Theresangela Giongo Flores Araes - Sapientia

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
PUC-SP
THERESÂNGELA GIONGO FLORES ARAES
“O IMPACTO DE CRISES FINANCEIRAS E DE MEDIDAS PRUDENCIAIS
ADOTADAS PELO BANCO CENTRAL DO BRASIL NO DESEMPENHO
BURSÁTIL E CONTÁBIL DOS BANCOS BRASILEIROS NO PERÍODO DE
JUNHO DE 2008 A JUNHO DE 2012”
MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO
SÃO PAULO
AGOSTO DE 2013
1 PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
PUC-SP
THERESÂNGELA GIONGO FLORES ARAES
“O IMPACTO DE CRISES FINANCEIRAS E DE MEDIDAS PRUDENCIAIS
ADOTADAS PELO BANCO CENTRAL DO BRASIL NO DESEMPENHO
BURSÁTIL E CONTÁBIL DOS BANCOS BRASILEIROS NO PERÍODO DE
JUNHO DE 2008 A JUNHO DE 2012”
Dissertação apresentada à Banca Examinadora da
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como
exigência parcial para obtenção do título de Mestre em
ADMINISTRAÇÃO, sob a orientação do Professor Dr.
José Odálio dos Santos.
MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO
SÃO PAULO
AGOSTO DE 2013
2 BANCA EXAMINADORA
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
3 À minha família
4 AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus e a minha família, especialmente ao meu marido
Leandro, ao meu filho Francisco, ao meu pai Ery e aos meus pais adotivos, Rosângela e
Antonio Carlos, pelo apoio, paciência e compreensão durante o período em que me dediquei a
este projeto.
Agradeço especialmente a minha querida mãe Noemir (em memória) pelo seu amor
incondicional, pelos seus ensinamentos e exemplo de bondade, fé, persistência e dedicação.
Agradeço ao Prof. Dr. José Odálio dos Santos, meu orientador, pelo forte incentivo,
orientação, disponibilidade e contribuição, que foram essenciais ao meu desenvolvimento
acadêmico durante o mestrado. Também sou muito grata pelas oportunidades de pesquisa em
artigos e disciplinas no programa.
Ao Professores Dr. Rubens Famá e Dr. João Carlos Douat, membro das bancas de
qualificação e de defesa, pelas contribuições valiosas que aperfeiçoaram esse trabalho.
Aos Professores Drs. José Roberto Securato, Belmiro Nascimento João, Edson Sadao,
Arnaldo Nogueira e Onésimo Almeida pelas disciplinas no programa e oportunidades de
pesquisas em artigos.
Sou grata também a Srta. Rita e ao Programa de Estudos Pós-graduados em
Administração da PUC/SP pelo ambiente crítico para desenvolver pesquisas.
Agradeço aos colegas do programa, particularmente ao José Renato, Paulo Granela,
Rodrigo Viana, Emerson Pedrosa e Maria Lúcia Novaes pelo suporte estatístico, pelo apoio,
pelas discussões proveitosas, pelos artigos e pela convivência, na qual aprendi muito com
essas pessoas.
À instituição financeira em que venho exercendo minha profissão, especialmente ao
meu chefe Sr. Marcos Barbosa e à minha equipe, que me permitiram o tempo necessário para
dedicação ao mestrado e me auxiliaram na obtenção dos dados desta pesquisa.
A todas essas pessoas, muito obrigada.
5 “Ignorar o inesperado (ainda que fosse possível) seria
viver sem oportunidade, sem espontaneidade e sem os ricos
momentos dos quais a vida é feita.”
Stephen Cohen
6 RESUMO
A falência do Lehman Brothers em 2008 rapidamente desencadeou um severo risco
sistêmico no mercado bancário global e resultou na pior crise financeira desde a Grande
Depressão em 1929. Esta crise afetou o sistema financeiro brasileiro, provocando a adoção de
diversas medidas prudenciais para combater seus efeitos. Como desdobramento desta crise,
surgiu a crise fiscal européia em meados de 2010 com novas medidas expansionistas sendo
adotadas no Brasil em 2011. O presente trabalho avaliou como estas crises financeiras
internacionais e as medidas prudenciais adotadas pelo Banco Central do Brasil afetaram o
desempenho bursátil e contábil dos bancos brasileiros. Para isso, foram utilizados os métodos
de estudo de eventos
e a análise financeira baseada na leitura de índices contábeis
tradicionais do segmento bancário (CAMELS). Percebeu-se que o desempenho bursátil dos
bancos, de modo geral, não foi afetado de forma estatisticamente significativa pelos eventos
sistêmicos selecionados. Em parte, tal comportamento pode ser explicado pela natureza
dinâmica dos eventos, os quais somente são deflagrados após a divulgação sequencial de
informações relevantes da conjuntura econômica e de empresas ao mercado. Quanto ao
desempenho financeiro , constatou-se que em momentos de crise, os bancos adotaram uma
postura mais cautelosa na concessão de crédito, resultante de aumento de inadimplência e
queda de rentabilidade, concentrando esforços na construção de liquidez. Mesmo com os
impactos negativos das crises financeiras sobre a rentabilidade e qualidade de ativos do
bancos brasileiros estudados nesta pesquisa, a forte estrutura de capital do sistema bancário,
permitiu a absorção de tais perdas.
Palavras-Chave: Sistema Financeiro, Crises Financeiras, Estudo de Eventos
7 ABSTRACT
The bankruptcy of Lehman Brothers in 2008 rapidly provoked a severe systemic risk in
the global banking industry and resulted in the worst financial crisis since the Great
Depression in 1929. This crisis affected the Brazilian Financial System, contributing to the
adoption of several prudential measures to soften their effects. As a consequence of such
crisis, the European fiscal crisis started in mid-2010, with new expansive measures being
adopted in Brazil in 2011. This study evaluated how these international financial crises and
prudential measures adopted by the Brazilian Central Bank affected the stock and the
financial performance of Brazilian Banks. It was used the methodology of event study and of
financial analysis based on the evaluation of accounting indexes, which are traditional in the
banking system (CAMELS). It was noticed that the stock performance of the banks, in
general, was not statistically affected by the selected events. This behavior can be partially
explained by the dynamic nature of the events, which only happen after consecutive
disclosure of relevant information about the economic environment and the companies to the
market. Regarding the financial performance, it was noticed that, in moments of crises, the
banks adopt a more conservative posture towards credit concession, due to higher
delinquencies and lower profitability. Banks focus on improving their liquidity conditions.
Despite overall negative impact of financial crises over the banks’ profitability and asset
quality of Brazilian Banks, the strong capital structure of the banking system allowed the
absorption of such losses.
Key words: Financial System, Financial Crises, Events Study
8 SUMÁRIO
1.
Introdução ...................................................................................................... 16
1.1
Problema de Pesquisa ..........................................................................
17
1.2
Objetivos .............................................................................................. 18
1.2.1 Geral ......................................................................................... 18
1.2.2 Específico ................................................................................. 19
2.
1.3
Justificativa ........................................................................................ 19
1.4
Metodologia ....................................................................................... 21
1.5
Hipótese testada para o desempenho bursátil .................................... 21
1.6
Limitações .........................................................................................
21
Fundamentação Teórica ................................................................................. 22
2.1
Mercado Eficiente .............................................................................
22
2.2
Finanças Comportamentais ...............................................................
24
2.3
Risco Sistêmico ................................................................................. 25
2.4
Contágios e crises financeiras ...........................................................
27
2.4.1 Crise Financeira de 2008 .......................................................... 29
2.4.2 Crise Européia 2010/2012 ........................................................ 32
2.5
Regulamentação e Supervisão Bancária ...........................................
35
2.5.1 Introdução ................................................................................
35
2.5.2 O Papel da supervisão Bancária e o Comitê de Basiléia .......... 37
2.5.3 A atuação regulatória do Brasil nas crises ...............................
39
2.5.4 Depósito Compulsório .............................................................
43
2.5.5 Liberação do depósito compulsório no Brasil .......................... 45
2.5.6 Seguro bancário ........................................................................ 46
2.5.7 Fundo garantidor de crédito no Brasil ...................................... 47
2.5.8 Depósito a prazo com garantia especial (DPGE) ..................... 48
2.6
3.
Análise financeira direcionada aos bancos .......................................
50
2.6.1 CAMELS .................................................................................
53
Panorama do Setor Bancário Brasileiro ........................................................
64
3.1
4.
Metodologia ................................................................................................... 71
4.1
Estrutura do setor financeiro no Brasil ............................................. 68
Introdução ........................................................................................
71
9 4.2
Método e Técnica de Pesquisa ..........................................................
72
4.3
Definição da amostra ........................................................................
72
4.4
Origem e tratamento de dados ..........................................................
73
4.5
Período ..............................................................................................
74
4.6
Método e tratamento de análise de dados .........................................
75
4.7
Estudo de Eventos ............................................................................. 75
4.7.1 Retornos Normais e Anormais ................................................. 76
4.7.2 Procedimentos de Estimação ...................................................
77
4.7.3 Procedimentos de Testes .......................................................... 77
5
Resultados ..................................................................................................... 78
5.1
Introdução .........................................................................................
78
5.2
Resultados Gerais – Desempenho Bursátil .......................................
78
5.2.1 Crise financeira em 15 de setembro de 2008 ...........................
79
5.2.2 Liberação do depósito compulsório em 02 de outubro de 81
2008 ...................................................................................................
5.2.3 Criação do DPGE em 26 de março de 2009 ............................
83
5.2.4 Crise Fiscal Européia em 27 de abril de 2010 .........................
83
5.2.5 Liberação do depósito compulsório em 22 de dezembro de 84
2011 ...................................................................................................
5.2.6 Redução da taxa básica de juros em 07 de março de 2012 ......
5.3
85
Resultados Individuais – Desempenho Bursátil ................................ 85
5.3.1 Banco do Brasil ........................................................................ 86
5.3.2 Itaú Unibanco ........................................................................... 86
5.3.3 Bradesco ................................................................................... 87
5.3.4 Banco Panamericano ................................................................ 88
5.3.5 ABC Brasil ............................................................................... 89
5.3.6 Daycoval ..................................................................................
90
5.3.7 Banco da Amazônia .................................................................
91
5.3.8 Pine ........................................................................................... 92
5.3.9 Sofisa ........................................................................................ 94
5.3.10 Indusval .................................................................................. 95
5.4
Resultados Individuais – Análise Financeira ....................................
96
5.4.1 Introdução ................................................................................
96
10 5.4.2 Banco do Brasil ........................................................................ 96
5.4.3 Itaú Unibanco ........................................................................... 104
5.4.4 Bradesco ................................................................................... 109
5.4.5 Banco Panamericano ................................................................ 114
5.4.6 ABC Brasil ............................................................................... 118
5.4.7 Daycoval ..................................................................................
123
5.4.8 Banco da Amazônia .................................................................
128
5.4.9 Pine ........................................................................................... 130
5.4.10 Sofisa ...................................................................................... 134
5.4.11 Indusval .................................................................................. 137
6
7
Conclusão ......................................................................................................
142
6.1
Quanto a metodologia .......................................................................
142
6.2
Quanto aos resultados da análise bursátil .........................................
142
6.3
Quanto aos resultados da análise financeira .....................................
143
6.4
Considerações Finais ......................................................................... 144
6.5
Sugestões para novos trabalhos ......................................................... 145
Bibliografia .................................................................................................... 146
11 LISTA DE QUADROS, FIGURAS E TABELAS
Quadro 1 -
Eventos analisados na pesquisa .......................................................
17
Quadro 2 -
Alguns estudos sobre análise financeira ..........................................
19
Quadro 3 -
Formas de eficiência de mercado ....................................................
23
Quadro 4 -
Principais tipos de anomalia financeira ...........................................
25
Quadro 5 -
Principais crises financeiras desde 1997 .........................................
28
Quadro 6 -
Resumo da evolução das regras dos Acordos da Basiléia I, II e III
38
Quadro 7 -
Elenco de contas adotado nas demonstrações financeiras de 52
bancos ..............................................................................................
Quadro 8 -
Fonte de dados da pesquisa .............................................................
73
Quadro 9 -
Agrupamento da análise financeira .................................................
96
Figura 1 -
Evolução dos Acordos da Basiléia, objetivos e consequências ......
38
Figura 2 -
Evolução da Taxa Selic (%) ............................................................
43
Figura 3 -
Principais diferenças DPGE I e DPGE II ........................................
50
Figura 4 -
Formas de Controle de capital das instituições financeiras .............
68
Tabela 1 -
Evolução dos Highlights Financeiros do SFN .................................
67
Tabela 2 -
Maiores bancos por ativos ajustados em 31 de dezembro de 2012 .. 70
Tabela 3 -
Amostra dos bancos analisados na pesquisa ....................................
Tabela 4 -
Retorno das ações com p-value abaixo de 0,05 ................................ 78
Tabela 5 -
Resultado das ações do Itaú com p-value inferior a 5% ................... 87
Tabela 6 -
Banco do Brasil: Financial Highlights ............................................ 96
Tabela 7 -
Banco do Brasil: Financial Highlights ............................................. 101
Tabela 8 -
Itaú Unibanco: Financial Highlights ................................................ 104
Tabela 9 -
Itaú Unibanco: Financial Highlights ................................................ 107
Tabela 10 -
Bradesco: Financial Highlights .......................................................
110
Tabela 11 -
Bradesco: Financial Highlights .......................................................
112
Tabela 12 -
Panamericano: Financial Highlights ................................................ 115
Tabela 13 -
ABC Brasil: Financial Highlights .................................................... 118
Tabela 14 -
ABC Brasil: Financial Highlights .................................................... 121
Tabela 15 -
Daycoval: Financial Highlights ......................................................
73
123
12 Tabela 16 -
Daycoval: Financial Highlights .......................................................
125
Tabela 17 -
Banco da Amazônia: Financial Highlights ......................................
128
Tabela 18 -
Banco da Amazônia: Financial Highlights ......................................
129
Tabela 19 -
Pine: Financial Highlights ...............................................................
131
Tabela 20 -
Pine: Financial Highlights ...............................................................
132
Tabela 21 -
Sofisa: Financial Highlights ............................................................
134
Tabela 22 -
Sofisa: Financial Highlights ............................................................
135
Tabela 23 -
Indusval: Financial Highlights ......................................................... 137
Tabela 24 -
Indusval: Financial Highlights ......................................................... 139
13 LISTA DE SIGLAS
BCB - Banco Central do Brasil
BCE - Banco Central Europeu
BIS - Bank for International Settlements
BM&F Bovespa – Bolsa de Mercadorias e Futuros e Bolsa de Valores do Estado de São Paulo
BNDES - Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
Bovespa - Bolsa de Valores do Estado de São Paulo
CDS - Credit Default Swap
COSIF - Plano Contábil das Instituições do Sistema Financeiro Nacional
DPGE - Depósito Especial com Garantia do Fundo Garantidor de Crédito
EESA - Emergency Economic Stabilization Act
FDIC - Federal Deposit Insurance Corporation
FED - Federal Reserve
FGC - Fundo Garantidor de Crédito
FIDCs - Fundo de Investimento em Direitos Creditórios
FMI - Fundo Monetário Internacional
FSI - Financial Soundness Indicators
IBOVESPA – Índice Bolsa de Valores do Estado de São Paulo
IFC – International Finance Corporation
LTRO - Long Term Refinancing Operation
NPL - Non-performing loans
OCC - Office of the Comptroller of the Currency
PCLD - Provisões para créditos de liquidação duvidosa
PIB - Produto Interno Bruto
PL - patrimônio Líquido
PROER - Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento do
Sistema Financeiro
PROES - Programa de Incentivo à Redução do Setor Público Estadual na
Atividade Bancária
RIF - Receita de Intermediação Financeira
Selic - Sistema Especial de Liquidação e Custódia
SFN - Sistema Financeiro Nacional
TARP - Troubled Asset Relief Program
14 UFIR - Sistema de Rating Uniforme de Instituições Financeiras
VaR - Value at Risk
15 1.
INTRODUÇÃO
A concordata do Lehman Brothers, um grande banco de investimentos americano, em
setembro de 2008, rapidamente desencadeou um severo risco sistêmico bancário global e
resultou na pior crise financeira desde a Grande Depressão em 1929. Recentes pesquisas
acadêmicas e de reguladores apontam que crise global foi parcialmente ocasionada e agravada
por níveis insuficientes de quantidade e qualidade de capital, pela necessidade de uma
definição de capital que facilitasse a absorção de perdas e pela baixa qualidade e ausência de
colchão de liquidez. (OJO, 2010 BIS, 2010).
O stress no sistema financeiro resultou na adoção de medidas extraordinárias, como
amplas injeções de recursos no mercado financeiro, reduções de taxas básicas de juros, planos
de resgate e recapitalização de instituições financeiras, aquisição de operações de grupos
financeiros, aumento das garantias dos depósitos bancários e implementação de planos de
compra de ativos financeiros considerados tóxicos. (BCB, 2009).
Estas medidas conjugadas a adoção de políticas expansionistas refletiram uma ampla
coordenação mundial para combater o agravamento da crise bancária e uma depressão
econômica mais aguda.
Tais medidas, no entanto, não foram suficientes para restabelecer o crescimento
sustentável de economias maduras como Europa e Estados Unidos, refletindo na atual crise
soberana e, consequentemente, resultando em um ciclo vicioso. O aumento do risco soberano
vem aumentando a percepção de risco bancário, gerando aumento no custo de captação e
perda no valor de ações da bolsa, resultando assim, em risco financeiro e desaceleração
econômica.
No Brasil, muitas medidas prudenciais foram e vêm sendo adotadas especialmente no
setor bancário, em virtude de sua importância econômica. Tais medidas visaram, sobretudo,
fortalecer e, até mesmo, restaurar a liquidez bancária através de aumento do volume de
captação, para assim, também contribuir para o crescimento da oferta de crédito no Brasil.
Adicionalmente, a estas medidas estudadas na presente pesquisa, o governo e o Banco
Central também têm implementado outros mecanismos visando a retomada do crescimento
econômico, tais como redução da taxa de juros e do percentual de depósito compulsório,
diminuição de impostos sobre alguns produtos industrializados como automóveis e linha
branca, dentre outras medidas.
Com base neste contexto, o presente trabalho busca verificar se crises financeiras
internacionais (SubPrime e Crise fiscal européia) e medidas prudenciais adotadas pelo Banco
16 Central do Brasil (Quadro 1) influenciaram, de forma estatisticamente significativa, o
desempenho contábil e do retorno das ações das instituições financeiras listadas na Bolsa de
Valores de São Paulo (Bovespa), no período de junho de 2008 até junho de 2012.
Quadro1: Eventos analisados na pesquisa
Evento
Crise financeira
Liberação do depósito compulsório
Criação do Depósito Especial com
Garantia Especial (DPGE)
Data
15/09/2008
02/10/2008
26/03/2009
Crise Fiscal Européia
27/04/2010
Liberação do compulsório
Redução da taxa básica de juros de
10,5% para 9,75%.
22/12/2011
07/03/2012
Referência
Quebra do banco Lehman Brothers
Circular 3.407/2008
Resolução 3.692/2009
Rebaixamento das notas soberanas de
Grécia e Portugal pela agência de rating
Standard and Poors
Circular 3.569/2011
Copom - Selic
Fonte: Elaborado pela autora/ Dados do Banco Central do Brasil
1.1
Problema de Pesquisa
Diversos autores econômicos argumentam sobre a importância do desenvolvimento do
sistema financeiro sobre o nível e a taxa de crescimento de uma país, considerando que os
serviços e produtos financeiros oferecidos pelos bancos são indispensáveis para a promoção
do crescimento econômico.
Segundo Stiglitz (2010), “o sistema bancário tem duas funções essenciais. A primeira
é de prover um mecanismo eficiente de pagamentos, na qual o banco facilita as transações
transferindo o dinheiro dos seus depositantes àqueles de quem eles compram bens e serviços.
A segunda função essencial é a avaliação e a administração de riscos e a realização de
empréstimos. Esta se relaciona com a primeira função essencial, porque se o banco fizer
avaliações creditícias deficientes, se fizer apostas irresponsáveis, ou se puser dinheiro demais
em operações arriscadas que terminem por fracassar, não poderá honrar a promessa de
remunerar o dinheiro dos depositantes. Se fizer bem o seu trabalho, o banco proporciona
dinheiro para o estabelecimento de novos negócios e para expandir os existentes, a economia
cresce, criam-se novos empregos e, ao mesmo tempo, seus próprios lucros aumentam, o que
lhes possibilita pagar juros aos depositantes e recompensar os que investiram seus ativos no
banco”.
Visando a obtenção de lucros fáceis, muitos bancos nos Estados Unidos e em outros
países negligenciaram suas funções essenciais, aumentando riscos, alavacangem excessiva e
17 custos de transação. Ao invés de focarem nas atividades tradicionais de intermediação
financeira, concentraram esforços na promoção da securitização, a qual se mostrou fatal para
a eclosão da crise financeira global de 2008. (STIGLITZ, 2010)
Como o sistema financeiro atual é interligado e essencial para a economia, a falência
de uma grande instituição pode impactar o sistema inteiro. Soma-se o tamanho da economia
norte-americana como fator de influência para uma recessão global, dada a magnitude da crise
financeira vivenciada.
Assim, a crise rapidamente se espalhou para o mundo inteiro,
consistindo na pior crise desde a Grande Depressão em 1929.
Como a prosperidade e eficiência econômica encontravam-se ameaçadas pelos lucros
excepcionais apresentados pelo setor financeiro nos Estados Unidos, muitos críticos
economistas já previam que a economia norte-americana vivenciaria uma crise global
(STIGLITZ, 2010). Segundo o autor, “economistas keynesianos que externavam a noção de
que os mercados não se corrigem sozinhos”.
Diante deste cenário, com o propósito de explorar o desempenho contábil e bursátil
dos bancos brasileiros e verificar: i.) se o mercado previu e; ii.) quando e como os
investidores efetivamente reagiram diante do advento das crises financeira e européia e
respectivas medidas prudenciais adotadas pelo Banco Central do Brasil nos períodos de 2008
até 2012 (Quadro 1), a presente pesquisa objetiva responder a seguinte pergunta:
Como as crises financeira e européia e as medidas prudenciais adotadas pelo
Banco Central do Brasil impactaram o desempenho bursátil e contábil dos bancos
brasileiros?
1.2
Objetivos
1.2.1 Geral
O presente trabalho busca verificar se crises financeiras internacionais (SubPrime e
Crise fiscal européia) e medidas prudenciais adotadas pelo Banco Central do Brasil (ver
Quadro 1, p. 3) influenciaram, de forma estatisticamente significativa, o desempenho do
retorno das ações, bem como o desempenho contábil das instituições financeiras listadas na
Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), no período de junho de 2008 até junho de 2012.
18 1.2.2 Específico
a) Analisar a relação entre o desempenho contábil e o desempenho bursátil da amostra
selecionada;
b) Analisar em quais bancos foram observadas as maiores perdas com captação,
liquidez e volume de crédito.
1.3
Justificativa
O tema desta pesquisa foi selecionado em razão da relevância da crise financeira de
2008 iniciada nos Estados Unidos, a qual rapidamente contagiou as economias no mundo
inteiro e, cujos resquícios estão sendo observados até os dias de hoje, como evidenciado pela
crise aguda que importantes países da Europa estão vivenciando.
Dada a grande representatividade da economia dos Estados Unidos no mundo, a
significativa retração vivenciada na crise de 2008, conjugada à intensa interligação entre os
mercados financeiros internacionais impactaram negativamente a economia global. O impacto
da crise na Europa decorreu não apenas da crise acima mencionada, mas foi intensificado por
problemas criados por si mesmos, como a formação de enorme bolha imobiliária na Espanha
e Reino Unido, desregulação na Islândia, etc. (STIGLITZ, 2010).
Neste contexto, escolheu-se o setor bancário para a realização deste estudo em virtude
da importância do setor bancário na economia, conforme observado pelo sua participação no
Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. Conforme dados do Banco Central, os ativos do
sistema financeiro nacional somaram R$ 5.97 trilhões, equivalente a 136% do PIB Brasileiro
no ano de 2012 (BCB). Soma-se que o mercado financeiro foi um dos segmentos
responsáveis e um dos mais afetados pelo alastramento e agravamento desta crise global.
O tema sobre crise financeira vis-a-vis setor bancário vem sendo amplamente
discutido no setor acadêmico, especialmente se considerarmos a literatura internacional, com
existência de artigos de renomadas instituições como Wharton, Stanford, Columbia, dentre
outras. Estes estudos abordam questões regulatórias, posição de capital e de liquidez, além de
demais assuntos relacionados ao tema. Seguem alguns estudos no Quadro 2 abaixo:
Quadro 2: Alguns estudos sobre crise financeira
Título do estudo
Outras informações
Structural causes of the global financial crisis: a
Crotti, J. Oxford Journals Economics & Social
critical
Sciences Cambridge Journal of Economics, Volume
assessment
of
the
‘new
financial
19 architecture’
33, Issue 4Pp. 563-580
The current economic crisis: its nature and the
Lawson, T. Oxford Journals Economics & Social
course of academic economics
Sciences Cambridge Journal of Economics Volume
33, Issue 4Pp. 759-
Bank lending during the financial crisis of 2008
V Ivashina, D Scharfstein - Journal of Financial
Economics, 2010 - Elsevier
The real effects of financial constraints: Evidence
M Campello, JR Graham, CR Harvey - Journal of
from a financial crisis
Financial Economics, 2010 - Elsevier
Financial Policies, Investment, and the Financial
K Kahle, R Stulz - Fisher College of Business
Crisis: Impaired Credit Channel or Diminished
Working Paper, 2011 - papers.ssrn.com
Demand for Capital?
Financial Crises: Theory and Evidence
Franklin Allen, Ana Babus and Elena Carletti, June
2009
Annual Review
of Financial Economics, November 2009
The Mortgage and Financial Crises: The Role of
William W. Lang and Julapa Jagtiani, February
Credit
2010 Forthcoming in Atlantic Economic Journal, 20
Risk
Management
and
Corporate
Governance
Financial Crisis, Structure and Reform
Franklin Allen, Xian Gu and Oskar Kowalewski,
Journal of Banking & Finance 36 (2012) 2960–
2973
Understanding the subprime mortgage crisis
Y Demyanyk, O Van Hemert - Review of Financial
Studies, 2011 – Soc Financial Studies
Fonte: Quadro elaborado pela autora
Cabe ressaltar, no entanto, que o tipo de pesquisa aqui apresentado ainda não foi
analisado especificamente com rigor metodológico. Desta forma, o presente estudo pretende
contribuir para um conhecimento mais aprimorado sobre a relação entre eventos sistêmicos
específicos relacionados às crises e às medidas prudenciais de liquidez e o desempenho
bursátil e contábil de instituições financeiras.
Finalmente, a escolha do presente assunto também está relacionada à minha atuação
profissional como analista de crédito de instituições financeiras, em que sou responsável pelo
acompanhamento do risco e do desempenho econômico-financeiro apresentado pelos bancos
brasileiros.
20 1.4
Metodologia
Para a operacionalização e análise dos resultados, será utilizada a metodologia de
estudo de eventos e de análise financeira, considerando o desempenho nos períodos ex-ante e
ex-post a cada evento sistêmico selecionado.
1.5
Hipótese testada para o desempenho bursátil
Ho: As crises financeiras internacionais e as medidas prudenciais adotadas pelo Banco
Central do Brasil não afetaram, de forma estatisticamente significativa, o desempenho do
retorno das ações das instituições financeiras listadas na Bovespa.
H1: As crises financeiras internacionais e as medidas prudenciais adotadas pelo Banco
Central do Brasil afetaram, de forma estatisticamente significativa, o desempenho do retorno
das ações das instituições financeiras listadas na Bovespa.
1.6
Limitações
As considerações extraídas da amostra não permitem assumir que os resultados
refletem apropriadamente a relação do trade-off risco e retorno para toda a população de
bancos de capital aberto, haja vista as possíveis diferenças nas políticas de investimento,
financiamento e dividendos que interferem na qualidade dos contratos internos e externos de
relações de agência.
21 2
2.1
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Mercado eficiente
O clássico conceito de mercado eficiente foi introduzido por Fama (1970), inserido,
assim, na Moderna Teoria de Finanças, que dispõe que o ser humano é perfeitamente racional
e capaz de analisar todas as informações disponíveis e formular hipóteses para uma precisa
tomada de decisões.
Neste sentido, Fama definiu a eficiência de mercado como o mercado cujos preços dos
títulos negociados sempre refletem inteiramente todas as informações relevantes disponíveis
logica e instantaneamente. Considera-se, ainda, a inexistência de vantagem de um investidor
sobre outro, na medida em que o anúncio e disseminação da informação ocorrem de forma
igualitária a todos os investidores.
Ainda segundo o autor, o grau de eficiência poderia ser classificado de acordo com o
volume e a profundidade das informações disponíveis.
Assim, a eficiência poderia ser
verificada na forma fraca (quando existem informações disponíveis apenas das séries
passadas de preços), semiforte (informações publicamente disponíveis sobre o desempenho
recente e passado) ou forte (todas as informações estão disponíveis, inclusive as privilegiadas
e estratégicas). Este conceito vem sendo amplamente estudado e tem gerado muitas
controvérsias, em função da contínua busca por estudiosos da determinação de padrões de
comportamento dos mercados que confirme a hipótese de eficiência, o que nem sempre se
verificou empiricamente em todos os casos.
Contudo, apesar das controvérsias e indícios de eventuais incoerências na Teoria de
Mercado Eficiente (como, por exemplo, casos em que empiricamente ocorrem atrasos
significativos na resposta a um evento), ainda não se pode rejeitar a hipótese de que os
mercados agem de forma eficiente, mesmo com algumas discordâncias teóricas.
Portanto, muitos estudos recentes baseiam-se na hipótese de um mercado formado por
investidores racionais e este conceito encontra-se presente em trabalhos desenvolvidos por
Modigliani, Markowitz, Miller, Sharpe, Lucas, Scholes e Merton – todos ganhadores de
prêmios Nobel de Economia (FAMÁ e BRUNI, 1998). O Quadro 3, a seguir, sintetiza as
diferentes formas de eficiência descritas por Fama (1970).
22 Quadro 3: Formas de Eficiência de Mercado
Nível
Forma de Eficiência
Nível I
Forma fraca
Nível II
Forma semi-forte
Nível III
Forma forte
Características
Os preços das ações refletem as informações contidas nos preços
passados. Se os mercados são eficientes nesta forma, torna-se
impossível fazer lucros consistentemente superiores ao estudar
retornos passados. Os preços seguiram um caminho aleatório.
Os preços das ações refletem tanto os preços passados como outras
informações publicas, como divulgação de resultados. Se os
mercados são eficientes nesta forma, os preços se ajustam
imediatamente a informações públicas, como divulgação do
desempenho financeiro do último trimestre, uma nova emissão de
ações, e uma proposta de fusão entre duas empresas.
Os preços das ações refletem todas as informações que podem ser
adquiridas através de uma analise meticulosa da empresa e da
economia. Neste mercado, há investidores com mais sorte ou não,
mas nenhum com retornos superiores o suficiente que possam vencer
consistentemente o mercado.
Fonte: Elaborado pela autora/ Adaptado de Fama e Bruni (1998)
Van Horne (1997, p. 51) reafirma a capacidade do mercado em reagir às informações
novas através da constante atualização dos preços dos ativos comercializados em mercados de
capitais, uma vez que, em muitos mercados os preços dos ativos são ajustados rapidamente
em função do conjunto de todas as informações econômicas, financeiras e da própria empresa.
Fama e Bruni (1998) corroboram esta visão e discorrem sobre a previsibilidade dos mercados
financeiros, em que os preços das ações flutuam em torno do seu valor intrínseco e onde
novas informações podem rapidamente ocasionar mudanças nesse valor em função da
eficiência de mercado, mas o subseqüente movimento do preço do ativo flutua aleatoriamente.
Finalmente, Ross, Westerfield e Jaffe (2002 p. 265-268) descrevem a importância da
avaliação do comportamento dos agentes e do mercado em função de novas informações e,
como estas interferem nos preços das ações.
Por outro lado, em complemento à hipótese de mercado eficiente defendida por Fama
(1970), Assaf Neto (2006, p. 205) determinou como hipóteses adicionais as seguintes
premissas: i.) nenhum participante é capaz de influenciar os preços dos ativos; ii.) o mercado,
de uma forma geral, compreende investidores racionais que investem em alternativas que lhes
proporcionem o maior retorno possível para um determinado nível de risco, ou um menor
risco para uma taxa de retorno especifica; iii.) todos os participantes de mercado possuem,
sem custo e instantaneamente, acesso as informações; iv.) não existe racional de capital num
mercado eficiente, em principio, considerando que todos agentes possuem acesso equivalentes
as fontes de credito; v.) os ativos objetos do mercado são negociados sem restrições e
perfeitamente divisíveis; vi) os investidores possuem conceito igual em relação ao
23 desempenho futuro do mercado.
2.2
Finanças comportamentais
Segundo Haugen (2000, p. 15), os estudos de finanças comportamentais fazem parte
das “Novas Finanças”, sendo que a abordagem principal dessa fase é o mercado ineficiente,
ou seja, esta linha de pensamento financeiro baseia-se em estudos contrários ao
comportamento racional de mercado. Lintner (1998, p. 7), por sua vez, conceitua as finanças
comportamentais como “o estudo de como os investidores interpretam e agem de acordo com
a informação para fazer decisões de investimento”.
Nas últimas décadas foram publicados diversos trabalhos, dos quais destacamos a
pesquisa dos psicólogos Kahneman e Tverski (1979) sobre o comportamento e o processo de
tomada de decisão do ser humano em situações de risco. Nestes estudos, foram observados
que a aversão à perda pode ser considerada como o principal padrão de comportamento e
baseia-se na constatação de que as pessoas sentem muito mais com a perda do que o prazer
com um ganho equivalente. Esse pressuposto contraria a Teoria da Utilidade, preceito
microeconômico, o qual supõe que o investidor avalia o risco de um investimento de acordo
com a mudança que ele proporciona em seu nível de riqueza. Portanto, na abordagem das
Finanças Comportamentais, o agente nem sempre é totalmente racional. Dessa forma, esta
teoria busca identificar como as emoções e os erros cognitivos podem influenciar o processo
de decisão de investidores e como esses padrões de comportamento podem determinar
mudanças no mercado.
Baseando-se na prerrogativa de que as finanças comportamentais sugerem um
princípio de racionalidade limitada, Brav e Healton (2006) consideram a existência de
anomalias financeiras decorrentes de limitações humanas na produção de efeitos econômicos.
Tais anomalias, conforme os autores, divergem dos pressupostos apresentados na Teoria de
Mercado Eficiente.
Conforme Quadro 4 apresentado por Gabriel et al. (2013), seguem as principais
anomalias financeiras identificadas:
24 Quadro 4: Principais tipos de anomalias financeiras
Tipo de Anomalia
Evento
Janeiro
Mudança do Mês
Anomalias de Calendário
Segunda-feira
Anomalias Técnicas
Anomalias Fundamentais ou de
Valor
Uso de Médias Móveis e da
quebra de faixa de negociação
Sobre-Reação
Tamanho
Índice Preço/Lucro (P/L)
Efeito do Evento sobre o
Retorno das Ações
Maiores retornos em relação aos
outros meses do ano
Maiores retornos no último dia e
nos quatro primeiros dias de um
mês
Menores retornos do que nos
demais dias da semana, em
virtude de algumas más notícias
serem divulgadas ao mercado na
sexta-feira após o encerramento
do mercado
Movimentos extremos nos preços
decorrentes de subestimação de
dados anteriores e superestimação
de dados recentes
Maiores retornos ajustado ao
risco das empresas de menor
porte.
Maiores retornos ajustados ao
risco de ações com P/L baixo
Fonte: Adaptado de Gabriel et al (2013)
Cabe ressaltar, segundo Santos et al (2007), os defensores da teoria neoclássica afirmam,
entretanto, que tais anomalias acontecem de maneira aleatória e não provocam resultados capazes
de, quando somados, contrapor-se àqueles previstos pelos modelos baseados em expectativas
racionais. Vários estudiosos, entre eles Eugene Fama, contestam os resultados encontrados pelos
pesquisadores das finanças comportamentais alegando a falta de generalidade.
2.3
Risco sistêmico
Risco é definido como a possibilidade de algum evento ocorrer de maneira diferente da
expectativa do investidor. O risco total de um investimento compreende o somatório do risco
diversificável (risco único) e do risco não diversificável (risco de mercado ou risco sistêmico). O
risco diversificável deriva do fato de que muitos dos perigos que rodeiam uma instituição são
peculiares àquela instituição, eventualmente, aos seus competidores imediatos. O risco de
25 mercado, por outro lado, refere-se ao risco que não pode ser evitado, uma vez que deriva de
fatores que ameaçam todos os negócios (BRIGHAM e EHRHARDT, 2010).
Este é o motivo das ações apresentarem a tendência de se movimentarem juntas e
corresponde ao motivo dos investidores estarem expostos a incertezas do mercado, não
importando quantas ações eles possuam Os fatores que ameaçam todos os negócios são
caracterizados como eventos sistêmicos. Segundo Santos et al. (2008), os eventos sistêmicos
podem resultar de ações concorrenciais, como redução de preço, extensão do prazo de
financiamento; bem como de guerras, greves, atentados terroristas e acidentes naturais e
climáticos.
O retorno das ações negociadas do mercado de capitais inclui o risco esperado e o risco
inesperado, sendo o risco esperado derivado das informações que os investidores têm sobre a
ação que estão investindo, sobre a reação do mercado e sobre as consequências a serem
observadas no futuro. O risco inesperado, por sua vez, caracteriza-se por acontecimentos e
informações não esperadas que ocasionem mudanças anormais no retorno das ações negociadas
(SANTOS et al, 2008). Este é considerado como o risco efetivo de um investimento.
Risco sistêmico é também definido como o risco de que um choque a uma parte limitada
do sistema se propague para todo o sistema financeiro, resultando em sucessivas falências e à
quebra do sistema. O Comitê de Bancos da Basiléia também considera o risco sistêmico como o
risco em que a inadimplência de uma instituição em honrar seus compromissos contratuais
ocasione uma reação em cadeia em todo o sistema financeiro.
A velocidade do contágio da crise financeira de 2008 em outras instituições financeiras,
inclusive nas quais apresentavam condições econômico-financeiras saudáveis antes do efeito
dominó, ocasionou um choque mais amplo e generalizado, atingindo diversos mercados e
segmentos econômicos.
