avaliação da percepção do paciente em relação ao

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO
CAMPUS UNIVERSITÁRIO DE SINOP
INSTITUTO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM
EVELEI MUNIK DE SOUZA FIGUEIREDO
AVALIAÇÃO DA PERCEPÇÃO DO PACIENTE EM RELAÇÃO AO
DIAGNÓSTICO DE HANSENÍASE
SINOP – MT
2014
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EVELEI MUNIK DE SOUZA FIGUEIREDO
AVALIAÇÃO DA PERCEPÇÃO DO PACIENTE EM RELAÇÃO AO
DIAGNÓSTICO DE HANSENÍASE
Trabalho de Curso apresentado como requisito
para obtenção do título de Bacharel em
Enfermagem pela Universidade Federal de
Mato Grosso - Campus Universitário Sinop.
Orientadora: Prof.ª Ms. Rosangela Guerino
Masochini
SINOP- MT
2014
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EVELEI MUNIK DE SOUZA FIGUEIREDO
AVALIAÇÃO DA PERCEPÇÃO DO PACIENTE EM RELAÇÃO AO
DIAGNÓSTICO DE HANSENÍASE
____________________________, pela Comissão Examinadora, abaixo assinada.
________________________________________
Prof.ª Ms. Rosângela Guerino Masochini
Presidente da Banca Examinadora
_______________________________________
Prof.ª Drª Marina Mariko Sugui
Banca Examinadora
_______________________________________
Prof.ª Esp. Etiane Martins de Sá
Banca Examinadora
Sinop, ____ de Agosto de 2014.
4
Dedico esse trabalho às únicas pessoas que se
fizeram presentes durante todo o tempo, durante
toda minha caminhada, me incentivando e
apoiando dentro de suas possibilidades, meus
pais José e Luciene.
Dedico também ao meu noivo, Cristian, que
não poupou esforços para que este trabalho se
concretizasse, sendo muitas vezes as forças que
me faltavam, sempre me passando segurança e
me enchendo de entusiasmo, Amo você amor,
Obrigada por tudo!
5
Agradecimentos
Primeiramente agradeço a Deus, pelo dom da vida e por todas as oportunidades de
bem à mim reservadas.
À meus pais (José e Luciene) que sempre estiveram presentes dividindo comigo suas
experiências de vida, por sempre confiarem no meu potencial e por acreditarem nos meus
sonhos, tornando-os também deles.
Ao meu noivo Cristian, por todo apoio, incentivo, amor e compreensão nos momentos de
aflição.
À minha irmã Geise e meu sobrinho Luís Henrique pelo incentivo durante toda minha
jornada de estudo, por serem também os meus motivos de persistência no meu objetivo.
À minha amiga Jeniffer, que sempre se manteve firme ao meu lado, sempre prestativa,
querida e confidente, sendo a irmã que escolhi para ter por toda a vida.
Em especial e com todo carinho, à minha orientadora Rosângela Guerino Masochini,
por me acolher nos momentos difíceis, por toda paciência e tranquilidade passada.
Agradeço também ao meu amigo Wilson, pela amizade, companheirismo, apoio,
incentivo e ajuda em todos esses anos.
A todos que direta ou indiretamente contribuíram para a realização deste trabalho e
permitiram o enriquecimento de minha aprendizagem.
6
Pouco conhecimento faz que as criaturas se sintam
orgulhosas. Muito conhecimento, que se sintam
humildes. É assim que as espigas sem grão erguem
desdenhosamente a cabeça para o céu, enquanto que
as cheias a baixam para a terra, sua mãe.
Leonardo da Vinci
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FIGUEIREDO, E. M. S. Avaliação da percepção do paciente em relação ao diagnóstico de
hanseníase. Sinop, 2014 (71 p.). Trabalho de Conclusão do Curso de Graduação em
Enfermagem - Instituto de Ciências da Saúde. Universidade Federal de Mato Grosso Campus Universitário de Sinop.
RESUMO
A Hanseníase é denominada como uma doença infecto-contagiosa, de evolução lenta,
manifestando-se principalmente através de sinais e sintomas dermatoneurológicos, sendo
considerada uma patologia endêmica conhecida mundialmente, pactuada como grave
problema de saúde pública no Brasil. O diagnóstico rápido da hanseníase e o seu tratamento
apropriado impedem a evolução da doença, evitando o estabelecimento de incapacidades
físicas frequentes na evolução da patologia que constituem a grande causa do estigma e
isolamento do portador na sociedade. Objetivou-se verificar a percepção do paciente em
relação ao diagnóstico da hanseníase, em tratamento anual, na busca de contribuir para
prevenção das incapacidades físicas. O estudo foi desenvolvido no Município de Sinop, no
estado de Mato Grosso, tendo a forma de abordagem classificada como pesquisa qualitativa.
Participaram da pesquisa os pacientes com Hanseníase e em tratamento anual cadastrados na
Unidade Básica de Saúde Nações os dados foram coletados utilizando a entrevista semiestruturada, e os resultados foram analisados em categorias, sendo estas, as implicações na
autoestima do paciente após o diagnóstico de hanseníase; percepção do paciente frente ao
diagnóstico de hanseníase e mudanças nas condições socioeconômicas provenientes da
hanseníase. Possibilitou-se, evidenciar que a hanseníase enquanto problema de saúde pública
não restringe à imensa quantidade de casos, devendo ser considerado seu grande potencial de
causar incapacidades físicas, interferindo no contexto biopsicossocial. É válido salientar que a
hanseníase compromete toda a vida do paciente, incluindo o seu bem-estar físico, mental e
social, fazendo necessário uma assistência de enfermagem com uma visão holística e
humanizada.
Palavras-chave: hanseníase; diagnóstico; preconceito.
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FIGUEIREDO, E. M. S. Evaluation of perception of the patient in relation to the
diagnosis of leprosy. Sinop, 2014 (71 p.). Work of completion of the undergraduate program
in Nursing-Health Sciences Institute. Universidade Federal de Mato Grosso-University
Campus of Sinop.
ABSTRACT
Leprosy is termed as an infectious contagious disease of slowly advancing, manifesting itself
mostly through signs and symptoms dermatoneurológicos, being considered a pathology
endemic known worldwide, agreed as a serious public health problem in Brazil. Quick
diagnosis of leprosy and its appropriate treatment prevents the evolution of the disease,
avoiding the establishment of physical disability in the evolution of frequent pathology that
constitute the great cause of stigma and isolation of the carrier in society. The aim was to
verify the patient's perception regarding the diagnosis of Hansen's disease in yearly treatment,
in seeking to contribute to prevention of physical disabilities. The study was carried out in the
city of Sinop in the State of Mato Grosso, having the form of classified as qualitative research
approach. Participated in the research patients with Hansen's disease and in annual treatment
registered in Nations basic health unit data has been analyzed in categories, these being, the
implications on patient's self-esteem after the diagnosis of leprosy; perception of the patient
before the diagnosis of leprosy and changes in socioeconomic conditions from leprosy.
Enabled-if, highlight that leprosy as public health problem does not restrict the immense
amount of cases and should be considered his great potential to cause physical disability by
interfering in the biopsychosocial context. Is valid to note that leprosy compromises the life of
the patient, including his/her physical, mental and social well-being, making necessary a
nursing care with a holistic and humane.
Keywords: leprosy; diagnosis; prejudice.
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LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Esquema Tratamento Hanseníase Paucibacilar ..................................................... 31
Tabela 2 – Esquema Tratamento Hanseníase Multibacilar ..................................................... 32
Tabela 3 – Distribuição de frequência das características da amostra em relação ao perfil
socioeconômico ....................................................................................................................... 44
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LISTA DE ABREVIATURAS
a.C – Antes de Cristo;
BCG - Bacillus Calmette-Guérin;
CFZ – Clofazimina;
DDS – Dapsona;
g – Gramas;
HIV – Vírus da Imunodeficiência Humana;
HT – Hanseníase Tuberculóide;
HV – Hanseníase Virchowiana;
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística;
MB – Multibacilar;
OMS – Organização Mundial de Saúde;
PB – Paucibacilar;
PCH – Programa de Controle da Hanseníase;
PQT – Poliquimioterapia;
RFM – Rifampicina;
SAE – Sistematização da Assistência de Enfermagem;
SINAN – Sistema de Informação de Agravos de Notificação;
SUS – Sistema Único de Saúde;
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO .....................................................................................................
1.1 JUSTIFICATIVA ............................................................................................
1.2 OBJETIVOS ....................................................................................................
1.2.1 Objetivo Geral ..............................................................................................
1.2.2 Objetivos Específicos ...................................................................................
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .............................................................................
2.1 Epidemiologia da Hanseníase ........................................................................
2.2 História da Hanseníase ...................................................................................
2.3 A Doença Hanseníase ......................................................................................
2.4 Agente Etiológico .............................................................................................
2.5 Transmissão .....................................................................................................
2.6 Classificação Operacional dos Casos de Hanseníase ...................................
2.6.1 Hanseníase Indeterminada ..........................................................................
2.6.2 Hanseníase Tuberculóide ............................................................................
2.6.3 Hanseníase Dimorfa .....................................................................................
2.6.4 Hanseníase Virchowiana .............................................................................
2.7 Diagnóstico .......................................................................................................
2.7.1 Diagnóstico de Estados Reacionais .............................................................
2.8 Tratamento ......................................................................................................
2.8.1. Não Adesão Terapêutica .............................................................................
2.9 Assistência de Enfermagem ............................................................................
2.10 Educação em Saúde ......................................................................................
2.11 Prevenção de Incapacidades Físicas ............................................................
2.11.1 Avaliação da Face .......................................................................................
2.11.2 Avaliação das Mãos ....................................................................................
2.11.3 Avaliação dos Pés .......................................................................................
2.11.4 Teste de Sensibilidade em Mãos e Pés ......................................................
2.12 Medidas de Controle da Hanseníase ...........................................................
2.12.1 Vacina BCG ................................................................................................
3. METODOLOGIA .............................................................................................
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES ....................................................................
4.1 Implicações na Autoestima do Paciente Após o Diagnóstico de
Hanseníase .............................................................................................................
4.2 Percepção do Paciente Frente ao Diagnóstico de Hanseníase .....................
4.3 Mudanças nas Condições Socioeconômicas Provenientes da Hanseníase .
CONSIDERAÇÕES FINAIS ...............................................................................
APÊNDICE ............................................................................................................
Apêndice A .............................................................................................................
Apêndice B .............................................................................................................
Apêndice C .............................................................................................................
ANEXOS ................................................................................................................
Anexo A ..................................................................................................................
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................
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INTRODUÇÃO
Hanseníase é denominada como uma doença infecto-contagiosa, de evolução lenta,
manifestando-se principalmente através de sinais e sintomas dermatoneurológicos, como:
lesões na pele e nos nervos periféricos, principalmente nos olhos, mãos e pés (BRASIL,
2007).
Atualmente a hanseníase representa um grande agravo para a saúde pública no Brasil.
Tal situação desencadeia-se em razão desta patologia apresentar agravantes inerentes às
doenças de origem socioeconômica e cultural, além de causar distúrbios psicológicos gerados
em razão das deformidades e incapacidades físicas decorrentes do processo de adoecimento e
evolução da patologia. Estas deformidades e incapacidades físicas representam uma das
causas do estigma e do isolamento da pessoa acometida pela hanseníase na sociedade
(BRASIL, 2008a).
A Organização Mundial da Saúde (OMS) classifica a hanseníase como um agravo a
saúde,
de
caráter
infectocontagioso,
apresentando
uma
endemia
nas
áreas
em
desenvolvimento, causada pelo Mycobacterium leprae. Determinando como um caso de
hanseníase o indivíduo que apresenta um ou mais dos sinais e sintomas provocados pela
doença, como lesão de pele com alteração de sensibilidade; espessamento de nervo periférico
acompanhado de alteração de sensibilidade (AQUINO; SANTOS; COSTA, 2003).
Ainda de acordo com o autor citado acima, a melhoria na qualidade de vida humana e
o progresso do conhecimento científico proporcionaram alterações significativas no quadro da
hanseníase. Em 1986 houve a disponibilização de fármacos poliquimioterápicos, onde são
responsáveis por combater o agente causador da hanseníase até o desaparecimento das
manifestações clínicas, porém mesmo com essa disponibilização de tratamento gratuito pelo
Sistema Único de Saúde (SUS), a hanseníase ainda representa significativamente um
problema de saúde pública em todo o território nacional.
A avaliação neurológica, a classificação do grau de incapacidades e a aplicação de
técnicas básicas de prevenção, controle e tratamento são medidas fundamentais que devem ser
realizadas na Unidade Básica de Saúde por um profissional da saúde devidamente capacitado,
sendo este um médico ou enfermeiro. Tais medidas utilizadas para o diagnóstico de
hanseníase constituem a mais importante arma no combate à principal causa do estigma social
da patologia (BRASIL, 2008a).
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O diagnóstico da hanseníase é baseado em alguns sinais cardinais, como a presença de
anestesia em lesões cutâneas relatados pelo paciente e que são sugestivas da doença, além do
espessamento de nervos periféricos, e a identificação do M. leprae no esfregaço de linfa ou
cortes histológicos de tecidos (SOUZA, 1997; BRASIL, 2007).
Almejando o diagnostico precoce e intervenções preventivas, o profissional
enfermeiro está sendo cada vez mais necessário no acompanhamento de pessoas acometidas
pela hanseníase e na avaliação dos contatos desses pacientes na área em que atuam, sendo
assim considerado um ator essencial para a eliminação da hanseníase nacional, sendo atuante
na prevenção, controle e tratamento da doença (VIEIRA, 2008).
