008 para 129% em dezembro de 2008, permanecendo, no entanto, confortável. Vale mencionar que parte do crescimento trimestral de 9% dos ativos líquidos do banco em dezembro de 2008 deveu-se ao incremento de aplicações em depósitos interfinanceiros em R$ 10 bilhões no trimestre. Tal crescimento foi motivado pela liberação do compulsório em outubro de 2008, visando otimizar o fluxo de liquidez no mercado bancário. 110 As operações de crédito totalizaram, respectivamente, R$161 bilhões e R$ 173 bilhões em setembro e em dezembro de 2008, correspondendo a um incremento trimestral de 8%. A manutenção do ritmo de concessão de crédito resultou na diluição dos níveis de non-performing loans em 0,2 pontos percentuais no terceiro trimestre de 2008, retornando ao nível de 6,6% em dezembro de 2008, com adversidades de risco oriundas da crise financeira. Enquanto as operações de crédito aumentaram, 8% no quarto trimestre de 2008, o crescimento do volume de non-performing loans e de provisões para créditos de liquidação duvidosa foi, respectivamente 11,8% e 12,3%. Não obstante o crescimento das operações de crédito, houve aumento de 1,8 pontos percentuais para 16,2% no índice da Basiléia no 3o trimestre de 2008. Este crescimento resultou da prerrogativa exercida pelo Bradesco em excluir a posição total do over-hedge sobre investimentos no exterior, de acordo com o Artigo 4o da Circular no 3.389 do Banco Central do Brasil, reduzindo, assim, a necessidade de requerimento de capital para cobrir risco de mercado. O incremento de provisionamento adicional e inclusão do mesmo como capital nível I foi o principal motivador para a Basiléia de 16,9% em dezembro de 2008. O banco manteve forte rentabilidade como evidenciado pelo retorno sobre patrimônio líquido equivalente a 23,5% em setembro de 2008 e 22,2% em dezembro de 2008, levemente inferiores aos 24,4% em junho de 2008. A redução da rentabilidade no quarto trimestre resultou especialmente do incremento do nível de despesas de provisões em R$ 800 milhões em relação ao terceiro trimestre de 2008. Tal provisionamento visou acomodar piora de crédito esperada para os períodos subsequentes em função das consequências oriundas da crise financeira. A criação do depósito especial com garantia do FGC (DPGE) não afetou os resultados do Bradesco no 1º trimestre de 2009, por ter sido uma medida de reforço de liquidez aos bancos pequenos e médios brasileiros. No entanto, as demonstrações financeiras do banco no período permaneceram influenciadas pelo ambiente econômico adverso decorrente da crise financeira de Setembro de 2008. Como esperado em virtude da repentina e profunda reversão do ciclo econômico, os indicadores de inadimplência mantiveram a tendência de deterioração conforme evidenciado pelo índice de non-performing loans de 7,8% em março de 2009, superior ao 6,6% apresentado no trimestre anterior. 111 Neste sentido, o banco adotou uma postura mais conservadora e restrita na concessão de crédito, com o total de operações aumentando apenas 0,4% para R$174 bilhões em março de 2009 em relação a dezembro de 2008, inferior a média de 1,1% da indústria bancária no período. Soma-se o reforço de liquidez para mais de 130% em relação aos depósitos no período e a redução de rentabilidade para 19,5%. Esta última foi impactada não apenas pelo excesso de liquidez e redução de alavancagem de crédito no período, como também pela constituição de R$ 2,9 bilhões de despesas de provisões em março de 2009, montante superior a R$ 2,5 bilhões e R$ 1,8 bilhões nos terceiro e segundo trimestres do ano anterior. A excelente estrutura de capital do banco foi mantida como evidenciado por índice de Basiléia equivalente a 16,6% em março de 2009. • Crise Fiscal Européia e desdobramentos – Análise Financeira trimestral de Março de 2010 até Junho de 2010 e; de Setembro de 2011 até Junho de 2012 Tabela 11: Bradesco: Financial Highlights BRADESCO - Valores em Milhares de reais Ativo Total Ativos Líquidos Operações de Crédito Non performing loans Provisões para crédito de liquidação duvidosa Depósitos Dívida Subordinada Patrimônio Líquido Receita de Intermediação Financeira Resultado de Interm. Fin. Antes Provisões Despesas com Provisões de Crédito Despesas Pessoais e Administrativas Receita com Serviços Lucro Líquido Crédito/ Patrimônio Líquido Índice da Basiléia NPL/ Carteira de Crédito NPL - Provisões/ Patrimônio Líquido RIF + Serviços/ Despesas Fixas Retorno sobre PL Resultado de Interm. Fin. Antes Provisões/ Receita Interm. Fin. Ativo Liquido/ Deposito Total Mar-10 532.626 260.126 198.107 17.123 Jun-10 558.100 258.503 208.588 17.234 Set-11 722.289 337.799 260.471 20.235 Dez-11 761.533 369.682 268.668 21.643 Mar-12 789.550 402.453 269.749 22.994 Jun-12 830.520 426.211 279.166 23.876 15.836 170.722 23.541 43.087 15.490 8.002 2.159 4.685 3.080 2.103 4,6x 16,8% 8,6% 3,0% 1,9x 19,5% 15.782 178.452 23.385 44.295 31.871 16.532 4.478 9.585 6.273 4.508 4,7x 15,9% 8,3% 3,3% 1,9x 20,4% 19.091 224.664 26.180 53.742 67.457 29.398 9.125 17.863 10.816 8.303 4,8x 14,7% 7,8% 2,1% 1,7x 20,6% 19.540 217.424 26.910 55.582 90.982 40.211 12.083 24.576 14.778 11.028 4,8x 15,0% 8,1% 3,8% 1,7x 19,8% 20.117 213.877 30.122 58.059 24.147 11.774 3.298 6.169 3.995 2.793 4,6x 15,0% 8,5% 5,0% 2,0x 19,2% 20.682 217.070 34.091 63.920 47.954 22.078 6.949 12.538 8.169 5.626 4,4x 17,0% 8,6% 5,0% 1,9x 17,6% 51,7% 152,4% 51,9% 144,9% 43,6% 150,4% 44,2% 170,0% 48,8% 188,2% 46,0% 196,3% 112 Fonte: Elaborador pela autora/ Austin Asis Os bons fundamentos econômicos brasileiros, com demonstração de forte resiliência diante da crise financeira em 2008, não foram impactados em um primeiro momento pelo início da crise fiscal européia. Neste cenário, o desempenho econômico-financeiro do Bradesco ao longo do primeiro semestre de 2010, assim como ocorreu com os demais bancos grandes analisados neste trabalho, também não foi influenciado por tal evento. Neste período, o Bradesco manteve a estratégia de crescimento das operações de crédito, em detrimento de liquidez. A benigna conjuntura econômica contribuiu não apenas para o crescimento das operações de crédito em 3,7% e 5,3%, respectivamente, no primeiro e no segundo trimestres de 2010, como também pela melhora constante dos indicadores de qualidade de ativos. Após atingir o pico de 9,2% do total da carteira de crédito em dezembro de 2009, o índice de NPL do Bradesco caiu 8,6% em março de 2010 e 8,3% em junho de 2010. O crescimento da alavancagem de crédito foi o principal responsável pela redução do índice da Basiléia de 17,8% em dezembro de 2009 para 16,8% em março de 2010 e para 15,9% em junho de 2010. Tal redução, no entanto, não impactou no confortável colchão de capital apresentado pelo banco para suportar o crescimento de suas operações. A boa rentabilidade em março e em junho de 2010 foi confirmada pelo lucro líquido semestral de R$ 4,5 bilhões, rentabilizando o patrimônio líquido em 20,4% de forma anualizada. Os bons resultados do período foram influenciados pelo crescimento das atividades e melhora dos indicadores de qualidade de ativos, apesar da maior pressão sobre as margens em virtude do acirramento da competitividade. A margem financeira alcançou 51,9% em junho de 2010, vis-avis 53% em dezembro de 2009. Como já detalhado, os efeitos da incerteza no cenário econômico internacional começaram a surtir efeito na economia brasileira no segundo semestre de 2011, e, consequentemente, no desempenho econômico-financeiro do Bradesco no período. Entre setembro de 2011 até junho de 2012, as operações de crédito evoluíram apenas 7,2% vis-a-vis a média de 12,4% da indústria bancária no período, indicando a adoção de uma postura mais conservadora e seletiva na concessão de crédito. Os indicadores de qualidade de ativos começaram a dar sinais de deterioração entre setembro de 2011 e junho de 2012, como evidenciado pelo aumento do índice de non-performing 113 loans de 7,8% para 8,6% no período analisado. Tal piora refletiu basicamente as condições econômicas mais modestas no período, bem como ao perfil mais endividado do consumidor. A base de depósitos do Bradesco recuou 0,3% entre setembro de 2011 e junho de 2012, com gradual incremento de captações via letras financeiras, dada sua maior atratividade em termos de prazo e de custo. A redução de depósitos e incremento de ativos líquidos em ritmo maior que a carteira de crédito contribuiu para um reforço substancial no colchão de liquidez do Bradesco de150% em setembro de 2011 para quase 200% em junho de 2012. O índice de Basiléia melhorou de 14,7% em setembro de 2011 para 17% em junho de 2012, impactado especialmente pela redução da alavancagem de crédito de 4,8x para 4,4x no período e, aumento de emissões de dividas subordinadas em mais de 30%, consideradas como capital nível II. O maior impacto dos eventos anticíclicos estudados em 2011 e 2012 referem-se a pressão sobre a margem financeira e, consequente, rentabilidade; que reduziram gradativamente no período dada a redução da taxa de juros e aumento de competitividade. Apesar destes fatores, a rentabilidade permaneceu elevada em 18% ao final de junho de 2012. 5.4.5 Banco Panamericano O porte e perfil das atividades do Banco Panamericano traduzem em certa volatilidade em sua base de captação, composta especialmente por depósitos a prazo de curto prazo oriundos de investidores institucionais. Soma-se a cessão de crédito como alternativa a fonte de captação do banco, permitindo o crescimento de operações de crédito de longo prazo. A alta volatilidade gerada pela crise financeira de 2008 impactou o desempenho financeiro do Banco Panamericano, resultando na aquisição de 49% de seu controle acionário pela Caixa Econômica Federal em dezembro de 2009. O efeito real da crise sobre as demonstrações financeiras do Banco Panamericano, no entanto, não pôde ser computado precisamente, uma vez que foram descobertas diversas inconsistências contábeis que aparentemente datam de 2006, anterior a abertura de capital do banco em 2007. Tais inconsistências foram anunciadas em 9 novembro de 2010, quando o Banco Central do Brasil divulgou que o controlador majoritário do Banco Panamericano realizou um depósito 114 na instituição no valor de R$ 2,5 bilhões, com recursos obtidos de uma operação de crédito com garantias realizada junto ao Fundo Garantidor de Crédito (FGC). Foram identificadas, posteriormente, irregularidades adicionais no montante de R$ 1,3 bilhão e a necessidade de outros ajustes contábeis não relacionados a inconsistências no valor de R$ 0,5 bilhão, apurando um total de R$ 4,3 bilhões de perdas. Assim, o acionista controlador, Grupo Sílvio Santos, aportou recursos adicionais no montante de R$ 1,3 bilhão em 31 de janeiro de 2011, mesma data em que o mesmo vendeu sua participação para o Banco BTG Pactual. Em função das inconsistências contábeis e inviabilidade de se reconstituir, de forma apropriada, as demonstrações financeiras anteriores a descoberta de tal evento, foi elaborado um “balanço patrimonial especial de abertura”, referente a 30 de novembro de 2010. Neste sentido, a análise financeira do Banco Panamericano se restringe ao estudo dos eventos da segunda liberação do compulsório e da redução de juros, compreendendo os períodos de setembro de 2011 a junho de 2012. • Crise Fiscal Européia e desdobramentos – Análise Financeira trimestral de Setembro de 2011 até Junho de 2012 Tabela 12: Panamericano: Financial Highlights PANAMERICANO - Valores em Milhares de Reais Ativo Total Ativos Líquidos Operações de Crédito Non performing loans Provisões para crédito de liquidação duvidosa Depósitos Dívida Subordinada Patrimônio Líquido Receita