Universidade Estadual de Campinas UNICAMP Cristiane Santos Silva Rodrigues A importância da afetividade no processo ensino-aprendizagem Americana 2005 Cristiane Santos Silva Rodrigues A importância da afetividade no processo ensino-aprendizagem Memorial apresentado ao Curso de Pedagogia – Programa Especial de Formação de Professores em Exercício nos Municípios da Região Metropolitana de Campinas, da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas, como um dos pré-requisitos para conclusão da Licenciatura em Pedagogia. Americana 2005 Cristiane Santos Silva Rodrigues A importância da afetividade no processo ensino-aprendizagem Memorial apresentado ao Curso de Pedagogia – Programa Especial de Formação de Professores em Exercício nos Municípios da Região Metropolitana de Campinas, da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas, como um dos pré-requisitos para conclusão da Licenciatura em Pedagogia. Aprovada em: ______/______/______ ____________________________________________________ Nome do 1º leitor Faculdade de Educação/UNICAMP ____________________________________________________ Nome do 2º leitor Faculdade de Educação/UNICAMP Este trabalho é afetuosamente dedicado à minha filha Larissa, que é o melhor presente que Deus me deu e uma verdadeira bênção em minha vida. A meu marido, meus pais e irmãos que juntos me apoiaram com um amor tão grande, que se constitui numa tremenda fonte de apoio e encorajamento, para que eu vencesse todos os obstáculos. AGRADECIMENTOS Quero primeiramente, acima de tudo, agradecer a Deus que, com todo o seu esplendor, me iluminou e permitiu que eu conquistasse essa vitória de ter chegado à conclusão deste trabalho e por ter me colocado frente a uma tarefa tão especial que é o auxílio na construção e formação dos pequeninos. Aos professores que tiveram participação atuante na minha formação, pelos conhecimentos e pela dedicação, que me fizeram acreditar que ser educadora vale a pena. Sou grata também às minhas companheiras do transporte universitário, que pela amizade sincera das mesmas, se tornou um conforto nos momentos bons e nas horas de desânimo. Enfim, agradeço a todas as pessoas que, diretamente ou indiretamente contribuíram para que eu chegasse até aqui. “O amor é a melhor música na partitura da vida. Sem ele, você será um eterno desafinado no imenso coral da humanidade.” (Roque Schneider) SUMÁRIO INTRODUÇÃO ..........................................................................................................1 CAPÍTULO I: UM POUCO SOBRE AFETIVIDADE...................................................10 CAPÍTULO II: COGNIÇÃO, AFETIVIDADE E DESENVOLVIMENTO HUMANO......11 2.1 A relação entre os aspectos afetivos e cognitivos ................................. 11 2.2 O papel do professor no desenvolvimento afetivo e cognitivo ............... 14 2.3 Os vínculos afetivos ............................................................................... 19 2.4 A disciplina escolar ................................................................................ 21 2.5 A afetividade na relação professor-aluno............................................... 24 CAPÍTULO III: O ASPECTO AFETIVO NO PROCESSO ENSINO-APRENDIZAGEM NA VISÃO DE PIAGET, VYGOTSKY E WALLON ....................................................27 3.1 Uma leitura Piagetiana da afetividade nas relações professor-aluno .... 28 3.2 Afetividade no processo de formação de conceitos segundo Vygotsky. 34 3.3 Wallon: A teoria da emoção ................................................................... 39 CAPÍTULO IV: A LDB JUNTO À EDUCAÇÃO BRASILEIRA ....................................45 CAPÍTULO V: UM OLHAR SOBRE A EDUCAÇÃO BRASILEIRA ............................47 CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................50 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..........................................................................52 APRESENTAÇÃO Através de uma análise efetuada a partir da minha prática pedagógica em sala de aula e das contribuições que o curso de Pedagogia na UNICAMP PROESF me trouxeram, chego à premissa de que parte de nossas escolas não foge à regra imposta pela lógica mercadológica do capitalismo às políticas públicas nacionais, ao legitimar o ensino intelectualista e pragmático, desconsiderando significativamente o importante papel do conteúdo sócio-afetivo discente enquanto recurso motivacional imprescindível para a construção do conhecimento significativo, cujas implicâncias ao se menosprezá-lo tem se manifestado na crescente apatia discente pela aquisição formal de conhecimento veiculado na escola. Deste modo, o eixo afetividade foi por mim cuidadosamente escolhido, com a finalidade de concluir que a afetividade é imprescindível no momento da aprendizagem, devendo servir para o desenvolvimento e enriquecimento do aluno de forma global, onde o professor, sensível a este aspecto, propiciará a construção de conhecimentos por meio de uma atuação mais comprometida, ativa, criativa e crítica, preocupando-se constantemente em aproximar-se de seus alunos, conhecendo-os e proporcionando aos mesmos tarefas de acordo com suas necessidades individuais, ajudando-os mutuamente a sentirem-se valorizados e importantes. Portanto, neste trabalho, procurarei explicitar os percalços de minhas vivências afetivas no cotidiano da sala de aula e no curso do PROESF enquanto aluna. Farei algumas reflexões acerca do papel da afetividade na construção de conhecimentos cognitivo-afetivos, não pretendendo correr o risco de ser interpretada a partir de crenças arraigadas em nossa cultura, que consideram a inteligência e a afetividade dicotômicos e/ou separados, no processo de construção do conhecimento. Ao contrário, acredito que o conhecimento dos sentimentos e das emoções requer ações cognitivas, da mesma forma que tais ações cognitivas pressupõem a presença de aspectos afetivos. Introduzo o texto informando ao leitor acerca de minha formação inicial, descrevendo as influências que meus professores, direta ou indiretamente, tiveram sobre essa formação e as contribuições que posteriormente o curso de Pedagogia na UNICAMP PROESF, trouxe para minha prática pedagógica, onde pude analisar e refletir criticamente, o cotidiano da minha sala de aula acerca do tema afetividade que desenvolvo no decorrer deste trabalho. No primeiro capítulo, UM POUCO SOBRE AFETIVIDADE, abordarei por que o tema afetividade foi escolhido como eixo deste trabalho. No segundo capítulo, COGNIÇÃO, AFETIVIDADE E DESENVOLVIMENTO HUMANO, retratarei os aspectos afetivos sobre o desenvolvimento humano através de considerações necessárias para entendermos como a escola contempla a relação entre afetividade e cognição, emoção e razão. Também escreverei o papel que o professor tem no desenvolvimento afetivo e cognitivo do aluno, constatandose que existe em nossa sociedade, uma tendência a separar os aspectos cognitivos dos afetivos, como se o homem fosse um ser isolado e programado para sentir, pensar e agir conforme os padrões estereotipados convencionalmente. No terceiro capítulo, O ASPECTO AFETIVO NO PROCESSO ENSINOAPRENDIZAGEM, serão abordadas as contribuições do psicólogo suíço Jean Piaget, o educador e também psicólogo russo Lev Vygotsky e o médico francês Henry Wallon para a compreensão do termo “afetividade”, onde com o estudo desses autores, conclui que existe entre eles um consenso de que não é possível separar os aspectos afetivos e cognitivos e que a escola, enquanto instituição e lugar de apropriação de conhecimentos, deve estar atenta e levar em conta tanto os aspectos cognitivos quanto afetivos da criança, sem dissociá-los, buscando proporcionar seu desenvolvimento pleno. No quarto capítulo, A LDB JUNTO À EDUCAÇÃO BRASILEIRA, abordarei as mudanças sociais num contexto globalizado, onde a educação requer novos rumos e diretrizes para que o conhecimento atinja todas as crianças. No quinto capítulo, UM OLHAR SOBRE A EDUCAÇÃO BRASILEIRA, pretendo que nós educadores, frente à problemática educacional ocorrida nas últimas décadas, possamos refletir e passar a ter um novo olhar para a Educação Brasileira, um olhar preocupante e crítico. Fechando o trabalho, nas CONSIDERAÇÕES FINAIS, apresento algumas reflexões e conclusões a que cheguei acerca da afetividade e da necessidade constante que nós educadores devemos ter em estar constantemente refletindo sobre nosso próprio trabalho em sala de aula. INTRODUÇÃO A abordagem desta temática nasceu da necessidade em buscar novos conhecimentos que pudessem nortear as mudanças que ocorrem no aprendizado da criança em todas as suas dimensões, analisando de que forma a afetividade pode interferir no processo ensino-aprendizagem, pois uma das questões básicas do aprender é o vínculo afetivo que deve ser construído entre o aluno e o professor para que a aprendizagem não se torne insignificativa. Sou professora atuante há dez anos na rede municipal de ensino do município de Sumaré. Poucos anos depois de iniciar carreira no magistério, como professora de 1ª à 4ª série, alguns comportamentos entre professor e aluno despertaram minha atenção, levando-me a observar melhor minha atuação com os alunos. Muito antes da minha formação no magistério, estive sempre ligada a profissionais da educação através de parentes e amigos professores da minha família. Estes, todos muito sérios no seu ofício de ensinar, tinham como preocupação maior a transmissão dos conteúdos, numa concepção bem tradicional, assim como também, os vários professores que tive no decorrer da minha vida escolar, professores estes que acreditavam que o conhecimento estava centrado no professor e que este era o “dono do saber”. Eles falavam e achavam que os alunos entendiam. Acreditavam que o conhecimento se dava através da transmissão de conteúdos, como se os alunos fossem uma folha em branco, desprovidos do conhecimento. O professor era o condutor do saber, ou seja, o professor era o conhecedor e o aluno uma tábula rasa, onde tudo que o aluno tinha que fazer era ouvir o professor. 1 A pedagogia portanto, era legitimada pelo professor autoritário e que não acreditava na dialética, pois não havia espaço para crítica e a criatividade, não se formava o aluno para exercer sua cidadania, tampouco aprender a transformar ou acreditar nas mudanças que são necessárias para a construção de um mundo melhor. Assim, era mantido um esquema de reprodução, de repetição e da não credibilidade da bagagem que o aluno possuía. Assim foi toda minha formação de 1ª a 8ª série. Não me recordo de nenhum professor que tenha sido diferente do que já citei até aqui. Após terminar a 8ª série por vontade dos meus pais e por minha também, fui cursar o magistério. Era o único curso profissionalizante que tinha no período diurno, pois meus pais não queriam que eu estudasse no período noturno, e era o único curso também que oferecia possibilidades de ingressar no mercado de trabalho mais rápido. O curso foi gratificante para mim, mas ao mesmo tempo fantasioso, pois nem tudo que aprendi, até hoje, pôde se tornar realidade. Tornei-me professora no ano de 1994 e comecei a lecionar no ano seguinte. Mais tarde, na busca de uma formação mais ampla, que me fizesse compreender através da teoria, os acontecimentos da sala de aula e através de uma análise mais precisa da nova Lei de Diretrizes e Bases (LDB), de 20 de dezembro de 1996, da redação dos artigos nº 62 e 63, parágrafo I, dos profissionais da educação, fez com que não só eu como muitos outros professores, procurássemos uma formação de nível superior. Art. 62 – A formação de docentes para atuar na educação básica far-se-á em nível superior, em curso de licenciatura, de graduação plena, em universidades e institutos superiores de educação, admitida, como formação mínima para o exercício do magistério na educação infantil e nas quatro primeiras séries do ensino fundamental, a oferecida em nível médio, na modalidade Normal. 