O entendimento da natureza do risco sistêmico é essencial para a avaliação da ocorrência
e propagação das crises financeiras. Allen e Gale (2000) e Freixas, Parigi e Rochet (2000)
analisam o risco de contágio onde a falência de uma instituição financeira resulta na insolvência
de outras instituições financeiras através de um efeito dominó. Este tipo de risco sistêmico é
geralmente usado pelos órgãos reguladores como justificativa para intervenção e recuperação em
instituições que são muito grandes para falir.
26 Nos últimos anos, a inovação do mercado financeiro com a criação de novos instrumentos
financeiros na forma de derivativos de crédito, securitizações e obrigações de dividas
colateralizadas possibilitou uma diversificação de riscos, porém, criou mais similaridades entre os
portfólios, aumentando, assim, a probabilidade de falência e contágio em outras instituições
financeiras similares.
Em geral, a prevenção de risco sistêmico pode ser abordada através de três aspectos:
fortalecimento da regulamentação e supervisão micro-prudenciais; criação de regulamentação e
supervisão macro-prudencial mais robusta para suportar aumento do risco de crises sistêmicas
como resultado da alta interconexão dos sistemas; e, melhorias gerais no procedimentos macroprudenciais. (OH E JUNG, 2012)
2.4 Contágios e crises financeiras
Há diversos estudos acadêmicos que conceituam crises financeiras e contágio, visando,
inclusive relacionar a relação entre ambos. De uma forma ampla, a crise financeira abrange
diversos episódios, como crises bancárias, crises cambiais, inadimplência de dívidas, crises no
mercado de securitização, dentre outros (VIDAL, 2011). Estudos apresentados por Reinhart e
Rogoff (2010) apontam que, de uma maneira geral, as crises financeiras são prolongadas e, como
consequência, compartilham três principais características: i.) Os colapsos no mercado de ativos
são profundos e prolongados; ii.) o rescaldo das crises bancárias está associado à severas quedas
na produção e no nível de emprego e; iii.) o valor da dívida do governo tende a explodir.
Soma-se, ainda, segundo Corsetti, Pericoli e Sbracia (2010) que, em um evento de crise
financeira, são esperadas significativa volatilidade e queda no preço das ações, bem como
aumento de covariâncias e correlações entre os países, contribuindo, assim, para a transmissão
dos choques financeiros para outras localidades. Segundo Vidal, 2011 (apud Bergmann et
al(2010), a definição do termo contágio ganhou destaque a partir da década de 1990, após a
extensão de choques em um mercado para diversos mercados de outros países, sem a explicação
de mudanças em seus fundamentos econômicos.
Bilio e Caporim (2010) distinguem três definições de contágio, seguindo classificação do
Banco Mundial: i.) Definição abrangente, em que o contágio é definido como processo geral de
transmissão de choques entre os períodos, sendo que tais choques podem estar associados a fatos
27 positivos ou negativos em períodos tranquilos ou de crise; ii;) Definição restritiva, em que ocorre
a propagação de choque entre dois países em excesso do que seria esperado por fundamentos e;
iii.) Definição muito restritiva, em que o contágio é interpretado como mudança dos mecanismos
de transmissão em períodos turbulentos.
No Quadro 5, são apresentadas as principais crises financeiras ocorridas nos últimos 15
anos:
Quadro 5: Principais crises financeiras desde 1997
Crise/ Origem
Crise da Ásia/ Hong
Kong
1997-1998
Crise da Rússia/ Rússia
1998
Crise
desvalorização
cambial/ Brasil
Bolha
da
Internet/
Estados Unidos
1999
Crise
Argentina
Argentina/
2001
Ataque Terrorista 11 de
2001
setembro/
Unidos
Período
Estados
2000
Impactos e Consequências:
Crise de confiança, processo de fuga de capitais, desvalorização
cambial e deflação de ativos financeiros na Tailândia, Malásia,
Indonésia, Filipinas, Coréia do Sul e Hong Kong.
Queda do mercado de capitais em Hong Kong em meados de
outubro de 1997.
Circuit breaker da Bovespa acionado pela primeira vez em 1997.
Causa da crise russa em 1998 e desvalorização cambial no Brasil
em 1999.
Desvalorização da moeda russa;
Moratória da dívida externa russa
Calote da dívida interna russa
Aversão a risco e fuga de capitais de países emergentes, como o
Brasil (queda de 63% do Ibovespa) e abandono de sistema de
câmbio vigente.
Queda global dos preços das commodities
Aumento de inadimplência de bancos americanos e europeus:
perda de USD 47 bilhões.
Desvalorização do real após a mudança do regime de câmbio fixo
para flutuante
Supervalorização das empresas chamadas de pontocom após
notável crescimento do segmento entre 1995 e 2001, crescimento
este que levou ao aumento significativo no número de empresas
do setor e em seu valor de mercado.
Falência de quase cinco mil companhias e algumas das maiores
corporações do setor de telecomunicações
Redução das taxas de juros ao longo de 2001, no intuito de
estimular o crescimento econômico.
Congelamento de contas bancárias, desvalorização do peso,
erosão de poupanças
Moratória da dívida externa argentina
Inatividade da bolsa de Nova York, NYSE, New York Securities
Exchange por quarto dias, registrando em sua abertura perdas de
USD 590 bilhões.
Queda de outros índices norte-americanos e bolsas internacionais
Redução drástica do consumo norte-americano, especialmente em
setores como hotelaria e transporte, principalmente aéreo, devido
à intensificação do controle de imigração.
Redução da taxa básica de juros
Abertura significativa de linhas de crédito imobiliário, inclusive
28 Crise
Pré
Eleitoral/
2002
Brasil
Crise Subprime/ Estados
2007-2008
Unidos
Crise Européia/ Europa
2010
para clientes do segmento subprime.
Aumento no risco Brasil de 1.227 pontos, valorização do dólar
para quatro reais (R$ 4,00) e queda no Ibovespa de 65% entre
janeiro e outubro de 2002.
Perda de valor de títulos públicos emitidos pelo Tesouro Nacional
e Banco Central brasileiros
Aversão ao risco: saída de capital do país e inibição de novos
fluxos.
Aumento significativo na relação dívida/PIB.
Redução da produção industrial e do volume de comércio
internacional e quedas expressivas nos mercados acionários.
Queda das importações norte americanas comprometendo a
economia de diversas nações, levando à redução de investimentos
estrangeiros, de preços das commodities e nas bolsas de valores
de todo o mundo.
Retração econômica impactou todos os países, principalmente a
Europa e países que apresentavam uma economia dependente da
exportação de commodities, com quedas expressivas em seus
preços devido à redução das importações.
Quebra de instituições financeiras Americanas e socorro do
governo
Desaceleração econômica
Fonte: Elaborado pela autora/ adaptado de VIDAL (2011)
Considerando que as crises financeira e a européia foram as crises mais relevantes dos
últimos anos, o foco da presente pesquisa está concentrado em seus fatores determinantes e
impacto no retorno das ações e na saúde financeira dos bancos brasileiros.
2.4.1 Crise financeira de 2008
As causas e consequências da crise financeira iniciada em meados de 2007,
desdobramento da crise subprime, vem gerando novas preocupações e questionamentos entre as
autoridades regulatórias e acadêmicos interessados em discussões financeiras, em virtude de sua
severa importância em relação às demais crises ocorridas nas últimas décadas.
Esta crise, iniciada nos Estados Unidos, foi consequência de alta exposição à créditos
hipotecários de baixa qualidade, amparada por um cenário de taxas de juros baixas e condições
financeiras acomodatícias (MESQUITA e TORÓS, 2010).
A crise do subprime iniciou-se em 2006 com a quebra de algumas instituições de crédito
norte-americanas que concediam empréstimos imobiliários para clientes sem comprovação de
renda e com histórico ruim de crédito. O pagamento dos empréstimos ocorria mediante
29 sucessivas renegociações, que, em períodos de valorização contínua dos imóveis, permitia aos
mutuários oferecer o próprio imóvel como garantia.
Concomitantemente a este cenário, as instituições de crédito securitizavam os créditos
imobiliários concedidos ao segmento subprime para bancos de investimentos, gerando
oportunidades para que tais instituições pudessem financiar mais créditos imobiliários de alto
risco. Caramaschi (2007) diz que os bancos compravam as hipotecas subprimes e agrupavam-nas
em grandes carteiras com diversos títulos, segregados por diferentes taxas de juros e classificação
de risco.
Esta operação resultou num índice excessivo e até mesmo desconhecido de
alavancagem de operações de crédito dentro e fora do balanço.
Como as taxas de juros eram pós-fixadas, o aumento das taxas de juros nos Estados
Unidos e, consequente, redução na queda do preço dos imóveis, provocou inadimplência em
massa e situação de insolvência nos bancos.
Em meados de 2007, a crise do crédito imobiliário resultou numa crise de confiança geral
no sistema financeiro e redução de liquidez bancária no mercado norte-americano. As incertezas
sobre a qualidade dos créditos hipotecários combinados à falta de transparência em produtos
financeiros estruturados emitidos com lastro dos créditos hipotecários e altos níveis de
alavancagem resultaram em problemas em dois fundos de hedge gerenciados pelo banco de
investimentos Bear Stearns em junho de 2007. Assim, a aversão ao risco levou investidores a
ajustarem o preço dos imóveis no período.
Esta crise foi alastrada e agravada com a falência do banco de investimento Lehman
Brothers em setembro de 2008, atingindo rapidamente o mercado financeiro global e resultando
num risco sistêmico.
A incerteza relacionada à liquidez e à solvência do sistema financeiro norte-americano
provocou um significativo volume de resgates de cotas e de investimentos por investidores: USD
320 bilhões em uma semana de setembro de 2008, aumentando sensivelmente os custos de
captação dos bancos norte-americanos e restringindo as condições de oferta de crédito doméstica
e internacional. O prêmio médio dos credit default swaps (CDS) de cinco importantes bancos
americanos atingiu o valor recorde de 328 b.p. em 17 de setembro de 2008 (BCB, 2009).
O stress no sistema financeiro resultou na adoção de medidas extraordinárias, como
amplas injeções de recursos no mercado financeiro, reduções de taxas básicas de juros, planos de
resgate e recapitalização de instituições financeiras, aquisição de operações de grupos financeiros,
30 aumento das garantias dos depósitos bancários e implementação de planos de compra de ativos
financeiros considerados tóxicos.
Com a criação do programa Troubled Asset Relief Program (TARP) aprovado pelo
Congresso Norte-Americano através da Lei Emergencial de Estabilização Econômica, (EESA), o
Tesouro Americano adquiriu participações acionárias em importantes bancos norte-americanos
como Goldman Sachs Group, Morgan Stanley, JP Morgan Chase, Cititgroup, Bank of America,
dentre outros. (BCB, 2009)
A degradação da qualidade de crédito sofrida pelo sistema financeiro americano foi
evidenciada pelo incremento substancial no montante de empréstimos e arrendamentos mercantis
em atraso em USD 44 bilhões apenas no quarto trimestre de 2008, sendo quase 70% oriundo de
empréstimos imobiliários. O prejuízo apresentado pela indústria bancária assegurada pela
Federal Deposit Insurance Corporation - FDIC atingiu USD 32.1 bilhões no quarto trimestre de
2008, o primeiro prejuízo trimestral desde 1990. Uma em cada três instituições financeiras
registrou prejuízo no período, sendo que apenas quatro instituições financeiras foram
responsáveis por metade do prejuízo apresentado.
As dificuldades enfrentadas no sistema financeiro norte-americano levaram 78
instituições financeiras seguradas pela FDIC a serem absorvidas por meio de fusões, 12
instituições faliram e 5, receberam assistência da FDIC. Durante o ano de 2008, ocorreram 292
fusões bancárias, além de 25 falências. Soma-se a existência de 252 bancos comerciais e
instituições de poupança com problemas, perfazendo ativos de USD 159 bilhões (BCB, 2009).
No primeiro semestre de 2009, o sistema financeiro permaneceu em processo de
desalavancagem, com instituições ainda detendo, em seus balanços, ativos lastreados em
hipotecas de difícil precificação e enfrentando ambiente macroeconômico adverso, com impactos
deletérios na qualidade do crédito e na lucratividade dessas instituições (BCB, 2009).
Novas medidas continuaram a ser implementadas pelas autoridades norte-americanas para
garantir liquidez e desobstruir os canais de crédito na economia americana. As grandes
instituições financeiras começaram a divulgar resultados melhores do que os esperados pelo
mercado em 2009, especialmente em função de mudanças contábeis e desinvestimentos de
algumas atividades não essenciais. Assim, beneficiando de uma melhoria nos mercados
financeiros, tais instituições acessaram o mercado de capitais para reforçar o capital próprio para
31 enfrentamento de futuras baixas contábeis e iniciar a devolução de recursos públicos captados
pelo TARP.
A melhora no desempenho norte-americano no inicio de 2010 contribuiu para que a
indústria bancária registrasse resultado líquido positivo de USD 18 bilhões no primeiro trimestre,
com tendência positiva registrada nos períodos subsequentes.
2.4.2 Crise européia 2010/2012
Há três fases na relação entre o Euro e a crise da dívida fiscal soberana européia: 1) o
arcabouço institucional inicial do Euro contribuiu para o crescimento de riscos fiscais no período
anterior a crise financeira de 2008; 2) a crise financeira contribuiu para ampliar o impacto fiscal;
3) as restrições impostas pela União Européia também moldaram a duração e o tempo do período
de recuperação pós-crise, juntamente com a resposta política caótica da Europa e falha em ter
instituições para gerenciamento da crise. (LANE, 2012)
A dívida fiscal soberana está intimamente relacionada com a crise bancária e imperfeições
macroeconômicas européias, uma vez que o impacto combinado de recessão doméstica,
dificuldades do segmento bancário e redução de apetite de risco entre os investidores
internacionais contribuíram para a crise atual da Zona do Euro.
As preocupações com a dívida Européia surgiram no final de 2009, considerando que
tanto em 2008 como no início de 2009, o foco de atenção européia estava mais concentrado nas
ações do Banco Central Europeu para endereçar o choque financeiro global, do que nos riscos
fiscais individuais de cada país.
Ao final de 2009, no entanto, o crescimento mais do que esperado de déficit sobre PIB de
alguns países europeus, influenciado por redução de receitas fiscais na Irlanda e na Espanha,
além de recessão e perdas de crédito bancárias em outros países, contribuiu para uma nova fase
da crise da dívida soberana Européia.
Em outubro de 2009, o novo governo da Grécia anunciou projeções de crescimento do
déficit público de 3,7% para mais de 12,7% do PIB, marcando, assim, o início da crise da dívida
soberana européia. O mercado financeiro reagiu agressivamente temendo atraso no cumprimento
das obrigações financeiras da Grécia. As agências de rating rebaixaram a nota de risco soberano
da Grécia de A- em dezembro de 2009 para junk bond no final de abril de 2010. (SEITZ E JOST,
2012)
32 Outros países da zona do Euro também enfrentaram problemas com déficit fiscal
crescente e custos de refinanciamento da dívida soberana com aumento dramático. Esta crise que
parecia estar relativamente localizada na Grécia em 2010, rapidamente se espalhou para Irlanda e
Portugal, atingindo a Itália e a Espanha no segundo semestre de 2011.
Assim, em meados de 2010, o mercado interbancário europeu sofreu grande volatilidade,
resultante de incertezas sobre a efetividade das medidas fiscais em curso na área do Euro, a
capacidade de alguns países obterem recursos para suprir suas necessidades de curto prazo e a
existência de tais recursos para socorrer os mesmos.
Programas de assistência promovidos pela União Européia e pelo Fundo Monetário
Internacional foram estabelecidos através de linhas de financiamento de 3 anos condicionados à
implementação de pacotes de austeridade fiscal e reformas estruturais visando o crescimento,
recapitalização e desalavancagem dos sistemas bancários.
A requisição de Euro 78 bilhões de assistência financeira de Portugal para a União
Européia e para o Fundo Monetário Internacional (FMI) conjugado à percepção de que a Grécia
não cumpriria as metas de ajuste fiscal estabelecidas em meados de 2010 contribuiu para a
manutenção da deterioração no mercado de dívida européia e aversão ao risco por investidores ao
longo de 2011.
Entre maio e junho de 2011, foi estabelecido um novo conjunto de medidas de auxílio
financeiro, o qual representou três importantes mudanças na abordagem de auxílio ao países
europeus com dificuldades fiscais: i.) a previsão de redução nos juros cobrados pelos recursos
provenientes do Estabilidade Financeira Européia; ii.) a extensão do prazo para o pagamento do
empréstimo concedido; iii.) a participação de credores privados por meio de troca de bônus e
recompra com deságio de parte da dívida detida por esses credores (BCB, 2012).
Novas ações de rebaixamento de ratings de Portugal e Grécia juntamente
com a
percepção de que os recursos no montante de 440 bilhões de euros a serem fornecidos pela
Estabilidade Financeira Européia seriam insuficientes para suportar a necessidade de
financiamento de outros países continuaram reduzindo a confiança de investidores. Soma-se o
agravamento da percepção de risco da Espanha e Itália em julho de 2011, em decorrência de altas
taxas de desemprego, elevado nível de endividamento público e modesto crescimento econômico.
Com o objetivo de restaurar a confiança dos investidores, o Banco Central Europeu
começou a fornecer liquidez ao mercado secundário de dívida em agosto de 2011. A deterioração
33 econômica internacional, no entanto, continuou acarretando riscos para a estabilidade financeira
global, em função das incertezas a respeito da capacidade de solvência de países europeus,
contagiando, incluindo o sistema bancário, dada sua elevada exposição a dívidas soberanas de
tais países.
Assim, em dezembro de 2011, a Autoridade Bancária Européia constatou a necessidade
de 114,7 bilhões de Euros para a recapitalização do sistema bancário europeu, sendo 30 bilhões
de Euros para Grécia, 26,2 bilhões de Euros para a Espanha, 15,4 bilhões de Euros para a Itália e
6,9 bilhões de Euros para Portugal. As necessidades de capital para os bancos de Alemanha,
França e Bélgica foram estimadas em 13,1 bilhões de Euros, 7,3 bilhões de Euros e 6,3 bilhões de
Euros, respectivamente (Banco Central, 2012).
Nesse cenário, o Banco Central Europeu (BCE) tomou medidas para garantir a liquidez e
reduzir o custo de financiamento em dólar para os bancos da região. Para tanto, o BCE
reintroduziu a Longer Term Refinancing Operation (LTRO), inicialmente com prazos de seis
meses, em agosto, e de doze meses, em outubro, culminando com a LTRO de três anos ofertada
em dezembro, quando então 532 bancos da região tomaram emprestados €489 bilhões por meio
dessa linha de refinanciamento. Ao mesmo tempo, o BCE ampliou o número de colaterais
elegíveis para essas operações. No entanto, nos primeiros dias de janeiro, havia cerca de €500
bilhões em depósitos dos bancos no BCE, sinalizando que os problemas no mercado bancário
estão mais associados à percepção de risco de contraparte7 do que à falta de liquidez. Para
reduzir os custos de financiamento em dólar, o BCE anunciou acordos bilaterais de swaps de
moeda com diversos bancos centrais.
As medidas de liquidez adotadas pelo BCE melhoraram as percepção de risco no primeiro
trimestre de 2012, a qual foi novamente impactada negativamente no segundo trimestre, pelo
impasse político na Grécia, pelos sinais de fragilidade do sistema bancário espanhol, pela
sustentabilidade fiscal da Itália, além do crescente risco de recessão na Área do Euro.
Conforme Seitz e Jost, 2012, os detalhes dos planos de captação estabelecidos para Grécia,
Irlanda e Portugal apresentaram 6 principais riscos: 1.) Dada a escala dos problemas
macroeconômicos, fiscais e financeiros, um período plausível de ajuste macroeconômico seria
maior do que três anos; 2) Uma consolidação fiscal excessivamente rápida pode agravar
fraquezas no sistema bancário; 3) As metas fiscais não foram condicionais nos estados de maior
representatividade da economia européia; 4) A multa imposta pelo FMI no descumprimento do
34 plano pode encorajar falta de risco moral em obter tais financiamentos quando não realmente
necessários e também compensa os financiadores para risco de inadimplência não trivial; 5) Os
recursos têm sido utilizados para recapitalizar os sistemas bancários, além de cobrir déficits
fiscais regulares; 6) o FMI adota como princípio básico para concessão de linha de financiamento
de que caso o nível de dívida soberana não seja sustentável, há necessidade de que credores do
setor privado concordem em uma redução no valor da dívida pertencida a eles.
2.5 Regulamentação e supervisão bancária
2.5.1 Introdução
A regulamentação e supervisão bancária possuem como objetivo principal o
monitoramento da exposição de risco enfrentado pelas instituições financeiras, visando também o
gerenciamento de um adequado sistema financeiro. A responsabilidade desempenhada pelo
regulador, desta forma, consiste na execução de mecanismos que visem a formação de uma rede
de segurança financeira através de seguro-depósito, garantias e crença das severas consequências
de uma falência bancária sobre o sistema financeiro (Berger et al, 1998).
Segundo Ungureanu (2008), a importância da supervisão bancária reside na criação de um
ambiente regulatório que permita que a qualidade e a efetividade no gerenciamento de risco
possam ser otimizadas para contribuir com um sistema bancário adequado e confiável.
A necessidade da existência de uma adequada regulamentação bancária reside no fato de
que as perdas podem impactar negativamente o resto do sistema financeiro e até uma economia
geral. Se uma parte significativa do sistema bancário é afetada, a infraestrutura financeira de uma
economia pode entrar em colapso, resultando em consequências desastrosas para uma atividade
econômica. (ADAMATI E HELLWIG, 2011). Uma crise do sistema bancário pode contribuir
para a redução de crédito e para o baixo crescimento do PIB. Os bancos influenciam o
crescimento econômico, população, condições no mercado de trabalho e oportunidade
econômicas disponíveis para as pessoas (CAPRIO, BARTH, LEVINE, 2013).
A regulamentação bancária estabelece, então, regras prudenciais para aquisição de um
gerenciamento de risco e arcabouço operacional efetivo, bem como regras de divulgação de
informações para promover disciplina de mercado. A supervisão bancária visa assegurar que na
35 prática as instituições monitorem e gerenciem efetivamente todos os seus riscos relevantes
(UNGURIANU, 2008).
A regulamentação prudencial visa proteger os depositantes e propiciar um estável e
adequado funcionamento do sistema bancário, ao prevenir ou mitigar riscos de insolvências
resultantes de problemas internacionais que possam comprometer outras instituições financeiras
através da quebra de confiança no sistema. A supervisão e a regulamentação do sistema
financeiro tornam-se, assim, fundamentais para prevenir crises, através do controle do risco moral
e do desencorajamento de risco excessivo das instituições financeiras (VERRONE, 2007).
O sistema bancário moderno tem se tornado muito complexo nas últimas duas décadas.
Apesar da introdução de diversos mecanismos de mitigação de riscos, os bancos ainda
permanecem sensíveis a pânicos e resgates como no passado. A diferença é que hoje ocorre
também a fuga de liquidez do mercado de capitais de curto prazo, ao contrário de apenas
depósitos, como antigamente.
A crise bancária global de 2008, problemas bancários na Zona do Euro em 2012, além de
mais de 100 crises bancárias ocorridas no sistema desde 1970 sugerem, pelo menos parcialmente,
falhas na regulamentação e supervisão bancária.
Estes acontecimentos, juntamente com a evolução do mercado financeiro nos últimos
anos têm provocado mudanças nos aspectos de supervisão bancária. Uma supervisão e
regulamentação bancária baseada apenas em uma perspectiva puramente micro prudencial não é
suficiente para manter a estabilidade financeira, exigindo também a adoção de uma perspectiva
macro que avalie e abranja o sistema financeiro como um todo. (HIRTLE ET AL, 2009).
Neste sentido, tantos os reguladores como os bancos têm adotado uma abordagem nova
de supervisão mais orientada ao mercado. O papel de supervisão tem adquirido uma importância
cada vez maior e mais complexa com o intuito de encorajar os bancos a otimizarem o
gerenciamento de seus riscos. O fortalecimento dos requerimentos de divulgação de informações
para todos os acionistas têm mudado a abordagem de supervisão bancária, aumentando a
importância da percepção de orientação ao mercado por bancos e autoridades relevantes.
As autoridades regulatórias das economias emergentes, incluindo América Latina, têm
adotado medidas prudenciais para conter o crescimento de crédito e suportar a manutenção da
estabilidade de seus sistemas financeiros. Estas medidas incluem o uso de recolhimentos
compulsórios, regras mais rígidas de requerimentos de capital, dentre outros. (Mora, et al., 2012).
36 O Comitê da Basiléia, como resposta a crise financeira de 2008, divulgou novos
princípios de capital, como analisado no item 2.5.2; enquanto que, no Brasil, o Fundo Garantidor
de Crédito teve seu objeto social modificado em 2012, visando a contribuição tanto para a
manutenção da estabilidade do Sistema Financeiro Nacional, como para a prevenção de crise
bancária sistêmica.
2.5.2 O Papel da supervisão bancária e o Comitê da Basiléia
O atual Comitê de Supervisão Bancária da Basiléia (Comitê de Basiléia) foi constituído
no final de 1974 como um fórum para bancos centrais e reguladores nacionais discutirem temas
relacionados à instabilidade e à regulamentação do setor bancário internacional.
Composto por representantes dos Bancos Centrais e por autoridades de supervisão
bancária da Argentina, Austrália, Bélgica, Brasil, Canadá, China, França, Alemanha, Hong Kong,
Índia, Indonésia, Itália, Japão, Coréia, Luxemburgo, México, Holanda, Rússia, Arábia Saudita,
Cingapura, África do Sul, Espanha, Suécia, Suíça, Turquia, Inglaterra e Estados Unidos, o comitê
encontra-se regularmente quatro vezes ao ano na sede do Banco de Compensações Internacionais
(BIS – Bank for International Settlements) na Basiléia, Suíça.
Desde sua criação, o Comitê de Supervisão Bancária de Basiléia objetiva fortalecer a
solidez dos sistemas financeiros, através da compreensão de questões supervisórias fundamentais
e do aperfeiçoamento da qualidade de supervisão bancária no mundo (FRANCISCO et al, 2010;
BCBS, 2008).
O Comitê, no entanto, não possui autoridade legal para regulamentar os bancos, apesar de
propor princípios comuns e mecanismos que os bancos centrais nacionais são encorajados a
adotar e a fiscalizar.
As propostas mais importantes em relação aos requerimentos de capital e supervisão são
agregadas em três separados acordos, os quais são conhecidos como Basiléia I, II e III, cuja
evolução e principais características estão descritas na Figura 1 e Quadro 6. Através destes
acordos, o comitê estabeleceu padrões internacionais para requerimentos de capital bancário.
37 Figura 1: Evolução dos Acordos de Basiléia, objetivos e consequências
Fonte: Elaborado pela autora
Enquanto que Basiléias I e II constroem o conceito inicial de requerimento mínimo de
capital, ocorre o desenvolvimento de novos produtos no sistema financeiro, fazendo com que
surjam novas ferramentas para mensurar e monitorar os novos riscos emergentes. Assim, o
Comitê de Basiléia continuamente adapta e aperfeiçoa os princípios regulatórios propostos.
Neste sentido, de forma a fortalecer a capacidade das instituições financeiras de
absorverem choques resultantes de crises econômicas e financeiras, em 2009, o Comitê da
Basiléia, em seu papel de supervisão bancária, divulgou novos procedimentos de requerimentos
de capital, consubstanciados no Acordo de Basiléia III. O acordo proposto, neste sentido, tem
como objetivo responder os efeitos da crise financeira através de um novo regime regulatório
mais rígido, com adoção de métricas internacionais de alavancagem e de liquidez e de medidas
de fortalecimento da qualidade de capital, que force os bancos a melhor se prepararem para
períodos de stress.
Quadro 6: Resumo da evolução das regras dos Acordos da Basiléia I, II e III
Basiléia I
Definições: capital nível 1 e
capital nível 2
Índices e Metas de
Capital
Basiléia II
Basiléia III
Nova definição de capital
Novas proteções de capital
Novo índice de alavancagem
Índices mínimos de capital
mais altos
38 Risco Sistêmico
Requisitos de ativos
ponderados pelo
risco
Risco de mercado
Risco de crédito
Pilar 3 - Disciplina de
mercado
Pilar 2 - Revisão pela
supervisão
Pilar 1 - Risco operacional
Pilar 1 - Risco de mercado
Pilar 1 - Risco de crédito
Medidas de Liquidez
Risco de contraparte
Revisões em securitização
Índice de liquidez de curto
prazo (LCR)
Índice de liquidez de longo
prazo (NSFR)
Fonte: Adaptado pelos autores, PRICE WATERHOUSECOOPERS, 2011
2.5.3 A atuação regulatória do Brasil nas crises
Tão logo a crise subprime eclodiu em meados de 2007, houve sinais de stress entre o
mercado interbancário com redução de liquidez e aumento de aversão ao risco por parte de
investidores.
As autoridades regulatórias em muitos países prontamente atuaram na flexibilização da
politica monetária e na provisão de liquidez das instituições financeiras, revitalizando os
mercados interbancários e preservando os fluxos de capitais para economias emergentes
(MESQUITA E TORÓS, 2010).
“Mesmo economias emergentes, como o Brasil, com regimes cambiais flexíveis,
passaram a apresentar valorização mais intensa de ativos (em parte derivada da antecipação,
confirmada em abril de 2008, da atribuição de grau de investimento à dívida soberana),
aceleração de crescimento, bem como crescentes pressões inflacionarias.” (MESQUITA E
TORÓS, 2010)
Entre Junho de 2007 e de 2008, o índice de bolsa de valores brasileira valorizou 20% em
moeda nacional, o mercado de capitais emitiu R$165 bilhões (5.6% do PIB) e o crédito passou a
representar 36% do PIB, ante 32% em 2007 (MESQUITA E TORÓS, 2010).
Tal cenário, no entanto, mudou abruptamente com o agravamento da crise financeira
internacional em setembro de 2008, com aumento de incerteza e deterioração das perspectivas de
desempenho econômico global, resultando em forte volatilidade e acentuada desvalorização no
mercado acionário brasileiro. O circuit breaker, procedimento que interrompe o pregão por trinta
minutos quando o Ibovespa apresenta oscilação superior a 10% na mesma sessão, foi acionado
três vezes entre setembro e outubro de 2008. (BCB, 2009)
39 As operações de crédito do SFN mantiveram trajetória de significativa expansão até
setembro de 2008, cuja tendência foi interrompida pelas condições desfavoráveis associadas aos
desdobramentos da crise financeira internacional.
Soma-se que a redução da liquidez no mercado externo e a volatilidade da taxa de câmbio
resultaram em aumento do grau de incerteza na economia doméstica, com reflexos sobre a oferta
e a demanda por crédito bancário no último trimestre de 2008. Em consequência disso, verificouse expressivo aferrecimento no ritmo de contratações de crédito, nos financiamentos destinados
tanto ao consumo quanto à atividade produtiva (BCB, 2009).
Instituições financeiras, especialmente as de menor porte, enfrentaram redução de
liquidez em dólares, em função da alta aversão ao risco, resultando numa maior vulnerabilidade
de constrição de liquidez em moeda nacional. Atrelado a isto, ocorreu o efeito conhecido como
“fly to quality”, em que investidores mais aversos ao risco, optaram por investirem em ativos com
garantia explicita ou implícita do governo federal (MESQUITA E TORÓS, 2010).
Estes fatores resultaram no incremento da utilidade da disponibilidade de liquidez no SFN,
com 41 instituições financeiras acessando a reserva entre 6 a 10 de outubro de 2008, ante apenas
3 entre 8 a 12 de setembro de 2008 (MESQUITA E TORÓS, 2010).
O expressivo volume de ativos líquidos mantidos pelas instituições financeiras no início
de 2008, a existência de depósitos compulsórios elevados, os avanços institucionais verificados
nos últimos anos, como a criação do Fundo Garantidor de Créditos (FGC), a eficaz
regulamentação prudencial, o elevado montante de reservas internacionais e a evolução da
supervisão bancária brasileira foram fundamentais para amenizar os efeitos da crise financeira
internacional no mercado doméstico e evitar desdobramentos mais graves para toda a economia
brasileira.
Ainda assim, a perda de depósitos por algumas instituições, a redução nas linhas de
financiamento do comércio internacional e os níveis crescentes de inadimplência nas operações
de crédito pressionavam, no último trimestre de 2008, a liquidez de algumas instituições
financeiras de menor porte, cujo modelo de negócio dependia predominantemente da captação de
recursos de investidores institucionais e da cessão de crédito para os grandes bancos. (BCB,
2009).
40 Apesar do aumento no volume de depósitos nesse período, os grandes bancos reduziram o
ritmo de concessão de operações de crédito e do fluxo de recursos para os bancos de menor porte,
ocasionando o que ficou conhecido no mercado como “empoçamento de liquidez”. (BCB, 2009).
“Entre agosto de 2008 e janeiro de 2009, enquanto o depósitos totais cresciam cerca de
13%, os depósitos em instituições de grande porte aumentaram em 20%, ao passo que os
depósitos em bancos médios e pequenos tiveram quedas de 11% e 23%, respectivamente”
(MESQUITA E TORÓS, 2010).
Desta forma, o Conselho Monetário Nacional e o Banco Central do Brasil adotaram
diversas medidas para restaurar a liquidez das instituições financeiras menores, normalizar a
concessão de crédito e, assegurar, assim, o bom funcionamento do mercado financeiro nacional.
Soma-se o papel fundamental exercido pelas instituições financeiras públicas na concessão de
crédito para retomada do ritmo de crescimento econômico.
Dentre as medidas anunciadas pelo Banco Central, destacam-se dois eventos analisados
no presente estudo: i.) incentivos para aquisição de carteira de crédito de bancos menores através
da liberação de depósito compulsório para os bancos maiores e; ii.) a criação do Deposito a Prazo
com Garantia Especial do FGC (DPGE) com garantia complementar oferecida pelo Fundo
Garantidor de Crédito – FGC para depósitos a prazo até R$ 20 milhões. Estas medidas foram
essenciais para a retomada de liquidez nas instituições financeiras de pequeno e médio portes no
primeiro semestre de 2009.
A recuperação no ritmo de concessões de crédito e redução do volume de operações
vencidas há menos de noventa dias, claramente indicou sinas de rápida recuperação da crise
financeira por parte das instituições financeiras. Ao final de 2009 e primeiro semestre de 2010,
as instituições bancárias privadas já haviam também recuperado em grande parte os níveis de
concessão de crédito, que, juntamente com o papel exercido pelos bancos públicos, contribuíram
para que o volume de crédito do Sistema Financeiro nacional retornasse aos níveis pré-crise,
equivalente a 45% do Produto Interno Bruto.
Este cenário contribuiu para que o Banco Central e o governo começassem
gradativamente a reverter algumas medidas prudenciais previamente adotadas para combater a
crise financeira de 2008.
A robustez da atividade econômica conjugada a riscos de crescimento de inflação levaram
o Banco Central do Brasil a aumentar a taxa básica de juros em 0,5 ponto percentual em janeiro
41 de 2011. Outras medidas visando o gerenciamento de um crescimento agressivo nas operações de
crédito incluíram o aumento do recolhimento compulsório, assim como maior requerimento de
capital para concessão de empréstimos consignados e de financiamentos de veículos de longo
prazo. (MORA ET AL, 2012)
A crescente incerteza no cenário econômico internacional, no segundo semestre de 2011,
no entanto, resultou na desvalorização do Real, queda no mercado acionário e ajustes na estrutura
de taxas de juros, contribuindo, assim, para que o Banco Central revertesse a direção da política
monetária em agosto.
Assim, com o intuito de amenizar os efeitos de desaceleração da atividade econômica
brasileira, o Banco Central começou a reduzir as taxas de juros em outubro de 2011. Em
novembro, o governo flexibilizou algumas medidas prudenciais adotadas em 2010, reduzindo
para zero o Imposto sobre Operações de Crédito, Câmbio e Seguro, ou Relativas a Títulos e
Valores Mobiliários (IOF), até então incidente nas aplicações de não residentes em títulos
privados de longo prazo. O requerimento de capital para empréstimos pessoais até 36 meses e
financiamento de veículos até 60 meses reduziu, enquanto que em dezembro de 2011, os bancos
grandes foram novamente incentivados a adquirir operações interbancárias de bancos menores
através de deduções no recolhimento compulsório de depósito a prazo.
Em 2012, o Banco Central do Brasil manteve a estratégia de afrouxamento da política
monetária, evidenciada pela redução da meta da taxa overnight do Sistema Especial de
Liquidação e Custódia (taxa Selic) de 10,5% em 18 de janeiro de 2012 para 7.25% em 28 de
novembro de 2012, como apresentado pela Figura 2.
42 Figura 2: Evolução da Taxa Selic (%)
Fonte: BCB
2.5.4 Depósito compulsório
Os recolhimentos compulsórios são estabelecidos a partir de um percentual sobre a
parcela de depósitos e/ou outros passivos de uma instituição financeira, podendo os mesmos
serem remunerados ou não (TAKEDA E DAWID, 2009). São depositados no Banco Central em
espécie ou em títulos soberanos de alta liquidez. A regulamentação geralmente especifica o
volume a ser recolhido conforme o tipo de depósito e a moeda, além de estabelecer o período de
retenção e o tipo de remuneração, caso o mesmo seja efetivamente remunerado.
O uso constante do recolhimento compulsório é válido para suportar diversos propósitos
macroprudenciais: 1) O aumento do recolhimento compulsório pode acarretar em aumento de
taxa de juros, redução da oferta de crédito e controle da alavancagem de crédito de tomadores na
economia. Em contrapartida, a redução do mesmo pode facilitar restrições de liquidez no sistema
financeiro, atuando como amortecedor; 2) Pode reduzir a dependência de financiamento externo
no curto prazo ou captação doméstica de atacado, mitigando a vulnerabilidade do setor bancário a
condições de liquidez mais apertadas; 3) Atua como uma ferramenta para alocação de crédito
para facilitar pressões de liquidez, como utilizado pelo Brasil para direcionar recursos de banco
grandes para bancos menores; 4) Desempenha uma ferramenta complementar útil para
43 requerimento de capital em países onde a valorização de ativos é altamente incerta, em função de
falta de liquidez no mercado secundário, por exemplo; 5) Pode ser empregado para capitalização
bancária, quando, por exemplo, o governo aumenta a remuneração do compulsório recolhido para
auxiliar na capitalização, como ocorreu com a Coréia e; 6) Pode substituir alguns efeitos de
política monetária para atingir metas macroprudenciais. Por exemplo, isto torna-se evidente
quando grandes fluxos de entrada de capital alimentam uma rápida expansão de operações de
crédito, colocando o ciclo de crédito em disputa com metas monetárias. Nestes casos, o
requerimentos de compulsório podem substituir incrementos nas taxas de juros. (MORA, ET
AL., 2012).