de Intermediação Financeira Resultado de Interm. Fin. Antes Provisões Despesas com Provisões de Crédito Despesas Pessoais e Administrativas Receita com Serviços Lucro Líquido Crédito/ Patrimônio Líquido Índice da Basiléia NPL/ Carteira de Crédito NPL - Provisões/ Patrimônio Líquido RIF + Serviços/ Despesas Fixas Set-11 12.870 2.011 7.731 1.265 1.110 4.903 985 1.231 2.641 1.691 947 1.098 295 53 6,3x 12,0% 16,4% 12,6% 0,9x Dez-11 13.272 2.076 8.716 1.499 1.096 5.222 962 1.227 3.262 2.042 1.256 1.446 333 67 7,1x 10,2% 17,2% 32,8% 0,8x Mar-12 14.816 3.915 8.279 1.703 1.200 5.756 988 2.202 872 620 341 345 75 3 3,8x 14,1% 20,6% 22,8% 1,0x Jun-12 14.671 2.987 9.082 1.908 1.380 4.773 1.072 2.728 1.681 1.005 782 627 137 -260 3,3x 20,1% 21,0% 19,4% 0,6x 115 Retorno sobre PL Resultado de Interm. Fin. Antes Provisões/ Receita Interm. Fin. Ativo Liquido/ Deposito Total 5,8% 5,5% 0,5% -19,0% 64,0% 41,0% 62,6% 39,8% 71,1% 68,0% 59,8% 62,6% Fonte: Elaborado pela autora/ Austin Asis Após iniciar uma profunda reestruturação em controles, sistemas e pessoal no Banco Panamericano, especialmente no 1º semestre de 2011, os trimestres findos em setembro e dezembro de 2011 foram marcados pela aceleração das atividades creditícias. As operações de crédito aumentaram, respectivamente, 9,7% e 12,7% nos terceiro e quarto trimestres de 2011, atingindo ao final do exercício de 2011 o montante de R$8,7 bilhões. Parte deste crescimento ocorreu também em virtude da flexibilização da política monetária, especialmente no 4º trimestre de 2011, como resposta a desaceleração econômica. O crescimento das operações de crédito contribuiu para diluir os indicadores de qualidade de ativos, como evidenciado pela redução de non-performing loans de 18,4% em junho de 2011 para 16,4% em setembro de 2011. Este comportamento, no entanto, não se repetiu em dezembro de 2011, uma vez que as condições econômicas mais modestas já começaram a impactar no nível de inadimplência do consumidor. Em dezembro de 2011, o índice de non-performing loans atingiu 17,2%, superior ao trimestre anterior. Visando reduzir o custo de captação, o Banco Panamericano veio gradativamente reduzindo sua exposição em DPGEs de R$ 2.1 bilhões em março de 2011 para R$ 958 milhões em dezembro de 2011. Nesta estratégia, o banco captou mais de R$1,1 bilhão de depósitos interfinanceiros em Dezembro de 2011 em relação ao trimestre anterior, já se beneficiando da segunda liberação do compulsório. O processo de reestruturação do banco em 2011 impactou a rentabilidade do período como evidenciado pelo retorno sobre patrimônio líquido de 5.5%. O banco reportou resultado antes de imposto de renda negativo no montante de R$596 milhões, revertido para lucro anual de R$67 milhões após ativação de crédito fiscal em R$718 milhões. Os resultados modestos combinados ao incremento das operações de crédito impactaram a estrutura de capital do banco, com índice de Basiléia atingindo 10,2% em dezembro de 2011, abaixo do parâmetro mínimo de 11% requerido pelo Banco Central do Brasil. Visando o restabelecimento do nível de solvência, o Banco Panamericano recebeu aporte de capital no montante de R$1,8 bilhões no 1º semestre de 2012, sendo R$972 milhões realizado 116 no primeiro trimestre pelos acionistas controladores e R$ 787 milhões no segundo, junto aos detentores de ações preferenciais. Estes aportes incrementaram o índice da Basiléia do Panamericano para 14,1% em março de 2012 e 20,1% em junho de 2012. O fortalecimento da estrutura de capital do banco Panamericano foi também influenciado pela retração das operações de crédito em 5% no 1º trimestre de 2012, resultado da adoção de uma postura mais conservadora frente à concessão de crédito diante de um cenário econômico mais desafiador e com crescimento do nível de inadimplência. Neste cenário, o índice de nonperforming loans atingiu 20,6% em março de 2012 vis-a-vis 17,2% em dezembro de 2011. Mesmo adotando critérios mais seletivos de concessão de crédito, as operações de crédito do Banco Panamericano aumentaram 9,7% no segundo trimestre, aproveitando as medidas anticíclicas do Banco Central, como redução de juros, e, refletindo a decisão do banco em restringir cessões de crédito. A piora do nível de inadimplência foi observada pelo índice de nonperforming loans de 21% em junho de 2012. O banco continuou a se beneficiar das regras de liberação do compulsório via, especialmente, captação de letras financeiras em mais de R$ 600 milhões. Ainda perseguindo a estratégia de redução do custo de captação, o banco conseguiu reduzir a base de DPGE para R$789 milhões ao final de junho de 2012; incrementando o uso de outros instrumentos, como letras financeiras, letras de crédito imobiliário e letras de crédito agrícolas. A atratividade da emissão destes títulos reside na isenção de recolhimento compulsório e perfil de longo prazo, no caso das letras financeiras; e na isenção de imposto de renda e IOF, no caso das demais letras mencionadas. Esta mudança no mix contribuiu para a redução de depósitos de R$ 5,7 bilhões em março de 2012 para R$ 4,8 bilhões em junho de 2012. Soma-se, ainda, a redução de certa dependência de investidores institucionais no mix de depósitos a prazo de 57% em setembro de 2011 para 40% em junho de 2012. O fortalecimento da base de capital e a diversificação da base de captação do Banco Panamericano, aumentaram o nível de liquidez do Banco de R$2.0 bilhões em setembro de 2011 para aproximadamente R$ 3 bilhões em junho de 2012. Com isso, ativos líquidos representaram 63% dos depósitos em junho de 2012, em relação a 41% em setembro de 2011. A rentabilidade do banco permaneceu impactada no 1º semestre de 2012, como evidenciado pelo lucro de R$ 3 milhões no primeiro trimestre de 2012 e prejuízo de R$ 257 milhões no segundo trimestre. Apesar da ativação de crédito tributário em R$ 245 milhões no 117 semestre, a rentabilidade do banco foi influenciada pela decisão de retenção das operações de crédito e aumento das provisões para créditos de liquidação duvidosa, esta última parcialmente influenciada pelos desdobramentos da crise européia. 5.4.6 Banco ABC Brasil - Crise Financeira de 2008 e desdobramentos – Análise Financeira trimestral de junho de 2008 até março de 2009 Tabela 13: ABC Brasil: Financial Highlights ABC BRASIL -Valores em milhares de reais Ativo Total Ativos Líquidos Operações de Crédito Non performing loans Provisões para crédito de liquidação duvidosa Depósitos Dívida Subordinada Patrimônio Líquido Receita de Intermediação Financeira Resultado de Interm. Fin. Antes Provisões Despesas com Provisões de Crédito Despesas Pessoais e Administrativas Receita com Serviços Lucro Líquido Crédito/ Patrimônio Líquido Índice da Basiléia NPL/ Carteira de Crédito NPL - Provisões/ Patrimônio Líquido RIF + Serviços/ Despesas Fixas Retorno sobre PL Resultado de Interm. Fin. Antes Provisões/ Receita Interm. Fin. Ativo Liquido/ Deposito Total Jun-08 6.310 1.062 4.855 32 48 2.602 5 1.132 361 191 14 51 20 81 4,3x 19,2% 0,7% -1,4% 3,9x 14,4% Set-08 7.684 1.329 5.329 35 56 2.448 5 1.159 666 272 26 81 32 130 4,6x 16,1% 0,6% -1,9% 3,5x 14,9% Dez-08 7.495 2.152 4.708 112 105 2.480 6 1.162 1.068 352 80 128 43 150 4,1x 18,0% 2,4% 0,6% 2,5x 12,9% Mar-09 6.888 1.786 4.396 181 123 2.451 6 1.175 186 89 25 33 10 26 3,7x 18,1% 4,1% 4,9% 2,2x 9,0% 52,9% 40,8% 40,9% 54,3% 32,9% 86,8% 47,8% 72,9% Fonte: Elaborado pela autora/ Austin Asis O primeiro semestre de 2008 foi marcado pela manutenção de constante crescimento das operações de crédito do Banco ABC Brasil, amparado especialmente pelo excesso de liquidez. Enquanto as operações de crédito registraram crescimento de 12% em relação ao primeiro trimestre de 2008, a base de depósitos do Banco ABC Brasil aumentou 26,6% em junho de 2008 118 sobre março de 2008. Os indicadores financeiros apresentavam-se sólidos, como evidenciado pelo baixíssimo índice de non-performing loans (0,7% em junho de 2008), forte estrutura de capital (índice de Basiléia de 19,2%), adequado colchão de liquidez (ativos líquidos cobrindo 41% da base de depósitos e quase 100% do patrimônio líquido) e boa rentabilidade e eficiência (retorno sobre patrimônio liquido de 14% e receitas cobrindo quase 4x o total de despesas administrativas e de pessoal). O agravamento da crise financeira após a quebra do Banco Lehman Brothers teve impacto imediato nas demonstrações financeiras do Banco ABC Brasil no período compreendido entre setembro de 2008 até março de 2009. Diferentemente dos bancos grandes analisados até então, o Banco ABC Brasil, assim como os bancos médios em geral possuem uma base de captação mais volátil e concentrada por instrumento e por investidores. Neste sentido, em momentos de crise ou eventos de stress, os investidores, geralmente, tendem a sacar seus recursos nas instituições menores em busca de maior segurança financeira. Ocorre-se, assim, o movimento contrário do efeito “flight to quality” verificado no Banco do Brasil, Bradesco e Itáu Unibanco. A alta tensão e aversão ao risco resultaram na redução da base de depósitos do Banco ABC Brasil em 6% no terceiro trimestre de 2008 para R$ 2,4 bilhões, totalmente compensada pela emissão de mais de R$ 300 milhões de letras imobiliárias. Tal estrutura juntamente com sua sólida base de capital contribuíram para o crescimento trimestral de 9,7% das operações de crédito no período, bem como para o fortalecimento da liquidez em R$ 300 milhões. Ativos líquidos representaram 54% dos depósitos em setembro de 2008, quase 15 p.p. acima de junho de 2008. A manutenção de elevado ritmo de crescimento das operações de crédito foi um dos motivadores para a manutenção de excelentes indicadores de qualidade de ativos, com nonperforming loans de 0,6% e non-performing loans líquido de provisões negativo em 1,9% em relação ao patrimônio líquido em setembro de 2008. Por outro lado, o crescimento da alavancagem de crédito, bem como a adoção dos princípios da Basiléia II, reduziram o índice da Basiléia em 3 p.p. no trimestre para 16,1% em setembro de 2008, ainda confortável para suportar perdas de crédito dos períodos subsequentes. A rentabilidade em setembro de 2008 permaneceu adequada com retorno sobre patrimônio 119 líquido de 14,9%, apesar do crescimento de despesas com provisões para créditos de liquidação duvidosa. O agravamento da crise nos meses subsequentes à falência do Lehman Brothers com redução da atividade econômica, redução de liquidez, aumento de inadimplência e restrição da oferta de crédito refletiu diretamente no desempenho econômico-financeiro do Banco ABC Brasil. As operações de crédito reduziram 12% no trimestre, atingindo o montante final de R$4,7 bilhões, reflexo de um postura mais conservadora na concessão de crédito e foco na construção de liquidez. Beneficiando-se das regras de liberação do compulsório, o Banco ABC Brasil captou aproximadamente R$ 500 milhões de depósitos interfinanceiros, compensando a redução de depósitos a prazo em quase R$ 400 milhões. Com isso, a base de depósitos do Banco ABC Brasil cresceu 1,3% no trimestre. Diferentemente dos demais bancos médios, o Banco ABC Brasil é controlado pelo conglomerado financeiro Arab Banking Corporation, o qual disponibilizou uma linha de crédito para o banco de USD 300 milhões, com utilização de USD 143,6 milhões em dezembro de 2008. Ativos líquidos cresceram 62% no trimestre atingindo o montante de R$ 2,2 bilhões em dezembro de 2008, equivalente a 87% dos depósitos e a quase 2x do patrimônio líquido no período. Os indicadores de qualidade de ativos deterioraram com non-performing loans de 2,4% em dezembro de 2008, permanecendo, no entanto, melhores que a média da