2 Art. 63 – Os institutos superiores de educação manterão: I – cursos formadores de profissionais para a educação básica, inclusive o curso normal superior, destinado à formação de docentes para a educação infantil e para as primeiras séries do ensino fundamental; II – programas de formação pedagógica para portadores de diplomas de educação superior que queiram se dedicar à educação básica. Sendo assim, para atrelar os profissionais da educação à exigência da lei citada, através de um convênio firmado entre a UNICAMP (Universidade Estadual de Campinas) e entre as secretarias dos Municípios da Região Metropolitana de Campinas, tive a oportunidade em 21 de julho de 2002, de prestar o vestibular na UNICAMP, disputando assim uma vaga na graduação e sendo então aprovada, vir a fazer parte do PROESF (Programa Especial de Formação de Professores em Exercício da Região Metropolitana de Campinas). Já então na universidade, estabelecendo relações entre as teorias as quais estava aprendendo com minha prática em sala de aula, percebi e foi difícil aceitar, que eu havia me tornado tão tradicionalista e conteudista quanto tinham sido meus professores. Deste modo, essas questões despertaram o meu interesse em conhecer e entender melhor o porquê de muitos alunos apresentarem diferentes comportamentos, com diferentes professores. Alguns debates, leituras e aulas na universidade contribuíram para que eu percebesse melhor as relações que perpassam o cotidiano da sala de aula envolvendo professor-aluno e o que os atrai ou distancia um do outro. Deste modo, compreendi que o papel exercido pelo professor-mediador do conhecimento, a qualidade da relação professor-aluno, é de extrema importância para a aprendizagem, sendo que esta não ocorre através da transmissão educador/aluno; ela é sempre produto da criação – o aluno só aprende um conceito se o cria e o educador só o ensina se conseguir desencadear, com os alunos, o movimento de sua criação. Este encontro do educador com o aluno para a criação conceitual só 3 acontecerá na formação da linguagem afetiva em comum, quando educador e educando encararem a aula não como uma imposição institucional, como uma obrigação determinada pelas necessidades do estômago. Quando a aula for uma imposição do gosto, do amor, uma obrigação determinada pelas necessidades do afeto, vinculados às do conhecimento, aí teremos o ponto de encontro em que se inicia toda a aprendizagem. É isto que nos ensina Rubem Alves (1982): Educadores onde estarão? Em que covas terão se escondido? Professores, há aos milhares. Mas professor é profissão, não é algo que se define por dentro, por amor. Educador, ao contrário, não é profissão: é vocação. E toda vocação nasce de um grande amor, de uma grande esperança. Profissões e vocações são como plantas. Vicejam e florescem em ninhos ecológicos, naquele conjunto precário de situações que as tornam possíveis e — quem sabe? — necessárias. Destruído esse habitat, ávida vai se encolhendo, murchando, fica triste, mirra, entra para o fundo da terra, até sumir. (p. 11-12) Sendo assim, diante do que nos expõe Rubem Alves, eu diria que os educadores são como velhas árvores. Possuem uma fase, um nome, uma “estória” a ser contada. Habitam em um mundo em que o que vale é a relação que os liga aos alunos, sendo que cada aluno é uma “entidade”, portador de um nome, também de uma “estória”, sofrendo tristezas e alimentando esperanças. E a educação é algo pra acontecer neste espaço invisível e denso, que se estabelece a dois. Mas professores, são habitantes de um mundo diferente, onde o “educador” pouco importa, pois o que interessa é um “crédito” cultural que o aluno adquire numa disciplina identificada por uma sigla, sendo que, para fins institucionais, nenhuma diferença faz aquele que a ministra. Ainda segundo Rubem Alves (1982), de educadores para professores realizamos o salto de pessoa para funções. Concordo com sua afirmação, pois o educador, habita em um mundo em que a interioridade faz uma diferença, em que as pessoas se definem por suas visões, paixões, esperanças e horizontes utópicos. Isso, só pude compreender ao longo do curso do PROESF e ver que eu, antes de começar a cursar o mesmo, era uma mera professora, funcionária de um mundo 4 dominado pelo Estado e pelas empresas, especialista em reprodução, peça num aparelho ideológico do Estado, e hoje, com uma visão mais ampla sobre o que é ser professor, embora com certeza tenha que aprender ainda mais, vejo que um educador é um fundador de mundos, mediador de esperanças, pastor de projetos, onde o fato de ser professor-educador não é tão simples como muitos imaginam ser, pois exige a reflexão crítica de sua prática pedagógica docente, fazendo-se necessário que esteja constantemente aprimorando seus conhecimentos através das leituras, das constantes indagações, constatações e intervenções daquilo que não se conhece ou que se reestrutura. Estudar exige a reflexão crítica de sua prática pedagógica. Quanto mais o professor for seguro de seus conhecimentos, mais fácil será a tomada de decisões em sala de aula, não apenas para resolver problemas de ordens disciplinares, mas também quais as intervenções a serem tomadas principalmente com aquele aluno que apresenta dificuldades de aprendizagem, seja ela por motivos de defasagem ou outros que compõem a heterogeneidade de seu alunado. Deste modo, o curso do PROESF me fez refletir com mais precisão, o possível papel da afetividade no processo de mediação do professor, onde através de pesquisas e teorias defendidas no decorrer do curso, direcionaram meu olhar para as relações professor-aluno que se desenvolvem em sala de aula. Portanto, as relações entre os aspectos afetivos e cognitivos do desenvolvimento humano, a motivação para aprender, o conhecimento espontâneo e científico e os processos de aprendizagem, o ser que aprende e atua sobre o mundo numa sociedade em constante transformação, são os objetos de reflexão deste trabalho. 5 Para isso, numa perspectiva de trabalho em que se considere a criança como protagonista da construção de sua aprendizagem, o papel do professor ganha novas dimensões. Uma faceta desse papel é a de organizador da aprendizagem; para desempenhá-la, além de conhecer as condições socioculturais, expectativas e competência cognitiva dos alunos, precisará escolher o (s) problema (s) que possibilita (m) a construção de conceitos/procedimentos e alimentar o processo de resolução, sempre tendo em vista os objetivos a que se propõe atingir. Através das reflexões decorrentes deste trabalho, veremos que o professor, além de organizador, é também consultor nesse processo de construção da aprendizagem. Ele não é mais aquele que expõe todo o conteúdo aos alunos, mas aquele que fornece as informações necessárias que o aluno não tem condições de obter sozinho. Nessa função, faz explanações, oferece materiais, textos, entre outros, em situações de construção constante. Outra das funções do professor, também estudadas no PROESF através de textos e seminários que apresentamos, nas diversas disciplinas que tivemos ao longo destes três anos que cursamos Pedagogia, é como mediador, ao promover a confrontação das propostas dos alunos, ao disciplinar as condições em que cada aluno pode intervir para expôr sua solução, questionar, contestar. Nesse papel, o professor é responsável por arrolar os procedimentos empregados e as diferenças encontradas, promover o debate sobre resultados e métodos, orientar as reformulações e valorizar as soluções mais adequadas. Como um incentivador da aprendizagem, o professor estimula a cooperação entre os alunos, tão importante quanto a própria interação adulto/criança. Enquanto professora, procuro estar confrontando aquilo que cada aluno pensa com o que pensam seus colegas e demais pessoas com quem convive, pois 6 deste modo, terão uma aprendizagem significativa, principalmente por pressupor a necessidade de formulação de argumentos (dizendo, descrevendo, expressando) e a de comprová-los (convencendo, questionando) de maneira convincente. Além da interação entre professor e aluno, a interação entre alunos desempenha papel fundamental na formação das capacidades cognitivas e afetivas. Percebo claramente isto, quando meus alunos têm oportunidades de se expressarem e discutirem com o grupo suas idéias acerca de conflitos vividos por eles no dia-a-dia. Acho muito produtivo esta troca, pois desenvolvem neles não só a percepção e tomada de consciência dos sentimentos e emoções, mas também sua capacidade dialógica e cognitiva. Assim, sem que eu precise abrir mão dos conteúdos tradicionais da escola, enquanto professora, posso trabalhar conteúdos de natureza afetiva, entendendo-os como objetos de conhecimentos para a vida dos alunos, da mesma forma que a matemática e a língua são vistas como objetos de conhecimentos a serem aprendidos. Vejo que, com esse tipo de proposta educacional, tão enfatizado pelas assistentes pedagógicas no PROESF, passei a compreender que da mesma forma que os alunos aprendem a somar, a conhecer a natureza e a se apropriar da escrita, é fundamental para suas vidas que conheçam a si mesmos e a seus colegas, e as causas e conseqüências dos conflitos cotidianos. Ainda recordando algumas aulas no PROESF, sem necessariamente especificar quais, pois o que falarei a seguir, foi discutido e debatido por nós alunas em todas as disciplinas que cursamos, a questão do trabalho coletivo por sua vez, segundo algumas reflexões minhas, supõe uma série de aprendizagens como: 7 • perceber que além de buscar a solução para uma situação proposta, devem cooperar para resolvê-la e chegar a um consenso; • saber explicitar o próprio pensamento e tentar compreender o pensamento do outro; • discutir as dúvidas, assumir que as dos outros fazem sentido e persistir na tentativa de construir suas próprias idéias; • incorporar soluções alternativas, reestruturar e ampliar a compreensão acerca dos conceitos envolvidos nas situações e, desse modo, aprender. Convém ressaltar que, essas aprendizagens só serão significativas se nós, enquanto professores, proporcionarmos um ambiente de trabalho que estimule o aluno a criar, comparar, discutir, rever, perguntar e ampliar idéias. É importante atentar para o fato de que, as interações que ocorrem na sala de aula, entre professor e aluno ou entre alunos, devem ser regulamentadas por um “contrato didático”, no qual, para cada uma das partes, sejam explicitados claramente seu papel e suas responsabilidades diante do outro. Sendo assim, embora a escola seja um local onde o compromisso maior que se estabelece é com o processo de transmissão/produção de conhecimento, podese afirmar que, segundo Almeida (1999): As relações afetivas se evidenciam, pois a transmissão do conhecimento implica, necessariamente, uma interação entre pessoas. Portanto, na relação professor-aluno ou entre alunos, uma relação de pessoa para pessoa, o afeto está presente (p.107). Pode-se concluir portanto, que a afetividade não se limita apenas às manifestações de carinho físico, pois quando fornecemos meios para que o aluno realize a atividade confiando em sua capacidade, demonstrando atenção às suas dificuldades e problemas, são maneiras bastante refinadas de comunicação afetiva. Dantas (1992,1993) refere-se a essas formas de interação como cognitivização da afetividade. 