Concurso INCA 2010

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Concurso INCA
2010
Grandes Áreas de Ensino da Saúde – Especialização –
Psicologia em Oncologia
Este Caderno contém oito questões discursivas de Conhecimentos Específicos correspondente ao
curso descrito acima.
♦ Confira se este Caderno de Questões corresponde ao curso para o qual você se inscreveu; em
caso contrário comunique, imediatamente, ao fiscal da sala.
♦ Além deste Caderno de Questões, você recebeu um Caderno de Respostas, onde deverá
registrar as suas respostas utilizando caneta esferográfica azul ou preta.
♦ A duração desta prova é de 3 (três) horas.
♦ Não faça qualquer marcação que possa identificá-lo no Caderno de Respostas, pois isto poderá
anular sua prova.
♦ Não será permitido portar, durante a prova, qualquer tipo de aparelho que permita a
intercomunicação de mensagens e nenhuma espécie de consulta ou comunicação entre os
candidatos, nem a utilização de livros, códigos, manuais, impressos ou quaisquer anotações.
♦ O gabarito será divulgado a partir de 17 horas do dia 20 de outubro de 2009, através do site
www.inca.gov.br.
♦ Você deverá permanecer no local de realização da prova por, no mínimo, sessenta minutos. Os
três últimos candidatos serão retidos em sala até que o último deles entregue a prova ou o tempo
esteja esgotado, o que acontecer primeiro.
♦ O candidato deverá entregar no dia da prova, a documentação exigida ao fiscal, em envelope
devidamente identificado com o seu nome, a sua inscrição e o curso no qual está inscrito.
♦ Não será permitido ao candidato levar o Caderno de Prova, sendo o mesmo disponibilizado no
site do INCA.
♦ Certifique-se de ter assinado a Lista de Presença.
AGUARDE O AVISO PARA INICIAR BOA PROVA
INSTITUTO NACIONAL DO CÂNCER
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Conhecimentos Específicos:
1a Questão: (5 pontos)
Para exemplificar a variedade de modelos médicos, dentro das próprias especialidades
médicas, Eisenberg, no texto de Helman, fala dos “’modelos múltiplos e manifestações
contraditórias”que são usados por diferentes psiquiatras na explicação das psicoses.
Cite e explique esses modelos.
2a Questão: (5 pontos)
“A transferência surge como a resistência mais poderosa ao tratamento”(Freud,1912, em A
Dinâmica da transferência).
Comente esta afirmativa.
3a Questão: (10 pontos)
Relato médico de um encaminhamento à Seção de Psicologia de um Hospital de Câncer”
“Júlio, 44 anos. Diagnóstico de TU de SNC. Vem apresentando labilidade emocional, refere
palpitações e muita tristeza (sic). Alteração importante no ciclo sono-vigília. Humor deprimido.
Protocolo de tratamento com QT e RXT exclusivos. Em uso de anticonvulsivante e corticoide em
altas doses. Solicito avaliação e conduta”.
Ao receber esse pedido de parecer, o psicólogo refere como possível diagnóstico diferencial
para o quadro emocional do paciente, o uso do corticoide.
Defina a importância desse parecer.
4a Questão: (10 pontos)
Chiattone em seu texto: “A significação da psicologia no contexto hospitalar”, faz uma
distinção entre os termos: “psicologia hospitalar e psicologia no contexto hospitalar”.
Pede-se que descreva essa diferença.
