FHM4/PSA 04-04-2005 Ministério da Saúde Direcção-Geral da Saúde Febre Hemorrágica de Marburgo Procedimentos a adoptar pelos Serviços de Saúde perante a identificação de um caso suspeito Introdução Em Outubro de 2004 começaram a ser diagnosticados casos de Febre Hemorrágica na província Angolana do Uíge. Esta situação evoluiu para uma epidemia, tendo o vírus de Marburgo sido identificado como o agente responsável em 21 de Março de 2005. Uma análise preliminar dos casos revelou que cerca de 75% dos doentes eram crianças com menos de 5 anos de idade e a maioria dos óbitos ocorreram entre os 3 e os 7 dias após o início dos sintomas. Segundo o Ministério da Saúde de Angola, até 31 de Março de 2005 foram identificados um total de 132 casos e 126 óbitos por Febre Hemorrágica de Marburgo. Os Serviços da Direcção-Geral da Saúde acompanham atentamente a evolução da situação epidemiológica em Angola através de canais de comunicação com o Ministério da Saúde Angolano, a Embaixada de Portugal em Angola, a Organização Mundial de Saúde (OMS) e do Sistema de Alerta e Resposta da Rede de Vigilância das Doenças Transmissíveis da União Europeia. As medidas adoptadas em Portugal vão sendo actualizadas e adequadas em função da avaliação do risco que é feita relativamente à situação em Angola e têm em atenção as características do agente infeccioso e as suas formas de transmissão. Até à data foram tomadas pela Direcção-Geral da Saúde, entre outras, as seguintes medidas: • Definição da via prioritária para o primeiro contacto do doente com os serviços de saúde: Linha Saúde Pública (808 211 311), a qual está activa 24 horas por dia para informação do público e identificação de situações suspeitas; • Activação dos 4 hospitais de referência que podem receber doentes potencialmente infectados com vírus Marburgo, para onde são encaminhados todos os casos suspeitos identificados – nomeadamente o Hospital de São João no Porto, o Hospital Curry Cabral em Lisboa, o Hospital da Universidade de Coimbra e o Hospital D. Estefânia (Hospital Pediátrico em Lisboa). • Activação, em colaboração com o INEM, do sistema de transporte dos casos suspeitos para os hospitais de referência; • Definição, com a colaboração do INSA, de um sistema de envio de amostras de produtos biológicos quer para o INSA quer para o instituto alemão, em Hamburgo, que é laboratório de referência da OMS para febres hemorrágicas, para diagnóstico laboratorial do vírus; 1 FHM4/PSA 04-04-2005 • Divulgação de materiais informativos e orientações técnicas na página de Internet da Direcção-Geral da Saúde (www.dgsaude.pt). Definições Caso Suspeito: Um indivíduo que apresente: − febre elevada de início súbito e um ou mais dos seguintes sinais/sintomas: Mal-estar, arrepios, mialgias, cefaleias, odinofagia, exantema maculopapular (predominante no tronco), diarreia, dores abdominais, náuseas, vómitos, dores torácicas, manifestações hemorrágicas, icterícia, delírio, pancreatite, perda de peso, choque, falência hepática ou multiorgânica e uma das seguintes condições, ou ambas: − história recente (2 a 21 dias antes do início dos sintomas) de viagem, escala ou residência na Província do Uíge (Angola)1 − que tenha tido contactos próximos com casos de Febre Hemorrágica, nos 2 a 21 dias antes do início dos sintomas Caso Confirmado: Caso suspeito com confirmação laboratorial. Contacto Próximo: Prestar cuidados sem protecção adequada a doentes com Febre Hemorrágica ou coabitar com os mesmos; ter contacto directo com: órgãos ou produtos biológicos (sangue, urina, fezes, sémen, etc.) provenientes de pessoa ou animal infectados, qualquer material ou objectos utilizados no tratamento dos doentes e cadáveres (durante a sua preparação e cerimónias fúnebres), cadáveres suspeitos de Febre Hemorrágica. Actuação face à presença de um caso suspeito 1. Situação em que o doente contacta a Linha Saúde Pública A Direcção-Geral da Saúde definiu como circuito principal, para triagem e identificação de casos suspeitos o contacto entre o utente e a Linha Saúde Pública (808 211 311). 