8 Sendo assim, tenho a pretensão de levar-nos, os educadores, a entender as diversas atitudes e comportamentos dos alunos em sala de aula, levando-nos também a refletir sobre nossa prática pedagógica, num constante exercício de prática-reflexão-ação. 9 Capítulo I: UM POUCO SOBRE AFETIVIDADE Este eixo, afetividade, certamente, foi o que mais marcou minha vida enquanto estudante da UNICAMP e minha carreira profissional como educadora. Me fez voltar no tempo, refletir e recordar tantas coisas boas e ruins do meu tempo de ensino fundamental e médio, nos quais a afetividade entre aluno e professor era quase ausente. No curso de Magistério esta relação então piorou, pregava-se muito, mas na prática, nada acontecia. Na universidade, a questão da afetividade despertou em mim um novo olhar enquanto aluna. Senti um amor, carinho e amizade muito forte entre nós alunas e assistentes pedagógicas que nos proporcionaram tanto momentos agradáveis quanto momentos de força, encorajamento para que pudéssemos prosseguir o curso. As disciplinas “Pensamento Psicológico e Educação” e “Educação da Criança de 0 a 6 anos” me proporcionaram uma bagagem bastante extensa sobre o tema afetividade, que interferiu muito na minha prática pedagógica em sala de aula. Mas, o que gostaria de enfatizar neste capítulo, é uma poesia que foi lida por uma das alunas no decorrer do curso, que me fez refletir profundamente sobre a questão da afetividade e dar condições para que eu pudesse realizar este trabalho. “Afetividade é o conjunto de fenômenos psíquicos: emoções, sentimentos, paixões, o gostar de. Tais fenômenos são acompanhados sempre da impressão de dor ou prazer, de satisfação ou insatisfação, de agrado ou desagrado, de alegria ou tristeza. A afetividade não é guardada em livros, mas nas pessoas. Um livro pode discorrer sobre emoções, sentimentos e paixões, mas não os experimenta. Os fenômenos da afetividade são formas de energia. A energia não pode ser destruída, mas pode, e deve, ser transformada. A transformação da emoção, de um ressentimento, pede o concurso da inteligência, da vontade, dando as boas vindas à espiritualidade. Livros não têm emoções, sentimentos e/ou paixões. A afetividade está nas pessoas. Às vezes pervertida. Os sentimentos podem ser: sentimentos a respeito dos outros, sentimentos referentes a fatos, pessoas e sentimentos de si, ou seja: sentimento a respeito do como a pessoa está sendo.” (autor desconhecido) 10 Capítulo II: COGNIÇÃO, AFETIVIDADE E DESENVOLVIMENTO HUMANO 2.1 A relação entre os aspectos afetivos e cognitivos Vejo que há uma preponderância na educação, da valorização dos aspectos cognitivos em detrimento dos aspectos afetivos, embora se reconheça tanto na teoria como na prática, relação entre ambos os fatores. A idéia de inteligência relacionada ao saber objetivo, do qual excluem-se os sentimentos e as emoções prevalece no ensino, onde na realidade, embora a maioria dos professores saibam pelo senso comum ou pela própria prática cotidiana sobre a importância da afetividade na aprendizagem, do desenvolvimento da área de interesses, apreciação, valores, confiança e força de vontade, priorizando dar conta do conteúdo pré-estabelecido, é sempre o desenvolvimento das capacidades cognitivas da criança que é enfatizado e valorizado, pois o atual sistema educacional, no que se refere ao ensino fundamental e obrigatório, dá-se no sentido de transmissão de uma série de conhecimentos que a escola acredita (ou é condicionada a acreditar), que a criança deve adquirir para tornar-se um cidadão apto a participar da vida em sociedade e, posteriormente, preparar-se para a vida profissional. Conhecimentos esses, que a escola acredita serem fundamentais para a formação intelectual e cultural dos alunos e que, supostamente, irão lhes proporcionar os instrumentos cognitivos necessários ao acesso, ao pensamento científico e à cultura. Essa forma de lidar com a aprendizagem e o conhecimento com racionalismo extremo traz prejuízos ao indivíduo, pois acaba por torná-lo despreparado para lidar com sentimentos e situações de conflitos pessoais e emocionais, e ao entrar na 11 escola, o indivíduo se depara com uma realidade que muitas vezes não privilegia a afetividade e a emoção. Portanto, para que haja uma boa interação entre os aspectos afetivo e cognitivo, nós professores, devemos buscar através de pesquisas, reflexões e trocas de experiências, conteúdos e atividades para nossos alunos, de acordo com as diferenças individuais, seus conhecimentos prévios a fim de que estes possam construir, verbalizar suas idéias, pensamentos e sonhos. A este respeito nosso curso no PROESF foi fantástico, pois em todas as disciplinas, nos seis semestres cursados, tais situações citadas ocorreram de fato e contribuíram para nossa formação. Deste modo, os conteúdos e as metodologias escolhidos para o desenvolvimento da aprendizagem são muito importantes e o professor não deve renegá-los. A afetividade deve estar estritamente relacionada em todas as disciplinas, elemento articulador do processo e deve ser característica fundamental do docente, para que seus alunos sejam desejantes do saber. Julgar que o afeto cabe em “qualquer lugar“ no processo de ensino aprendizagem é “enxergá-lo" em todo lugar e não distinguir o seu lugar específico nesse processo. Neste caso, o conceito de afeto ou o de “problemas emocionais” é bastante utilizado e enfatizado, mas de maneira um tanto vaga, tomando-se a parte pelo todo. Recordo-me muito bem em uma das aulas expositivas de Pensamento Psicológico e Educação, em uma das falas da nossa assistente pedagógica, no terceiro semestre do PROESF, no qual dizia que deveríamos enquanto educadores, tomar cuidado para que os vínculos afetivos na relação professor e alunos, não se tratassem de relação de parentesco, ou seja, a afetividade não deveria ser legado de alguns alunos, pois todos necessitam dessa interação. A atenção, o carinho, o 12 respeito mútuo, a compreensão do outro e todo contado e interação individual, devem estar voltados para todos os alunos. A partir desta fala que acabei de mencionar, naquele mesmo dia comecei a refletir mais sobre minhas ações e a realidade cotidiana da minha sala de aula, e com a constante preocupação para que houvesse uma relação afetiva e de diálogo entre eu professora e meus alunos, sem priorizar este ou aquele aluno, comecei a ouvir mais meus alunos, permitindo a interação no grupo, sabendo respeitá-la e tirando proveito das relações que ali se estabelecia para garantir que a aprendizagem acontecesse. Passei então, a trabalhar com as necessidades dos alunos, e a partir delas, provocar novas necessidades. Sendo assim, cresceu mais a preocupação que tinha com meus alunos no sentido que, estes, personagens principais no processo de ensino-aprendizagem, passassem a serem vistos, como alguém que, se não soubessem, eram capazes de aprender. Percebi, após esta atitude tomada por mim, que muitos dos meus alunos se sentiram motivados por conhecer e fazer descobertas, onde o trabalho escolar passou a ter sentido para eles e onde eles passaram a experimentar o prazer pelo conhecimento. Complementando o que já mencionei anteriormente, para Kamii (1980), se a criança está ansiosa e desencorajada, ou perturbada por qualquer razão, o seu desenvolvimento geral em todos os momentos, será entravado, na medida em que suas perturbações infelizes canalizam suas energias. Muitos professores, infelizmente, não conseguem manter o interesse dos alunos. Desde muito cedo, as atividades trabalhadas tornam-se desinteressantes, desestimulantes, ora por serem rotineiras, ora por estarem descontextualizadas. Cria-se então uma situação favorável a um possível fracasso escolar. Em minha sala 13 de aula, depois da bagagem afetiva e sobre afetividade que obtive através do curso, sempre ao planejar minhas aulas, tenho o cuidado para que estas não caiam na rotina, pois quando isto acontece, as crianças ficam inquietas e acabam levantando muitas vezes do lugar. Por outro lado, quando a atividade é significativa, elas querem dar conta da atividade solicitada, pergunta para um colega, questiona outro, copia, enfim, há um movimento sócio-afetivo entre esses alunos que muitas vezes é erroneamente visto como indisciplina ou dispersão. Creio que na sala de aula, através de textos e livros por mim lidos e embasamentos teóricos que tive no PROESF, a aprendizagem resulta também da convivência social dos alunos entre si e com o professor. Para que haja educação de boa qualidade portanto, procuro trabalhar em conjunto com meus alunos, com vistas a uma educação para a liberdade. Neste sentido, nós professores, temos a responsabilidade de contribuir para formar pessoas não só competentes, mas pessoas felizes e seguras de si mesmas, onde cada um poderá dar a sua parcela de contribuição e participação na sociedade. Deste modo, o professor que enxerga a educação como prática social transformadora e democrática, interagindo com seus alunos no sentido de torná-los críticos acerca da realidade que os cerca, estará contribuindo para a formação de cidadãos conscientes e apostando numa sociedade diferente. É a educação para a liberdade também definida por Paulo Freire (1977). 14 2.2 O papel do professor no desenvolvimento afetivo e cognitivo Ao longo da minha trajetória na universidade e após várias discussões debatidas, discutidas e refletidas por nós alunas da UNICAMP e profissionais da educação, vejo que o novo educador é um profissional preocupado em desenvolver uma prática educativa significativa para o aluno, que crie e intensifique o desejo de aprender, acreditando na capacidade que o aluno possui de transformação, criação, descoberta e crescimento, considerando que cada aluno traz consigo uma riqueza de experiências, conhecimentos e possibilidades que dadas as oportunidades, vão se revelando ao longo do processo, na construção do seu próprio saber. Deste modo, o novo educador, se torna o elemento que desencadeia e sacia a necessidade da turma ao mesmo tempo que aprende com ela. Deste modo, o professor trabalha com o aluno, explica, dá informações, questiona, corrige, leva o aluno demonstrar até que este consiga interligar, agindo por fim independentemente, solucionando problemas envolvendo os conceitos científicos, a racionalidade e a afetividade. Nesse sentido, não é possível o professor fundamentar seu trabalho preocupado apenas com o planejamento escolar que muitas vezes é conteudista, favorecendo apenas o aspecto cognitivo do aluno, sendo assim a relação professoraluno será permeada pela ausência de: comunicação, respeito ao pensamento do outro e o envolvimento afetivo. Restrepo (1998), vem afirmar que: O aniquilamento da singularidade se torna patente na incapacidade da escola de compreender a existência de modelos divergentes de conhecimento, em sua obsessão pelo método e pela nota, na incapacidade de captar as tonalidades afetivas que dinamizam ou bloqueiam os processos de aprendizagem. A escola se mostra resistente a aceitar que a cognição é cruzada pela paixão, por tensões heterônomas, a tal ponto que são as emoções e não as cadeias argumentativas que atuam como provocadoras ou estabilizadoras das redes sinópticas, impondo-lhes fechamentos prematuros ou mantendo uma plasticidade resistente à sedimentação. (p. 33) 15 Diante deste quadro, o conhecimento deve ser visto como uma rede de relações, na qual o educador ajuda os alunos a fazerem conexões necessárias ao seu desenvolvimento. O conteúdo não deixa de existir, ninguém aprende nada desvinculado do conhecimento teórico e o professor deve ter domínio desse conhecimento, mas trata-se de trabalhar o conteúdo de forma diferente, dando-lhe significado, é o que se chama de ensino contextualizado, onde em nosso curso, este foi um dos assuntos mais debatidos por nós profissionais da educação. O artigo 2º da LDB, Lei nº 9.394, de 20 de Dezembro de 1996, situado no Título II – Dos Princípios e Fins da Educação Nacional, traz uma tríplice natureza para a educação: A educação, dever da família e do Estado, inspiradas nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. (p.9) De acordo com a citação, novamente me vejo inserida em um sistema que idealiza a igualdade e a divisão de deveres entre Estado e família, entretanto sabemos que esta divisão é na maioria das vezes desigual em um intrigante liberarse de responsabilidade, tanto por parte da família como do Estado. Nesse caso, cabe a nós profissionais da Educação, estarmos atentos para esta situação e usarmos o sentido da afetividade valorizando cada gesto ou ação dos nossos educandos, buscando a sua auto-afirmação na construção do saber, pois segundo Chalita (2001), o pleno desenvolvimento do educando significa: O oposto da visão conteudista ou reducionista, que tem como foco apenas o desenvolvimento da habilidade cognitiva. Trata-se de ampliar a responsabilidade da educação para as habilidades sociais e psicológicas, priorizando a afetividade, o equilíbrio, a convivência plural. O ensaio não pode ser verticalizado e resolver-se com o objetivo de aprová-los ou conferir-lhes diplomas. (p. 128) Dentro desta nova perspectiva de educação, o professor é cada vez mais solicitado a motivar seus alunos para a aprendizagem e para o conhecimento 16 científico. Os conhecimentos só