Segundo Mora, et al. (2012), o uso de recolhimento compulsório vem sendo mais
ativamente utilizado como uma maneira de gerenciar o risco sistêmico, diferenciando-se, assim,
de uma visão antiga que considerava o compulsório apenas como uma política monetária
suplementar para propostas macroeconômicas.
Quando a autoridade monetária utiliza os recolhimentos compulsórios como instrumento
complementar à taxa básica de juros, pode haver ganhos de estabilidade tanto sob a perspectiva
do produto e da inflação quanto do macroprudencial. De modo particular, à medida que aumenta
a importância de objetivos macroprudenciais, além da estabilidade da inflação e do produto,
aumenta a relevância da utilização dos recolhimentos compulsórios. Além disso, note-se que o
uso dos recolhimentos compulsórios se apresenta especialmente importante quando ocorrem
choques no setor financeiro da economia. (ALENCAR ET AL, 2011)
Segundo Mora, et al. (2012), no entanto, apesar do uso de compulsório como medida
prudencial apresentar diversos benefícios, ele também é custoso e possui algumas desvantagens.
De uma forma positiva, os requerimentos de compulsório auxiliam a endereçar a prociclicalidade
de um ciclo de crédito ao acumular um amortecedor em momentos bons que pode ser implantado
em momentos ruins, quando a liquidez está escassa. O mesmo pode também melhorar a estrutura
de captação do sistema bancário, reduzindo a exposição aos bancos e, assim, mitigando um risco
de contágio interbancário. Além disso, o compulsório pode ser usado como complemento para a
política monetária. Negativamente, os requerimentos compulsórios são difíceis de serem
calibrados em função das diversas dimensões que precisam ser consideradas e, podem induzir a
desintermediação financeira, ao transferir riscos de segmentos regulados ou setores do sistema
financeiro para segmentos não regulados.
44 2.5.5 Liberação do depósito compulsório no Brasil
No Brasil, a Lei 4,595 da Reforma Bancária permitiu o recolhimento compulsório sobre
os depósitos das instituições financeiras para ser usado não apenas como instrumento de política
monetária, como também para outras finalidades (Barbosa, 2011). Historicamente, os mesmos
vêm desempenhando um papel importante para a estabilidade do Sistema Financeiro Nacional,
como na introdução do Plano Real em 1994, crise asiática em 1997, dentre outras. Recentemente,
no entanto, os mesmos têm atuado também como instrumentos macroprudenciais, como
evidenciado na ocasião da intervenção do Banco Santos em 2004 e na crises financeira e européia
de 2008 e 2012.
O Banco Central do Brasil tem utilizado os recolhimentos compulsórios para ajustar as
condições de liquidez no sistema financeiro. De fato, logo após a crise financeira de 2008/2009,
além de uma liberação horizontal, o Banco Central do Brasil também permitiu reduções dos
recolhimentos compulsórios de grandes bancos caso fornecessem liquidez para bancos pequenos
e médios. Em 2010, essas ações foram revertidas, como parte da estratégia de conter o
crescimento do crédito em segmentos específicos (TAKEDA E DAWID, 2009 e 2011). Estas
medidas foram novamente implementadas em 2011 como resposta à desaceleração econômica
principalmente ocasionada pela crise européia.
Uma das primeiras medidas anunciadas pelo Banco Central do Brasil para combater os
efeitos da crise financeira de 2008 teve origem com a publicação da Circular 3.407, de 2 de
outubro de 2008. Tal normativo, modificado e até revogado em virtude do anúncio de outras
circulares posteriores, contribuiu para amenizar o impacto de liquidez enfrentado pelos bancos
pequenos e médios resultante da fuga para qualidade provocada pelos investidores. Estima-se que
tais medidas contribuíram para a liberação de aproximadamente 80 bilhões de reais ao sistema
bancário.
A Circular 3.407 dispôs sobre o cumprimento do recolhimento compulsório e do encaixe
obrigatório sobre recursos a prazo, autorizando a utilização de até 40% da exigibilidade do
recolhimento compulsório de depósito a prazo para aquisição interbancária de operações de
crédito de bancos menores com patrimônio de referência nível I abaixo de 2,5 bilhões de reais.
Caso os bancos brasileiros não efetuassem tais operações, o saldo correspondente de depósito a
45 prazo a ser recolhido no compulsório seria depositado no Banco Central do Brasil sem
remuneração.
As medidas de incentivo ao direcionamento de parte dos recursos dos recolhimentos
compulsórios dos bancos de grande porte para compra de carteiras de crédito e para aplicação em
depósitos interfinanceiros de bancos de menor porte, melhoraram a liquidez agregada e sua
distribuição e contribuíram para assegurar a estabilidade do sistema financeiro. A liberação de
parte dos compulsórios possibilitou aos bancos públicos e aos bancos de grande porte
desempenhar papel importante na retomada das concessões de crédito após outubro de 2008.
(TAKEDA E DAWID, 2009).
Posteriormente, em dezembro de 2011, o anúncio da Circular 3.679, novamente
modificado por normativos posteriores, contribuiu para o ressurgimento de tais medidas de
liberação de compulsório, com estimativas de liberação de 30 bilhões de reais para a economia.
Visando otimizar a liquidez do sistema financeiro e possibilitar o alongamento do perfil de
captação das instituições financeiras, o ressurgimento da liberação do compulsório permitiu a
emissão de letras financeiras pelos bancos elegíveis com patrimônio de referência nível I inferior
a 2.2 bilhões de reais.
2.5.6 Seguro bancário
O seguro bancário foi instituído com o objetivo de proteger o sistema de pagamentos da
economia de pânicos financeiros, oriundos da vulnerabilidade operacional dos bancos em
captarem depósitos de curto-prazo e oferecem operações de crédito de prazo mais longo.
(CALOMIRIS, 1990 E OH E JUNG, 2012). Esta vulnerabilidade de incerteza dos depositantes
quanto ao valor do seus portfólios pode resultar em distúrbios que aumentam a probabilidade de
insolvência do sistema bancário, independente do valor agregado dos ativos ou concentração dos
bancos. Isto pode culminar em uma desintermediação geral do sistema bancário, com onda de
saques dos depositantes em virtude de falta de informação sobre a incidência ou grau do choque.
Os custos sociais de tais distúrbios são elevados, uma vez que interrompem a capacidade das
empresas de operarem no mercado bancário através de empréstimos, e, assim, de conduzirem
eficientemente suas atividades operacionais. (CALOMIRIS, 1990).
Entretanto, o seguro-depósito pode contribuir para um alto crescimento da alavancagem
bancária, especialmente se tiverem perdas que prejudiquem a estrutura de capital dos bancos.
46 Faz-se, assim, necessária a adoção de um limite-teto de cobertura de seguro para cada depositante,
o qual geralmente é pequeno, visando, assim, estimular uma melhor disciplina de mercado e
adequado gerenciamento de riscos dos bancos (CALOMIRIS, 1990 E PIFFER, 2013).
A crise financeira de 2008, considerada como a mais séria desde a Grande Depressão em
1929, fez com que os países rapidamente se engajassem em estabilizar o mercado financeiro e em
solucionar os problemas dos bancos falidos através de oferta de liquidez, compra de ativos,
garantias e recapitalização. Ele também reforçaram a cobertura do seguro-depósito e encurtaram
o período de pagamento para proteger os depositantes e restaurar a confiança dos investidores no
sistema financeiro. Esta crise demonstrou a grande importância do sistema de seguro-depósito
como salvaguarda da rede financeira. (OH E JUNG, 2012).
A experiência vivenciada na crise demonstrou que os fundos de seguro-depósitos
desempenham um papel mais proeminente na manutenção da estabilidade financeira, do que
apenas em prover cobertura de pagamentos às instituições financeiras falidas. Há inclusive
argumentos de que algumas funções supervisórias podem ser atribuídas para o fundo de segurodepósito, com o argumento de que as autoridades de supervisão têm incentivos para tolerância
regulatória, o que retarda o processo de solução de falhas e aumenta os custos. (OH E JUNG,
2012).
O Comitê da Basiléia, juntamente com a Associação Internacional de Seguro-Depósito
(International Association of Deposit Insurers) publicou em 2010 um relatório contendo os
princípios essenciais para efetivos sistemas de seguro-depósito, que inclui, dentre outros, clara e
objetiva fixação de objetivos que atendam ao público em geral, mitigação de risco moral,
governança e transparência, associação compulsória das instituições financeiras, cobertura de
seguro definida em normativos com limites e cobertura abrangendo a maioria dos depositantes,
mecanismos de captação bem definidos para rápido reembolso aos depositantes e ferramentas que
permitam identificação prévia de bancos com problemas de saúde financeira. (BCBS, 2010).
2.5.7 Fundo Garantidor de Crédito no Brasil
No Brasil, o Fundo Garantidor de Crédito (FGC) foi constituído em 1995 através da
Resoluções 2.197 e 2.211 do Conselho Monetário Nacional como uma associação civil, sem fins
lucrativos, com personalidade jurídica de direito privado destinada a administrar mecanismos de
proteção, a titulares de créditos contra instituições financeiras.
47 Foi criado especificamente com o propósito de prover o pagamento dos depósitos e outros
instrumentos de captação (letras de câmbio, letras imobiliárias e letras hipotecárias, de emissão
ou aceite de instituição financeira ou associação de poupança e empréstimo em funcionamento no
país) garantidos em caso de intervenção ou liquidação extrajudicial de uma instituição financeira
(COSTA, 2006). Quando implementado, o FGC cobria até 20 mil reais por investidor, montante
que foi aumentado para 60 mil reais em junho de 2006 e, posteriormente, para 70 mil reais em
dezembro de 2010. (OLIVEIRA, et al., 2011)
Teve um desempenho fundamental na reestruturação do sistema bancário brasileiro após a
implementação do Plano Real ao honrar os depósitos de 25 instituições financeiras que foram
liquidadas pelo Banco Central do Brasil no período de 1996 até 2006. (COSTA, 2006).
Nos últimos anos, no entanto, e especificamente após a crise de 2008, o escopo de atuação
do FGC foi incrementado ao atuar como fomentador da liquidez de bancos de menor porte em
2008 e 2009, prevenir intervenções bancárias como ocorreu com o Banco Panamericano em
2010, dentre outros.
Em maio de 2010, através da Resolução 4.087, foi incorporado ao objetivo do FGC a
realização de operações de assistência e suporte financeiro às instituições financeiras, em
situações especiais reconhecidas pelo Banco Central do Brasil. Assim, sua finalidade, além da
proteção aos depositantes e investidores, também incorpora a contribuição tanto para a
manutenção da estabilidade do Sistema Financeiro Nacional, como para a prevenção de crise
bancária sistêmica.
No combate a crise financeira de 2008, por exemplo, a atuação do FGC já havia sido
indispensável para restaurar a liquidez nos bancos de pequeno e médio porte através da: i.)
Estruturação de fundos de investimentos de direito creditório (FIDCs) e aquisição de operações
de crédito de bancos menores; e, especialmente da, ii.) Constituição do Depósito a Prazo com
Garantia Especial (DPGE, DPGE I).
2.5.8 Depósito a prazo com garantia especial (DPGE)
A criação do DPGE é reconhecida como uma das principais medidas que provocaram a
retomada da liquidez e, consequente, a concessão de créditos por parte dos bancos de menor porte.
(Takeda e Dawid, 2009). Normatizado em março de 2009, através da Resolução 3,692/09, o
DPGE é um depósito a prazo sem liquidez diária e resgate antecipado que prevê a garantia do
48 FGC de até 20 milhões de reais por investidor. Com prazo mínimo de 6 meses a 5 anos, no
máximo, as instituições financeiras elegíveis a emitir o DPGE possuem um limite teto de 5
bilhões de reais.
Assim como as demais medidas prudenciais que foram revertidas em 2010, o Conselho
Monetário Nacional emitiu um normativo em dezembro, Resolução 3.931 prevendo a redução de
20% do limite do DPGE por ano para cada instituição financeira a partir de janeiro de 2012,
reduzindo para zero em janeiro de 2016. Segundo Piffer (2013), esta decisão fez sentindo,
considerando que a garantia diferenciada promovida pelo DPGE, só se justificava como solução
para um situação de desordem financeira, não havendo necessidade, assim, de sua manutenção
para além do período de perturbação.
Porém, novamente, em julho de 2012, com a restauração de medidas prudenciais e quebra
do Banco Cruzeiro do Sul, houve a publicação de Resolução 4.115, prevendo a criação do DPGE
com garantia (DPGE II). De acordo com este normativo, o DPGE II pode ser emitido pelas
instituições financeiras e garantido pelo FGC, desde que possuam contra-garantia de recebíveis
dos bancos emissores. A Figura 3 mostra as principais diferenças entre o DPGE I e o DPGE II.
49 Figura 3: Principais diferenças DPGE I e DPGE II
Fonte: Elaborado pela autora/ Informações do BCB
2.6 Análise financeira direcionada aos bancos
A análise do desempenho contábil de instituições financeiras pode ser efetuada através do
Sistema de Rating Uniforme de Instituições Financeiras “Uniform Financial Institutions Rating
System – UFIRS”, o qual é conhecido como Sistema de Rating “CAMELS”. Este sistema de
rating foi constituído pelas agências reguladoras bancárias norte-americanas em 1979 e,
modificado posteriormente em 1996.
50 Outras formas de análise de instituições financeiras são sugeridas por Assaf Neto (2006).
Dada certa similaridade no conceito de análise, adotaremos a metodologia “CAMELS” para o
presente estudo.
Os pilares do “CAMELS” estão divididos em seis aspectos que avaliam os principais
componentes financeiros e operacionais que impactam o desempenho de uma instituição
bancária: adequação de capital, qualidade de ativos, administração, rentabilidade, liquidez e
sensibilidade ao risco de mercado.
Soma-se ainda para a análise contábil do setor bancário, a utilização dos Indicadores de
Solvência Financeira – Financial Soundness Indicadores (FSI) desenvolvidos pelo Fundo
Monetário Internacional - FMI. O FSI, em consonância com a metodologia “CAMELS, visa
suportar as análises macroprudenciais e avaliar as forças e as vulnerabilidades apresentadas pelo
sistema financeiro.
Desta forma, as rubricas contábeis e os indicadores selecionados a seguir para o
desenvolvimento do presente estudo contêm informações sobre o patrimônio líquido, capital
regulatório, ativo total, operações de crédito, depósitos e outros instrumentos de captação,
receitas, despesas e lucro líquido.
Mesmo apresentando um foco no mercado bancário, a elaboração de indicadores
contempla conceitos existentes na análise de demonstrações financeiras de outros segmentos.
Conforme especificam Assaf Neto (2002) e Matarazzo (2003), os indicadores servem para
analisar a estrutura, a liquidez e a rentabilidade de empresas comerciais e industriais.
Schmukler ET.al (2005) avaliam ainda que, no contexto da disciplina de mercado, a
análise dos principais indicadores financeiros dos bancos busca dimensionar a capacidade que os
bancos possuem de honrar suas dívidas.
Por outro lado, cabe ressaltar que uma adequada análise financeira não está relacionada
apenas da adoção de muitos ou complexos indicadores financeiros, mas sim de uma percepção
individual do analista e da seleção discricionária de seus índices preferidos (MIRANDA, 2008).
Antes de abordar detalhadamente a metodologia “CAMELS”, é importante destacar as
particularidades existentes nas demonstrações financeiras dos bancos, os quais diferem de
empresas não financeiras.
51 As instituições financeiras brasileiras adotam procedimentos e critérios contábeis
específicos definidos pelo Plano Contábil das Instituições do Sistema Financeiro Nacional
(COSIF).
O COSIF foi criado em 1987 visando a unificação e uniformização dos procedimentos de
registro e elaboração de demonstrações financeiras do Sistema Financeiro Brasileiro,
contribuindo, assim, para o aprimoramento e acuracidade da análise e avaliação de desempenho
das instituições bancárias brasileiras:
As normas consubstanciadas neste Plano Contábil têm por objetivo uniformizar os
registros contábeis dos atos e fatos administrativos praticados, racionalizar a utilização de contas,
estabelecer regras, critérios e procedimentos necessários à obtenção e divulgação de dados,
possibilitar o acompanhamento do sistema financeiro, bem como a análise, a avaliação do
desempenho e o controle, de modo que as demonstrações financeiras elaboradas, expressem, com
fidedignidade e clareza, a real situação econômico-financeira da instituição e dos conglomerados
financeiros. (Cosif, Normas Gerais).
O Quadro 7 apresenta de uma forma sumarizada, os principais grupos contábeis existentes
nas demonstrações financeiras de um banco:
Quadro 7: Elenco de Contas adotado nas demonstrações financeiras de bancos:
Ativo
Passivo
Circulante e Realizável a Longo Prazo
Circulante e Exigível a Longo Prazo
Disponibilidades
Depósitos
Aplicações Interfinanceiras de Liquidez
Obrigações por Operações Compromissadas
Títulos e Valores Mobiliários
Recursos de Aceites Cambiais, Letras Imobiliárias,
etc.
Operações de Crédito
Obrigações por empréstimos e repasses
Operações de Arrendamento Mercantil
Instrumentos Financeiros derivativos
Permanente
Patrimônio Líquido
Compensação
Contas de Resultados Credoras
Contas de Resultados Devedoras
52 Compensação
Fonte: Cosif e Banco Central do Brasil
Conforme apresentado pelo Quadro 7 notamos que as demonstrações financeiras de um
banco são dividas em dois grandes grupos: ativo e passivo. Como nas empresas não financeiras, o
ativo compreende os direitos a receber e, o passivo, as obrigações a pagar e, ambos, são
classificados conforme sua liquidez. Assim, as operações de curtíssimo prazo incluem
disponibilidades, aplicações interfinanceiras de liquidez e títulos e valores mobiliários no grupo
do ativo; e depósitos a vista, de poupança e interfinanceiros, no grupo do passivo. Cabe ainda
mencionar que as contas de receitas e despesas são agrupadas no passivo, por complementarem o
patrimônio líquido da instituição financeira.
O grupo de demonstrativo de resultados compreende não apenas os custos operacionais
indispensáveis para a manutenção das atividades operacionais do banco, como também as
despesas referentes à captação de depósitos, provisões para crédito de liquidação duvidosa, dentre
outros. No âmbito das receitas, as principais fontes de ganhos são oriundos de operações de
crédito, investimentos em títulos e valores mobiliários e de taxas de prestação de serviços.
2.6.1 CAMELS
Para avaliar o desempenho econômico dos bancos, os reguladores norte-americanos
(Federal Reserve, FDIC e OCC) utilizam o Sistema de Rating Uniforme de Instituições
Financeiras (UFIR), conhecido mundialmente como sistema de rating “CAMELS”.
O “CAMELS” corresponde a um acrônimo dos seis componentes usados para a avaliação
de risco de uma instituição financeira: o “C” de “Capital Adequacy” referente à Adequação de
capital, o “A” de “Asset Quality”, referente à Qualidade de ativos, o “M” de “Management”,
equivalente à capacidade da administração na identificação, mensuração, monitoramento de
controle dos riscos das atividades bancárias e adequação com legislação, o “E” de “Earnings” de
rentabilidade, o “L” de “Liquidity” de liquidez e, finalmente, o “S” de “Sensitivity to Market
Risk”, equivalente à sensibilidade ao risco de mercado.
Segue abaixo uma explicação sumarizada dos seis componentes descritos acima.
53 “C” Capital Adequacy – Adequação de Capital
Conforme Saunders (2000), para garantir a sobrevivência de uma instituição financeira há
necessidade de proteger a mesma contra o risco de insolvência através de sua base de capital. A
base de capital de uma instituição financeira é essencial para proteção de seus credores e para
manutenção da confiança geral no suporte de crescimento consistente de suas atividades no longo
prazo.
Existem duas funções para a adequação de capital bancário: A função compartilhamento
de risco de capital, a qual constitui um amortecedor que permite uma disposição ordenada dos
ativos e protege os detentores de dívidas contra perdas; e a função incentivo de capital, em que,
dado que os acionistas sofrem a perda primária, o capital é usado como um incentivo para evitar
riscos desnecessários (GALE, 2010).
Capelletto (2006) argumenta que o patrimônio líquido constitui o principal componente
para avaliar a situação econômica das instituições, uma vez que um nível adequado de capital tem
a capacidade de suportar, até determinado limite, problemas relacionados a qualidade nos ativos
ou a perda de depósitos.
As principais causas de fracassos de bancos resultam de perdas nas carteiras de
empréstimos, modelos de negócios ruins ou fraudes que reduzem a base de capital da instituição
financeira.
Neste sentido, segundo Wheelock e Wilson (2000), os bancos menos capitalizados
apresentam um risco maior de falência, assim como bancos com altos índices de crédito sobre
ativos, com evidências de carteiras de crédito com baixa qualidade e rentabilidade baixa. Quanto
menor a capitalização de um banco, maior a probabilidade do mesmo ser adquirido.
A adequação de capital de uma instituição financeira não depende apenas da cobertura do
volume absoluto de obrigações com terceiros, mas também da qualidade de ativos apresentada
pela mesma. Desta forma, uma instituição financeira deve manter uma base de capital compatível
com a natureza dos riscos que ela assume, e, demonstrar capacidade de gerenciamento de
controle de tais riscos.
As instituições financeiras devem, neste sentido, atender aos padrões mínimos de
requerimentos de capital estabelecidos pelos seus reguladores, os quais, através dos Acordos da
Basiléia, estabelecem limites de exposição a riscos de crédito, mercado e operacional, em relação
à base de capital apresentada.
54 A importância do capital nos Acordos da Basiléia reflete a crença de que o nível
necessário de capital depende primeiramente dos riscos apresentados pelos ativos bancários. Uma
vez que o capital existe para proteger contra o risco, quanto maior o risco tomado, maior a
necessidade de capital (ELLIOT, 2010). Assim, uma vez que o capital serve como um colchão
contra perdas e, portanto, contra o risco de falência, a tendência dos bancos se envolverem em
atividades de maior risco torna-se reduzida com maior quantidade de requerimentos de capital em
risco (BARTH et al, 2004).
Os requerimentos de adequação de capital desempenham um papel importante no
alinhamento dos incentivos dos donos de bancos com depositantes e credores (BARTH et al,
2004). Neste sentido, apesar do alto custo, as instituições financeiras reconhecem a necessidade
de um colchão de capital e são incentivadas a adotarem uma ótima estrutura de capital, que dentre
outros motivos, lhes proporciona melhora no compartilhamento de risco e redução de custos de
agência (ELLIOTT, 2010).
A mensuração de adequação de capital através da metodologia “CAMELS” considera
elementos como a quantidade e a qualidade de capital, a habilidade gerencial de incremento de
capital, quando necessário, a natureza e o volume de ativos de alto risco e, a exposição às
operações contingenciais.
Desta forma, para efeito do estudo em questão, selecionamos os seguintes indicadores
financeiros para a avaliação da estrutura de capital das instituições financeiras incluídas na
amostra:
•
Índice de endividamento de crédito
Mensura o quociente entre as operações de crédito e o patrimônio líquido de um banco.
Quanto mais alto for o valor deste índice, mais endividada encontra-se a instituição financeira.
Operações de crédito / Patrimônio Líquido.
•
Índice de Basiléia:
Determina o nível de robustez da base de capital de uma instituição financeira de absorver
choques e perdas resultantes de riscos de crédito, risco operacional e risco de mercado.
55 Refere-se a um conceito internacional definido pelo Comitê de Basiléia que recomenda a
relação mínima de 8% entre o Patrimônio de Referência (PR) e os riscos ponderados conforme
regulamentação em vigor (Patrimônio de Referência Exigido - PRE). No Brasil, a relação mínima
exigida é dada pelo “fator F” de 0,11 para todas as instituições financeiras autorizadas a
funcionar pelo Banco Central, com exceção das cooperativas de crédito independentes, conforme
a Resolução do CMN nº 3.490, de 29 de agosto de 2007, e Circular do BC n° 3.360, de 12 de
setembro de 2007.
O Patrimônio de Referência (PR) é a medida de capital utilizada pelos órgãos
reguladores para verificar o cumprimento dos limites operacionais das instituições financeiras. O
Patrimônio de Referência considera somatório do capital de nível I e do capital de nível II, com
as deduções previstas em regulamentações.
O capital nível I, segundo Saunders (2000) é representado pelo capital primário e
encontra-se fortemente relacionado ao valor contábil do patrimônio líquido do banco. Inclui
basicamente o capital social, reservas de capital e de lucros, lucros acumulados e lucro do
período, deduzidos de goodwill.
O capital nível II, conforme definição apresentada por Saunders (2000) compreende um
conjunto variado de recursos secundários de capital. Ele inclui reservas de reavaliação, ajustes de
marcação a mercado de títulos e valores mobiliários e derivativos, bem como instrumentos
híbridos de capital e dívida e dívidas subordinadas.
O Patrimônio de Referência Exigido (PRE) é o patrimônio exigido das instituições
financeiras, decorrente da exposição aos riscos inerentes às atividades desenvolvidas. No Brasil, e
em linha com o Comitê de Basiléia, ele é calculado a partir da soma das parcelas de patrimônio
exigido para a cobertura das exposições aos diversos riscos, conforme a seguinte fórmula:
PRE = PEPR + PCAM + PJUR + PCOM + PACS + POPR + AdicBC
onde:
PEPR - exposições ponderadas pelo nível de risco a elas atribuídos;
PCAM - exposições em ouro, moeda estrangeira e em operações sujeitas à variação cambial;
PJUR - operações sujeitas à variação das taxas de juros;
PCOM - operações sujeitas à variação do preço das mercadorias - commodities;
PACS - operações sujeitas à variação do preço de ações; e
56 POPR - patrimônio exigido para cobertura do risco operacional.
AdicBC é o aumento do valor do PRE da instituição que o Banco Central poderá determinar
eventualmente.
A fórmula apresentada pelo Banco Central para o cálculo do Índice de Basiléia está
representada abaixo, sendo que as instituições financeiras com patrimônio de referência inferior
ao patrimônio de referência exigido encontram-se desenquadradas em relação ao Índice de
Basiléia, não apresentando, assim, patrimônio suficiente para cobertura dos riscos existentes em
suas operações ativas, passivas e fora de balanço.
PR*100 / (PRE/fator F)
Para efeito do estudo em questão, utilizaremos o Índice de Basiléia apresentado pelas
instituições financeiras em suas demonstrações financeiras ou disponíveis no site do Banco
Central do Brasil.
“A” Asset Quality – Qualidade de Ativos
A qualidade de ativos constitui um fator preponderante nos resultados de uma instituição
financeira, constituindo assim, uma fonte de geração ou erosão de capital. Como as carteiras de
empréstimos constituem geralmente o principal ativo do balanço patrimonial de uma instituição
financeira, há necessidade de considerar a qualidade da carteira dos empréstimos de um banco
para avaliar sua idoneidade creditícia.
Neste sentido, a carteira de crédito merece uma análise mais criteriosa quanto ao tipo de
operação (empréstimos pessoais, corporativos, crédito rural, crédito hipotecário, crédito
consignado, dentre outros.), quanto ao prazo, às taxas de juros e condições de garantia, quanto à
distribuição geográfica e por clientes, dentre outros fatores.
Pela metodologia “CAMELS”, a análise do volume de parcela de créditos de baixa
qualidade, considerada non-performing loans (NPLs) constitui um fator importante na avaliação
da qualidade dos ativos de uma instituição financeira.
Pondera-se também na determinação da qualidade de ativos de uma instituição financeira,
sua capacidade de constituir provisões suficientes para cobrir as possíveis perdas de seus ativos
57 (non-performing loans), bem como a relação de perdas efetivas baixadas contra prejuízo sobre o
total da carteira de empréstimos.
A análise da qualidade de ativos de uma instituição financeira está intimamente
relacionada ao risco de crédito. O risco de crédito, conforme Bessis (1998) é definido pela perda
no evento de não pagamento do devedor, ou no evento de deterioração da qualidade do crédito do
devedor. Soma-se a existência de aumento deste tipo de risco não somente pelo inadimplemento,
mas também pela redução da capacidade de pagamento do devedor.
Segundo Saunders (2000), a mensuração do risco de crédito de empréstimos ou
obrigações individuais é fundamental para que uma instituição financeira possa precificar um
empréstimo ou avaliar uma obrigação corretamente e fixar limites apropriados ao volume de
crédito a ser concedido a qualquer tomador, ou a exposição aceitável, a perdas com qualquer
tomador.
A crise do subprime demonstra evidências do impacto do crescimento de inadimplência
sobre a solvência das instituições financeiras. Problemas de qualidade de crédito podem levar
uma instituição financeira à insolvência. Ou, ainda, que podem acarretar perdas significativas de
capital e patrimônio líquido que prejudiquem as perspectivas de crescimento e competição de
uma instituição financeira localmente ou internacionalmente.
Para mensurar adequadamente o risco de crédito, devem ser considerados dois fatores
principais. Uma de ordem quantitativa, relacionado ao montante de crédito concedido, e outra, de
ordem qualitativa, contemplando aspectos relacionados à situação econômico-financeira do
tomador do crédito, ao histórico de inadimplemento, à aplicação dada aos recursos, à moeda, ao
indexador e ao prazo da operação, à atividade econômica predominante e às garantias (Bessis,
1998).
Os seguintes indicadores serão considerados para avaliação da qualidade de ativos de uma
instituição financeira:
•
Índice de Non-performing Loans sobre Operações de Crédito
Este indicador financeiro tem como objetivo identificar problemas com qualidade de
ativos no portfólio de crédito de uma instituição financeira. Conforme definido pelo Fundo
Monetário Internacional, muitos países adotam o conceito de non-performing loans para os
empréstimos cujo principal ou juros encontram-se vencidos e não pagos por 90 dias ou mais.
58 O cálculo deste índice, como demonstrado pela fórmula abaixo, considera a relação de
créditos considerados non-performing sobre o total da carteira de crédito bruta de uma instituição
financeira. Um índice alto e crescente significa deterioração na qualidade de empréstimos de um
banco.
Non-performing loans / Carteira de Crédito Bruta
Para os bancos brasileiros, adotaremos como non-performing loans, o somatório de
operações de crédito classificadas entres os níveis de risco E até H, atraso acima de 90 dias, em
consonância com a Resolução CMN 2.682, de 2000.
•
Índice de Non-performing Loans líquidos de provisões sobre Patrimônio
Líquido
Este indicador, conforme indicado pelo FMI no FSI, visa medir o impacto de possíveis
perdas com a carteira de crédito no patrimônio líquido de uma instituição financeira. Seu cálculo
compreende o valor de non-performing loans líquidos de provisões para créditos de liquidação
duvidosa em relação ao patrimônio líquido, como segue:
Non-performing loans (-) Provisões para créditos de liquidação duvidosa / Patrimônio
Líquido.
“M” Management – Capacidade de Administração
A capacidade de administração visa avaliar a competência dos executivos no
gerenciamento dos riscos de uma instituição financeira, assegurando, assim, saúde financeira,
eficiência e aderência às exigências regulatórias.
Como apontado pelo Federal Reserve (1996), a demonstração de boas práticas de
administração consideram a qualificação dos funcionários, proatividade dos executivos, adoção
de procedimentos internos e controles adequados, auditoria interna, dentre outros fatores.
O setor bancário faz uso intensivo de recursos humanos e tecnológicos, e a redução de
custo é um ponto estratégico para bancos que buscam maior eficiência. A maior concorrência e a
59 comoditização do produto bancário fazem com que seja difícil aumentar a receita. A eficiência
pode permitir que um banco satisfaça mais facilmente aos acionistas, que exigem crescimento de
lucros, sem precisar assumir riscos de forma agressiva.
Desta forma, a capacidade de administração das instituições financeiras analisadas nesta
pesquisa será mensurada através de um índice de eficiência, conforme apresentado a seguir:
•
Índice de eficiência
Com base na metodologia “CAMELS”, o índice de eficiência calculado pelo FSI do FMI
visa avaliar o nível de comprometimento das principais fontes de receitas operacionais
apresentadas por uma instituição financeira (resultado de intermediação financeira e receitas com
prestação de serviços) em relação aos custos da estrutura (despesas de pessoal e despesas
administrativas). Quanto menor for esta relação, como demonstrado pela fórmula de cálculo a
seguir, mais produtivo e eficiente encontra-se o banco.
(Resultado de Intermediação Financeira + Receitas com Serviços) / (Despesas Pessoais
+ Despesas Administrativas).
“E” Earnings – Rentabilidade
O poder de geração de receitas de uma instituição financeira constitui um fator
determinante no sucesso ou no fracasso da mesma no longo prazo, uma vez que considera a
capacidade um banco em criar valor econômico e, ao somá-lo aos seus recursos próprios,
preservar ou aumentar a proteção de risco aos credores.
A rentabilidade recorrente é a primeira linha de defesa de um banco para absorver perdas
relacionadas a crédito ou geradas pelo risco comercial, operacional e de mercado.
Para avaliar a rentabilidade das instituições financeiras selecionadas na amostra,
adotaremos os seguintes indicadores financeiros:
•
Índice de Rentabilidade sobre Patrimônio Líquido
Este indicador, baseado no “CAMELS” mede a relação do lucro líquido com o patrimônio
líquido, com o objetivo de mensurar quanto a instituição bancaria obtém de retorno sobre os
60 recursos próprios investidos. A relevância deste indicador fundamenta-se no fato de que os
resultados constituem o principal elemento de sustentação do capital. Assim, quanto maior for a
relação apresentada, mais lucrativo e menos arriscado apresenta-se o banco.
Lucro Líquido / Patrimônio Líquido
•
Índice de Margem Financeira
Este indicador, baseado no FSI do FMI e alinhado com a metodologia “CAMELS” busca
comparar o resultado de intermediação financeira, excluindo as despesas com provisões, com a
receita bruta de intermediação financeira. Quanto maior o índice, maior a rentabilidade da
instituição financeira em intermediar captações e aplicações.
Resultado de Intermediação Financeira – Provisões / Receita Bruta de Intermediação
Financeira
Considerando que as instituições financeiras analisadas no estudo em questão apresentam
como atividade principal a intermediação financeira, tal resultado corresponde ao ponto inicial
para a formação do lucro líquido.
“L” Liquidity – Liquidez
Segundo Assaf Neto (2002), a liquidez de um banco reflete sua capacidade financeira de
pronto atendimento a demandas por recursos de caixa. A posição de liquidez revela a capacidade
de uma instituição financeira gerar caixa para atender adequadamente suas obrigações financeiras.
A liquidez refere-se à capacidade do banco em vender ativos, ou convertê-los em caixa,
sem incorrer em excessivas perdas. De uma forma mais abrangente, a liquidez bancária
geralmente está relacionada ao casamento de seus recebíveis com suas fontes de captação
(ELLIOTT, 2010).
Uma crise de liquidez pode ser considerada como “o tipo clássico de crise bancária em
que os bancos por alguma razão não podem pagar todas as suas obrigações” (LASTRA e WOOD,
2010).
61 Assim, a falta de liquidez é quase sempre a causa imediata de falência bancária, enquanto
que uma robusta liquidez ajuda uma instituição fraca a permanecer com recursos adequados
durante períodos difíceis.
No entanto, esse elemento torna-se sensível, uma vez que o acesso à captação de recursos
no mercado (interbancário, títulos de renda fixa, derivativos) pode não estar baseado em
relacionamentos de longo prazo, mas sim em percepções de idoneidade creditícia.
Consequentemente, notícias negativas ou outras informações podem provocar interrupções na
captação de recursos.
O Comitê Internacional de Basiléia define liquidez como “a capacidade de um banco
captar aumentos de ativos e cumprir suas obrigações no vencimento, sem incorrer em perdas
inaceitáveis. O papel fundamental dos bancos na transformação do vencimento de depósitos de
curto prazo em empréstimos de longo-prazo contribui para que eles se tornem inerentemente
vulneráveis ao risco de liquidez, em termos de natureza especifica da instituição e que afeta o
mercado como um todo” (BCBS, 2008).
Miranda (2008) considera que a liquidez, no modelo CAMELS, analisa, dentre outros
fatores, a adequação de liquidez, a habilidade de suprimento de necessidades de caixa em
momentos de crise, o acesso ao mercado de capitais. Assim, tendo em vista a importância da
liquidez e capacidade de captação de recursos de uma instituição financeira, foi selecionado o
indicador de liquidez abaixo.
•
Índice de Ativos Líquidos sobre Depósitos
Baseado no “CAMELS” e FSI do FMI, este indicador financeiro procura capturar
descasamentos entre ativos e passivos e prover uma indicação de quanto as instituições
financeiras tomadoras de depósitos podem suportar de resgate de depósitos sem enfrentarem
problemas de liquidez. Quanto maior for o índice apresentado abaixo, maior a liquidez
apresentada pelo banco.
Ativos Líquidos / Depósito Total
62 Onde,
Ativos
Líquidos
compreendem
o
somatório
de
disponibilidades,
aplicações
interfinanceiras de liquidez e títulos e valores mobiliários.
“S” Sensitivity to Market Risk – Sensibilidade ao Risco de Mercado
Este item está totalmente relacionado ao Risco de Mercado apresentado pelas instituições
financeiras. O risco de mercado ocorre quando uma instituição financeira assume uma posição a
descoberto, comprada ou vendida, em títulos de renda fixa, ações, mercadorias e derivativos, e os
preços variam em direção oposta à esperada. Saunders (2000) explica que o aumento da
volatilidade dos preços dos ativos implica em maiores riscos de mercado enfrentados pelos
bancos que fazem operações sem cobertura financeira.
De acordo com Lima, Pimentel (2007), o risco de mercado refere-se ao tipo de risco
oriundo de alterações nos preços dos ativos financeiros. Segundo eles, o VaR “Value at Risk” é
uma medida de gerenciamento de risco de mercado, que junto com outras metodologias, tem o
objetivo de alertar as instituições financeiras sobre o risco que estão correndo, analisando a
adequação do nível de risco ao perfil do investidor e, assim, adequar a carteira ao nível de risco
aceitável.
