UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CENTRO DE TECNOLOGIA GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA ELÉTRICA IMPACTOS DA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA EM UM ALIMENTADOR REAL NA PRESENÇA DE EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO Igor Araújo de Oliveira Fortaleza Dezembro de 2010 ii IGOR ARAÚJO DE OLIVEIRA IMPACTOS DA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA EM UM ALIMENTADOR REAL NA PRESENÇA DE EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO Monografia submetida à Universidade Federal do Ceará como parte dos requisitos para obtenção do Diploma de Graduação em Engenharia Elétrica. Orientador: Profa. PhD Ruth Pastôra Saraiva Leão Fortaleza Dezembro de 2010 iv “Tudo posso n’Aquele que me fortalece” (Filipenses 4.13) v A Deus, Aos meus pais, José e Antônia, Às minhas irmãs Luciana e Mirela, A todos os familiares e amigos. vi AGRADECIMENTOS Primeiramente a Deus, pelo dom da vida e pela chance que me foi concedida, e pela força que Ele me deu todas as vezes que eu precisei, sem ele com certeza não teria chegado até aqui. A toda minha família, meus pais, José Costa de Oliveira e Antônia Maria Araújo de Oliveira, pela criação e carinho que recebi durante toda minha vida, seus ensinamentos que adquiri, pela força, dedicação e confiança que me depositam em todos os momentos da minha vida. Minhas irmãs, que serviram de exemplo de dedicação nos estudos e na vida. À professora PhD Ruth Pastora Saraiva Leão, pela sua orientação, sua disponibilidade e interesse em ajudar, agradeço a oportunidade de aprender com ela. Aos meus amigos, pela presença constante em minha vida, em momentos alegres e tristes, onde sempre estiveram do meu lado. Aos amigos de colégio, que mesmo depois de tanto tempo ainda estão presentes como se nós ainda estudássemos juntos. Aos colegas de faculdade, pelos anos de curso que passamos estudando, virando noites no PET, pelas conversas praticamente sem fim no banco próximo à coordenação, pelos momentos hilários em festas que só alunos da engenharia elétrica podem proporcionar. A todas as pessoas que por motivo de esquecimento não foram citadas anteriormente, vou deixando neste espaço minhas sinceras desculpas. vii Oliveira, I. A. de “Impactos da geração distribuída em um alimentador real na presença de equipamentos de proteção”, Universidade Federal do Ceará – UFC, 2010, 47p. Esta monografia apresenta uma análise do comportamento da proteção de sistemas de distribuição na presença de tecnologias de geração distribuída. A proteção de um sistema elétrico tem como principal função detectar faltas e retirar a parte defeituosa da rede a fim de garantir a continuidade de suprimento aos demais consumidores. A conexão de geradores no sistema de distribuição normalmente causa alterações no fluxo de potência podendo ter influência na capacidade de interrupção dos equipamentos de disjunção, na filosofia de proteção e no ajuste e coordenação da proteção da rede elétrica. Uma simulação em um alimentador real de 13,8 kV, potência instalada de 10 MVA, pertencente à concessionária de distribuição de energia elétrica, Coelce, foi analisada a fim de ser observada a influência da conexão de um gerador síncrono de 2 MW sobre a proteção do alimentador. Foi avaliado o sistema de proteção do alimentador com e sem a presença da geração de distribuída. Na simulação da rede elétrica foi usado o programa computacional EasyPower que dispõe de uma rica biblioteca de equipamentos elétricos de mercado e uma interface de programação amigável. Para o caso investigado foi verificado que a conexão do GD resultou em melhoria no perfil de tensão do alimentador e não houve necessidade de mudança no ajuste da proteção do alimentador da concessionária. Palavras chave: Geração Distribuída, Sistemas de Distribuição, Proteção de Sistemas, Gerador Síncrono. viii Oliveira, I. A. “Impacts of distributed generation on a real feeder in presence of protection equipments” Universidade Federal do Ceará – UFC 2010 47p. This monograph presents an analysis of the distribution systems protection behavior in the presence of distributed generation technologies. The electric systems protection has as main function to detect faults and remove the faulty part of the network to ensure continuity of supply to other consumers. The generators connection in distribution system often causes changes in power flow