5a Questão: (15 pontos)
Em um ambulatório de um hospital de referência em oncologia foi realizado um levantamento
pela equipe de enfermagem que identificou um número significativo de pacientes colostomizados
com relatos de dificuldades de adaptação e de manejo do dispositivo. A chefia do setor solicita à
Psicologia que elabore uma estratégia de atuação junto a estes pacientes. Com base no texto
“Grupos de suporte”, de Eugênio Campos:
a)
b)
Identifique a modalidade terapêutica que pode ser oferecida a esta população,
caracterizando o formato e a proposta do trabalho e a conduta do psicólogo. (9 pontos)
Descreva três possíveis resultados decorrentes desta ação terapêutica. (6 pontos)
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6a Questão: (15 pontos)
José tem 78 anos, natural da Paraíba e há 30 anos reside em um município da Baixada
Fluminense. Analfabeto, pedreiro e mora na companhia de sua esposa idosa, mantendo pouco
contato com os filhos que ficaram em sua terra natal, sendo sua esposa sua principal referência
familiar. Recebeu o diagnóstico de câncer de esôfago, sem indicação para tratamento cirúrgico
curativo, apresentando como principal sintoma uma disfagia progressiva. A equipe médica
assistente indica a gastrostomia como procedimento cirúrgico viável, oferecendo assim uma
alternativa de nova via alimentar. Ele, no entanto, recusa-se a fazer o procedimento expressando
o desejo e mantendo a esperança de continuar com a alimentação via oral, ainda que isso
acarrete desconforto físico e provoque vômitos recorrentes. Sua esposa preocupa-se com a sua
atitude e está de acordo com a realização da cirurgia, alegando que José tem dúvidas quanto à
função da gastrostomia e já se mostrou hesitante a respeito da tomada de decisão. Considerando
que você faz parte da equipe multiprofissional que acompanha o caso e que o atendimento
psicológico é solicitado nesta situação, responda, tomando por base o texto “A Bioética e a
Psicologia da Saúde: reflexões sobre questões de vida e morte”, de Wilma Torres:
a)
b)
Qual a tarefa do psicólogo na condução deste caso? (7,5 pontos)
Quais os aspectos éticos que devem ser considerados caso haja mudança na tomada de
decisão por parte do paciente? (7,5 pontos)
7a Questão: (20 pontos)
O relato abaixo é de uma entrevista, feita por um psicólogo, com um paciente hospitalizado
em um Hospital Geral.
Marcos, 40 anos. Segundo grau incompleto, comerciante autônomo. Casado há 13 anos
com 3 filhos em idade escolar. Tabagista há 25 anos, 20 cigarros/dia. Etilista social, 3 cervejas,
fins de semana (sic).
Internado há 4 dias com queixa de dor e dificuldade de engolir alimentos sólidos.
Realizará uma biópsia incisional em massa de 3x3 cm em mandíbula E com vistas à
definição histopatológica e posterior indicação terapêutica.
Em uso de anti-inflamatório e opioides para dor.
Paciente lúcido, orientado, humor deprimido, conteúdo e curso do pensamento preservados.
Está sendo acompanhado pela esposa e refere preferir a sua presença durante a entrevista.
Refere falta de sono e pouco apetite: “a comida não é mole e de noite eles fazem muito
barulho, a luz fica acesa dia e noite eles entram toda hora”, Mas eu não posso reclamar são todos
ótimos”.
Durante a entrevista parece se controlar para não chorar e diz: ”Tô assim, chorando sem
motivo, de repente” Em seguida pede desculpas e um copo de água. Sua esposa, Rosa, sai do
quarto e o paciente, em silêncio, a acompanha com o olhar. Rosa antes de sair pega o celular e
leva consigo.
Marcos diz: “Penso muito em tudo, me preocupo com ela. Ela está perdidinha. Ela não
trabalha , só cuida dos meninos. Eu sempre cuidei de tudo lá em casa. Não posso ficar muito
tempo aqui”.
Rosa volta com a água e Marcos fala: “Já sei, foi ligar. Se tá tão preocupada, vai pra casa,
eu posso ficar sozinho. Não to inútil”. Sua esposa não responde e apenas balança a cabeça.
Paciente refere ter sentido muitas dores no pescoço e na garganta durante meses e que
procurou auxílio médico e relata: “Eles não sabiam de nada. Só mandavam eu tomar um monte de
remédio. Me disseram de tudo, até que era estresse. Desde quando pobre tem isso? Era uma dor
danada, pensei em fazer besteira, mas agora eu tomo um remédio muito forte e passa tudo. Mas
é remédio pra doença braba, pra doença braba mesmo. Meu pai morreu igual.”
Quando lhe questionado sobre o que o médico tinha lhe dito, Marcos fala: “O doutor me
disse que pode ser Câncer. Sabe como é.... eu fumei a vida toda e tomava meus gorós com os
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colegas. Eu não era flor que se cheire. A Rosa é quem sabe. Já aprontei muito. Agora tenho que
aguentar, né mesmo? Nunca mais vou poder fazer minhas farras.”
