O ‘AEDES’ NO CAMINHO DO PAN 24/06/2006 O Globo Aumento do número de casos de dengue leva especialistas a temerem epidemia em 2007 Apossibilidade de ocorrer uma epidemia de dengue em 2007, quando o Rio sediará os Jogos Pan-Americanos, começa a preocupar especialistas. O alerta não é à toa: foram registrados 11.496 casos da doença do início do ano até o dia 31 de maio, um aumento de 5.109% em relação ao mesmo período de 2005, quando houve 225 notificações. O total de vítimas já é maior do que a soma dos últimos três anos. Para a Secretaria municipal de Saúde, o número de casos aumentou em 2006 porque o verão foi mais quente e chuvoso. O infectologista Roberto Medronho, do Núcleo de Saúde Coletiva da UFRJ, acredita que o número de registros deve diminuir durante o inverno, mas, se não houver uma campanha intensa de combate ao mosquito Aedes aegypti, uma epidemia no próximo verão é, segundo ele, inevitável. — Ainda há muita gente que pode ser contaminada com o vírus do tipo 3. Até os do tipo 1 e 2 ainda continuam fazendo vítimas. Isso fará com que aconteçam surtos em bairros isolados ou até mesmo uma nova epidemia. Mas, se o vírus tipo 4 chegar à cidade, o resultado será desastroso. O efeito para a imagem do Rio em pleno ano dos Jogos PanAmericanos pode ser desastroso. A região mais afetada pela dengue este ano foi justamente a que receberá as delegações dos países participantes do Pan e que abrigará boa parte das competições: a de Barra, Recreio e Jacarepaguá. No total, foram 6.141 casos até 21 de junho (sendo 1.329 na Barra, no Recreio, em Vargem Grande e Pequena, Itanhangá e Camorim; 4.267 em Jacarepaguá e 545 na Cidade de Deus). O bairro da cidade com maior número de casos foi a Taquara, com 1.006, mais do que no município inteiro no ano passado, quando houve 983 registros. Índice de infestação pelo ‘Aedes’ é alto A professora Luciana Tricai Cavalini, do Departamento de Epidemiologia e Bioestatística do Instituto de Saúde da Comunidade da UFF, compartilha da opinião de Medronho: — O número de casos é preocupante. Em geral, antes de uma epidemia, começa-se a notar o aumento gradativo do número de casos, mais ou menos como está sendo observado agora. Não dá para afirmar que a chance de haver epidemia é de 100%. Mas a alta no número de casos é um indicativ o de que, se não forem implementadas as medidas de controle do vetor, aumentará muito a probabilidade de sua ocorrência no próximo verão. Outro dado preocupante é o alto índice de infestação pelo Aedes. A média na cidade é de 5,5%, acima do tolerado pela Organização Mundial de Saúde (1%). No ano passado, o índice de infestação da cidade foi de 7,2%, mas o número de casos foi menor. Segundo Medronho, o combate ao vetor tem sido feito de forma equivocada. Os agentes não coletam as larvas em todas as residências para calcular com precisão o índice de infestação, que pode ser bem maior do que o divulgado. Há falta de pessoal e de material apropriado, diz ele: — A Secretaria de Saúde deveria divulgar os índices de infestação, inclusive por bairro, no site da prefeitura. Falta transparência no trabalho.