Desta forma, a melhor maneira de avaliar o impacto da instituição financeira em relação a
sua exposição ao risco de mercado seria através do VaR. Dado que nem todos os bancos
disponibilizam este tipo de informação em suas demonstrações financeiras, a análise da
sensibilidade de um banco ao risco de mercado no presente estudo, levará em consideração a
exposição dos bancos a variações na taxa de juros, no câmbio, nos preços das mercadorias e no
preço das ações em relação ao capital apresentado. Esta análise já está incorporada no cálculo do
índice da Basiléia.
63 3. PANORAMA DO SETOR BANCÁRIO BRASILEIRO
O sistema bancário brasileiro vem passando por diversas transformações desde a
constituição do Banco do Brasil em 1808. Tais transformações, tendo a implementação do Plano
Real em 1994 como uma das mais importantes, marcaram a presença de dois tipos diferentes de
sistemas financeiros.
O primeiro tipo de sistema financeiro foi caracterizado pela forte relevância de bancos
públicos, número limitado de bancos estrangeiros, grande oferta de crédito direcionado,
competição limitada e forte dependência de receitas associadas à inflação. O segundo tipo, por
sua vez, foi marcado pelo redução do número de bancos públicos em contrapartida com uma
maior presença de bancos estrangeiros, maior alocação de créditos livres, existência de bancos
bem capitalizados e lucros não dependentes do fator inflacionário (GOLDFAJN, ET AL, 2003).
A origem do segundo tipo de instituição financeira veio com a implementação do Plano
Real em 1994, quando as medidas introduzidas pelo mesmo forçaram os bancos a adotarem um
novo modelo de negócios. De fato, o Plano Real contribuiu para um processo de reordenamento
da economia brasileira, como abertura ao comércio exterior, mudanças na política industrial
visando maior competitividade internacional; além de reformas no ordenamento constitucional,
especialmente no âmbito econômico e estrutural do setor público.
Tal reordenamento econômico revelou o grau de ineficiência de alguns setores comerciais
e industriais no desenvolvimento de produtos e serviços ágeis e competitivos, resultando na
incapacidade de honrar compromissos financeiros obtidos juntos aos bancos. O aumento da
inadimplência bancária conjugado ao desaparecimento de ganhos inflacionários demonstraram a
fragilidade de algumas instituições bancárias, as quais não foram capazes de sobreviverem no
novo cenário econômico.
Em resposta a situação de solvência das instituições financeiras, as autoridades
regulatórias adotaram procedimentos para reestruturar e fortalecer o sistema financeiro, como a
instituição do Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento do Sistema Financeiro
(PROER) e do Programa de Incentivo à Redução do Setor Público Estadual na Atividades
Bancária (PROES), bem como a criação do Fundo Garantidor de Crédito (FGC). Soma-se ainda
neste período a adoção dos Princípios da Basiléia, reforçando o compromisso dos órgãos
reguladores no fortalecimento da regulamentação e supervisão bancaria.
64 Diante deste cenário, foi observada uma grande reestruturação do Sistema Financeiro
Brasileiro, com 40 intervenções realizadas pelo Banco Central entre 1994 a 1997. Com isso, o
número de instituições bancárias reduziu de 264 em 1994 para 217 em 1997 e, posteriormente,
para 164 em 2003. (GREGÓRIO, 2005). Soma-se o aumento da consolidação bancária no
período, também influenciada pela flexibilização de normas de entrada de bancos estrangeiros,
em um primeiro momento; e por uma onda de fusões e aquisições conduzida pelo próprio
mercado, em um segundo momento.
A reestruturação econômica e bancária pós-Real contribuiu para que as instituições
financeiras adotassem parâmetros mais seletivos de concessão de crédito, levando os bancos a
privilegiarem aplicações em títulos públicos federais. Esta abordagem mais conservadora foi
intensificada com as inúmeras crises econômicas subsequentes: Crise Mexicana em 1994, Crise
Asiática em 1997, Crise Russa em 1998, Crise Argentina em 2001 e Crise Pré-eleitoral em 2002.
A representatividade das operações de crédito sobre o PIB reduziram de 36% em 1994 para 24%
em 2002. (GREGÓRIO, 2005).
No entanto, a estabilidade econômica observada a partir de 2003 contribuiu para a
redução da rentabilidade de ativos de maior liquidez, motivando os bancos brasileiros a
aumentarem a oferta de crédito; movimento, este que perdurou até setembro de 2008, quando
eclodiu a crise financeira. Assim, a representatividade das operações de crédito sobre PIB
retornou aos parâmetros observados à época da implementação do Plano Real, atingindo 35,5%
em dezembro de 2007.
Entre 2005 e 2007, ocorreu uma onda de bancos que abriram capital na Bolsa de Valores
de São Paulo, impulsionados por motivação econômica, associando oportunidades de
crescimento a períodos de liquidez acentuada na economia (SCHIOZER, R ET AL, 2010).
Em 2007, onze instituições financeiras de pequeno e médio porte, com patrimônio
liquido inferior a R$ 7 bilhões, captaram mais de R$ 6 bilhões em ofertas de ações primárias e
secundárias (MESQUITA E TORÓS, 2010). Esta oferta pública inicial constituiu uma importante
fonte de capital, permitindo a expansão de depósitos e ativos do sistema financeiro brasileiro.
A crise financeira de 2008, no entanto, interrompeu o ciclo de crescimento do segmento
bancário, ao provocar forte volatilidade no mercado acionário brasileiro, aumentar a aversão ao
risco por parte dos investidores, reduzir a liquidez nos mercados interno e externo e frear o ritmo
de concessão de crédito como contenção ao crescimento da inadimplência. Além das diversas
65 medidas adotadas pelos órgãos reguladores para combater a crise, destacaram-se também a
contribuição do sistema financeiro público na concessão de crédito no Brasil, notadamente Banco
do Brasil, BNDES e Caixa Econômica Federal. A atuação anticíclica dos bancos públicos foi
essencial na retomada da concessão de crédito no Brasil, impulsionando a retomada do
crescimento econômico. (FREITAS, 2011). Com isso, os bancos públicos aumentaram sua
participação de mercado no sistema bancário de 34,3% em junho de 2008 para 36,1% em
dezembro de 2008 e 41,4% em dezembro de 2009.
Com a recuperação da crise financeira no final de 2009 e início de 2010 pela reativação
da crescimento da atividade econômica, bem como dos planos de investimentos da indústria, os
bancos brasileiros, notadamente os bancos privados, restauraram suas estratégias de crescimento,
evidenciado pela expansão anual do volume de crédito equivalente a 20,6% em 2010. Soma-se a
trajetória decrescente da inadimplência bancária no período como fator motivacional para
ampliação da oferta de crédito com taxas de juros mais atrativas e prazos mais longos.
Pressões inflacionárias conjugadas à agressiva expansão das operações de crédito,
sobretudo em financiamento ao consumo, resultou na reversão gradual das medidas anticíclicas
adotadas pelo governo e Banco Central do Brasil no período da crise no final de 2010. Com isso,
a expansão de crédito foi mais moderada ao longo de 2011, conforme evidenciado pelo
crescimento de 19% em comparação ao ano anterior. (FREITAS, 2011)
Apesar da manutenção de bons indicadores econômicos, como elevação da renda, baixo
nível de desemprego e aumento na participação do crédito direcionado, a inadimplência do setor
apresentou uma trajetória crescente ao longo de 2011. Esta tendência refletiu basicamente ao
aumento do comprometimento de renda das famílias, além da elevação dos juros até o terceiro
trimestre e do aferrecimento da economia no final do ano. O crescimento do PIB foi apenas de
2,7% em 2011, já refletindo os impactos da crise européia. Com isso, os bancos começaram a
adotar parâmetros mais rígidos na concessão de crédito, preferindo a alocação de recursos em
ativos mais líquidos.
O Banco Central, juntamente com o governo, prontamente restabeleceu algumas medidas
anticíclicas ao final de 2011, visando, assim, recuperar o nível de atividade econômica brasileira
ao longo de 2012.
Apesar de tais medidas, o crescimento do PIB em 2012 foi modesto em 0,9%. A menor
velocidade da expansão de crédito foi mantida no período, através do incremento de 16,4% em
66 comparação a 2011 e, registrando, assim, um ritmo mais sustentável de aumento no longo prazo.
Os bancos públicos lideraram o crescimento creditício no período, ao adotarem um movimento
liderado pelo governo de redução de taxas de juros cobradas nos empréstimos. A taxa básica de
juros permaneceu em queda, atingindo 7,25% em outubro de 2012. A inadimplência de pessoa
física, por outro lado, começou a reduzir, suavizando a inadimplência geral do setor.
De uma maneira geral, os relatórios de estabilidade financeira preparados semestralmente
pelo Banco Central do Brasil demonstram a solidez do sistema bancário brasileiro, evidenciado
pela alto nível de capitalização, liquidez e rentabilidade. Testes de estresse conduzidos pelas
autoridades regulatórias demonstram a manutenção de robusta estrutura de capital dos bancos
brasileiros, mesmo em cenários de extrema deterioração da situação econômica.
Um relatório apresentado pelo Fundo Monetário Internacional em julho de 2012 corrobou
com tal afirmativa, ao considerar o sistema financeiro brasileiro sólido, bem capitalizado, líquido
e com alto nível de provisão contra a inadimplência. As medidas anticíclicas anunciadas pelo
Banco Central do Brasil foram consideradas rápidas e eficazes, permitindo que o Brasil e o
sistema financeiro brasileiro reagissem adequadamente à crise financeira de 2008.
A Tabela 1 apresenta a média dos principais indicadores contábeis apresentados pelo
Sistema Financeiro Brasileiro nos períodos de 2007 até 2012.
Tabela 1: Evolução dos Highlights financeiros do Sistema Financeiro Nacional
Valores em milhões de reais
Ativo Total
Operações de Crédito
Non performing loans
Depósitos
Patrimônio Líquido
Resultado de Intermediação Financeira
Despesas com Provisões de Crédito
Despesas Pessoal e Administrativas
Receita com Serviços
Lucro Líquido
Índice da Basiléia
Capital Nível I
Crédito/ Patrimônio Líquido
Eficiência
Non performing loans/carteira de crédito
bruta
Rentabilidade sobre Patrimônio Líquido
2007
2.559.108
935.973
75.192
926.734
249.919
149.749
33.433
104.063
59.058
57.423
17,3%
13%
375%
201%
2008
3.295.992
1.227.294
95.228
1.274.828
299.140
146.093
52.176
108.614
59.240
52.913
17,7%
14%
410%
189%
2009
3.610.296
1.414.304
127.084
1.325.663
345.065
195.819
72.448
123.447
62.371
52.258
18,8%
15%
410%
209%
2010
4.385.829
1.705.890
124.530
1.491.305
432.934
225.423
57.346
140.295
72.862
67.135
17,1%
14%
394%
213%
2011
5.135.489
2.029.998
158.340
1.701.528
477.832
239.625
79.132
156.735
83.508
72.357
16,3%
13%
425%
206%
2012
5.966.748
2.359.634
179.332
1.766.826
523.789
269.543
97.542
172.420
92.091
66.860
16,4%
12%
450%
210%
8,0%
23,0%
7,8%
17,7%
9,0%
15,1%
7,3%
15,5%
7,8%
15,1%
7,6%
12,8%
67 Fonte: Elaborado pela autora/ Dados do Banco Central do Brasil
3.1 Estrutura do setor financeiro no Brasil
Em 31 de dezembro de 2012, o Sistema Financeiro Nacional era composto por 2.088
instituições, incluindo 137 bancos múltiplos, 22 bancos comerciais, 14 bancos de investimento, 4
bancos de desenvolvimento e 1 Caixa Econômica. Soma-se a existência de 1.254 cooperativas de
crédito e 222 administradoras de consórcio.
Considerando apenas o rol de bancos múltiplos, comerciais e a Caixa Econômica, o
sistema bancário abrangia em 2012, 160 instituições financeiras, das quais 151 com controle
privado e 9 com controle público, como demonstrado na Figura 4:
Figura 4: Forma de controle do capital das instituições financeiras
Fonte: Elaborado pela autora/ Banco Central do Brasil
Apesar do grande número de bancos no Brasil, o sistema bancário brasileiro é altamente
concentrado em poucas instituições. Os 5, 10 e 20 maiores bancos, respondiam, respectivamente,
por 68,8%, 84,6% e 90,6% dos ativos totais ajustados do Sistema Financeiro Nacional em 31 de
dezembro de 2012.
68 A Tabela 2 apresenta os maiores bancos por ativos ajustados (sem operações
compromissadas) em 31 de dezembro de 2012. Os bancos grandes caracterizam-se por oferecem
uma variedade grande de produtos e serviços financeiros, variando de empréstimos pessoais e
corporativos a operações estruturadas de mercado de capitais, seguros, capitalização e fundos de
investimentos. Estes bancos, juntos, detêm 91% da rede de distribuição bancária brasileira, além
de possuírem milhares de correntistas. Este amplo leque de atividades e perfil de atividade
permite que os mesmos se beneficiem de uma grande penetração de produtos financeiros por
cliente e baixo custo de captação para financiamento de suas atividades. Dada a sua grande
representatividade no sistema financeiro, e, consequentemente na economia brasileira, são
considerados grandes demais para falir.
As instituições menores, por sua vez, são basicamente consideradas bancos de nicho, uma
vez que suas atividades são basicamente concentradas em poucos produtos financeiros com foco
para atender as necessidades de um determinado público. Além de possuírem uma limitada rede
de distribuição, apresentam um base de captação cara, volátil, de curto prazo e concentrada,
decorrente de uma base de investidores de atacado, geralmente institucionais qualificados, como
seguradoras, fundos de pensão e empresas de capitalização.
Em geral, podemos classificar as atividades destes bancos em quatro grandes categorias,
como abaixo:
1.)
Bancos com foco em empréstimos de capital de giro e financiamento ao comércio
exterior para empresas de médio e grande portes. Neste nicho, as operações de crédito são
geralmente de curto prazo e colateralizadas por recebíveis. Alguns exemplos são Banco Pine,
Banco ABC Brasil, embora os mesmos ainda concentrem em operações de crédito ao segmento
de upper-middle ou low-corporate.
2.)
Bancos com foco em empréstimos pessoais e financiamento a veículos para
pessoas físicas. As operações de crédito são geralmente de longo prazo e bem diversificadas por
número de clientes. Dentre os empréstimos pessoais, destacam-se as operações de crédito
consignado, cujo pagamento ocorre mediante desconto na folha de pagamento. O Banco
Panamericano encontra-se classificado nesta categoria.
3.)
Bancos mistos com foco em empréstimos para empresas de médio porte e para
pessoas físicas. Nesta categoria, temos como exemplo o Banco Daycoval.
69 Tabela 2: Maiores bancos por ativos ajustados em 31 de dezembro de 2012.
Fonte: Banco Central do Brasil/ Valores em milhares de Reais.
70 4.
METODOLOGIA
4.1 Introdução
Os detalhes dos procedimentos adotados na presente pesquisa são apresentados neste
capítulo. Primeiramente, explicam-se a metodologia e a técnica aplicada, para, então, descrever a
amostra e os dados selecionados. Finalmente, são apresentadas as metodologias utilizadas para o
desenvolvimento das análises financeiras e bursátil dos bancos brasileiros. Destacam-se, então, o
método de estudo de eventos, o método de análise financeira e o tratamento dos dados
mensurados no trabalho em questão.
4.2 Método e Técnica de Pesquisa
Quanto à abordagem, a presente pesquisa é considerada quantitativa, uma vez que se
baseia em variáveis numéricas relacionadas ao preço das ações e a dados contábeis obtidos no
Yahoo finance e na ferramenta de rating Austin Asis, respectivamente. Busca-se, assim,
averiguar o impacto de eventos sobre o desempenho bursátil e econômico-financeiro do sistema
bancário após a crise financeira de 2008.
De acordo com Fonseca (2002), a pesquisa quantitativa é baseada na objetividade e, tendo
como referência o positivismo, retrata a realidade a partir de dados brutos, obtidos com o auxílio
de instrumentos padronizados e neutros. A linguagem matemática auxilia na descrição das
causas de um fenômeno, as relações entre as variáveis, dentre outros.
Uma vez que esta pesquisa é baseada em eventos ocorridos no passado, sem influência
alguma do pesquisador quanto aos fatos e resultados obtidos, a mesma pode ser considerada
como ex-post facto. Tal tipo de pesquisa objetiva relacionar causa e efeito de um determinado
fato identificado e um fenômeno ocorrido posteriormente.
Soma-se, ainda, que, como o presente trabalho objetiva esclarecer se a ocorrência de
determinados eventos contribui para a observação de alguns fenômenos, não visando, assim,
explicar o fenômeno em sua totalidade, esta pesquisa, quanto ao seu objetivo, pode ser
considerada explicativa, segundo Vergara (2000).
71 De acordo com Raupp e Beuren (2006), um vez que a pesquisa explicativa tem a
necessidade de explicar os determinantes na ocorrência dos fenômenos, procurando responder à
questão-problema, ela torna-se mais complexa, delicada e mais suscetível a erros do que os
demais tipos de pesquisa.
4.3
Definição da amostra
O grupo de instituições financeiras brasileiras listadas na Bolsa de Valores de São Paulo
(BOVESPA) foi selecionado como unidade de análise, contribuindo, assim, para a delimitação do
foco de estudo para o desenvolvimento da presente pesquisa.
Desta forma, a amostra escolhida é considerada, conforme Fonseca (2002) como
intencional, ao ser escolhida propositalmente pelo pesquisador. A mesma abrange um grupo de
dez bancos brasileiros com registro na BOVESPA, classificados quanto ao porte.
O Banco Central do Brasil, através do Relatório de Estabilidade Financeira do Banco
Central (2012), apresentou a definição do porte das instituições financeiras, como segue:
“O porte da instituição financeira é determinado considerando-se o ativo total ajustado,
calculado de forma consolidada. As instituições financeiras cuja participação relativa no total dos
ativos exceda a 15% são consideradas de grande porte e são retiradas do rol de instituições a
serem classificadas. As instituições restantes são classificadas em ordem decrescente de
participação, e o porte é obtido por meio dos seguintes critérios: i.) as instituições que compõem
a faixa de 0% a 75%, inclusive, do montante de participação acumulada no total de ativos do
Sistema Bancário são consideradas de grande porte;ii.) as instituições que compõem a faixa entre
75% e 90%, inclusive, de participação acumulada são consideradas de médio porte; iii.) as
instituições que compõem a faixa entre 90% e 99%, inclusive, são consideradas de pequeno
porte; e iv.) as demais instituições, que compõem a faixa acima de 99% até 100%, são
consideradas de microporte”.
Dada a limitação de dados disponíveis para proceder esta classificação de forma precisa, a
segregação de subgrupos de instituições financeiras quanto a porte foi simplificada, ajustada
intencionalmente conforme o volume de seus ativos. Assim, para a presente pesquisa, foi
considerado como banco de grande porte, a entidade que apresentasse ativo total ajustado e
patrimônio líquido superiores a R$ 150 milhões e R$ 20 milhões, respectivamente, em 31 de
72 dezembro de 2012. O demais bancos foram considerados de porte pequeno/médio. Os dados
foram obtidos junto ao website do Banco Central do Brasil através do ranking dos maiores
bancos por ativos.
Sendo assim, com base no registro de instituições financeiras listadas na BOVESPA e
informações financeiras obtidas junto ao website do Banco Central através do ranking dos
maiores bancos por ativos de dezembro de 2012, obteve-se a amostra apresentada no Tabela 3:
Tabela 3: Amostra dos bancos analisados na pesquisa
Instituições
Porte
Ticker Bovespa
Banco do Brasil
Grande
BBAS3
Itau Unibanco
Bradesco
Panamericano
ABC Brasil
Banco Daycoval
Banco da Amazônia
Banco Pine
Banco Sofisa
Banco Indusval
Grande
Grande
Médio
Médio
Médio
Médio
Médio
Médio
Médio
ITUB3/ ITUB 4
BBDC3
BPNM4
ABCB4
DAYC4
BAZA3
PINE4
SFSA4
IDVL4
Tipo de Ação
Analisada
Ativo total (R$
mil) em 31Dez12
Ordinária
Ordinária/
Preferencial
Ordinária
Preferencial
Preferencial
Preferencial
Ordinária
Preferencial
Preferencial
Preferencial
1.087.268.923
Patrimônio
líquido (R$ mil)
em 31Dez12
66.350.927
951.222.533
755.467.474
18.331.868
13.489.543
13.017.369
10.517.798
10.408.176
4.532.471
4.033.745
82.825.221
70.236.524
2.804.703
1.679.473
2.203.507
2.030.163
1.219.947
786.267
587.200
Fonte: Elaborado pela autora/ Dados do Banco Central do Brasil e BM&F Bovespa
4.4 Origem e tratamento dos dados
Conforme orientado por Gerhardt e Silveira (2009), “a coleta de dados é a busca por
informações para a elucidação do fenômeno ou fato que o pesquisador quer desvendar. O
instrumental técnico elaborado pelo pesquisador para o registro e a medição dos dados deverá
preencher os seguintes requisitos: validez, confiabilidade e precisão”.
Para o desenvolvimento deste trabalho, os dados são classificados como secundários e
foram selecionados eletronicamente através de websites, conforme apresentado no Quadro 8.
Quadro 8: Fonte dos dados da pesquisa
Dado
Bancos listados na
BOVESPA
Período / Data
Pesquisa
em
Fevereiro de 2013
Finalidade
Definição
da
amostra
Fonte
Website da BM&F
Bovespa
Observações
Foram excluídos
os bancos que não
73 Maiores
bancos
por ativos
Dezembro de 2012
Definição
amostra
da
Preço diário das
ações dos bancos
definidos
na
amostra
Junho de 2008 até
junho de 2012
Análise
bursátil
dos bancos através
do método de
estudo de eventos
Dados contábeis
mensais
e
trimestrais
Junho de 2008 até
junho de 2012
Análise
econômicofinanceira
dos
bancos através de
indicadores
financeiros
Website do Banco
Central do Brasil:
informações
contábeis
(50
maiores bancos)
Website da Yahoo
finance
Austin Asis
apresentaram
retorno de ações,
bem
como
o
Santander e o BTG
Pactual
que
abriram
capital,
respectivamente,
em outubro de
2009 e em abril de
2012.
-
Foram excluídos
os bancos que não
apresentaram
retorno de ações,
bem
como
o
Santander e o BTG
Pactual
que
abriram
capital,
respectivamente,
em outubro de
2009 e em abril de
2012.
-
Fonte: Quadro elaborado pela autora.
4.5 Período
O período selecionado para a elaboração do desempenho econômico-financeiro foi de
junho de 2008 até junho de 2012, abrangendo um intervalo de 4 anos. Ressalta-se, entretanto, que
para a análise do desempenho bursátil dos bancos brasileiros após os eventos selecionados, o
intervalo de análise compreendeu uma janela de 0, 5, 10 e 20 dias antes e depois dos mesmos.
A delimitação do período, embora possa ser considerada arbitrária, decorreu da
necessidade de verificar o comportamento bursátil e econômico-financeiros dos bancos
selecionados na amostra num intervalo de tempo anterior e posterior aos eventos selecionados
para o desenvolvimento da pesquisa.
74 4.6 Método e tratamento de análise de dados
Para a análise do desempenho econômico-financeiro dos bancos listados na BOVESPA
foi utilizado o método de análise financeira. Para operacionalização desta metodologia, foram
utilizados os indicadores financeiros apresentados no Referencial Teórico da presente pesquisa.
Para obtenção destes indicadores, foi desenvolvida uma planilha contendo os dados contábeis dos
bancos da amostra obtidos junto a ferramenta de análise de ratings Austin Asis.
Para o estudo do comportamento bursátil dos bancos brasileiros e, consequente,
verificação das hipóteses levantadas na pesquisa, foi utilizado o método de estudo de eventos,
conforme apresentado a seguir.
4.7 Estudo de Eventos
Para investigar o impacto das crises e medidas prudenciais sobre o retorno das ações
ordinárias das instituições bancárias brasileiras listadas na Bolsa de Valores, considerou-se o
método de Estudo de Eventos. Campbell, Lo e Mackinley (1997) definem estudo de evento como
a metodologia que permite mensurar o efeito de um evento econômico no valor de uma empresa
específica.
Como o método visa quantificar o impacto de uma informação pública no comportamento
dos preços dos títulos, este é muito utilizado para aferição da eficiência do mercado em sua forma
semi-forte, de que os preços dos ativos refletiriam imediatamente o efeito de um determinado
evento tornando-o público. Para mensurar o impacto de um determinado evento, o método de
estudo de evento utiliza um modelo de retorno normal ou esperado, o qual é considerado como o
retorno que o título teria caso o evento analisado não tivesse ocorrido. Calcula-se a diferença
entre o retorno esperado fornecido pelo modelo e o retorno observado no período de análise com
o intuito de identificar se houve um comportamento anormal nos períodos posteriores ao evento
especifico objeto do estudo. Busca-se, assim, caracterizar como estatisticamente significante a
influência do evento sobre o comportamento do título, nos dias posteriores ou mesmo na data do
anúncio de um evento. O retorno anormal é considerado um desvio dos retornos dos títulos ex
ante não condicionados ao evento (KLOECKNER, 1995).
75 4.7.1 Retornos Normais e Anormais
O estudo de evento consiste em avaliar o comportamento de uma variável (neste caso o
preço das ações ordinárias) a partir da ocorrência de um evento específico. A principal idéia é
calcular se o evento ocorrido gerou algum desvio no resultado esperado. Este desvio no resultado
esperado é mais conhecido por retorno anormal (RA). De acordo com Vachadze (2001, p. 43)
esta metodologia se tornou a tradicionalmente utilizada em finanças para estimar o impacto de
diferentes divulgações de informações no preço de ações. Como o foco da pesquisa é analisar se
houve retorno anormal dos títulos (RAit), este pode ser calculado pela seguinte fórmula:
RAit = Rit – E(Rit) (1)
Onde: Rit é o retorno observado; E(Rit)= o retorno calculado pelo modelo e t = a medida
temporal em que se mediu o preço.
O retorno normal (Rit), por sua vez, foi calculado através do Modelo de Retornos
Ajustados ao Mercado, descrito por Camargos e Barbosa (2003), o qual assume que o retorno
normal (ou esperado ex ante) de um portfólio composto de todos os títulos do mercado é a média
ponderada do volume financeiro negociado dos retornos das ações negociadas.
O
retorno
anormal ex post, em qualquer título i, neste método, é dado pela diferença entre seu retorno e o do
portfólio de mercado, considerando a princípio que as ações seguiriam fielmente o
comportamento do principal índice de mercado.
O Modelo de Retornos Ajustados ao Mercado seria consistente com o Modelo de
Mercado (Rit =α + βRit +ε) e com o CAPM, com as premissas de que o risco sistemático (β) da
ação seja igual a um e de que o intercepto α seja nulo (KLOECKNER, 1995).
Conclui-se desta metodologia que sua implementação envolverá necessariamente a
comparação do retorno do título durante o período do evento com o retorno de um índice de
mercado. As possíveis diferenças observadas entre o retorno do título e o retorno de mercado
serão classificadas como retorno anormal, em razão do evento analisado.
No presente estudo utilizamos para efeito de estimação dos retornos esperados o índice
IBOVESPA utilizando-se a forma logarítmica de capitalização. O uso do logaritmo natural visa
obter uma melhor aderência à distribuição normal dos retornos, premissa dos testes estatísticos
76 paramétricos (SOARES; ROSTAGNO; SOARES, 2002). Na fórmula de capitalização
logarítmica, os retornos anormais no Modelo de Retornos Ajustados ao Mercado são dados por:
RAit = Ln ((Pt+1/Pt0) /(It+1/It0)) (2)
A equação que pode ser reescrita na seguinte forma:
RAit = Ln (Pt+1/Pt0) - Ln (It+1/It0) (3)
Sendo: Pt0: valor de mercado a preço corrente das empresas na data-base; Pt+1: valor de
mercado a preço corrente das empresas em um dia t posterior; It0: cotação do índice de mercado
em uma data-base; It+1: cotação do índice de mercado em um dia t posterior.
4.7.2 Procedimentos de Estimação
Nesta etapa é estimado o desempenho dos títulos no período ao evento, o chamado
“período da janela de Estimação”, definida como um período anterior à janela de Evento.
4.7.3 Procedimentos de Testes
Tendo estimado o comportamento dos títulos previamente ao evento, os retornos
anormais podem ser calculados e os procedimentos de testes estatísticos definidos, utilizando
janelas de Comparação (no período pós-evento).
77 5.
RESULTADOS
5.1 Introdução
Neste tópico, apresentaremos os resultados encontrados referentes ao impacto dos eventos
selecionados na pesquisa sobre o retorno das ações dos bancos brasileiros, bem como sobre suas
demonstrações financeiras. Em um primeiro momento, abordamos exclusivamente sobre o
desempenho bursátil dos bancos brasileiros, apresentando, assim, os resultados encontrados
através da metodologia de estudo de eventos. Partimos de uma análise da amostra geral,
apresentando os resultado comuns entre os bancos selecionados, para, posteriormente,
identificarmos os efeitos de retorno anormal apresentados isoladamente por cada banco da
amostra. Após a análise do desempenho bursátil, discorremos sobre o desempenho financeiro
individual dos bancos brasileiros selecionados no presente estudo.
5.2 Resultados Gerais – Desempenho Bursátil
Tabela 4: Retorno das ações com p-value abaixo de 0,05.
Fonte: Elaborado pela autora
78 De uma forma geral, os resultados apresentados no Tabela 4 confirmaram a hipótese nula
na data dos eventos estudados, ao apresentarem p-value maior que o nível de significância (5%).
Tais resultados indicaram que a probabilidade dos retornos se manterem normais é elevada, ou
seja, que os eventos, por eles mesmos, não influenciaram de forma determinante os retornos das
ações.
Apresentamos, a seguir, o resultado do retorno das ações dos bancos brasileiros em cada
um dos eventos selecionados no presente estudo.
5.2.1
Crise Financeira em 15 de setembro de 2009
Todos os bancos da amostra, com exceção do Banco Pine (p-value igual a 2,2%),
apresentaram p-value maior que o nível de significância de 5% na data da quebra do banco
americano Lehman Brothers. O p-value dos bancos analisados variou de 6,81% no retorno das
ações do Banco ABC Brasil para 54,5% no caso do Banco do Brasil, pressupondo que o mercado
já se preparava para a ocorrência da crise financeira.
Tais resultados indicam que o mercado foi eficiente de forma antecipada. Isto ocorreu,
sobretudo, porque a crise financeira corresponde a um evento dinâmico, ou seja, os sinais de
deterioração dos fundamentos econômicos norte-americanos, bem como da saúde financeira dos
bancos de investimentos já estavam sendo observados pelos agentes de mercado em decorrência
da crise do subprime iniciada em 2007. As bolsas de valores globais já apresentavam queda desde
o ano anterior ao evento em função do temor de inadimplência do setor imobiliário, dos prejuízos
apresentados por fundos de alto risco (exemplo: Bear Stearns, em março de 2007),
da
desaceleração do crescimento das vendas do varejo, do crescimento do desemprego nos Estados
Unidos, do aumento da inadimplência e da redução de rentabilidade no setor bancário, dentre
outros fatores.
Apesar desta previsibilidade e antecipação do mercado, o evento da crise financeira,
dentre os demais eventos apresentados nesta pesquisa, foi o que apresentou, após janela no
momento zero, o maior número de testes com p-value inferior ao nível de significância de 5%.
Estes resultados evidenciaram a magnitude da crise financeira, a tensão e, até mesmo,
especulação dos investidores nas negociações na bolsa de valores no Brasil e, no mundo.
O p-value dos bancos selecionados foi, de uma forma geral, menor que o nível de
significância de 5% nas janelas superiores a 10 e a 20 dias após a quebra do Lehman Brothers. A
79 alta probabilidade dos retornos anormais apresentada pelos bancos nestas datas específicas
decorreu de desdobramentos da crise financeira, sendo mais intensa no sistema bancário do que
em outras indústrias.
Na janela superior a 10 dias da data da quebra do Lehman Brothers, a qual correspondeu
ao dia 29 de setembro de 2008, a Bolsa de Valores de São Paulo interrompeu o pregão e acionou
o circuit breaker. Nesta data, o p-value dos bancos variou de 0,2% no caso das ações dos bancos
Panamericano e Sofisa até 4,3% no caso das ações ordinárias do Itaú Unibanco. A única exceção
foi o retorno das ações do Banco Daycoval, que apresentou p-value de 91%, como analisado
individualmente no item 5.3.6.
De acordo com o Manual de Procedimentos Operacionais da Bolsa de Valores de São
Paulo - BVSP, o circuit breaker é um mecanismo utilizado pela Bolsa que
permite, na
ocorrência de movimentos bruscos de mercado, o amortecimento e o rebalanceamento das ordens
de compra e de venda. Esse instrumento constitui-se em uma “proteção” à volatilidade excessiva
em momentos atípicos de mercado. Os mecanimos de circuit breaker incluem a interrupção dos
negócios na Bolsa por 30 minutos quando a baixa do Ibovespa for maior que 10% em relação ao
dia anterior, por 1 hora quando a oscilação negativa for superior a 15% e, até mesmo, por prazo
definido a seu critério, quando a oscilação negativa dos negócios atingir 20%.
A piora do mercado na data analisada refletiu primordialmente a decisão da Câmara dos
Deputados dos Estados Unidos em rejeitar o pacote de US$ 700 bilhões proposto pelo governo
americano para socorrer instituições financeiras afetadas pela crise. Soma-se, ainda, que nesta
data foi anunciada a aquisição do Wachovia, o quarto maior banco americano, pelo Citigroup.
Acordo este desfeito que resultou na aquisição do Wachovia pelo Banco Wells Fargo,
posteriormente. Na Grã-Bretanha, o governo confirmou a nacionalização do banco de hipotecas
Bradford & Bingley, ao assumir o controle de financiamentos e empréstimos do banco no valor
de 50 bilhões de libras (cerca de R$ 171 bilhões) e vender as operações de poupança e agências
para o Santander, da Espanha. O governo da Islândia também, na referida data, assumiu o
controle do terceiro maior banco do país, Glitnir, depois que a companhia apresentou problemas
com fundos de curto prazo. (BBC BRASIL).
A outra ocorrência de retorno anormal no preço das ações dos bancos brasileiros, que
rejeitou a hipótese nula, no evento “Crise Financeira” ao apresentar bancos com p-value abaixo
de 5%, aconteceu na janela superior a 20 dias da janela “0, no dia 13 de outubro de 2010. Nesta
80 data, o p-value foi inferior a 0,5% para todos os bancos da amostra, com exceção novamente do
Banco Daycoval, que apresentou p-value de 77%.
A rejeição da hipótese nula nesta data específica basicamente refletiu, ao contrário do
movimento observado no dia 29 de setembro de 2008, uma forte recuperação da Bolsa de Valores,
que, segundo notícias veiculadas na imprensa, registrou alta de 14,7% para 40.829 pontos. Esta
recuperação foi considerada a maior do Ibovespa desde janeiro de 1999 e refletiu a boa reação
dos investidores a diversas medidas adotadas pelos governos para combater a crise financeira.
Em 12 de outubro, os chefes de Estado ou de Governo dos países da Zona do Euro
concordaram em adotar um plano conjunto contra a crise, refletindo uma injeção de até US$ 2,5
trilhões nas instituições financeiras, visando, assim, restaurar a confiança no sistema financeiro e
assegurar seu funcionamento adequado. Em uma declaração de 14 tópicos, eles reconheceram a
gravidade da situação, comemoravam o corte de juros feito por Bancos Centrais de diversas
localidades e se comprometeram a agir conjuntamente para restaurar a confiança do mercado,
aumentando a liquidez, refinanciando bancos e investindo em projetos de infraestrutura. À frente
da ação estavam a França e a Alemanha, que editaram um pacote próprio de US$ 675 bilhões
contra a crise.
Com base nos resultados apresentados, não podemos afirmar que a ocorrência do evento
“quebra do Banco Lehman Brothers” foi o exclusivo fator gerador da oscilação no retorno das
ações. Por outro lado, podemos inferir que o desdobramento deste evento determinou a rejeição
da hipótese nula nos períodos subsequentes para o setor bancário brasileiro, mais afetado pela
crise financeira.
5.2.2
Liberação do depósito compulsório em 02 de outubro de 2008.
Todos os bancos da amostra apresentaram p-value maior que o nível de significância de
5% na data da liberação do depósito compulsório em 02 de outubro de 2008. Os p-values dos
bancos analisados oscilaram de 13,9% no retorno das ações preferenciais do Banco Itau para
97,8% no caso do Banco do Brasil.
Tais resultados confirmaram a eficiência antecipada do mercado, aceitando, assim, a
hipótese nula proposta neste dissertação.
Nas janelas posteriores a data do evento, foram
observados retornos anormais específicos, que serão abordados individualmente a seguir.
81 No entanto, na janela de 20 dias após o evento, o qual correspondeu ao dia 30 de outubro
de 2008, 7 dos 10 bancos analisados apresentaram p-value inferior a 5%. Tais bancos
apresentaram p-value que variaram de 0,2% no caso do Indusval para 4,7% para as ações
preferenciais do Banco Itaú.
Nesta data específica, houve um movimento de recuperação das bolsas de valores e,
especificamente, no Brasil, o ex presidente do Banco Central do Brasil, Henrique Meirelles
anunciou medidas de intervenção cambial, incluindo o anúncio de uma linha de USD 30 bilhões
com o Banco Central Americano, Federal Reserve – FED.
Nota-se, assim, que o evento de depósito compulsório pode não ter explicado por si só o
movimento anormal do retorno das ações dos bancos brasileiros, 20 dias após seu anúncio na data
zero. A medida do Banco Central para aliviar a liquidez em reais dos bancos médios, juntamente
com outros pacotes de combate a crise financeira, como o do incremento de liquidez em dólares
através da parceria do Banco Central do Brasil com o Federal Reserve, repercutiram
positivamente no retorno das ações dos bancos brasileiros da amostra.
Os resultados obtidos na janela 20 dias após o evento da liberação do depósito
compulsório apresentaram dois fatos curiosos. Primeiramente, o Itáu foi o único banco grande da
amostra a apresentar retorno anormal. Os p-values do Banco do Brasil e do Bradesco, foram,
respectivamente 21,1% e 22,3%, confirmando a hipótese nula.