“E olha, eu nunca fiquei doente, nunca fiquei em hospital, nunca. Só perna quebrada, coisa
de criança. Eu sempre tive medo de hospital e de agulha.”
Marcos diz estar preparado para tudo, se referindo ao diagnóstico de doença oncológica, mas
afirma: “O doutor falou que eu posso ficar sem fala e que vou usar um negócio no pescoço pra
respirar. Acho que isso vai ser pior, todo muito fica olhando. Ninguém sabe lá em casa, só sabem
que eu sumi e eu vou ficar sumido pra sempre. Não sei como vou contar pros meninos.”
No final da entrevista foi proposto ao paciente, continuar o atendimento psicológico por todo
o seu período de internação com futuro acompanhamento ambulatorial.
Paciente se mostrou receptivo à proposta.
Botega em seu texto refere-se a Stain quando este postula 8 categorias de estresse
psicológico que esta sujeito o paciente hospitalizado.
Cite 04 dessas categorias destacando cada uma delas no discurso do paciente e/ou no
relato do psicólogo.
8a Questão: (20 pontos)
Leia a sessão clínica abaixo:
Manuel tem 32 anos, solteiro, filho único, mora no interior do Rio de Janeiro com a mãe.
Abandonou os estudos sem completar o 2° grau e nunc a conseguiu se estabilizar em nenhum
emprego.
Segundo relato da mãe, ele e o pai se desentendiam muito, até que um dia o pai lhe disse que
seria melhor sair de casa para aprender a se virar sozinho.
Voltou para casa após a morte do pai desempregado e com sentimento de fracasso por não
conseguir ajudar a mãe a manter a casa e o aluguel, pois o pai não deixou casa própria e nem
pensão, trabalhava fazendo biscates e não pagava seguro social. A mãe sempre fez salgados
para fora e também vende roupas íntimas. “Na verdade, sempre fui eu quem sustentou a casa.
Meu marido era muito descansado, não sabia lidar com problemas, sempre fui eu quem resolveu
tudo, ele não me dava apoio.”
“Eu acho doutora, que o meu filho puxou um pouco o pai”.
A mãe disse que não sabe mais o que fazer com ele, pois às vezes ele fica em estado de
profunda depressão, sem ter interesse por nada, deitado o tempo todo, sem comer, nem
conseguir levantar para tomar banho, dizendo estar fraco e que não serve para nada.
“Uma vez doutora, ele jogou as roupas e uma porção de livros dele fora”.
“Eu sinto assim doutora, eu não sou psicóloga, mas eu acho que ele se revolta muito com ele
mesmo.” “Ele não sabe o que quer da vida, acho que nunca soube mesmo o que ele quer.” “Ele se
fecha dentro dele mesmo e aí fica muito difícil de se ajudar, tudo o que se tenta fazer por ele nada
ajuda, ele só diz que ele não dá certo em nada, que não serve p’ra nada”.
A mãe continua o relato dizendo que às vezes ele melhora por um tempo, demonstrando ter
interesse novamente em fazer alguma coisa, pede dinheiro a ela para comprar roupas, livros e
que vai estudar e procurar emprego. Mas logo depois fica muito agitado, não dorme e fica
andando de um lado para o outro, entrando e saindo de casa toda hora e cantando uma música
que toca sempre no rádio: “Manuel, foi p’ro céu”...
Continua dizendo que marcou consulta na Psicologia para pedir ajuda, porque o filho está com
uma ferida aberta na testa há muitos anos e que foi uma luta conseguir levar ele ao médico,
quando foi encaminhado ao INCA. Após diversos exames disseram que é um câncer de pele e
como ele deixou passar muito tempo, a doença já atingiu o osso e a indicação é de uma cirurgia
para retirada do osso com enxerto.
“Parece doutora, que ele não está nem aí p’ro que está acontecendo com o corpo dele, depois
que os médicos decidiram esta cirurgia ele não quis mais voltar aqui, não dorme há duas semanas
e fica andando de um lado p’ro outro cantando “Manuel foi p’ro céu”....
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A melancolia, segundo Freud, se define a partir de 3 pré-condições.
Cite estas 3 pré-condições justificando e exemplificando cada uma delas, a partir do relato
da mãe e ou do relato da psicóloga.
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