could have influenced the breaking capacity of the disjunction equipment in the philosophy of protection and adjustment and coordination of power grid protection. A simulation in a 13,8 kV feeder real, installed capacity of 10 MVA, which belongs to the concessionaire of electric power distribution, Coelce, was analyzed in order to observe the influence of the 2 MW synchronous generator connection for the feeder protection. Was evaluated the feeder protection system with and without the distributed generation presence. For the simulation of the electric grid was used EasyPower computer program that has a rich electrical equipment market library and a friendly programming interface. For the case investigated was found that the connection of the DG resulted in improvement in voltage profile of feeder and there was no need for change in the setting of the utility feeder protection Keywords: Distributed Generation, Distribution Systems, Protection Systems, Synchronous Generator ix SUMÁRIO LISTA DE FIGURAS .............................................................................................................xi LISTA DE TABELAS ............................................................................................................xii SIMBOLOGIA ......................................................................................................................xiii INTRODUÇÃO .........................................................................................................................1 CAPÍTULO 2 GERAÇÃO DISTRIBUÍDA ...........................................................................4 2.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS ..................................................................................4 2.2 CONCEITO DE GERAÇÃO DISTRIBUIDA...........................................................4 2.3 HISTÓRICO...............................................................................................................7 2.4 TECNOLOGIAS DE GERAÇÃO DISTRIBUÍDA .................................................10 2.4.1 COGERAÇÃO OU COMBINED HEAT AND POWER (CHP).......................10 2.4.2 MOTORES ALTERNATIVOS........................................................................12 2.4.3 CÉLULAS COMBUSTÍVEIS..........................................................................13 2.4.4 ENERGIA EÓLICA .........................................................................................15 2.4.5 ENERGIA FOTO VOLTÁICA (PV) ...............................................................16 2.5 PRINCIPAIS APLICAÇÕES DA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA .............................17 2.6 VANTAGENS E DESVANTAGENS NA IMPLANTAÇÃO DE TECNOLOGIAS DE GD .................................................................................................................................17 2.7 QUALIDADE DE ENERGIA E GERAÇÃO DISTRIBUÍDA ...............................19 2.7.1 INTERRUPÇÕES NA GERAÇÃO PRINCIPAL............................................19 2.7.2 REGULAÇÃO DE TENSÃO ..........................................................................19 2.7.3 HARMÔNICOS ...............................................................................................20 2.7.4 AFUNDAMENTOS DE TENSÃO ..................................................................20 2.8 PROTEÇÃO DA GD ...............................................................................................21 2.9 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................23 CAPÍTULO 3 ESTUDO DE CASO: ALIMENTADOR JUREMA 4 .............................................................24 3.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS ................................................................................24 3.2 ASPECTOS GERAIS DO ALIMENTADOR..........................................................24 3.3 ESTUDO DA PROTEÇÃO .....................................................................................28 3.3.1 PROTEÇÃO DA CONCESSIONÀRIA ..........................................................28 3.3.2 PROTEÇÃO AO LONGO DO CIRCUITO – RELIGADOR R29W1423 Sumário x 3.4 ...........................................................................................................................29 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................32 CAPÍTULO 4 DIMENSIONAMENTO E ANÁLISE DA PROTEÇÃO DO GERADOR CONECTADO AO SISTEMA DE DISTRIBUIÇÃO .............................................................................................33 4.