indústria bancária de 7,8% no período. A desaceleração das operações creditícias, conjugando ao incremento de liquidez e ao aumento de provisões de crédito de liquidação duvidosa em mais de R$ 50 milhões só no quarto trimestre (incluindo R$ 18 milhões de provisões adicionais), mais que o dobro do que foi provisionado no 9 primeiros meses de 2008, impactaram a rentabilidade do ABC Brasil. O lucro ao final do exercício foi de R$ 150 milhões, rentabilizando o patrimônio liquido em 12,9%. Não obstante a apresentação de menores resultados, a desalavancagem de crédito no trimestre proporcionou uma melhora nos indicadores de capital do banco, com índice de Basiléia atingindo 18% ao final do exercício de 2008. Soma-se, neste contexto, o provisionamento adicional, revertido como capital nível I conforme permitido pelo Banco Central do Brasil. As operações de crédito mantiveram a trajetória de desaceleração iniciada no quarto trimestre de 2008, reduzindo mais 6% no primeiro trimestre de 2009 para R$ 4,4 bilhões e 120 retornando ao patamar do mesmo período do ano anterior. A piora da inadimplência foi verificada pelo incremento do volume trimestral de non-performing loans em 62%, representando mais que 4% da carteira de crédito em março de 2009. O Banco ABC Brasil não captou recursos sob a modalidade de DPGE, encerrando o primeiro trimestre de 2009 com uma base de depósitos praticamente estável em relação a dezembro de 2008. Soma-se uma pequena redução na base de ativos líquidos, que permaneceram, no entanto, confortáveis para suportar eventual queda de depósitos. A cobertura de liquidez foi de 73% dos depósitos em março de 2009. A rentabilidade permaneceu influenciada pela retração das operações de crédito e crescimento de provisões para créditos de liquidação duvidosa. Com lucro líquido de R$ 26 milhões, a rentabilidade sobre patrimônio líquido ficou em 9% em março de 2009 e a eficiência, embora robusta, caiu para 2,2x versus pico de 3,9 x em junho de 2008. A forte estrutura de capital foi comprovada pela manutenção do índice da Basiléia em 18%, confortável para suportar aumento de perdas nos períodos subsequentes. • Crise Fiscal Européia e desdobramentos – Análise Financeira trimestral de Março de 2010 até Junho de 2010 e; de Setembro de 2011 até Junho de 2012 Tabela 14: ABC Brasil: Financial Highlights ABC BRASIL -Valores em milhares de reais Ativo Total Ativos Líquidos Operações de Crédito Non performing loans Provisões para crédito de liquidação duvidosa Depósitos Dívida Subordinada Patrimônio Líquido Receita de Intermediação Financeira Resultado de Interm. Fin. Antes Provisões Despesas com Provisões de Crédito Despesas Pessoais e Administrativas Receita com Serviços Lucro Líquido Crédito/ Patrimônio Líquido Índice da Basiléia Mar-10 8.156 1.504 6.293 196 Jun-10 9.699 2.340 6.845 205 Set-11 11.642 2.595 7.754 155 Dez-11 10.511 2.310 7.674 182 Mar-12 11.629 3.136 7.784 206 Jun-12 12.910 3.226 8.520 214 121 3.242 6 1.247 208 105 14 35 24 47 5,0x 13,3% 122 3.144 537 1.279 462 216 23 71 51 97 5,4x 17,8% 131 3.045 629 1.460 1.024 392 39 131 91 175 5,3x 15,8% 133 3.316 610 1.500 1.307 533 52 179 125 236 5,1x 15,6% 152 3.652 627 1.536 320 148 24 47 29 57 5,1x 15,2% 174 3.678 687 1.566 682 230 52 99 61 112 5,4x 14,2% 121 NPL/ Carteira de Crédito NPL - Provisões/ Patrimônio Líquido RIF + Serviços/ Despesas Fixas Retorno sobre PL Resultado de Interm. Fin. Antes Provisões/ Receita Interm. Fin. Ativo Liquido/ Deposito Total 3,1% 6,0% 3,3x 15,1% 3,0% 6,5% 3,4x 15,2% 2,0% 1,6% 3,4x 16,0% 2,4% 3,3% 3,4x 15,7% 2,7% 3,5% 3,3x 14,8% 2,5% 2,6% 2,4x 14,3% 50,6% 46,4% 46,8% 74,4% 38,3% 85,2% 40,7% 69,7% 46,2% 85,9% 33,7% 87,7% Fonte: Elaborado pela autora/ Austin Asis Como já verificado nos bancos analisados até o presente momento, os efeitos da crise européia não surtiram impacto em suas demonstrações financeiras no primeiro semestre de 2010. Neste contexto, encontra-se o Banco ABC Brasil que manteve no período a trajetória de crescimento das operações de crédito iniciada no segundo semestre de 2009. O volume de crédito atingiu R$ 6,8 bilhões ao final de junho de 2010, com crescimento de 11,5% no primeiro trimestre e 8,9% no segundo trimestre. Os indicadores de qualidade de ativos também continuaram a melhorar, retrocedendo consistentemente do pico de 6,1% em junho de 2009 para 3,1% em março de 2010 e 3% em junho de 2010. A abundância de liquidez tanto no mercado local, como no mercado internacional, permitiu uma carteira de depósitos de R$ 3 bilhões no semestre, complementada com recursos de letras domésticas e reforçada pela emissão de US$ 300 milhões de dívida subordinada em abril de 2010 por um prazo de 10 anos. Neste contexto, ativos líquidos atingiram R$ 2,3 bilhões em junho de 2010, quase R$ 1 bilhão superior a março de 2010, com melhora da cobertura de liquidez sobre depósitos para 74% em junho, contra 46% em março. A emissão do instrumento de dívida subordinada, classificada como capital nível II, melhorou a estrutura de capital do banco de 13,3% em março de 2010 para 17,8% em junho de 2010, permitindo a manutenção da expansão das atividades do ABC Brasil. O crescimento das operações de crédito conjugada a melhora na qualidade de ativos contribuíram para a recuperação da rentabilidade do banco com retorno sobre patrimônio líquido no patamar de 15% e eficiência de 3,4x no semestre. Após retroceder para 1,9% em junho de 2011, condições econômicas mais adversas a partir do segundo semestre de 2011, parcialmente influenciadas pela desaceleração da zona do Euro, contribuíram para o crescimento gradual do índice de non-performing loans do Banco ABC Brasil de 2% em setembro de 2011 para 2,5% em junho de 2012. 122 Não obstante este cenário, o Banco ABC Brasil manteve estratégia de crescimento das operações de crédito de 9,9% entre setembro de 2011 até junho de 2012, mesmo sendo inferior ao ritmo médio de crescimento de 12,4% registrado pela indústria bancária no período. O crescimento das operações de crédito foi amparado pelo aumento da base de depósitos em 21% entre setembro de 2011 e junho de 2012, com destaque para o incremento de aproximadamente R$ 500 milhões em depósitos interfinanceiros no primeiro trimestre de 2012, como consequência da segunda liberação do depósito compulsório. Tal evento também contribuiu para a diversificação e alongamento de sua fonte de captação com emissão de quase R$ 600 milhões de letras financeiras relacionadas a liberação do compulsório no primeiro semestre de 2012. Apesar da manutenção das operações creditícias no período, sob uma conjuntura de deterioração da qualidade de ativos e, consequente, reforço no nível de provisões para créditos de liquidação duvidosa, a rentabilidade do banco foi reduzindo de 16% em setembro de 2011 para 14,3% em junho de 2012. Soma-se que a manutenção do ritmo de crescimento de crédito aumentou a necessidade de requerimento de capital, reduzindo o índice de Basiléia de 15,8% em setembro de 2011 para 14,2% em junho de 2012, ainda, assim, confortável perante aos requerimentos mínimos exigidos. O reforço da captação do banco via depósitos, letras financeiras e outras letras domesticas incrementaram sua liquidez em 24% de R$ 2,6 bilhões em setembro de 2011 para R$ 3,2 bilhões em junho de 2012, com cobertura sobre depósitos na ordem de 88% no final do primeiro semestre de 2012. 5.4.7 Banco Daycoval • Crise Financeira de 2008 e desdobramentos – Análise Financeira trimestral de junho de 2008 até março de 2009 Tabela 15: Daycoval: Financial Highlights DAYCOVAL - Valores em Milhares de reais Ativo Total Ativos Líquidos Operações de Crédito Non performing loans Jun-08 7.972 3.047 4.494 132 Set-08 8.085 3.126 4.627 225 Dez-08 6.831 2.641 3.705 269 Mar-09 6.728 2.950 3.312 350 123 Provisões para crédito de liquidação duvidosa Depósitos Dívida Subordinada Patrimônio Líquido Receita de Intermediação Financeira Resultado de Interm. Fin. Antes Provisões Despesas com Provisões de Crédito Despesas Pessoais e Administrativas Receita com Serviços Lucro Líquido Crédito/ Patrimônio Líquido Índice da Basiléia NPL/ Carteira de Crédito NPL - Provisões/ Patrimônio Líquido RIF + Serviços/ Despesas Fixas Retorno sobre PL Resultado de Interm. Fin. Antes Provisões/ Receita Interm. Fin. Ativo Liquido/ Deposito Total 117 2.951 0 1.597 547 299 58 113 10 133 2,8x 25,6% 2,9% 0,9% 2,2x 16,6% 156 2.718 0 1.612 1.094 469 109 177 22 180 2,9x 25,6% 4,9% 4,3% 2,2x 14,9% 191 1.757 0 1.607 1.650 646 177 244 26 200 2,3x 28,2% 7,3% 4,8% 2,0x 12,5% 230 1.922 0 1.634 299 179 75 43 4 48 2,0x 28,2% 10,6% 7,3% 2,5x 11,8% 54,6% 103,3% 42,9% 115,0% 39,1% 150,3% 59,8% 153,5% Fonte: Elaborado pela autora/ Austin Asis O primeiro semestre de 2008 foi marcado pela manutenção de constante crescimento das operações de crédito do Banco Daycoval, amparado especialmente pelo excesso de liquidez. Ao final de junho de 2008, o banco apresentava um balanço patrimonial sólido, com liquidez de R$ 3 bilhões, equivalente a quase 100% de depósitos e 200% do patrimônio líquido, baixa inadimplência com non-perfoming loans de 2,9%, forte estrutura de capital com índice de Basiléia superior a 25% e confortável rentabilidade de 16,6% sobre patrimônio líquido. O agravamento da crise financeira após a quebra do Banco Lehman Brothers teve impacto imediato nas demonstrações financeiras do Banco Daycoval no período compreendido entre setembro de 2008 até março de 2009. Como característica de seu perfil de negócios e porte, em momentos de crise ou eventos de stress, os investidores, geralmente, tendem a sacar seus recursos investidos em busca de maior segurança financeira. Neste cenário, a base de depósitos do Banco Daycoval reduziu 8% no terceiro e 35% no quarto trimestres de 2008 para o patamar de R$ 1,8 bilhões, recuperando 9% em março de 2009. O banco não se beneficiou nem dos depósitos interfinanceiros oriundos da liberação do depósito compulsório, nem da criação do DPGE para recuperação de sua base de captação. 