1 A informação sobre a evolução da epidemia em Angola será actualizada e divulgada através da Linha Saúde Pública – 808 211 311 ou dos endereços: www.who.int/csr/don/en/ ou www.dgsaude.pt 2 FHM4/PSA 04-04-2005 Se durante a triagem os agentes da Linha Saúde Pública (enfermeiros com formação específica para atendimento e orientação destas situações) identificarem uma situação, reencaminharão a chamada para um médico da Direcção-Geral da Saúde. Este médico validará ou não a suspeição. A partir desta triagem três situações podem ocorrer: • caso encerrado • utente sob vigilância • caso suspeito O utente sob vigilância seguirá as instruções dadas pelo agente de linha ou pelo médico e será posteriormente contactado para reavaliação. Se for considerado como caso suspeito, o médico da Direcção-Geral da Saúde contactará o INEM para providenciar o transporte do doente para um hospital de referência. O transporte do doente será feito de acordo com as medidas entretanto já definidas pelo INEM. O médico da Direcção-Geral da Saúde ou do INEM contactará o hospital de referência para que se prepare a recepção do doente. A assistência do doente em meio hospitalar seguirá as orientações estabelecidas. O médico da Direcção-Geral da Saúde contactará um dos cinco Delegados Regionais de Saúde do Continente ou um Delegado de Saúde das Regiões Autónomas dos Açores ou da Madeira, para activação da vigilância dos contactos próximos do doente. 2. Situação em que o doente contacta directamente os serviços de saúde Quando um caso suspeito recorre aos serviços de saúde por sua livre iniciativa, o médico que o observa, se suspeitar de Febre Hemorrágica de Marburgo, deve telefonar imediatamente para a Linha Saúde Pública (808 211 311) de forma a obter orientações mais precisas de modo a validar ou infirmar a suspeita. A partir deste momento o caso suspeito entrará no circuito definido no ponto 1. Para minimizar o potencial de transmissão, o doente com sintomas compatíveis com Febre Hemorrágica de Marburgo deverá ficar em isolado, limitar a sua movimentação e ter acesso a uma casa de banho que ficará reservada para seu uso exclusivo, durante todo o tempo de permanência nos serviços de saúde. Deverá ser colocada ao doente uma máscara de protecção (modelo N95/P2 ou máscara cirúrgica) se a sua condição respiratória o permitir. Se o doente necessitar de cuidados imediatos, apenas um profissional de saúde, que não poderá atender os restantes utentes, deve cuidar da pessoa com sintomas, usando os meios de protecção individual recomendados no Anexo II. Antes e depois de cada contacto com o doente o profissional de saúde deverá lavar as mãos. Vigilância dos contactos Após identificação de um caso suspeito o médico da Direcção-Geral da Saúde que validou a situação informará de imediato o Delegado Regional de Saúde (ou seus congéneres de outros países) em cuja área de intervenção o doente possa ter permanecido nos 21 dias anteriores ao início dos sintomas. 3 FHM4/PSA 04-04-2005 Aos Delegados de Saúde competirá identificar os contactos próximos do doente e mantê-los sob vigilância até que o caso índice seja infirmado. Se for confirmado o diagnóstico de Febre Hemorrágica de Marburgo, os contactos anteriormente identificados devem ficar sob vigilância activa, com medição da temperatura duas vezes por dia, pelo próprio ou familiar, até 21 dias após o último contacto com o doente. Os valores da temperatura, data e hora da sua medição, devem ficar registados Não se recomendam restrições à deslocação dos contactos. No entanto, estes devem ser informados que, se surgirem sintomas durante o período de incubação da doença, deverão contactar de imediato o respectivo Delegado de Saúde. Se uma das pessoas em vigilância desenvolver febre (≥38ºC) de início súbito, o Delegado de Saúde responsável pela sua vigilância deverá contactar um médico da Direcção-Geral da Saúde cujo número de telefone será fornecido aos Delegados Regionais de Saúde. Se posteriormente o caso for confirmado, os acima considerados contactos próximos do doente de Febre Hemorrágica de Marburgo devem ficar sob vigilância, medindo a temperatura 2 vezes por dia. Não há indicação para quimioprofilaxia. Direcção-Geral da Saúde, 4 de Abril de 2005 O Director-Geral e Alto-Comissário da Saúde Prof. Doutor José Pereira Miguel 4 FHM4/PSA 04-04-2005 ANEXO I Febre Hemorrágica de Marburgo Descrição da doença Classicamente as febres hemorrágicas virais são um grupo de doenças causadas por vírus pertencentes a quatro famílias distintas, que partilham entre si o facto de terem um genoma