Prováveis justificativas para a rejeição da hipótese nula no caso das ações do Banco Itaú
podem refletir: i.) a reação do mercado quanto ao anúncio de resultados preliminares referentes
ao terceiro trimestre de 2008 no dia 27 de outubro, que mostraram queda de lucro trimestral antes
ao mesmo período de 2007 ou, ii.) antecipação do mercado à fusão do bancos Itaú e Unibanco,
anunciada no dia 3 de novembro de 2008. Soma-se, ainda, que o Itaú é o mais globalizado dentre
os bancos grandes contidos na amostra, com operações em diversos países da América Latina,
além de presença na Europa, Estados Unidos e Ásia. Este posicionamento mais internacional
pode também ter contribuído para a anormalidade dos preços das ações do Itaú na data específica.
Em um sentido oposto, as ações do Banco Daycoval novamente se movimentaram em
sentido oposto ao retorno das ações dos bancos médios no período 20 dias superior ao anúncio da
liberação do depósito compulsório, possivelmente, em decorrência do programa de recompra de
ações efetuado em abril de 2008.
82 5.2.3 Criação do Depósito a Prazo com Garantia Especial (DPGE) em 26 de março
de 2009
A criação do DPGE não provocou nenhuma anormalidade estatisticamente significativa
sobre o retorno das ações dos bancos brasileiros, de uma forma geral. Assim, os resultados
encontrados confirmaram a hipótese nula na data deste evento específico, indicando que o mesmo,
por si só, não influenciou de forma determinante os retornos das ações.
Os p-values encontrados nas 4 janelas do estudo variaram de 9,1% até 99,1%, com
exceção de Banco da Amazônia, Banco Panamericano e Banco Daycoval, que apresentaram em
datas específicas p-value inferior a 5%, como estudado posteriormente.
Como o Banco Central do Brasil, juntamente com o Fundo Garantidor de Crédito, já
estavam atuando a favor do incremento da liquidez dos bancos médios desde outubro de 2008, a
criação do DPGE pode ter sido percebida como mais um mecanismo de suporte. Assim, este
evento específico insere-se no contexto de um evento mais dinâmico referente às medidas de
injeção e restauração de liquidez dos bancos médios, no combate à crise financeira de 2008.
5.2.4 Crise Fiscal Européia em 27 de abril de 2010
O rebaixamento das notas soberanas de Grécia e de Portugal pela agência de ratings
Standard and Poors não provocou, num primeiro momento, nenhum comportamento anormal no
retorno das ações dos bancos brasileiros estudados nesta pesquisa.
Com exceção do Banco Sofisa, todos os bancos da amostra apresentaram p-value superior
ao nível de significância de 5% na janela “0 do evento da crise fiscal européia. Os p-values dos
bancos analisados variaram de 6,7% no retorno das ações do Banco Pine até 60,5% no caso do
Banco do Brasil, pressupondo que o mercado já se preparava para a ocorrência da crise européia.
Tais resultados confirmaram a eficiência de mercado de forma antecipada, aceitando
assim, a hipótese nula proposta nesta dissertação. Conforme abordado no referencial teórico desta
pesquisa, a crise da dívida fiscal soberana européia remonta num período anterior a crise
financeira de 2008, sendo agravada após a ocorrência da mesma.
Em outubro de 2009, por exemplo, o novo governo da Grécia já havia anunciado
projeções de incremento do déficit público, contribuindo, assim, para o temor dos investidores.
83 Assim, tal qual a crise financeira de 2008, a crise fiscal européia também constituiu um evento
dinâmico, com sinais de estouro da mesma sendo observados desde períodos mas longos.
Não obstante esta antecipação e eficiência do mercado, a janela de 20 dias após o evento
provocou variações estatisticamente significativas no retorno das ações de 80% dos bancos
brasileiros analisados neste estudo. Os p-values destes bancos variaram de 0,02% no caso das
ações dos bancos Pine e Sofisa até 1,8% no Banco Indusval, sendo, assim, inferiores ao nível de
significância de 5%.
No dia 25 de maio de 2010, correspondente a janela de 20 dias após o rebaixamento das
notas soberanas gregas e portuguesas, a Ibovespa apresentou queda em decorrência, dentre outros
fatores, de maiores preocupações com a Zona do Euro e com o sistema financeiro espanhol.
Embora o efeito do rebaixamento das notas soberanas já havia, de um certo modo, sido
antecipado pelos investidores, o desdobramento do mesmo com aumento de incertezas sobre a
capacidade de pagamento da dívida de alguns países, e provável contagio deste efeito sobre o
sistema financeiro europeu, resultou na anormalidade estatisticamente significativa no retorno das
ações dos bancos brasileiros, segmento mais afetado que os demais setores econômicos.
5.2.5 Liberação do depósito compulsório em 22 de dezembro de 2011
Conforme já abordado no referencial teórico desta dissertação, sinais de desaceleração
econômica, provocados, inclusive pelo agravamento da crise fiscal européia e, consequente,
redução econômica em alguns países da Zona do Euro, incentivaram o Banco Central do Brasil a
retomar alguns medidas anticíclicas adotadas em 2008 no combate a crise financeira.
Dentre as medidas adotadas, o Banco Central do Brasil restaurou a liberação do depósito
compulsório de forma a otimizar a liquidez do sistema financeira e, promover, assim,
crescimento das operações de créditos aos diversos setores da economia.
Os resultados encontrados na análise deste evento especifico confirmaram, de uma forma
geral, a hipótese nula proposta nesta dissertação, ao apresentarem p-value maior que o nível de
significância (5%). Tais resultados indicaram que a probabilidade dos retornos se manterem
normais é elevada, ou seja, que tal evento, por si só, não influenciou de forma determinante os
retornos das ações dos banco brasileiros de forma geral.
84 Os p-values encontrados nas janelas deste evento variaram de 12,2% no caso do Banco
Daycoval até 99,07% no caso do Banco da Amazônia. Exceções, como o próprio Banco da
Amazônia, Banco Pine e Banco Panamericano, serão tratadas nas análises individuais dos bancos.
Um dos motivos prováveis para a manutenção do comportamento normal dos preços das
ações dos bancos brasileiros pode ser explicado, novamente, pelo dinamismo implícito nestes
eventos. Medidas prudenciais para amenizar os efeitos da desaceleração da atividade econômica
brasileira já vinham sendo adotadas desde outubro de 2011, com a reversão da tendência de alta
da taxa básica de juros brasileira, além de redução de impostos e de requerimento de capital para
operações de consumo.
5.2.6 Redução da taxa básica de juros em 07 de março de 2012.
Assim como ocorreu no evento anterior, a redução mais acelerada de 0,75 pontos
percentuais na taxa básica de juros anunciada em 07 de março de 2012 não provocou
anormalidade estatisticamente significativa no retorno das ações dos bancos brasileiros.
Conforme já comentado, a redução da taxa de juros já tinha começado em outubro de 2011,
confirmando, assim, a efetividade do mercado na data do evento estudado.
Os p-values encontrados foram, de uma forma geral, superiores ao nível de significância
de 5%, variando de 12,2% no caso do Banco ABC Brasil até 99,9% no caso das ações do banco
Panamericano. Exceções ocorreram com o Banco Pine
e Banco Indusval, cuja análises
individuais serão apresentadas posteriormente.
5.3 Resultados Individuais – Desempenho Bursátil
Nesta seção são apresentados os resultados do desempenho bursátil encontrados para a
amostra selecionada de 10 instituições financeiras bancárias (bancos comerciais e múltiplos)
listadas na Bolsa de Valores de São Paulo. A apresentação está ordenada de forma decrescente
por valor de ativos em 31 de dezembro de 2012, conforme demonstrado na tabela 3.
85 5.3.1
Banco do Brasil
Os resultados do Banco do Brasil apresentaram p-value superior ao nível de significância
de 5% em quase todos os eventos, indicando, alta probabilidade de manutenção de retornos
normais. Nestes casos, os p-values dos eventos estudados nesta pesquisa variaram de 11,1% até
97,8%.
Os p-values do Banco do Brasil variariam de 21,1% até 97,8% na primeira liberação de
depósito compulsório, de 25,7% até 89,3% no evento da criação do DPGE, de 14,2% até 97% na
segunda liberação do depósito compulsório e de 37,7% até 94,2% na redução da taxa de juros.
Nota-se, assim, que os investidores do Banco do Brasil, de um modo geral, reagiram de
forma eficiente aos eventos analisados. Parte desta previsibilidade refere-se ao fato do Banco do
Brasil ser o maior banco do país com milhões de correntistas e considerado “grande demais para
quebrar”. Em momentos de crise, dada tal fortaleza, o banco claramente se beneficia do seu perfil
de risco reduzido em que os investidores privilegiam segurança, ao invés de alta rentabilidade.
No entanto, apesar de toda esta previsibilidade, a alta volatilidade dos mercados nos
momentos da crise financeira e crise européia não pouparam o Banco do Brasil de apresentar
retornos acionários com anormalidade estatisticamente significativa.
Além dos casos sistêmicos abordados no tópico anterior, em que praticamente todos os
bancos da amostra apresentaram retornos anormais, na janela de 10 dias da crise européia, o pvalue encontrado no Banco do Brasil também foi inferior a 5%.
Nesta janela, equivalente ao dia 10 de maio de 2010, como desdobramento da crise fiscal
européia, a bolsa de valores apresentou grande volatilidade, após anúncio do pacote de ajuda a
Grécia de Eur 750 bilhões e incertezas sobre países da zona do Euro.
Cabe ressaltar, no entanto, que além do evento analisado por si só, outros motivos podem
ter contribuído para um incremento na volatilidade do preço das ações do Banco do Brasil neste
período. Nas janelas de 10 dias antes e depois do evento da crise fiscal européia ocorreram,
respectivamente, a incorporação do Banco do Estado de Santa Catarina em 13 de abril de 2010 e
do Banco Nossa Caixa em 11 de maio de 2010.
5.3.2
Itaú Unibanco
Assim como o Banco do Brasil, o tamanho e diversidade de operações do Banco Itaú
Unibanco caracterizam-no como um “banco grande demais para falir”. Desta forma, os resultados
86 obtidos através do método de estudo de eventos confirmaram a eficiência do mercado de forma
antecipada, ao apresentar, de modo geral, p-value com nível de significância maior que 5%.
Os p-values variaram de 6,9% a 96,4% no caso das ações ordinárias e de 6% a 90,4% nas
ações preferenciais. Exceções a estes valores referiram-se às janelas de crise financeira, primeira
liberação do compulsório e crise européia, em que mais que 70% dos bancos da amostra
apresentaram p-values inferiores a 5%, como já descrito no tópico anterior. Nestas janelas, os pvalues estão descritos na Tabela 5:
Tabela 5: Resultado das ações do Itaú com p-value inferior a 5%
Evento
Janela
P-Value: Ações
P-Value: Ações
Ordinárias
Preferenciais
Crise financeira
10 dias
4,3%
0,4%
Crise financeira
20 dias
0,1%
0,1%
Compulsório 1
20 dias
2,7%
4,3%
Crise européia
20 dias
0,7%
0,4%
Fonte: Elaborado pela autora
Nos demais eventos em que a hipótese nula proposta neste estudo foi aceita, os p-values
variaram de 33,7% até 87,5% e de 42% até 85,8% nas ações ordinárias e preferenciais no evento
do DPGE, de 43,9% até 74,1% e de 17,6% até 83,3%, respectivamente na segunda liberação do
compulsório e de 52,3% até 96,4% e 41,1% até 90,4% na redução de juros.
5.3.3 Bradesco
O método do estudo de eventos para o retorno das ações do Banco Bradesco confirmou
que o mercado foi eficiente para quase todos os eventos estudados nesta dissertação. Apesar de
ser o terceiro maior banco do Brasil por ordem de volume de ativos e apresentar grande variedade
de produtos e serviços financeiros, o Banco Bradesco, ao contrário dos demais bancos grandes
incluídos na amostra, não apresenta estratégia de internacionalização de suas atividades, ficando,
assim, menos exposto aos eventos de crise e de medidas anticíclicas para combate às mesmas.
O Bradesco também, conforme anunciado em suas apresentações de resultados na época
da crise financeira, não realizou operações com derivativos exóticos, denominadas “target
87 forward” ou outras operações alavancadas, especialmente com seus clientes. Este tipo de
operações especulativas, especialmente cambiais, gerou muitas tensões nos mercados, sobretudo
bancário, em função da desvalorização do Real no período. A valorização da moeda norteamericana resultou em altas perdas acumuladas por empresas, entre elas Aracruz e Sadia e,
consequente, incremento no nível de inadimplência bancária.
Neste sentido, dentre todas as instituições financeiras analisadas neste estudo, o Bradesco
foi o único banco de grande porte que apresentou menor nível de incidências de p-values
inferiores ao nível de significância de 5%. Tais resultados confirmaram a eficiência do mercado
de forma antecipada para a maioria dos eventos.
Os p-values variaram, de uma forma geral, de 5% a 94%; sendo que na primeira liberação
do compulsório ficaram entre 14,9% até 75%, no DPGE, de 10% até 61,4%, na crise fiscal
européia de 18% até 63,1%, na segunda liberação de compulsório, de 23,8% até 94% e na
redução de juros, de 24,9% até 86,2%.
Exceções a estes valores ocorreram na crise financeira, na janela de 5 dias e, num
movimento similar aos demais bancos da amostra, nas janelas de 10 e de 20 dias de tal evento,
em que a anormalidade verificada no retornos das ações retratou um efeito generalizado e
sistêmico na bolsa de valores. Nestas janelas, os p-values do Bradesco foram, respectivamente,
0,3% e 0,013%.
5.3.4
Banco Panamericano
Juntamente com o Banco da Amazônia, o Banco Panamericano, logo após o Banco Pine,
foi o banco que apresentou maior número de incidências de p-values superiores a 5%. Parte
destes resultados refere-se ao seu perfil de negócios mais arriscado, voltado ao mercado de
financiamento ao consumo e, assim, mais exposto a aumentos do nível de inadimplência e
suscetível a um natural descasamento de prazo entre ativos e passivos.
Além dos eventos em que a amostra em geral apresentou alta probabilidade de
anormalidade de retorno de ações, o Banco Panamericano apresentou p-value equivalente a 1,5%
nas janelas de 5 dias após o evento da crise financeira, rejeitando, assim, a hipótese nula proposta.
A criação do DPGE, em março de 2009, também resultou em retornos anormais nas ações
do Banco Panamericano, com p-values de 4,5% e 0,3%, respectivamente, nas janelas de 10 e de
20 dias do evento. Como melhor abordado na análise financeira, o Banco Panamericano, dada a
88 natureza de suas operações, apresenta um perfil de captação mais volátil, concentrado e de curto
prazo vis-a-vis uma carteira de crédito diversificada e de longo-prazo.
No evento da segunda liberação do compulsório em dezembro de 2011, o retorno das
ações do Banco Panamericano mantiveram-se normais em praticamente todas as janelas, com pvalues superiores a 5%, confirmando, assim, a hipótese nula. No entanto, na janela de 20 dias do
evento, o p-value do Panamericano foi de apenas 1,6%, rejeitando a hipótese nula e, indicando,
anormalidade estatisticamente significativa no retorno das ações.
Nesta janela, que correspondeu ao dia 18 de janeiro de 2012, o Banco Panamericano
anunciou aprovação de aumento de capital, bem como proposta de incremento de distribuição de
dividendos obrigatórios. Neste sentido, pode-se inferir que o evento, por si só, não influenciou no
retorno das ações do banco neste período.
A redução da taxa de juros, anunciada em março de 2012, também não teve impacto no
retorno das ações do Banco Panamericano, indicando que o mercado foi eficiente
antecipadamente a este evento. Os p-values, neste evento, variaram de 61% a 99,9%.
5.3.5
ABC Brasil
A análise do desempenho do retorno das ações do Banco ABC Brasil demonstrou, de
forma, geral, que o mercado reagiu eficientemente de forma antecipada a ocorrência dos eventos
estudados, com exceção da crise financeira e da primeira liberação do depósito compulsório.
Nestes dois eventos, o Banco ABC Brasil apresentou p-values equivalentes a 0,5% e
0,0012% nas janelas de 10 e de 20 dias após a crise financeira, em um movimento idêntico a 90%
dos bancos da amostra deste estudo. De forma também sistêmica, o p-value de 2,27% ficou
abaixo do nível de significância na janela de 20 dias após a primeira liberação do depósito
compulsório, identificando a alta volatilidade no retorno das ações provocada pela crise
financeira e seus desdobramentos subsequentes.
Além dos datas mencionadas acima, notamos que a primeira liberação do depósito
compulsório teve um efeito maior sobre o retorno das ações do Banco ABC Brasil do que na
maioria dos bancos da amostra. Similar ao desempenho de Pine e de Banco da Amazônia (Basa),
nas janelas de 5 e de 10 dias deste evento, os p-values do Banco ABC Brasil ficaram abaixo do
nível de 5%, indicando, assim, alta probabilidade de retornos anormais. Os p-values encontrados
foram, respectivamente, 0,97% e 0,9% nas janelas descritas acima e, podem ser explicados pela
89 maior sensibilidade dos bancos médios à volatilidade de mercado provocada pelos efeitos da crise
financeira.
Além dos eventos por eles mesmos, parte deste desempenho diferenciado no retorno das
ações pode estar relacionado a outras medidas adotadas pelo Banco Central do Brasil, como a
isenção de recolhimento compulsório de bancos menores, anunciada em 25 de setembro de 2008.
Soma-se a veiculação de notícias a respeito da performance financeira de bancos médios nas
datas de 9 e 16 de outubro de 2008. Tais resultados, desdobramentos do período de crise
financeira, podem evidenciar que o desempenho no retorno das ações do Banco ABC Brasil não
foi influenciado exclusivamente pelos eventos estudados.
Nos demais eventos analisados, os retornos das ações do Banco ABC Brasil
posicionaram-se acima do nível de significância de 5%, indicando, eficiência de mercado de
forma antecipada.
Os p-values do Banco ABC Brasil variaram de 9,11% até 99,15% no evento da criação do
DPGE, de 6,02% até 38,74% no crise fiscal européia, de 13,8% até 97,69% na segunda liberação
do depósito compulsório e de 12,23% até 99,86% na redução de taxa de juros.
5.3.6
Daycoval
O Banco Daycoval foi uma das instituições finnceiras da amostra que apresentou a menor
incidência de retornos anormais no preço de suas ações nos eventos analisados na presente
pesquisa. Assim, os resultados do Banco Daycoval, de forma geral, confirmaram a eficiência de
mercado de forma antecipada, ao apresentarem resultados com p-value superior ao nível de
significância de 5%.
Tanto no evento da crise financeira como no da primeira liberação do depósito
compulsório, o retorno das ações do Banco Daycoval mantiveram alta probabilidade de retornos
normais, ao contrário dos resultados apresentados pela indústria bancária, em geral. Pode-se
inferir que, parte desde resultado, deva-se ao programa de recompra de ações de emissão própria
lançado pelo Daycoval em abril de 2008 visando capturar um potencial importante de criação de
valor em razão do preço das ações do Banco no mercado nos meses anteriores. O Programa teve
duração de 360 dias, sendo permitida a aquisição de no máximo 6.426.316 (seis milhões,
quatrocentas e vinte e seis mil e trezentas e dezesseis) ações preferenciais, o que representou dez
90 por cento (10%) das ações preferenciais em circulação no mercado, conforme anunciado pelo
banco.
Os p-values do Banco Daycoval variaram de 25,3% até 91% no evento da crise financeira,
de 44,6% até 84% na primeira liberação do depósito compulsório, de 12,2% até 80,5% na
segunda liberação do depósito compulsório e de 25,3% até 91% na redução de juros.
Exceções ocorreram no evento da criação do DPGE e na crise fiscal européia. Na janela
“0” do evento do anúncio da implementação do DPGE, o p-value do Banco Daycoval foi de
apenas 2%, confirmando a hipótese alternativa proposta nesta dissertação. Comportamento
similar foi verificado na janela de 20 dias do efeito da crise fiscal européia, em que o p-value
apresentado pelo banco foi de 0,6%.
5.3.7
Banco da Amazônia
Além de apresentar p-values superiores a 5% nas janelas em que a amostra de bancos em
geral, também tiveram alta probabilidade de retornos anormais, o Banco da Amazônia foi
significativamente impactado pela primeira liberação do depósito compulsório em outubro de
2008 e, parcialmente, pelos eventos subsequentes.
Na primeira liberação do depósito compulsório, os resultados obtidos com a metodologia
de estudo de eventos indicaram que os investidores não reagiram de forma antecipada ao evento
específico. O Banco da Amazônia apresentou p-values de 0,7%, 1,7% e 0,6% nas janelas de 5, 10
e 20 dias após o evento, respectivamente. Tais resultados, assim, confirmaram a hipótese
alternativa proposta nesta dissertação.
Similar comportamento foi observado na crise européia com p-value de 2,28% e 0,9% nas
janelas de 10 e de 20 dias após o evento, em que as ações do banco se mostraram mais suscetíveis
em relação aos temores oriundos do default da Grécia e contágio para outros países da zona do
Euro.
Com menor impacto, na criação do DPGE e na segunda liberação do depósito
compulsório, o banco também apresentou p-value inferior a 5%, respectivamente, nas janelas de
20 dias (4,59%) e na janela 0 (1,12%) dos eventos. Infere-se destes resultados que tais eventos,
por eles mesmos, não impactaram o retorno das ações.
91 A redução da taxa de juros, anunciada em março de 2012, também não teve impacto no
retorno das ações do Banco da Amazônia, indicando que o mercado foi eficiente antecipadamente
a este evento. Os p-values, neste evento, variaram de 62,7% a 68,4%.
5.3.8
Pine
Dentre os bancos analisados neste estudo, o Banco Pine, de uma forma geral, foi o banco
que mais apresentou retornos dos preços de ações com alta probabilidade estatística de
anormalidade.
Na crise financeira de 2008, o Banco Pine foi o único banco que apresentou p-value
inferior ao nível de significância de 5% na janela “0” do evento, indicando, assim, que a
probabilidade de retorno anormal no preço de ações no período estudado foi alta. Nesta data, o pvalue do Banco Pine foi de 2,2%, rejeitando, assim, a hipótese nula proposta nesta dissertação.
Resultados similares foram encontrados nas janelas de 10 e de 20 dias ao evento, conforme já
observado na seção de resultados gerais, em que os p-values do Banco Pine foram
respectivamente, 0,4% e 0,1%.
No segundo evento estudado nesta pesquisa, referente a primeira liberação do depósito
compulsório ocorrida em outubro de 2008, os resultados do Banco Pine rejeitaram a hipótese nula
nas janelas de 5, 10 e 20 dias após o evento. Os p-values encontrados nestes períodos foram
respectivamente, 0,2%, 3,6% e 1,3%. Além da janela de 20 dias após o evento em que os bancos,
em geral, apresentaram p-value inferior ao nível de significância de 5%, a alta probabilidade dos
retornos das ações do Pine apresentaram anormalidade estatística nos demais períodos pode ser
explicada pelo evento da crise financeira e os mecanismos de suporte a liquidez aos bancos
médios.
Especificamente em relação a necessidade de otimização do fluxo de liquidez, nota-se que
a carteira de captação do Pine, melhor explicada na seção de análise financeira, reduziu
aproximadamente 40% entre junho a dezembro de 2008, confirmando a alta aversão ao risco de
investidores aos bancos médios.
Diante desta conjuntura de alta volatilidade e aversão ao risco, o Banco Pine, num
movimento similar a outras empresas de capital aberto, anunciou nos dias 01 de outubro de 2008
(após janela de 10 dias do evento crise financeira) e 16 de outubro de 2008 (janela de 10 dias do
evento liberação do compulsório) a aquisição de ações de emissão da própria companhia e
92 cancelamento de ações de emissão própria e de ações em tesouraria. Este movimento de
recompra de ações pode ter sido resultante do aumento na volatilidade do preço dos ativos
negociados no mercado mobiliário, situação comum em momentos de crise econômica, em que as
ações tendem a estar subavaliadas, tornando-se assim, uma boa opção de investimentos para a
própria companhia (NASCIMENTO, GALDI E NOSSA, 2008).
Soma-se que na janelas acima, o Banco Central isentou os bancos menores a recolherem
depósito compulsório, melhorando, assim, o nível de liquidez dos mesmos; além de serem
veiculadas notícias na internet sobre a perspectiva de redução de rentabilidade de bancos médios.
Contrariamente ao ocorrido nos dois primeiros eventos, na criação do DPGE, a hipótese
nula foi aceita, com o mercado reagindo com eficiência antecipada a mais uma medida de injeção
de liquidez aos bancos médios durante a crise financeira. Os p-values do Banco Pine nesse
período foram respectivamente 42,1%, 51,7%, 67,8% e 16,0%, portanto, superiores ao nível de
significância de 5%, indicando, assim, alta probabilidade de retornos normais.
Novamente os retornos do Banco Pine mostraram sensibilidade ao evento de crise em
2010, quando eclodiu a crise fiscal européia. Embora o p-value de 6,7% na janela “0” do evento
tenha indicado alta probabilidade de manutenção de retorno normal, os p-values encontrados nas
janelas de 5, 10 e 20 dias, respectivamente: 1,8%, 0,1% e 0,02%; mostraram a ineficiência de
antecipação do mercado diante do evento. Em ambas janelas de 5 e de 10 dias após o evento,
houve volatilidade da Bolsa em função do temor sobre default da Grécia e contágio em outros
países com elevada razão de dívida e PIB e, posterior, anúncio de pacote de socorro a Grécia.
Cabe ressaltar que o evento da crise européia pode não ter sido o único responsável para a
anormalidade das ações, uma vez que, nas datas posteriores ao mesmo, o Banco Pine apresentou
resultados do primeiro trimestre de 2010 em 12 de maio de 2010, bem como teve seus ratings
externos elevados pela agência de ratings Fitch em 25 de maio de 2010.
Nos eventos posteriores estudados nesta pesquisa, o Banco Pine, de forma geral,
apresentou p-values superiores ao nível de significância de 5%, que variaram de 5,4% a 85,3%.
Exceções a estes valores ocorreu na janela “0”da segunda liberação do depósito compulsório (pvalue de 2,6%). Nesta data, além do evento estudado, o Banco Pine também anunciou a captação
de recursos externos no montante de US$ 25 milhões com o organismo multilateral francês
Proparco do grupo Agence Française de Développement - AFD por 10 anos, indicando, assim,
acesso de liquidez ao mercado externo.
93 Ainda na janela de 10 dias da redução da taxa de juros, os retornos das ações do Banco
Pine também apresentaram p-value de 4,8%, indicando alta probabilidade de retorno anormal.
5.3.9
Sofisa
As ações do Banco Sofisa apresentaram grande volatilidade durante o evento da crise
financeira de 2008. Apresentando p-values inferiores ao nível de 5% nas janelas de 5, 10 e 20
dias do evento, o mercado não reagiu totalmente de forma antecipada ao evento. A generalizada
aversão ao risco, especialmente aos bancos de nicho e com porte menor, impactaram não apenas
as ações do Sofisa, como também do Panamericano de uma forma mais recorrente que os demais
bancos da amostra.
Os p-values apresentados pelo Banco Sofisa nas janelas de 5, 10 e 20 dias do evento da
crise financeira foram, respectivamente, 3,8%, 0,2% e 0,01%, confirmando a hipótese alternativa
proposta nesta dissertação. A alta volatilidade dos preços das ações no período motivaram o
Banco Sofisa a anunciar dois programas de recompra de ações: em 13 de outubro de 2008 e em 1
de dezembro de 2008.
Conforme informado nas demonstrações financeiras anuais de 2008 do Banco Sofisa, o
programa de recompra de ações para permanência em tesouraria ou cancelamento sem redução
do capital social visou maximizar a geração de valor para o acionista na eventualidade de
cancelamento das respectivas ações. Ainda, neste relatório, o Banco Sofisa comentou que a
performance de suas ações foi impactada pela crise global, que fez com que investidores
estrangeiros se desfizessem de ações ao redor do mundo, principalmente de instituições
financeiras.
Não obstante os desdobramentos da crise financeira e anúncio da liberação do
compulsório em outubro de 2008, um motivo adicional e, eventualmente complementar para o pvalue de 1,3% apresentado pelo Sofisa na janela de 20 dias do evento do compulsório, pode ser
auferido pela divulgação dos resultados do terceiro trimestre de 2008 nesta data (30 de outubro de
2008).
Neste trimestre, como melhor explicado no tópico de análise financeira, o Banco Sofisa
apresentou redução de aproximadamente 20% na sua base de depósitos em relação ao trimestre
anterior, confirmando a aversão ao risco por parte dos investidores e busca por “flight to quality”
para bancos maiores.
94 A antecipação eficiente do mercado em resposta ao anúncio da crise do DPGE foi
confirmada pela oscilação do p-value de 11,1% até 93,7% nas janelas do evento, confirmando,
assim, a hipótese nula proposta nesta dissertação.
Na crise fiscal européia, o Banco Sofisa apresentou p-values inferiores a 5% na janela
“0”do evento (2,23%) e de 20 dias (0,02%), rejeitando a hipótese nula, demonstrando maior
sensibilidade deste banco frente aos efeitos da mesma.
A segunda liberação do compulsório em 2011 e redução da taxa de juros em março de
2012 não impactaram os retornos das ações do Banco da Sofisa, indicando que o mercado foi
eficiente antecipadamente a estes eventos. Os p-values oscilaram de 14,4% até 78,7% no evento
do compulsório e, de 26,97% até 91,7% no evento de juros.
5.3.10 Indusval
Os resultados dos retorno das ações do Banco Indusval foram totalmente aderentes ao
desempenho apresentado pela maioria dos bancos, em geral. De uma forma ampla, os
investidores reagiram antecipadamente aos eventos estudados, com alta probabilidade de retornos
anormais sendo verificados nas janelas em que mais que 80% da amostra também apresentou pvalue inferior a 5%, conforme já explicado.
Assim, os p-values inferiores ao nível de significância de 5% ocorreram nas janelas de 10
e de 20 dias da crise financeira (0,85% e 0,04%, respectivamente), na janela de 20 dias da
primeira liberação do compulsório (0,207%) e na janela de 20 dias da crise fiscal européia
(1,79%).
Além destes eventos, o Banco Indusval também apresentou p-value de 1,633% na janela
de 5 dias da redução de juros. Dado que foi o único banco da amostra a apresentar probabilidade
de retorno anormal apenas nesta janela do evento, pode-se concluir que o desempenho das ações
do Banco Indusval não foi impactado pela redução de juros.
Presume-se que tal desempenho tenha ocorrido em função da migração das ações do
banco para o nível II de governança corporativa no dia 28 de fevereiro de 2012, um dia antes da
janela do evento estudado.
A criação do DPGE e a segunda liberação do compulsório não impactaram os retornos das
ações do Banco Indusval, indicando que o mercado foi eficiente antecipadamente a estes eventos.
95 Os p-values oscilaram de 18,5% até 82,1% no evento do DPGE e, de 34,7% até 57,4% no evento
do compusório.
5.4
Resultados Individuais - Análise Financeira
5.4.1
Introdução
Agrupamos as análises financeiras dos bancos selecionados na amostra em dois tópicos,
de forma a contemplar efetivamente os efeitos dos eventos pesquisados nesta dissertação, como
demonstrado no Quadro 9. O racional deste agrupamento considera a forte correlação entre os
eventos, cujos impactos nas demonstrações financeiras dos bancos brasileiros puderam ser
também observados em períodos posteriores à respectiva data de algum evento específico.
Quadro 9: Agrupamento da análise financeira
Tópicos
Crise
financeira
e
Eventos
Período de Análise Financeira
Crise financeira
De Junho de 2008 até Março de
desdobramentos
2009
1ª liberação do compulsório
Criação do DPGE
Crise
Fiscal
desdobramentos
Européia
e
Crise Fiscal Européia
De Março de 2010 até Junho de
2ª liberação do compulsório
2010 e; de Setembro de 2011 até
Redução da taxa de juros
Junho de 2012
Fonte: Elaborado pela autora
5.4.2 Banco do Brasil
•
Crise Financeira de 2008 e desdobramentos – Análise Financeira trimestral
de junho de 2008 até março de 2009
Tabela 6: Banco do Brasil: Financial Highlights
BANCO DO BRASIL – Valores em Milhares de Reais
Ativo Total
Ativos Líquidos
Operações de Crédito
Jun-08
416.503
141.123
190.082
Set-08
458.873
162.634
202.233
Dez-08
521.273
209.586
224.808
Mar-09
591.925
248.489
241.926
96 Non performing loans
Provisões para crédito de liquidação duvidosa
Depósitos
Dívida Subordinada
Patrimônio Líquido
Receita de Intermediação Financeira
Resultado de Interm. Fin. Antes Provisões
Despesas com Provisões de Crédito
Despesas Pessoais e Administrativas
Receita com Serviços
Lucro Líquido
Crédito/ Patrimônio Líquido
Índice da Basiléia
NPL/ Carteira de Crédito
NPL - Provisões/ Patrimônio Líquido
RIF + Serviços/ Despesas Fixas
Retorno sobre PL
Resultado de Interm. Fin. Antes Provisões/ Receita Interm.
Fin.
Ativo Liquido/ Deposito Total
18.186
11.165
195.216
11.581
26.371
22.397
10.902
3.347
7.727
5.820
3.992
7,2x
13,1%
9,6%
26,6%
1,7x
30,3%
18.288
11.187
229.810
12.202
27.889
37.872
15.936
4.714
12.172
8.753
5.859
7,3x
13,6%
9,0%
25,5%
1,6x
28,0%
20.880
13.829
270.841
12.957
29.937
57.116
21.425
8.606
16.787
11.811
8.803
7,5x
15,2%
9,3%
23,6%
1,5x
29,4%
23.749
15.829
305.002
15.545
30.859
15.144
6.012
2.654
5.844
2.943
1.665
7,8x
15,4%
9,8%
25,7%
1,1x
21,6%
48,7%
72,3%
42,1%
70,8%
37,5%
77,4%
39,7%
81,5%
Fonte: Elaborado pela autora/ Austin Asis.
O cenário econômico benigno no 1º semestre de 2008 impulsionou a manutenção do ritmo
acelerado de crescimento de crédito, conforme evidenciado pela expansão de 10% nas operações
de crédito no 2º trimestre para R$ 190 milhões. A qualidade dos ativos do Banco do Brasil
manteve-se estável com índice de NPL equivalente a 9,6% do total da carteira de crédito em
Junho 2008. O incremento verificado nas operações creditícias, combinado a diversificada
geração de receitas do Banco do Brasil, contribuiu para a manutenção de uma forte geração de
receitas com rentabilidade anualizada sobre o patrimônio líquido superior a 30% em Junho de
2008. Tal crescimento, por outro lado, pressionou os indicadores de capital do banco, com
redução trimestral do índice da Basiléia em 2,2 p.p. para 13,1%, ainda acima do mínimo de 11%
exigido pelo Banco Central do Brasil.
A quebra do Banco Lehman Brothers em 15 de setembro de 2008 e, consequentemente, o
estouro da crise financeira, já provocou impactos nas demonstrações financeiras do Banco do
Brasil ao final de setembro deste ano.
A aversão generalizada ao risco contribuiu para que o Banco do Brasil privilegiasse o
incremento de liquidez, em detrimento da manutenção do acelerado ritmo de concessão de
empréstimos. Ao contrário do movimento observado no 2º trimestre de 2008, os números de
Setembro de 2008 demonstraram um crescimento mais moderado nas operações de crédito em
97 relação ao trimestre anterior (+6,4%). Em contrapartida, os ativos líquidos aumentaram 15,2% no
3º trimestre, compensando, assim, toda a redução observada no 2º trimestre de 2008.
O crescimento dos ativos líquidos para R$162,6 bilhões foi impulsionado pelo forte
crescimento da carteira de depósitos em 17,7% no trimestre. Este movimento acelerado na
carteira de captação do banco é denominado “flight to quality” (vôo para segurança). Este terno é
analisado nos itens subsequentes. Reflete o resgate de aplicações em investimentos e emissores
mais arriscados para aqueles que apresentam maior segurança, como o Banco do Brasil. A
credibilidade creditícia apresentada pelo banco considera não apenas sua estrutura acionária
vinculada com o governo federal, mas também seu tamanho e diversidade de operações e de
receitas.
A redução no ritmo de concessão de crédito conjugada ao aumento de liquidez provocou
uma leve redução nos indicadores de rentabilidade do Banco do Brasil (retorno anualizado sobre
patrimônio líquido de 28%), bem como contribuiu para uma melhora nos indicadores de capital.
O índice da Basiléia aumentou 0,5 p.p para 13,6% ao final de setembro. O nível de inadimplência
também melhorou para 9% em setembro de 2008, em relação a 9,6% em junho de 2008.
O impacto da crise financeira sobre as demonstrações financeiras do Banco do Brasil
continuou a ser observado nas demonstrações financeiras de dezembro de 2008. Como detalhado
a seguir, além do papel estratégico do banco para suprimento de linhas de crédito, regras do
Banco Central do Brasil no período influenciaram em seu nível de capitalização, crescimento e
rentabilidade. De uma maneira geral, o Banco do Brasil continuou apresentando fortes
fundamentos econômicos.
O efeito “flight to quality” continuou a ser observado no volume de captação do Banco do
Brasil, cuja carteira de depósitos cresceu 17,9% no 4º trimestre de 2008 para R$270,8 bilhões.
Segundo informações obtidas na transcrição de resultados do banco no período: “O volume
médio de CDBs realizados pelo Banco do Brasil até agosto era em torno de R$12 bilhões, em
setembro este volume duplicou para R$24 bilhões, em outubro quase que triplicou, em novembro
e dezembro observamos uma pequena retração, mas em patamares bem superiores à média
histórica do período pré-crise”.
Estes recursos foram não apenas direcionados ao incremento de liquidez do banco, mas
também à retomada de originação de crédito. Soma-se neste contexto a liberação do compulsório
anunciada em 02 de outubro de 2008, intensificando as operações entre instituições financeiras.
98 Segundo informações obtidas na apresentação de resultados do Banco do Brasil referentes
ao 4º trimestre de 2008, o volume de operações contratadas até dezembro de 2008 totalizou R$14
bilhões. O saldo no balanço de dezembro de 2008 foi de R$9,8 bilhões, sendo 60,8% destinado
para aplicações em depósitos interfinanceiros, 31,6% para aquisição de operações de crédito
consignado e 7,6% para aquisição de operações de financiamento de veículos.
As operações de crédito apresentaram um crescimento trimestral de 11,2% para R$224,8
bilhões, indicando a importante atuação do Banco do Brasil no suporte ao mercado local em suas
necessidades de liquidez e linhas de crédito. No ano de 2008, o Banco do Brasil apresentou um
crescimento de crédito anual de 39,9%, um ritmo maior ao observado pelo Sistema Financeiro
Nacional (31% em 2008).