124 O excesso de liquidez apresentado pelo banco no primeiro semestre de 2008, conjugado a retração das operações de crédito em 20% no quarto trimestre de 2008 e 11% no primeiro trimestre de 2009 foram suficientes para suportar a onda de resgates de depósito no período, bem como para recompor sua liquidez ao patamar de R$ 3 bilhões em março de 2009. Este confortável colchão de liquidez foi suficiente para cobrir mais que 150% da base de depósitos do banco em março de 2009, vis-a-vis 115% em setembro de 2008. Soma-se a manutenção do índice da Basiléia em nível superior ao mínimo requerido de 11% pelo Banco Central do Brasil, oscilando de 25% em junho e setembro de 2008 para o patamar de 28% após desalavancagem das operações de crédito em dezembro de 2008 e março de 2009. Esta robusta base de capital mostrou-se capaz de absorver um cenário de menor rentabilidade com retorno sobre patrimônio líquido caindo gradativamente de 16,6% em junho de 2008, para 14,9% em setembro de 2008, 12,5% em dezembro de 2008 e 11,8% em março de 2009. Queda de desempenho impulsionada pela redução de operações de crédito, aumento de custo de captação e maiores perdas com provisões para crédito de liquidação duvidosa. Esta última refletindo os efeitos da desaceleração econômica sobre a qualidade de ativos do Daycoval, com non-perfoming loans sobre crédito deteriorando de 2,9% no período anterior a crise em junho de 2008 para 4,9% em setembro de 2008, 7,3% em dezembro de 2008 e 10,6% em março de 2009. • Crise Fiscal Européia e desdobramentos – Análise Financeira trimestral de Março de 2010 até Junho de 2010 e; de Setembro de 2011 até Junho de 2012 Tabela 16: Daycoval: Financial Highlights DAYCOVAL - Valores em Milhares de reais Ativo Total Ativos Líquidos Operações de Crédito Non performing loans Provisões para crédito de liquidação duvidosa Depósitos Dívida Subordinada Patrimônio Líquido Mar-10 7.633 3.237 4.046 260 Jun-10 8.813 3.821 4.583 245 Set-11 11.502 3.336 6.963 233 Dez-11 12.105 2.824 7.725 258 Mar-12 12.847 4.041 7.372 351 Jun-12 12.955 3.799 7.486 477 186 2.506 0 1.724 164 2.775 0 1.668 181 4.122 0 1.903 206 4.542 0 1.952 248 4.499 0 2.024 298 4.442 0 2.013 125 Receita de Intermediação Financeira Resultado de Interm. Fin. Antes Provisões Despesas com Provisões de Crédito Despesas Pessoais e Administrativas Receita com Serviços Lucro Líquido Crédito/ Patrimônio Líquido Índice da Basiléia NPL/ Carteira de Crédito NPL - Provisões/ Patrimônio Líquido RIF + Serviços/ Despesas Fixas Retorno sobre PL Resultado de Interm. Fin. Antes Provisões/ Receita Interm. Fin. Ativo Liquido/ Deposito Total 271 163 38 47 7 55 2,3x 27,2% 6,4% 4,3% 2,8x 12,7% 594 345 67 93 14 119 2,7x 22,3% 5,3% 4,8% 3,1x 14,2% 1.431 528 119 220 43 214 3,7x 16,6% 3,4% 2,8% 2,1x 15,0% 1.924 796 172 318 62 305 4,0x 16,5% 3,3% 2,7% 2,2x 15,6% 462 253 75 92 19 95 3,6x 19,0% 4,8% 5,1% 2,1x 18,8% 1.168 584 159 191 36 177 3,7x 18,1% 6,4% 8,9% 2,4x 17,5% 60,1% 129,2% 58,1% 137,7% 36,9% 80,9% 41,4% 62,2% 54,7% 89,8% 50,0% 85,5% Fonte: Elaborado pela autora/ Austin Asis O Banco Daycoval manteve no período a trajetória de crescimento das operações de crédito iniciada no segundo semestre de 2009, atingindo uma carteira de R$ 4,6 bilhões em junho de 2010. O crescimento trimestral foi de 6,1% no primeiro trimestre e 13% no segundo trimestre, retornando, assim, ao volume obtido no período anterior a crise de 2008. Os indicadores de qualidade de ativos também continuaram a melhorar, retrocedendo consistentemente do pico de 12,3% em junho de 2009 para 6,4% em março de 2010 e 5,3% em junho de 2010. A abundância de liquidez tanto no mercado local, como no mercado internacional, também permitiu a recuperação da base de depósitos para R$ 2,8 bilhões no semestre, com mix de captação reforçado e diversificado pela emissão de US$ 300 milhões de dívida internacional no prazo de 5 anos no primeiro trimestre de 2010 e da obtenção de um empréstimo sindicalizado de US$ 165 milhões por 4 anos junto ao organismo multilateral IFC no segundo trimestre de 2010. Neste contexto, ativos líquidos atingiram R$ 3,8 bilhões em junho de 2010, volume que foi R$800 milhões superior a dezembro de 2009, com melhora da cobertura de liquidez sobre depósitos para 138% em junho de 2010, contra 130% em março de 2010 e 126% em dezembro de 2009. O crescimento das operações de crédito conjugada a melhora na qualidade de ativos contribuíram para a gradual recuperação da rentabilidade do banco com retorno sobre patrimônio 126 líquido aumentando de 12,5% em dezembro de 2008 para 12,7% em março de 2010 e 14,2% em junho de 2010. A maior alavancagem de crédito, sobretudo no segundo trimestre de 2010, reduziu o índice da Basiléia de 28% em dezembro de 2009 e 27% em março de 2010 para 22% em junho de 2010. Mesmo diante de um cenário econômico menos benigno, o Banco Daycoval manteve estratégia de crescimento das operações de crédito até dezembro de 2011, quando a carteira atingiu seu nível recorde de R$ 7,7 bilhões, com aumento trimestral de 9,6% em setembro e 10,9% em dezembro. Tal crescimento foi parcialmente amparado pelo aumento da base de depósitos em 10% no segundo semestre de 2011 e emissão publica de R$250 milhões de letra financeira por um prazo de 2 anos. O índice de non-perfoming loans continuou retrocedendo para 3,4% em setembro e 3,3% em dezembro de 2011, enquanto que a rentabilidade anualizada sobre o patrimônio líquido atingiu o patamar de 15% em ambos trimestres. O excessivo crescimento de crédito ocorreu não apenas em detrimento da liquidez que, embora ainda confortável, reduziu para R$2,8 bilhões em dezembro com cobertura sobre depósitos reduzindo de 90% em junho de 2011 para 62% em dezembro de 2011, como também provocou uma constante queda da Basiléia. Ao final de dezembro de 2011, o índice de Basileia do Banco Daycoval encontrava-se em 16,5%, ainda robusto e mais comparável a média de 16,3% reportado pela indústria bancária. Tal cenário modificou em 2012, com retrocessão da carteira de crédito em 4,6% no primeiro trimestre, com pequeno incremento de 1,5% no segundo. Soma-se o aumento de nonperfoming loans para 4,8% em março e 6,4% em junho de 2012. A base de depósitos caiu levemente para R$4,4 bilhões ao final de junho de 2012, compensada pelo incremento de aproximadamente R$ 300 milhões de depósito interfinanceiro e R$ 900 milhões de letras financeiras entre dezembro de 2011 e junho de 2012; ambos oriundos da segunda liberação do compulsório. Com isso, houve reforço do nível de liquidez do banco para R$3,8 bilhões ao final de junho de 2012, cobrindo mais que 85% de depósitos; bem como fortalecimento do índice da Basiléia para 18%. 127 Não obstante o aumento de provisões para crédito de liquidação duvidosa e redução do ritmo de operações com risco de crédito, a rentabilidade do Daycoval foi fortalecida para 18% no primeiro semestre de 2012, ainda decorrente do forte crescimento das operações até dezembro de 2011. 5.4.8 Banco da Amazônia • Crise Financeira de 2008 e desdobramentos – Análise Financeira trimestral de junho de 2008 até março de 2009 Tabela 17: Banco da Amazônia: Financial Highlights Banco da Amazônia - Valores em Milhares de reais Ativo Total Ativos Líquidos Operações de Crédito Non performing loans Provisões para crédito de liquidação duvidosa Depósitos Dívida Subordinada Patrimônio Líquido Receita de Intermediação Financeira Resultado de Interm. Fin. Antes Provisões Despesas com Provisões de Crédito Despesas Pessoais e Administrativas Receita com Serviços Lucro Líquido Crédito/ Patrimônio Líquido Índice da Basiléia NPL/ Carteira de Crédito NPL - Provisões/ Patrimônio Líquido RIF + Serviços/ Despesas Fixas Retorno sobre PL Resultado de Interm. Fin. Antes Provisões/ Receita Interm. Fin. Ativo Liquido/ Deposito Total Jun-08 6.779 4.046 1.584 102 81 1.801 0 1.801 335 206 33 208 169 38 0,9x 27,9% 6,4% 1,2% 1,6x 4,2% Set-08 6.857 3.957 1.746 100 86 1.784 0 1.848 576 327 52 320 256 83 0,9x 26,8% 5,7% 0,7% 1,7x 6,0% Dez-08 7.240 4.185 1.930 157 106 1.852 0 1.886 831 428 80 447 359 216 1,0x 28,8% 8,1% 2,7% 1,6x 11,4% Mar-09 7.462 4.407 1.928 186 122 1.902 0 1.897 190 93 42 98 90 3 1,0x 0,0% 9,6% 3,3% 1,4x 0,6% 61,6% 224,6% 56,7% 221,9% 51,5% 226,0% 49,0% 231,7% Fonte: Elaborado pela autora/ Austin Asis Ao contrário do desempenho observados nos bancos privados, a crise financeira não interrompeu o crescimento de crédito do Banco da Amazônia entre junho de 208 até março de 2009 com crescimento de 21,7% no período. Este crescimento foi amparado pelo aumento de 128 depósitos de 5,6% no período, que, embora em ritmo inferior ao incremento de operações de crédito, suportou quase 100% das operações ao final de março de 2009. Não obstante o crescimento de crédito, os efeitos da crise financeira impactaram na inadimplência do Banco da Amazônia que saiu de 5,7% em setembro de 2008 para 9,6% em março de 2009. Como mitigador da pior qualidade de ativos do banco, deve-se considerar a baixa alavancagem de operações de crédito do banco em menos de 1x seu patrimônio liquido, com índice de Basiléia superior a 26%; além de forte colchão de liquidez. Ativos líquidos mantiveram-se acima de R$ 3,9 bilhões no período, cobrindo mais de 200% a base de depósitos do banco. A baixa alavancagem das operações conjugada a excesso de liquidez justificam a baixa rentabilidade histórica do Banco da Amazônia, afetada especialmente após a crise, com incremento de despesas de provisões para crédito de liquidação duvidosa. Assim, a rentabilidade anualizada sobre o patrimônio líquido, embora aumentando de 4% em junho de 2008 para 11% em dezembro de 2008 em função do crescimento de crédito, retrocedeu para apenas 0,6% após provisões em março de 2009. • Crise Fiscal Européia e desdobramentos – Análise Financeira trimestral de Março de 2010 até Junho de 2010 e; de Setembro de 2011 até Junho de 2012 Tabela 18: Banco da Amazônia: Financial Highlights Banco da Amazônia - Valores em Milhares de reais Ativo Total Ativos Líquidos Operações de Crédito Non performing loans Provisões para crédito de liquidação duvidosa Depósitos Dívida Subordinada Patrimônio Líquido Receita de Intermediação Financeira Resultado de Interm. Fin. Antes Provisões Despesas com Provisões de Crédito Despesas Pessoais e Administrativas Receita com Serviços Mar-10 7.860 5.022 1.761 240 Jun-10 8.052 4.939 1.862 234 Set-11 9.777 6.015 2.381 124 Dez-11 9.872 6.167 2.337 126 Mar-12 10.762 6.917 2.220 143 Jun-12 10.780 7.091 2.272 122 152 2.249 0 1.846 176 96 36 110 88 155 2.136 0 1.936 368 205 80 248 237 73 2.511 0 1.962 736 351 52 401 318 79 2.338 0 1.934 973 456 78 563 436 84 3.326 0 1.960 242 108 17 142 136 79 2.909 0 2.033 507 232 34 285 263 129 Lucro Líquido Crédito/ Patrimônio Líquido Índice da Basiléia NPL/ Carteira de Crédito NPL - Provisões/ Patrimônio Líquido RIF + Serviços/ Despesas Fixas Retorno sobre PL Resultado de Interm. Fin. Antes Provisões/ Receita Interm. Fin. Ativo Liquido/ Deposito Total -54 1,0x 20,9% 13,6% 4,8% 1,3x -11,8% 47 1,0x 21,7% 12,6% 4,1% 1,5x 4,8% 32 1,2x 18,9% 5,2% 2,6% 1,5x 2,2% 79 1,2x 17,1% 5,4% 2,5% 1,4x 4,1% 14 1,1x 16,5% 6,5% 3,0% 1,6x 2,8% 109 1,1x 16,2% 5,4% 2,1% 1,6x 10,7% 54,5% 223,3% 55,8% 231,3% 47,7% 239,5% 46,9% 263,8% 44,4% 207,9% 45,8% 243,8% Fonte: Elaborado pela autora/ Austin Asis Após retroceder gradativamente de R$ 2 bilhões em junho de 2009 para R$ 1,8 bilhões em março de 2010, o Banco da Amazônia incrementou o volume de operações de crédito a partir de junho de 2010 para R$ 1,9 bilhões. Não obstante este crescimento, a alavancagem de crédito permaneceu em 1x o patrimônio líquido, com índice de Basiléia superior a 20%. Ativos líquidos mantiveram-se em R$ 5 bilhões no primeiro semestre de 2010, cobrindo mais de 2x a base de depósitos do banco. Os indicadores de qualidade de ativos continuaram a retroceder de 4,8% em março de 2010 para 4,1% em junho de 2010. A base de depósitos apresentou uma leve redução de 5% no segundo trimestre de 2010, sem impacto na alta liquidez do banco. As operações de crédito reduziram 5% entre setembro de 2011 e junho de 2012, atingindo um total de R$2,3 bilhões de operações no primeiro semestre de 2012. Por outro lado, o banco reforçou sua base de liquidez que totalizou R$ 7 bilhões em junho de 2012, representando mais de 200% da base de R$ 2,9 bilhões de depósitos. Esta base de captação aumentou de R$ 2,5 bilhões em setembro de 2011 para 2,9 bilhões em junho de 2012. Mesmo com redução da alavancagem de crédito, o índice da Basiléia caiu para 16% em junho de 2012, de 19% em setembro de 2011. A rentabilidade permaneceu tímida em menos de 5% de retornos sobre patrimônio líquido entre setembro de 2011 e março de 2012, melhorando para 11% em junho de 2012. 