DANIELA BRASIL FRANÇA FABIANA MATTE FREITAS ESCUDERO O USO DE PLANTAS MEDICINAIS POR PACIENTES INDIGENAS DA ALDEIA BURITI PORTADORES DE DIABETES MELLITUS CAMPO GRANDE-MS 2011 DANIELA BRASIL FRANÇA FABIANA MATTE FREITAS ESCUDERO O USO DE PLANTAS MEDICINAIS POR PACIENTES INDIGENAS DA ALDEIA BURITI PORTADORES DE DIABETES MELLITUS Relato de experiência apresentado à Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, como requisito para conclusão do curso de Pós Graduação em nível de especialização em Atenção Básica em Saúde da Família. Orientador (a): Prof. Espª Priscila Maria Marchetti Fiorin CAMPO GRANDE-MS 2011 RESUMO Trata-se de um relato de experiência, realizado junto aos pacientes portadores de Diabetes Mellitus, indígenas, moradores da Aldeia Buriti, localizada na cidade de Dois Irmãos do Buriti - Mato Grosso do Sul - Brasil. O trabalho está sendo desenvolvido com treze pacientes portadores de Diabetes Mellitus que fazem acompanhamento irregular na UBS, que são pouco participativos nas atividades educativas, necessitam de tratamento odontológico, e que fazem uso incorreto das medicações prescritas pelo médico. Os mesmos utilizam de plantas medicinais, regularmente, para o controle de suas enfermidades, entre elas, a Diabetes Mellitus. Objetivou-se um estudo das plantas utilizadas pelos pacientes, bem como, seus benefícios, malefícios e forma correta de utilização, além do estudo dessas plantas medicinais na cultura indígena. Através desses conhecimentos, conciliaremos o tratamento prescrito pelos médicos e orientaremos sobre a melhor utilização dessas plantas. Assim, pretendemos conseguir uma melhor adesão dos pacientes aos tratamentos e acompanhamentos de saúde na UBS, pois teremos base cientifica para discutirmos sobre o tratamento com plantas medicinais, que na visão dos indígenas, é o de melhor eficácia. PALAVRAS-CHAVES: Diabetes Mellitus; Plantas Medicinais; Cultura Indígena. ABSTRACT It is a story of experience, performed along to patients with Diabetes Mellitus, indigenous, residents of the Village Buriti, located in the city of Dois Irmãos do Buriti-Mato Grosso do Sul-Brazil. The work is being developed with thirteen patients with Diabetes Mellitus that make monitoring irregular in UBS, which are participatory in educational activities, little need of dental treatment, and who make misuse of medications prescribed by your doctor. The same use of medicinal plants, regularly, for the control of their illnesses, including Diabetes Mellitus. Porpose a study of the plants used by patients, as well as, its benefits, harms and correct way to use, in addition to the study of medicinal plants in indigenous culture. Through these knowledge, we are reconciling the treatment prescribed by doctors and will follow on the best use of these plants. So, we want to achieve a better adherence of patients to treatment and follow-up of health in UBS, because we have the scientific basis for discussing treatment with medicinal plants, which in the view of indigenous peoples, is the best effectiveness. KEYMORDS: Diabetes Mellitus; Medicinal Plants; Indigenous Culture. 1 INTRODUÇÃO De acordo com as estimativas da Organização Mundial de Saúde, o número de portadores de Diabetes Mellitus em todo o mundo era de 177 milhões em 2000, com expectativa de chegar a 350 milhões em 2025, e esse aumento é considerável em países em desenvolvimento. As conseqüências disso são humanas, sociais e econômicas, tanto para os serviços de saúde, quanto para os familiares, os amigos e comunidade onde os portadores estão inseridos (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2006). Atualmente, existem mais de 285 milhões de diabéticos nos cinco continentes; aproximadamente 90% são do tipo 2, que envolve resistência ou produção diminuída de insulina, e 10% são do tipo 1, no qual a insulina não é produzida (OLIVEIRA, 2011). O diabetes pode causar morbi-mortalidade, insuficiência renal, amputação de membros, cegueira e doenças cardiovasculares, além dos custos associados à dor, ansiedade, inconveniência e menor qualidade de vida, que afeta doentes e seus familiares (SAAD, 2005). Além das manifestações sistêmicas, o Diabetes Mellitus mal controlado apresenta importantes repercussões sobre a saúde oral, como doença periodontal, xerostomia, hiposalivação, susceptibilidade a infecções, dificuldade de cicatrização (ALVES et al, 2006). A terapia medicamentosa para Diabetes Mellitus exige o uso contínuo de hipoglicemiantes, os quais são distribuídos gratuitamente pelo Governo. Com a implantação dos fitoterápicos no