Exército Nacional da Colômbia desenvolve método para combater leishmaniose A Tenente Coronel Claudia Méndez, que chefia o laboratório do Centro de Pesquisas da Diretoria de Saúde do Exército, desenvolve ferramentas para melhorar diagnósticos, otimizar o monitoramento de pacientes e reduzir os efeitos adversos relacionados ao tratamento da leishmaniose. Marian Judith Romero Garcia | 4 março 2016 A Tenente Coronel Claudia Méndez, diretora do Centro de Pesquisas da Diretoria de Saúde do Exército colombiano, analisa amostras de pacientes com leishmaniose. [Foto: Centro de Pesquisa da Diretoria de Saúde do Exército] Soldados colombianos estão constantemente expostos ao mosquito que transmite a leishmaniose, uma doença cujas manifestações clínicas vão desde úlceras cutâneas que deixam cicatrizes a graves inflamações do fígado e baço. A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que, a cada ano, surgem 1,3 milhões de novos casos da doença e ocorrem de 20.000 a 30.000 mortes relacionadas à enfermidade em todo o mundo. Os casos de leishmaniose estão se espalhando pela América Latina, especialmente na Colômbia, Peru, Bolívia e Brasil. Na Colômbia, o Exército Nacional relata uma média de 4.000 a 5.000 novos casos a cada ano. A detecção precoce da doença é importante, pois permite o prognóstico adequado e subsequente tratamento. A Tenente Coronel Claudia Méndez, chefe do laboratório do Centro de Pesquisas da Diretoria de Saúde do Exército, desenvolve ferramentas para melhorar o diagnóstico, otimizar o monitoramento de pacientes e reduzir os efeitos adversos relacionados à doença, como mialgia, artralgia e insuficiência da função hepática, entre outros. “A leishmaniose cutânea é a doença mais comum transmitida por insetos aos soldados na Colômbia, bem à frente da zika, chikungunya, mal de chagas, dengue e outras doenças”, disse a Ten Cel Claudia. “Embora não seja fatal, afeta os soldados porque deixa cicatrizes na face e em outras partes do corpo. Se não for tratada a tempo, o parasita pode avançar e produzir a leishmaniose mucocutânea, que deforma e perfura o septo e danifica o revestimento bucal, entre outros sintomas." Lesões em três semanas De uma a três semanas após a picada do mosquito transmissor da doença – o Lutzomyia Psychoidae – surge a pápula, que pode crescer de 0,5 a 3 centímetros de diâmetro. A maioria dos pacientes tem uma ou duas destas lesões no rosto, mãos ou pernas. Amostras para determinar a existência da doença são tiradas com um cotonete e analisadas em microscópio, segundo a Ten Cel Claudia. No entanto, os pelotões nem sempre têm um bacteriologista que pode fazer tal procedimento e diagnosticar precisamente os pacientes, o que normalmente torna difícil diagnosticar os casos. “Quando há pápulas, mas os testes de leishmaniose dão negativo, o paciente precisa ir para a cidade mais próxima, onde é feita uma biópsia", explicou a Ten Cel Claudia. “Então, as amostras são enviadas para o Hospital Militar de Bogotá. Este processo leva cerca de três semanas e é muito caro, além de causar uma recuperação muito lenta dos pacientes.” A Ten Cel Claudia e sua equipe implantaram um procedimento inovador para lidar com o problema. “Em locais de difícil acesso, enfermeiros de combate são treinados para colher amostras em filtros de papel”, disse. “O paciente tira o filtro de papel de um saco plástico hermeticamente fechado, faz uma impressão da lesão da leishmaniose e a envia para nosso laboratório em Bogotá. Em dois dias, temos o diagnóstico pronto.” A nova metodologia, com a tecnologia de Reação em Cadeia de Polimerase Convencional (RCP), foi implantada em 2012. Em junho de 2014, a RCP em tempo real foi adicionada, simplificando muito o diagnóstico de leishmaniose entre os soldados colombianos. Efeitos danosos A medicação utilizada no tratamento da doença pode causar efeitos danosos. Na Colômbia, os médicos tratam a leishmaniose com Glucantime, um remédio cuja toxicidade pode provocar mialgia, artralgia, fraqueza e vômitos e, se usado por um período prolongado, danos aos rins e ao coração. A pesquisa da Ten Cel Claudia tem foco na quantificação da carga do parasita na leishmaniose cutânea através da RCP em tempo real para caracterizar cepas circulares de Leishmania e determinar o tratamento eficiente para cada paciente. A RCP é uma técnica molecular que utiliza o DNA do parasita para obter resultados bem específicos. No caso da Colômbia, há diferentes cepas para referência: L.braziliensis, L.panamensis, L.guayanensis, L.colombiensis, L.amazonensis, L.mexicana, e L.chagasi . Baseado na velocidade de deslocamento de cada um em temperaturas diferentes durante o teste, é possível determinar os espécimes de Leishmania que afetam o paciente. “Nós trabalhamos com RCP em tempo real", declarou a Ten Cel Claudia. "Esta metodologia nos permite quantificar e identificar os parasitas de cada paciente e determinar se o tratamento com Glucantime será eficiente. Nós os monitoramos do dia 0 ao dia 10 e ao dia 20 do tratamento, e estabelecemos a linha de tempo do comportamento do parasita em nível molecular. Se o paciente for resistente ao tratamento, nós podemos prover alternativas.” Pentamidina e Anfotericina são alguns tratamentos alternativos que os médicos podem prescrever em vez de Glucantime. Essa dupla funcionalidade da metodologia da RCP para leishmaniose, identificação de espécimes e quantificação do parasita, envolve a análise de amostras de 200 pacientes no Centro de Pesquisas. Em abril, o estudo deve acontecer com o financiamento do Escritório do Exército para Educação e Doutrina. Leishmaniose na América Latina A leishmaniose está ligada às mudanças climáticas como o desmatamento, construção de represas e sistemas de irrigação e urbanização, segundo a OMS. Nas Américas, os casos foram relatados em todos os cantos, do norte da Argentina ao sul do Texas, com a exceção do Chile e do Uruguai. A leishmaniose cobre um grupo de doenças causadas por um parasita pertencente ao gênero Leishmania. As principais formas da leishmaniose são visceral (a mais grave), cutânea (a mais comum), mucocutânea, disseminada e difusa. A leishmaniose é uma zoonose (uma doença transmitida de animais vertebrais para seres humanos), que é transmitida através da picada de um inseto vetor. A infecção em seres humanos podem ocorrer através de parasitas de uma fonte animal (ciclo zoonótico) ou de parasitas de outros hospedeiro humano (ciclo antroponótico). Os cães são os hospedeiros mais comuns da leishmaniose cutânea, embora esta também esteja presente em outros pequenos mamíferos. Graças à proximidade de soldados aos cães durante a desminagem humanas e outras atividades, é importante também tratar os animais, que recebem cuidados dos veterinários do Exército Nacional. 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