valem se resolverem problemas, se fores úteis, se tiverem sido transformados em conhecimento de fato para quem aprende. Esta problemática vem constantemente fazer-me repensar cada vez mais sobre minha prática pedagógica em sala de aula. Outro ponto que Chalita (2001) ressalta é o preparo que o aluno recebe quanto ao exercício da sua cidadania, que segundo ele: Trata-se de formar um cidadão – não um mero receptor passivo -, um membro da sociedade com visão de liderança, de participação, de intervenção que não esteja alijado de processos decisórios porque se sabe como intervir em questões de seu interesse e da sua comunidade que por isso é crítico, é atuante, é responsável. Um cidadão que lute para que o profundo abismo entre os incluídos e excluídos seja diminuído e, quem sabe um dia eliminado. Um cidadão que não é iludido com promessas vãs nem tentado a vender sua consciência, ou seja, homens e mulheres livres. (p. 128) Nesse sentido, percebemos que a escola não é mais o lugar onde uma geração passa para outra uma série de conhecimentos prontos, ela assume agora um outro papel, ou seja, a escola ganha espaço no sentido de fornecer indicações, aprimorar valores e atitudes, além de capacitar o aluno na busca de informações, conhecimentos e na resolução de problemas, frente à postura autônoma que se busca desenvolver. Deste modo, vemos que a motivação é criada a partir da geração de conflitos onde resolver um desafio, estimula a criança a lidar com a informação ao invés de simplesmente retê-la. Assim, depois de lançada uma tarefa em que todos se envolvam, inclusive em uma aula expositiva, onde nesta o professor não será o dono absoluto do saber como no modelo tradicionalista e sim intermediário entre o conhecimento acumulado, o interesse e a necessidade do aluno, o professor poderá alcançar os objetivos que deseja e neste caso, a criança estará inserida na resolução de um problema significativo. 17 Nesta fala, me recordo de uma aula de Pensamento Psicológico e Educação, no qual estudamos o texto “A Afetividade em Sala de Aula: As Condições de Ensino e a Mediação do Professor”, que segundo Leite (2002): O ato de ensinar e o de aprender envolvem certa cumplicidade do professor a partir do planejamento das suas decisões de ensino assumidas; mas tal cumplicidade também se constrói nas interações através do que é falado, do que é entendido, do que é transmitido e captado pelo olhar, pelo movimento do corpo que acolhe, escuta, observa e busca a compreensão do ponto de vista do aluno. (p. 137) Portanto, desta maneira, a teoria ganhará finalidade aplicável, o que significa o fim do conteúdo. Pelo conteúdo, onde o aluno acumula informações, passa nos exames, mas não consegue aplicar o que aprendeu em situações reais, que sengundo Perrenoud (2000), em geral, a escola se preocupa muito mais com ingredientes de certas competências e menos em colocá-las em sinergia nas situações complexas. Por este e tantos outros motivos, enquanto educadora, preocupo-me em fazer as ligações dos conhecimentos básicos das diversas disciplinas, com as situações do cotidiano, procurando descobrir qual aprendizagem será significativa para meus alunos, já que estes, como já comprovei várias vezes em minha sala de aula, só se interessam realmente por conhecimentos que lhes chamem a atenção de alguma maneira. Portanto, também procuro envolver, através de metodologias adequadas de ensino-aprendizagem, os educandos na reconstrução ativa do conhecimento, trabalhando com os alunos e não pelos alunos, através de atividades em grupo, valorizando também a história de vida dos mesmos e se comprometendo com a vida afetiva deles, bem como envolvendo a comunidade. Quanto à forma de trabalho, o primeiro passo, a prática, esta consiste em conhecer, através de um diálogo com os alunos, qual a vivência cotidiana do conteúdo, antes que este seja trabalhado em aula, mobilizando assim os conhecimentos prévios dos alunos. 18 O segundo passo, a teoria, inicia-se por uma breve discussão sobre o tema, o conteúdo, buscando identificar as razões pelas quais ele merece e precisa ser aprendido, discutido e problematizado. Em seguida, transforma-se esse conhecimento em questões problematizadoras, levando em conta as suas dimensões científicas, históricas, conceituais, culturais, sociais, políticas, éticas, etc. Então o conhecimento formal é abstrato e apresentado e contrastado com a vivência cotidiana desse mesmo conhecimento, a fim de que os alunos elaborem uma síntese e assumam postura mental reunificando o cotidiano com o científico numa totalidade concreta. A terceira fase, a prática, se expressa nas intenções dos alunos sobre a possível aplicação do conteúdo aprendido e quais ações se propõem realizar para que isso aconteça. Enfim, o educador deve utilizar todos os meios, os recursos tecnológicos e suas variadas formas de motivar os alunos neste trabalho que consiste em um grande desafio para os docentes, enquanto a evolução do ensino continua lenta, muitas vezes sem atrativos e sem condições para competir em função dos interesses e necessidades afetivas, cognitivas e sociais do educando. 2.3 Os vínculos afetivos O ato de ensinar e o de aprender, caracterizam-se pelo vínculo cultural estabelecido entre os homens. Esse processo, segundo anotações que fiz em algumas aulas, especificamente de Pensamento Psicológico e Educação no PROESF, transcorre a partir de vínculos entre as pessoas e inicia-se no âmbito familiar, sendo que a base desta relação vincular é afetiva, pois é através de uma 19 forma de comunicação emocional que o bebê mobiliza o adulto, garantindo assim os cuidados de que necessita. Portanto, é o vínculo afetivo estabelecido entre o adulto e a criança que sustenta a etapa inicial do processo de aprendizagem (Wallon, 1978). Sendo assim, é a partir da relação com o outro, através do vínculo afetivo, que, nos anos iniciais, a criança vai tendo acesso ao mundo simbólico e, assim, conquistando avanços significativos no âmbito cognitivo. Nesse sentido, para a criança, torna-se importante e fundamental o papel do vínculo afetivo, que vai ampliando-se, e a figura do professor surge com grande importância na relação de ensino e aprendizagem, na época escolar. Esta questão fez-me refletir muito acerca da afetividade em sala de aula, sendo possível afirmar que a mesma está presente em todos os momentos ou etapas do trabalho pedagógico desenvolvido pelo professor, fazendo-me recordar uma fala de Fernandez (1991) que: Para aprender necessitam-se dois personagens (ensinante e aprendente) e um vínculo que se estabelece entre ambos (...). Não basta aprendermos de qualquer um, aprendemos daquele a quem outorgamos confiança e direito de ensinar. (p. 47-52) Nessa perspectiva, a relação professor/aluno precisa ser constantemente revista, entretanto aí, o papel do professor como eixo principal do grupo, que transmitirá a segurança e a confiança necessárias à seus alunos, para que estes possam sentir-se mais seguros e superar as dificuldades que vier, criando assim, um ambiente de aprendizagem tranqüilo. No entanto, a questão da interação professor e aluno, que deveria ter como vínculo a afetividade, traz-me algumas inquietações. Exemplificarei esta afirmativa através do problema da disciplina escolar, considerando algumas abordagens sobre o tema. 20 2.4 A disciplina escolar Recordo-me que esta questão da disciplina escolar sempre foi uma polêmica ao ser discutido nas aulas de Avaliação no terceiro semestre do PROESF. Acho necessário para fazer referência a esse fenômeno, assinalar três questões fundamentais: em primeiro lugar, a escola pretende atender as necessidades das atuais formas de organização social. A escolarização contempla conhecimentos teóricos, ou seja, relativo às áreas tradicionais do currículo, bem como a ética e a cidadania. Dessa forma, procura assegurar a qualificação para o trabalho e os requisitos necessários para a vida em sociedade, ou seja, a formação do cidadão. Em segundo lugar, a escola brasileira procura ser democrática, isto é, aberta a todas as classes sociais, com uma estrutura pedagógica diferenciada para atender as necessidades individuais. Finalmente, o aluno, em função de um período de transformações econômicas intensas, sofre com os desajustes sociais. Esta situação aparece em sala de aula através de um comportamento agressivo, rebelde, contestador e indisciplinado. Esse fenômeno, também conhecido como bagunça, baderna, desrespeito às autoridades, falta de limites entre outras denominações, leva-nos educadores a procurar práticas mais adequadas, a fim de promover um clima propício no ambiente escolar. Desta maneira, necessitamos fazer uma análise global, pois com a paulatina democratização do ensino, a escola apresenta um novo marco histórico-social, em detrimento do fornecimento da ampliação de vagas em todos os níveis escolares. Para tal, a escola deixa de ter um caráter de manter o saber apenas para as classes 21 mais favorecidas, para ofertar o saber a cada um dos cidadãos com um discurso de igualdade. Em decorrência destes fatos, vemos uma sociedade com uma nova consciência, onde os alunos já não são os mesmos, pois a sociedade mudou, existindo assim, uma nova geração que não é omissa nem temorosa, ao contrário, é muito mais participativa. O espaço físico da escola também começa a perpetuar novas características como adequação à deficientes físicos, salas de informática e tantos outros que comprovam a busca pela individualidade, onde cada aluno deva ser considerado como único para a aprendizagem. Entretanto, esta ideologia encontra pontos conflitantes como currículos tradicionais, verbas que não são bem destinadas, violência, entre os fatores que coloca a escola num árduo objetivo de se modernizar para melhor atender as necessidades individuais dos alunos e se aprimorar para que a indisciplina torne-se apenas uma lembrança ultrapassada, haja visto que a conscientização que busca alternativas na sala de aula, produzem alunos e professores comprometidos com a aprendizagem e a afetividade escolar. Sendo assim, vemos que cada aluno deve ser respeitado de maneira individual, bem como as fases de sua aprendizagem em detrimento da personalidade particular de cada um, conforme garante a Constituição de 1998, o artigo 205, da Carta Constitucional que diz: “A educação, direito de todos e dever do Estado e da família será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação no trabalho.” Entretanto, este direito básico do cidadão não está sendo respeitado. O fenômeno da disciplina que ronda a escola indica o impacto do ingresso de um novo sujeito histórico com outras demandas e valores num esquema de educação arcaica. 22 Em outras palavras, é uma escola idealizada para um determinado sujeito e ocupada por outro. Observa-se que os professores relatam que o aluno atualmente encontra dificuldades de aprendizagem em função do seu comportamento rebelde, agressivo, apático e indiferente. Dessa forma como o aluno é entendido no sistema escolar, é pouco provável que exercerá os seus direitos de cidadão de forma plena. O presente trabalho indica, então, que o problema da indisciplina pode ser atribuído a fatores extra-escolares como a carência econômica que resulta na desestruturação do meio em que o aluno vive e fatores intra-escolares, como a prática pedagógica obsoleta e não estimulante. Vale a pena recordar Bohoslasky (1981): O motor da aprendizagem, interesse autêntico da pedagogia desde a antigüidade, deveria ser tomado em seu sentido etimológico literal como um estar entre colocando o conhecimento não do cenário educativo, mas em seu centro, situado o objetivo a ser aprendido entre os que ensinam e os que aprendem. (p. 324) Assim, volto a insistir que a relação professor-aluno é fundamental para o desempenho das práticas educativas e quando é permeada pela sensibilidade e pelo conhecimento significativo, constitui uma das alternativas para lidar com a dificuldade de aprendizagem, alimentando a parceria docente-educando. Se refletirmos um pouco sobre a estrutura do mecanismo da indisciplina e o papel do educador, é possível percebermos que o aluno não é desprovido de prérequisitos e são neles que devemos apoiar nosso trabalho. Não somente a ética e a cidadania, mas também desenvolvendo o conhecimento, envolvendo as artes, as ciências e a matemática, conduzindo-o para o aprofundamento de saberes e trabalhando com a conduta humana num ambiente de conforto, participação e respeito. 