Sistema Único de Saúde (SUS), há uma estimativa de aumento da utilização de plantas medicinais com esta finalidade. Consequentemente, o número de interações medicamentosas entre estas plantas e os medicamentos hipoglicemiantes sintéticos tende a aumentar o que exige o monitoramento dos usuários junto as Unidades Básicas de Saúde (UBS) e farmácias públicas e privadas (RODRIGUES, 2010). Segundo dados do Sistema de Informações da Atenção à Saúde Indígena da Fundação Nacional de Saúde (SIASI – FUNASA), o registro de diabetes entre índios cresceu, no período de 2003 a 2006, aumentando o número de casos no Brasil de 1646 para 1864 registros. Os indígenas atravessam um complexo processo de transição epidemiológica, notando-se um aumento expressivo de doenças crônico-degenerativas como causas de morte. SAAD (2005) realizou um estudo com 270 adultos com idade maior ou igual a 20 anos residentes na Aldeia Buriti, e observou que a prevalência de Diabetes Melitus encontrada foi de 2,2%. Um número considerável quando comparado com outras etnias como a GuaranyMybá que foi de 0,7%. O uso de plantas como medicamentos é provavelmente tão antigo quanto o aparecimento do homem. Antes do surgimento da escrita, o homem já utilizava ervas para fins medicinais, buscando as espécies vegetais mais apropriadas para a cura de seus males. Um tratamento médico datado de 3.700 a.C., escrito pelo imperador chinês Shen Wung, é um dos mais antigos documentos conhecidos sobre as propriedades medicinais das plantas. Os egípcios, 1.500 a.C., já utilizavam ervas aromáticas na medicina. Na Índia, aproximadamente no ano 1.000 a.C., o uso de ervas era bastante difundido. Durante a Idade Média, o cultivo das ervas utilizadas com remédios, ficou a cargo dos monges, que as plantavam ao redor dos mosteiros e igrejas. Na Europa, principalmente na Inglaterra, a medicina alternativa tem cada vez mais adeptos, e nos Estados Unidos há uma grande quantidade de farmácias naturais (GASPAR, 2010) No Brasil, o conhecimento das propriedades das plantas medicinais é uma das maiores riquezas da cultura indígena. Uma sabedoria tradicional que passa de geração em geração. O índio tem um conhecimento profundo da flora medicinal, retirando dela os mais diversos remédios usados de diferentes formas, suas práticas curativas e preventivas com o modo como eles percebem a doença e suas causas. Do ponto de vista cientifico, no entanto, ainda é um campo pouco estudado e difundido no país, apesar da riqueza da flora brasileira, ficando os estudos na área da antropologia e ao folclore, através da medicina popular. É comum se ouvir dizer que o uso das plantas medicinais se “não fizer bem, mal não fará”. Porém, não é bem assim. A utilização inadequada pode trazer efeitos indesejáveis. É necessário ter conhecimento da doença ou do sintoma apresentado e fazer a seleção correta da planta a ser utilizada, além de preparação adequada (GASPAR, 2010). Segundo BOARIM (1998), autor do livro Manual Prático de Tratamentos Naturais, o tratamento do diabetes não se limita aos tratamentos medicamentosos e ao programa natural de alimentação. Existem plantas que possuem efeito hipoglicemiante, como Baccharis trimera (Carqueja), Bauhinia forficata (Pata-de-vaca), Phyllanthus niruri (Quebra-pedra), Equisetum ssp (Cavalinha), Polvilho de laboiva, Gymnema sylvestre (Gimnema), Qassia amara (Pautenente) e Batata yacon. O mesmo adverte para seguir orientações médicas e controlar a glicemia. E que o uso simultâneo de medicamentos e plantas pode ser desaconselhável tendo em vista o risco acentuado da hipoglicemia. Grande número de espécies de plantas tem sido usado experimentalmente para tratar os sintomas do Diabetes Mellitus. Tem sido constatado que muitas substâncias extraídas de plantas reduzem o nível de glicose no sangue. A grande diversidade de classes químicas indica que uma variedade de mecanismos de ação deve estar envolvida na redução do nível de glicose no sangue. Algumas destas substâncias podem ter potencial terapêutico enquanto outras podem produzir hipoglicemia como um efeito colateral devido à sua toxicidade, especialmente hepatotoxidade (NEGRI, 2005). Rodrigues (2010) realizou um trabalho que teve como objetivo a busca de interações entre medicamentos hipoglicemiantes sintéticos e plantas medicinais usadas na forma de chás, fitoterápicos ou condimentos para este fim, e concluiu que, tendo em vista a comprovação da ação antidiabética de diversas plantas como: Allium cepa (cebola), Allium sativum (alho), Aloe Vera (babosa), Bauhinia fortificata (pata de