Conforme o autor supracitado, essa observação dos sinais e sintomas da patologia
acontece durante a consulta de enfermagem, um instrumento essencial para atuação do
enfermeiro, possibilitando encaminhar os casos suspeitos para avaliação médica ou solicitar
exames para a confirmação, bem como realizar o acompanhamento do tratamento
mensalmente.
A consulta de enfermagem é um instante de encontro e diálogo entre o cliente e o
profissional da saúde, tendo como objetivo a comunicação terapêutica e a educação em saúde,
considerando, que aponta e atua frente as necessidades de saúde do cliente, proporcionando a
oportunidades de aprendizagem mútua entre enfermeiro e cliente, de maneira a construir um
vínculo, regido por confiança e compromisso entre ambos (XIMENES et al., 2007).
Principalmente quando fala-se em pessoas acometidas por doenças infectocontagiosas,
como a hanseníase, deve-se priorizar uma visão holística e com humanização, partindo do
provimento de apoio no que diz respeito à questão física, psicológica e emocional, haja vista,
que a hanseníase é uma patologia estigmatizante que acarreta transtornos físicos e
psicológicos ao seu portador (VIEIRA et al., 2004).
Conforme Brasil (2013) os estados de Mato Grosso, Maranhão e Tocantins
apresentaram coeficiente de prevalência alto (entre 5 e 9,99 casos por 10 mil habitantes),
enquanto todos os estados da região Sul, Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo, na região
Sudeste, somados ao Rio Grande do Norte, no Nordeste, alcançaram a meta de eliminação da
hanseníase enquanto problema de saúde pública. Entre as Unidades da Federação, a mais
endêmica foi o estado de Mato Grosso, com 80,3 casos novos por 100 mil habitantes em
2012, enquanto a menos endêmica foi o Rio Grande do Sul com 1,4 casos por 100 mil
habitantes.
14
A Hanseníase é uma doença endêmica em muitos locais, que apresenta cura com
tratamento adequado, entretanto a falta de diagnóstico ativo nas fases iniciais da doença
dificulta o seu controle e a prevenção de suas incapacidades físicas que constituem a grande
causa do estigma e isolamento do portador na sociedade. Esses fatos é que despertaram o
interesse para realização deste trabalho, visando identificar a percepção dos portadores frente
ao diagnóstico de hanseníase.
15
1.1 JUSTIFICATIVA
O interesse pelo tema deste estudo surgiu durante as aulas práticas em campo, onde se
observou uma grande demanda de casos de hanseníase no Município de Sinop.
Na atualidade, a hanseníase ainda representa um grave problema de Saúde Pública no
Brasil e em países em desenvolvimento. Além dos agravantes inerentes a qualquer doença de
origem socioeconômica, ressaltamos a repercussão psicológica gerada pelas incapacidades
físicas, advindas da doença. Estas incapacidades constituem, na realidade, a grande causa do
estigma e isolamento do portador na sociedade (FREITAS, 2008).
Embora a hanseníase apresente baixa letalidade, é uma das principais causas de
incapacidade física permanente, podendo acarretar diminuição da capacidade de trabalho,
limitação da vida social e problemas psicológicos. Somado a estes fatores, o estigma
provocado pela doença resulta em significante ônus econômico e social, causando sofrimento
tanto para o indivíduo com hanseníase, como para a sua família (COELHO, 2008).
Dessa forma, este estudo tem como objeto a percepção do portador de hanseníase em
tratamento anual em relação ao diagnóstico da patologia. Com isso espera-se contribuir para
implementação e fortalecimento de ações educativas para amenizar o estigma, o medo, o
preconceito e consequentemente exclusão social e o aumento da autoestima do cliente.
Dada à escassez de estudos que façam uma abordagem sobre a percepção do paciente
em relação ao diagnóstico de hanseníase e a necessidade de maiores informações e
entendimento sobre o tema, este estudo poderá trazer contribuições essenciais, para um
melhor atendimento dos clientes e de organização de serviços no município.
16
1.2 OBJETIVOS
1.2.1 OBJETIVO GERAL
Verificar a percepção do paciente em relação ao diagnóstico da hanseníase, em
tratamento anual na busca de contribuir para prevenção das incapacidades físicas.
1.2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Verificar as implicações na autoestima do paciente após o diagnóstico;

Observar as mudanças na condição socioeconômica provenientes da hanseníase;

Elaborar um folder com exercícios que auxiliem na prevenção de incapacidades;
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2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.1 Epidemiologia da Hanseníase
Conforme Araújo (2003), a prevalência de novos casos de hanseníase tem apresentado
declínio significativo perante o mundo todo, além destes números estarem mantendo-se
estáveis. Porém na contramão destes dados estão presentes os casos não diagnosticados ou
que estão sendo diagnosticados tardiamente.
A hanseníase atualmente é considerada um problema de saúde pública no mundo todo.
No ano de 2008 foram diagnosticados 249.007 novos casos em 121 países, onde 54%
(134.184) foram detectados na Índia, país que apresenta a maior incidência de novos casos,
acompanhado pelo Brasil, responsável por 15% (39.047) de novos casos neste mesmo ano
(BRASIL, 2008c).
Conforme descrito anteriormente, no ano de 2008 foram diagnosticados 39.047 novos
casos de hanseníase no Brasil, e de acordo com a última atualização do Sistema de
Informação de Agravos de Notificação – SINAN referente ao ano 2012 houve uma redução
de 1,7% (664), visto que foram notificados 38.376 novos casos. Analisando estes dados
percebemos que há uma certa deficiência nas medidas de vigilância epidemiológica aplicadas
pelo Ministério da Saúde através dos programas de Prevenção e Controle da hanseníase visto
a baixa redução no número de novos casos no período (BRASIL, 2012).
No ano de 2012 o coeficiente nacional da incidência de hanseníase no Brasil foi de
1,51 caso/10 mil habitantes, que quando comparado aos dados de 2004 (1,71 caso/10 mil
habitantes), ano em que houve a readequação dos cálculos deste indicador, houve uma
redução de 12%. Ainda que sejam considerados baixos estes dados, ano a ano ocorre
diminuição na notificação de novos casos (BRASIL, 2013).
Conforme Brasil (2012), o estado de Mato Grosso foi responsável pela notificação de
2.908 casos de hanseníase, representando 7,5% de todos os casos notificados neste mesmo
ano em todo o território nacional. Quando comparado ao ano de 2008, conforme dados
citados acima, houve um aumento de mais de 400% no diagnostico de novos casos, saltando
de 7 para 2.908 casos confirmados. Isso representa um avanço nas medidas de busca ativa
destes pacientes, bem como de seus comunicantes, facilitando o diagnóstico da patologia.
Em Sinop-MT, município qual foi realizado este estudo, no ano de 2008 foi notificado
1 caso confirmado de hanseníase, já em 2011 foram notificados 14 casos. Em 2012 foram
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notificados 150 novos casos, havendo um aumento de mais de 150% quando comparado ao
ano de 2008. De acordo com dados do município, este aumento está relacionado a criação do
Centro de Referência de Hanseníase e Tuberculose, que atualmente é responsável por
desempenhar medidas específicas de controle da hanseníase, sendo elas educação permanente
em saúde, busca ativa de pacientes e capacitações aos profissionais da rede municipal de
saúde (BRASIL, 2008d; BRASIL, 2011; BRASIL, 2012).
2.2 História da Hanseníase
A hanseníase, também conhecida pela designação de lepra, é considerada uma das
mais antigas doenças que acomete o homem e acredita-se que a sua origem ocorreu no
continente asiático, embora a existem dados que apontem também a África como berço desta
doença. Atualmente há uma indefinição se a hanseníase é de origem asiática ou africana
(EIDT, 2004).
Ainda conforme a autora supracitada, este agravo à saúde já era conhecido há mais de
três ou quatro mil anos na Índia, China e Japão, e já existiam registros da ocorrência de casos
no Egito quatro mil e trezentos anos a.C, conforme informações que constam em um papiro
da época de Ramsés II. Existem também evidências concretas da patologia encontradas em
ossos correspondentes a esqueletos descobertos no Egito, datados de 200 anos a.C .
Existem referências de que a Hanseníase esteve presente em diferentes lugares da
Terra nos primórdios da evolução humana, porém ocorreram falhas durante as traduções do
termo hanseníase para as diferentes línguas faladas em todo o mundo, o que contribuiu para a
distorção do termo, e por esta razão caracterizaram-se outras moléstias com os mesmos
achados clínicos (EIDT, 2004 apud OPROMOLLA, 1981).
Na Idade Média, a hanseníase manteve-se em alta incidência na Europa e no Oriente
Médio. O Concilio de Lyon que aconteceu no ano de 585 estabeleceu que os pacientes
doentes deveriam serem isolados das demais pessoas. Em algumas regiões do continente esta
medida foi aplicada com muito rigor e incluíam a realização de um ofício religioso em nome
do doente, após o qual ele era expulso da comunidade, passando a residir em instalações
exclusivas para esse fim, denominada como “leprosários”. Obrigava-se também o doente a
utilizar vestimentas que o identificavam como tal, além de terem que fazer soar uma sineta
para que as pessoas pudessem saber de sua aproximação (QUEIROZ; PUNTEL, 1997).
19
A partir do século XII, surgem as primeiras ordens religiosas com o intuito de prestar
assistência aos pacientes com hanseníase, com a criação de asilos, que chegaram a cerca de
dezenove mil na Europa. O declínio da patologia no continente Europeu foi gradativo, tendo
iniciado a partir do século XVII. Por volta de 1870, a patologia já havia sido praticamente
erradicada em quase todos os países da Europa e a causa mais provável deste desaparecimento
foi a melhoria das condições socioeconômicas (EIDT, 2004; QUEIROZ; PUNTEL,1997).
Ao mesmo tempo em que a hanseníase caminhava rumo ao desaparecimento na
Europa, nas áreas endêmicas na Ásia e na África, houve a introdução da patologia no Novo
Mundo, a partir das conquistas espanholas e portuguesas e da importação de escravos
africanos. Durante o período da colonização, a América Latina tornou-se, aos poucos, uma
nova área de endemia mundial (EIDT, 2004).
No Brasil, consta que os primeiros casos diagnosticados como Hanseníase foram
diagnosticados em 1600, na cidade do Rio de Janeiro. As primeiras iniciativas de vigilância
realizadas pelo Governo Colonial só foram adotadas dois séculos depois, com a
regulamentação do combate à Hanseníase, por ordem de D. João V. Entretanto, tais medidas
de controle limitaram-se à construção de locais para que os pacientes fossem encaminhados,
os então chamados leprosários e uma assistência com poucos recursos aos doentes
(QUEIROZ; PUNTEL, 1997).
O primeiro leprosário criado para abrigar os pacientes acometidos pela hanseníase foi
o Hospital dos Lázaros do Rio de Janeiro, que atualmente é o Hospital Frei Antônio,
localizado em São Cristóvão. Essa instituição representa a primeira medida de isolar
socialmente os pacientes acometidos pela Hanseníase no Brasil (DAMASCO, 2005).
Ainda conforme Damasco (2005), durante todo o final do século XVIII, a irmandade
queixou-se da falta de recursos para manter o hospital e da interferência na administração
causada pelos vice-reis, mas é, também, objeto de reclamação da população pela inconstância
com que oferece cuidados médicos aos pacientes, ou atende suas necessidades. Por volta de
1890, o hospital sofre uma reformulação e passa a ser considerado referência no combate à
patologia. Em 1893, é criada a Sala do Banco, consultório isolado onde são examinados os
possíveis casos de confirmação de Hanseníase. Nas dependências do hospital é instalado um
laboratório experimental e uma biblioteca especializada, com 400 exemplares.
No decorrer do século XX, o Hospital dos Lázaros de São Cristóvão passa a ser
referencia de higiene, modernidade e conforto por todos os profissionais técnicos que o
visitam e o avaliaram, sendo este um modelo de instituição. Os pacientes detinham todos os
20
recursos disponíveis para o tratamento da patologia, além disso, a instituição hospitalar
procurava realizar atividades de lazer, visando tornar a vida do paciente mais prazerosa e
digna (DAMASCO, 2005).
Conforme Eidt (2004), em 1904, com a primeira grande reforma sanitária no Brasil
feita pelo cientista Oswaldo Cruz, a patologia passou a ter notificação compulsória. Com o
Decreto n.º 3.987, de 02/01/1920, que foi responsável por reorganizar os serviços de Saúde,
foi criado então o Departamento Nacional de Saúde Pública, que corresponde a primeira
tentativa com resultados satisfatórios no sentido de centralizar os problemas relacionadas à
saúde no Regime Republicano. Neste mesmo ano houve a introdução de uma política
específica para o controle e erradicação da hanseníase no Brasil, estabelecido como Inspetoria
de Profilaxia da Lepra e Doenças Venéreas.
A partir da década de 1930, o método de isolar todos os pacientes em leprosários já era
realizado por alguns governos estaduais. O isolamento é oficializado com a Lei nº 610 de
Janeiro de 1949 para todas as Unidades da Federação a partir da Campanha Contra Lepra,
organizada pelo Serviço Nacional de Lepra, criado em 1941 (DAMASCO, 2005).
