Por que trabalhar playlist comentada na escola? Toda playlist supõe um critério de organização das canções, nem que seja um critério como “Músicas de que eu gosto”. Outros critérios possíveis seriam: “As mais tocadas”, “Para ouvir no trabalho”, “Para relaxar”, “Para namorar”, “Canções de protesto”, “Versões e remixes”, “Rock dos anos 60”, e por aí vai. Em uma playlist comentada, cabe explicitar esse critério, fazer uma apresentação e comentários sobre as canções escolhidas. Selecionar com base em algum critério é se colocar no lugar de um curador, de alguém que seleciona alguns, entre outros, de acordo com algum critério e visando um determinado objetivo. Essas ações são cada vez mais requeridas nos tempos atuais e supõem novas habilidades precisam de ser leitura que desenvolvidas. Assim, uma das razões para se propor um trabalho com playlist na escola é possibilitar que os alunos pratiquem a curadoria. No caso da escola, como um dos objetivos é qualificar a voz dos alunos, na direção de desenvolver critérios de apreciação estética, não seria o caso de ter uma playlist que tenha somente como critério "músicas de que eu gosto", acompanhada de uma justificativa de que se gosta porque se gosta ou porque a música é boa. A ideia é que, nesse caso, o aluno justifique por que gosta da canção. A decisão por saber se determinada canção “combina” ou não com uma playlist também pode envolver diferentes habilidades de leitura. Por exemplo, se a playlist for temática − “canções de protesto”, “canções que trazem uma imagem positiva do Brasil”, “canções de fim de caso” etc. – é preciso avaliar se uma dada canção cabe nesse recorte. Para isso, podem-se realizar ações como localização de informações, inferência, generalização, estabelecimento de relações entre letra, ritmo e outros elementos sonoros. Apresentar, descrever, informar e comentar são ações que também supõem várias habilidades linguísticas, que podem assim ser trabalhadas de forma contextualizada. Ter o que falar sobre as canções, em geral, supõe busca e seleção de informação, além de uma retextualização, de forma a adequar o texto a uma fala semelhante à de um programa de rádio. Ainda em relação a ter o que dizer sobre as canções, para além de informações sobre elas ou sobre os compositores, cantores ou grupos, é possível e desejável que eles teçam considerações sobre a letra e sua relação com a música, o que possibilita ampliar a exploração de sentidos possíveis em relação a uma mesma canção, contribuindo assim com o trabalho com diferentes linguagens para além da verbal, presente nas letras das canções. Gravar a fala também supõe encontrar o ritmo, o volume e a intensidade de voz adequada, o que requer certa experimentação e também contribui com o desenvolvimento de habilidades de uso público da linguagem oral. A edição da playlist possibilita ainda que os conhecimentos técnicos envolvidos no manejo de editores de áudio sejam trabalhados de forma contextualizada. Finalmente, o trabalho com playlist comentada pode proporcionar a consideração da voz dos alunos, seus gostos, seus valores e suas opiniões, e promover seu protagonismo. Dessa forma, a proposta se insere na perspectiva de trabalho com os multiletramentos, na medida em que pode contemplar diferentes culturas, linguagens e mídias.