23 O que seria uma nova ordem pedagógica? Poderia dizer que é o restabelecimento da função autêntica e legítima da escola, levando em conta o conhecimento que o aluno já possui, pois, pressupõe-se que a partir disso use seu potencial para aprender e possa sentir prazer na descoberta. O professor deve direcioná-lo na conquista de novos conhecimentos, criar condições para que o mesmo exercite o seu conhecimento lógico sem querer que ele se enquadre em um padrão de comportamento considerado ideal, contribuindo desta forma, para o crescimento do seu interesse. Devemos ter em mente que, o aluno atual não é mais aquele que deve permanecer estático e calado. Ele é participativo. Deste modo, o educador tem um importante papel: o da “negociação” entre ele e seus alunos, pois segundo Perrenoud (2000), a relação com o saber pode ser redefinida na classe, graças a uma verdadeira negociação entre professor e alunos, o que requer do professor a vontade de ouvi-los, de ajudá-los a formular seus pensamentos e de ouvir suas declarações. Portanto, a competência e a vontade de desenvolver o desejo de saber e a decisão de aprender nos alunos encontram-se no centro do ofício do professor, isto é, de envolver os alunos em suas aprendizagens e em seu trabalho. 2.5 A afetividade na relação professor-aluno Através de leituras e trabalhos que fiz no decorrer do curso do PROESF sobre a questão da afetividade na relação professor-aluno nas disciplinas de “Pensamento Psicológico e Educação” e “Educação da Criança de 0 a 6 anos”, e da própria reflexão que estou fazendo neste trabalho, quando me refiro à afetividade na relação professor-aluno, quero validar a importância de uma prática pedagógica que seja participativa e libertadora. 24 Tão importante quanto saber desenvolver uma prática pedagógica é saber o que significa. “É um processo resultante de um conjunto de relações entre pessoas, num contexto social concreto”. (Brandão, 1981) Concordo com esta citação de Brandão, pois é preciso conhecer quem é o sujeito do processo pedagógico e quais os objetivos desta prática que necessita ser flexível e adaptada às características e conhecimento dos alunos para a aprendizagem. O insucesso de um número expressivo de alunos, em diferentes momentos de suas vidas, é um fato público e notório. Ainda que possam atribuir possíveis justificativas sociais, econômicas, biológicas, inclusive familiares para o fenômeno, quase nunca o fracasso escolar é atribuído ao professor. Este parece desconhecer sua importância para o sucesso ou insucesso do seu aluno, sendo que o relacionamento entre professor e o aluno pode estimular a criatividade, a curiosidade e a dúvida, pois, o ser humano, age movido pelo desejo para suprir sua carência. Tendo o seu “eu” definido, o ser humano poderá construir resultados satisfatórios. Pensando no aluno, este desejo poderá ser estimulado a partir do acolhimento do professor que estará incluindo-o dentro do seu círculo de inter-relações e, assim, ficará, certamente, mais fácil direcionar o processo de ensino-aprendizagem. Diante desta situação, tenho a preocupação, como já disse anteriormente, em manter uma atitude de neutralidade, na tentativa de não demonstrar preferências ou antipatias por este ou aquele aluno, e recordo-me muito bem, que esta problemática ficava sempre bem clara para mim, em nossas aulas no PROESF, quando as alunas falavam de seu alunado e do cuidado que tinham ao tratar desta questão. Do ponto de vista formal, esta relação afetiva entre professor-aluno não demonstra novidade ou até apresenta-se fraca e com pouca significância, 25 importando apenas o fato de o professor, dentro da sala de aula, ser somente um transmissor dos padrões culturais e o responsável pela avaliação de algumas qualidades sociais importantes para o aluno. No entanto, sabemos que a relação professor-aluno não se limita apenas à transmissão e recepção de conhecimentos. Existe um envolvimento de ambos os lados, onde as relações de cada um no grupo e o contato com o outro contribuem para a interação entre o sujeito e o mundo, sendo que é nesta relação que se dá o processo de humanização e de construção de conhecimento. É essa relação afetiva, geralmente inconsciente, mas marcante para o aluno, que quero enfatizar, além de caracterizar a importância de uma relação professoraluno mais construtiva para que ocorra a aprendizagem de forma mais significativa. Neste contexto, na verdade, é pela somatória das diversas formas de atuação, durante as atividades pedagógicas, que o professor vai qualificando a relação que se estabelece entre o aluno e os diversos objetos de conhecimento. Portanto, nesse processo de inter-relação, o comportamento do professor em sala de aula, através de suas intenções, crenças, seus valores, sentimentos, desejos, afeta cada aluno individualmente. Sendo assim, é o vínculo afetivo que se estabelece entre o professor e os alunos que se constrói, a partir de experiências e vivências, que faz emergir a afetividade no grupo, fortalecendo e aprofundando as relações. 26 Capítulo III: O ASPECTO AFETIVO NO PROCESSO ENSINO APRENDIZAGEM NA VISÃO DE PIAGET, VYGOTSKY E WALLON Neste capítulo, através das contribuições que as aulas de Teoria Pedagógica e Produção em Língua Portuguesa que tive no primeiro semestre do PROESF e das aulas de Pensamento Psicológico e Educação cursada por mim no terceiro semestre do PROESF, abordarei as reflexões acerca da afetividade na visão de autores como Piaget, Vygotsky e Wallon, que afirmam que não se pode separar o afetivo do cognitivo, pois ambos se completam. Piaget enfatiza o respeito unilateral da criança pelo adulto. O respeito mútuo, de fundamental importância para a criança, deve ser trabalhado em exercício de cooperação, na convivência em grupo, a partir da experiência histórica de cada uma de seu nível de desenvolvimento. São, segundo ele, os esquemas afetivos, construídos na inter-relação da criança com o meio, que irão formar o caráter da criança, e o sentimento de respeito que a criança nutre em relação a outras pessoas. Wallon, interessado em compreender o psiquismo humano, se debruçou sobre a dimensão afetiva, criticando vorazmente as teorias clássicas contrárias entre si, que concebem as emoções ou como reações incoerentes e tumultuadas, cujo efeito sobre a atividade motora e intelectual é perturbador, ou como reações positivas, cujo poder sobre as ações é ativador, energético. Criticando tais concepções pautadas, Wallon rompe com uma visão valorativa das emoções, buscando compreendê-las a partir da apreensão de suas funções, e atribuindo-lhes 27 um papel central na evolução da consciência de si. Em suas postulações concebe as emoções como um fenômeno psíquico e social, além de orgânico. Vygotsky também tematizou as relações entre afeto e cognição, postulando que as emoções integram-se ao funcionamento mental geral, tendo uma participação ativa em sua configuração. Reconhecendo as bases orgânicas sobre as quais as emoções humanas de desenvolvem, Vygotsky buscou no desenvolvimento da linguagem, sistema simbólico básico de todos os grupos humanos, os elementos fundamentais para compreender as origens do psiquismo. Produto e expressão da cultura, a linguagem configura-se, na teoria de Vygotsky, como um lugar de constituição e expressão dos modos de vida culturalmente elaborados. Pode-se então concluir que, para a prática pedagógica, as teorias de Piaget, Vygotsky e Wallon contêm elementos comuns que são indispensáveis para o desenvolvimento do ensino-aprendizagem. 3.1 Uma leitura Piagetiana da afetividade nas relações professor-aluno Segundo a bagagem teórica e reflexões acerca deste autor adquirida ao longo do curso do PROESF, no qual com certeza refletiu significativamente em minha prática pedagógica em sala de aula, Piaget nos adverte sobre o fato de que, apesar de diferentes em sua natureza, a afetividade e a cognição são inseparáveis, indissociadas em todas as ações simbólicas e sensório-motoras. Ele diz que toda ação e pensamento comportam um aspecto cognitivo, representado por uma energética que é a afetividade. Em uma das aulas de Pensamento Psicológico e Educação, algo que marcou muito para mim enquanto educadora, foi uma fala da nossa assistente pedagógica 28 no qual dizia que, segundo Piaget, o afeto é energia necessária (a motivação) para o desenvolvimento cognitivo e que a afetividade influi na construção do conhecimento de forma essencial. Deste modo, para ele, não existem estados afetivos sem elementos cognitivos, assim como não existem conhecimentos puramente cognitivos. Esta questão fez-me refletir e reportar-me para minha sala de aula e compreender o porque de algumas crianças gostarem de determinado conteúdo e fazerem progressos mais rápidos, enquanto outras não gostavam, avançavam mais devagar, ou nem sequer avançavam. Em seus estudos, Piaget descreveu cuidadosamente o desenvolvimento afetivo e cognitivo, do nascimento até a vida adulta, centrando-se na infância. Concluiu que, com suas capacidades afetivas e cognitivas expandidas através da contínua construção, as crianças tornam-se capazes de investir afeto e ter sentimentos validados nelas mesmas. Deste modo, ao pesquisar o comportamento da criança, Piaget levou em consideração suas fases de desenvolvimento, cuja compreensão é importante para se entender o desenvolvimento afetivo no processo de aprendizagem, na relação conflitante entre professor e aluno. No período Sensório-Motor, de impulsos e reflexos instintivos, o recém nascido busca alimentação e libertação de desconfortos. Piaget diz ser uma fase egocêntrica. Até mais ou menos um ano e meio, não há sentimento pelo adulto. É a fase do desenvolvimento moral de anomia. Nesta fase, o sentimento forte que começa a se desenvolver no relacionamento entre a criança e os seus tutores é o afeto. Este sentimento é fundamental para a formação futura do respeito. 29 É no segundo ano de vida, que a criança começa a usar os sentimentos para alcançar os fins e experimenta “sucessos” e “fracassos” do ponto de vista afetivo. “O investimento do afeto em outras pessoas é o primeiro passo do desenvolvimento social’” (WARDSWORTH, 1995: 40). Os primeiros sentimentos sociais surgem durante o estagio Pré-Operacional, representados pela falta e pela representação de imagens das experiências vividas, como as afetivas. Durante este estágio, tendo capacidade de reconstruir o passado cognitivo e afetivo, o comportamento e os sentimentos da criança se tornam mais conscientes na medida em que o desenvolvimento avança. Junto com os conceitos cognitivos e afetivos, a criança, desenvolve a compreensão infantil das regras e dos conceitos morais. Para Piaget, o desenvolvimento do raciocínio moral é uma conseqüência do desenvolvimento cognitivo e afetivo e, durante o estagio PréOperacional, o raciocínio moral é visto como pré-normativo, isto é, baseia-se na obediência à autoridade mais por medo do que por respeito mútuo. Já no estágio das Operações Formais, o desenvolvimento afetivo emerge das mesmas fontes do desenvolvimento cognitivo e das estruturas intelectuais. Na adolescência, o desenvolvimento afetivo é marcado pelo desenvolvimento dos sentimentos idealistas e a continuação da formação da personalidade. Para Piaget (1995: 122), “(...) das principais diferenças afetivas entre o pensamento do adolescente e do adulto reside no fato de que inicialmente (...), o adolescente aplica o critério da pura lógica nos julgamentos dos eventos humanos”. É aí que começa a aparecer a capacidade de raciocinar sobre, de refletir sobre o próprio pensamento. E, se motivadas, as crianças, com raciocínio formal, podem pensar tão logicamente quanto adultos. 