A atitude de isolar os paciente acometidos pela patologia foi uma iniciativa que não se
mostrou satisfatória em controlar a endemia, muito pelo contrário, contribui para que o
estigma e o medo associados a patologia fossem cada vez mais disseminados entre a
população. Atualmente a falta de conhecimento da população acerca dos meios de
transmissão da patologia contextualizam o preconceito enfrentado pelos pacientes,
contribuindo direta e indiretamente para a recusa dos pacientes em procurarem os centros de
diagnósticos (QUEIROZ; PUNTEL, 1997).
Depois da segunda metade do século XX, com a criação da Campanha Nacional do
Controle da Hanseníase, houve uma mudança de grande relevância na abordagem deste
problema a partir do surgimento da sulfona, um antibiótico que apresenta poucos efeitos
adversos e ao mesmo tempo permite a cura da patologia, embora o tratamento seja quase
sempre prolongado. Com a nova tecnologia, a erradicação da endemia passou a ser vista como
um empreendimento, visto que esta combinava a perspectiva da saúde pública com a clínica
(DAMASCO, 2005).
No final da década de 1970, devido à perda da eficiência da sulfona, a OMS propôs a
associação padronizada de medicamentos, introduzindo a poliquimioterapia (PQT), com as
drogas sulfona, clofazimina e rifampicina, que se mostraria eficaz na cura da hanseníase, com
efeitos colaterais mínimos e até ali sem registro de casos de resistência (SAVASSI, 2010).
21
Ainda de acordo com o autor citado acima, a partir da reconstrução do Ministério da
Saúde, no ano de 1974, o poder técnico foi colocado no comando como parte de um projeto
autoritário. Foi neste período, que surgiu no interior do conceito da medicina preventiva e da
medicina comunitária, a figura do sanitarista moderno. Com ele surge uma nova lógica de
extensão de cobertura de hierarquização de serviços de saúde e de interesse voltado à
comunidade, iniciando a política de tratamento ambulatorial da hanseníase.
A partir da década de 80, a política de saúde tem como objetivo desativar os asilos e
promover a integração do paciente à sua família. Esta iniciativa encontrou uma dificuldade
inesperada: a resistência dos pacientes em deixar o asilo. Após um longo período de
isolamento, muitos deles demonstraram incapacidade de adaptar-se novamente ao convívio
familiar e social e deste modo foi necessária à permanência destes nos asilos, em processo de
desativação gradativa (DAMASCO, 2005).
A partir de 1985, com muito atraso, pôde o Ministério da Saúde tomar algumas
medidas no sentido de promover uma adequação do programa da hanseníase realizado pelo
governo brasileiro com a recomendação da Organização Mundial da Saúde. Os hospitaiscolônia passaram por melhorias na infraestrutura e um aumento de recursos financeiros, além
da poliquimioterapia (PQT), que consiste no acréscimo de dois outros antibióticos, iniciada
em função da resistência do agente etiológico à sulfona (SAVASSI, 2010).
Buscando diminuir o estigma em torno da patologia, em 1976, com a aprovação do
decreto n° 165, de 14 de maio de 1976, que muda o nome de “lepra” para hanseníase, o novo
termo foi adotado no Brasil, sendo vastamente utilizado em documentos técnicos-científicos.
Entretanto, com a Lei Federal 1.010, de 1995, que proibia terminantemente, a utilização do
termo “lepra” e seus derivados foi que o termo hanseníase tornou-se oficialmente empregado
no país, diminuindo o preconceito e estigma vivenciado pelo doente (EIDT, 2004).
2.3 A Doença Hanseníase
Hanseníase é uma patologia infecto-contagiosa, de evolução lenta, transmitida de
pessoa para pessoa, durante a convivência com infectados por forma multibacilar ainda sem
tratamento. Define-se principalmente através de sinais e sintomas dermatoneurológicos:
lesões na pele e nos nervos periféricos, apresentando-se com maior ênfase nos olhos, mãos e
pés (BRASIL, 2007; TALHARI, 2006).
22
O comprometimento de nervos periféricos é a característica principal da patologia, o
que lhe confere grande poder incapacitante. Estas incapacidades físicas e deformidades
provocadas pela hanseníase podem provocar alguns problemas, como a diminuição da
capacidade de trabalho, restrição da vida social e problemas psicológicos aos portadores, além
de causar grande estigma e preconceito que dificultam ainda mais a detecção da patologia
(LIMEIRA et al., 2013).
Segundo Margarido; Rivitti (2005, p. 959) “O Micobacterium leprae é a única bactéria
neutrópica”.
“[...] a moléstia se manifesta inicialmente, no sistema nervoso periférico
para depois acometer outros órgãos. E assim a primeira evidência clínica
da moléstia é a disestesia cutânea – sintoma característico e sempre
constante na moléstia de Hansen. Inicialmente ocorrem alterações na
sensibilidade térmica: hiperestesia (durante período fugaz), seguida de
hipoestesa e, pós vários meses, anestesia. A seguir, ocorre perda
progressiva da sensibilidade dolorosa e por último tátil”. (MARGARIDO;
RIVITTI , 2005, p. 959).
A hanseníase é uma doença de evolução insidiosa, o que torna ainda mais difícil a sua
detecção, pois um paciente infectado pode manter o status de transmissor da hanseníase
durante anos antes de apresentar qualquer sinal clínico, logo às estratégias que visam o
diagnóstico precoce da hanseníase são de grande importância para detecção, tratamento, cura
e erradicação da doença. O uso de exames clínicos isolados como uma ferramenta para
identificar precocemente pacientes multibacilares é frequentemente objeto de discussão.
Muitas novas abordagens têm sido empregadas com o objetivo de melhorar a sensibilidade do
diagnóstico e para otimizar a detecção de pacientes multibacilares, bem como contatos
domiciliares (LIMEIRA et al., 2013).
O diagnóstico rápido da hanseníase e seu tratamento apropriado impedem a evolução
da doença, evitando o estabelecimento de incapacidades físicas frequentes no prognóstico da
patologia. Em razão disto é importante revalidar que a hanseníase é doença passível de cura, e
quanto mais prematuramente diagnosticada e tratada, mais rapidamente consegue-se a cura do
paciente (BRASIL, 2008).
A hanseníase é endêmica no Brasil, com 33.303 novos casos notificados e uma taxa de
detecção de 17,2 casos/100.000 habitantes em 2012. Um dos grandes desafios do controle da
23
hanseníase mesmo que pouco abordado por programas de controle é a prevenção de
incapacidades de pessoas liberadas do tratamento de poliquimioterapia, pois os mesmos, após
o término do tratamento são identificados como curados e apagados dos registros, mesmo
quando os sintomas neurológicos graves acompanhado por deficiência motora estão presentes
na vida destes pacientes (ALENCAR et al., 2013).
2.4 Agente Etiológico
A hanseníase é causada pelo Mycobacterium leprae, ou bacilo de Hansen, tratando-se
de um parasita intracelular obrigatório, com empatia por células do tecido cutâneo e por
células pertencentes aos nervos periféricos, alojando-se no organismo do indivíduo infectado,
com forte potencial multiplicador (BRASIL, 2008).
O bacilo de Hansen, como supracitado, agente etiológico da hanseníase, têm um
tropismo ou afinidade pelos nervos periféricos, afetando desde as terminações da derme aos
troncos nervosos. A neuropatia da hanseníase é clinicamente denominada de neuropatia mista,
pois caracteriza-se pelo comprometimento de fibras nervosas sensitivas, motoras e
autonômicas (BRASIL, 2007).
O M. leprae, pertence ao gênero Mycobacterium, família Mycobacteriaceae, e tem
crescimento lento. Depois de ingressar no organismo, mantém-se localizado principalmente
na pele e nas células de Schwann, com reprodução por divisão binária é encontrado nos
tecidos do corpo como bastonetes retos ou pouco encurvados. É um parasita intracelular
obrigatório, sendo encontrado na maioria em macrófagos, aerófilos, gram-positivo e álcoolácido resistente, quando corado pelo método de Ziehl-Neelsen (BOECHAT; PINHEIRO,
2012).
Ainda conforme o autor acima citado, o M. leprae pode conservar-se viável por até 10
dias, sob temperatura de 40ºC, fora do organismo humano, em fragmentos de biópsia ou
suspensão. Nas secreções do trato respiratório superior, o bacilo pode resistir por até sete dias
com temperatura de 21ºC. Considerando a localização das lesões hansênicas no corpo dos
pacientes é possível sugerir que o mesmo tem predileção por temperaturas menores que 37ºC,
provocando necrose caseosa nas células de Schwann, sendo esta a mais importante causa das
deformidades que evidenciam a doença.
24
2.5 Transmissão
O homem é considerado a única fonte de infecção da patologia em questão, onde o
contágio acontece por meio de uma pessoa doente, portadora do agente etiológico, sem
tratamento, que o expele para fora do organismo, contagiando indivíduos com maior
suscetibilidade (BRASIL, 2007).
Admite-se ser o homem o reservatório natura do bacilo e a fonte de infecção, que
acontece por contato direto, íntimo e prolongado com o doente da hanseníase, multibacilar
não tratado Aceita-se que a transmissão seja por contágio direto, os bacilos são eliminados
pelas secreções nasais, da orofaringe e também por lesões ulceradas ou soluções de
continuidade da mucosa nasal ou da pele. Os bacilos podem ser eliminados também pelo leite
materno, esperma, saliva, suor e lagrima (MARGARIDO; RIVITTI, 2005).
Mesmo tendo alta infectividade, o bacilo de Hansen apresenta baixa patogenicidade e
virulência. O período de incubação é bastante dinâmico, média de três a cinco anos, conforme
a frequência e intensidade de exposição e da resistência imunológica individual, sendo que faz
uma divisão binária a cada 12 a 21 dias, com sua localização intracelular obrigatória no
sistema fagocítico-mononuclear, que proferem a característica definidora de doença crônica à
hanseníase (GOULART; PENNA; CUNHA, 2002).
Quando a pessoa infectada inicia o tratamento quimioterápico para a hanseníase, deixa
de ser transmissora da doença, visto que a partir das doses iniciais da medicação os bacilos
são inativados, tornando-os impossibilitados de infectar outras pessoas e passar adiante a
patologia (BRASIL, 2002).
2.6 Classificação Operacional dos Casos de Hanseníase
A classificação operacional da hanseníase em Paucibacilar (PB) ou em Multibacilar
(MB) é de extrema importância para que possa ser definido o esquema de tratamento
quimioterápico mais adequado ao caso (BRASIL, 2002; BRASIL, 2010a).
Nos últimos anos, a Organização Mundial de Saúde tem encorajado os países
endêmicos a realizarem a classificação dos pacientes acometidos pela hanseníase segundo o
número de lesões cutâneas, logo, pacientes com única lesão é considerado paucibacilar;
25
paciente com duas a cinco lesões considerado paucibacilar e pacientes com mais de cinco
lesões é considerado multibacilar (TALHARI, 2006).
Uma quantidade menor de pessoas não apresenta resistência ao bacilo, que por sua vez
se multiplica dentro do seu organismo rapidamente passando a ser eliminado para o meio
exterior, tendo o potencial para infectar outras pessoas aumentando assim o número de
portadores e possíveis transmissores da hanseníase. Estas pessoas ao qual o sistema imune
não responde de imediato ao bacilo, constituem os casos multibacilares, que são a fonte de
infecção e manutenção da cadeia epidemiológica da doença (BRASIL, 2002).
A identificação da extensão do comprometimento dos nervos e da incapacidade física
do paciente, são essenciais para promover a orientação da prática regular de auto cuidado pelo
mesmo, e para que assim seja possível serem tomadas medidas de prevenção e tratamento de
incapacidades e deformidades (BRASIL, 2007).
2.6.1 Hanseníase Indeterminada
Trata-se da fase inicial da patologia, considerada a matriz de todas as formas clinicas.
Caracteriza-se por uma ou poucas lesões cutâneas, máculas hipocrômicas ou áreas circulares
de pele aparentemente normal, planas, sem relevo na superfície da pele, as bordas podem ser
imprecisas ou não, localizando-se em qualquer área do tegumento, apresentando distúrbios de
sensibilidade. Entretanto, pode se apresentar também apenas por áreas com distúrbios da
sensibilidade, sem alteração na cor da pele, e na maioria com a alteração na sensibilidade
térmica (OPROMOLLA, 2002).
A baciloscopia é negativa, não havendo comprometimento de troncos nervosos e em
razão disto não ocorrem incapacidades e deformidades físicas. Bacilos não são vistos nos
esfregaços de rotina e, por esse motivo, esses casos não são contagiantes. No estensíômetro, o
monofilamento verde está alterado e conforme evolução das manchas, podem aparecer
redução da sudorese e rarefação de pelos, o que já pode indicar evolução para a forma
Tuberculóide (BRASIL, 2002).
A evolução natural, sem tratamento quimioterápico, poderá ser para a cura, ou então,
para as formas clínicas tuberculóide, Dimorfa ou virchowiana, dependendo da imunidade do
individuo, podendo essa fase durar de um a cinco anos, sendo a época ideal para tratamento
(TALHARI, 2006).
26
2.6.2 Hanseníase Tuberculóide
Em sua maioria a hanseníase tuberculóide, surge a partir da hanseníase indeterminada
não tratada. Mostram tendências de não se espalhar, ficando as lesões restritas às áreas das
manchas iniciais, podendo evoluir para cura espontânea (OPROMOLLA, 2002).