5.4.9 Banco Pine • Crise Financeira de 2008 e desdobramentos – Análise Financeira trimestral de junho de 2008 até março de 2009 130 Tabela 19: Pine: Financial Highlights PINE - Valores em Milhares de Reais Ativo Total Ativos Líquidos Operações de Crédito Non performing loans Provisões para crédito de liquidação duvidosa Depósitos Dívida Subordinada Patrimônio Líquido Receita de Intermediação Financeira Resultado de Interm. Fin. Antes Provisões Despesas com Provisões de Crédito Despesas Pessoais e Administrativas Receita com Serviços Lucro Líquido Crédito/ Patrimônio Líquido Índice da Basiléia NPL/ Carteira de Crédito NPL - Provisões/ Patrimônio Líquido RIF + Serviços/ Despesas Fixas Retorno sobre PL Resultado de Interm. Fin. Antes Provisões/ Receita Interm. Fin. Ativo Liquido/ Deposito Total Jun-08 5.911 2.159 3.497 70 73 2.346 24 834 489 259 36 141 11 80 4,2x 16,5% 2,0% -0,4% 1,7x 19,1% Set-08 4.741 724 3.541 85 71 2.062 29 831 904 386 51 183 15 113 4,3x 15,6% 2,4% 1,8% 1,9x 18,2% Dez-08 6.197 2.767 3.030 61 74 1.423 35 827 1.560 532 77 226 26 133 3,7x 19,3% 2,0% -1,6% 2,1x 16,1% Mar-09 5.537 2.437 2.769 90 96 1.520 35 819 368 116 14 31 11 20 3,4x 18,6% 3,2% -0,8% 3,6x 9,8% 53,0% 92,0% 42,6% 35,1% 34,1% 194,4% 31,4% 160,4% Fonte: Elaborado pela autora/ Austin Asis Como esperado, o evento da crise financeira de 2008 afetou significativamente o desempenho financeiro do Banco Pine, especialmente, no período compreendido entre setembro de 2008 até março de 2009. A aversão generalizada ao risco, especialmente sobre os bancos de médio porte, que possuem um perfil de captação mais curto e mais concentrado, portanto, mais volátil, gerou impactos na liquidez do Banco Pine. Conforme evidenciado pela Tabela 19, o Banco Pine perdeu mais que R$ 900 milhões de depósitos entre junho e dezembro de 2008, com início de recuperação de carteira apenas no primeiro semestre 2009, após a criação do DPGE. Neste semestre, o banco informou a utilização de recursos sob esta modalidade em montante inferior a 20% do limite máximo permitido pelas regras. De fato, em setembro e em dezembro de 2008, o total de depósitos reduziu respectivamente 12% e 31% em base trimestral, atingindo ao final do exercício de 2008 o valor de R$ 1,4 bilhões; recuperando quase 30% no primeiro semestre de 2009. 131 Nesta conjuntura, o banco Pine privilegiou a construção de liquidez em detrimento do crescimento de operações de crédito, as quais retrocederam 13% no segundo semestre de 2008 e 8,6% no primeiro trimestre de 2009. Com cobertura de liquidez inferior a 100% dos depósitos até setembro de 2008, a partir de dezembro de 2008, este índice alcançou um patamar superior a 150%. A piora da crise financeira não resultou em deterioração da qualidade de ativos do Banco Pine em um primeiro momento, com índice de non-performing loans oscilando de 2% a 2,4% de junho a dezembro de 2008, porém, aumentando para 3,2% em março de 2009, até o pico de 3,8% em junho de 2009. Com índice de Basiléia médio de 16% em junho e setembro de 2008, a redução da alavancagem de crédito reforçou a estrutura de capital bancário para o patamar de 19% em dezembro de 2008 e março de 2009. Esta robusta base de capital mostrou-se capaz de absorver um cenário de menor rentabilidade com retorno sobre patrimônio líquido caindo gradativamente de 19,1% em junho de 2008, para 18,2% em setembro de 2008, 16,1% em dezembro de 2008 e 9,8% em março de 2009. Queda de desempenho no primeiro trimestre de 2009 também impulsionada pela decisão de cessar operações de crédito consignado. • Crise Fiscal Européia e desdobramentos – Análise Financeira trimestral de Março de 2010 até Junho de 2010 e; de Setembro de 2011 até Junho de 2012 Tabela 20: Pine: Financial Highlights PINE - Valores em Milhares de Reais Ativo Total Ativos Líquidos Operações de Crédito Non performing loans Provisões para crédito de liquidação duvidosa Depósitos Dívida Subordinada Patrimônio Líquido Receita de Intermediação Financeira Resultado de Interm. Fin. Antes Provisões Despesas com Provisões de Crédito Despesas Pessoais e Administrativas Receita com Serviços Lucro Líquido Mar-10 7.792 3.342 3.996 70 Jun-10 8.014 3.395 4.097 69 Set-11 10.173 4.336 4.972 197 Dez-11 11.144 5.415 4.980 190 Mar-12 10.368 4.337 5.213 181 Jun-12 10.038 3.682 5.238 216 67 2.735 27 839 261 22 1 30 13 30 68 2.929 229 853 588 32 10 61 29 66 142 3.302 294 982 1.727 296 39 117 43 106 173 3.484 304 1.015 1.401 422 89 173 61 162 181 3.401 291 1.029 281 122 11 42 31 47 209 3.402 343 1.053 719 255 41 88 62 92 132 Crédito/ Patrimônio Líquido Índice da Basiléia NPL/ Carteira de Crédito NPL - Provisões/ Patrimônio Líquido RIF + Serviços/ Despesas Fixas Retorno sobre PL Resultado de Interm. Fin. Antes Provisões/ Receita Interm. Fin. Ativo Liquido/ Deposito Total 4,8x 14,9% 1,7% 0,4% 1,1x 14,4% 4,8x 18,5% 1,7% 0,1% 0,8x 15,4% 5,1x 19,6% 4,0% 5,6% 2,6x 14,3% 4,9x 18,5% 3,8% 1,7% 2,3x 15,9% 5,1x 16,4% 3,5% 0,0% 3,4x 18,1% 5,0x 15,9% 4,1% 0,7% 3,1x 17,5% 8,4% 122,2% 5,5% 115,9% 17,2% 131,3% 30,1% 155,4% 43,3% 127,5% 35,5% 108,2% Fonte: Elaborado pelo autora/ Austin Asis O Banco Pine manteve a trajetória de crescimento das operações de crédito iniciada no segundo semestre de 2009, atingindo um volume de R$4 bilhões em junho de 2010, com crescimento de 5,1% no primeiro trimestre e 2,5% no segundo trimestre. Os indicadores de qualidade de ativos também continuaram a melhorar, retrocedendo consistentemente do pico de 3,8% em junho de 2009 para 1,7% em março e junho de 2010. A abundância de liquidez tanto no mercado local, como no mercado internacional, permitiu uma carteira de depósitos de R$ 3 bilhões no semestre, reforçada pela emissão de R$ 200 milhões de dívida subordinada no segundo trimestre de 2010. Neste contexto, ativos líquidos atingiram R$ 3,4 bilhões em junho de 2010, quase R$ 500 milhões superior a dezembro de 2009, com melhora da cobertura de liquidez sobre depósitos para 116% em junho, contra 102% em dezembro. A emissão do instrumento de dívida subordinada, classificada como capital nível II, melhorou a estrutura de capital do banco com índice de Basiléia subindo de 14,9% em março de 2010 para 18,5% em junho de 2010, permitindo, assim, a manutenção da expansão das atividades do Banco Pine. O crescimento das operações de crédito conjugada a melhora na qualidade de ativos contribuíram para a recuperação da rentabilidade do banco com retorno sobre patrimônio líquido no patamar de 15% no semestre, vis-a-vis 10% em dezembro de 2009. O Banco Pine manteve estratégia de crescimento das operações de crédito de 5% entre setembro de 2011 até junho de 2012, mesmo sendo inferior ao ritmo médio de crescimento de 12,4% registrado pela indústria bancária no período. O crescimento das operações de crédito foi parcialmente amparado pelo aumento da base de depósitos em 3% entre setembro de 2011 e junho de 2012, uma vez que o destaque veio da 133 emissão de mais de R$ 300 milhões de letras financeiras relacionadas a liberação do compulsório no primeiro semestre de 2012. Diferentemente dos bancos analisado, a deterioração da qualidade de ativos começou a ser observada no quarto trimestre de 2010, decorrente da implementação de um novo sistema de ratings internos para classificação de risco de crédito de sua base de clientes. Assim, o índice de non-performing loans oscilou entre 3,5% a 4,1% no período analisado. Soma-se que a manutenção do ritmo de crescimento de crédito aumentou a necessidade de requerimento de capital, reduzindo o índice de Basiléia de 19,6% em setembro de 2011 para 15,9% em junho de 2012, ainda, assim, confortável perante aos requerimentos mínimos exigidos. 5.4.10 Banco Sofisa • Crise Financeira de 2008 e desdobramentos – Análise Financeira trimestral de junho de 2008 até março de 2009 Tabela 21: Sofisa: Financial Highlights SOFISA - Valores em Milhares de Reais Ativo Total Ativos Líquidos Operações de Crédito Non performing loans Provisões para crédito de liquidação duvidosa Depósitos Dívida Subordinada Patrimônio Líquido Receita de Intermediação Financeira Resultado de Interm. Fin. Antes Provisões Despesas com Provisões de Crédito Despesas Pessoais e Administrativas Receita com Serviços Lucro Líquido Crédito/ Patrimônio Líquido Índice da Basiléia NPL/ Carteira de Crédito NPL - Provisões/ Patrimônio Líquido RIF + Serviços/ Despesas Fixas Retorno sobre PL Resultado de Interm. Fin. Antes Provisões/ Receita Interm. Fin. Ativo Liquido/ Deposito Total Jun-08 4.856 1.212 3.224 51 50 3.030 0 852 483 201 25 56 9 56 3,8x 17,6% 1,6% 0,0% 3,3x 13,1% Set-08 5.093 1.190 3.446 67 62 2.462 0 861 815 282 40 95 20 77 4,0x 17,0% 1,9% 0,5% 2,8x 11,9% Dez-08 4.510 1.001 2.761 78 56 1.314 0 859 1.223 351 38 137 29 92 3,2x 19,8% 2,8% 2,5% 2,5x 10,7% Mar-09 4.418 1.045 2.679 97 69 1.232 0 848 229 109 19 34 8 11 3,2x 20,8% 3,6% 3,4% 2,9x 5,0% 41,6% 40,0% 34,5% 48,3% 28,7% 76,2% 47,6% 84,9% 134 Fonte: Elaborado pela autora/ Austin Asis O evento da crise financeira de 2008 afetou significativamente o desempenho financeiro do Banco Sofisa, especialmente, no período compreendido entre setembro de 2008 até março de 2009. A aversão generalizada ao risco, especialmente sobre os bancos de médio porte, que possuem um perfil de captação mais curto e mais concentrado, portanto, mais volátil, gerou impactos na liquidez do Banco Sofisa O Banco Sofisa perdeu quase R$ 1,8 bilhões de depósitos entre junho de 2008 e março de 2009, com início de recuperação de carteira apenas no segundo semestre 2009, após a criação do DPGE. Neste semestre, o banco informou a captação de R$205 milhões de depósitos na modalidade de DPGE. Nesta conjuntura, o banco Sofisa privilegiou a manutenção de liquidez em R$ 1 bilhão através do recebimento de fluxos de operações de crédito, as quais retrocederam 14% no segundo semestre de 2008 e 3% no primeiro trimestre de 2009. Com cobertura de liquidez inferior a 50% dos depósitos até setembro de 2008, a partir de dezembro de 2008, este índice alcançou um patamar médio de 80%. A piora da crise financeira deteriorou a qualidade de ativos do Banco Sofisa, com índice de non-performing loans aumentando de 1,6% em junho de 2008 para 1,9% em setembro de 2008, 2,8% em dezembro de 2008 e 3,6% em março de 2009. Com índice de Basiléia médio de 17% em junho e setembro de 2008, a redução da alavancagem de crédito reforçou a estrutura de capital bancário para o patamar de 20% em dezembro de 2008 e março de 2009. Esta robusta base de capital mostrou-se capaz de absorver um cenário de menor rentabilidade com retorno sobre patrimônio líquido caindo gradativamente de 13,1% em junho de 2008, para 11,9% em setembro de 2008, 10,7% em dezembro de 2008 e 5% em março de 2009. • Crise Fiscal Européia e desdobramentos – Análise Financeira trimestral de Março de 2010 até Junho de 2010 e; de Setembro de 2011 até Junho de 2012 Tabela 22: Sofisa: Financial Highlights SOFISA - Valores em Milhares de Reais Ativo Total Mar-10 4.413 Jun-10 4.595 Set-11 4.073 Dez-11 4.232 Mar-12 4.466 Jun-12 4.439 135 Ativos Líquidos Operações de Crédito Non performing loans Provisões para crédito de liquidação duvidosa Depósitos Dívida Subordinada Patrimônio Líquido Receita de Intermediação Financeira Resultado de Interm. Fin. Antes Provisões Despesas com Provisões de Crédito Despesas Pessoais e Administrativas Receita com Serviços Lucro Líquido Crédito/ Patrimônio Líquido Índice da Basiléia NPL/ Carteira de Crédito NPL - Provisões/ Patrimônio Líquido RIF + Serviços/ Despesas Fixas Retorno sobre PL Resultado de Interm. Fin. Antes Provisões/ Receita Interm. Fin. Ativo Liquido/ Deposito Total 1.177 2.725 221 1.421 2.699 218 1.304 2.269 129 1.574 2.114 156 1.921 1.943 151 1.809 1.894 159 145 2.147 0 746 265 94 27 35 10 10 3,7x 15,7% 8,1% 10,2% 2,2x 5,4% 148 2.321 0 760 487 177 73 72 16 37 3,6x 16,9% 8,1% 9,1% 1,7x 9,8% 115 2.174 0 758 633 140 19 100 10 17 3,0x 17,6% 5,7% 1,9% 1,3x 3,0% 120 2.359 0 763 866 221 39 138 13 27 2,8x 20,6% 7,4% 4,8% 1,4x 3,6% 117 2.320 0 787 203 79 26 32 3 13 2,5x 20,6% 7,7% 4,3% 1,7x 6,4% 118 2.232 0 769 410 137 37 68 5 16 2,5x 19,0% 8,4% 5,4% 1,5x 4,1% 35,3% 54,8% 36,4% 61,2% 22,1% 60,0% 25,5% 66,7% 38,8% 82,8% 33,5% 81,0% Fonte: Elaborado pela autora/ Austin Asis O desempenho do Banco Sofisa seguiu em direção oposta aos bancos analisados até