30 O importante é entender que no decorrer de todo processo de desenvolvimento, a afetividade é como uma “energia” que impulsiona as ações, ficando claro, no caso da escola, a importância da relação entre professor e aluno, de modo que ambos convivam em um ambiente de harmonia, e que a aprendizagem, assim, possa fluir com mais facilidade, havendo maior rendimento e maior interação entre ambos. O desenvolvimento da inteligência permite, sem duvida, que a motivação possa ser despertada por um número cada vez maior de objetivos ou situações. Todavia, ao longo desse desenvolvimento, o princípio básico permanece o mesmo: a afetividade é a mola das ações, e a razão está ao seu serviço (LA TAILLE, 1992: 65). Deste modo, o dualismo afetividade/razão é fácil de ser compreendido quando os dois termos são entendidos como complementares: a afetividade seria a energia, o que move a ação, enquanto a razão seria o que possibilitaria ao sujeito identificar desejos, sentimentos variados, e obter êxito nas ações. Diante de tais reflexões, cabe ao professor investigar e conhecer mais particularmente o seu aluno e, ao longo de sua formação, não deixar que se acumulem questionamentos em relação ao indivíduo como um todo. Para Seber (1997), mesmo que o aspecto cognitivo seja mais estudado, mais questionado por explicar a construção da inteligência, não se deve deixar de considerar que “(...) as construções intelectuais são permeados passo a passo pelo aspecto afetivo e que ele é muito importante” (p. 216). Ainda segundo Seber (1997), nesta perspectiva, o relacionamento entre professor e aluno deve ser de amizade, de troca de solidariedade, de respeito mútuo, enfim, não se concebe desenvolver qualquer tipo de aprendizagem, em um ambiente hostil. Mas não devemos esquecer que o respeito que a criança tem pelo adulto é unilateral, dando origem a dois sentimentos distintos: o afeto e o medo; mas simultaneamente percebidos pela criança quando envolvidas em situações 31 resultantes das suas “desobediências”. Na compreensão de Piaget, é da existência desses dois sentimentos que surge o respeito unilateral. Como exemplo, ele diz que uma criança não irá desobedecer as ordens do irmão a quem tem afeto, se por ele não sentir também um pouco de medo; assim como não respeitará um adulto que tenha medo, se por ele não houver algum sentimento de estima. Por isso é que, para Piaget, se houver afetividade há possibilidade de pôr em prática o respeito mútuo, tão necessário para o desenvolvimento das relações pessoais em qualquer que seja o meio humano e, através dele, a aprendizagem flui com mais facilidade. Deste modo, é comum que professores intervenham na relação dinâmica entre as crianças, mas, dificilmente encorajam-nas mostrando confiança em sua capacidade de chegarem a um acordo, a uma decisão, demonstrando, para isso, afeto e segurança na sua intervenção. É importante que o professor demonstre afeto e compreensão, principalmente quando a criança se mostra angustiada. A confiança na sua capacidade de enfrentar o trabalho é indispensável. Já a utilização de muitos elogios irá estabelecer uma falsa confiança do adulto diante da capacidade da criança vir a compreender verdadeiramente o que aprende, reforçando mais ainda sua insegurança. Neste caso, quando acontece a aprendizagem, esta é superficial e mecânica, a criança passa a realizar suas atividades em função das recompensas que poderá receber. Neste sentido, vemos que aprender também implica esforço em lidar com as frustrações do não-saber. Não adianta poupar a criança, mas enquanto educador, fazer-lhe solicitações constantes, encorajá-la, desafiá-la com afeto a lidar com situações, que muitas vezes lhe são penosas e desagradáveis. Rangel, 1992 diz que: 32 Acreditamos que a escola deve se ocupar com seriedade com a questão do "saber", do "conhecimento". Se um professor for competente, ele, através do seu compromisso de educar para o conhecimento, contribuirá com a formação da pessoa, podendo inclusive contribuir para a superação de desajustes emocionais. (p. 78) Neste sentido, a prática educativa, na escola, deve primar pelas relações de ensino-aprendizagem, proporcionar situações que lhe dêem prazer de construir conhecimento, de crescer junto com o outro. Não há mais espaço para uma educação individualista, quer seja do ponto de vista do aluno ou do professor. A educação, hoje, está centrada na relação sujeito-meio, na dinâmica das trocas de ações que viabilizam a formação de personalidades que se fortalecem enquanto co-participantes de um grupo e como produtos do seu saber. Sendo assim, segundo Wadsworth (1995), um dos importantes determinantes do comportamento dos professores em relação ao desempenho dos alunos, é sua forma de interpretar o fenômeno da educação. Quando o professor interpreta a inteligência do ponto de vista de sucesso na escola como “determinada”, não há porque se empenhar em favor do aluno que tenha rendimento baixo na sala de aula. Mas, quando o professor entende a inteligência como um processo de desenvolvimento, irá motivar e auxiliar seu aluno de baixo desempenho. É importante saber que, as práticas de ensino dos professores são decorrentes do modo como eles interpretam os conceitos de inteligência e aprendizagem. Essa idéia também é confirmada por Rosenthal e Jacobson, citados por Wadsworth (1995: 162), quando afirmam que: “(...) a concepção dos professores tem muito a ver como e quando se aprende e com quem se aprende em sala de aula”. Piaget diz que, pela reciprocidade, ocorre a descentração afetiva que leva aos sentimentos e à vida moral. O amor é mutuo e duradouro e há reciprocidade com uma outra pessoa, quando se tem os mesmos interesses ou valores. Trazendo para a escola, percebemos que se não houver, entre professor e aluno, interesses 33 comuns, dificilmente haverá um bom desenvolvimento na aprendizagem. Se não houver, por parte do professor, respeito aos valores sociais que vão diferenciar de aluno, dificilmente haverá respeito, compreensão, amizade ou qualquer outra forma de relação que possa colaborar com o desenvolvimento da aprendizagem do aluno, objetivo fim de uma escola. Faria (1989) confirma esse pensamento quando diz “que o sucesso ou fracasso de uma ação do sujeito influencia suas seguintes: o sucesso conduzindo à confiança e o insucesso à desconfiança, antes mesmo do processo de socialização.” (p. 73) A escola, portanto, deve dar ênfase a questões como a interação social, o desenvolvimento moral-afetivo, como elementos fundamentais no processo de construção de pensamento, durante o processo ensino-aprendizagem. Nesta perspectiva, é necessário insistir no papel do professor: ele é um profissional educador de fato, se comprometido não só com a construção do conhecimento do aluno, mas deste como um todo. Um professor que saiba viabilizar, entre seus alunos, as trocas necessárias ao exercício de cooperações que irão sustentar o desenvolvimento de personalidades autônomas no domínio cognitivo, moral, social e afetivo. 3.2 Afetividade no processo de Formação de Conceitos segundo Vygotsky Antes de falar em Vygotsky, gostaria de contar como o conheci e o porquê deste autor fazer parte do meu memorial. Comecei a conhecer Vygotsky no primeiro semestre do curso de Pedagogia na Unicamp-PROESF na disciplina de Teoria Pedagógica e Produção em Língua Portuguesa. Algo que me chamou a atenção para este autor, foi que o mesmo 34 evidenciava o papel das interações sociais além da linguagem, para o desenvolvimento humano e enfatizava em seus estudos, a íntima relação entre afeto e cognição, dizendo que esses dois aspectos do ser humano não podiam dissociarse. Deste modo, ao escolher o eixo Afetividade para meu trabalho, recordei-me o que havia estudado sobre Vygotsky e também lembrei-me de um ensaio que escrevi na disciplina de Pensamento Psicológico e Educação, no terceiro semestre do curso, sobre Afetividade na sala de aula, no qual as teorias de Vygotsky e seus pensamentos contribuíram para a realização do mesmo. Recordo-me ainda, que em um dos parágrafos que escrevi e, marcou muito para mim, foi que, de acordo com Vygotsky, o ponto de partida para a aprendizagem deve ser aquilo que a criança já sabe, levando-a entrar no caminho da análise intelectual, da comparação, da unificação e do estabelecimento de relações lógicas. Por isso, este autor teve um papel fundamental na minha formação e carreira profissional, pois concordo com o que diz em relação a aprendizagem, onde esta depende das características individuais de cada aluno, correspondendo em grande parte às experiências que viveram que com certeza, variam em forma e ritmo, em vista de suas capacidades, motivações e interesse pessoais e também das pessoas que convivem com eles. Sendo assim, hoje, procuro tornar o processo de aprendizagem o mais prazeroso possível, fazendo com que meus alunos possam assumir a aprendizagem como uma responsabilidade individual mas compartilhada comigo enquanto professora, procurando garantir também, um relacionamento afetivo e significativo com a aprendizagem, relacionando o máximo possível, o conteúdo previsto no planejamento a assuntos interessantes e pertinentes, pois acredito muito mais em minha capacidade de interferir nas condições de ensino, de forma a valorizar os 35 conhecimentos que meus alunos trazem incorporando-os às atividades cotidianas, dessa forma dando significado aos conteúdos estudados. Agora, gostaria de escrever o proposto neste capítulo, por meio da reunião de informações que obtive através dos textos lidos e discutidos de Vygotsky no PROESF e em textos de outros autores sobre seu trabalho, uma compreensão de suas colocações a respeito da afetividade no funcionamento psicológico do ser humano. Os aspectos mais difundidos e explorados na abordagem vygotskiana são aqueles referentes ao funcionamento cognitivo: a centralidade dos processos psicológicos superiores no funcionamento típico da espécie humana; o papel dos instrumentos e símbolos, culturalmente desenvolvidos e internalizados pelo indivíduo, no processo de mediação entre sujeito e objeto de conhecimento; as relações entre pensamento e linguagem; a importância dos processos de ensinoaprendizagem na promoção do desenvolvimento; a questão dos processos metacognitivos. Algo interessante de se notar, é que Vygotsky nunca usou o termo ‘cognição’. Os termos utilizados por ele para designar processos que denominamos cognitivos são “funções mentais” e “consciência”. Vygotsky, segundo o que aprendi no PROESF nas disciplinas citadas anteriormente, usava o termo ‘função mental’ para referi-se a processos como pensamento, memória, percepção e atenção. Ele fez uma distinção básica entre ‘funções mentais elementares’, como atenção involuntária, e funções mentais superiores, como atenção voluntária e memória lógica. Para ele, essas duas funções, especialmente as funções mentais superiores, não tem como compreendêlas isoladamente. Sua verdadeira essência é serem inter-relacionadas com outras 36 funções. Essa ênfase na interfuncionalidade reflete-se especialmente na sua compreensão do termo ‘consciência’. A organização dinâmica da consciência aplicase ao afeto e ao intelecto. Os processos pelos quais o afeto e o intelecto se desenvolvem, estão inteiramente enraizados em suas inter-relações e influências mútuas. Encontra-se assim, nos próprios termos utilizados por Vygotsky, um questionamento da divisão entre as dimensões cognitiva e afetiva do funcionamento psicológico. Há pressupostos em sua teoria que delineiam uma posição básica a respeito do lugar do afetivo no ser humano, onde o mesmo se opõe a qualquer separação das dimensões humanas como corpo/ alma, mente/ alma, pensamento/ linguagem e ao estudo dos elementos isolados do todo, propondo a busca de unidades de análise que mantenham as propriedades da totalidade. Podemos compreender melhor esta questão, quando Vygotsky (1989), diz que: A análise em unidades indica o caminho para a solução desses problemas de importância vital. Demonstra a existência de um sistema dinâmico de significados em que o afetivo e o intelectual se unem. Mostra que cada idéia contém uma atitude afetiva transmutada com relação ao fragmento de realidade ao qual se refere. Permite-nos ainda seguir a trajetória que vai das necessidades e impulsos de uma pessoa até a direção específica tomada por seus pensamentos, e o caminho inverso, a partir de seus pensamentos até o seu comportamento