Nesta forma clínica, as lesões são bem delimitadas, máculas ou placas, em número
reduzido, de tom castanho, anestésicas, de distribuição assimétrica, podendo ser cheias ou
apresentando uma borda mais o menos elevadas e o centro plano e hipocrômico. Ocorrem
alterações significativas de sensibilidade nas lesões, podendo ocorrer acometimento de
troncos nervosos superficiais ou profundos, mas, na maioria, em pequeno número
(HINRICHSEN et al., 2004).
Conforme o autor citado acima, é perceptível alterações da sensibilidade térmica,
dolorosa e com o tempo, também da sensibilidade tátil, acontece também quedas de pelos e
hipohidrose ou androse. Nos membros inferiores e superiores a perda da sensibilidade e a
paralisia de grupos musculares predetermina as garras, calosidades, úlceras tróficas, mal
perfurante plantar e reabsorções ósseas, consequentes de processos traumáticos e infecciosos
nas partes moles e estruturas ósseas.
A baciloscopia na forma tuberculóide é negativa e a histopatologia revela granulomas
tuberculóide que podem tocar a epiderme, arruinam filetes nervosos e os bacilos não são
visíveis, a não ser em cortes seriados. Para o tratamento quimioterápico da hanseníase, os
casos tuberculóide e indeterminados são considerados como paucibacilares com tratamento
durando seis meses, considerados não transmissores da doença (ARAÚJO, 2003).
[...] Os nervos preferencialmente acometidos são o cubital, mediano, radial,
peroneiro comum, tibial posterior, auricular e supraorbitário. Neste grupo clínico,
podemos encontrar somente comprometimento neural, sem lesões cutâneas,
denominando-se hanseníase Tuberculóide neural pura [...] (SOUZA, 1997, p. 327).
2.6.3 Hanseníase Dimorfa
Caracterizada por sua instabilidade imunológica, o que lhe permite grande variação em
suas manifestações clínicas, tanto na pele, nos nervos, quanto no comprometimento sistêmico.
27
As lesões da pele encontram-se em grande número e a sua morfologia apresenta
heterogeneidade da hanseníase virchowiana (HV) e hanseníase tuberculóide (HT), podendo
ocorrer predomínio ora de um, ora de outro tipo (SOUZA, 1997).
Suas manifestações clínicas compreendem placas eritematosas, manchas hipocrômicas
com bordas ferruginosas, manchas eritematosas ou acastanhadas, com limite interno nítido e
limites externos imprecisos, placas eritema-ferruginosas ou violáceas, com bordas internas
nítidas e limites externos difusos, quando em grande número, são chamadas lesões em renda
ou queijo suíço. Pode ocorrer também nesta forma clínica, infiltração assimétrica da face, dos
pavilhões auriculares, e presença de lesões no pescoço e nuca. As lesões neurais são precoces,
assimétricas e, frequentemente, levam à incapacidades físicas (HINRICHSEN et al., 2004).
Conforme Talhari (2006), a hanseníase dimorfa é subdividida em três grupos:
dimorfa-tuberculóide, dimorfa-dimorfa e dimorfa-virchowiana. A hanseníase dimorfatuberculóide, caracteriza-se por inúmeras lesões, média de 5 a 25, tendendo à simetria e ao
acometimento de numerosos troncos nervosos, apresentando lesões em placa, bordas
irregulares, com lesões satélites.
A hanseníase dimorfa-dimorfa, tem como sinais clínicos, várias lesões, bordas
externas pouco definidas, podendo acontecer lesões em placa, papúlo-tuberosas e baciloscopia
positiva. No polo dimorfa-vischorwiana, há extenso número de lesões, como infiltrações,
placas, bordas mal definidas e nódulos. Há também espessamento de grande número de
troncos nervosos e a baciloscopia é positiva (ARAÚJO, 2003).
2.6.4 Hanseníase Virchowiana
Representa, em sua maioria, a evolução da hanseníase indeterminada em pacientes que
não possuem resistência imunológica ao bacilo. Apresenta-se na forma multibacilar,
conhecida por corresponder ao polo de baixa resistência imunológico da doença. Logo,
revela-se naqueles indivíduos que se encontram com a imunidade celular deprimida para o
Mycobacterium leprae. Sua evolução clínica pode ser classificada como crônica,
manifestando-se pela infiltração progressiva e disseminada na pele, mucosas das vias aéreas
superiores, olhos, testículos, nervos, podendo afetar, ainda, os linfonodos, o fígado e o baço
(HINRICHSEN et al., 2004).
Na pele, surgirão pápulas, tubérculos, infiltrações em placa e lesões circunscritas,
chamadas de hansenomas, tornando-se luzidia, xerótica, com aspecto apergaminhado e
28
tonalidade acobreado. Os pelos nos membros, cílios e supercílios apresentam rarefação,
chamada de madarose. A infiltração da face, incluindo os pavilhões auriculares, com
madarose e manutenção dos cabelos, forma o quadro conhecido como fácies leonina
(ARAÚJO, 2003).
Conforme Talhari (2006), frequentemente ocorre o envolvimento da mucosa nasal,
com sinais clínicos semelhante com os da gripe, como constipação nasal, voz fanha, coriza e
até epistaxe. Caso não se busque tratamento, pode ocorrer perfuração do septo nasal e
deformação do nariz. As extremidades dos membros superiores e inferiores ficam infiltradas,
podendo apresentar ressecamento. Nas mãos, o infiltrado causa aspecto túmido, ou seja,
edema, pele brilhosa e ressecada e as regiões plantares e palmares manifestam-se cianóticas
(TALHARI, 2006).
A hanseníase virchowiana apresenta ainda duas variedades individualizadas, sendo
estas:
[...] Variedade históide de Wade – caracterizada por lesões tumerosas ou nodulares
com limites definidos, com inúmeros tamanhos, redondas e ovulares, de contorno
regular, brilhantes, de coloração avermelhada ou rósea. Parece que essas lesões,
ocorrem mais nos doentes que interromperam tratamento e em casos sulfonoresistência. Os bacilos das lesões históides seriam mais abundantes, alongados e
talvez uma mutação do bacilo original.
Variedade difusa de Lúcio – caracteriza-se por infiltração difusa do tegumento, se
aparecimento de nódulos, devido a esse fator é chamada de hanseníase bonita, pois
confere aspecto saudável ao doente, diminuindo o estigma social e toda a
discriminação [...] (TALHARI, 2006, p.38-39).
Esta forma clínica apresenta baciloscopia fortemente positiva e representa nos casos
virgens de tratamento, importante foco infeccioso ou reservatório da doença. O quadro
histopatológico da doença é bem característico, onde a epiderme apresenta-se trófica, sendo
separada da derme por faixa pequena de colágeno, livre de infiltrado inflamatório
(BEIGUELMAN, 2002).
Acontece frequentemente exacerbação da doença, com surgimento de novas lesões,
duras, tipo caroço, em pontos profundos na pele, as quais apresentam afinidade por membros
superiores, inferiores e face. Os troncos nervosos ficam espessados e dolorosos, acontece
também dores nas articulações, adenopatias, irite, indisposição, falta de apetite, febre e até
astenia profunda (TALHARI, 2006).
29
2.7 Diagnóstico
Segundo Brasil (2010), o diagnóstico da hanseníase acontece por meio do exame
clínico, quando se procura os sinais dermatoneurológicos da patologia. Este diagnóstico
clínico é feito através do exame físico onde inicia-se por uma avaliação dermatoneurológica,
na qual almeja-se a identificação de sinais clínicos da patologia. Anteriormente ao início do
exame físico, é imprescindível proceder a anamnese coletando informações sobre a presença
de sinais e sintomas dermatoneurológicos que caracterizam a doença e sobre a sua fonte de
infecção.
Os testes para avaliar a sensibilidade são de fácil realização. A palpação e a avaliação
funcional dos nervos buscam identificar possíveis alterações neurológicas provocadas pela
doença. É necessário efetuar a palpação dos nervos periféricos acessíveis e a avaliação
funcional (sensitiva, motora e autonômica) daqueles que na maioria são comprometidos pela
hanseníase. Na palpação realizada deve-se estimar o calibre do nervo comparando com o
contra-lateral, a presença de dor, fibrose ou nodulações. Os nervos frequentemente avaliados
são: nos membros superiores, o nervo ulnar, o mediano, radial e radial cutâneo; nos membros
inferiores, o tibial posterior e o fibular comum; no segmento cefálico, o grande auricular e o
nervo facial que é motor e não é palpável (BRASIL, 2002).
A avaliação da função motora de grupos musculares específicos deve ser realizada
especialmente nos pacientes que já iniciaram tratamento, com o objetivo de detectar
precocemente possíveis incapacidades, sabendo que é possível encontrar as mesmas já no ato
de diagnóstico, como: paralisia facial do tipo periférico unilateral ou bilateral, ou paralisia do
ramo orbicular do nervo zigomático, provocando o lagoftalmo, epífora e exposição da córnea;
mão em garra, mão caída; pé caído, garra de artelhos que pode ser acompanhada do mal
perfurante plantar (ARAÚJO, 2003; CORRÊA; IVO; HONER, 2006).
Conforme os dados do Programa de Controle da Hanseníase no Brasil depois da
identificação de casos de hanseníase no período de 2001 a 2007, apenas 50,6% dos seus
comunicantes domiciliares passaram pelo exame clínico, ou seja, quase metade destes não
passam por avaliação de profissionais devido a falhas operacionais. Somando-se a isso,
muitos destes comunicantes, mesmo de pacientes multibacilares, não podem ser
diagnosticados depois da avaliação do especialista, devido à falta de sinais clínicos da
hanseníase. Considerando assim estes dados é preciso voltar os olhos para a busca objetiva a
fim de implementar as medidas de vigilância epidemiológica, além do exame clínico, o que
30
pode facilitar a identificação precoce e eficaz das fontes de transmissão, bem como prevenir
futuras incapacidades físicas (LIMEIRA et al., 2013).
2.7.1 Diagnóstico Laboratorial
[...] A baciloscopia é o exame microscópico onde se observa o Mycobacterium
leprae, diretamente nos esfregaços de raspados intradérmicos das lesões hansênicas
ou de outros locais de coleta selecionados: lóbulos auriculares e/ou cotovelos,
joelhos e da lesão quando houver [...] (BRASIL, 2002 p. 27).
Baciloscopia é o exame complementar com maior efetividade no diagnóstico da
hanseníase, é de fácil execução e baixo custo. Neste exame é possível analisar o M. leprae,
diretamente nos esfregaços de raspados intradérmicos das lesões ou de outros locais
selecionados como lóbulos auriculares e cotovelos, e lesão quando estas estiverem presentes
(TEIXEIRA et al., 2008).
O material a ser pesquisado, proveniente de tecido dérmico é colhido nos lóbulos das
orelhas direita e esquerda, cotovelos direito e esquerdo e em lesão suspeita. Sua coloração é
obtida pelo método de Ziehl-Neelsen e dispõe-se o resultado sob a forma de índice
baciloscópico, em uma escala que vai de 0 a 6+. A baciloscopia mostra-se negativa nas
formas tuberculóide e indeterminada e fortemente positiva na forma virchowiana, revelando
resultado variável sob a forma dimorfa (ARAÚJO, 2003).
2.7.2 Diagnóstico de Estados Reacionais
Os estados reacionais são reações do sistema imunológico do paciente acometido pela
patologia, onde exteriorizam-se através de manifestações inflamatórias agudas e sub-agudas.
Podem acontecer antes, durante ou após a polioquimioterapia. São raros e geralmente ocorrem
no período superior a cinco anos após a cura. A recidiva pode ocorrer por resistência
medicamentosa ou persistência do bacilo (BRASIL, 2002).
São conhecidos dois tipos de reações:
Reação tipo um ou Reação Reversa: trata-se de uma reação de hipersensibilidade
celular. As reações pré-existentes tonam-se mais edemaciadas, eritematosas podendo surgir
novas lesões e comprometimento de nervos periféricos com ou sem lesões cutâneas. A neurite
31
é a manifestação mais importante, ocorrendo isoladas ou em conjunto com lesões cutâneas
(TALHARI, 2006).
Reação tipo dois ou Eritema Nodoso Hansênico: considerada síndrome de
imunocomplexos. Quadro clínico manifestado como Eritema Nodoso Hansênico que se
caracteriza por apresentar nódulos dolorosos e de coloração avermelhada, febre, dores
articulares, dor e espessamento de nervos e mal estar geral (BRASIL, 2002; BRASI, 2010).
2.8 Tratamento
O tratamento específico da pessoa com hanseníase, indicado pelo Ministério da Saúde,
é a poliquimioterapia padronizada pela Organização Mundial de Saúde, conhecida como PQT,
devendo ser realizado nas unidades de saúde (BRASIL, 2007).
A PQT mata o bacilo tornando-o inviável, evita a evolução da doença, prevenindo as
incapacidades e deformidades causadas por ela, levando à cura. O bacilo morto é incapaz de
infectar outras pessoas, rompendo a cadeia epidemiológica da doença. Dessa forma, logo no
início do tratamento, a transmissão da doença é interrompida, e, sendo realizado de forma
completa e correta, garante a cura da patologia (BRASIL, 2008).
Na indicação do esquema terapêutico deve-se levar em conta toda a história clínica do
paciente, com atenção às alergias à medicamentos, interação de drogas, e doenças associadas.
A definição do esquema depende da classificação operacional do caso (ARAÚJO, 2003).
A tabela 1 exemplifica como é realizado o tratamento da hanseníase paucibacilar.