Apesar da acelerada expansão nas operações de crédito, os indicadores de qualidade de
ativos do Banco do Brasil já começaram a dar sinais de uma pequena deterioração, conforme
evidenciado pelo índice de non-performing loans de 9,3% em dezembro de 2008, superior aos
9% no trimestre anterior. Os sinais de maior fragilidade no nível de inadimplemento das
operações de crédito decorreram especialmente da maior aversão ao risco por parte dos
investidores em geral, resultando na redução de limites de crédito disponíveis às empresas,
enfraquecimento nos fundamentos econômicos, aumento do número de empresas com pedido de
falências e recuperações extrajudiciais e, consequentemente, maior nível de inadimplência por
parte de pessoas físicas e pessoas jurídicas.
Com isso, o Banco do Brasil reforçou o nível de provisionamento de suas operações de
crédito em R$ 1,6 bilhões em 2008, frente à tendência de deterioração na qualidade de ativos nos
períodos subseqüentes.
A constituição de provisões adicionais aos percentuais mínimos requeridos pelas regras
do Banco Central (Resolução 2.682) foi autorizada pelos órgãos reguladores a integrarem o nível
I do Patrimônio de Referência através da Resolução 3.674 de 30 de dezembro de 2008,
fortalecendo, assim, a estrutura de capital do Banco do Brasil em dezembro de 2008.
Além deste fator, o aumento do índice de Basiléia do Banco do Brasil em 1.6 p.p. no
trimestre para 15,2% foi também influenciado pela implementação das Circular 3.425 e
Resolução 3.655 que permitiu não apenas a redução do fator de ponderação de capital de créditos
tributários oriundos de diferenças temporais de 300% para 100%, como limitou em 10% do
99 capital nível o total de créditos tributários decorrentes de prejuízos fiscais e bases de cálculo
negativas de contribuição social sobre o lucro líquido.
A melhora no nível de Basiléia do banco para o patamar de 15%, confortavelmente acima
do percentual mínimo exigido pelo Banco Central (11%) permitiu a evolução das atividades
creditícias do banco, em consonância com sua atuação mais forte no combate a crise financeira.
O aumento das provisões conjugado a outros fatores extraordinários foram compensados
pela mudança no reconhecimento dos ganhos atuariais do fundo de previdência, resultando, assim,
em ganhos extraordinários de R$2,1 bilhões no exercício de 2008. Assim, o banco manteve forte
rentabilidade como evidenciado pelo retorno sobre patrimônio líquido de 29,4% em 2008.
Ainda no 4º trimestre de 2008 foi anunciada a Medida Provisória 443, de 21 de outubro de
2008, a qual foi posteriormente convertida na Lei 11,908 de 03 de março de 2009. Este normativo
permitiu a aquisição de participações em instituições financeiras pelo Banco do Brasil e pela
Caixa Econômica Federal. Neste sentido, foi anunciada a aquisição de 49.9% no capital votante
do Banco Votorantim pelo Banco do Brasil em 12 de janeiro de 2009.
A criação do depósito especial com garantia do FGC (DPGE) não afetou os resultados do
Banco do Brasil no 1º trimestre de 2009, por ter sido uma medida de reforço de liquidez aos
bancos pequenos e médios brasileiros. No entanto, as demonstrações financeiras do Banco do
Brasil no período permaneceram influenciadas pelo ambiente econômico adverso decorrente da
crise financeira de Setembro de 2008, bem como pela consolidação dos números do Banco Nossa
Caixa.
A aquisição do controle acionário do Banco Nossa Caixa foi efetivada no 1º trimestre de
2009 e adicionou R$54,3 bilhões aos ativos do Banco do Brasil, com destaque de R$22,6 bilhões
para a carteira de títulos e valores mobiliários e de R$12,6 bilhões para operações de crédito.
Excluindo as operações de crédito oriundas do Banco Nossa Caixa, o Banco do Brasil registrou
um crescimento de apenas 2% no volume de operações no período, percentual este, que mesmo
tímido em função da sazonalidade do período, foi superior a expansão de 1,1% registrada pela
indústria bancária no período. O crescimento das operações creditícias acima da média da
indústria reforçou o papel anticíclico adotado pelos bancos públicos em decorrência do apetite de
crédito mais restrito dos bancos privados. Como demonstrado nas análises individuais a seguir, o
Bradesco registrou crescimento de 0,4% nas operações de crédito no 1º trimestre de 2009,
enquanto que o Itaú Unibanco reduziu sua carteira em 0,3% no mesmo período.
100 Os indicadores de inadimplência continuaram a apresentar sinais de deterioração
conforme evidenciado pelo índice de non-performing loans de 9,8% em março de 2009, 0,5
pontos percentuais acima do trimestre anterior, não obstante todo crescimento da carteira
verificado no período.
Apesar de não repetir a rentabilidade do ano anterior, o Banco do Brasil manteve alta
lucratividade com retorno sobre patrimônio líquido equivalente a 21,6% no trimestre. A excelente
estrutura de capital do banco foi mantida como evidenciado por índice de Basiléia equivalente a
15,4%, confortavelmente acima do mínimo de 11% exigido pelo Banco Central do Brasil.
•
Crise Fiscal Européia e desdobramentos – Análise Financeira trimestral de
Março de 2010 até Junho de 2010 e; de Setembro de 2011 até Junho de 2012
Tabela 7: Banco do Brasil: Financial Highlights
BANCO DO BRASIL - Valores em Milhares
de Reais
Ativo Total
Ativos Líquidos
Operações de Crédito
Non performing loans
LLR
Depósitos
Dívida Subordinada
Patrimônio Líquido
Receita de Intermediação Financeira
Resultado de Interm. Fin. Antes Provisões
Despesas com Provisões de Crédito
Despesas Pessoais e Administrativas
Receita com Serviços
Lucro Líquido
Crédito/ Patrimônio Líquido
Índice da Basiléia
NPL/ Carteira de Crédito
NPL - Provisões/ Patrimônio Líquido
RIF + Serviços/ Despesas Fixas
Retorno sobre PL
Resultado de Interm. Fin. Antes Provisões/
Receita Interm. Fin.
Ativo Liquido/ Deposito Total
Mar-10
724.881
278.161
305.551
24.663
18.316
342.624
24.451
37.646
18.813
8.584
2.959
6.297
3.634
2.351
8,1x
14,1%
8,1%
16,9%
1,5x
25,0%
Jun-10
755.706
273.110
326.522
24.466
18.088
343.961
24.983
39.332
38.565
17.381
5.484
12.441
7.588
5.076
8,3x
12,8%
7,5%
16,2%
1,6x
25,8%
Set-11
949.781
334.677
402.555
24.550
18.611
419.519
32.566
56.224
77.623
29.148
8.764
20.411
13.215
9.208
7,2x
14,5%
6,1%
10,6%
1,6x
21,8%
Dez-11
981.230
343.155
422.989
25.839
19.015
442.386
33.730
57.972
103.330
39.488
11.975
28.335
18.242
12.126
7,3x
14,5%
6,1%
11,8%
1,6x
20,9%
Mar-12
1.004.971
352.496
430.748
26.518
19.573
446.870
37.600
59.590
26.055
10.129
3.440
7.977
5.051
2.502
7,2x
14,3%
6,2%
11,7%
1,5x
16,8%
Jun-12
1.051.410
373.417
459.794
27.883
20.340
466.959
45.220
61.777
53.885
20.018
6.934
15.846
10.308
5.510
7,4x
14,2%
6,1%
12,2%
1,5x
17,8%
45,6%
81,2%
45,1%
79,4%
37,6%
79,8%
38,2%
77,6%
38,9%
78,9%
37,1%
80,0%
Fonte: Elaborado pela autora/ Austin Asis.
101 Os bons fundamentos econômicos brasileiros, com demonstração de forte resiliência
diante da crise financeira em 2008, não foram impactados em um primeiro momento pelo início
da crise fiscal européia. Neste cenário, o desempenho econômico-financeiro do Banco do Brasil
ao longo do primeiro semestre de 2010 não foi influenciado por tal evento.
Neste período, o Banco do Brasil manteve a estratégia de crescimento das operações de
crédito, privilegiando especialmente operações de financiamento a veículos e crédito consignado,
bem como a pequenas e médias empresas. Em março de 2010, o crescimento da carteira de
crédito foi de 1,6%, um pouco abaixo ao aumento de 2,6% verificado no Sistema Financeiro
Nacional no período. Este indicador refletiu basicamente o volta de apetite por operações de
crédito pelos bancos privados, num movimento oposto ao verificado ao final de 2008 e primeiro
semestre de 2009.
A benigna conjuntura econômica contribuiu não apenas para o crescimento das operações
de crédito, como também para a melhora constante dos indicadores de qualidade de ativos. Após
atingir o pico de 9,8% do total da carteira de crédito em março de 2009, o índice de NPL do
Banco do Brasil veio caindo gradualmente até 8,1% em março de 2010. Mesma observação serve
para o indicador de NPL líquido em relação ao patrimônio líquido do banco que caiu
sistematicamente de 25,7% em março de 2009 para 16,9% em igual período do ano posterior.
A carteira de depósitos cresceu 1,5% no trimestre, mesmo ritmo de crescimento das
operações de crédito. O destaque no período foi a emissão de R$ 1 bilhão de letras financeiras
subordinadas, que conjugado aos bons resultados do período, contribuíram para a manutenção do
índice de Basiléia em 14,1%, apesar do aumento das operações de crédito no período.
A boa rentabilidade em março de 2010 foi confirmada pelo lucro líquido publicado de
R$ 2,4 bilhões, rentabilizando o patrimônio líquido em 25% de forma anual. Além do
crescimento geral das operações do banco, especialmente as creditícias, os bons resultados do
período também foram influenciados por fatores extraordinários, como reversão de provisões
trabalhistas e venda da participação na Visa International.
Em Junho de 2010, o Banco do Brasil acelerou o crescimento das operações de crédito,
que aumentaram 6,9% em relação ao trimestre anterior, ritmo maior que a média de 5,4%
registrada pela indústria bancária no período. Este desempenho continuou refletindo a conjuntura
econômica favorável no Brasil, ao contrário do momento econômico mais turbulento na Zona do
102 Euro. Os indicadores de qualidade de ativos mantiveram a tendência de melhora, com redução de
NPL e de NPL líquido sobre PL para 7,5% e 16,2%, respectivamente.
O aumento da alavancagem creditícia de 8,1x em março de 2010 para 8,3x em junho de
2010 foi o principal responsável pela redução do índice da Basiléia para 12,8% no segundo
trimestre de 2010. Crescimento este também impulsionador da manutenção de forte rentabilidade,
conforme evidenciado pelo ROE anualizado de 25,8%.
Como já mencionado no referencial teórico desta dissertação, os efeitos da incerteza no
cenário econômico internacional começaram a surtir efeito na economia brasileira no segundo
semestre de 2011. A desaceleração da atividade econômica brasileiro resultou na flexibilização
de medidas prudenciais no quarto trimestre de 2011, incluindo a segunda liberação do depósito
compulsório em dezembro de 2011 e a redução acelerada da taxa de juros em março de 2012.
A conjuntura destes fatores teve impacto no desempenho econômico-financeiro do Banco
do Brasil, o qual, dada sua importante atuação no desenvolvimento econômico, manteve
acelerado crescimento das operações de crédito. Entre setembro de 2011 até junho de 2012, as
operações de crédito evoluíram 14,2% vis-a-vis a média de 12,4% da indústria bancária no
período. Este acelerado crescimento nas operações de crédito no período contribuíram para a
manutenção de adequados indicadores de qualidade de ativos, que se mantiveram estáveis em
aproximadamente 6,1% em relação a carteira de crédito e 11,5% em relação ao patrimônio
líquido.
Não obstante todo o crescimento da carteira de crédito, o índice de Basiléia manteve-se
estável em 14% em decorrência não apenas do aumento do capital social em R$ 7 bilhões em
julho de 2010 (oferta pública de ações), como também de subsequentes emissões de dívida
subordinada. O saldo total de dívida subordinada totalizou R$ 45,2 bilhões em junho de 2012, um
incremento de 39% em relação a setembro de 2011.
O maior impacto dos eventos anticíclicos estudados em 2011 e 2012 referem-se a pressão
sobre a margem financeira e, consequente, rentabilidade; que reduziram gradativamente no
período dada a redução da taxa de juros e aumento de competitividade. Apesar destes fatores, a
rentabilidade permaneceu elevada em 18% ao final de junho de 2012.
103 5.4.3
Itaú Unibanco
•
Crise Financeira de 2008 e desdobramentos – Análise Financeira trimestral
de junho de 2008 até março de 2009
Tabela 8: Itaú Unibanco: Financial Highlights
ITAU UNIBANCO – Valores em
Milhares de Reais
Ativo Total
Ativos Líquidos
Operações de Crédito
Non performing loans
Provisões para crédito de liquidação
duvidosa
Depósitos
Dívida Subordinada
Patrimônio Líquido
Receita de Intermediação Financeira
Resultado de Interm. Fin. Antes Provisões
Despesas com Provisões de Crédito
Despesas Pessoais e Administrativas
Receita com Serviços
Lucro Líquido
Crédito/ Patrimônio Líquido
Índice da Basiléia
NPL/ Carteira de Crédito
NPL - Provisões/ Patrimônio Líquido
RIF + Serviços/ Despesas Fixas
Retorno sobre PL
Resultado de Interm. Fin. Antes Provisões/
Receita Interm. Fin.
Ativo Liquido/ Deposito Total
Jun-08
343.870
139.023
134.879
11.929
Set-08
396.599
167.046
151.015
12.338
Dez-08
632.728
261.132
241.043
21.463
Mar-09
618.943
265.782
240.290
25.583
8.388
83.496
12.559
30.341
17.797
11.877
3.221
6.179
5.086
4.084
4,4x
16,4%
8,8%
11,7%
2,2x
26,9%
8.789
113.078
12.512
31.591
35.259
16.818
5.072
9.720
7.678
5.932
4,8x
14,7%
8,2%
11,2%
2,0x
25,0%
19.972
206.189
22.465
43.664
64.741
23.433
12.991
15.993
11.439
7.803
5,5x
16,1%
8,9%
3,4%
1,4x
17,9%
21.637
202.458
22.946
44.999
20.989
10.610
3.425
5.264
3.563
2.015
5,3x
16,6%
10,6%
8,8%
2,0x
17,9%
66,7%
166,5%
47,7%
147,7%
36,2%
126,6%
50,6%
131,3%
Fonte: Elaborado pela autora/Austin Asis
A falência do Banco Lehman Brothers em 15 de setembro de 2008 que culminou no
estouro da crise financeira afetou as demonstrações financeiras do Banco Itáu ao final do período.
O principal impacto observado foi o efeito “flight to quality” na base de captação do Itaú, com
crescimento trimestral de depósitos em mais de 35% em setembro de 2008. Com isso, o Itaú
conseguiu fortalecer seu nível de liquidez em 20% e manter a estratégia de crescimento de ativos
de risco de crédito. Ativos líquidos representaram aproximadamente 150% do total de depósitos,
indicando confortável colchão de liquidez. As operações de crédito totalizaram R$ 151 bilhões
em setembro de 2008, correspondendo a um incremento trimestral de 12%.
104 A manutenção do ritmo de concessão de crédito não só resultou na diluição dos níveis de
non-performing loans em 0,6 pontos percentuais para 8,2% em relação a junho de 2008, como
também aumentou a alavancagem de crédito do Itaú para 4,8x. Com isso, o índice da Basiléia
reduziu de 16,4% em junho de 2008 para 14,7% em setembro de 2008, permanecendo
confortavelmente acima do mínimo de 11% exigido pelo Banco Central do Brasil.
O banco manteve forte rentabilidade como evidenciado pelo retorno sobre patrimônio
líquido equivalente a 25% em setembro de 2008, levemente inferior aos 26,8% em junho de 2008.
A redução trimestral da rentabilidade resultou especialmente do provisionamento adicional de
R$ 100 milhões no terceiro trimestre de 2008. Tal provisionamento visou acomodar piora de
crédito esperada para os períodos subsequentes em função das consequências oriundas da crise
financeira.
Em 3 de novembro de 2008, o Banco Itáu e o Unibanco anunciaram a fusão de suas
operações, visando constituir “o maior conglomerado financeiro privado do Hemisfério Sul, cujo
valor de mercado fará com que ele fique situado entre os 20 maiores do mundo.”(ITAU
UNIBANCO). Esta associação foi aprovada pelo Banco Central do Brasil em 18 de fevereiro de
2009.
Embora ambos os bancos tenham comunicado que esta fusão já havia sido desenhada há
15 meses, acredita-se que a alta volatilidade do mercado bancário em decorrência da crise
financeira e uma possível fuga de liquidez bancária do Unibanco tenham antecipado esta
negociação.
Sob a denominação de Itaú Unibanco Holding S.A., o novo conglomerado já consolidou
as operações de ambos bancos em dezembro de 2008, encerrando o exercício de 2008 com ativos
de R$ 632,7 bilhões e patrimônio líquido de R$43,7 milhões. Desta forma, o desempenho no
período não pode ser comparado aos trimestres anteriores.
Ressalta-se, no entanto, que o Itaú Unibanco apresentou bons fundamentos financeiros em
dezembro de 2008, refletidos pela forte base de capital (Basiléia de 16,1%), adequado nível de
inadimplência de 8,9% vis-a-vis 7,8% do Sistema Financeiro Nacional), robusta rentabilidade
(retorno sobre patrimônio líquido de 18%) e confortável colchão de liquidez (ativos líquidos
equivalentes a 127% de depósitos).
Cabe mencionar o crescimento dos ativos interfinanceiros de liquidez em mais de R$ 14
bilhões no quarto trimestre de 2008, resultado não apenas da consolidação dos bancos, como
105 também dos efeitos da liberação de compulsório. O Itaú Unibanco atuou fortemente no suporte de
injeção de liquidez aos bancos menores, via aplicações em depósitos interfinanceiros e compra de
operações de crédito.
Não obstante a manutenção de bons fundamentos econômicos, uma análise consolidada
pró-forma divulgada pelo Itaú Unibanco menciona sobre aumento de inadimplência, resultante da
reclassificação de risks ratings de grandes empresas e impacto da desaceleração econômica sobre
a qualidade de risco de crédito de pequenas e médias empresas e de pessoas físicas.
Soma-se a constituição de R$ 3 bilhões de provisões adicionais com impacto no resultado
do exercício, visando a absorção de eventuais incrementos de inadimplência ocasionados por
forte reversão do ciclo econômico brasileiro.
Como a constituição de provisões adicionais aos percentuais mínimos requeridos pelas
regras do Banco Central (Resolução 2.682) foi autorizada pelos órgãos reguladores a integrarem
o nível I do Patrimônio de Referência através da Resolução 3.674 de 30 de dezembro de 2008, a
estrutura de capital do Itaú Unibanco seguiu fortalecida em dezembro de 2008, como já
mencionado.
A criação do depósito especial com garantia do FGC (DPGE) não afetou os resultados do
Itaú Unibanco no 1º trimestre de 2009, por ter sido uma medida de reforço de liquidez aos bancos
pequenos e médios brasileiros. No entanto, as demonstrações financeiras do banco no período
permaneceram influenciadas pelo ambiente econômico adverso decorrente da crise financeira de
Setembro de 2008.
Como antecipado no trimestre anterior, em virtude de uma ciclo econômico menos
virtusoso, os indicadores de inadimplência mantiveram a tendência de deterioração conforme
evidenciado pelo índice de non-performing loans de 10,6% em março de 2009, superior ao 8,9%
apresentado no trimestre anterior.
Neste sentido, o banco adotou uma postura mais conservadora e restrita na concessão de
crédito, com o total de operações reduzindo 0,3% para R$240 bilhões em março de 2009 em
relação a dezembro de 2008. Soma-se o reforço de liquidez para mais de 130% em relação aos
depósitos no período e a manutenção de rentabilidade em 17,9%.
A excelente estrutura de capital do banco foi mantida como evidenciado por índice de
Basiléia equivalente a 16,6%. Este índice foi superior em 0,5 p.p. sobre o trimestre anterior em
106 virtude da redução de risco de crédito e mantido confortavelmente acima do mínimo de 11%
exigido pelo Banco Central do Brasil.
•
Crise Fiscal Européia e desdobramentos – Análise Financeira trimestral de
Março de 2010 até Junho de 2010 e; de Setembro de 2011 até Junho de 2012
Tabela 9: Itaú Unibanco: Financial Highlights
ITAU UNIBANCO - Valores em milhares
de reais
Ativo Total
Ativos Líquidos
Operações de Crédito
Non performing loans
Provisões para crédito de liquidação
duvidosa
Depósitos
Dívida Subordinada
Patrimônio Líquido
Receita de Intermediação Financeira
Resultado de Interm. Fin. Antes Provisões
Despesas com Provisões de Crédito
Despesas Pessoais e Administrativas
Receita com Serviços
Lucro Líquido
Crédito/ Patrimônio Líquido
Índice da Basiléia
NPL/ Carteira de Crédito
NPL - Provisões/ Patrimônio Líquido
RIF + Serviços/ Despesas Fixas
Retorno sobre PL
Resultado de Interm. Fin. Antes Provisões/
Receita Interm. Fin.
Ativo Liquido/ Deposito Total
Mar-10
634.663
260.688
252.117
28.851
Jun-10
651.583
248.455
263.498
29.277
Set-11
836.994
282.752
335.279
35.527
Dez-11
851.332
305.049
345.483
37.692
Mar-12
896.842
346.943
347.369
38.265
Jun-12
888.809
335.839
356.789
37.117
23.170
183.490
25.756
52.975
18.375
10.105
3.021
5.860
4.120
3.234
4,8x
17,3%
11,4%
10,7%
1,9x
24,4%
22.900
189.657
28.255
55.074
37.271
20.979
6.073
12.380
8.419
6.399
4,8x
15,7%
11,1%
11,6%
1,9x
23,2%
24.719
220.675
37.638
68.206
75.154
34.495
10.544
20.315
13.960
10.940
4,9x
15,1%
10,6%
15,8%
1,9x
21,4%
25.772
242.636
38.974
71.347
101.366
47.259
14.424
27.456
19.048
14.621
4,8x
16,4%
10,9%
16,7%
1,9x
20,5%
25.951
231.345
44.984
72.484
26.081
13.801
4.839
6.820
5.003
3.426
4,8x
16,1%
11,0%
17,0%
2,0x
18,9%
27.056
234.975
42.948
75.636
52.120
25.684
9.701
13.918
10.082
6.730
4,7x
16,9%
10,4%
13,3%
1,9x
17,8%
55,0%
142,1%
56,3%
131,0%
45,9%
128,1%
46,6%
125,7%
52,9%
150,0%
49,3%
142,9%
Fonte: Elaborado pela autora/Austin Asis
Os bons fundamentos econômicos brasileiros, com demonstração de forte resiliência
diante da crise financeira em 2008, não foram impactados em um primeiro momento pelo início
da crise fiscal européia. Neste cenário, o desempenho econômico-financeiro do Itaú Unibanco ao
longo do primeiro semestre de 2010 não foi influenciado por tal evento.
Neste período, o Itaú Unibanco manteve a estratégia de crescimento das operações de
crédito, em detrimento de liquidez. A benigna conjuntura econômica contribuiu não apenas para
107 o crescimento das operações de crédito em 2,6% e 4,5%, respectivamente, no primeiro e no
segundo trimestres de 2010, como também pela melhora constante dos indicadores de qualidade
de ativos. Após atingir o pico de 12,5% do total da carteira de crédito em setembro de 2009, o
índice de NPL do Itaú Unibanco veio caindo consistentemente para 11,4% em março de 2010 e
11,1% em junho de 2010.
A carteira de depósitos reduziu 3,8% no primeiro trimestre, aumentando apenas em 3,4%
no segundo, em virtude especialmente do incremento de captação via emissão de dívidas
subordinadas. Enquanto que no primeiro trimestre, o banco emitiu mais que R$ 3 bilhões de
CDBs subordinados, no segundo trimestre, emitiu US$ 1 bilhão de eurobônus com vencimento
em 2020.
A emissão destes instrumentos subordinados permitiu a manutenção da trajetória de
expansão de crédito do Itaú Unibanco sem detrimento da estrutura de capital do banco. Após
atingir índice de Basiléia de 17,3% em março de 2010, o mesmo retrocedeu para 15,7% em junho
de 2010, permanecendo confortável para suportar o crescimento das operações do banco.
A boa rentabilidade em março e em junho de 2010 foi confirmada pelo lucro líquido
semestral de R$ 6,4 bilhões, rentabilizando o patrimônio líquido em 23% de forma anualizada.
Os bons resultados do período foram influenciados pelo crescimento das atividades e melhora dos
indicadores de qualidade de ativos, apesar da maior pressão sobre as margens em virtude do
acirramento da competitividade. A margem financeira alcançou 56,3% em junho de 2010, vis-avis 60,3% em setembro de 2009.
Como já detalhado, os efeitos da incerteza no cenário econômico internacional
começaram a surtir efeito na economia brasileira no segundo semestre de 2011, e,
consequentemente, no desempenho econômico-financeiro do Itaú Unibanco no período. Entre
setembro de 2011 até junho de 2012, as operações de crédito evoluíram apenas 6,4% vis-a-vis a
média de 12,4% da indústria bancária no período, indicando a adoção de uma postura mais
conservadora e seletiva na concessão de crédito.
Os indicadores de qualidade de ativos começaram a dar sinais de deterioração entre
setembro de 2011 e março de 2012, como evidenciado pelo aumento do índice de non-performing
loans de 10,6% para 11% no período analisado. Tal piora, atrelada às condições econômicas mais
modestas no período, bem como ao perfil mais endividado do consumidor, foi observado num
108 primeiro momento, na carteira de pequenas e médias empresas, agravada, posteriormente pelo
fraco desempenho da carteira de financiamento a veículos.
Adotando uma postura mais restrita na concessão de financiamento a veículos, através de
maiores requerimentos de entrada e menor prazo; bem como concentração em clientes com
menor perfil de risco, o Itaú Unibanco conseguiu reduzir os indicadores de inadimplência em
junho de 2012 para 10,4%, antes 11% no trimestre anterior.
Apesar do crescimento de 6,3% na base de depósitos entre setembro de 2011 e junho de
2012, mesmo ritmo observado na carteira de crédito; o banco emitiu mais de R$ 20 bilhões de
letras financeiras; exibindo ao final de junho de 2012, R$ 17 bilhões em letras financeiras
seniores e R$ 17 bilhões em letras financeiras subordinadas.
Com isso e em virtude do menor ritmo de crescimento de crédito, houve melhora nos
indicadores de liquidez do banco, como mensurado pelo incremento da razão de ativos líquidos
sobre depósitos de 128% em setembro de 2011 para 143% em junho de 2012.
As letras financeiras são títulos emitidos por instituições financeiras criados em abril de
2010. A atratividade deste instrumento de captação local em relação aos depósitos consiste no seu
perfil de longo prazo, mínimo 2 anos sem previsão de resgate antecipado e isenção de
recolhimento compulsório.
O índice de Basiléia melhorou de 15,1% em setembro de 2011 para 16,9% em junho de
2012, impactado especialmente pela redução da alavancagem de crédito e, aumento de emissões
de dividas subordinadas, consideradas como capital nível II.
O maior impacto dos eventos anticíclicos estudados em 2011 e 2012 referem-se a pressão
sobre a margem financeira e, consequente, rentabilidade; que reduziram gradativamente no
período dada a redução da taxa de juros e aumento de competitividade. Apesar destes fatores, a
rentabilidade permaneceu elevada em 18% ao final de junho de 2012.
5.4.4
Bradesco
•
Crise Financeira de 2008 e desdobramentos – Análise Financeira trimestral
de junho de 2008 até março de 2009
109 Tabela 10: Bradesco: Financial Highlights
BRADESCO - Valores em Milhares de reais
Ativo Total
Ativos Líquidos
Operações de Crédito
Non performing loans
Provisões para crédito de liquidação duvidosa
Depósitos
Dívida Subordinada
Patrimônio Líquido
Receita de Intermediação Financeira
Resultado de Interm. Fin. Antes Provisões
Despesas com Provisões de Crédito
Despesas Pessoais e Administrativas
Receita com Serviços
Lucro Líquido
Crédito/ Patrimônio Líquido
Índice da Basiléia
NPL/ Carteira de Crédito
NPL - Provisões/ Patrimônio Líquido
RIF + Serviços/ Despesas Fixas
Retorno sobre PL
Resultado de Interm. Fin. Antes Provisões/
Receita Interm. Fin.
Ativo Liquido/ Deposito Total
Jun-08
403.271
195.709
148.408
9.745
8.652
122.752
16.709
33.711
24.949
13.130
3.501
7.235
5.578
4.105
4,4x
14,4%
6,6%
3,2%
2,1x
24,4%
Set-08
422.706
195.057
160.634
10.254
9.136
139.170
17.544
34.168
39.848
18.282
5.325
11.171
8.397
6.015
4,7x
16,2%
6,4%
3,3%
1,9x
23,5%
Dez-08
454.413
212.720
173.423
11.461
10.263
164.493
19.249
34.257
57.611
23.656
7.884
15.311
11.215
7.620
5,1x
16,9%
6,6%
3,5%
1,8x
22,2%
Mar-09
482.141
229.410
174.121
13.561
11.424
169.103
19.745
35.306
16.500
7.753
2.920
3.903
2.837
1.723
4,9x
16,6%
7,8%
6,1%
2,0x
19,5%
52,6%
159,4%
45,9%
140,2%
41,1%
129,3%
47,0%
135,7%
Fonte: Elaborado pela autora/ Austin Asis
A crise financeira de 2008 afetou a estratégia de crescimento das operações do Banco
Bradesco. Em um movimento similar aos demais bancos grandes já analisados, o Bradesco se
beneficiou do efeito “flight to quality” em sua base de captação, com crescimento trimestral de
depósitos em 13% em setembro de 2008 e, em 18% em dezembro de 2008.
Como os depósitos cresceram num ritmo maior que os ativos líquidos, já que o Bradesco
apresentou crescimento consistente da carteira de crédito no segundo semestre de 2008, a razão
de liquidez e depósitos sofreu uma redução de 159% em junho de 2008 para 129% em dezembro
de 2008, permanecendo, no entanto, confortável.
Vale mencionar que parte do crescimento trimestral de 9% dos ativos líquidos do banco
em dezembro de 2008 deveu-se ao incremento de aplicações em depósitos interfinanceiros em
R$ 10 bilhões no trimestre. Tal crescimento foi motivado pela liberação do compulsório em
outubro de 2008, visando otimizar o fluxo de liquidez no mercado bancário.
110 As operações de crédito totalizaram, respectivamente, R$161 bilhões e R$ 173 bilhões em
setembro e em dezembro de 2008, correspondendo a um incremento trimestral de 8%. A
manutenção do ritmo de concessão de crédito resultou na diluição dos níveis de non-performing
loans em 0,2 pontos percentuais no terceiro trimestre de 2008, retornando ao nível de 6,6% em
dezembro de 2008, com adversidades de risco oriundas da crise financeira. Enquanto as
operações de crédito aumentaram, 8% no quarto trimestre de 2008, o crescimento do volume de
non-performing loans e de provisões para créditos de liquidação duvidosa foi, respectivamente
11,8% e 12,3%.
Não obstante o crescimento das operações de crédito, houve aumento de 1,8 pontos
percentuais para 16,2% no índice da Basiléia no 3o trimestre de 2008. Este crescimento resultou
da prerrogativa exercida pelo Bradesco em excluir a posição total do over-hedge sobre
investimentos no exterior, de acordo com o Artigo 4o da Circular no 3.389 do Banco Central do
Brasil, reduzindo, assim, a necessidade de requerimento de capital para cobrir risco de mercado.
O incremento de provisionamento adicional e inclusão do mesmo como capital nível I foi o
principal motivador para a Basiléia de 16,9% em dezembro de 2008.
O banco manteve forte rentabilidade como evidenciado pelo retorno sobre patrimônio
líquido equivalente a 23,5% em setembro de 2008 e 22,2% em dezembro de 2008, levemente
inferiores aos 24,4% em junho de 2008. A redução da rentabilidade no quarto trimestre resultou
especialmente do incremento do nível de despesas de provisões em R$ 800 milhões em relação
ao terceiro trimestre de 2008. Tal provisionamento visou acomodar piora de crédito esperada para
os períodos subsequentes em função das consequências oriundas da crise financeira.
A criação do depósito especial com garantia do FGC (DPGE) não afetou os resultados do
Bradesco no 1º trimestre de 2009, por ter sido uma medida de reforço de liquidez aos bancos
pequenos e médios brasileiros. No entanto, as demonstrações financeiras do banco no período
permaneceram influenciadas pelo ambiente econômico adverso decorrente da crise financeira de
Setembro de 2008.
Como esperado em virtude da repentina e profunda reversão do ciclo econômico, os
indicadores de inadimplência mantiveram a tendência de deterioração conforme evidenciado pelo
índice de non-performing loans de 7,8% em março de 2009, superior ao 6,6% apresentado no
trimestre anterior.
111 Neste sentido, o banco adotou uma postura mais conservadora e restrita na concessão de
crédito, com o total de operações aumentando apenas 0,4% para R$174 bilhões em março de
2009 em relação a dezembro de 2008, inferior a média de 1,1% da indústria bancária no período.
Soma-se o reforço de liquidez para mais de 130% em relação aos depósitos no período e a
redução de rentabilidade para 19,5%. Esta última foi impactada não apenas pelo excesso de
liquidez e redução de alavancagem de crédito no período, como também pela constituição de
R$ 2,9 bilhões de despesas de provisões em março de 2009, montante superior a R$ 2,5 bilhões e
R$ 1,8 bilhões nos terceiro e segundo trimestres do ano anterior.
A excelente estrutura de capital do banco foi mantida como evidenciado por índice de
Basiléia equivalente a 16,6% em março de 2009.
•
Crise Fiscal Européia e desdobramentos – Análise Financeira trimestral de
Março de 2010 até Junho de 2010 e; de Setembro de 2011 até Junho de 2012
Tabela 11: Bradesco: Financial Highlights
BRADESCO - Valores em Milhares de
reais
Ativo Total
Ativos Líquidos
Operações de Crédito
Non performing loans
Provisões para crédito de liquidação
duvidosa
Depósitos
Dívida Subordinada
Patrimônio Líquido
Receita de Intermediação Financeira
Resultado de Interm. Fin. Antes Provisões
Despesas com Provisões de Crédito
Despesas Pessoais e Administrativas
Receita com Serviços
Lucro Líquido
Crédito/ Patrimônio Líquido
Índice da Basiléia
NPL/ Carteira de Crédito
NPL - Provisões/ Patrimônio Líquido
RIF + Serviços/ Despesas Fixas
Retorno sobre PL
Resultado de Interm. Fin. Antes Provisões/
Receita Interm. Fin.
Ativo Liquido/ Deposito Total
Mar-10
532.626
260.126
198.107
17.123
Jun-10
558.100
258.503
208.588
17.234
Set-11
722.289
337.799
260.471
20.235
Dez-11
761.533
369.682
268.668
21.643
Mar-12
789.550
402.453
269.749
22.994
Jun-12
830.520
426.211
279.166
23.876
15.836
170.722
23.541
43.087
15.490
8.002
2.159
4.685
3.080
2.103
4,6x
16,8%
8,6%
3,0%
1,9x
19,5%
15.782
178.452
23.385
44.295
31.871
16.532
4.478
9.585
6.273
4.508
4,7x
15,9%
8,3%
3,3%
1,9x
20,4%
19.091
224.664
26.180
53.742
67.457
29.398
9.125
17.863
10.816
8.303
4,8x
14,7%
7,8%
2,1%
1,7x
20,6%
19.540
217.424
26.910
55.582
90.982
40.211
12.083
24.576
14.778
11.028
4,8x
15,0%
8,1%
3,8%
1,7x
19,8%
20.117
213.877
30.122
58.059
24.147
11.774
3.298
6.169
3.995
2.793
4,6x
15,0%
8,5%
5,0%
2,0x
19,2%
20.682
217.070
34.091
63.920
47.954
22.078
6.949
12.538
8.169
5.626
4,4x
17,0%
8,6%
5,0%
1,9x
17,6%
51,7%
152,4%
51,9%
144,9%
43,6%
150,4%
44,2%
170,0%
48,8%
188,2%
46,0%
196,3%
112 Fonte: Elaborador pela autora/ Austin Asis
Os bons fundamentos econômicos brasileiros, com demonstração de forte resiliência
diante da crise financeira em 2008, não foram impactados em um primeiro momento pelo início
da crise fiscal européia. Neste cenário, o desempenho econômico-financeiro do Bradesco ao
longo do primeiro semestre de 2010, assim como ocorreu com os demais bancos grandes
analisados neste trabalho, também não foi influenciado por tal evento.
Neste período, o Bradesco manteve a estratégia de crescimento das operações de crédito,
em detrimento de liquidez. A benigna conjuntura econômica contribuiu não apenas para o
crescimento das operações de crédito em 3,7% e 5,3%, respectivamente, no primeiro e no
segundo trimestres de 2010, como também pela melhora constante dos indicadores de qualidade
de ativos. Após atingir o pico de 9,2% do total da carteira de crédito em dezembro de 2009, o
índice de NPL do Bradesco caiu 8,6% em março de 2010 e 8,3% em junho de 2010.
O crescimento da alavancagem de crédito foi o principal responsável pela redução do
índice da Basiléia de 17,8% em dezembro de 2009 para 16,8% em março de 2010 e para 15,9%
em junho de 2010. Tal redução, no entanto, não impactou no confortável colchão de capital
apresentado pelo banco para suportar o crescimento de suas operações.
A boa rentabilidade em março e em junho de 2010 foi confirmada pelo lucro líquido
semestral de R$ 4,5 bilhões, rentabilizando o patrimônio líquido em 20,4% de forma anualizada.
Os bons resultados do período foram influenciados pelo crescimento das atividades e melhora dos
indicadores de qualidade de ativos, apesar da maior pressão sobre as margens em virtude do
acirramento da competitividade. A margem financeira alcançou 51,9% em junho de 2010, vis-avis 53% em dezembro de 2009.
Como já detalhado, os efeitos da incerteza no cenário econômico internacional
começaram a surtir efeito na economia brasileira no segundo semestre de 2011, e,
consequentemente, no desempenho econômico-financeiro do Bradesco no período. Entre
setembro de 2011 até junho de 2012, as operações de crédito evoluíram apenas 7,2% vis-a-vis a
média de 12,4% da indústria bancária no período, indicando a adoção de uma postura mais
conservadora e seletiva na concessão de crédito.