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS ................................................................................33 4.2 MAQUINA SÍNCRONA .........................................................................................33 4.2.1 PRINCÍPIO DE FUNCIONAMENTO ............................................................34 4.2.1.1 GERADOR SÍNCRONO...................................................................34 4.2.1.2 MOTOR SÍNCRONO .......................................................................34 4.2.2 DADOS DO GERADOR SÍNCRONO UTILIZADO .....................................35 4.3 DIMENSIONAMENTO DO TC E CÁLCULO DE AJUSTE DA PROTEÇÃO DO GERADOR ..................................................................................................................36 4.3.1 4.3.2 CÁLCULO DO DIMENSIOMENTO DO TC.................................................36 CÁLCULO DOS AJUSTES DO RELÉ...........................................................37 4.3.2.1 AJUSTE DA CORRENTE DE FASE...............................................37 4.3.2.2 4.3.3 AJUSTE DA CORRENTE DE NEUTRO ........................................38 AJUSTES INSTANTÂNEOS ..........................................................................39 4.3.3.1 AJUSTE INSTANTÂNEO DE FASE...............................................39 4.3.3.2 AJUSTE INSTANTÂNEO DE NEUTRO ........................................40 4.4 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................42 CAPÍTULO 5 CONCLUSÃO...............................................................................................43 CAPÍTULO 6 REFERÊNCIAS ............................................................................................45 ANEXO A DIAGRAMA UNIFILAR DO ALIMENTADOR JMA01M4......................47 Sumário xi LISTA DE FIGURAS Figura 1.1 – Usina Hidrelétrica de Luiz Gonzaga. .....................................................................1 Figura 2.1 – Sistema convencional de distribuição de energia elétrica......................................4 Figura 2.2 – Sistema de geração distribuída...............................................................................5 Figura 2.3 – Previsão de evolução da produção de eletricidade das diferentes fontes...............8 Figura 2.4 – Previsão de evolução das várias tecnologias de GD. .............................................9 Figura 2.5 – Exemplo de CHP em Nossener Brüke, Alemanha...............................................10 Figura 2.6 – Princípio de funcionamento de uma CHP............................................................11 Figura 2.7 – Gerador à diesel....................................................................................................13 Figura 2.8 – Exemplo de sistema a células combustíveis.........................................................14 Figura 2.9 – Influência da GD e transformadores na redução de afundamento de tensão. ......21 Figura 2.10 – Alcance de um relé de proteção para um pequeno sistema de distribuição da amostra com DGs. ............................................................................................................22 Figura 2.11 – Curvas características dos fusíveis da Figura 2.10.............................................22 Figura 3.1 – Barras onde a tensão difere do regulamento da ANEEL. ....................................27 Figura 3.2 – Gráfico da curva de coordenação de fase.............................................................31 Figura 3.3 – Curva de coordenação de Neutro. ........................................................................32 Figura 4.1 – Coordenação de fase entre GD e Concessionária. ...............................................41 Figura 4.2 – Coordenação de Neutro entre GD e Concessionária............................................42 Lista de Figuras xii LISTA DE TABELAS Tabela 2.1 – Tabela de eficiência das quatro tecnologias mais usadas. ...................................15 Tabela 3.1 – Relação e características dos cabos utilizados no alimentador............................25 Tabela 3.2 – Tabela de fatores de modelagem de carga...........................................................25 Tabela 3.3 – Níveis de curto circuito nos dois momentos de