O SENTIDO DAS EMOÇÕES NA ERA GLOBAL: uma análise da estética social do partido político de extrema direita Lega Nord na Itália Laís Barreto da Silva, Prof. Dr. João Carlos Soares Zuin, Campus de Araraquara, Faculdade de Ciências e Letras, Ciências Sociais. [email protected] Palavras Chave: estética social, identidade, racismo Introdução No final do século XX, a mundialização do capital e a globalização econômica e política impactaram todas as formas de vida e organizações sociais, políticas e institucionais, potencializando as batalhas políticas e culturais acerca do sentido da sociedade capitalista contemporânea. No advento da modernidade, a principal ação política do Estado-nação foi mobilizar e manipular os sentimentos e as emoções, a mente e o corpo dos indivíduos através da força das palavras e dos símbolos voltados à criação da comunidade disciplinada, homogênea e exclusiva. Contudo, na atual era dos fluxos, o Estado se torna incapaz de garantir a segurança e as convicções existentes dentro do território nacional. Nos atuais processos sociais de redefinição dos valores e identidades, os partidos políticos de extrema direita são cada vez mais capazes de criar formas de estética social1 e de subjetividades baseadas tanto no senso restrito de pertença ao território e ao grupo, quanto na negação dos valores da modernidade, em especial, dos direitos humanos fundamentais e dos direitos sociais e econômicos. Objetivos A investigação da estética social que descrimina o diverso (o estrangeiro, o imigrante, as minorias), que nega tanto a democracia moderna quanto o multiculturalismo2, permite compreender a formação do processo histórico de esvaziamento das formas de vida da “primeira modernidade” e do surgimento de novos atores soberanos que tecem novas manifestações sensíveis na segunda modernidade3. A pesquisa analisa o significado político das configurações estéticas contidas nos discursos e símbolos da Lega Nord, um partido de extrema direita na Itália. Procuramos compreender a capacidade deste ator político em formar novos valores e hábitos, comportamentos e formas de aparência social que enfatizam o “retorno” do racismo4 e da xenofobia na era global. Material e Métodos A investigação é composta pela análise do senso das palavras, dos slogans e das imagens (cartazes, faixas, símbolos, vestuário, charges), procurando XXVIII Congresso de Iniciação Científica compreender a força simbólica da estética social baseada na identidade étnica em gerar um novo tribalismo5 e uma profunda reordenação da sociedade capitalista contemporânea. Resultados e Discussão Nos últimos trinta anos, a aceleração e a compressão da dinâmica espaço-temporal geradas pelas invenções tecnológicas possibilitaram a diáspora das identidades e a permeabilidade das fronteiras, modificando os valores, as percepções e as funções formativas da família, da classe, do partido e do Estado nação. No atual processo civilizatório, a consciência coletiva é formada por identidades particulares, exclusivas, baseadas nos mitos de origem e pureza6, utilizados nas dinâmicas sociais que excluem a figura do Outro, bem como legitimam a construção de muro e barreiras que impeçam o seu ingresso7. É possível observar que os partidos de extrema direita em suas manifestações estéticas disseminam o discurso populista, xenofóbico e racista que visam construir um novo consenso através da política do medo e da insegurança. A ênfase na ideia de terra e origem, de tradições e identidade étnica, ameaçadas pela “invasão” de estrangeiros, promove o “retorno” da ideia de raça revestida pela palavra etnia, acentuando profundamente o declínio da memória coletiva do passado e a regressão da consciência civil. Conclusões A estética social dos discursos políticos populistas e racistas permite capturar o sentido ideológico dos empreendedores da política do medo e da insegurança e a formação de uma sociedade sempre mais desigual, hierárquica e potencialmente autoritária. _______________ 1 CARNEVALI, B. Le apparenze sociali: Una filosofia del prestigio. Italia: Mulino, 2012. 2 RIVERA, A., Estranei e nemici. Discriminazione e violenzarazzista in Italia. Roma: Derive Approdi, 2003. 3 BECK, U; BECK GERSCHEIM, E. La individualización: el individualismo institucionalizado y sus consecuencias sociales y politicas. Barcelona: Paidós, 2003. 4 BURGIO, A. Nonostante Auschwitz. I l“ritorno” del razzismo in Europa. Roma: Derive Approdi, 2010. 5 AIME, M, “Non ci restanoche le tribù”.In La Stampa, 13/02/2012. 6 RECALCATI, Massimo. Patria senza padre. Psicopatologia della politica italiana. Roma: Minimum Fax, 2013. 7 BROWN, W. Walled States, Waning Sovereignty. New York: Zone Books, 2010.