Os indicadores de qualidade de ativos começaram a dar sinais de deterioração entre
setembro de 2011 e junho de 2012, como evidenciado pelo aumento do índice de non-performing
113 loans de 7,8% para 8,6% no período analisado. Tal piora refletiu basicamente as condições
econômicas mais modestas no período, bem como ao perfil mais endividado do consumidor.
A base de depósitos do Bradesco recuou 0,3% entre setembro de 2011 e junho de 2012,
com gradual incremento de captações via letras financeiras, dada sua maior atratividade em
termos de prazo e de custo. A redução de depósitos e incremento de ativos líquidos em ritmo
maior que a carteira de crédito contribuiu para um reforço substancial no colchão de liquidez do
Bradesco de150% em setembro de 2011 para quase 200% em junho de 2012.
O índice de Basiléia melhorou de 14,7% em setembro de 2011 para 17% em junho de
2012, impactado especialmente pela redução da alavancagem de crédito de 4,8x para 4,4x no
período e, aumento de emissões de dividas subordinadas em mais de 30%, consideradas como
capital nível II.
O maior impacto dos eventos anticíclicos estudados em 2011 e 2012 referem-se a pressão
sobre a margem financeira e, consequente, rentabilidade; que reduziram gradativamente no
período dada a redução da taxa de juros e aumento de competitividade. Apesar destes fatores, a
rentabilidade permaneceu elevada em 18% ao final de junho de 2012.
5.4.5
Banco Panamericano
O porte e perfil das atividades do Banco Panamericano traduzem em certa volatilidade em
sua base de captação, composta especialmente por depósitos a prazo de curto prazo oriundos de
investidores institucionais. Soma-se a cessão de crédito como alternativa a fonte de captação do
banco, permitindo o crescimento de operações de crédito de longo prazo.
A alta volatilidade gerada pela crise financeira de 2008 impactou o desempenho
financeiro do Banco Panamericano, resultando na aquisição de 49% de seu controle acionário
pela Caixa Econômica Federal em dezembro de 2009.
O efeito real da crise sobre as demonstrações financeiras do Banco Panamericano, no
entanto, não pôde ser computado precisamente, uma vez que foram descobertas diversas
inconsistências contábeis que aparentemente datam de 2006, anterior a abertura de capital do
banco em 2007.
Tais inconsistências foram anunciadas em 9 novembro de 2010, quando o Banco Central
do Brasil divulgou que o controlador majoritário do Banco Panamericano realizou um depósito
114 na instituição no valor de R$ 2,5 bilhões, com recursos obtidos de uma operação de crédito com
garantias realizada junto ao Fundo Garantidor de Crédito (FGC).
Foram identificadas, posteriormente, irregularidades adicionais no montante de R$ 1,3
bilhão e a necessidade de outros ajustes contábeis não relacionados a inconsistências no valor de
R$ 0,5 bilhão, apurando um total de R$ 4,3 bilhões de perdas. Assim, o acionista controlador,
Grupo Sílvio Santos, aportou recursos adicionais no montante de R$ 1,3 bilhão em 31 de janeiro
de 2011, mesma data em que o mesmo vendeu sua participação para o Banco BTG Pactual.
Em função das inconsistências contábeis e inviabilidade de se reconstituir, de forma
apropriada, as demonstrações financeiras anteriores a descoberta de tal evento, foi elaborado um
“balanço patrimonial especial de abertura”, referente a 30 de novembro de 2010.
Neste sentido, a análise financeira do Banco Panamericano se restringe ao estudo dos
eventos da segunda liberação do compulsório e da redução de juros, compreendendo os períodos
de setembro de 2011 a junho de 2012.
•
Crise Fiscal Européia e desdobramentos – Análise Financeira trimestral de
Setembro de 2011 até Junho de 2012
Tabela 12: Panamericano: Financial Highlights
PANAMERICANO - Valores em Milhares
de Reais
Ativo Total
Ativos Líquidos
Operações de Crédito
Non performing loans
Provisões para crédito de liquidação duvidosa
Depósitos
Dívida Subordinada
Patrimônio Líquido
Receita de Intermediação Financeira
Resultado de Interm. Fin. Antes Provisões
Despesas com Provisões de Crédito
Despesas Pessoais e Administrativas
Receita com Serviços
Lucro Líquido
Crédito/ Patrimônio Líquido
Índice da Basiléia
NPL/ Carteira de Crédito
NPL - Provisões/ Patrimônio Líquido
RIF + Serviços/ Despesas Fixas
Set-11
12.870
2.011
7.731
1.265
1.110
4.903
985
1.231
2.641
1.691
947
1.098
295
53
6,3x
12,0%
16,4%
12,6%
0,9x
Dez-11
13.272
2.076
8.716
1.499
1.096
5.222
962
1.227
3.262
2.042
1.256
1.446
333
67
7,1x
10,2%
17,2%
32,8%
0,8x
Mar-12
14.816
3.915
8.279
1.703
1.200
5.756
988
2.202
872
620
341
345
75
3
3,8x
14,1%
20,6%
22,8%
1,0x
Jun-12
14.671
2.987
9.082
1.908
1.380
4.773
1.072
2.728
1.681
1.005
782
627
137
-260
3,3x
20,1%
21,0%
19,4%
0,6x
115 Retorno sobre PL
Resultado de Interm. Fin. Antes Provisões/
Receita Interm. Fin.
Ativo Liquido/ Deposito Total
5,8%
5,5%
0,5%
-19,0%
64,0%
41,0%
62,6%
39,8%
71,1%
68,0%
59,8%
62,6%
Fonte: Elaborado pela autora/ Austin Asis
Após iniciar uma profunda reestruturação em controles, sistemas e pessoal no Banco
Panamericano, especialmente no 1º semestre de 2011, os trimestres findos em setembro e
dezembro de 2011 foram marcados pela aceleração das atividades creditícias. As operações de
crédito aumentaram, respectivamente, 9,7% e 12,7% nos terceiro e quarto trimestres de 2011,
atingindo ao final do exercício de 2011 o montante de R$8,7 bilhões. Parte deste crescimento
ocorreu também em virtude da flexibilização da política monetária, especialmente no 4º trimestre
de 2011, como resposta a desaceleração econômica. O crescimento das operações de crédito
contribuiu para diluir os indicadores de qualidade de ativos, como evidenciado pela redução de
non-performing loans de 18,4% em junho de 2011 para 16,4% em setembro de 2011. Este
comportamento, no entanto, não se repetiu em dezembro de 2011, uma vez que as condições
econômicas mais modestas já começaram a impactar no nível de inadimplência do consumidor.
Em dezembro de 2011, o índice de non-performing loans atingiu 17,2%, superior ao trimestre
anterior.
Visando reduzir o custo de captação, o Banco Panamericano veio gradativamente
reduzindo sua exposição em DPGEs de R$ 2.1 bilhões em março de 2011 para R$ 958 milhões
em dezembro de 2011. Nesta estratégia, o banco captou mais de R$1,1 bilhão de depósitos
interfinanceiros em Dezembro de 2011 em relação ao trimestre anterior, já se beneficiando da
segunda liberação do compulsório.
O processo de reestruturação do banco em 2011 impactou a rentabilidade do período
como evidenciado pelo retorno sobre patrimônio líquido de 5.5%. O banco reportou resultado
antes de imposto de renda negativo no montante de R$596 milhões, revertido para lucro anual de
R$67 milhões após ativação de crédito fiscal em R$718 milhões.
Os resultados modestos combinados ao incremento das operações de crédito impactaram a
estrutura de capital do banco, com índice de Basiléia atingindo 10,2% em dezembro de 2011,
abaixo do parâmetro mínimo de 11% requerido pelo Banco Central do Brasil.
Visando o restabelecimento do nível de solvência, o Banco Panamericano recebeu aporte
de capital no montante de R$1,8 bilhões no 1º semestre de 2012, sendo R$972 milhões realizado
116 no primeiro trimestre pelos acionistas controladores e R$ 787 milhões no segundo, junto aos
detentores de ações preferenciais. Estes aportes incrementaram o índice da Basiléia do
Panamericano para 14,1% em março de 2012 e 20,1% em junho de 2012.
O fortalecimento da estrutura de capital do banco Panamericano foi também influenciado
pela retração das operações de crédito em 5% no 1º trimestre de 2012, resultado da adoção de
uma postura mais conservadora frente à concessão de crédito diante de um cenário econômico
mais desafiador e com crescimento do nível de inadimplência. Neste cenário, o índice de nonperforming loans atingiu 20,6% em março de 2012 vis-a-vis 17,2% em dezembro de 2011.
Mesmo adotando critérios mais seletivos de concessão de crédito, as operações de crédito
do Banco Panamericano aumentaram 9,7% no segundo trimestre, aproveitando as medidas
anticíclicas do Banco Central, como redução de juros, e, refletindo a decisão do banco em
restringir cessões de crédito. A piora do nível de inadimplência foi observada pelo índice de nonperforming loans de 21% em junho de 2012.
O banco continuou a se beneficiar das regras de liberação do compulsório via,
especialmente, captação de letras financeiras em mais de R$ 600 milhões. Ainda perseguindo a
estratégia de redução do custo de captação, o banco conseguiu reduzir a base de DPGE para
R$789 milhões ao final de junho de 2012; incrementando o uso de outros instrumentos, como
letras financeiras, letras de crédito imobiliário e letras de crédito agrícolas. A atratividade da
emissão destes títulos reside na isenção de recolhimento compulsório e perfil de longo prazo, no
caso das letras financeiras; e na isenção de imposto de renda e IOF, no caso das demais letras
mencionadas. Esta mudança no mix contribuiu para a redução de depósitos de R$ 5,7 bilhões em
março de 2012 para R$ 4,8 bilhões em junho de 2012. Soma-se, ainda, a redução de certa
dependência de investidores institucionais no mix de depósitos a prazo de 57% em setembro de
2011 para 40% em junho de 2012.
O fortalecimento da base de capital e a diversificação da base de captação do Banco
Panamericano, aumentaram o nível de liquidez do Banco de R$2.0 bilhões em setembro de 2011
para aproximadamente R$ 3 bilhões em junho de 2012. Com isso, ativos líquidos representaram
63% dos depósitos em junho de 2012, em relação a 41% em setembro de 2011.
A rentabilidade do banco permaneceu impactada no 1º semestre de 2012, como
evidenciado pelo lucro de R$ 3 milhões no primeiro trimestre de 2012 e prejuízo de R$ 257
milhões no segundo trimestre. Apesar da ativação de crédito tributário em R$ 245 milhões no
117 semestre, a rentabilidade do banco foi influenciada pela decisão de retenção das operações de
crédito e aumento das provisões para créditos de liquidação duvidosa, esta última parcialmente
influenciada pelos desdobramentos da crise européia.
5.4.6
Banco ABC Brasil
-
Crise Financeira de 2008 e desdobramentos – Análise Financeira trimestral
de junho de 2008 até março de 2009
Tabela 13: ABC Brasil: Financial Highlights
ABC BRASIL -Valores em milhares de reais
Ativo Total
Ativos Líquidos
Operações de Crédito
Non performing loans
Provisões para crédito de liquidação duvidosa
Depósitos
Dívida Subordinada
Patrimônio Líquido
Receita de Intermediação Financeira
Resultado de Interm. Fin. Antes Provisões
Despesas com Provisões de Crédito
Despesas Pessoais e Administrativas
Receita com Serviços
Lucro Líquido
Crédito/ Patrimônio Líquido
Índice da Basiléia
NPL/ Carteira de Crédito
NPL - Provisões/ Patrimônio Líquido
RIF + Serviços/ Despesas Fixas
Retorno sobre PL
Resultado de Interm. Fin. Antes Provisões/
Receita Interm. Fin.
Ativo Liquido/ Deposito Total
Jun-08
6.310
1.062
4.855
32
48
2.602
5
1.132
361
191
14
51
20
81
4,3x
19,2%
0,7%
-1,4%
3,9x
14,4%
Set-08
7.684
1.329
5.329
35
56
2.448
5
1.159
666
272
26
81
32
130
4,6x
16,1%
0,6%
-1,9%
3,5x
14,9%
Dez-08
7.495
2.152
4.708
112
105
2.480
6
1.162
1.068
352
80
128
43
150
4,1x
18,0%
2,4%
0,6%
2,5x
12,9%
Mar-09
6.888
1.786
4.396
181
123
2.451
6
1.175
186
89
25
33
10
26
3,7x
18,1%
4,1%
4,9%
2,2x
9,0%
52,9%
40,8%
40,9%
54,3%
32,9%
86,8%
47,8%
72,9%
Fonte: Elaborado pela autora/ Austin Asis
O primeiro semestre de 2008 foi marcado pela manutenção de constante crescimento das
operações de crédito do Banco ABC Brasil, amparado especialmente pelo excesso de liquidez.
Enquanto as operações de crédito registraram crescimento de 12% em relação ao primeiro
trimestre de 2008, a base de depósitos do Banco ABC Brasil aumentou 26,6% em junho de 2008
118 sobre março de 2008. Os indicadores financeiros apresentavam-se sólidos, como evidenciado
pelo baixíssimo índice de non-performing loans (0,7% em junho de 2008), forte estrutura de
capital (índice de Basiléia de 19,2%), adequado colchão de liquidez (ativos líquidos cobrindo
41% da base de depósitos e quase 100% do patrimônio líquido) e boa rentabilidade e eficiência
(retorno sobre patrimônio liquido de 14% e receitas cobrindo quase 4x o total de despesas
administrativas e de pessoal).
O agravamento da crise financeira após a quebra do Banco Lehman Brothers teve impacto
imediato nas demonstrações financeiras do Banco ABC Brasil no período compreendido entre
setembro de 2008 até março de 2009.
Diferentemente dos bancos grandes analisados até então, o Banco ABC Brasil, assim
como os bancos médios em geral possuem uma base de captação mais volátil e concentrada por
instrumento e por investidores. Neste sentido, em momentos de crise ou eventos de stress, os
investidores, geralmente, tendem a sacar seus recursos nas instituições menores em busca de
maior segurança financeira. Ocorre-se, assim, o movimento contrário do efeito “flight to quality”
verificado no Banco do Brasil, Bradesco e Itáu Unibanco.
A alta tensão e aversão ao risco resultaram na redução da base de depósitos do Banco
ABC Brasil em 6% no terceiro trimestre de 2008 para R$ 2,4 bilhões, totalmente compensada
pela emissão de mais de R$ 300 milhões de letras imobiliárias. Tal estrutura juntamente com sua
sólida base de capital contribuíram para o crescimento trimestral de 9,7% das operações de
crédito no período, bem como para o fortalecimento da liquidez em R$ 300 milhões. Ativos
líquidos representaram 54% dos depósitos em setembro de 2008, quase 15 p.p. acima de junho de
2008.
A manutenção de elevado ritmo de crescimento das operações de crédito foi um dos
motivadores para a manutenção de excelentes indicadores de qualidade de ativos, com nonperforming loans de 0,6% e non-performing loans líquido de provisões negativo em 1,9% em
relação ao patrimônio líquido em setembro de 2008.
Por outro lado, o crescimento da alavancagem de crédito, bem como a adoção dos
princípios da Basiléia II, reduziram o índice da Basiléia em 3 p.p. no trimestre para 16,1% em
setembro de 2008, ainda confortável para suportar perdas de crédito dos períodos subsequentes.
A rentabilidade em setembro de 2008 permaneceu adequada com retorno sobre patrimônio
119 líquido de 14,9%, apesar do crescimento de despesas com provisões para créditos de liquidação
duvidosa.
O agravamento da crise nos meses subsequentes à falência do Lehman Brothers com
redução da atividade econômica, redução de liquidez, aumento de inadimplência e restrição da
oferta de crédito refletiu diretamente no desempenho econômico-financeiro do Banco ABC Brasil.
As operações de crédito reduziram 12% no trimestre, atingindo o montante final de R$4,7
bilhões, reflexo de um postura mais conservadora na concessão de crédito e foco na construção
de liquidez. Beneficiando-se das regras de liberação do compulsório, o Banco ABC Brasil captou
aproximadamente R$ 500 milhões de depósitos interfinanceiros, compensando a redução de
depósitos a prazo em quase R$ 400 milhões. Com isso, a base de depósitos do Banco ABC Brasil
cresceu 1,3% no trimestre.
Diferentemente dos demais bancos médios, o Banco ABC Brasil é controlado pelo
conglomerado financeiro Arab Banking Corporation, o qual disponibilizou uma linha de crédito
para o banco de USD 300 milhões, com utilização de USD 143,6 milhões em dezembro de 2008.
Ativos líquidos cresceram 62% no trimestre atingindo o montante de R$ 2,2 bilhões em
dezembro de 2008, equivalente a 87% dos depósitos e a quase 2x do patrimônio líquido no
período.
Os indicadores de qualidade de ativos deterioraram com non-performing loans de 2,4%
em dezembro de 2008, permanecendo, no entanto, melhores que a média da indústria bancária de
7,8% no período.
A desaceleração das operações creditícias, conjugando ao incremento de liquidez e ao
aumento de provisões de crédito de liquidação duvidosa em mais de R$ 50 milhões só no quarto
trimestre (incluindo R$ 18 milhões de provisões adicionais), mais que o dobro do que foi
provisionado no 9 primeiros meses de 2008, impactaram a rentabilidade do ABC Brasil. O lucro
ao final do exercício foi de R$ 150 milhões, rentabilizando o patrimônio liquido em 12,9%.
Não obstante a apresentação de menores resultados, a desalavancagem de crédito no
trimestre proporcionou uma melhora nos indicadores de capital do banco, com índice de Basiléia
atingindo 18% ao final do exercício de 2008. Soma-se, neste contexto, o provisionamento
adicional, revertido como capital nível I conforme permitido pelo Banco Central do Brasil.
As operações de crédito mantiveram a trajetória de desaceleração iniciada no quarto
trimestre de 2008, reduzindo mais 6% no primeiro trimestre de 2009 para R$ 4,4 bilhões e
120 retornando ao patamar do mesmo período do ano anterior. A piora da inadimplência foi
verificada pelo incremento do volume trimestral de non-performing loans em 62%, representando
mais que 4% da carteira de crédito em março de 2009.
O Banco ABC Brasil não captou recursos sob a modalidade de DPGE, encerrando o
primeiro trimestre de 2009 com uma base de depósitos praticamente estável em relação a
dezembro de 2008. Soma-se uma pequena redução na base de ativos líquidos, que permaneceram,
no entanto, confortáveis para suportar eventual queda de depósitos. A cobertura de liquidez foi de
73% dos depósitos em março de 2009.
A rentabilidade permaneceu influenciada pela retração das operações de crédito e
crescimento de provisões para créditos de liquidação duvidosa. Com lucro líquido de R$ 26
milhões, a rentabilidade sobre patrimônio líquido ficou em 9% em março de 2009 e a eficiência,
embora robusta, caiu para 2,2x versus pico de 3,9 x em junho de 2008.
A forte estrutura de capital foi comprovada pela manutenção do índice da Basiléia em
18%, confortável para suportar aumento de perdas nos períodos subsequentes.
•
Crise Fiscal Européia e desdobramentos – Análise Financeira trimestral de
Março de 2010 até Junho de 2010 e; de Setembro de 2011 até Junho de 2012
Tabela 14: ABC Brasil: Financial Highlights
ABC BRASIL -Valores em milhares de
reais
Ativo Total
Ativos Líquidos
Operações de Crédito
Non performing loans
Provisões para crédito de liquidação
duvidosa
Depósitos
Dívida Subordinada
Patrimônio Líquido
Receita de Intermediação Financeira
Resultado de Interm. Fin. Antes Provisões
Despesas com Provisões de Crédito
Despesas Pessoais e Administrativas
Receita com Serviços
Lucro Líquido
Crédito/ Patrimônio Líquido
Índice da Basiléia
Mar-10
8.156
1.504
6.293
196
Jun-10
9.699
2.340
6.845
205
Set-11
11.642
2.595
7.754
155
Dez-11
10.511
2.310
7.674
182
Mar-12
11.629
3.136
7.784
206
Jun-12
12.910
3.226
8.520
214
121
3.242
6
1.247
208
105
14
35
24
47
5,0x
13,3%
122
3.144
537
1.279
462
216
23
71
51
97
5,4x
17,8%
131
3.045
629
1.460
1.024
392
39
131
91
175
5,3x
15,8%
133
3.316
610
1.500
1.307
533
52
179
125
236
5,1x
15,6%
152
3.652
627
1.536
320
148
24
47
29
57
5,1x
15,2%
174
3.678
687
1.566
682
230
52
99
61
112
5,4x
14,2%
121 NPL/ Carteira de Crédito
NPL - Provisões/ Patrimônio Líquido
RIF + Serviços/ Despesas Fixas
Retorno sobre PL
Resultado de Interm. Fin. Antes Provisões/
Receita Interm. Fin.
Ativo Liquido/ Deposito Total
3,1%
6,0%
3,3x
15,1%
3,0%
6,5%
3,4x
15,2%
2,0%
1,6%
3,4x
16,0%
2,4%
3,3%
3,4x
15,7%
2,7%
3,5%
3,3x
14,8%
2,5%
2,6%
2,4x
14,3%
50,6%
46,4%
46,8%
74,4%
38,3%
85,2%
40,7%
69,7%
46,2%
85,9%
33,7%
87,7%
Fonte: Elaborado pela autora/ Austin Asis
Como já verificado nos bancos analisados até o presente momento, os efeitos da crise
européia não surtiram impacto em suas demonstrações financeiras no primeiro semestre de 2010.
Neste contexto, encontra-se o Banco ABC Brasil que manteve no período a trajetória de
crescimento das operações de crédito iniciada no segundo semestre de 2009.
O volume de crédito atingiu R$ 6,8 bilhões ao final de junho de 2010, com crescimento de
11,5% no primeiro trimestre e 8,9% no segundo trimestre. Os indicadores de qualidade de ativos
também continuaram a melhorar, retrocedendo consistentemente do pico de 6,1% em junho de
2009 para 3,1% em março de 2010 e 3% em junho de 2010.
A abundância de liquidez tanto no mercado local, como no mercado internacional,
permitiu uma carteira de depósitos de R$ 3 bilhões no semestre, complementada com recursos de
letras domésticas e reforçada pela emissão de US$ 300 milhões de dívida subordinada em abril de
2010 por um prazo de 10 anos.
Neste contexto, ativos líquidos atingiram R$ 2,3 bilhões em junho de 2010, quase R$ 1
bilhão superior a março de 2010, com melhora da cobertura de liquidez sobre depósitos para 74%
em junho, contra 46% em março.
A emissão do instrumento de dívida subordinada, classificada como capital nível II,
melhorou a estrutura de capital do banco de 13,3% em março de 2010 para 17,8% em junho de
2010, permitindo a manutenção da expansão das atividades do ABC Brasil.
O crescimento das operações de crédito conjugada a melhora na qualidade de ativos
contribuíram para a recuperação da rentabilidade do banco com retorno sobre patrimônio líquido
no patamar de 15% e eficiência de 3,4x no semestre.
Após retroceder para 1,9% em junho de 2011, condições econômicas mais adversas a
partir do segundo semestre de 2011, parcialmente influenciadas pela desaceleração da zona do
Euro, contribuíram para o crescimento gradual do índice de non-performing loans do Banco ABC
Brasil de 2% em setembro de 2011 para 2,5% em junho de 2012.
122 Não obstante este cenário, o Banco ABC Brasil manteve estratégia de crescimento das
operações de crédito de 9,9% entre setembro de 2011 até junho de 2012, mesmo sendo inferior ao
ritmo médio de crescimento de 12,4% registrado pela indústria bancária no período.
O crescimento das operações de crédito foi amparado pelo aumento da base de depósitos
em 21% entre setembro de 2011 e junho de 2012, com destaque para o incremento de
aproximadamente R$ 500 milhões em depósitos interfinanceiros no primeiro trimestre de 2012,
como consequência da segunda liberação do depósito compulsório. Tal evento também
contribuiu para a diversificação e alongamento de sua fonte de captação com emissão de quase
R$ 600 milhões de letras financeiras relacionadas a liberação do compulsório no primeiro
semestre de 2012.
Apesar da manutenção das operações creditícias no período, sob uma conjuntura de
deterioração da qualidade de ativos e, consequente, reforço no nível de provisões para créditos
de liquidação duvidosa, a rentabilidade do banco foi reduzindo de 16% em setembro de 2011
para 14,3% em junho de 2012.
Soma-se que a manutenção do ritmo de crescimento de crédito aumentou a necessidade de
requerimento de capital, reduzindo o índice de Basiléia de 15,8% em setembro de 2011 para
14,2% em junho de 2012, ainda, assim, confortável perante aos requerimentos mínimos exigidos.
O reforço da captação do banco via depósitos, letras financeiras e outras letras domesticas
incrementaram sua liquidez em 24% de R$ 2,6 bilhões em setembro de 2011 para R$ 3,2 bilhões
em junho de 2012, com cobertura sobre depósitos na ordem de 88% no final do primeiro semestre
de 2012.
5.4.7
Banco Daycoval
•
Crise Financeira de 2008 e desdobramentos – Análise Financeira trimestral
de junho de 2008 até março de 2009
Tabela 15: Daycoval: Financial Highlights
DAYCOVAL - Valores em Milhares de reais
Ativo Total
Ativos Líquidos
Operações de Crédito
Non performing loans
Jun-08
7.972
3.047
4.494
132
Set-08
8.085
3.126
4.627
225
Dez-08
6.831
2.641
3.705
269
Mar-09
6.728
2.950
3.312
350
123 Provisões para crédito de liquidação duvidosa
Depósitos
Dívida Subordinada
Patrimônio Líquido
Receita de Intermediação Financeira
Resultado de Interm. Fin. Antes Provisões
Despesas com Provisões de Crédito
Despesas Pessoais e Administrativas
Receita com Serviços
Lucro Líquido
Crédito/ Patrimônio Líquido
Índice da Basiléia
NPL/ Carteira de Crédito
NPL - Provisões/ Patrimônio Líquido
RIF + Serviços/ Despesas Fixas
Retorno sobre PL
Resultado de Interm. Fin. Antes Provisões/
Receita Interm. Fin.
Ativo Liquido/ Deposito Total
117
2.951
0
1.597
547
299
58
113
10
133
2,8x
25,6%
2,9%
0,9%
2,2x
16,6%
156
2.718
0
1.612
1.094
469
109
177
22
180
2,9x
25,6%
4,9%
4,3%
2,2x
14,9%
191
1.757
0
1.607
1.650
646
177
244
26
200
2,3x
28,2%
7,3%
4,8%
2,0x
12,5%
230
1.922
0
1.634
299
179
75
43
4
48
2,0x
28,2%
10,6%
7,3%
2,5x
11,8%
54,6%
103,3%
42,9%
115,0%
39,1%
150,3%
59,8%
153,5%
Fonte: Elaborado pela autora/ Austin Asis
O primeiro semestre de 2008 foi marcado pela manutenção de constante crescimento das
operações de crédito do Banco Daycoval, amparado especialmente pelo excesso de liquidez. Ao
final de junho de 2008, o banco apresentava um balanço patrimonial sólido, com liquidez de
R$ 3 bilhões, equivalente a quase 100% de depósitos e 200% do patrimônio líquido, baixa
inadimplência com non-perfoming loans de 2,9%, forte estrutura de capital com índice de
Basiléia superior a 25% e confortável rentabilidade de 16,6% sobre patrimônio líquido.
O agravamento da crise financeira após a quebra do Banco Lehman Brothers teve impacto
imediato nas demonstrações financeiras do Banco Daycoval no período compreendido entre
setembro de 2008 até março de 2009.
Como característica de seu perfil de negócios e porte, em momentos de crise ou eventos
de stress, os investidores, geralmente, tendem a sacar seus recursos investidos em busca de maior
segurança financeira. Neste cenário, a base de depósitos do Banco Daycoval reduziu 8% no
terceiro e 35% no quarto trimestres de 2008 para o patamar de R$ 1,8 bilhões, recuperando 9%
em março de 2009. O banco não se beneficiou nem dos depósitos interfinanceiros oriundos da
liberação do depósito compulsório, nem da criação do DPGE para recuperação de sua base de
captação.
124 O excesso de liquidez apresentado pelo banco no primeiro semestre de 2008, conjugado a
retração das operações de crédito em 20% no quarto trimestre de 2008 e 11% no primeiro
trimestre de 2009 foram suficientes para suportar a onda de resgates de depósito no período, bem
como para recompor sua liquidez ao patamar de R$ 3 bilhões
em março de 2009. Este
confortável colchão de liquidez foi suficiente para cobrir mais que 150% da base de depósitos do
banco em março de 2009, vis-a-vis 115% em setembro de 2008.
Soma-se a manutenção do índice da Basiléia em nível superior ao mínimo requerido de
11% pelo Banco Central do Brasil, oscilando de 25% em junho e setembro de 2008 para o
patamar de 28% após desalavancagem das operações de crédito em dezembro de 2008 e março de
2009.
Esta robusta base de capital mostrou-se capaz de absorver um cenário de menor
rentabilidade com retorno sobre patrimônio líquido caindo gradativamente de 16,6% em junho de
2008, para 14,9% em setembro de 2008, 12,5% em dezembro de 2008 e 11,8% em março de
2009. Queda de desempenho impulsionada pela redução de operações de crédito, aumento de
custo de captação e maiores perdas com provisões para crédito de liquidação duvidosa. Esta
última refletindo os efeitos da desaceleração econômica sobre a qualidade de ativos do Daycoval,
com non-perfoming loans sobre crédito deteriorando de 2,9% no período anterior a crise em
junho de 2008 para 4,9% em setembro de 2008, 7,3% em dezembro de 2008 e 10,6% em março
de 2009.
•
Crise Fiscal Européia e desdobramentos – Análise Financeira trimestral de
Março de 2010 até Junho de 2010 e; de Setembro de 2011 até Junho de 2012
Tabela 16: Daycoval: Financial Highlights
DAYCOVAL - Valores em Milhares de
reais
Ativo Total
Ativos Líquidos
Operações de Crédito
Non performing loans
Provisões para crédito de liquidação
duvidosa
Depósitos
Dívida Subordinada
Patrimônio Líquido
Mar-10
7.633
3.237
4.046
260
Jun-10
8.813
3.821
4.583
245
Set-11
11.502
3.336
6.963
233
Dez-11
12.105
2.824
7.725
258
Mar-12
12.847
4.041
7.372
351
Jun-12
12.955
3.799
7.486
477
186
2.506
0
1.724
164
2.775
0
1.668
181
4.122
0
1.903
206
4.542
0
1.952
248
4.499
0
2.024
298
4.442
0
2.013
125 Receita de Intermediação Financeira
Resultado de Interm. Fin. Antes Provisões
Despesas com Provisões de Crédito
Despesas Pessoais e Administrativas
Receita com Serviços
Lucro Líquido
Crédito/ Patrimônio Líquido
Índice da Basiléia
NPL/ Carteira de Crédito
NPL - Provisões/ Patrimônio Líquido
RIF + Serviços/ Despesas Fixas
Retorno sobre PL
Resultado de Interm. Fin. Antes Provisões/
Receita Interm. Fin.
Ativo Liquido/ Deposito Total
271
163
38
47
7
55
2,3x
27,2%
6,4%
4,3%
2,8x
12,7%
594
345
67
93
14
119
2,7x
22,3%
5,3%
4,8%
3,1x
14,2%
1.431
528
119
220
43
214
3,7x
16,6%
3,4%
2,8%
2,1x
15,0%
1.924
796
172
318
62
305
4,0x
16,5%
3,3%
2,7%
2,2x
15,6%
462
253
75
92
19
95
3,6x
19,0%
4,8%
5,1%
2,1x
18,8%
1.168
584
159
191
36
177
3,7x
18,1%
6,4%
8,9%
2,4x
17,5%
60,1%
129,2%
58,1%
137,7%
36,9%
80,9%
41,4%
62,2%
54,7%
89,8%
50,0%
85,5%
Fonte: Elaborado pela autora/ Austin Asis
O Banco Daycoval manteve no período a trajetória de crescimento das operações de
crédito iniciada no segundo semestre de 2009, atingindo uma carteira de R$ 4,6 bilhões em junho
de 2010. O crescimento trimestral foi de 6,1% no primeiro trimestre e 13% no segundo trimestre,
retornando, assim, ao volume obtido no período anterior a crise de 2008.
Os indicadores de qualidade de ativos também continuaram a melhorar, retrocedendo
consistentemente do pico de 12,3% em junho de 2009 para 6,4% em março de 2010 e 5,3% em
junho de 2010.
A abundância de liquidez tanto no mercado local, como no mercado internacional,
também permitiu a recuperação da base de depósitos para R$ 2,8 bilhões no semestre, com mix
de captação reforçado e diversificado pela emissão de US$ 300 milhões de dívida internacional
no prazo de 5 anos no primeiro trimestre de 2010 e da obtenção de um empréstimo sindicalizado
de US$ 165 milhões por 4 anos junto ao organismo multilateral IFC no segundo trimestre de
2010.
Neste contexto, ativos líquidos atingiram R$ 3,8 bilhões em junho de 2010, volume que
foi R$800 milhões superior a dezembro de 2009, com melhora da cobertura de liquidez sobre
depósitos para 138% em junho de 2010, contra 130% em março de 2010 e 126% em dezembro
de 2009.
O crescimento das operações de crédito conjugada a melhora na qualidade de ativos
contribuíram para a gradual recuperação da rentabilidade do banco com retorno sobre patrimônio
126 líquido aumentando de 12,5% em dezembro de 2008 para 12,7% em março de 2010 e 14,2% em
junho de 2010.
A maior alavancagem de crédito, sobretudo no segundo trimestre de 2010, reduziu o
índice da Basiléia de 28% em dezembro de 2009 e 27% em março de 2010 para 22% em junho de
2010.
Mesmo diante de um cenário econômico menos benigno, o Banco Daycoval manteve
estratégia de crescimento das operações de crédito até dezembro de 2011, quando a carteira
atingiu seu nível recorde de R$ 7,7 bilhões, com aumento trimestral de 9,6% em setembro e
10,9% em dezembro. Tal crescimento foi parcialmente amparado pelo aumento da base de
depósitos em 10% no segundo semestre de 2011 e emissão publica de R$250 milhões de letra
financeira por um prazo de 2 anos.
O índice de non-perfoming loans continuou retrocedendo para 3,4% em setembro e 3,3%
em dezembro de 2011, enquanto que a rentabilidade anualizada sobre o patrimônio líquido
atingiu o patamar de 15% em ambos trimestres.
O excessivo crescimento de crédito ocorreu não apenas em detrimento da liquidez que,
embora ainda confortável, reduziu para R$2,8 bilhões em dezembro com cobertura sobre
depósitos reduzindo de 90% em junho de 2011 para 62% em dezembro de 2011, como também
provocou uma constante queda da Basiléia. Ao final de dezembro de 2011, o índice de Basileia
do Banco Daycoval encontrava-se em 16,5%, ainda robusto e mais comparável a média de 16,3%
reportado pela indústria bancária.
Tal cenário modificou em 2012, com retrocessão da carteira de crédito em 4,6% no
primeiro trimestre, com pequeno incremento de 1,5% no segundo. Soma-se o aumento de nonperfoming loans para 4,8% em março e 6,4% em junho de 2012.
A base de depósitos caiu levemente para R$4,4 bilhões ao final de junho de 2012,
compensada pelo incremento de aproximadamente R$ 300 milhões de depósito interfinanceiro e
R$ 900 milhões de letras financeiras entre dezembro de 2011 e junho de 2012; ambos oriundos
da segunda liberação do compulsório.
Com isso, houve reforço do nível de liquidez do banco para R$3,8 bilhões ao final de
junho de 2012, cobrindo mais que 85% de depósitos; bem como fortalecimento do índice da
Basiléia para 18%.
127 Não obstante o aumento de provisões para crédito de liquidação duvidosa e redução do
ritmo de operações com risco de crédito, a rentabilidade do Daycoval foi fortalecida para 18% no
primeiro semestre de 2012, ainda decorrente do forte crescimento das operações até dezembro de
2011.
5.4.8
Banco da Amazônia
•
Crise Financeira de 2008 e desdobramentos – Análise Financeira trimestral
de junho de 2008 até março de 2009
Tabela 17: Banco da Amazônia: Financial Highlights
Banco da Amazônia - Valores em Milhares
de reais
Ativo Total
Ativos Líquidos
Operações de Crédito
Non performing loans
Provisões para crédito de liquidação duvidosa
Depósitos
Dívida Subordinada
Patrimônio Líquido
Receita de Intermediação Financeira
Resultado de Interm. Fin. Antes Provisões
Despesas com Provisões de Crédito
Despesas Pessoais e Administrativas
Receita com Serviços
Lucro Líquido
Crédito/ Patrimônio Líquido
Índice da Basiléia
NPL/ Carteira de Crédito
NPL - Provisões/ Patrimônio Líquido
RIF + Serviços/ Despesas Fixas
Retorno sobre PL
Resultado de Interm. Fin. Antes Provisões/
Receita Interm. Fin.
Ativo Liquido/ Deposito Total
Jun-08
6.779
4.046
1.584
102
81
1.801
0
1.801
335
206
33
208
169
38
0,9x
27,9%
6,4%
1,2%
1,6x
4,2%
Set-08
6.857
3.957
1.746
100
86
1.784
0
1.848
576
327
52
320
256
83
0,9x
26,8%
5,7%
0,7%
1,7x
6,0%
Dez-08
7.240
4.185
1.930
157
106
1.852
0
1.886
831
428
80
447
359
216
1,0x
28,8%
8,1%
2,7%
1,6x
11,4%
Mar-09
7.462
4.407
1.928
186
122
1.902
0
1.897
190
93
42
98
90
3
1,0x
0,0%
9,6%
3,3%
1,4x
0,6%
61,6%
224,6%
56,7%
221,9%
51,5%
226,0%
49,0%
231,7%
Fonte: Elaborado pela autora/ Austin Asis
Ao contrário do desempenho observados nos bancos privados, a crise financeira não
interrompeu o crescimento de crédito do Banco da Amazônia entre junho de 208 até março de
2009 com crescimento de 21,7% no período. Este crescimento foi amparado pelo aumento de
128 depósitos de 5,6% no período, que, embora em ritmo inferior ao incremento de operações de
crédito, suportou quase 100% das operações ao final de março de 2009.