de ARN e um invólucro lipídico: • Família dos Arenaviridæ (vírus da Febre de Lassa; vírus Junin - Febre Hemorrágica da Argentina; vírus Machupo - Febre Hemorrágica da Bolívia; vírus Sabia - Febre Hemorrágica do Brasil e vírus Guanarito - Febre Hemorrágica da Venezuela). • Família dos Bunyaviridæ (vírus da Febre Hemorrágica da Crimea-Congo; Hanta vírus e vírus da Febre do Vale do Rift). • Família dos Filoviridæ (vírus Ébola e vírus Marburg). • Família dos Flaviviridæ (vírus da Febre Amarela e vírus da Febre do Dengue). A maioria destes vírus não se transmite facilmente pessoa a pessoa e não sobrevivem durante muito tempo fora do organismo, sendo difícil criar condições apropriadas à sua transmissão. A infecção por estes agentes pode ser grave devido a: • Poderem causar uma infecção grave e rapidamente fatal; • Surgirem casos secundários após contacto com casos primários; • Induzirem ansiedade generalizada na população com um impacto negativo nas actividades da vida diária; • Testes laboratoriais em modelos animais demonstrarem que alguns destes agentes podem ser transmitidos por aerossol, apesar de tal situação, na realidade, nunca se ter verificado. A dose infectante é desconhecida para qualquer um dos quatro tipos de agente anteriormente referidos. A Febre Hemorrágica de Marburgo foi identificada pela primeira vez em 1967 e já provocou cinco surtos a nível mundial, o primeiro registado na Europa e os seguintes em diferentes países de África. Todos os surtos por esta doença foram originados em África. Quadro clínico A doença inicia-se de forma súbita com febre, mal-estar, arrepios, cefaleias e mialgias, seguidos de exantema maculopapular (predominante no tronco), náuseas, vómitos, dor torácica, odinofagia, dor abdominal e diarreia. Por volta do quinto ou sétimo dia de evolução, os sinais e os sintomas aumentam de intensidade e podem incluir icterícia, pancreatite, perda de peso, delírio, choque, falência hepática, manifestações hemorrágicas (epistaxis, 1 FHM4/PSA 04-04-2005 hemorragias gengivais, hemoptises, hematemeses, melenas), púrpura e multiorgânica. As manifestações hemorrágicas são indicador de mau prognóstico. falência A doença tem, habitualmente, uma evolução de cerca de duas semanas, após as quais o doente entra em convalescença e cura, ou evolui para a morte. A taxa de letalidade oscila entre os 25 e 80 %. Vias de transmissão Não se conhece ainda qual o reservatório do vírus de Marburgo na natureza. A Febre Hemorrágica de Marburgo transmite-se através do contacto directo, sem protecção adequada, com: • pessoa doente; • órgãos ou produtos biológicos (sangue, urina, fezes, sémen, etc) de uma pessoa ou animal infectados por aquele vírus; • qualquer material ou objectos utilizados no tratamento dos doentes; • cadáveres durante a sua preparação e cerimónias fúnebres. Período de incubação O período médio de incubação é de 2 a 9 dias, podendo prolongar-se até 21 dias. Período de Transmissibilidade Os doentes são contagiosos desde o início da febre e enquanto têm sintomatologia. Há relatos de episódios de transmissão tardia (92 dias para a febre de Marburgo). O vírus pode ser encontrado no sémen durante meses após a cura clínica. Definições Caso Suspeito: Um indivíduo que apresente: − febre elevada de início súbito e um ou mais dos seguintes sinais/sintomas: Mal-estar, arrepios, mialgias, cefaleias, odinofagia, exantema maculopapular (predominante no tronco), diarreia, dores abdominais, náuseas, vómitos, dores torácicas, manifestações hemorrágicas, icterícia, delírio, pancreatite, perda de peso, choque, falência hepática ou multiorgânica e uma das seguintes condições, ou ambas: 2 FHM4/PSA 04-04-2005 − história recente (2 a 21 dias antes do início dos sintomas) de viagem, escala ou residência na Província do Uíge (Angola)1 − que tenha tido contactos próximos com casos de Febre Hemorrágica, nos 2 a 21 dias antes do início dos sintomas Caso Confirmado: Caso suspeito com confirmação laboratorial. Contacto Próximo: Prestar cuidados sem protecção adequada a doentes com Febre Hemorrágica ou coabitar com os mesmos; ter contacto directo com: órgãos ou produtos biológicos (sangue, urina, fezes, sémen, etc.) provenientes de pessoa ou animal infectados, qualquer material ou objectos utilizados no tratamento dos doentes e cadáveres (durante a sua preparação e cerimónias fúnebres), cadáveres suspeitos de Febre Hemorrágica. 