Tabela 1: Esquema Tratamento Hanseníase Paucibacilar.
___________________________________________________________________________
____________________________
Esquema Paucibacilar
Dose
Observações
___________________________________________________________________________
*Adulto
2 cápsulas 300mg administração
Rifampicina (RFM)
600 mg/mensal
supervisionada.
Dapsona (DDS)
100 mg/mensal
Administração supervisionada.
100 mg/diariamente
Auto administrada.
*Infantil
1 cápsula 150 mg e 1 cápsula 300
Rifampicina (RFM)
450 mg/mensal
mg administração supervisionada.
Dapsona (DDS)
50 mg/mensal
Administração supervisionada.
50 mg/diariamente
Auto administrada.
___________________________________________________________________________
Fonte: Brasil, 2010a.
32
A duração do tratamento é de seis 6 doses em até 9 meses como critério de alta. O
tratamento estará concluído com 6 doses supervisionadas, em até 9 meses. Na última dose
supervisionada os pacientes deverão passar pelo exame dermatoneurológicos, avaliação
neurológica simplificada e grau de incapacidade física e receber alta por cura.
A seguir o tratamento da hanseníase multibacilar é demonstrado pela tabela 2:
Tabela 2: Esquema Tratamento Hanseníase Multibacilar.
___________________________________________________________________________________________________________
Esquema Multiibacilar
Dose
Observações
_________________________________________________________________________________________________________________
*Adulto
Rifampicina (RFM)
600 mg/mensal
2 cápsulas 300mg administração
supervisionada.
Dapsona (DDS)
100 mg/mensal
100 mg/diariamente
Administração supervisionada.
Auto administrada.
Clofazimina(CFZ)
300 mg/mensal
3 cápsulas 100mg administração
supervisionada.
50 mg/diariamente
Auto administrada.
*Infantil
Rifampicina (RFM)
Dapsona (DDS)
Clofazimina(CFZ)
450 mg/mensal
50 mg/mensal
50 mg/diariamente
150 mg/mensal
50 mg/ diariamente
1 cápsula 150 mg e 1 cápsula
300 mg administração supervisionada.
Administração supervisionada.
Auto administrada.
1 cápsula 150 mg e 1 cápsula 300
mg administração supervisionada.
Auto administrada em dias
_______________________________________________________________________________________________________________
alternados.
Fonte: Brasil, 2010a.
Conforme Brasil (2010), o critério de alta caracteriza-se quando o tratamento estará
concluído com 12 doses supervisionadas, em até 18 meses. Na 12ª dose, os pacientes deverão
ser submetidos ao exame dermatológico, avaliação neurológica simplificada e do grau de
incapacidade física, e receber alta por cura. Os pacientes MB que excepcionalmente não
apresentarem melhora clínica, com presença de lesões ativas da doença, no final do
tratamento preconizado de 12 doses deverão ser encaminhados para avaliação em serviço de
referência (municipal, regional, estadual ou nacional) para verificar a conduta mais adequada
para o caso.
33
2.8.1 Não adesão terapêutica
De acordo com o Brasil (2005) a adesão é um tema complexo e compreende uma
série de atitudes, comportamentos e decisões, que vão muito além da questão dos
comprimidos, abrange diretamente a relação do paciente com sua doença e seu adoecimento, a
relação médico-paciente, a relação medico-equipe, equipe-paciente e paciente-serviço.
[...] Quando o paciente não comparece às consultas agendadas mensalmente, para a
dose supervisionada, é considerado pelo serviço de saúde um paciente faltoso. Esta
falta significa a continuidade da transmissão da doença, a resistência do bacilo à
medicação e o atraso na cura da hanseníase [...] (BRASIL, 2008, p.28).
Como foi citado o abandono do tratamento da hanseníase pelo paciente, pode levar á
uma resistência do bacilo a PQT, com isso o individuo volta a ser um disseminador de bacilos
viáveis. Sendo assim verifica-se que a necessidade do aconselhamento feito pela equipe de
saúde sobre a doença, após o diagnostico e durante todo tratamento é essencial.
Os fatores que influenciam na não adesão ao tratamento são múltiplos e podem estar
relacionados a vários aspectos, porém, os pacientes não abordam de maneira espontânea as
dificuldades, para isso algumas estratégias resultam na melhor adesão ao tratamento como:
fornecimento de informação sobre a doença e o tratamento, aconselhamento e mensagens
escritas, confiança do paciente no tratamento, suporte social adequado, experiência do médico
e regularidade nas consultas (BRASIL, 2008b).
2.9 Assistência de Enfermagem
Segundo Costa (2010), a Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE) é
considerada um método de prestação de cuidados para se obter resultados positivos na
implementação da assistência, almejando diminuir as complicações durante o tratamento, de
forma a melhorar a adaptação e recuperação do paciente.
Conforme Malucelli et al (2010), para o uso da SAE de maneira correta faz-se
necessário o pensamento crítico deste profissional de enfermagem, que deve estar voltado aos
objetivos e aos resultados, de forma a atender as necessidades do paciente e de sua família, e
para o processo ocorrer de maneira satisfatória, requer-se do mesmo constante atualização,
habilidades e experiência, orientando-se sempre pela ética e padrões de conduta.
34
Conforme a Resolução COFEN 358/2009, que dispõe sobre a Sistematização da
Assistência de Enfermagem, organiza-o em cinco etapas inter-relacionadas: coleta de dados,
diagnóstico, planejamento, implementação e avaliação de enfermagem.
Sendo a hanseníase uma patologia infecto-contagiosa, que caracteriza-se por sinais e
sintomas dermatoneurológicos é imprescindível a atuação do profissional enfermeiro junto
aos pacientes acometidos por esta. Sua atuação frente a hanseníase deve ser voltada à medidas
de controle e prevenção de incapacidades físicas que incluem o diagnóstico precoce, o
tratamento adequado de todos os casos, bem como avaliação dos comunicantes desses
pacientes (BRASIL, 2008; MARTINS; BOUÇAS, 2010).
A enfermagem vem apresentando um papel essencial quanto ao controle da
hanseníase, através da consulta de enfermagem e atividades de educação em saúde
proporciona a conscientização de comunicantes intradomiciliares para que realizem a
avaliação e esclareçam dúvidas sobre a importância da vacinação do BCG (Bacillus Calmette
– Guérin) intradérmico para prevenção e proteção das formas mais contagiosas da patologia
(VIEIRA et al., 2008).
Buscando o diagnóstico precoce e erradicação da hanseníase, Brasil (2002) evidencia a
importância de se repassar informações sobre a patologia à população por meio de atividades
de educação em saúde.
[...] As informações geradas são úteis para o diagnóstico e análise da situação de
saúde da população, para o processo de planejamento (identificação de prioridades,
programação de atividades, alocação de recursos, avaliação das ações). Portanto, e
necessário que todos os profissionais de saúde, bem como a comunidade tenham
acesso a essas informações [...] (BRASIL, 2002, p. 62).
A informação certa e atualizada proporciona um planejamento coerente, unindo em um
trabalho profissional-paciente, ajudando na tomada de decisão, considerando a realidade e
tornando mais fácil a adaptação das transformações pertinentes (BRASIL, 2008).
[...] A falta de informações sobre a hanseníase e suas formas de transmissão coloca o
próprio indivíduo como um ser passivo diante do controle da doença, pois muitos
contatos domiciliares, a despeito da solicitação de comparecimento ao serviço de
saúde para exame dermatoneurológico, acabam não comparecendo. Por outro lado,
as equipes de saúde parecem não conseguir cumprir um programa de busca ativa
desses contatos [...] (DESSUNTI et al., 2008, p. 690).
35
O Programa de Controle da Hanseníase (PCH) objetiva diminuir a morbidade e os
danos provocados pela doença, através do diagnóstico precoce, do tratamento com a
poliquimioterapia, da prevenção das incapacidades e do esclarecimento sobre a patologia
incluindo as questões psicossociais (BRASIL, 2008).
Segundo Brasil (2008), é de competência do enfermeiro: 1. a identificação dos sinais e
sintomas da Hanseníase e avaliação dos casos suspeitos encaminhados para a unidade de
saúde; 2. realização da consulta de enfermagem, solicitação de exames complementares e
prescrição de medicações, conforme protocolos; 3. preenchimento completo, de forma legível,
a ficha individual de notificação para os casos confirmados de hanseníase; 4. Avaliação e
registro do grau de incapacidade física em prontuários e formulários, no diagnóstico e
acompanhamento; 5. orientação para a realização de autocuidado e de técnicas simples para
prevenção de incapacidades físicas; 6. realização de exame dermatoneurológico em todos os
contatos intradomiciliares e importância do auto-exame; 7. registrar e realizar a vacinação
com o BCG, nos contatos sem sinais da doença; 8. contribuir e participar das atividades de
educação permanente dos membros da equipe quanto à prevenção, manejo do tratamento,
ações de vigilância epidemiológica, combate ao estigma, efeitos adversos de medicamentos /
farmacovigilância e prevenção de incapacidades; 9. enviar mensalmente ao setor competente
as informações epidemiológicas referentes à hanseníase da área de abrangência da unidade de
saúde, nos devidos formulários; 10. realizar a programação e pedidos de medicamentos e
controlar o estoque em formulário específico e encaminhá-lo ao nível pertinente; 11.
Desenvolver ações educativas e de mobilização envolvendo a comunidade e equipamentos
sociais (escolas, conselhos de saúde, associações de moradores, etc.), importância do autoexame e relativas ao controle da hanseníase e combate ao estigma.
Considerando que a hanseníase trata-se de uma doença com cura a partir do tratamento
adequado, é de suma importância o comprometimento da equipe de saúde da Estratégia de
Saúde da Família que sob liderança do enfermeiro e em conjunto com a população desenvolve
ações que diagnosticam rapidamente a patologia, além de orientar quanto a práticas de auto
cuidado que previnem incapacidades físicas e informam a população através das ações
educativas (BRASIL, 2002).
36
2.10 Educação em Saúde
A educação em saúde é compreendida como atividade informativa e comunicativa
direcionada ao público para que este possa compreender o processo de adoecimento da
doença em si, sua aceitação e o que esta implica na vida de cada paciente (ALVES, 2005).
Para Simões; Delello (2005), a educação em saúde é uma ferramenta primária de
trabalho, possibilitando melhorar técnicas simples e alcançando resultados de maior
relevância. Se tratando da hanseníase, percebe-se a necessidade de se programar campanhas
educativas que forneçam informações sobre o que realmente a hanseníase representa em
nosso país, seu tratamento, as incapacidades provocadas pela patologia, a fim de diminuir e
erradicar o preconceito.
Para Brasil (2002), o processo educativo deve contar com a participação do paciente,
dos familiares e da comunidade nas decisões que lhes digam respeito, bem como na busca
ativa de casos, no diagnóstico precoce, na prevenção e tratamento de incapacidades físicas, no
combate ao estigma e na manutenção do paciente ativo na sociedade.
Durante o processo de educação em saúde o enfermeiro se torna educador e
comunicador. No papel de educador o profissional esclarece conceitos e fatos sobre a saúde,
demonstra atividades para o autocuidado e avalia o entendimento e o progresso no
aprendizado. No papel de comunicador a comunicação é o foco central envolvendo paciente,
família e comunidade (POTTER, 2005).
Para Rocha; Almeida (2000), o enfermeiro no desempenho de suas funções necessita
da comunicação constantemente, seja ela escrita ou falada, para efetivar o relacionamento
com as pessoas na área de atuação e melhorar assim o atendimento à população.
A partir do diagnóstico, o paciente deve ser informado, orientado e esclarecido sobre a
patologia que apresenta, assim inicia-se o processo de educação em saúde, e é quando o
paciente reconhece que a adesão ao tratamento, o uso de medicamentos e autocuidado para a
prevenção dependem diretamente do seu compromisso pessoal (SILVA; PAZ, 2010).
Conforme o autor acima citado, as atividades de educação em saúde necessitam de um
planejamento e de objetivos, para que as metas sejam alcançadas. As informações devem
abordar sobre sinais e sintomas da doença, o tratamento e sua eficácia, o combate ao estigma,
as reações que possam acontecer, os efeitos adversos da medicação, o autocuidado e
principalmente a prevenção de incapacidades.
37
2.11 Prevenção de Incapacidades Físicas
[...] O comprometimento dos nervos periféricos é a caraterística principal da doença,
dando lhe um grande potencial para provocar incapacidades físicas que podem,
inclusive evoluir para deformidades. Estas incapacidades e deformidades podem
acarretar alguns problemas, tais como diminuição da capacidade de trabalho,
limitação da vida social e problemas psicológicos. São responsáveis, também, pelo
estigma e preconceito contra a doença [...] (BRASIL, 2002, p. 12).
Conforme o Brasil (2010), a avaliação dos nervos periféricos, a classificação do grau
de incapacidades, a utilização de técnicas básicas de prevenção, controle e tratamento são
atividades de extrema importância e que devem ser realizadas pela Estratégia de Saúde da
Família, formando assim a arma de maior eficácia no combate à principal causa do estigma
social da hanseníase, a deformidade e incapacidades física.
Os nervos envolvidos com maior frequência são: nervo facial (VII par craniano),
nervo trigêmeo (V par craniano), nervo ulnar, nervo mediano, nervo radial, nervo fibular
comum e nervo tibial posterior (BRASIL, 2008b).