o momento neste projeto. Após atingir uma carteira de crédito total de R$ 3 bilhões em dezembro de 2009, as operações começaram a reduzir gradualmente a partir de março de 2010, seguindo mais uma estratégia de saída de operações de financiamento ao consumo, após a venda de tal carteira para o Banco Fibra em março de 2010, do que consequências da crise européia. Assim, no primeiro semestre de 2010, a carteira de crédito retrocedeu 10% em relação a dezembro de 2009. A redução das operações afetou imediatamente a qualidade de ativos do Banco Sofisa, que continuou piorando desde a crise financeira em 2008, como evidenciado pelo índice de nonperfoming loans de 8,1% no primeiro semestre de 2010, vis-a-vis 7,3% em dezembro de 2009, 5,3% em junho de 2009 e 2,8% em dezembro de 2008. Por outro lado, a base de depósitos do bancos continuou aumentando até atingir R$ 2,3 bilhões em junho de 2010, não sendo divulgado quanto deste montante foi via uso de DPGE. 136 Neste contexto, ativos líquidos atingiram R$ 1,4 bilhões em junho de 2010, quase R$ 300 milhões superior a dezembro de 2009, com melhora da cobertura de liquidez sobre depósitos para 61% em junho, contra 56% em dezembro. A estrutura de capital foi mantida confortável no patamar de 16% no período, capaz de absorver as perdas de crédito e queda de rentabilidade. Esta última melhorou gradativamente de 1,4% em dezembro de 2009 para 5,4% em março de 2010 e 9,8% em junho de 2010. A modesta rentabilidade em 2009 foi ocasionada pela conjuntura da crise financeira com redução de carteira de crédito e aumento de provisões, especialmente. O Banco Sofisa continuou a reduzir as operações de crédito em 16,5% entre setembro de 2011 até junho de 2012. O comportamento das operações de crédito refletiu na manutenção de depósitos em R$ 2,3 bilhões no período. A deterioração da qualidade de ativos começou a ser observada em dezembro de 2011, com índice de non-performing loans aumentando de 5,7% em setembro de 2011 ao pico de 8,4% em junho de 2012. Grande parte desta deterioração pode ser explicada pela contínua queda das operações de crédito no período. Soma-se que a manutenção de redução do ritmo de crescimento de crédito diminuiu a necessidade de requerimento de capital, aumentando o índice de Basiléia de 17,6% em setembro de 2011 para 19% em junho de 2012, confortável perante aos requerimentos mínimos exigidos. 5.4.11 Banco Indusval • Crise Financeira de 2008 e desdobramentos – Análise Financeira trimestral de junho de 2008 até março de 2009 Tabela 23: Indusval: Financial Highlights INDUSVAL - Valores em Milhares de Reais Ativo Total Ativos Líquidos Operações de Crédito Non performing loans Provisões para crédito de liquidação duvidosa Depósitos Dívida Subordinada Patrimônio Líquido Receita de Intermediação Financeira Jun-08 2.966 1.197 1.703 38 37 1.073 0 433 221 Set-08 3.192 1.060 1.995 53 52 1.172 0 444 427 Dez-08 2.225 425 1.723 78 70 802 0 449 641 Mar-09 2.337 573 1.669 134 98 783 0 452 111 137 Resultado de Interm. Fin. Antes Provisões Despesas com Provisões de Crédito Despesas Pessoais e Administrativas Receita com Serviços Lucro Líquido Crédito/ Patrimônio Líquido Índice da Basiléia NPL/ Carteira de Crédito NPL - Provisões/ Patrimônio Líquido RIF + Serviços/ Despesas Fixas Retorno sobre PL Resultado de Interm. Fin. Antes Provisões/ Receita Interm. Fin. Ativo Liquido/ Deposito Total 110 14 45 14 39 3,9x 26,1% 2,2% 0,2% 2,5x 18,0% 180 30 69 21 58 4,5x 20,1% 2,7% 0,3% 2,5x 17,5% 253 53 98 24 72 3,8x 24,0% 4,5% 1,6% 2,3x 16,0% 60 32 24 3 8 3,7x 25,7% 8,0% 8,1% 1,3x 7,1% 49,6% 111,5% 42,1% 90,5% 39,5% 53,0% 54,3% 73,2% Fonte: Elaborado pela autora/ Austin Asis O primeiro semestre de 2008 foi marcado pela manutenção de constante crescimento das operações de crédito do Banco Indusval, amparado especialmente pelo excesso de liquidez. Ao final de junho de 2008, o banco apresentava um balanço patrimonial sólido, com liquidez de R$ 1 bilhão, equivalente a mais de 100% de depósitos e 200% do patrimônio líquido, baixa inadimplência com non-perfoming loans de 2,2%, forte estrutura de capital com índice de Basiléia superior a 25% e confortável rentabilidade de 18% sobre patrimônio líquido. O agravamento da crise financeira após a quebra do Banco Lehman Brothers teve impacto imediato e profundo nas demonstrações financeiras do Indusval no período compreendido entre setembro de 2008 até março de 2009. Como característica de seu perfil de negócios e porte, em momentos de crise ou eventos de stress, os investidores, geralmente, tendem a sacar seus recursos investidos em busca de maior segurança financeira. Neste cenário, a base de depósitos do Indusval reduziu de R$ 1,2 bilhões em setembro de 2008 para R$783 milhões em março de 2009, parcialmente compensada pela captação de R$ 100 milhões via depósito interfinanceiro de compulsório. A recuperação da captação só foi efetiva a partir de junho de 2009 com captação via DPGE em mais de R$ 300 milhões. O excesso de liquidez apresentado pelo banco no primeiro semestre de 2008, conjugado a retração das operações de crédito em 14% no quarto trimestre de 2008 e 3% no primeiro trimestre de 2009 foram suficientes para suportar a onda de resgates de depósito no período. Ao 138 final de março de 2009, ativos líquidos reduziram para R$573 milhões, ainda confortável para cobrir mais que 70% da base de depósitos do banco no período. Soma-se a manutenção do índice da Basiléia em nível superior ao mínimo requerido de 11% pelo Banco Central do Brasil, aumentando de 20% em setembro de 2008 para o patamar de 26% após desalavancagem das operações de crédito em março de 2009. Esta robusta base de capital mostrou-se capaz de absorver um cenário de menor rentabilidade com retorno sobre patrimônio líquido caindo gradativamente de 18% em junho de 2008, para 17,5% em setembro de 2008, 16% em dezembro de 2008 e 7,1% em março de 2009. Queda de desempenho impulsionada pela redução de operações de crédito, aumento de custo de captação e maiores perdas com provisões para crédito de liquidação duvidosa. Esta última refletindo os efeitos da desaceleração econômica sobre a qualidade de ativos do Indusval, com non-perfoming loans sobre crédito deteriorando de 2,2% o período anterior a crise em junho de 2008 para 2,7% em setembro de 2008, 4,5% em dezembro de 2008 e 8% em março de 2009. • Crise Fiscal Européia e desdobramentos – Análise Financeira trimestral de Março de 2010 até Junho de 2010 e; de Setembro de 2011 até Junho de 2012 Tabela 24: Indusval: Financial Highlights INDUSVAL - Valores em Milhares de Reais Ativo Total Ativos Líquidos Operações de Crédito Non performing loans Provisões para crédito de liquidação duvidosa Depósitos Dívida Subordinada Patrimônio Líquido Receita de Intermediação Financeira Resultado de Interm. Fin. Antes Provisões Despesas com Provisões de Crédito Despesas Pessoais e Administrativas Receita com Serviços Lucro Líquido Crédito/ Patrimônio Líquido Índice da Basiléia Mar-10 3.049 1.313 1.656 225 Jun-10 3.044 1.257 1.687 212 Set-11 4.459 2.118 2.095 274 Dez-11 4.278 1.755 2.267 233 Mar-12 4.583 1.912 2.384 194 Jun-12 4.966 2.093 2.396 190 111 1.355 0 431 114 47 11 22 3 7 3,8x 21,1% 108 1.357 0 430 225 92 24 45 6 16 3,9x 20,3% 170 1.564 0 578 456 121 117 87 14 -42 3,6x 21,2% 143 1.633 0 577 632 171 118 122 21 -32 3,9x 18,2% 102 1.791 0 591 162 51 14 36 7 5 4,0x 18,1% 108 1.683 0 582 385 110 37 71 12 7 4,1x 17,0% 139 NPL/ Carteira de Crédito NPL - Provisões/ Patrimônio Líquido RIF + Serviços/ Despesas Fixas Retorno sobre PL Resultado de Interm. Fin. Antes Provisões/ Receita Interm. Fin. Ativo Liquido/ Deposito Total 13,6% 26,5% 1,8x 6,8% 12,6% 24,3% 1,6x 7,3% 13,1% 18,0% 0,2x -9,7% 10,3% 15,7% 0,6x -5,5% 8,2% 15,7% 1,2x 3,4% 7,9% 14,2% 1,2x 2,6% 40,8% 96,9% 41,1% 92,6% 26,6% 135,5% 27,0% 107,5% 31,4% 106,7% 28,7% 124,4% Fonte: Elaborado pela autora/ Austin Asis O desempenho do Banco Indusval, assim como do Banco Sofisa, diferenciou-se dos bancos analisados nesta pesquisa. As operações de crédito permaneceram praticamente estáveis em R$ 1,6 bilhões de dezembro de 2008 até junho de 2010. Os efeitos da crise financeira, no entanto, permaneceram impactando a qualidade de ativos do banco, com índice de non-perfoming loans atingindo o patamar médio de 25% no período. Parte da piora deste índice, segundo informações do banco, derivou de uma rigorosa classificação de risco de crédito do que efetiva inadimplência Por outro lado, a base de depósitos do bancos continuou aumentando até atingir R$ 1,4 bilhões em junho de 2010, com mais de R$ 500 milhões desta base captada via recursos do DPGE. Neste contexto, ativos líquidos atingiram R$ 1,3 bilhões em junho de 2010, quase R$ 200 milhões superior a dezembro de 2009, com melhora da cobertura de liquidez sobre depósitos para 93% em junho, contra 83% em dezembro. A estrutura de capital foi mantida confortável no patamar de 20,3% no período, capaz de absorver as perdas de crédito e queda de rentabilidade. Esta última melhorou gradativamente de 3% em dezembro de 2009 para 6,8% em março de 2010 e 7,3% em junho de 2010. A modesta rentabilidade em 2009 foi ocasionada pela conjuntura da crise financeira com redução de carteira de crédito e aumento de provisões, especialmente. O Banco Indusval manteve estratégia de crescimento das operações de crédito de 14% entre setembro de 2011 até junho de 2012, iniciada no mesmo período do ano anterior e apresentando-se superior ao ritmo médio de crescimento de 12,4% registrado pela indústria bancária no período. O crescimento das operações de crédito foi parcialmente amparado pelo aumento da base de depósitos em 8% entre setembro de 2011 e junho de 2012, apesar da redução de 6% no segundo trimestre de 2010, uma vez que o destaque veio do incremento da emissão de letras 140 domésticas no período. Ressalta-se o incremento de depósitos interfinanceiros via liberação do depósito compulsório em quase R$ 50 milhões entre dezembro de 2011 e junho de 2012. Diferentemente dos bancos analisado, a qualidade de ativos manteve ritmo de melhora decorrente principalmente da diluição promovida pelo crescimento de crédito. Assim, o índice de non-performing loans reduziu para 7,9% em junho de 2012, de 13% em setembro de 2011. Soma-se que a manutenção do ritmo de crescimento de crédito aumentou a necessidade de requerimento de capital, reduzindo o índice de Basiléia de 21% em setembro de 2011 para 17% em junho de 2012, ainda, assim, confortável perante aos requerimentos mínimos exigidos. 141 6 6.1 CONCLUSÃO Quanto a metodologia: Considerando o objetivo de analisar o desempenho bursátil de 10 bancos e 11 ações em seis eventos específicos entre setembro de 2008 até março de 2012, o método de estudo de eventos foi julgado o mais adequado. A análise financeira de tais bancos de forma trimestral anterior e posterior a tais eventos também foi considerada apropriada para atingir os objetivos propostos nesta dissertação. O tamanho da amostra, considerando a importância dos bancos analisados, que representam aproximadamente 60% do ativo total do sistema bancário em dezembro de 2012, demonstrou-se adequado aos objetivos propostos no trabalho. A inclusão de bancos de grande e de médio portes também contribuiu para a verificação dos objetivos perseguidos, e identificação das diferenças existentes no setor bancário. 