1 A informação sobre a evolução da epidemia em Angola será actualizada e divulgada através da Linha Saúde Pública – 808 211 311 ou dos endereços: www.who.int/csr/don/en/ ou www.dgsaude.pt 3 FHM4/PSA 04-04-2005 ANEXO II Febre Hemorrágica de Marburgo Guia sobre equipamento de protecção individual para profissionais de saúde e outros de Unidades de Saúde1 que possam vir a estar em contacto com casos suspeitos Nota introdutória De acordo com a classificação Comunitária dos agentes biológicos, o vírus de Marburgo é um agente biológico de grupo 4. Os mecanismos de controlo da infecção pelo vírus exigem a aplicação de medidas de precaução que implicam a utilização de equipamento de protecção individual específico. O equipamento (luvas, batas, máscaras, toucas, aventais, protecção de calçado, protecção ocular) serve de barreira e é usado para proteger o profissional da eventual exposição a todos os componentes orgânicos sólidos e líquidos, nomadamente sangue, fluidos orgânicos, secreções, excreções, aerossóis. Regras gerais do equipamento Equipamento Bata Toucas Máscaras (respirador de partículas) Características • • • • • Abertura atrás Descartável Impermeável (polipropileno) Punhos que apertem ou com elásticos Até ao meio das pernas ou tornozelo (nunca deve tocar o chão) • • Descartáveis De preferência para protecção de cabeça e orelhas • • • Observações Em caso de batas não impermeáveis, utilizar avental Existem vários modelos. Impermeáveis Na ausência de Classe N95 (americana) ou P2 (europeia) máscaras classe P2 ou N95 podem ser Ajuste facial e fixação auricular utilizadas máscaras cirúrgicas desde que impermeáveis Protecção ocular • • Óculos de protecção ou Viseiras Existem óculos com viseiras descartáveis Luvas • • • Descartáveis Látex Acima do pulso (10-15 cm) Não é necessário que sejam esterilizadas. Utilizar 2 pares em simultâneo Protecção de calçado • • • Cobre-sapatos com perneiras Descartáveis Impermeáveis (polipropileno) 1 As medidas referentes a doentes internados têm orientações próprias no documento “Recomendações sobre Equipamento de Protecção Individual” 1 FHM4/PSA 04-04-2005 Tipos de apresentação para aquisição Tipo Conteúdo Características Observações 1) Bata 2) Touca 3) Máscara Peça a peça 4) Protecção ocular Ver quadro anterior 5) Luvas 6) Protecção calçado 1 bata 1 par de óculos 1 barrete de alto risco Kits individuais (exemplo de 1 kit disponível no mercado) 1 respirador americano (N95 tipo bico de pato impermeável) Consultar empresas no quadro seguinte Existem várias versões. 1 luvas de látex 1 par de protecção de sapatos e pernas (tipo botas de cano alto) 2 FHM4/PSA 04-04-2005 Possíveis empresas fornecedoras Empresa Morada Anastácio Saldanha Rua José Galvão, nº 1 B Moinhos da Funcheira 2700 – 497 Amadora Zona Industrial da Maia I, Sector VIII, Lote 12, nº 76 Gemunde 4475-132 Maia Factor Plus Telefones Faxes Tel: 21 498 71 20 Fax: 21 498 71 28 Tipo de apresentação Peça a peça Fatos descartáveis (não impermeáveis) Tel: 22 948 74 66 22 947 90 40 Peça a peça Kits individuais Fax: 22 948 76 60 Tel: Giprot Lda Rua Prof. Henrique de Barros, nº 4 – 4ºA – Ed. 21 949 98 72 21 949 98 75 Sagres 2685-338 Prior Velho Stryker Portugal – Av. Marechal Gomes da Tel: Produtos Médicos, Costa, 35 21 839 49 12 Lda 1800-255 Lisboa 21 839 49 16 Fax: 21 839 49 19 3M Rua do Conde Redondo, nº 98 1169-009 Lisboa Peça a peça Fatos de protecção química Sterilshield com capacete striker Tel: 21 313 45 00 Batas impermeáveis (standard e reforçadas) Fax: 21 313 46 85 Respirador P2 (com válvula e sem válvula) Óculos de protecção 3 FHM4/PSA 04-04-2005 Bibliografia Agence Française de Sécurité Sanitaire des Produits de Santé (Afssaps). Plan Biotox. Fiche thérapeutique, Agents des fièvres hémorragiques virales. France, 2001. (http://www.afssaps.sante.fr/) APIC Bioterrorism Task Force, CDC Hospital Infections Program Bioterrorism Working Group. Bioterrorism Readiness Plan. A Template for Healthcare Facilities. USA, 1999. CE. Decisão da Comissão de 17 de Julho de 2003 (2003/534/CE). Bruxelas. Jornal Oficial nº L 184 de 27/07/2003; p. 39. Centers for Civilian Biodefense Studies. Viral Hemorragic Fevers. USA, 2001. 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