e a sua atividade. (p. 6-7) Por isso, reafirmo dizendo que as idéias de Vygotsky são imprescindíveis ao embate teórico ao qual proponho neste capítulo, de forma tal, a constituir-se a importância inegável à apreciação da temática em curso. Nesse sentido, julgo importante mencionar que Vygotsky dizia que, um dos principais defeitos da psicologia tradicional é a separação entre os aspectos intelectuais, de um lado, e os volitivos e afetivos de outro, propondo a consideração da unidade entre esses aspectos. Assim, Vygotsky defende a tese de que diferentes culturas produzem modos diversos de funcionamento psicológico e busca romper 37 com as teses que relativizam o papel que a afetividade detém para a promoção do desenvolvimento psico-social do homem, colocando-a independentemente de especificidades culturais. Para ele, existe a necessidade do reconhecimento de que a afetividade possui um caráter de ação volitiva1 que norteia toda atividade humana. Sendo assim, Vygotsky diz que, qualquer que seja a forma do pensamento – representações afetivas, imaginação, fantasia ou o pensamento lógico – ele tem em sua base uma emoção. No final do livro Pensamento e Linguagem (1987) escreve: “O pensamento propriamente dito é gerado pela motivação, isto é, por nossos desejos e necessidade, nossos interesses e emoções. Por trás de cada pensamento há uma tendência afetivo-volitiva, que traz em si a resposta ao último “por que” de nossa análise do pensamento. Uma compreensão plena e verdadeira do pensamento de outrem só é possível quando entendemos sua base afetivo-volitiva.” (p. 129) A imaginação e a fantasia estão, para Vygotsky a serviço da emoção; mesmo que sua expressão apareça muitas vezes como pensamento lógico, a finalidade e a direção são dadas pela emoção. No processo de apropriação da cultura, com a internalização da linguagem, as relações entre as funções psicológicas alteram-se. As formas mais adaptadas de comunicação vão esculpindo a emoção, tornando-a mais encoberta e mediada pela linguagem. Deste modo, a exploração do lugar afetivo na obra de Vygotsky (1987), propõe uma abordagem unificadora das dimensões afetiva e cognitiva do funcionalismo psicológico, explicitada em suas palavras: “Quando associado a uma tarefa que é importante para o indivíduo, quando associado a uma tarefa que, de certo modo, tem suas raízes no centro da personalidade do indivíduo, o pensamento realista dá vida a experiências emocionais muito mais significativas do que a imaginação ou o devaneio. Consideramos, por exemplo, o pensamento realista do revolucionário ao contemplar ou estudar uma situação política complexa. Quando consideramos um ato de pensamento relativo à resolução de uma tarefa de importância vital para a personalidade, torna-se claro que as conexões entre pensamento realista e as emoções são freqüentemente muito mais profundas, fortes, impulsionadoras e mais significativas do que as conexões entre as emoções e o devancio.” (p. 348) 1 Ação volitiva: ato que há determinação de vontade, segundo consulta ao Dicionário Aurélio. 38 3.3 Wallon: a teoria da emoção Este autor, através de leituras que realizei indicadas a meu pedido pela assistente pedagógica da disciplina de Pensamento Psicológico e Educação quando desenvolvi um trabalho sobre afetividade, me trouxe contribuições significativas acerca desta temática tanto como aluna do PROESF como também enquanto profissional da educação, me trazendo uma compreensão mais ampla acerca da inteligência e afetividade estarem integradas, onde a evolução da afetividade depende das construções realizadas no plano da inteligência, assim como a evolução da inteligência depende das construções afetivas. Deste modo, as teorias de Wallon me fizeram compreender também que, se a necessidade de se trabalhar com a afetividade com meus alunos é primordial, mesmo que esta não seja explícita como componente curricular, para que a aprendizagem seja concretizada, faz-se necessário então, uma integração dos saberes com possibilidades de desenvolver a cognição no campo das relações interpessoais, com o campo dos sentimentos e os problemas que se fazem surgir cotidianamente nas escolas, negando-se a dicotomia afeto/cognição, pois sabemos que o afeto é indispensável na atividade de ensinar. Sendo assim, vemos que a afetividade é um tema central na obra de Henri Wallon. Sua posição a respeito da importância da afetividade para o desenvolvimento da criança é bem definida. Na sua opinião, ela tem papel imprescindível no processo de desenvolvimento da personalidade. Há que se destacar que, de todas as manifestações afetivas, a emoção é a mais explorada por Wallon, onde o autor analisa a emoção em sua gênese, apresentando as modificações que sucedem desde o seu aparecimento até o estágio personalista. Para ele, a emoção é uma forma de exteriorização da 39 afetividade que evolui, como as demais manifestações, sob o impacto das condições sociais. É interessante perceber a relação complexa entre a emoção e o meio social, particularmente, o papel da cultura na transformação das suas expressões. Se por um lado, a sociedade especializa os meios de expressão da emoção, transformando-os em instrumentos de socialização, por outro lado, essa especialização tende a reprimir as expressões emocionais. As formas de expressão tornam-se cada vez mais socializadas, a ponto de não expressarem mais o arrebatamento característico de uma emoção autêntica. Na historia da humanidade, a emoção foi responsável pela agregação dos indivíduos; como afirma o autor, nas emoções “se baseiam as experiências gregárias, que são forma primitiva de comunhão e de comunidade.” (1994 p. 127) As emoções revelam-se como o elo entre o indivíduo e o ambiente físico, tanto quanto entre o indivíduo e outros indivíduos. Estes laços interindividuais se iniciam nos primeiros dias de vida e se fortalecem a partir das emoções, antes mesmo do raciocínio e da intenção. Falar de afetividade na relação professor-aluno na perspectiva Walloniana, é falar de emoções, disciplina, postura, do conflito eu-outro, uma constante na vida da criança em todo o meio de qual faça parte — seja a família, a escola ou outro ambiente que ela freqüente. Para o autor, a teoria sobre emoções tem base mecanicista e difíceis de serem compreendidas. Primeiro, ele as vê no indivíduo como reações incoerentes e tumultuadas e, em segundo lugar, destaca o poder ativador que têm as emoções, consideradas por ele positivas. “O estudo da criança exigiria o estudo do/ou dos meios onde ela se desenvolve. É impossível de outra forma determinar exatamente 40 o que é devido a esta e o que pertence ao seu desenvolvimento espontâneo.” (WALLON, 1982 : 189) Com isso, o autor quer dizer que a sociedade intervem no desenvolvimento psíquico da criança, através de suas repetidas experiências e das dificuldades para ultrapassá-las, já que ela, diferentemente dos outros seres vivos, depende por muito tempo de seus semelhantes adultos. O recém-nascido, por exemplo, não consegue diferenciar-se do outro nem mesmo no plano corporal. Essa diferenciação começa no primeiro ano de vida pela interação com os objetos e seu próprio corpo. É essa construção do eu corporal que dá condição à formação do seu psíquico chamado, por Wallon, de estágio personalista. A dimensão afetiva, é de fundamental importância para Wallon, seja do ponto de vista da construção da pessoa, como do ponto de vista do conhecimento, sendo, portanto, marcante para o desenvolvimento da espécie humana e se manifesta a partir do nascimento e estende-se pelo primeiro ano de vida da criança. Wallon explica que uma criança normal, quando já está se relacionando afetivamente bem com o seu meio ambiente, em particular com sua mãe, sente necessidade de ser objeto de manifestações afetivas para que, assim, seu desenvolvimento biológico seja perfeitamente normal. (DANTAS, 1992:85) No terceiro ano de vida, acontece uma reviravolta nas condutas das crianças e nas suas relações com o meio o qual é de suma importância para a existência da criança e que Wallon acredita haver desde o período fetal, prolongando-se além do nascimento. É nesta fase que se iniciam os conflitos interpessoais, onde a criança opõe-se à tudo que julga diferente nela, que venha de outro. O conflito eu-outro não é excluso do estágio da formação do eu, que o autor chamou de personalista; pois surgirá uma nova crise de oposição no período 41 da adolescência, crise essa necessária para a re-construção da personalidade, sendo, na sua opinião, um importante recurso para a diferenciação do eu. Assim, vemos que para Wallon, a afetividade não é apenas uma das dimensões da pessoa: ela é também uma fase do desenvolvimento, a mais arcaica. O ser humano foi, logo que saiu da vida orgânica, um ser afetivo. Da afetividade diferenciou-se, lentamente a vida racional. Portanto, no inicio da vida, afetividade e inteligência estão sincreticamente misturadas, com o predomínio da primeira. A sua diferenciação logo se inicia, mas a reciprocidade entre os dois desenvolvimentos se mantém de tal forma que as aquisições de cada uma repercutem sobre a outra permanente. “(...) a afetividade depende, para evoluir, de conquistas realizadas no plano da inteligência, e vice-versa.” (Dantas, 1992:90) Verificamos no dia-a-dia que quando a criança está na idade da escola maternal, dos 3 aos 5 anos, sua maneira de agir vai corresponder a princípios afirmados em etapas anteriores tais como descritas por Wallon, princípios estes necessários para evitar crises penosas nas quais a maturação da criança, o eu psicobiológico podem fazê-la passar. Para o autor, é na escola maternal, que a criança começa a se emancipar da vida familiar. Nesse período, é necessário disciplina para que a criança seja feliz, uma disciplina de ordem maternal, diferente da que virá receber mais tarde na escola. É necessário, também, que haja relações de ordem pessoal entre ela e seu educador, quase que de ordem maternal. Na fase dos 6 aos 7 anos, ainda segundo Wallon, a educação se torna obrigatória e a criança não mais pertence unicamente ao grupo familiar pois passa a fazer parte de grupos diferentes, o que caracteriza a fase da socialização. Nesta fase, o professor tem papel importante para essas novas formas de relações, 42 desenvolvendo na criança o espírito de cooperação e solidariedade através das tentativas de trabalho em equipe. No caso da criança, no qual entre ela e o objeto a conhecer existe um mediador, geralmente na pessoa de um adulto que ensina, a calidez da veiculação afetiva entre eles catalisa poderosamente a reação que resulta na apreensão do objeto pelo sujeito. (DANTAS, 1997:68) O professor deve ainda ter consciência de sua responsabilidade, precisa tomar decisões de acordo com seu tempo, decisões pensadas, com fundamento na instrução recebida, e de acordo com os valores morais e as relações sociais pertinentes à sua época. Suas decisões devem ser tomadas solidariamente com seus alunos, respeitando é claro a faixa etária dos mesmos, conhecendo assim suas condições de vida social e familiar. O professor, ao observar seus alunos e sua individualidade, modifica suas próprias idéias em conformação com a realidade, que é móvel e dependente da existência de todos, e que também deve visar ao interesse de cada um. Não podemos esquecer que a disciplina é necessária para se evitar as futuras perturbações de caráter, mas que tem, na sala de aula, um espaço adequado para ser trabalhada. Não estamos falando daquela disciplina na concepção tradicional, ainda usada nas escolas, que exige o silêncio, docilidade e passividade da criança, pois entendemos que este procedimento é impróprio ao ensino, podendo reprimir a criança ao invés de desenvolvê-la melhor. A maioria das tarefas, na escola, exige que a criança fique sentada, parada, com atenção numa única direção. Segundo Galvão (1995): A postura para o cumprimento de tais tarefas exige muito controle, que advém de um “tardio e custoso processo de consolidação das disciplinas mentais (...) a intensidade com que a escola exige estas condutas é superior às possibilidades da idade, o que propicia a emergência de dispersão e impulsividade (...). (p. 109) É equivocado pensar-se em um padrão de postura que garanta toda atenção em qualquer atividade, pois, muitas vezes, são as variações da posição do 43 corpo que propiciam melhor e maior atenção na atividade que a criança está realizando. Percebe-se, ao longo do desenvolvimento da criança, que uma série de fatores contribuem para sua formação enquanto ser social. Refletir sobre tudo isso, faz parte do processo pedagógico de cada um de nós professores-educadores comprometidos com o desenvolvimento psico-social do indivíduo. Portanto, convém ressaltar que, a escola, na figura do professor, precisa compreender o aluno e seu universo sócio-cultural. Conhecer esse universo é de grande eficácia para o trabalho do professor que atua no plano universal, cultural e pessoal, já que existem, para a espécie humana, processos mentais próprios, mas que podem variar de acordo com as culturas nacionais, regionais, e até em momentos históricos específicos. Por isso, concordo com as contribuições de Wallon trazidas por Dantas (1997), quando afirmam que a escola comete erros porque desconhece as características do funcionamento da mente humana em suas fases de desenvolvimento; erra por não conhecer conteúdos culturais que possam contextualizar concretamente os alunos, e erra ainda, por desconhecer as histórias de vida de cada um. Não que seja suficiente conhecer seu universo cultural, mas certamente indispensável. 