geração......................................26 Tabela 3.4 – Dimensionamento dos relés da COELCE............................................................29 Tabela 3.5 – Dimensionamento do religador............................................................................30 Tabela 4.1 – Parâmetros do gerador síncrono de 2MVA. ........................................................35 Tabela 4.2 – Valores de curto-circuito do alimentador. ...........................................................36 Lista de Tabelas xiii SIMBOLOGIA Acrôminos e Abreviaturas: Simbologia 1 CAPÍTULO 1 INTRODUÇÃO A geração centralizada (GC) de energia elétrica caracteriza-se pela existência de usinas de grande porte, instaladas próximas às fontes energéticas. Esse tipo de configuração é típico dos grandes sistemas termoelétricos e hidrelétricos convencionais, com potências da ordem de centenas e milhares de megawatts, normalmente instalados longe dos centros de carga. A Figura 1.1 mostra uma vista panorâmica da usina hidrelétrica de Luiz Gonzaga, pertencente ao complexo Paulo Afonso da Chesf - Companhia Hidrelétrica do São Francisco. Figura 1.1 – Usina Hidrelétrica de Luiz Gonzaga. As grandes plantas de geração são ligadas aos centros consumidores por linhas de transmissão utilizadas para o transporte da energia gerada. Para que as perdas elétricas nas linhas de transmissão sejam reduzidas, as tensões das linhas são elevadas na ordem de centenas de milhares de volts. A vantagem do modelo de grandes usinas é a economia de escala obtida com grande quantidade de energia produzida, possibilitando que a energia produzida possa ser mais barata do que se fosse gerada por pequenas centrais elétricas. A geração distribuída (GD), por sua vez, caracteriza-se por pequenas usinas instaladas próximas às cargas. Quando são utilizadas fontes renováveis de energia, a GD apresenta ganhos ambientais importantes quando comparada com a queima de recursos fósseis da geração centralizada nas usinas termelétricas, ou a construção de grandes reservatórios nas hidrelétricas. Capítulo 1 – Introdução 2 A GD, por ser de pequeno porte, não apresenta o mesmo ganho de escala de uma grande usina, fazendo com que o preço da energia produzida seja maior. À medida que a utilização da GD aumenta, o domínio sobre suas características técnicas é aprimorado e os custos são reduzidos. A utilização em larga escala da GD permite que a humanidade possa usufruir dos confortos disponibilizados pela energia elétrica de forma sustentável, com menor agressão ao meio-ambiente. Uma questão a ser discutida é o fato de se poder afirmar que GD só traz contribuições para a melhoria da qualidade de energia e da operação dos sistemas integrados de transmissão e distribuição. Sem uma análise detalhada do que significa o termo GD, qual a tecnologia a ser empregada, de que forma é conectada e sem o conhecimento de qual o ponto de conexão na rede elétrica e topologia do sistema, não se torna possível padronizar uma resposta. Desta forma, esta monografia procura esclarecer alguns conceitos, os incentivos atuais, benefícios para a rede e adverte para os cuidados que devem ser tomados ao introduzir-se Geração Distribuída à rede. Um sistema de proteção para sistemas elétricos desempenha um papel vital na preservação da continuidade do fornecimento aos clientes, garantindo de elevados níveis de segurança do sistema de fornecimento pelo isolamento das partes afetadas do sistema durante curtos-circuitos e condições anormais de funcionamento. Tradicionalmente, a proteção das redes de distribuição tem sido conseguida, sobretudo através do uso de relés de sobrecorrente coordenada e falha de terra. Essa abordagem, embora adequado para redes radiais com um ponto de prestação única, será desafiada pelo aumento dos níveis de penetração da GD em sistemas de distribuição. O objetivo principal desta monografia é expor uma análise do comportamento da proteção de um circuito elétrico na presença de uma tecnologia GD. Será visto quais os pontos que precisam ser modificados e se uma GD realmente interfere em um sistema de proteção já especificado. No capítulo 2, é mostrado uma abordagem a respeito do tema geração distribuída, um conceito, um pequeno histórico, algumas de suas tecnologias e questões a respeito de sua implementação, proteção e continuidade no serviço. No capítulo 3 é apresentado o circuito que será estudado, suas características principais, sua constituição, estudo da proteção desse circuito e uma análise de qual ponto será necessário para a instalação de uma tecnologia GD. Capítulo 1 – Introdução 3 No capítulo 4 uma análise é realizada sobre a GD que será instalada, um gerador síncrono de 2 MVA foi escolhida para suprir a deficiência encontrada e regular o sistema de fornecimento. Ao final da monografia são apresentadas as conclusões e algumas sugestões para trabalhos futuros, presentes no capítulo 5. Capítulo 1 – Introdução 4 CAPÍTULO 2 GERAÇÃO DISTRIBUÍDA 2.