Seminário de Iniciação Científica e Tecnológica, 10., 2013, Belo Horizonte Avaliação sazonal de fotossíntese e parâmetros fitotécnicos em tangerineiras apirênicas no Sul de Minas Gerais Victor Hugo Rodrigues Florêncio(1), Ester Alice Ferreira(2), Vânia Aparecida da Silva(2), Elisângela Aparecida da Silva(3), Helbert Rezende de Oliveira Silveira(4) (1) Bolsista PIBIC FAPEMIG/EPAMIG, [email protected]; FAPEMIG/EPAMIG - Lavras, [email protected]; Lavras, [email protected]; (3) (4) (2) Pesquisadoras/Bolsistas BIP Bolsista Pós-Doc CAPES/FAPEMIG/EPAMIG - Doutorando UFLA - Depto. Biologia INTRODUÇÃO A ‘Ponkan’ é a principal tangerineira plantada no Sul de Minas Gerais, uma das principais regiões produtoras do Estado. A alternância de produção e a colheita concentrada num período do ano são características marcantes que limitam a oferta e dificultam o planejamento na comercialização desta fruta (IBGE, 2011; SOUZA; LOBATO, 2001). As tangerinas sem semente podem ser uma alternativa para fortalecer a citricultura sul-mineira e torná-la mais competitiva no mercado. Além do diferencial de apirenia, possuem grande aceitação no mercado e podem ser produzidas em diferentes épocas do ano, possibilitando a comercialização nas janelas de mercado (OLIVEIRA et al., 2005; PIO, 2003). Dentre as cultivares introduzidas no Brasil, com potencial de cultivo na região destacam-se a tangerina ‘Okitsu’, de origem nucelar pertencente ao grupo das Satsumas e a ‘Clemenules’, (Citrus reticulata Blanco) que pertence ao grupo Clementina, sendo a mais cultivada nos principais países produtores de citros de mesa e otangor ‘Ortanique’, híbrido natural entre laranja doce e tangerina. Durante o processo de avaliação da adaptabilidade de cultivares numa dada região é importante conhecer as respostas das plantas às variações climáticas, nas oscilações de temperatura, precipitação e radiação solar que se diferem principalmente nas estações do ano. Neste contexto, os parâmetros fitotécnicos são indicativos do crescimento e desenvolvimento da planta, o que EPAMIG. Resumos expandidos 2 aliado à fotossíntese, um dos processos vitais do metabolismo da planta, são utilizados na avaliação da resposta das espécies vegetais às variações climáticas. Para respaldar o processo de identificação de cultivares de tangerineira adaptadas às condições do Sul de Minas Gerais, este trabalho teve como objetivo avaliar comparativamente a fotossíntese e parâmetros fitotécnicos no verão e outono, das cultivares Clemenules, Okitsu e Ortanique. MATERIAL E MÉTODO O experimento foi instalado na Fazenda Experimental Silvio Menecucci (FESM), pertencente à EPAMIG Sul de Minas. O local possui latitude de 21°21’19,39’’ S longitude 45°06’25,20’’; altitude de 960 m e temperatura média anual de 19,3 ºC. O solo da área experimental é do tipo Cambissolo e foi submetido à análise para correção de acidez e adubação que foi realizada em toda a área de acordo com os resultados e exigências da cultura. Antes do plantio, foi realizado o preparo do solo da área experimental com uma aração e duas gradagens. O plantio foi realizado em setembro de 2011 e as plantas foram dispostas no espaçamento 6 x 4 m, seguindo delineamento experimental de blocos casualizados com quatro repetições. O ensaio teve como tratamentos as cultivares: Clemenules, Okitsu, Ortanique, enxertadas sobre Poncirus trifoliata (L.) Raf., e as épocas do ano: verão e outono. As avaliações foram realizadas durante o primeiro ano de cultivo, nas respectivas estações, sendo: verão (9/3) e outono (19/5) pela taxa de assimilação de CO2 (A). Este dado foi medido entre 9 horas e 10 horas 30 minutos, sob luz saturante artificial (1.800 mmol/m2 • s), concentração de CO2 ambiente com um analisador de gás a infravermelho (IRGA) portátil (LICOR 6400, LICOR, Nebraska, USA), seguindo o método descrito por Vu et al. (1986). No mesmo aparelho foram obtidos os dados de déficit de pressão de vapor entre a folha e a atmosfera (DPV folha-atm), temperatura foliar (TF), temperatura do ar (TA) (°C) e radiação fotossinteticamente ativa (RFA). Seminário de Iniciação Científica e Tecnológica, 10., 2013, Belo Horizonte 3 Foram utilizadas oito folhas de cada cultivar (tratamento); completamente expandidas, localizadas no terço superior das plantas que foram selecionadas de acordo com a semelhança de tamanho e forma. Nas mesmas plantas e estações foi realizada ainda a avaliação fitotécnica pelos parâmetros altura e diâmetro, obtidos por leitura direta em trena e paquímetro digital, respectivamente. As medidas de altura foram realizadas a partir da