vaca), Phyllanthus niruri (quebra pedra), a administração conjunta de dois ou mais hipoglicemiantes, sejam eles sintéticos ou naturais, eleva o risco de hipoglicemia grave, podendo levar a quadro de choque hipoglicêmico, e até a morte. Assim, o estudo das plantas medicinais envolve troca de experiências e conhecimento, de um lado o conhecimento científico de um profissional de saúde, e de outro lado, o conhecimento cultural e extremamente rico do povo indígena. Com base no que foi exposto, o presente trabalho teve como objetivo conhecer melhor sobre as plantas medicinais utilizadas pelos indígenas da Aldeia Buriti para orientação aos pacientes portadores de Diabetes Melitus através de ações educativas programadas pela equipe de saúde, com a finalidade de esclarecer a eficácia das plantas medicinais, objetivando aumentar a adesão dos pacientes diabéticos indígenas nos acompanhamentos mensais. 2 METODOLOGIA Este trabalho trata-se de um relato de experiência e foi realizado desde outubro de 2010 a outubro de 2011 com 13 pacientes diabéticos indígenas com idades entre 45 e 72 anos, sendo oito mulheres e cinco homens, residentes na Aldeia Buriti – Dois Irmãos do Buriti/MS, com baixa adesão ao acompanhamento mensal de Saúde (Programa do Diabetes). Foram programadas ações educativas mensais pela enfermeira, médico e dentista da equipe para os pacientes diabéticos, a fim de orientá-los sobre a doença e suas complicações, tanto para saúde geral como bucal. Porém poucos compareciam. Então, iniciaram-se, em fevereiro, as visitas domiciliares mensais ou semanais, conforme a necessidade do quadro do paciente, pela equipe de saúde. Durante as visitas, verificou-se que os pacientes não faziam uso correto das medicações prescritas pelo médico. Embora conhecessem o tratamento, eles relataram fazer uso de plantas medicinais com grande regularidade, e só utilizavam a medicação quando estavam se sentindo muito mal. O conhecimento das plantas medicinais pela equipe de Saúde se deu pelos relatos dos pacientes diabéticos que fazem uso das plantas medicinais, durante as visitas domiciliares e, também, por busca em referências bibliográficas. 3 RESULTADOS E DISCUSSÕES As visitas domiciliares foram muito eficazes, pois foi possível ter conhecimento das principais plantas utilizadas pelos indígenas. Segundo os pacientes, é regularmente utilizada por todos os diabéticos a Baccharis trimera (Carqueja), Bauhinia forficata (Pata-de-vaca ou Unha-de-boi), e a Cissus sicyoides L. (Folha da insulina), tais plantas são utilizadas durante o consumo de mate (quente) e do tereré (frio). A utilização é feita em livre demanda, sem contra-indicações. As plantas não são cultivadas, são encontradas na forma selvagem. A Baccharis trimera é muito utilizada, por eles, para a fertilidade de mulheres e a virilidade dos homens, para diabéticos, em anemias, reumatismo, doenças venéreas, parasitas intestinais, para diarréia e irritação do sistema digestivo. O uso tradicional consiste em uma infusão de carquejas secas em um litro de água ou mastigar o caule fresco e carnudo. Estudos científicos mostram que o mecanismo de ação ainda não foi explicado, no entanto, tem-se visto que protegem o organismo contra a toxicidade do fígado, reduz inflamações, dor, contrações intestinais, a febre e pode auxiliar nos problemas associados à hipertensão. Não deve ser utilizada durante a gravidez por ter efeito abortivo, em pessoas com pressão arterial baixa, em pessoas com níveis baixos de glicose no sangue. A substância isolada da carqueja que possui estes mecanismos de ação é o flavonóide (PAUL, 2005). Perón (2008) realizou um trabalho em que avaliou o potencial genotóxico e/ou carcinogênico de plantas medicinais, dentre elas, a Baccharis trimera, em ratos e concluiu que a infusão de carqueja em doses extrapoladas das usadas pelos humanos, não foram citotóxicos em ratos, indicando uma segurança maior de uso dessa planta pelo homem. A Bauhinui forficata (Pata-de-vaca) possui várias espécies distribuídas em quase todo o território brasileiro, e muitas delas são muito parecidas uma com as outras. A espécie que estamos tratando é a que possui dois espinhos no ramo onde fica aderido o pecíolo. Esta espécie já foi muito estudada por pesquisadores, e o que foi confirmado é a sua ação para o efeito do diabetes. Não se conhece a ação desta planta em nível fisiológico. Recentemente, foi descoberto que esta planta possui uma molécula quase que idêntica a insulina humana, tanto é que foi denominada de insulina vegetal (GASPAR, 2010). A Cissus sicyoides (Insulina Vegetal) é