Os mecanismos que provocam as incapacidades podem ser neurogênicos e
inflamatórios. Quando se verifica a presença de incapacidades físicas, provocadas pela
patologia em um paciente curado, significa que o diagnóstico foi tardio ou que o tratamento
aconteceu de forma incorreta tornando-se insatisfatório (VIRMOND, VIETH, 1997).
Todas as ações de prevenção em saúde devem ser realizadas no momento do
acompanhamento mensal, enfatizando as informações das atividades de prevenção as
incapacidades físicas que podem acontecer no domicílio e de maneira que este cliente
compreenda como e porque cada atividade é importante ao seu tratamento (BRASIL, 2010b).
Ainda de acordo com o autor citado acima, o autocuidado é uma atividade que o
próprio paciente realiza e que é essencial para o bom prognóstico da doença, porém há
necessidade que o mesmo tenha o conhecimento, as habilidades e o apoio adequado e isto
dependerá diretamente das orientações realizadas pelo profissional de saúde responsável.
A identificação das lesões neurológicas é realizada por meio da inspeção dos olhos,
nariz, mãos e pés, avaliação de sensibilidade, palpação dos troncos nervosos periféricos e
avaliação da força muscular (BRASIL, 2002).
38
2.11.1 Avaliação da Face
A face é formada por “peças” essenciais para a aceitação social e a realização
profissional do indivíduo sendo, fortemente acometida pelas formas multibacilares da
hanseníase. É de responsabilidade do profissional verificar a presença de deformidades ou
alterações que podem traduzir uma paralisia facial (BRASIL, 2002).
O bacilo de Hansen tem preferência também pela mucosa nasal provocando obstrução,
sendo possível ocorrer um aumento da secreção nasal, mais viscosa, com mau odor e aderente
à mucosa em forma de crostas (BRASIL, 2002).
Segundo Brasil (2008b) a prevenção de alterações nos olhos tem por objetivo
preservar a integridade física e funcional do aparelho visual, e da capacidade da pessoa cuidar
se auto cuidar. Quanto ao autocuidado, às orientações incluem a higiene ocular, exercícios,
óculo protetor e protetor ocular noturno. Os principais testes a serem realizados para
prevenção de trauma ocular são:
Para avaliação da sensibilidade corneana: usa-se um pedaço de fio dental maior que
cinco centímetros. Posiciona-se em frente ao paciente, informar ao mesmo o que será
realizado e pedir que o mesmo fixe os olhos em um ponto. Tocar a córnea em seu quadrante
inferior externo, observar a presença de piscamento.
Para avaliar a acuidade visual: posicionar o paciente assentado confortavelmente e a
uma distância de 6 m fixarmos a tabela de Snellen para visualização ou pedir que o mesmo
realize a contagem dos dedos, sempre tampando um dos olhos.
O teste de força muscular: observar o paciente com os olhos fechados e avaliar se há
abertura da fenda palpebral. Depois deve-se elevar as pálpebras superiores com o dedo
mínimo e verificar a resistência.
Segundo o Brasil (2002), a avaliação ocular deve acontecer no momento em que se
realiza o diagnóstico, na alta e sempre em que o paciente apresentar um sintoma ocular,
devendo ser encaminhado para tratamento especializado se detectar alterações.
2.11.2 Avaliação das Mãos
As mãos são os principais instrumentos para sobrevivência do homem, executam
ações e são fundamentais para interação com o ambiente e o social. As alterações interferem
na estabilidade emocional, social e produtiva. Desta forma, as ações de prevenção são
39
fundamentais, pois visam manter a independência, proteção e integridade física e social do
paciente (BRASIL, 2007).
Surgem lesões nos três principais nervos: o ulnar, o mediano e o radial, e como são
nervos mistos, surgem alterações sensitivas, motoras e autonômicas. Para isso é importante
fundamental o diálogo e o questionamento sobre presença de dor, formigamento, choques em
mão, braço ou cotovelo, presença de edema, facilidade em deixar os objetos caírem, ausência
de sudorese nas mãos, fraqueza, dificuldade em movimentar os dedos ou manusear objetos.
Há necessidade de se realizar a palpação dos nervos periféricos, para avaliação de
comprometimento e da realização de força muscular que será avaliado através de exercícios
como de extensão de punho, abdução do 1º e 5º dedo, flexão e hiperextensão das articulações
(BRASIL, 2002).
2.11.3 Avaliação dos pés
Na avaliação dos pés é importante valorizar as atividades diárias (físicas, profissionais
e sociais) do paciente, assim como ouvir e valorizar suas queixas. Para isso torna-se
fundamental o diálogo e o questionamento sobre a presença de formigamento, queimação,
sensação de “peso nos pés” ou “se perde o chinelo” sem perceber, se o mesmo sente câimbras,
dor nas pernas ou fraqueza nos pés (BRASIL, 2002).
O profissional deve analisar cuidadosamente e registar as condições dermatológicas
como ressecamento, fissuras, calos, áreas avermelhadas, bolhas, feridas e deformidades.
Obrigatoriamente a observação da marcha e do calçado também devem ser realizadas
podendo não apresentar alterações em relaxamento (BRASIL, 2002).
Conforme Brasil (2010), o profissional enfermeiro deve orientar o paciente a avaliar
constantemente os pés, observar a presença de lesões, fissuras e ressecamentos, bem como
proceder a hidratação da região plantar três vezes por dia.
2.11.4 Teste de sensibilidade em mãos e pés
Segundo Brasil (2002), o teste de sensibilidade padronizado pelo Ministério da Saúde
utiliza a técnica do estesiômetro, composto por monofilamentos que correspondem a um nível
funcional o qual é representado por uma cor.
40
O teste se inicia com o toque do monofilamento mais fino até se obter a curvatura do
filamento e na ausência de resposta confirmar com as demais cores, sendo que da cor verde ao
azul padroniza-se três toques, e nos demais um toque. O teste deve ser aplicado nos pontos
específicos correspondentes de cada nervo (BRASIL, 2002).
A presença de resposta positiva em filamentos até a cor violeta (2,0g) é considerada
como grau zero para incapacidades e a ausência de resposta em filamentos iguais ou mais
pesados que 2,0g caracterizam-se como grau um de incapacidade (BRASIL, 2008b).
2.11 Medida de Controle da Hanseníase
2.11.1 A vacina BCG
Entre as medidas de controle da hanseníase, está a vacinação BCG intra-dérmica,
única vacina disponível nos serviços de saúde que previnem a tuberculose e a hanseníase. O
BCG intradérmica é uma cepa atenuada do Mycobacterium bovis, utilizada pela primeira vez
em 1921 na França enquanto vacina contra tuberculose, por Albert Camette and Camille
Guérin, origem do nome BCG. Para hanseníase, a recomendação é administração de BCG
intradérmica em contatos domiciliares de pacientes de hanseníase, independente da idade,
exceto para indivíduos portadores do Vírus da Imunodeficiência Humana - HIV. Nas três
últimas décadas, múltiplos ensaios preventivos e estudos de caso-controle mostraram eficácia
e efetividade variáveis da vacina BCG na hanseníase, de forma análoga aos resultados obtidos
na prevenção da tuberculose (MARTELLI et al., 2002).
[...] Nos estudos realizados no Brasil e em outros países para verificar o efeito
protetor da BCG na hanseníase, o nível de proteção variou de 20 a 80%, e sugeriu
uma maior proteção para as formas multibacilares da doença [...] (BRASIL, 2002,
p.50).
Conforme Brasil (2002), recomenda-se a aplicação de duas doses da vacina BCG
intradérmica. A aplicação da segunda dose da vacina deve ser feita a partir de 6 meses da
aplicação da primeira dose. Se já existir a cicatriz por BCG intradérmica, esta deve ser
considerada como a primeira dose, independentemente da época em que foi aplicada. Na
dúvida, porém, deve-se aplicar as duas doses recomendadas.
41
Atualmente, a avaliação de contatos intradomiciliares de pacientes de hanseníase
multibacilar é rotineiramente realizada por meio de exame clínico. Entretanto, esta abordagem
depende de recursos humanos qualificados e está sujeito a variação, dependendo da
experiência e qualificação do profissional examinador. Estudos recentes utilizando técnicas
laboratoriais sensíveis têm demonstrado que aproximadamente 18% dos contatos domiciliares
de pacientes com hanseníase também podem ser infectados pelo M. leprae e pode desenvolver
a doença. A abordagem mais atualizada usada para prevenir a transmissão é a administração
precoce de poliquimioterapia em casos multibacilares, a imunização passiva com BCG é
indicada para os contatos assintomáticos e oferece níveis variáveis de proteção (LIMEIRA,
2013).
42
3. METODOLOGIA
É uma pesquisa descritiva, pois visa descrever características de determinada
população e ou estabelecimento entre variáveis. A sua forma de abordagem é classificada
como uma pesquisa qualitativa.
A abordagem qualitativa foi eleita para o estudo, pois
permite desvelar processos sociais ainda pouco conhecidos e referentes a grupos particulares,
propiciando a construção de novas abordagens, revisão e criação de novos conceitos e
categorias durante a investigação (MINAYO, 2010; GIL, 2010).
O presente estudo foi desenvolvido no município de Sinop, o qual se localiza na região
norte do estado de Mato Grosso, onde no ano de 2012 apresentava 150 casos notificados de
hanseníase. A unidade escolhida para realizar o estudo foi a Unidade Básica de Saúde Nações,
localizada no bairro das Nações, tendo atualmente 07 (sete) pacientes portadores de
hanseníase em tratamento. Foram considerados como método de inclusão os pacientes com
diagnóstico de hanseníase em tratamento anual e que aceitaram participar da pesquisa. O
método de exclusão foi os pacientes que já concluíram o tratamento.
Foram realizadas entrevistas com os pacientes de maneira individualizada, durante
uma consulta de enfermagem em domicilio pré-agendada conforme disponibilidade do
paciente, onde a mesma foi gravada com equipamento apropriado. Estas entrevistas ocorrem
no mês de março de 2014. A fim de garantir o anonimato dos pacientes entrevistados foram
utilizados codinomes de jóias preciosas para identificação dos mesmos, sendo estas: Ouro,
Jade, Ametista, Pérola, Rubi, Esmeralda e Prata.
As entrevistas ocorreram de maneira satisfatória, visto que a participação dos
entrevistados foi bem ativa, onde relataram fielmente as suas angústias em relação à patologia
e demonstraram-se seguros para responder as perguntas. O roteiro para entrevista foi
estruturado em perguntas que avaliaram a percepção dos pacientes com relação ao diagnóstico
de hanseníase, sendo este estruturado em três eixos: implicações na autoestima do paciente
após o diagnóstico de hanseníase, percepção do paciente frente ao diagnóstico e as mudanças
nas condições socioeconômicas provenientes da hanseníase (APÊNDICE A).
Visando promover ações de prevenção e promoção da saúde dos indivíduos residentes
no município aqui destacado, foi elaborado um folder (APÊNDICE B) com medidas
educativas relacionadas às incapacidades ocasionadas pela hanseníase a fim de evitar-se as
mesmas.
43
Respeitando os preceitos Éticos de Pesquisa envolvendo seres humanos, antecedendo
a coleta de dados, o presente estudo foi apresentado para aprovação do Comitê de Ética em
Pesquisa
da
Plataforma
Brasil,
sendo
este
aprovado
conforme
o
número
25316913.0.0000.5541 (ANEXO A). Também foi solicitado, após esclarecimento sobre a
pesquisa, o preenchimento, por parte dos indivíduos em estudo um Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido (APÊNDICE C). Deste modo, buscou-se tomar os cuidados mencionados
nas Diretrizes e Normas Regulamentadoras de Pesquisa em Seres Humanos, aprovados pela
Resolução CNS196/96, Sigilo, Ética e Transparência de Pesquisa.
44
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Para fundamentar esta pesquisa foi necessário a participação de pessoas portadoras de
hanseníase que residem no município de Sinop-MT, visto que houve a participação de 7 (sete)
pessoas em toda a pesquisa, que com base no que estes responderam quando questionadas
com perguntas pré-estabelecidas foi, também, caracterizado o perfil socioeconômico da
amostra. A tabela 3 representa este perfil.
Tabela 3: Distribuição de frequência das características da amostra em relação ao perfil
socioeconômico.
___________________________________________________________________________
Variável Socioeconômica
Casos (7)
%
___________________________________________________________________________
Sexo
Feminino
4
57,1 %
Masculino
3
42,9 %
Renda Familiar
R$ 500,00 à R$ 1.000,00
R$ 1.001,00 à R$ 1500,00
R$ 1.501,00 à R$ 2.000,00
R$ 2.001,00 à R$ 2.500,00
1
1
3
2
14,3 %
14,3 %
42,9 %
28,5 %
Escolaridade
Ensino Fundamental Completo
3
42,9 %
Ensino Médio Completo
4
57,1 %
___________________________________________________________________________
Fonte: Própria.
Conforme a Tabela 3 houve predominância de pacientes do sexo feminino, sendo
57,1% (4) contra 42,9% (3) pacientes do sexo masculino. Este levantamento de dados vem na
contramão dos dados coletados em todo o território nacional e publicados em 2012, onde
42,4% (16.271) são do sexo feminino e 57,6% (22.101) do sexo masculino (BRASIL, 2012).