6.2 Quanto aos resultados da análise bursátil: Os principais resultados e inferências obtidos a partir da análise de estudo de evento sobre o desempenho bursátil dos bancos pesquisados, não apresentaram, de uma forma geral, evidências de que os eventos específicos selecionados impactaram os retornos de suas ações de forma estatisticamente significativa. A análise dos retornos anormais mostrou que, apesar de serem estudados os resultados com significância de 5%, com relação ao teste t de student, os retornos anormais tomados com base nos preços das ações dos bancos pesquisados, em relação aos índices de mercado Ibovespa, apresentaram, de forma geral, distribuição homogênea e eqüitativa semelhante para os eventos estudados. Tais resultados refletem as características dos eventos selecionados neste estudo, os quais, referem-se a fatos dinâmicos. Diferentemente de eventos estáticos, de natureza climática ou naturais, como por exemplo um terremoto ou uma vazamento de óleo, o estouro de crises ou o anúncio de medidas prudenciais, decorrem de um conjuntos de fatores econômicos e sociais divulgados previamente a ocorrência efetiva dos eventos selecionados. 142 Referente aos resultados obtidos em que houve significância estatística dos retornos anormais ou extraordinários dos bancos quando analisados de forma agregada, pode-se inferir que ocorreu em momentos de alta volatilidade no mercado acionário brasileiro, em geral, com impacto similar em outros setores econômicos e em mercados de outros países. Cita-se, neste caso, a data em que a Bolsa de Valores acionou o circuit breaker ao constatar a queda do Ibovespa em mais de 10%, sendo que, o mercado financeiro, por ser o responsável pela crise, foi o mais afetado. Assim, como resultado geral, pode-se aceitar a hipótese nula de que as crises financeiras internacionais e as medidas prudenciais adotadas pelo Banco Central do Brasil, por elas mesmas, não afetaram, de forma estatisticamente significativa, o desempenho do retorno das ações das instituições financeiras listada na Bovespa. 6.3 Quanto aos resultados da análise financeira: Os principais resultados obtidos a partir da análise financeira dos bancos analisados neste trabalho refletem a forte correlação existente entre os ciclos econômicos e a trajetória de crescimento e de desempenho do sistema bancário. Em momentos de crise, os bancos, geralmente, adotaram uma postura mais cautelosa na concessão de crédito, resultante de aumento de inadimplência e queda de rentabilidade, concentrando esforços na construção de liquidez. Em sentido oposto a esta constatação, os bancos públicos, neste caso, o Banco do Brasil aqui analisado, movimentou-se em direção a expansão de crédito, desempenhando papel anticíclico e importante para restauração econômica. Mesmo com os impactos negativos das crises financeiras sobre a rentabilidade e qualidade de ativos do bancos brasileiros estudados nesta pesquisa, a forte estrutura de capital do sistema bancário, permitiu a absorção de tais perdas. Os bancos de grande porte efetivamente se beneficiam do efeito “flight to quality” em momentos de aversão a liquidez, em função do tamanho e perfil diversificado de suas operações. Contrapõem-se, no entanto, ao desempenho dos bancos médios, os quais são fortemente afetados em períodos de retração de liquidez, como ocorreu durante a crise financeira de 2008. A retração de depósitos dos bancos de menor porte aqui estudados, foi, de um modo geral, aliviada pelas medidas de liberação de compulsório e criação do DPGE. 143 Neste contexto, os bancos grandes desempenharam um papel fundamental na otimização do fluxo de liquidez no sistema bancário. Ressalta-se, no entanto, que a aplicação de recursos de liquidez nos bancos médios respeitou as condições financeiras apresentadas por cada um deles, sendo que os que apresentavam maior perfil risco, não se beneficiaram de tais regras. Sendo assim, o DPGE teve um papel mais decisivo na reconstrução da liquidez das instituições financeiras de menor porte. A fortaleza econômica-financeira do sistema bancário, em geral, conjugada a rápida recuperação econômica, impulsionaram no retorno do nível de atividade bancária a partir do segundo semestre de 2009 e a nqueda de inadimplência. Este processo permaneceu até primeiro semestre de 2011, momento em que o agravamento da crise européia e sinais de desaceleração econômica brasileira, voltaram a refrear o ritmo de expansão das operações. Os efeitos da crise européia, no entanto, não foram tão intensos como na crise financeira de 2008 6.4 Considerações finais Este estudo permitiu avaliar como as crises financeira e européia e medidas prudenciais adotadas pelo Banco Central do Brasil afetaram os desempenhos bursátil e econômico-financeiro dos bancos brasileiros. Os resultados encontrados nesta pesquisa revelam que tais eventos estudados, por serem dinâmicos, não afetam significativamente o retorno das ações dos bancos brasileiros na data em que ocorreram. Os ajustes no mercado acionário já haviam sido realizados gradativamente em períodos anteriores ao momento do evento, seguindo indicadores macroeconômicos e outros sinais da crise. Por outro lado, os eventos estudados e seus desdobramentos tiveram um impacto mais significativo no desempenho contábil dos bancos brasileiros, evidenciando a forte correlação entre o mesmo com a estratégia de atividades e comportamento econômico. Fica ainda evidente a diferença de desempenho contábil e bursátil entre os bancos de grande e de médio portes, sendo que o efeito sobre o primeiro grupo é geralmente menos intenso do que no segundo. 144 6.5 Sugestões para novos trabalhos Considerando a relevância e atualidade do tema nos segmentos acadêmico e de mercado, outras pesquisas merecem ser formuladas de forma a aprofundar o entendimento da relação entre as crises financeiras e seus desdobramentos no mercado bancário. Uma possibilidade seria efetuar, por exemplo, estudos de testes de stress para verificar quão resiliente financeiramente encontra-se o sistema bancário brasileiro para enfrentar novas crises, especialmente considerando o novo arcabouço regulatório desenhado pós-crise de 2008. 145 7. BIBLIOGRAFIA ADAMATI, A.R., HELLWIG, M. Good Banking Regulation needs clear focus, sensible tools, and political will. 2011.Disponível em: Acesso em: 25/04/2013 ALENCAR, L.S., TAKEDA, T., MARTINS, B. DAWID, P.E. Uma Avaliação dos Recolhimentos Compulsórios. Relatório de Economia Bancária e Crédito, 2011. ALLEN, Franklin; GALE, Douglas (2000). Financial Contagion. Journal of Political Economy, 2000, vol. 108, no.1. ASSAF NETO, A. Estrutura e análise de balanços: um enfoque econômico-financeiro. São Paulo: Atlas, 2002 ASSAF NETO, Estrutura e Análise de Balanços. São Paulo: Atlas, 2006 ASSAF NETO, A. Finanças Corporativas e Valor. 5.ed. São Paulo: Atlas, 2010. BANCO CENTRAL DO BRASIL. Relatório de Estabilidade Financeira – Maio/2009. Disponível em: <http://www.bcb.gov.br/?RELESTAB>. Acesso em 12/05/2011 BANCO CENTRAL DO BRASIL. Relatório de Estabilidade Financeira – Maio/2012.Disponível em: <http://www.bcb.gov.br/?RELESTAB>. Acesso em 25/04/2013 BANCO CENTRAL DO BRASIL. Relatório de Estabilidade Financeira – Setembro/2012.Disponível em: <http://www.bcb.gov.br/?RELESTAB>. Acesso em 25/04/2013 BARBOSA, F. Brazilian Financial Regulation and Governance. Revista de Economia Política, vol. 31, pp. 889-892, 2011. BARBOSA, F. Mercado Aberto Brasileiro: Análise dos Procedimentos Operacionais/ Fernando de Holanda Barbosa - Rio de Janeiro : FGV,EPGE, 2010 (Ensaios Econômicos; 160) BARTH, J.R.; CAPRIO JR, G; LEVINE, R. Bank regulation and supervision: What works best? Journal of Financial Intermediation 12(April): 205–248, 2004. BASEL COMITTEE ON BANKING SUPERVISION - BCBS. Basel III: A global reguatory framework for more resilient banks and banking systems. Basel Committee Publications, Dezembro 2010 (revisado Junho 2011) BASEL COMITTEE ON BANKING SUPERVISION - BCBS. International convergence of capital measurement and capital standards. Basel Committee Publications, 1988. BASEL COMITTEE ON BANKING SUPERVISION - BCBS. Results of the comprehensive quantitative impact study. Basel Committee Publications, Dezembro 2010. 146 BBC BRASIL. Cronologia: Crise nos Mercados Financeiros. 2008. Disponível em: http://www.bbc.co.uk/portuguese/reporterbbc/story/2008/09/080929_crise_timeline_dg.shtml. Acesso em: 27 de julho de 2013. BCBS - BASEL COMITTEE ON BANKING SUPERVISION Principles for sound liquidity risk management and supervision. Basel Committee Publications, Setembro de 2008 BCBS - BASEL COMITTEE ON BANKING SUPERVISION The Basel Committee's response to the financial crisis: report to the G20. Basel Committee Publications, Outubro 2010. BERGER, A., DAVIES, S, FLANNERY, M. Comparing market and supervisory assessments of bank performance: who knows what when? Finance and Economics Discussion Series. 1998-32, Board of Governors of the Federal Reserve System (US) BERGMANN, Daniel Reed; SAVOIA, José Roberto; SAITO; André Taue; CONTANI, Eduardo. Contagion effects of the US Subprime Crisis on Latin American and European Union Stock Markets. In: BALAS - The Business Association of Latin American Studies Conference, Barcelona, Spain, 2010. BESSIS, J. Risk management in banking. New York: John Wiley & Sons, 1998. BILLIO, Monica; CAPORIN, Massimiliano. Market linkages, variance spillovers, and correlation stability: Empirical evidence of financial contagion. Computational Statistics and Data Analysis, 54, p. 2443-2458, , 2010. BIS (2003b). Sound practices for the management and supervision of operational risk. www.bis.org. BVSP Manual De Procedimentos Operacionais da Bolsa de Valores de São Paulo S.A. 2008. Disponível em: http://www.bmfbovespa.com.br/pt- br/regulacao/download/cap_18_da_interrupcao_de_negocios.pdf. Acesso em: 27Julho 2013 BRAV, A.; HEALTON, J. B. Testing behavioral theories of undervaluation and overvaluation. Evanston, 2006. Disponível em http://www.kellogg.northwestern.edu.br. Acesso em: 20Novembro 2012. BRIGHAM, E. F.; EHRHARDT, M. C. A Administração Financeira – Teoria e Prática. Ed. Thompsom, 2010. CALOMIRIS, C. W. Is Deposit Insurance Necessary? A Historical Prespective. The Journal of Political Economy, Chicago, v.50, n. 2 p. 283-295, 1990. 147 CAMARGOS, M. A.; BARBOSA, F. V. Estudos de Evento: teoria e operacionalização. Caderno de Pesquisas em Administração, São Paulo, v. 10, n. 3, p. 1-20, jul.-set. 2003. CAMPBELL, J. Y.; LO, A. W.; MACKINLEY, A. C. The econometrics of financial markets. 2. ed. New Jersey : Princeton University Press, 1997. CAPELLETTO, Lucio Rodrigues. Mensuração do risco sistêmico no setor bancário com utilização de variáveis contábeis e econômicas. São Paulo, 2006. Tese (Doutorado em Ciências Contábeis) – Programa de Pós-Graduação em Ciências Contábeis, Departamento de Contabilidade e Atuárias, Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo. CAPRIO, G., BARTH, J.R., LEVINE, R. Bank Regulation and Supervision in 180 countries from 1999 to 2011. January 2013 CARAMASCHI, Vladimir. Cenário macroeconômico: entendendo a crise dos subprimes. São Paulo: Fator Corretora, 2007. COMISSÃO EUROPÉIA. A Crise financeira e económica – factos e políticas. Disponível em: http://ec.europa.eu/economy_finance/publications/publication13260_fr.pdf. Acesso em 27 de julho de 2013. CORSETTI, Giancarlo; PERICOLI, Marcello Pericoli; SBRACIA, Massimo. Correlation Analysis of Financial Contagion. Paper prepared for the book: Robert W. Kolb (ed.), Financial Contagion: The Viral Threat to the Wealth of Nations, Wiley. NY (forthcoming). July, 2010. CORSETTI, Giancarlo; PERICOLI, Marcello Pericoli; SBRACIA, Massimo. Some contagion, some interdependence: More pitfalls in tests of financial contagion. Journal of International Money and Finance, 24 (8), pp. 1177-1199, 2005. COSTA, A.C.B. FGC Ontem e Hoje: 1995 – 2006. Outubro, 2006. ELLIOT, D., Basel III, the Banks, and the Economy. The Brookings Institution, Economic Studies, Iniative on Business and Public Policy. 