uma trepadeira, conhecida como Uva Brava. O nome Insulina Vegetal veio devido ao seu grande uso pela população para o tratamento do diabetes. As folhas também são empregadas para o tratamento do reumatismo, abscesso e como ativador da circulação sanguínea. A Insulina Vegetal não tem qualquer relação com a insulina produzida pelas células do pâncreas. O primeiro estudo, a cerca deste conhecimento popular foi produzido em 2001, pelo pesquisador Flavio Beltrame e, não promoveu melhora nos níveis de glicemia de ratos com diabetes induzida. O segundo estudo foi publicado em 2003 por um grupo de pesquisadores de Araraquara, e os autores demonstraram que, em ratos com diabetes e extrato da “Insulina Vegetal” levou a uma redução dos níveis de glicose. Em 2008, uma equipe de pesquisadores da Universidade Federal do Paraíba, realizou estudos em quatorze pacientes pré-diabéticos e doze indivíduos diabéticos por sete dias. Em pacientes pré-diabeticos houve uma pequena melhora. Nos pacientes diabéticos nenhum efeito sobre a glicemia ou sobre os níveis de insulina foram observados. Observar que o estudo avaliou apenas os pacientes por uma semana (SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES, 2008). Segundo Berg (1993), a Folha de Insulina deve ser preparada colocando-se duas colheres da folha seca da insulina (planta) e três folhas grandes frescas em um litro e meio de água fervente. Em seguida, abafa-se e deixa descansar por 20 minutos. Coar e tomar três a quatro vezes ao dia. Após o conhecimento das plantas que os pacientes utilizavam, as visitas domiciliares ocorreram com o intuito de orientá-los sobre a preparação mais adequada da planta, a importância de lavá-las antes do uso em forma de chá (Baccharis trimera e Cissus sicyoides L.), coar e a freqüência de ingestão, já que muitos foram resistentes ao tratamento com a medicação prescrita pelo médico. A maioria acredita que as plantas são mais eficazes para o tratamento do diabetes. 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS A partir das informações consideradas ao longo deste trabalho e sabendo que as principais plantas utilizadas pelos indígenas no controle do diabetes são Baccaharis trimera (Carqueja), Bauhinia forficata (Pata-de-vaca ou Unha-de-boi) e Cissus sicyoides L. (Folha de insulina), essa pesquisa, certamente, tem muita importância para a Unidade de Saúde da aldeia Buriti, pois a equipe de saúde terá mais segurança para orientar os pacientes quanto ao uso dessas plantas, ressaltando a importância do acompanhamento mensal do tratamento. Apesar de alguns estudos demonstrarem a eficácia dessas plantas, há necessidade da realização de mais pesquisas nessa área, já que essa doença é considerada um problema de saúde pública. Com a baixa procura desses pacientes pelo tratamento, aumentaram as consultas por queixas relacionadas às complicações da doença, inclusive a impossibilidade de realização de tratamento dentário devido diabetes não controlada. Ações educativas devem ser programadas pela equipe com o intuito de esclarecer a eficácia das plantas no controle do diabetes, bem como evidenciar os riscos associados ao não controle da doença e ao uso simultâneo de dois ou mais medicamentos, sejam eles sintéticos ou naturais. A equipe de saúde bucal poderá desenvolver um programa de treinamento dos agentes comunitários de saúde para possibilitar a identificação da patologia bucal mais associada ao diabetes (periodontite) e com isso aumentar as chances de captação de pacientes portadores dessa doença. Além disso, à enfermagem cabe a educação e o controle deste paciente no que se referem a retorno médico, exames complementares, reavaliações glicêmicas, podendo fazer, também o encaminhamento do paciente ao dentista quando este estiver compensado. Assim, pretende-se aumentar a adesão dos pacientes nos acompanhamentos mensais, melhorando sua qualidade de vida. REFERÊNCIAS MINISTÉRIO DA SAÚDE, Cadernos de Atenção Básica. Diabetes Mellitus, nº 16, p. 7, Brasília, 2006. OLIVEIRA, G. F.; OLIVEIRA, T. R. R.; RODRIGUES, F. F.; CÔRREA, L. F.; IKEJIRI A. T.; CASULARI, L. A. Prevalência de Diabetes mellitus e tolerância à glicose diminuída nos indígenas da Aldeia Jaguapiru. Brasil, Revista Panam. Salud Pública, 2001:29(5): 315-21. SAAD, M. B. N. L. Saúde e Nutrição Terena: Sobrepeso e Obesidade, 2005. ALVES, C.; BRANDÃO, M.; ANDION, J.; MENEZE, R.; CARVALHO,F. Atendimentos odontológicos do paciente com diabetes mellitus: recomendações para a prática clínica. Ver. C. Méd. Biol. 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