Conforme Brasil (2010d) divulgado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística), no estado de Mato Grosso 21,1% (193.245) de domicílios possuem renda familiar
entre 1 a 2 salários mínimos. Com base na tabela acima 14,3% (1) dos entrevistados possuem
renda familiar entre R$ 500,00 e R$ 1.000,00. Ainda de acordo com os dados levantados,
85,7% (6) entrevistados possuem renda mensal entre R$ 1.001,00 e R$ 2.500,00. Quando
comparado ao cenário estadual percebemos que há uma predominância dessa renda familiar
45
em nosso estado, visto que 37,3% (341.794) possuem renda familiar dentro destes valores e
os 41,6% restantes que representam a faixa de renda familiar estadual enquadram-se entre 5 a
10, 10 a 20 e mais de 20 salários mínimos de renda mensal.
Os entrevistados desta pesquisa possuem nível de escolaridade um tanto quanto
insatisfatório, visto que apenas 57,1% (4) concluíram o ensino médio e 42,9% (3) possuem
apenas o ensino fundamental completo. Este cenário iguala-se ao nacional, onde 49,2% (54,5
milhões) não tem o ensino fundamental completo e apenas 35,8% (39,6 milhões) concluíram
o ensino médio, logo constata-se que a educação, promoção e prevenção da saúde deve ser
amplamente desenvolvida com esse público (BRASIL, 2010e).
Conclui-se que a condição socioeconômica dos entrevistados desta pesquisa está de
acordo com a atual realidade da população brasileira, que possui baixo nível de escolaridade e
sobrevive com uma renda familiar mensal de mínima à razoável.
4.1 Implicações na Autoestima do Paciente Após o Diagnóstico de Hanseníase
A hanseníase foi acompanhada por um forte estigma, desde os mais remotos tempos,
deixando marcas sociais e culturais até os dias atuais (BAIALARDI, 2007).
Conforme Eidt (2004), há inúmeros sentimentos envolvidos no mundo vivenciado
pelo paciente portador da hanseníase, dentre eles destacam-se: da falta de apoio familiar,
sequelas físicas, de não ser provedor do sustento familiar, do abandono, da doença, da
rejeição social e da solidão.
Às vezes, o doente opta em não contar às pessoas do seu meio social sobre a patologia,
com medo de ser discriminado, uma postura que só reforça o preconceito e a falta de
informação (FIGUEIREDO, 2012). Sendo confirmado por Ouro na fala:
“[...] a gente se sente mal pelo fato das pessoas, “cê” vai nos lugares e a pessoa:
nossa! Você tá morena, “cê” tá tomando sol, né, então a gente as vezes a gente tem receio de
falar pras pessoas, não era pra qualquer pessoa que eu falava”.
Segundo Eidt (2004), a ocultação do corpo manifesta-se como uma tentativa de
esconder a doença. Os portadores de hanseníase buscam disfarçar suas lesões de pele,
deformidades físicas e coloração para evitar explicações que pudessem revelar a doença,
46
deixando claro o conflito vivenciado em contar ou esconder a hanseníase para seus familiares
e amigos. Rubi corrobora com a afirmação na fala:
“Às vezes a pessoa perguntava: “ta” tomando sol? “Tô”, “tô” tomando sol, mas lá no
fundo batia uma dorzinha, porque “cê” sabia que não era né, mas a gente assim, não me
abria com todo mundo”.
A separação e o isolamento aos quais os doentes de hanseníase se impuseram,
surgiram em decorrência da atitude preconceituosa de pessoas de seu convívio que os
discriminam (CID et al., 2012). Ratificando a afirmação Jade diz:
“[...] até no trabalho mesmo as “pessoa” quando a gente falava que tinha hanseníase,
a gente via que eles “mudava” o jeito deles, então é complicado essa doença”.
O fato de esconderem a patologia acontece principalmente, devido o medo dos
portadores de passarem por situações de exclusão, o que pode motivar ainda mais o
isolamento social como defesa e proteção contra o sofrimento (CID et al., 2012). Vindo ao
encontro da afirmação, Ouro diz:
“[...] No primeiro momento eu tive muito medo de expor o meu caso, por causo do
devido preconceito, porque a pouco tempo eu tinha já assistido dentro do meu próprio salão,
um caso de uma cliente querer que eu expulsasse outra devido a hanseníase porque ela tinha
medo de ter sido contaminada”.
De acordo com Cid et al (2012), o preconceito ainda persiste e mostra-se mais
resistente do que a própria doença. O indivíduo possui um estigma quando apresenta algo na
aparência que pode chamar a atenção no meio social, como a coloração da pele mais
acobreada, os lábios mais escuros, manchas na pele, e acabar por atrair olhares curiosos, que
maioria, afastam as pessoas, por preconceito ou medo. Sendo ratificado por Ouro, que diz:
“[...] é, a interrogação é muita, quando eu termino de ”tenta” explica pra uma pessoa
que ah não sei que que foi que mudei de cor, já tem a outra me perguntando: ai o que que
47
você “ta” fazendo que você tá tão bronzeada? porque que você tá tão preta? o que que foi
com você? então, eu sofro muito, a curiosidade e o preconceito me machuca muito”.
A hanseníase deixa imensas e profundas cicatrizes no ser humano, o estigma continua
em seu corpo, em sua mente e em sua alma (SILVA, 2010). Vindo de encontro com essa
afirmação Ouro diz:
“minha rotina mudou tudo, eu deixei até de sair, eu deixei até de ir na igreja que era
uma coisa que eu gostava muito. “Mudo”, “mudo” tudo, minha vida “mudo” tudo”.
Ainda de acordo com o autor citado acima, a vida dos portadores de hanseníase sofre
grandes transformações provenientes das perdas que vão acontecendo ao longo dos anos. As
mudanças que acontecem no corpo, a rejeição e o abandono da família, dos amigos, a perda
do emprego, do padrão de vida e da sua saúde em geral, pelos intermináveis tratamentos a que
são submetidos, são situações que são trazidas pela doença e passam a fazer parte do seu
cotidiano.
Conforme Baialardi (2007), é bem perceptível, a exclusão, o medo, o preconceito e a
discriminação que se encontram arraigados na construção social da hanseníase e são fatores
que na atualidade dificultam o enfrentamento do portador no convívio social. Sendo
confirmado na fala de Rubi quando questionada sobre sua autoestima:
“a autoestima da gente fica complicada, porque eu já não “vistia” mais qualquer
roupa, já não colocava mais shorts, vestidos, saia, e a gente fica, complicado porque a pele
vai ficando diferente”.
Conforme a fala de Rubi, evidenciamos que é de extrema importância resgatar a
autoestima do paciente, recuperar seus vínculos e reintegrá-los a sociedade, com educação em
saúde, oficinas de automaquiagem com as mulheres afetadas para que aprendam a se olhar
diferente, sem autopreconceito.
Logo, é função da equipe de enfermagem, incentivar o paciente hansênico a ser
persistente durante a terapêutica medicamentosa, auxiliando-os na superação dos seus medos
e preconceitos, além de apoiar à família, orientar e principalmente, empenhar-se pela
48
prevenção da patologia e de incapacidades provocadas pela mesma (MARTINS; BOUÇAS,
2010).
Dessa forma é importante considerar o papel da equipe de enfermagem, na busca para
melhorar a condição implicada pela hanseníase. O cuidado humanizado, a educação em saúde
e o trabalho voltado à prevenção de incapacidades propicia a melhor compreensão dos
pacientes, que compreendendo as mudanças decorrentes da hanseníase podem se preparar
psicologicamente e atuar juntamente à equipe para prevenir incapacidades e sequelas
permanentes, diminuindo o estigma sofrido pelo portador da patologia (BAIALARDI, 2007;
DUARTE; AYRES; SIMONETTI, 2009).
As falas que referem preconceito e exclusão social são passíveis de compreensão,
considerando o estigma milenar que acompanha a hanseníase, o isolamento e a exclusão
sofrida anteriormente pelos portadores da patologia. Logo, tornar-se portador da hanseníase
pode trazer à memória antigas ideias preconceituosas, crenças que povoam o imaginário do
senso comum e que, relacionam-se a questões sociais, culturais, biológicas e emocionais
(PONTE; NETO, 2005).
Conforme Duarte; Ayres e Simonetti (2009), os comportamentos significantes que
indicam exclusão motivam ainda mais sentimentos negativos como a tristeza, depressão e a
não aceitação da doença, reforçando o sofrimento dos pacientes portadores da hanseníase. O
preconceito sofrido pelos pacientes são manifestados em situações diárias, conforme relatos
de situações vividas, questionamentos em torno da aparência, olhares diferentes. Ratificados
por Esmeralda:
“[...] “Cê” vai nos lugares e a pessoa: nossa! Você “tá” morena, “cê” “tá” tomando
sol, né, então a gente as vezes a gente tem receio de falar pras pessoas [...]”.
É necessário considerar as alterações da imagem corporal com que se confrontam
esses pacientes, na medida em que são alterações visíveis e marcantes em seus corpos a auto
estima vai sendo deteriorada, pois a alteração da coloração da pele à torna pública, soltando o
medo da rejeição, considerando o estigma e preconceito associados à doença (FIGUEIREDO,
2012).
Mesmo quando se afirma ser a hanseníase um agravo à saúde com cura, é forte a
crença de que permanecem sequelas ou deformidades, logo, o portador ou ex-portador de
hanseníase com alteração corporal evidente traz consigo uma marca que prejudica sua
49
inserção em um determinado grupo social. Dessa maneira, enfrentar a questão do preconceito,
da autoestima abalada não é fácil, nem para o doente e nem para os familiares (PALMEIRA,
2011). Ratificando a afirmação, encontra-se a fala de Ametista:
“[...] “cê” fica, principalmente quando as pessoas te encontra e pergunta a questão
da cor, a gente se sentia feia, manchada, mas foi bem, bem complicado, ainda está sendo
complicado, bastante”.
O preconceito apresenta-se na aparência física do portador da hanseníase,
caracterizado pelas manchas e incapacidades causadas pela doença, visto que a ausência de
informação e o medo pela contaminação são as principais razões para a exacerbação do
preconceito (DIAS; CYRINO; LASTÓRIA, 2007).
A mudança de comportamento está intimamente ligada ao estigma, termo esse
utilizado segundo o conceito desenvolvido por Goffman, que encontra nele três características
fundamentais: as abominações do corpo, os defeitos de caráter e a proveniência social
(nacionalidade, religião, casta etc.). É evidente que no contexto da hanseníase, o estigma
refere-se ao descrédito, à desqualificação e à marginalização social em conseqüência das
deformidades físicas do paciente (SIMÕES; DELELLO, 2005).
4.2 Percepção do Paciente Frente ao Diagnóstico
Comumente, o diagnóstico de hanseníase amedronta o paciente que, mesmo ciente que
se trata de uma doença curável e não transmissível após o início do tratamento, acaba por
incorporar a necessidade de camuflar a verdade para as pessoas, passando a sentir o peso do
estigma, do medo e do receio, pois preocupam-se em ser transmissores da doença para
familiares e pessoas do convívio social (FELICIANO; KOVACS, 1997). Sendo reafirmado na
fala de Rubi:
“[...] eu senti assim medo, não por eu estar com a doença, mas eu senti medo já de ter
transmitido pra alguém, de eu ter passado principalmente pras pessoas de casa, né, mas
assim, pra mim eu fiquei triste por isso”.
50
Conforme Simões; Delello (2005), o diagnóstico de hanseníase ocasiona um impacto
emocional forte e negativo, que pode variar conforme as condições socioeconômicas dos
indivíduos, provocando atitudes de auto-estigmatização, perturbando a integridade
psicológica dos pacientes. Sendo evidenciado esta afirmação através da fala de Pérola, que
diz:
“[...] ai eu fiquei meio preocupado que essa doença podia “contece” alguma coisa,
num “podê” “ mais”,” tê” que encosta, encosta no INSS num é “bão”, o salário é muito
“poco”, ai fiquei meio assim sem “sabe” o que ia “contecê” comigo”.
Segundo Baialardi (2007), na maioria, quando a pessoa recebe o diagnóstico de
hanseníase, geralmente está imbuído de preconceitos, possuindo pouca ou nenhuma
informação e carrega histórias e crenças de sua comunidade, quase sempre infundadas sobre o
que é hanseníase e seu tratamento. Sendo afirmada na fala de Pérola, que diz:
“[...] primeiro impacto que eu tive que eu achava que num tinha [...], [...] pensando
que isso eu num podia “tê”, que eu pensava que só os “otros” podia “tê”, eu num tinha [...]”.
Pessoas portadoras da hanseníase vivenciam de maneira individual a doença, sendo
este um dos fatores que prejudicam a aceitação da patologia. As deformidades e
incapacidades físicas causadas pela hanseníase fazem com que o portador da doença fique
isolado socialmente, devido a sua autoimagem e autoestima estar profundamente prejudicada
(LIRA; SILVA, 2010).
Conforme Martins; Torres; Oliveira (2008), a hanseníase provoca mudanças e
transtornos, não só na vida pública do indivíduo, mas também na vida privada, provocando
consequências negativas na vida afetiva e sexual. Vindo ao encontro à afirmação, Ametista
refere-se à mudança no estilo de vida, dizendo:
“ “mudo” heim, mudo bastante coisa. Na relação sexual mesmo, mudo bastante, eu
não sinto vontade de nada [...], [...] “ disseram que sexo num ia “tê” vontade de “fazê” nada,
e foi, aconteceu mesmo tudo isso”.