23 de Julho de 2010. Disponível em: <http://www.brookings.edu/papers/2010/0726_basel_elliott.aspx>. Acesso em 12/06/2011 FAMA, E. F. Efficient capital markets: a review of theory and empirical work. The Journal of Finance, May 1970, p. 383-417. FAMA, R. e BRUNI, A.L. Eficiência, Previsibilidade dos Preços e Anomalias em Mercados de Capitais: Teoria e Evidencias. In: Caderno de Pesquisas em Administração, São Paulo, v.1, n. 7, 2 trim./1998. 148 FEDERAL RESERVE. Uniform financial institutions rating system. Press Release, 1996. Disponível em: <http://www.federalreserve.gov/boarddocs/press/ general/1996/1996 1224/default.htm>. Acesso em: 30/10/2010. FMI. Brazil.: Financial System Stability Assessment. July 2012. IMF Country Report n. 12/06. Disponível em: http://imf.org/external/pubs/ft/scr/2012/cr12206.pdf. Acesso em: 25/04/13. FONSECA, J. J. S. Metodologia da pesquisa científica. Fortaleza: UEC, 2002. Apostila. FRANCISCO, J.; ALMEIDA, M.; AMARAL, H.; BERTUCCI, L. Influência da Crise Financeira Mundial na Estrutura Econômica das Instituições Financeiras Bancárias Brasileiras e seus Reflexos no Índice de Basiléia: Uma Abordagem Comparativa. XIII Semead – Setembro de 2010. FREITAS, M.C.P. Estratégias concorrenciais e crédito bancário no Brasil no contexto pós-crise. http://revistas.usp.br/eav/article/view/10415/12131. 2011. FREIXAS, Xavier; PARIGI, Bruno M.; ROCHET, Jean-Charles (2000). Systemic Risk, Interbank Relations, and Liquidity Provision by the Central Bank. Journal of Money, Credit and Banking, Vol. 32, No. 3, August 2000 (Part 2) GABRIEL, F.S., RIBEIRO, R.B., RIBEIRO, K.C.S. Hipóteses de mercado eficiente: um estudo de eventos a partir da redução do IPI. Revista de Gestão, Finanças e Contabilidade. ISSNe 2238-5320, Vol. 3, Nº. 1, 2013 , págs. 36-52 GALE, D., Commentary: Capital Regulation and Risk Sharing. 2010. International Journal of Central Banking. Disponívelem: <http://www.ijcb.org/journal/ijcb10q4a9.htm GERHARDT, T, SILVEIRA, D. Métodos de pesquisa, coordenado pela Universidade Aberta do Brasil – UAB/UFRGS e pelo Curso de Graduação Tecnológica – Planejamento e Gestão para o Desenvolvimento Rural da SEAD/UFRGS. – Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2009. GOLDFAJN, I. KATHERINE, H., HELIO, M. Brazil’s Financial System: Resilience to Shocks, no Currency Substitution, but Struggling to Promote Growth", Stanford University Press (also as Working Paper n. 75, Central Bank of Brazil), 2003. Disponível em: http://www.bcb.gov.br/pec/wps/ingl/wps75.pdf. Acesso em 15/04/2013. GREGORIO, J. Os efeitos da crise global no Brasil: aversão ao risco e preferência pela liquidez no mercado de crédito. 2005 SP HAUGEN, R. A. Os segredos da bolsa. São Paulo: Pearson Education, 2000 149 HIRTLE, B. SCHUERMANN, T, STIROH, K. Macroprudential Supervision of Financial Institutions: Lessons from the SCAP. FRB of New York Staff Report No. 409. November 1, 2009 INTERNATIONAL MONETARY FUND – IMF. Financial Soundness Indicators (FSIs) – Concepts and Definitions. Disponível em: http://fsi.imf.org/misc/FSI%20Concepts%20and%20Definitions.pdf. Acesso em 30/10/2010 INTERNATIONAL MONETARY FUND – IMF. Financial Soundness Indicators – Compilation Guide. March 2006. Disponível em: http://www.imf.org/external/pubs/ft/fsi/guide/2006/. Acesso em30/10/2010 ITAU UNIBANCO Website. www.itau.com.br KAHNEMAN, D.; TVERSKY, A. Prospect Theory: an analysis of decision underrisk. Econometrica, v. 47, n. 2, p. 263 – 292, mar. 1979. KLOECKNER, G. O. Estudos de evento: a análise de um método. In: ENCONTRO NACIONAL DOS PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO, XIX, Anais. João Pessoa: ANPAD, set. 1995. p. 261-270. LANE, P.R. The European Sovereign Debt Crisis. Journal of Economic Perspectives— Volume 26, Number 3—Summer 2012—Pages 49–68 LASTRA, R.M., WOOD, G. The Crisis of 2007–09: Nature, Causes, and Reactions. Journal of International Economic Law, 2010 - Oxford Univ Press LIMA, D. & LAVIGNATTI, F. Cronologia da crise financeira. 2009. Especiais. Disponível em: http://www.estadao.com.br/especiais/cronologia-da-crise-financeira,2805.htm. Acesso em: 27 de julho de 2013. LIMA, Iran Siqueira; LIMA, Gerlando Augusto Sampaio Franco de; PIMENTEL, Rene Coppe. Curso de Mercado Financeiro: Tópicos Especiais. São Paulo: Atlas, 2007. LINTNER, G. Behavioral finance: why investors make bad decisions. The Planner.v. 13, n. 1, p. 7 - 8, 1998. MATARAZZO, D. C. Análise financeira de balanços: abordagem básica e gerencial. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2003. MESQUITA, M. TOROS, M. Considerações sobre a Atuação do Banco Central na Crise de 2008. Trabalhos para discussão. INSS 1519-1028. 2010. Disponível em: http://www.bcb.gov.br/pec/wps/port/wps202.pdf. Acesso em: 02/02/2013 150 MIRANDA, V.L. Impacto da adoção das IFRS (International Financial Reporting Standards) em indicadores ecônomico-financeiros de bancos de alguns países da União Européia. Dissertação (Mestrado) – Universidade de São Paulo, 2008. MOODYS. Bank Financial Strength Ratings: Revised Methodology Setembro de 2006. Disponível em: http://www.moodys.com.br/brasil/pdf/BFSR_09_2006.pdf. Acesso em 22/10/2010. MORA, C.E.T., GARCIA-ESCRIBANO, M. MARTIN, M. Credit Growth and the Effectiveness of Reserve Requirements and Other Macroprudential Instruments in Latin America. June 2012 NASCIMENTO, S., GALDI, F., NOSSA, S.N. Motivações determinantes para a recompra de ações: um estudo empírico no mercado de ações brasileiro no período de 1995 a 2008. RAM. Revista de Administração Mackenzie. On-line version ISSN 1678-6971. RAM, Rev. Adm. Mackenzie (Online) vol.12 no.5 São Paulo Sept./Oct. 2011 NETO, A. Mercado financeiro. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2006. OH, S., JUNG, J. A Deposit Insurer’s Handling a Systemic Crisis. 2012.Disponível em: http://www.kmfa.or.kr/paper/econo/2012/4D1.pdf. Acesso em: 15/04/2013 OJO, M. Basel III and Responding to the Recent Financial Crisis: Progress made by the Basel Committee in relation to the Need for Increased Bank Capital and Increased Quality of Loss Absorbing Capital. 22 de setembro de 2010. Disponível em: http://mpra.ub.unimuenchen.de/25291/<papers.ssrn.com/sol3/papers.cfm?abstract_id=1680886>. Acesso em 12/06/2011. OLIVEIRA, R.F., SCHIOZER, R.F, BARROS, L.A.B. Financial Crisis and Cross-Border Too Big to Fail Perception1 Working Paper. 15 September 2011. Midwest Finance Association 2012 Annual Meetings Paper. http://papers.ssrn.com/sol3/papers.cfm?abstract_id=1787661 PIFFER, D.M. Crise de confiança e liquidez bancária: evidências empíricas no mercado bancário brasileiro / Daro Marcos Piffer. - 2013. Dissertação (mestrado) - Escola de Administração de Empresas de São Paulo. PRICEWATERHOUSECOOPERS. Basiléia II: Principais características e potenciais impactos. Material para discussão – ABBC – 29 de marco de 2011. 151 RAUPP, F.M.; BEUREN, I.M. Metodologia da pesquisa aplicável às ciências sociais. In. BEUREN, Ilse Maria. (Org). Como elaborar trabalhos monográficos em contabilidade. 3.ed. São Paulo: Atlas, 2006. REINHART, C. M.; ROGOFF, K. S.. Oito Séculos de Delírios Financeiros: desta vez é diferente. 2 ed.. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010. ROSS, S. A.; WESTERFIELD, R. W.; JAFFE, J. Administração financeira: corporate finance. 2. ed. São Paulo : Atlas, 2002. SANTOS, J.O. A Contribuição Da Determinação Do Valor Da Empresa E Do Eva No Processo De Análise De Crédito. Revista de Gestão USP, São Paulo, v. 13, n. 3, p. 41-55, julho/setembro 2006 SANTOS, J.O., FAMA, R., TROVÃO, R., MUSSA, A. Anomalias do Mercado Acionário Brasileiro: A Verificação do Efeito Janeiro no Ibovespa no Período de 1969 a 2006. Congresso USP Fipecafi. 7º encontro Brasileiro de Finanças. 2007. Disponível em: <www.congressousp.fipecafi.org/artigos72007/132.pdf>. Acesso em 02/05/2013. SANTOS, J.O.; HOMENKO, A.; GARRE, C.; CIOFFI, P.L.M e SAYKOVITCH, S.L. Análise do desempenho do retorno das ações ordinárias de empresas do setor de transporte aéreo dos EUA nos períodos pré e pos-atentado as torres gêmeas de 11 de setembro de 2001. In: Revista de Gestão USP, São Paulo, v. 15, n. 2, p. 53-64, abril/junho 2008. SAUNDERS, Anthony. Administração de Instituições Financeiras, São Paulo: Atlas, 2000. SCHIOZER, R.F., OLIVEIRA, R.F., SAITO, R. Why Banks go Public? Evidenced from the 2005-2007 wave of Brazilian Bank-IPO. Central Bank of Brazil Working Paper, 2010. Disponivel em: http://businessperspectives.org/journals_free/bbs/2010/BBS_en_2010_2_Schiozer.pdf. Acesso em: 30/05/2013 SCHMUKLER Sergio L. et al. Market Discipline under Systemic Risk: Evidence from Bank Runs in Emerging Economies. World Bank Policy Research Working Paper 3043, 05/2005. Disponível em <http://www- wds.worldbank.org/external/default/main?pagePK=64193027&piPK=64187937&theSitePK=523 679&menuPK=64187510&searchMenuPK=64187283&theSitePK=523679&entityID=00001200 9_20041111151715&searchMenuPK=64187283&theSitePK=523679 > Acesso em 22/10/2010 152 SEITZ, F., JOST, T. The role of the IMF in the European debt crisis, HAW im Dialog Weidener Diskussionspapiere, No. 32, 2012. ISBN 978-3-937804-34-7 SOARES, R. O.; ROSTAGNO, L. M.; SOARES, K. T. C. Estudo de evento: o método e as formas de cálculo do retorno anormal. In: ENCONTRO NACIONAL DOS PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO, XXVI, Anais... Salvador:ANPAD, set. 2002. p. 14. SOFISA, Demonstrações Financeiras de 2008. Disponível em: http://www.mzweb.com.br/sofisa/web/arquivos/Sofisa_DF_2008.pdf. Acesso em: 17 de agosto de 2013. STIGLITZ, J. E. O mundo em queda livre : Os Estados Unidos, o mercado livre e o naufrágio da economia mundial / Joseph E. Stiglitz ; tradução José Viegas Filho — São Paulo : Companhia das Letras, 2010. TAKEDA, T., DAWID, P.E. Liberação de Compulsórios, Crédito Bancário e Estabilidade Financeira no Brasil. relatório de economia bancaria e credito 2009. Disponível em: http://www.bcb.gov.br/pec/depep/spread/REBC2009.pdf. TAKEDA, T., DAWID, P.E. Recolhimentos Compulsórios e o crédito bancário brasileiro. Brasília. 2011. Trabalhos para Discussão do Banco Central do Brasil, n. 250. UNGUREANU, M.C. Importance of Effective Regulation and Supervision for Banks’ Corporate Governance: European Integration Context. 2008 VACHADZE, G. Recovery of Hidden Information from stock price data: a semiparametric approach. Journal of Economic and Finance, 2001. Vol. 25, num. 3. VAN HORNE, J. Financial Management and Policy. Ed. Prentice Hall, 1997. VEJA. Em profundidade: O que já foi feito contra a crise. Disponível em: http://veja.abril.com.br/idade/exclusivo/crise-financeira/guia1.html. Acesso em: 27 de julho de 2013. VEJA. Fraude no Panamericano. Disponível em: http://veja.abril.com.br/infograficos/fraude-banco-panamericano/. Acesso em: 18 de agosto de 2013. VERGARA, S. C. Projetos e relatórios de pesquisa em administração. 3a ed. São Paulo: Atlas, 2000. 153 VERRONE, M.A.G. Basiléia II no Brasil: uma reflexão com foco na regulação bancária para risco de crédito – resolução CMN 2.682/99 São Paulo, 2007. 165 p. Dissertação (Mestrado) – Universidade de São Paulo, 2007 VIDAL, T.L. Crises financeiras: efeito contágio ou interdependência entre os Países? evidências utilizando uma abordagem multivariada / São Paulo, 2011. Dissertação (Mestrado) – Universidade de São Paulo, 2011. WHEELOCK, D.; WILSON, P. Why do Banks Disappear: The Determinants of U.S. Bank Failures and Acquisitions. Review of Economics and Statistics, fevereiro de 2000, pp. 127138. Working Paper 1995-013B. Disponível em: < http://research.stlouisfed.org/wp/1995/95013.pdf>. Acesso em 12/06/2011 154