44 Capítulo IV: A LDB, JUNTO A EDUCAÇÃO BRASILEIRA Os enfoques e as discussões que aqui abordo, provenientes das mudanças sociais num contexto globalizado requerem da educação novos rumos e diretrizes para que o conhecimento atinja todas as crianças, oferecendo o acesso à educação, democratizando assim a escola brasileira dentro dos princípios da cidadania e da criticidade, oferecendo não apenas o conhecimento, mas também a inclusão e a dignidade para todos os educandos sem distinção de raça, cor ou credo. A Conferência Mundial de Educação para Todos, em Jomtien, na Tailândia, convoca alguns órgãos internacionais e junto à Declaração de Nova Delhi, os nove países de maior desenvolvimento mundial, formulam novas diretrizes para a educação ampliando as oportunidades de aprendizagem para crianças, jovens e adultos. A partir desta Conferência , o Brasil, atento às modificações educacionais e em 20 de dezembro de 1996, a lei federal n.9.394, que estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional, consolida e amplia o dever do poder público para a educação e em particular para o Ensino Fundamentai que oferece estudos com caráter terminal e contínuo. Com estudos aprofundados realizados no PROESF, nas disciplinas de Avaliação e Política Educacional, vimos que a proposta da LDB é proporcionar a todos a formação básica para a cidadania, a partir de condições que possibilitem o aprendizado para o aluno dentro da instituição escolar desenvolvendo a capacidade de aprender a leitura, a escrita e os cálculos, a compreensão do ambiente natural, social e tecnológico, a aquisição de conhecimentos, habilidades e valores e o fortalecimento da família e dos laços de solidariedade. 45 Sobre esta perspectiva surge o início do processo da elaboração dos Parâmetros Curriculares Nacionais, conhecidos como PCNs. Eles constituem um referencial para a educação brasileira e têm a função de orientar e garantir a coerência dos investimentos no sistema educacional, levando a discussões, pesquisas e recomendações, subsidiando o professor através de uma proposta flexível, garantindo e respeitando as diversividades culturais, regionais, étnicas, religiosas e políticas, atuando no processo da construção da cidadania, respeitando os direitos e deveres baseados nos princípios democráticos brasileiros. Diante de tais discussões, vejo que a escola precisa ser um espaço tanto de formação como de informação, e que a aprendizagem de conteúdos possa favorecer a inserção do aluno no seu dia-a-dia, levando em consideração não somente o mundo em que ele vive, mas também que este aluno saiba fazer a leitura do mundo no qual está inserido. Assim, a escola deve criar condições para que todos os alunos desenvolvam suas capacidades sociais, políticas e culturais, garantindo à criança seu maior bem que é o conhecimento. 46 CAPÍTULO V: UM OLHAR SOBRE A EDUCAÇÃO BRASILEIRA Frente à problemática educacional ocorrida nas últimas décadas advindas da heterogeneidade social, econômica e cultural e o mundo todo caminhando para a globalização, inclusive o Brasil, a educação passa a ter um olhar preocupante e crítico, pois permeia a busca por um cidadão não apenas reprodutor, mas agente na busca por uma aprendizagem efetiva. Basta recordar que na década 80 tínhamos praticamente o mesmo conteúdo a ser ensinado. Os alunos eram mais ouvintes do que participativos e isto fazia com que a sala de aula se tornasse um ambiente praticamente silencioso. O trabalho era rendoso para a professora, os alunos entregavam todas as atividades tanto propostas em sala de aula quanto atividades extra classe. Essas atividades baseavam-se em conhecimentos gerais, produção de alguns textos sem muita diversividade, pois não se exigia leitura de mundo e os exercícios para trabalhar a área cognitiva baseavam-se nas atividades previstas em livros didáticos. A preocupação maior era o cumprimento do planejamento anual . O estudo do meio era conhecido como excursões e o principal objetivo era "passear". As avaliações tinham como objetivo avaliar o que o aluno sabia bimestralmente, e no caso de não atingir a média proposta pela escola, ele deveria ficar para recuperação e ao final do ano letivo, se os seus conhecimentos não fossem satisfatórios, a repetência certamente aconteceria. Porém, no início dos anos 90 a aprendizagem começa a abrir novos horizontes. Já não se pensa no aluno centrado somente em quantidade de conteúdo, porém, na riqueza do mesmo, ou seja, conhecimentos que ele aplica na 47 praticidade de sua vida, onde o professor, atento às mudanças e comprometido realmente com o ensino-aprendizagem, passou a estar mais atento para perceber se o conteúdo que estava ensinando era ou não tão diferente da vida cotidiana de seus alunos, passando a refletir mais sobre a contradição discurso x vivência. Neste período estamos bem longe da escola “militarizada” ou mesmo da escola tecnicista. Os alunos já não são os mesmos. Como experiência vivida, temos salas com alunos mais falantes, alunos mais interessados e críticos e também alunos desestimulados e muitos com seríssimos problemas de aprendizagem advindos também dos fatores social, econômico e cultural. Com todas essas mudanças a escola passa a ser preenchida com alunos de características muito diferentes e que já não se enquadram mais com a proposta pedagógica aplicada nas escolas. É preciso repensar a educação para que ela atinja os conhecimentos necessários para uma sociedade em transformação. Ao longo do nosso curso do PROESF, principalmente nas aulas de Política Educacional, frente a essa formação que compõe a escola, sempre abordamos temas e chegamos a conclusões que o professor precisa sempre estar buscando conhecimentos básicos que sejam eficazes para que a sala de aula seja um ambiente acolhedor, produtivo e sobretudo, para que as crianças sintam prazer sobre aquilo que fazem, pois o conhecimento adquirido por ela, vai em determinar um futuro promissor em que atuem como cidadãos capazes, participativos e críticos. Me recordo, no ano de 2002, de um aluno da 2ª série na sala para a qual lecionei, que possuía auto-estima muito baixa por ser repetente e se achar incapaz de aprender, onde, desta forma, havia um bloqueio impedindo sua aprendizagem. Os colegas zombavam dele, e quando indagado por mim, relatou que seus pais diziam a ele o mesmo, que não adiantaria de nada o estudo, pois iria trabalhar com 48 o pai que era catador de papelão nas ruas, sendo que os pais só o mandavam para a escola porque eram obrigados e tinham medo de serem denunciados ao Conselho Tutelar. Este depoimento, como muitos outros vivenciados e presenciados por nós educadoras, é inicialmente chocante, e é um desafio quando nos deparamos com tantas crianças desmotivadas e sobretudo com sua auto-estima praticamente destruída pelas inconseqüências geradas pela falta de cultura das próprias famílias. Este também foi um dos temas tão polêmicos debatidos e discutidos por nós alunas do PROESF durante os seis semestres que cursamos a Pedagogia. Vale a pena recordar Beane (Sorting out the self-esteem controversy: Educational Leadership, 1991, p.28), que diz: "auto- estima é um aspecto central da dignidade humana e, portanto, um direito humano inalienável. Como tal, as escolas e outros órgãos têm a obrigação moral de ajudar a construí-la e evitar sua debilitação." Assim, Beane (1991) sugere quatro princípios básicos para orientar os professores: Ser agradável é seguramente uma parte deste esforço, mas não é suficiente. Segundo, há lugar para alguma instrução direta em relações a questões afetivas, mas isso também não é suficiente. Auto-estima e afeto não são simplesmente uma outra matéria escolar a ser colocada em espaços de tempo rejeitados. Terceiro, o afeto negativo de políticas "inflexíveis" não é uma via promissora de auto-estima e eficácia. Isso simplesmente responsabiliza as crianças por problemas que, em grande parte, não são criados por elas. Quarto, visto que as autopercepções são poderosamente informadas pela cultura, comparar auto-estima entre culturas sem esclarecer diferenças culturais é perturbador e improdutivo. (p. 29-30) 49 CONSIDERAÇÕES FINAIS Diante do exposto no decorrer deste trabalho, vejo que a afetividade está presente em todas as principais decisões de ensino assumidas pelo professor, constituindo-se como fator fundante das relações que se estabelecem entre os alunos e os conteúdos escolares. Descobri que eu, enquanto educadora, conhecendo meus alunos e valorizando as relações que se dão no âmbito da sala de aula, sensibilizando-me aos anseios e interesses dos alunos, e valendo-me deles, posso hoje, depois das contribuições que o curso do PROESF me trouxeram, buscar soluções para que minhas aulas se tornem mais significativas, interessantes e motivadoras para meus alunos, o que certamente contribuirá para que haja um clima prazeroso em sala de aula em relação à aprendizagem. Deste modo, aprendi refletindo sobre meu próprio trabalho e sobre minhas vivências em sala de aula que é inegável a relevância do fator afetividade no desenrolar da prática pedagógica e, nesse sentido, não importam as estratégias que o educador disponha, e sim, o seu compromisso em envolver o educando, levando-o a perceber a aprendizagem adquirida também como conquista pessoal para uso nas situações cotidianas. Por isso, nós educadores, deveremos estar preparados para atender e desenvolver as necessidades afetivas de nossos alunos, que somente se efetivarão através de experiências extremamente afetivas das crianças com o professor e entre si, pois quem ama luta, mas sabe os motivos da luta e as armas necessárias para vencê-la. Quem ama repreende, mas com palavras corretas, no momento 50 correto e na medida correta. Quem ama sofre, mas um sofrimento que leva não ao desespero, e sim ao amadurecimento ao novo desafio: O eterno EDUCAR! 51 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALMEIDA, Ana Rita Silva. A emoção e o professor: um estudo à luz da teoria de Henri Wallon. Psicologia: Teoria e Pesquisa. V. 13, 1997. __________. A emoção na sala de aula. Campinas: Papirus, 1999. ALMEIDA, Lenita Maria Costa de. A afetividade do educador. Revista Cortez, 1982. ALVES, Rubem. Conversas com quem gosta de ensinar. 24ª ed. São Paulo: Cortez, 1982. AZANHA, José Mário Pires. Uma reflexão sobre didática. In alguns escritos sobre Educação Nacional, 1987. BEANE, James. Escola democrática. Tradução Dinah de Abreu Azevedo. Cortez, 1997. BOHOSLASKY, Rodolfo. Orientação Vocacional. A estratégia clínica. Martins Fontes LTDA, 1981. BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é Educação. Brasiliense, 1981. CHALITA, Gabriel. Educação: a solução está no afeto. 5ª ed. São Paulo: Gente, 2001. DANTAS, Heloysa. 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