HG841A – “Virtude, Direito, Moralidade e Justiça em Arthur Schopenhauer” – Aula 03 12/02/2013 – Felipe Durante (PED – B) Livro Segundo - Do mundo como vontade A terceira aula se pautou na análise das seções §17-23. Observamos a abordagem do mundo em uma outra perspectiva que a da representação. Analisamos os limites das ciências, a incapacidade dessa em chegar a essência do mundo. Vimos a saída que Schopenhauer encontrou para obter tal conhecimento, imediato, da essência do mundo. Entendemos que a nossas essência é vontade (Wille) e por que esse é o melhor termo para designar o conhecimento imediato do corpo de uma perspectiva que não a representacional. Depois, analisamos como, através da transposição analógica, essa essência pôde ser estendida para a essência de todo o mundo. Abaixo um pequeno resumo da aula, que não substitui a leitura dos textos indicados e que pode confundi-lx se lido isoladamente. Necessidade Metafísica: ciência explica as relações entre as representações (como, por quê?, quando, onde), não elas mesmas. Há uma urgência em saber a essência íntima das coisas, o seu quê. Princípio de razão → teoria do conhecimento Princípio de individuação → metafísica da natureza Como encontrar o em-si da representação? Não é conceitualmente (pela razão), mas pelo sentimento (Gefühl) Não é através da experiência exterior, mas a partir de nós mesmos, por uma metafísica imanente “Pode-se considerar Schopenhauer metafísico porque seu sistema filosófico possui determinações necessárias e princípios universais, oferecendo desta maneira o fundamento teórico para a realidade sensível. Mas não se trata de uma metafísica dita dogmática, como a combatida por Kant. Schopenhauer está sob a atmosfera do legado kantiano (ele mesmo, como mencionado, considera-se o verdadeiro herdeiro da filosofia kantiana), das condições prévias de possibilidade da experiência presentes a priori na consciência (espaço, tempo e causalidade). Ele utiliza-se, assim, de uma metodologia que alguns comentadores denominam por metafísica imanente. Essa se configura pela argumentação a partir da oposição a uma explicação transcendente, oferecendo um relato fundamental da realidade, mas utilizando-se dos dados acessíveis ao conhecimento como o único guia possível. Como o próprio Schopenhauer escreve: “[...] a solução do enigma do mundo tem de provir da HG841A – “Virtude, Direito, Moralidade e Justiça em Arthur Schopenhauer” – Aula 03 12/02/2013 – Felipe Durante (PED – B) compreensão do mundo mesmo; que, portanto, a tarefa da metafísica não é sobrevoar a experiência na qual o mundo existe, mas compreendê-lo a partir de seu fundamento, na medida em que a experiência, externa e interna, é certamente a fonte principal de todo conhecimento;”. („[...]die Lösung des Räthsels der Welt aus dem Verständniß der Welt selbst hervorgehen muß; daß also die Aufgabe der Metaphysik nicht ist, die Erfahrung, in der die Welt dasteht, zu überfliegen, sondern sie von Grund aus zu verstehen, indem Erfahrung, äußere und innere, allerdings die Hauptquelle aller Erkenntniß ist; “ , MVR, Critica da Filosofia Kantiana, P. 538, I 507). Sobre o conceito de metafísica imanente Cf. CACCIOLA, M. Schopenhauer e a Questão do Dogmatismo, São Paulo: EDUSP, 1994, P. 134-138; Cf. BARBOZA, J. Schopenhauer – A decifração do enigma do mundo, In: Coleção Logos. São Paulo: Moderna, 1997, P. 46-56; e BARBOZA, J. Schopenhauer, in: Coleção Filosofia Passo-a-passo. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2003, P.23-24.” (DURANTE, F. 2012) O corpo como linha tênue entre a experiência interior e exterior, entre o em-si e a representação. Identidade entre o corpo e a vontade em-si → objetidade (Objektität) O corpo é a concreção do querer Transposição analógica: Existe causalidade em todos os reinos da natureza → a mesma volição que eu exteriorizo também é exteriorizada por cada representação, de acordo com seu grau de objetivação. O mundo é minha representação, mas também minha vontade. A consciência de si é resultado de uma experiência singular, da experiência de nosso corpo como objetidade Desejo → Wunsch → É sempre uma aspiração Vontade → é a apetição (resolução), desejo resolvido (não satisfeito) Consciência de si é a experiência do próprio corpo como Vontade Para a Vontade existir é preciso Aparência da satisfação Permanência da insatisfação HG841A – “Virtude, Direito, Moralidade e Justiça em Arthur Schopenhauer” – Aula 03 12/02/2013 – Felipe Durante (PED – B) Nessa segunda consideração, Schopenhauer enuncia seu novo ponto de vista de análise e seu objetivo: encontrar a essência íntima das representações. Ele chega à conclusão de que as ciências são incapazes de tal feito, concluindo que por fora, i.e, pela via da representação, não se chega à essência das coisas. Percebeu, assim, que cada indivíduo percebe o seu corpo como representação e, ao mesmo tempo, enquanto essência íntima vontade. O corpo é objetidade da vontade, a linha tênue entre vontade e representação. Em seguida, o autor faz a passagem da essência intima do indivíduo para a essência íntima dos fenômenos. Apresenta o erro do egoísmo teórico. Fundamenta a unidade metafísica da vontade. Expõe que cada moimento do corpo corresponde a um ato da vontade. A vontade é em essência metafísica una, mas os fenômenos são manifestações dessa vontade. A vontade-em-si está situada fora do princípio de razão e do princípio de individuação, enquanto que suas manifestações estão condicionadas as formas do entendimento e da representação. Versou, também, sobre o modo de atuação da vontade, por motivos, estímulo e causalidade estrita. Prefiro traduzir Reiz por estímulo, ao invés de excitação.