51
De acordo com Eidt (2004), com o diagnóstico instala-se uma instabilidade no estado
emocional dos sujeitos que desencadeia um estado de crise, causando tensões resultando na
desestabilização do relacionamento familiar e social, conforme evidenciado na fala de Prata:
“[...] eu fiquei, entrei em depressão, fiquei nervoso, “né”, ai fiquei, nossa eu achava
que eu não valia mais nada, achava que seria uma pessoa assim, inútil [...], [...] Ai chegava
assim, tinha dia deu até chorar de nervoso, porque “cê” “tê” vontade de “trabaiá”, “tê”
vontade de “fazê” as coisas e não “tê” força e senti muita dor”.
O diagnóstico de hanseníase em sua maioria conduz o paciente à uma experiência
intensa, onde a pessoa necessita de um período maior para se acostumar com a ideia de que
porta a hanseníase. A aceitação do diagnóstico pode ser caracterizada em dois extremos: a
negação de estar doente e a aceitação passiva. A negação do diagnóstico é a resposta do
sujeito frente ao medo da discriminação e do preconceito, já a aceitação passiva normalmente
está ligada à pobreza de conhecimentos e a questões religiosas. Conhecendo sua nova
realidade, os sujeitos mostram-se preocupados com a aparência física, com a autoestima
alterada, evidenciando ações preconceituosas, tornando-se descontentes, com medo de
perderem seu espaço no meio familiar e no trabalho (COELHO, 2008).
4.3 Mudanças nas Condições Socioeconômicas Provenientes da Hanseníase
Segundo Aquino; Santos; Costa (2003), a hanseníase enquanto problema de saúde
pública não se limita somente à imensa quantidade de casos, devendo ser levado em
consideração o seu grande potencial de provocar incapacidades físicas, podendo interferir no
trabalho e na vida social do portador de hanseníase, além de perdas financeiras e traumas
psicológicos.
Conforme Oliveira; Romanelli (1998), quando encontra-se debilitado a pessoa sente o
detrimento de sua dignidade e sua cidadania devido à diminuição e até da possibilidade de
perda da produtividade e competitividade no mercado de trabalho. Sendo afirmado por Pérola,
que diz:
52
“[...] eu quando comecei no trabalho, eu num “guentava”. Eu começava “trabaiá”
tinha vez que “pará”, ai eu troquei de setor, num “guentei” no outro setor de serviço, ai tive
que “pará”, tive que pedi pra “encostá” [...].
De acordo com o autor citado acima, é comum relatarem problemas no trabalho com o
surgimento da hanseníase. Além dos sinais clínicos, também a indisposição e a preocupação
acabam diminuindo a capacidade produtiva do paciente que, juntamente à ausência mensal ao
trabalho para a realização do tratamento medicamentoso, colocam em risco a permanência no
emprego. Vindo ao encontro da afirmação, Prata diz:
“[...] eu conversei com meu patrão e até meu patrão falou pra mim que você não tem
mais condição de trabalhar mais, porque num tinha mais força “né” ai eu trabalho de
motorista, trabalho mexendo com tijolo ai a firma me ajudou fui pro INSS e “tô” encostado
[...]”.
Desta maneira, é importante salientar que a hanseníase compromete toda a vida do
paciente, incluindo o seu bem-estar físico, suas relações sociais, afetivas e profissionais,
fazendo-se necessário uma assistência de enfermagem com um olhar mais humano, sensível e
integral (MARTINS; BOUÇAS, 2010).
De acordo com Silva (2008), a reintegração do incapacitado na sociedade se concretiza
quando este obtém emprego e permanece no mercado de trabalho, constituindo a reabilitação
profissional um elemento imprescindível ao longo de todo o processo de tratamento, pois o
principal inimigo da reabilitação social do paciente é a repulsa e preconceito da sociedade.
Contextualizando com esta afirmação Jade diz:
“[...] o corpo já não ajuda mais, mais ainda continuo no mesmo ramo de construção e
graças a Deus, mais só na parte de orientação como mestre de obra, então onde facilitou um
pouco mais, porque se eu tivesse que “pegá” no pesado mesmo eu num daria conta, os
“nervo” não ajuda.”.
Segundo Dolenz et al (2014), a hanseníase afeta diretamente a qualidade de vida dos
indivíduos acometidos, pois causa grande prejuízo para a vida diária e as relações
interpessoais, prpvocando sofrimento que ultrapassa a dor e o mal-estar estritamente,
53
vinculados ao prejuízo físico, com grande impacto social e psicológico. As incapacidades
físicas provenientes da patologia podem levar à diminuição da capacidade de trabalho, além
de impor limitações à vida social do seu portador.
A hanseníase além da sua magnitude deve ser pensada também pela sua
transcendência, em função do sofrimento humano, discriminação social e prejuízos. As
mudanças que acontecem no corpo, à rejeição e o abandono da família, dos amigos, a perda
do emprego, do padrão de vida e da sua saúde em geral, os longos tratamentos são situações
que são trazidas pela doença e passam a fazer parte do seu cotidiano afetando inteiramente o
indivíduo (LIRA; SILVA, 2010).
Os problemas econômicos provenientes da incapacidade para o trabalho surgem na
vida diária, refletindo no meio familiar, na formação, educação da família e nas relações
sociais, estando ligados diretamente ao desarranjo psicológico dos pacientes com hanseníase
(DOLENZ et al, 2014).
54
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Atualmente, o Brasil possui uma vigilância epidemiológica relacionada à hanseníase
satisfatória, considerando a diminuição de notificações da patologia, bem como o controle dos
quadros clínicos em pacientes já diagnosticados. Sendo o Programa de Controle da
Hanseníase responsável pelos resultados obtidos na implementação de suas ações na
Estratégia de Saúde
da Família, faz-se
necessário salientar
a importância do
comprometimento tanto dos profissionais que atuam frente a esta patologia, quanto dos
pacientes em relação à adesão ao tratamento, ao autocuidado, à prevenção de incapacidades
físicas e consequentemente a diminuição do preconceito e estigma em torno da hanseníase
que foram objetos de estudo nesse trabalho.
Esta pesquisa possibilitou conhecer a percepção do paciente em relação ao diagnóstico
de hanseníase, evidenciando seus sentimentos perante a situação vivenciada, como o medo de
ser transmissor da patologia, o sentimento de exclusão frente a sociedade, além da esperança
em torno da diminuição do preconceito.
Foi possível perceber também as implicações na autoestima dos pacientes após o
diagnóstico, onde a mesma foi fortemente abalada, principalmente entre as mulheres, devido a
feminilidade afetada. As mudanças relatadas evidenciam sofrimento relacionado às manchas
na pele, à alterações na coloração, bem como a obrigatoriedade psicológica em alterar o estilo
de vestimentas, devido o preconceito e a curiosidade das pessoas no convívio social.
Quanto às mudanças nas condições socioeconômicas provenientes da patologia
evidenciou-se grandes alterações emocionais principalmente entre homens, sendo estas
provocadas pela angústia em não prover inteiramente o sustento familiar, assim como o medo
em depender exclusivamente do auxílio do governo. Foi possível verificar ainda, que alguns
destes pacientes buscando manter-se ativos profissionalmente foram forçados à adaptar-se à
novas atribuições, devido as alterações físicas acarretadas pela hanseníase.
Constatamos subjetivamente através das falas dos pacientes entrevistados, que estes
possuem conhecimento rudimentar sobre a doença, onde o pouco de informação adquirida é
proveniente de propagandas do Ministério da Saúde e da própria experiência vivenciada,
podendo ser justificado pelo baixo nível de escolaridade dos entrevistados.
Considerando o baixo nível de conhecimento por parte dos pacientes acerca da
patologia, percebeu-se a necessidade da implementação de ações de prevenção e promoção à
55
saúde não apenas destinadas aos pacientes acometidos pela hanseníase, mas à toda população
assistida pela Estratégia de Saúde da Família no município de Sinop-MT. Nesse contexto foi
elaborado um folder intitulado Autocuidado em Hanseníase: Prevenção de Incapacidades
Face, Mãos e Pés, com o intuito de orientar de forma simplificada e objetiva o autocuidado
em hanseníase, almejando a prevenção de incapacidades físicas, utilizando linguagem
coloquial e ilustrativa, tornando-o de fácil compreensão.
Ressaltamos a necessidade da utilização pelos profissionais de saúde de uma
linguagem de fácil compreensão, nas ações educativas conforme o perfil da população
atendida, para que estas efetivamente façam parte do cotidiano destas pessoas. Atividades de
educação e promoção em saúde são fundamentais na assistência de enfermagem,
reconhecendo o conhecimento empírico pré-existente, transformando-os e almejando a troca
de experiência entre profissionais e comunidade na busca pela construção de uma relação
entre ambos regida pela ética e humanização.
Confirmou-se também através dos resultados obtidos que o estigma e o preconceito
caracterizam-se como uma condição impactante, deixando marcas físicas e emocionais que se
mantém ativas na vivencia diária dos pacientes, estando relacionado também à falta de
conhecimento dos mesmos à respeito da patologia e a toda história social da hanseníase.
Observou-se também que ocorreram mudanças significativas no cotidiano dos
pacientes acometidos pela patologia, relacionado ao diagnóstico e tratamento que por sua vez
comprometem o desemprenho satisfatório das atividades desenvolvidas diariamente de acordo
com o estilo de vida de cada entrevistado, sendo perceptíveis nas vestimentas, vida sexual,
profissional e meio social.
Por fim, após os apontamentos teóricos e científicos acerca da temática pesquisada,
este estudo mostra-se relevante aos profissionais e pesquisadores da área da saúde, em
especial os da área de Enfermagem, pois reforça a necessidade de atividades relacionadas às
medidas de atenção primária, com objetivo primordial de prevenir as incapacidades causadas
pela hanseníase nos pacientes acometidos por este agravo.
56
APÊNDICE
57
APÊNDICE A
ROTEIRO DE ENTREVISTA
Nome (INCIAIS DO NOME):
Sexo: ( ) F ( )M
Cor: ( ) Branco; ( ) Negro; ( ) Pardo; ( ) Amarelo; ( ) Mulato
Estado civil: ( ) Casado; ( ) Viúvo; ( ) Solteiro; ( )Amasiado
Renda familiar: ( )de 500 e 1000 ( ) de 1000 a 1500 ( ) de 1500 a 2000 ( ) de 2000 a 2500
( )de 2500 acima
1- Ao receber o diagnóstico de hanseníase Virchowiana, qual foi o primeiro impacto?
2- Você já tinha conhecimento da hanseníase e suas formas?
3- No seu meio social, você acredita que houve mudanças após o diagnóstico? Quais
foram essas mudanças?
4- Mesmo depois do diagnóstico você consegue manter-se ativo profissionalmente?
5- Após o diagnostico como ficou a sua autoestima?
58
APÊNDICE B
59
60
APÊNDICE C
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Você está sendo convidado para participar, como voluntário, da pesquisa intitulada: “Avaliar
a percepção do paciente em relação ao diagnóstico de hanseníase.”. Após ser esclarecida
sobre as informações a seguir, no caso de aceitar fazer parte do estudo, assine ao final, este
documento, em duas vias, uma delas é sua e a outra é do pesquisador responsável. Em caso de
recusa, você não terá prejuízo em sua relação com o pesquisador ou com a instituição à qual a
pesquisa está vinculada. O estudo tem finalidades acadêmicas, assim como a divulgação
científica de seus resultados. A pesquisa objetiva verificar a percepção do paciente em relação
ao diagnóstico da na busca de contribuir para prevenção das incapacidades físicas.
Sua participação nesta pesquisa consistirá na autorização para o uso das informações obtidas
através da técnica da entrevista semi-estruturada. Não haverá riscos de qualquer natureza
relacionada a sua participação. O benefício relacionado à sua participação será de aumentar o
conhecimento sobre a Hanseníase. Os dados referentes à sua pessoa serão confidenciais, e
garantimos o sigilo de sua participação, inclusive na divulgação dos resultados. Também
informamos que há expressa liberdade de retirar o consentimento, a qualquer momento, sem
prejuízo da continuidade do acompanhamento na unidade de saúde. Você receberá uma cópia
deste termo de consentimento, na qual se encontram registrados o nome, telefone e o endereço
do pesquisador responsável. Assim, você poderá localizá-lo a qualquer momento. A
pesquisadora responsável chama-se Rosângela Guerino Masochini e pode ser localizada na
Universidade Federal de Mato Grosso, campus Sinop-MT, fixada neste endereço: Av.
Alexandre Ferronato, 1200, Setor Industrial, 78550-000 - Sinop, MT . Telefone para contato:
(066) 99169051.
Considerando os dados acima expressos, CONFIRMO estar ciente sendo informada por
escrito e verbalmente sobre a pesquisa e AUTORIZO a divulgação dos seus resultados.
Eu___________________________________________________________________,
portadora do documento RG nº________________, declaro que entendi e concordo a minha
participação na pesquisa.
Assinatura do participante (ou do responsável, se menor):
Assinatura do pesquisador responsável:
Sinop, ____ de ____ de 2014.
Pesquisador responsável: Rosângela Guerino Masochini. Docente de Enfermagem. Universidade Federal de Mato Grosso – campus Sinop.
Endereço: Av. Alexandre Ferronato, 1200, Setor Industrial, 78550-000 - Sinop, MT. E-mail: [email protected]. Telefone para contato:
(066)99169051
Demais membros da equipe: Evelei Munik de Souza Figueiredo. Acadêmica do 8º período do Curso de Graduação em Enfermagem da
UFMT/Sinop. E-mail: [email protected]. Fone contato: (66)96166594.
61
ANEXOS
62
ANEXO A
63
64
65
66
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