base da planta até o maior galho, e o diâmetro foi obtido na altura da enxertia. Todos os dados foram submetidos à análise de variância, e as médias dos tratamentos foram comparadas entre si pelo teste de Skott-Knott, a 5% de probabilidade. RESULTADOS E DISCUSSÃO As variáveis ambientais representativas das estações de verão e do outono, observadas nos dias de avaliação das trocas gasosas são apresentadas na Tabela 1. Tanto a temperatura foliar quanto a temperatura do ar foram significativamente maiores no verão, quando comparadas às de outono; estação sazonal que apresentou maiores valores de radiação fotossinteticamente ativa. Esses fatores, entre outros, são determinantes do déficit de pressão de vapor entre a folha e a sua atmosfera, que foi maior no verão. Todas as cultivares apesentaram maior fotossíntese no outono (Tabela 2), possivelmente pela maior radiação solar e pela ausência de nuvens comuns a esta estação. Na comparação das trocas gasosas das cultivares, houve diferença somente no verão onde a ‘Okitsu’ apresentou menor valor, possivelmente por limitações estomáticas e não estomáticas (RIBEIRO; MACHADO 2007). As cultivares Ortanique e Clemenules apresentaram maiores taxas de fotossíntese, indicando que estas cultivares possivelmente serão capazes de manter esse comportamento, refletindo positivamente no crescimento. Não houve efeito interativo entre cultivares e épocas do ano nos parâmetros fitotécnicos estudados. A cultivar Okitsu apresentou menores valores de diâmetro e altura e as demais cultivares não diferiram nessas variáveis (Gráfico 1). Houve 4 EPAMIG. Resumos expandidos crescimento das plantas no outono, estação sazonal caracterizada por temperaturas mais amenas. Este fato pode estar associado à tolerância do portaenxerto (P. trifoliata (L.) Raf.) a quedas nas temperaturas, o que refletiu positivamente no crescimento da copa. CONCLUSÃO As cultivares Ortanique e Okitsu apresentaram maior taxa de fotossíntese e maiores valores de diâmetro e altura, tanto no verão quanto no outono. AGRADECIMENTO À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG) pelo financiamento das pesquisas e bolsas concedidas. REFERÊNCIAS IBGE. SIDRA. Banco de Dados Agregados. Rio de Janeiro, [2011]. Disponível em: <http://www.sidra.ibge.gov.br/bda/agric/default.asp?t=2&z=t&o=11&u1=27&u3 =1&u4=1&u5=1&u6=1&u2=28>. Acesso em: 20 jan. 2011. OLIVEIRA, R. P. de et al. Características dos citros apirênicos produzidos no Rio Grande do Sul. Pelotas: Embrapa Clima Temperado, 2005. 41p. (Embrapa Clima Temperado. Documentos, 141). PIO, R.M. A qualidade e as exigências do mercado de tangerinas. Revista Brasileira de Fruticultura, Jaboticabal, v. 25, n. 3, dez. 2003. RIBEIRO, R.V.; MACHADO, E.C. Some aspects of citrus ecophysiology in subtropical climates: re-visiting photosynthesis under natural conditions. Brazilian Journal Plant Physiology, Londrina, v.19 n.4 p.393-411, Oct./Dec. 2007. 5 Seminário de Iniciação Científica e Tecnológica, 10., 2013, Belo Horizonte SOUZA, M. de; LOBATO, L.C. Citricultura em Minas Gerais. Informe Agropecuário. Citricultura: inovações tecnológicas, Belo Horizonte, v.22, n.209, p.5-7, mar./abr. 2001. VU, J.C.V.; YLENOSKY, G.; BAUSHER, M.G. CO2 exchange rate, stomatal conductance, and transpirationin attached leaves of ‘Valencia’ orange. HortScience, Alexandria, v.21, n.1, p.143-144, 1986. Tabela 1 - Variação sazonal do déficit de pressão de vapor entre a folha e a atmosfera (DPVfolha-atm), temperatura foliar (TF) e do ar (TA) (°C) e da radiação fotossinteticamente ativa (RFA) no Sul de Minas Gerais - Lavras, MG, 2012 Verão Outono DPVfolha-atm(kPa) 2,75 b 1,46 a TF (°C) 32,83 b 23,80 a TA (°C) 32,28 b 24,10 a 677,82 a 1186,53 b Variáveis 2 RFA (mmol/m /s) NOTA: Valores seguidos de mesma letra na linha não diferem entre si pelo teste de Skott-Knott. Tabela 2 - Valores médios de fotossíntese (A) em cultivares de tangerineiras em diferentes estações do ano no Sul de Minas Gerais - Lavras, MG, 2012 Variável A (μmol/m • s) 2 Cultivares Verão Outono Okitsu 5,48 aA 9,17 aB Ortanique 9,20 bA 9,56 aA Clemenules 8,84 bA 10,77 aB NOTA: Valores seguidos de mesma letra minúscula na coluna e maiúscula na linha não diferem entre si pelo teste de Scott-Knott. 6 EPAMIG. Resumos expandidos 100 50 b a a a b 0 Altura (cm) Diametro (mm) Verão A Outono B Gráfico 1 - Valores médios de altura e diâmetro de tangerineiras Sul de Minas Gerais - Lavras, MG, 2012 Nota: A - Média de diferentes cultivares. B - Diferentes estações do ano. Valores seguidos de mesma letra não diferem entre si pelo teste de Scott-Knott. b* b