Não obstante o crescimento de crédito, os efeitos da crise financeira impactaram na
inadimplência do Banco da Amazônia que saiu de 5,7% em setembro de 2008 para 9,6% em
março de 2009.
Como mitigador da pior qualidade de ativos do banco, deve-se considerar a baixa
alavancagem de operações de crédito do banco em menos de 1x seu patrimônio liquido, com
índice de Basiléia superior a 26%; além de forte colchão de liquidez. Ativos líquidos
mantiveram-se acima de R$ 3,9 bilhões no período, cobrindo mais de 200% a base de depósitos
do banco.
A baixa alavancagem das operações conjugada a excesso de liquidez justificam a baixa
rentabilidade histórica do Banco da Amazônia, afetada especialmente após a crise, com
incremento de despesas de provisões para crédito de liquidação duvidosa. Assim, a rentabilidade
anualizada sobre o patrimônio líquido, embora aumentando de 4% em junho de 2008 para 11%
em dezembro de 2008 em função do crescimento de crédito, retrocedeu para apenas 0,6% após
provisões em março de 2009.
•
Crise Fiscal Européia e desdobramentos – Análise Financeira trimestral de
Março de 2010 até Junho de 2010 e; de Setembro de 2011 até Junho de 2012
Tabela 18: Banco da Amazônia: Financial Highlights
Banco da Amazônia - Valores em
Milhares de reais
Ativo Total
Ativos Líquidos
Operações de Crédito
Non performing loans
Provisões para crédito de liquidação
duvidosa
Depósitos
Dívida Subordinada
Patrimônio Líquido
Receita de Intermediação Financeira
Resultado de Interm. Fin. Antes Provisões
Despesas com Provisões de Crédito
Despesas Pessoais e Administrativas
Receita com Serviços
Mar-10
7.860
5.022
1.761
240
Jun-10
8.052
4.939
1.862
234
Set-11
9.777
6.015
2.381
124
Dez-11
9.872
6.167
2.337
126
Mar-12
10.762
6.917
2.220
143
Jun-12
10.780
7.091
2.272
122
152
2.249
0
1.846
176
96
36
110
88
155
2.136
0
1.936
368
205
80
248
237
73
2.511
0
1.962
736
351
52
401
318
79
2.338
0
1.934
973
456
78
563
436
84
3.326
0
1.960
242
108
17
142
136
79
2.909
0
2.033
507
232
34
285
263
129 Lucro Líquido
Crédito/ Patrimônio Líquido
Índice da Basiléia
NPL/ Carteira de Crédito
NPL - Provisões/ Patrimônio Líquido
RIF + Serviços/ Despesas Fixas
Retorno sobre PL
Resultado de Interm. Fin. Antes Provisões/
Receita Interm. Fin.
Ativo Liquido/ Deposito Total
-54
1,0x
20,9%
13,6%
4,8%
1,3x
-11,8%
47
1,0x
21,7%
12,6%
4,1%
1,5x
4,8%
32
1,2x
18,9%
5,2%
2,6%
1,5x
2,2%
79
1,2x
17,1%
5,4%
2,5%
1,4x
4,1%
14
1,1x
16,5%
6,5%
3,0%
1,6x
2,8%
109
1,1x
16,2%
5,4%
2,1%
1,6x
10,7%
54,5%
223,3%
55,8%
231,3%
47,7%
239,5%
46,9%
263,8%
44,4%
207,9%
45,8%
243,8%
Fonte: Elaborado pela autora/ Austin Asis
Após retroceder gradativamente de R$ 2 bilhões em junho de 2009 para R$ 1,8 bilhões
em março de 2010, o Banco da Amazônia incrementou o volume de operações de crédito a partir
de junho de 2010 para R$ 1,9 bilhões. Não obstante este crescimento, a alavancagem de crédito
permaneceu em 1x o patrimônio líquido, com índice de Basiléia superior a 20%. Ativos líquidos
mantiveram-se em R$ 5 bilhões no primeiro semestre de 2010, cobrindo mais de 2x a base de
depósitos do banco. Os indicadores de qualidade de ativos continuaram a retroceder de 4,8% em
março de 2010 para 4,1% em junho de 2010. A base de depósitos apresentou uma leve redução
de 5% no segundo trimestre de 2010, sem impacto na alta liquidez do banco.
As operações de crédito reduziram 5% entre setembro de 2011 e junho de 2012, atingindo
um total de R$2,3 bilhões de operações no primeiro semestre de 2012. Por outro lado, o banco
reforçou sua base de liquidez que totalizou R$ 7 bilhões em junho de 2012, representando mais
de 200% da base de R$ 2,9 bilhões de depósitos. Esta base de captação aumentou de R$ 2,5
bilhões em setembro de 2011 para 2,9 bilhões em junho de 2012. Mesmo com redução da
alavancagem de crédito, o índice da Basiléia caiu para 16% em junho de 2012, de 19% em
setembro de 2011. A rentabilidade permaneceu tímida em menos de 5% de retornos sobre
patrimônio líquido entre setembro de 2011 e março de 2012, melhorando para 11% em junho de
2012.
5.4.9
Banco Pine
•
Crise Financeira de 2008 e desdobramentos – Análise Financeira trimestral
de junho de 2008 até março de 2009
130 Tabela 19: Pine: Financial Highlights
PINE - Valores em Milhares de Reais
Ativo Total
Ativos Líquidos
Operações de Crédito
Non performing loans
Provisões para crédito de liquidação duvidosa
Depósitos
Dívida Subordinada
Patrimônio Líquido
Receita de Intermediação Financeira
Resultado de Interm. Fin. Antes Provisões
Despesas com Provisões de Crédito
Despesas Pessoais e Administrativas
Receita com Serviços
Lucro Líquido
Crédito/ Patrimônio Líquido
Índice da Basiléia
NPL/ Carteira de Crédito
NPL - Provisões/ Patrimônio Líquido
RIF + Serviços/ Despesas Fixas
Retorno sobre PL
Resultado de Interm. Fin. Antes Provisões/
Receita Interm. Fin.
Ativo Liquido/ Deposito Total
Jun-08
5.911
2.159
3.497
70
73
2.346
24
834
489
259
36
141
11
80
4,2x
16,5%
2,0%
-0,4%
1,7x
19,1%
Set-08
4.741
724
3.541
85
71
2.062
29
831
904
386
51
183
15
113
4,3x
15,6%
2,4%
1,8%
1,9x
18,2%
Dez-08
6.197
2.767
3.030
61
74
1.423
35
827
1.560
532
77
226
26
133
3,7x
19,3%
2,0%
-1,6%
2,1x
16,1%
Mar-09
5.537
2.437
2.769
90
96
1.520
35
819
368
116
14
31
11
20
3,4x
18,6%
3,2%
-0,8%
3,6x
9,8%
53,0%
92,0%
42,6%
35,1%
34,1%
194,4%
31,4%
160,4%
Fonte: Elaborado pela autora/ Austin Asis
Como esperado, o evento da crise financeira de 2008 afetou significativamente o
desempenho financeiro do Banco Pine, especialmente, no período compreendido entre setembro
de 2008 até março de 2009. A aversão generalizada ao risco, especialmente sobre os bancos de
médio porte, que possuem um perfil de captação mais curto e mais concentrado, portanto, mais
volátil, gerou impactos na liquidez do Banco Pine.
Conforme evidenciado pela Tabela 19, o Banco Pine perdeu mais que R$ 900 milhões de
depósitos entre junho e dezembro de 2008, com início de recuperação de carteira apenas no
primeiro semestre 2009, após a criação do DPGE. Neste semestre, o banco informou a utilização
de recursos sob esta modalidade em montante inferior a 20% do limite máximo permitido pelas
regras.
De fato, em setembro e em dezembro de 2008, o total de depósitos reduziu
respectivamente 12% e 31% em base trimestral, atingindo ao final do exercício de 2008 o valor
de R$ 1,4 bilhões; recuperando quase 30% no primeiro semestre de 2009.
131 Nesta conjuntura, o banco Pine privilegiou a construção de liquidez em detrimento do
crescimento de operações de crédito, as quais retrocederam 13% no segundo semestre de 2008 e
8,6% no primeiro trimestre de 2009. Com cobertura de liquidez inferior a 100% dos depósitos até
setembro de 2008, a partir de dezembro de 2008, este índice alcançou um patamar superior a
150%.
A piora da crise financeira não resultou em deterioração da qualidade de ativos do Banco
Pine em um primeiro momento, com índice de non-performing loans oscilando de 2% a 2,4% de
junho a dezembro de 2008, porém, aumentando para 3,2% em março de 2009, até o pico de 3,8%
em junho de 2009.
Com índice de Basiléia médio de 16% em junho e setembro de 2008, a redução da
alavancagem de crédito reforçou a estrutura de capital bancário para o patamar de 19% em
dezembro de 2008 e março de 2009. Esta robusta base de capital mostrou-se capaz de absorver
um cenário de menor rentabilidade com retorno sobre patrimônio líquido caindo gradativamente
de 19,1% em junho de 2008, para 18,2% em setembro de 2008, 16,1% em dezembro de 2008 e
9,8% em março de 2009. Queda de desempenho no primeiro trimestre de 2009 também
impulsionada pela decisão de cessar operações de crédito consignado.
•
Crise Fiscal Européia e desdobramentos – Análise Financeira trimestral de
Março de 2010 até Junho de 2010 e; de Setembro de 2011 até Junho de 2012
Tabela 20: Pine: Financial Highlights
PINE - Valores em Milhares de Reais
Ativo Total
Ativos Líquidos
Operações de Crédito
Non performing loans
Provisões para crédito de liquidação
duvidosa
Depósitos
Dívida Subordinada
Patrimônio Líquido
Receita de Intermediação Financeira
Resultado de Interm. Fin. Antes Provisões
Despesas com Provisões de Crédito
Despesas Pessoais e Administrativas
Receita com Serviços
Lucro Líquido
Mar-10
7.792
3.342
3.996
70
Jun-10
8.014
3.395
4.097
69
Set-11
10.173
4.336
4.972
197
Dez-11
11.144
5.415
4.980
190
Mar-12
10.368
4.337
5.213
181
Jun-12
10.038
3.682
5.238
216
67
2.735
27
839
261
22
1
30
13
30
68
2.929
229
853
588
32
10
61
29
66
142
3.302
294
982
1.727
296
39
117
43
106
173
3.484
304
1.015
1.401
422
89
173
61
162
181
3.401
291
1.029
281
122
11
42
31
47
209
3.402
343
1.053
719
255
41
88
62
92
132 Crédito/ Patrimônio Líquido
Índice da Basiléia
NPL/ Carteira de Crédito
NPL - Provisões/ Patrimônio Líquido
RIF + Serviços/ Despesas Fixas
Retorno sobre PL
Resultado de Interm. Fin. Antes Provisões/
Receita Interm. Fin.
Ativo Liquido/ Deposito Total
4,8x
14,9%
1,7%
0,4%
1,1x
14,4%
4,8x
18,5%
1,7%
0,1%
0,8x
15,4%
5,1x
19,6%
4,0%
5,6%
2,6x
14,3%
4,9x
18,5%
3,8%
1,7%
2,3x
15,9%
5,1x
16,4%
3,5%
0,0%
3,4x
18,1%
5,0x
15,9%
4,1%
0,7%
3,1x
17,5%
8,4%
122,2%
5,5%
115,9%
17,2%
131,3%
30,1%
155,4%
43,3%
127,5%
35,5%
108,2%
Fonte: Elaborado pelo autora/ Austin Asis
O Banco Pine manteve a trajetória de crescimento das operações de crédito iniciada no
segundo semestre de 2009, atingindo um volume de R$4 bilhões em junho de 2010, com
crescimento de 5,1% no primeiro trimestre e 2,5% no segundo trimestre. Os indicadores de
qualidade de ativos também continuaram a melhorar, retrocedendo consistentemente do pico de
3,8% em junho de 2009 para 1,7% em março e junho de 2010.
A abundância de liquidez tanto no mercado local, como no mercado internacional,
permitiu uma carteira de depósitos de R$ 3 bilhões no semestre, reforçada pela emissão de R$
200 milhões de dívida subordinada no segundo trimestre de 2010.
Neste contexto, ativos líquidos atingiram R$ 3,4 bilhões em junho de 2010, quase R$ 500
milhões superior a dezembro de 2009, com melhora da cobertura de liquidez sobre depósitos para
116% em junho, contra 102% em dezembro.
A emissão do instrumento de dívida subordinada, classificada como capital nível II,
melhorou a estrutura de capital do banco com índice de Basiléia subindo de 14,9% em março de
2010 para 18,5% em junho de 2010, permitindo, assim, a manutenção da expansão das atividades
do Banco Pine.
O crescimento das operações de crédito conjugada a melhora na qualidade de ativos
contribuíram para a recuperação da rentabilidade do banco com retorno sobre patrimônio líquido
no patamar de 15% no semestre, vis-a-vis 10% em dezembro de 2009.
O Banco Pine manteve estratégia de crescimento das operações de crédito de 5% entre
setembro de 2011 até junho de 2012, mesmo sendo inferior ao ritmo médio de crescimento de
12,4% registrado pela indústria bancária no período.
O crescimento das operações de crédito foi parcialmente amparado pelo aumento da base
de depósitos em 3% entre setembro de 2011 e junho de 2012, uma vez que o destaque veio da
133 emissão de mais de R$ 300 milhões de letras financeiras relacionadas a liberação do compulsório
no primeiro semestre de 2012.
Diferentemente dos bancos analisado, a deterioração da qualidade de ativos começou a ser
observada no quarto trimestre de 2010, decorrente da implementação de um novo sistema de
ratings internos para classificação de risco de crédito de sua base de clientes. Assim, o índice de
non-performing loans oscilou entre 3,5% a 4,1% no período analisado.
Soma-se que a manutenção do ritmo de crescimento de crédito aumentou a necessidade de
requerimento de capital, reduzindo o índice de Basiléia de 19,6% em setembro de 2011 para
15,9% em junho de 2012, ainda, assim, confortável perante aos requerimentos mínimos exigidos.
5.4.10 Banco Sofisa
•
Crise Financeira de 2008 e desdobramentos – Análise Financeira trimestral
de junho de 2008 até março de 2009
Tabela 21: Sofisa: Financial Highlights
SOFISA - Valores em Milhares de Reais
Ativo Total
Ativos Líquidos
Operações de Crédito
Non performing loans
Provisões para crédito de liquidação duvidosa
Depósitos
Dívida Subordinada
Patrimônio Líquido
Receita de Intermediação Financeira
Resultado de Interm. Fin. Antes Provisões
Despesas com Provisões de Crédito
Despesas Pessoais e Administrativas
Receita com Serviços
Lucro Líquido
Crédito/ Patrimônio Líquido
Índice da Basiléia
NPL/ Carteira de Crédito
NPL - Provisões/ Patrimônio Líquido
RIF + Serviços/ Despesas Fixas
Retorno sobre PL
Resultado de Interm. Fin. Antes Provisões/
Receita Interm. Fin.
Ativo Liquido/ Deposito Total
Jun-08
4.856
1.212
3.224
51
50
3.030
0
852
483
201
25
56
9
56
3,8x
17,6%
1,6%
0,0%
3,3x
13,1%
Set-08
5.093
1.190
3.446
67
62
2.462
0
861
815
282
40
95
20
77
4,0x
17,0%
1,9%
0,5%
2,8x
11,9%
Dez-08
4.510
1.001
2.761
78
56
1.314
0
859
1.223
351
38
137
29
92
3,2x
19,8%
2,8%
2,5%
2,5x
10,7%
Mar-09
4.418
1.045
2.679
97
69
1.232
0
848
229
109
19
34
8
11
3,2x
20,8%
3,6%
3,4%
2,9x
5,0%
41,6%
40,0%
34,5%
48,3%
28,7%
76,2%
47,6%
84,9%
134 Fonte: Elaborado pela autora/ Austin Asis
O evento da crise financeira de 2008 afetou significativamente o desempenho financeiro
do Banco Sofisa, especialmente, no período compreendido entre setembro de 2008 até março de
2009. A aversão generalizada ao risco, especialmente sobre os bancos de médio porte, que
possuem um perfil de captação mais curto e mais concentrado, portanto, mais volátil, gerou
impactos na liquidez do Banco Sofisa
O Banco Sofisa perdeu quase R$ 1,8 bilhões de depósitos entre junho de 2008 e março de
2009, com início de recuperação de carteira apenas no segundo semestre 2009, após a criação do
DPGE. Neste semestre, o banco informou a captação de R$205 milhões de depósitos na
modalidade de DPGE.
Nesta conjuntura, o banco Sofisa privilegiou a manutenção de liquidez em R$ 1 bilhão
através do recebimento de fluxos de operações de crédito, as quais retrocederam 14% no segundo
semestre de 2008 e 3% no primeiro trimestre de 2009. Com cobertura de liquidez inferior a 50%
dos depósitos até setembro de 2008, a partir de dezembro de 2008, este índice alcançou um
patamar médio de 80%.
A piora da crise financeira deteriorou a qualidade de ativos do Banco Sofisa, com índice
de non-performing loans aumentando de 1,6% em junho de 2008 para 1,9% em setembro de 2008,
2,8% em dezembro de 2008 e 3,6% em março de 2009.
Com índice de Basiléia médio de 17% em junho e setembro de 2008, a redução da
alavancagem de crédito reforçou a estrutura de capital bancário para o patamar de 20% em
dezembro de 2008 e março de 2009. Esta robusta base de capital mostrou-se capaz de absorver
um cenário de menor rentabilidade com retorno sobre patrimônio líquido caindo gradativamente
de 13,1% em junho de 2008, para 11,9% em setembro de 2008, 10,7% em dezembro de 2008 e
5% em março de 2009.
•
Crise Fiscal Européia e desdobramentos – Análise Financeira trimestral de
Março de 2010 até Junho de 2010 e; de Setembro de 2011 até Junho de 2012
Tabela 22: Sofisa: Financial Highlights
SOFISA - Valores em Milhares de Reais
Ativo Total
Mar-10
4.413
Jun-10
4.595
Set-11
4.073
Dez-11
4.232
Mar-12
4.466
Jun-12
4.439
135 Ativos Líquidos
Operações de Crédito
Non performing loans
Provisões para crédito de liquidação
duvidosa
Depósitos
Dívida Subordinada
Patrimônio Líquido
Receita de Intermediação Financeira
Resultado de Interm. Fin. Antes Provisões
Despesas com Provisões de Crédito
Despesas Pessoais e Administrativas
Receita com Serviços
Lucro Líquido
Crédito/ Patrimônio Líquido
Índice da Basiléia
NPL/ Carteira de Crédito
NPL - Provisões/ Patrimônio Líquido
RIF + Serviços/ Despesas Fixas
Retorno sobre PL
Resultado de Interm. Fin. Antes Provisões/
Receita Interm. Fin.
Ativo Liquido/ Deposito Total
1.177
2.725
221
1.421
2.699
218
1.304
2.269
129
1.574
2.114
156
1.921
1.943
151
1.809
1.894
159
145
2.147
0
746
265
94
27
35
10
10
3,7x
15,7%
8,1%
10,2%
2,2x
5,4%
148
2.321
0
760
487
177
73
72
16
37
3,6x
16,9%
8,1%
9,1%
1,7x
9,8%
115
2.174
0
758
633
140
19
100
10
17
3,0x
17,6%
5,7%
1,9%
1,3x
3,0%
120
2.359
0
763
866
221
39
138
13
27
2,8x
20,6%
7,4%
4,8%
1,4x
3,6%
117
2.320
0
787
203
79
26
32
3
13
2,5x
20,6%
7,7%
4,3%
1,7x
6,4%
118
2.232
0
769
410
137
37
68
5
16
2,5x
19,0%
8,4%
5,4%
1,5x
4,1%
35,3%
54,8%
36,4%
61,2%
22,1%
60,0%
25,5%
66,7%
38,8%
82,8%
33,5%
81,0%
Fonte: Elaborado pela autora/ Austin Asis
O desempenho do Banco Sofisa seguiu em direção oposta aos bancos analisados até o
momento neste projeto. Após atingir uma carteira de crédito total de R$ 3 bilhões em dezembro
de 2009, as operações começaram a reduzir gradualmente a partir de março de 2010, seguindo
mais uma estratégia de saída de operações de financiamento ao consumo, após a venda de tal
carteira para o Banco Fibra em março de 2010, do que consequências da crise européia. Assim,
no primeiro semestre de 2010, a carteira de crédito retrocedeu 10% em relação a dezembro de
2009.
A redução das operações afetou imediatamente a qualidade de ativos do Banco Sofisa,
que continuou piorando desde a crise financeira em 2008, como evidenciado pelo índice de nonperfoming loans de 8,1% no primeiro semestre de 2010, vis-a-vis 7,3% em dezembro de 2009,
5,3% em junho de 2009 e 2,8% em dezembro de 2008.
Por outro lado, a base de depósitos do bancos continuou aumentando até atingir R$ 2,3
bilhões em junho de 2010, não sendo divulgado quanto deste montante foi via uso de DPGE.
136 Neste contexto, ativos líquidos atingiram R$ 1,4 bilhões em junho de 2010, quase R$ 300
milhões superior a dezembro de 2009, com melhora da cobertura de liquidez sobre depósitos para
61% em junho, contra 56% em dezembro.
A estrutura de capital foi mantida confortável no patamar de 16% no período, capaz de
absorver as perdas de crédito e queda de rentabilidade. Esta última melhorou gradativamente de
1,4% em dezembro de 2009 para 5,4% em março de 2010 e 9,8% em junho de 2010. A modesta
rentabilidade em 2009 foi ocasionada pela conjuntura da crise financeira com redução de carteira
de crédito e aumento de provisões, especialmente.
O Banco Sofisa continuou a reduzir as operações de crédito em 16,5% entre setembro de
2011 até junho de 2012. O comportamento das operações de crédito refletiu na manutenção de
depósitos em R$ 2,3 bilhões no período.
A deterioração da qualidade de ativos começou a ser observada em dezembro de 2011,
com índice de non-performing loans aumentando de 5,7% em setembro de 2011 ao pico de 8,4%
em junho de 2012. Grande parte desta deterioração pode ser explicada pela contínua queda das
operações de crédito no período.
Soma-se que a manutenção de redução do ritmo de crescimento de crédito diminuiu a
necessidade de requerimento de capital, aumentando o índice de Basiléia de 17,6% em setembro
de 2011 para 19% em junho de 2012, confortável perante aos requerimentos mínimos exigidos.
5.4.11 Banco Indusval
•
Crise Financeira de 2008 e desdobramentos – Análise Financeira trimestral
de junho de 2008 até março de 2009
Tabela 23: Indusval: Financial Highlights
INDUSVAL - Valores em Milhares de Reais
Ativo Total
Ativos Líquidos
Operações de Crédito
Non performing loans
Provisões para crédito de liquidação duvidosa
Depósitos
Dívida Subordinada
Patrimônio Líquido
Receita de Intermediação Financeira
Jun-08
2.966
1.197
1.703
38
37
1.073
0
433
221
Set-08
3.192
1.060
1.995
53
52
1.172
0
444
427
Dez-08
2.225
425
1.723
78
70
802
0
449
641
Mar-09
2.337
573
1.669
134
98
783
0
452
111
137 Resultado de Interm. Fin. Antes Provisões
Despesas com Provisões de Crédito
Despesas Pessoais e Administrativas
Receita com Serviços
Lucro Líquido
Crédito/ Patrimônio Líquido
Índice da Basiléia
NPL/ Carteira de Crédito
NPL - Provisões/ Patrimônio Líquido
RIF + Serviços/ Despesas Fixas
Retorno sobre PL
Resultado de Interm. Fin. Antes Provisões/
Receita Interm. Fin.
Ativo Liquido/ Deposito Total
110
14
45
14
39
3,9x
26,1%
2,2%
0,2%
2,5x
18,0%
180
30
69
21
58
4,5x
20,1%
2,7%
0,3%
2,5x
17,5%
253
53
98
24
72
3,8x
24,0%
4,5%
1,6%
2,3x
16,0%
60
32
24
3
8
3,7x
25,7%
8,0%
8,1%
1,3x
7,1%
49,6%
111,5%
42,1%
90,5%
39,5%
53,0%
54,3%
73,2%
Fonte: Elaborado pela autora/ Austin Asis
O primeiro semestre de 2008 foi marcado pela manutenção de constante crescimento das
operações de crédito do Banco Indusval, amparado especialmente pelo excesso de liquidez. Ao
final de junho de 2008, o banco apresentava um balanço patrimonial sólido, com liquidez de
R$ 1 bilhão, equivalente a mais de 100% de depósitos e 200% do patrimônio líquido, baixa
inadimplência com non-perfoming loans de 2,2%, forte estrutura de capital com índice de
Basiléia superior a 25% e confortável rentabilidade de 18% sobre patrimônio líquido.
O agravamento da crise financeira após a quebra do Banco Lehman Brothers teve impacto
imediato e profundo nas demonstrações financeiras do Indusval no período compreendido entre
setembro de 2008 até março de 2009.
Como característica de seu perfil de negócios e porte, em momentos de crise ou eventos
de stress, os investidores, geralmente, tendem a sacar seus recursos investidos em busca de maior
segurança financeira. Neste cenário, a base de depósitos do Indusval reduziu de R$ 1,2 bilhões
em setembro de 2008 para R$783 milhões em março de 2009, parcialmente compensada pela
captação de R$ 100 milhões via depósito interfinanceiro de compulsório. A recuperação da
captação só foi efetiva a partir de junho de 2009 com captação via DPGE em mais de R$ 300
milhões.
O excesso de liquidez apresentado pelo banco no primeiro semestre de 2008, conjugado a
retração das operações de crédito em 14% no quarto trimestre de 2008 e 3% no primeiro
trimestre de 2009 foram suficientes para suportar a onda de resgates de depósito no período. Ao
138 final de março de 2009, ativos líquidos reduziram para R$573 milhões, ainda confortável para
cobrir mais que 70% da base de depósitos do banco no período.
Soma-se a manutenção do índice da Basiléia em nível superior ao mínimo requerido de
11% pelo Banco Central do Brasil, aumentando de 20% em setembro de 2008 para o patamar de
26% após desalavancagem das operações de crédito em março de 2009.
Esta robusta base de capital mostrou-se capaz de absorver um cenário de menor
rentabilidade com retorno sobre patrimônio líquido caindo gradativamente de 18% em junho de
2008, para 17,5% em setembro de 2008, 16% em dezembro de 2008 e 7,1% em março de 2009.
Queda de desempenho impulsionada pela redução de operações de crédito, aumento de custo de
captação e maiores perdas com provisões para crédito de liquidação duvidosa. Esta última
refletindo os efeitos da desaceleração econômica sobre a qualidade de ativos do Indusval, com
non-perfoming loans sobre crédito deteriorando de 2,2% o período anterior a crise em junho de
2008 para 2,7% em setembro de 2008, 4,5% em dezembro de 2008 e 8% em março de 2009.
•
Crise Fiscal Européia e desdobramentos – Análise Financeira trimestral de
Março de 2010 até Junho de 2010 e; de Setembro de 2011 até Junho de 2012
Tabela 24: Indusval: Financial Highlights
INDUSVAL - Valores em Milhares de
Reais
Ativo Total
Ativos Líquidos
Operações de Crédito
Non performing loans
Provisões para crédito de liquidação
duvidosa
Depósitos
Dívida Subordinada
Patrimônio Líquido
Receita de Intermediação Financeira
Resultado de Interm. Fin. Antes Provisões
Despesas com Provisões de Crédito
Despesas Pessoais e Administrativas
Receita com Serviços
Lucro Líquido
Crédito/ Patrimônio Líquido
Índice da Basiléia
Mar-10
3.049
1.313
1.656
225
Jun-10
3.044
1.257
1.687
212
Set-11
4.459
2.118
2.095
274
Dez-11
4.278
1.755
2.267
233
Mar-12
4.583
1.912
2.384
194
Jun-12
4.966
2.093
2.396
190
111
1.355
0
431
114
47
11
22
3
7
3,8x
21,1%
108
1.357
0
430
225
92
24
45
6
16
3,9x
20,3%
170
1.564
0
578
456
121
117
87
14
-42
3,6x
21,2%
143
1.633
0
577
632
171
118
122
21
-32
3,9x
18,2%
102
1.791
0
591
162
51
14
36
7
5
4,0x
18,1%
108
1.683
0
582
385
110
37
71
12
7
4,1x
17,0%
139 NPL/ Carteira de Crédito
NPL - Provisões/ Patrimônio Líquido
RIF + Serviços/ Despesas Fixas
Retorno sobre PL
Resultado de Interm. Fin. Antes Provisões/
Receita Interm. Fin.
Ativo Liquido/ Deposito Total
13,6%
26,5%
1,8x
6,8%
12,6%
24,3%
1,6x
7,3%
13,1%
18,0%
0,2x
-9,7%
10,3%
15,7%
0,6x
-5,5%
8,2%
15,7%
1,2x
3,4%
7,9%
14,2%
1,2x
2,6%
40,8%
96,9%
41,1%
92,6%
26,6%
135,5%
27,0%
107,5%
31,4%
106,7%
28,7%
124,4%
Fonte: Elaborado pela autora/ Austin Asis
O desempenho do Banco Indusval, assim como do Banco Sofisa, diferenciou-se dos
bancos analisados nesta pesquisa. As operações de crédito permaneceram praticamente estáveis
em R$ 1,6 bilhões de dezembro de 2008 até junho de 2010. Os efeitos da crise financeira, no
entanto, permaneceram impactando a qualidade de ativos do banco, com índice de non-perfoming
loans atingindo o patamar médio de 25% no período. Parte da piora deste índice, segundo
informações do banco, derivou de uma rigorosa classificação de risco de crédito do que efetiva
inadimplência
Por outro lado, a base de depósitos do bancos continuou aumentando até atingir R$ 1,4
bilhões em junho de 2010, com mais de R$ 500 milhões desta base captada via recursos do
DPGE.
Neste contexto, ativos líquidos atingiram R$ 1,3 bilhões em junho de 2010, quase R$ 200
milhões superior a dezembro de 2009, com melhora da cobertura de liquidez sobre depósitos para
93% em junho, contra 83% em dezembro.
A estrutura de capital foi mantida confortável no patamar de 20,3% no período, capaz de
absorver as perdas de crédito e queda de rentabilidade. Esta última melhorou gradativamente de
3% em dezembro de 2009 para 6,8% em março de 2010 e 7,3% em junho de 2010. A modesta
rentabilidade em 2009 foi ocasionada pela conjuntura da crise financeira com redução de carteira
de crédito e aumento de provisões, especialmente.
O Banco Indusval manteve estratégia de crescimento das operações de crédito de 14%
entre setembro de 2011 até junho de 2012, iniciada no mesmo período do ano anterior e
apresentando-se superior ao ritmo médio de crescimento de 12,4% registrado pela indústria
bancária no período.
O crescimento das operações de crédito foi parcialmente amparado pelo aumento da base
de depósitos em 8% entre setembro de 2011 e junho de 2012, apesar da redução de 6% no
segundo trimestre de 2010, uma vez que o destaque veio do incremento da emissão de letras
140 domésticas no período. Ressalta-se o incremento de depósitos interfinanceiros via liberação do
depósito compulsório em quase R$ 50 milhões entre dezembro de 2011 e junho de 2012.
Diferentemente dos bancos analisado, a qualidade de ativos manteve ritmo de melhora
decorrente principalmente da diluição promovida pelo crescimento de crédito. Assim, o índice de
non-performing loans reduziu para 7,9% em junho de 2012, de 13% em setembro de 2011.
Soma-se que a manutenção do ritmo de crescimento de crédito aumentou a necessidade de
requerimento de capital, reduzindo o índice de Basiléia de 21% em setembro de 2011 para 17%
em junho de 2012, ainda, assim, confortável perante aos requerimentos mínimos exigidos.
141 6
6.1
CONCLUSÃO
Quanto a metodologia:
Considerando o objetivo de analisar o desempenho bursátil de 10 bancos e 11 ações em
seis eventos específicos entre setembro de 2008 até março de 2012, o método de estudo de
eventos foi julgado o mais adequado. A análise financeira de tais bancos de forma trimestral
anterior e posterior a tais eventos também foi considerada apropriada para atingir os objetivos
propostos nesta dissertação.
O tamanho da amostra, considerando a importância dos bancos analisados, que
representam aproximadamente 60% do ativo total do sistema bancário em dezembro de 2012,
demonstrou-se adequado aos objetivos propostos no trabalho. A inclusão de bancos de grande e
de médio portes também contribuiu para a verificação dos objetivos perseguidos, e identificação
das diferenças existentes no setor bancário.
6.2
Quanto aos resultados da análise bursátil:
Os principais resultados e inferências obtidos a partir da análise de estudo de evento sobre
o desempenho bursátil dos bancos pesquisados, não apresentaram, de uma forma geral,
evidências de que os eventos específicos selecionados impactaram os retornos de suas ações de
forma estatisticamente significativa.
A análise dos retornos anormais mostrou que, apesar de serem estudados os resultados
com significância de 5%, com relação ao teste t de student, os retornos anormais tomados com
base nos preços das ações dos bancos pesquisados, em relação aos índices de mercado Ibovespa,
apresentaram, de forma geral, distribuição homogênea e eqüitativa semelhante para os eventos
estudados.
Tais resultados refletem as características dos eventos selecionados neste estudo, os quais,
referem-se a fatos dinâmicos. Diferentemente de eventos estáticos, de natureza climática ou
naturais, como por exemplo um terremoto ou uma vazamento de óleo, o estouro de crises ou o
anúncio de medidas prudenciais, decorrem de um conjuntos de fatores econômicos e sociais
divulgados previamente a ocorrência efetiva dos eventos selecionados.
142 Referente aos resultados obtidos em que houve significância estatística dos retornos
anormais ou extraordinários dos bancos quando analisados de forma agregada, pode-se inferir
que ocorreu em momentos de alta volatilidade no mercado acionário brasileiro, em geral, com
impacto similar em outros setores econômicos e em mercados de outros países. Cita-se, neste
caso, a data em que a Bolsa de Valores acionou o circuit breaker ao constatar a queda do
Ibovespa em mais de 10%, sendo que, o mercado financeiro, por ser o responsável pela crise, foi
o mais afetado.
Assim, como resultado geral, pode-se aceitar a hipótese nula de que as crises financeiras
internacionais e as medidas prudenciais adotadas pelo Banco Central do Brasil, por elas mesmas,
não afetaram, de forma estatisticamente significativa, o desempenho do retorno das ações das
instituições financeiras listada na Bovespa.
6.3
Quanto aos resultados da análise financeira:
Os principais resultados obtidos a partir da análise financeira dos bancos analisados neste
trabalho refletem a forte correlação existente entre os ciclos econômicos e a trajetória de
crescimento e de desempenho do sistema bancário.
Em momentos de crise, os bancos, geralmente, adotaram uma postura mais cautelosa na
concessão de crédito, resultante de aumento de inadimplência e queda de rentabilidade,
concentrando esforços na construção de liquidez. Em sentido oposto a esta constatação, os bancos
públicos, neste caso, o Banco do Brasil aqui analisado, movimentou-se em direção a expansão de
crédito, desempenhando papel anticíclico e importante para restauração econômica.
Mesmo com os impactos negativos das crises financeiras sobre a rentabilidade e qualidade
de ativos do bancos brasileiros estudados nesta pesquisa, a forte estrutura de capital do sistema
bancário, permitiu a absorção de tais perdas.
Os bancos de grande porte efetivamente se beneficiam do efeito “flight to quality” em
momentos de aversão a liquidez, em função do tamanho e perfil diversificado de suas operações.
Contrapõem-se, no entanto, ao desempenho dos bancos médios, os quais são fortemente afetados
em períodos de retração de liquidez, como ocorreu durante a crise financeira de 2008.
A retração de depósitos dos bancos de menor porte aqui estudados, foi, de um modo geral,
aliviada pelas medidas de liberação de compulsório e criação do DPGE.
143 Neste contexto, os bancos grandes desempenharam um papel fundamental na otimização
do fluxo de liquidez no sistema bancário. Ressalta-se, no entanto, que a aplicação de recursos de
liquidez nos bancos médios respeitou as condições financeiras apresentadas por cada um deles,
sendo que os que apresentavam maior perfil risco, não se beneficiaram de tais regras. Sendo
assim, o DPGE teve um papel mais decisivo na reconstrução da liquidez das instituições
financeiras de menor porte.
A fortaleza econômica-financeira do sistema bancário, em geral, conjugada a rápida
recuperação econômica, impulsionaram no retorno do nível de atividade bancária a partir do
segundo semestre de 2009 e a nqueda de inadimplência. Este processo permaneceu até primeiro
semestre de 2011, momento em que o agravamento da crise européia e sinais de desaceleração
econômica brasileira, voltaram a refrear o ritmo de expansão das operações. Os efeitos da crise
européia, no entanto, não foram tão intensos como na crise financeira de 2008
6.4
Considerações finais
Este estudo permitiu avaliar como as crises financeira e européia e medidas prudenciais
adotadas pelo Banco Central do Brasil afetaram os desempenhos bursátil e econômico-financeiro
dos bancos brasileiros.
Os resultados encontrados nesta pesquisa revelam que tais eventos estudados, por serem
dinâmicos, não afetam significativamente o retorno das ações dos bancos brasileiros na data em
que ocorreram. Os ajustes no mercado acionário já haviam sido realizados gradativamente em
períodos anteriores ao momento do evento, seguindo indicadores macroeconômicos e outros
sinais da crise.
Por outro lado, os eventos estudados e seus desdobramentos tiveram um impacto mais
significativo no desempenho contábil dos bancos brasileiros, evidenciando a forte correlação
entre o mesmo com a estratégia de atividades e comportamento econômico.
Fica ainda evidente a diferença de desempenho contábil e bursátil entre os bancos de
grande e de médio portes, sendo que o efeito sobre o primeiro grupo é geralmente menos intenso
do que no segundo.
144 6.5
Sugestões para novos trabalhos
Considerando a relevância e atualidade do tema nos segmentos acadêmico e de mercado,
outras pesquisas merecem ser formuladas de forma a aprofundar o entendimento da relação entre
as crises financeiras e seus desdobramentos no mercado bancário. Uma possibilidade seria
efetuar, por exemplo, estudos de testes de stress para verificar quão resiliente financeiramente
encontra-se o sistema bancário brasileiro para enfrentar novas crises, especialmente considerando
o novo arcabouço regulatório desenhado pós-crise de 2008.
145 7. BIBLIOGRAFIA
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