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS Este Capítulo aborda aspectos gerais a respeito da geração distribuída, sua definição, seu surgimento e evolução no sistema elétrico ao longo do tempo. São também mencionadas, as principais fontes utilizadas nessa geração, bem como as vantagens e desvantagens em sua implementação, utilização e manutenção, tanto para o consumidor quanto para o sistema elétrico em si. Esses aspectos essenciais servirão de base para o entendimento da análise que será realizada nos capítulos seguintes. 2.2 CONCEITO DE GERAÇÃO DISTRIBUIDA O conceito de geração distribuída (GD) envolve uma gama de tecnologias, aplicações e efeitos sobre a gestão da rede elétrica [1]. Essas tecnologias são desenvolvidas para a produção de eletricidade em pequena escala, assim instalando-se próximas aos consumidores, em contraste com as grandes centrais de energia, que se encontram distantes dos consumidores finais, necessitando de grandes linhas de transmissão para que a potência flua para seu destino, como mostra a Figura 2.1. Figura 2.1 – Sistema convencional de distribuição de energia elétrica. Capítulo 2 – Geração Distribuída 5 Sua instalação direciona a novos desafios para o funcionamento das redes de distribuição radial. Sua implementação não muda a topologia radial destas redes, mas o fluxo de energia não será mais em uma única direção, mostrado na Figura 2.2. Isso tem um impacto sobre a proteção das redes de distribuição, e este impacto depende do tamanho, tipo e sua localização [2]. Figura 2.2 – Sistema de geração distribuída. As fontes de GD podem ser definidas como um complemento para as infra-estruturas elétricas existentes, a fim de aliviar o congestionamento da rede, fornecer serviços auxiliares e melhorar a confiabilidade. Além disso, o manuseio correto pode oferecer maior flexibilidade no planejamento do sistema elétrico, através do possível gerenciamento de investimentos irregulares na geração centralizada, bem como as melhorias nas redes de transmissão e a distribuição [1]. Os adeptos da GD apontam que a geração distribuída pode melhorar a eficiência do fornecimento de energia elétrica. Eles costumam destacar que a transmissão de eletricidade de uma usina para um usuário típico desperdiça cerca de 4 a 9 por cento da eletricidade, em consequência do envelhecimento dos equipamentos de transmissão. Ao mesmo tempo, os clientes sofrem frequentemente de má qualidade de energia, que tem como origem uma variedade de fatores, incluindo manobras indevidas na rede, quedas de tensão, interrupções, transientes e distúrbios da rede resultando em variações de tensão elétrica ou de fluxo de potência. Em geral, os defensores da GD destacam a ineficácia da transmissão em grande escala existentes para atender a rede elétrica de distribuição, pois, mesmo com a elevação da tensão para a transmissão, ocorrem perdas suficientes para comprometer a qualidade dos sistemas de distribuição. Além disso, consumidores e empresas que geram energia a nível local têm potencial para vender a energia excedente para a rede, o que pode gerar retornos significativos durante os horários de pico. Capítulo 2 – Geração Distribuída 6 Gerentes industriais e empreiteiras começaram também a enfatizar as vantagens de geração de energia próxima as unidades consumidoras. Tecnologias de co-geração permitem às empresas um reaproveitamento de energia térmica que normalmente seria desperdiçada. As GD´s tornaram-se, portanto, valorizadas em indústrias que utilizam grandes quantidades de calor, tais como o ferro e aço, química, refino, fabricação de celulose e papel, e as indústrias de processamento de alimentos [3]. Alguns estudos realizados em cima das tecnologias de GD permitiram uma diminuição no efeito do impacto ambiental. Um dos motivos que contribui como fator impulsionador para o desenvolvimento da geração distribuída é a proteção do meio ambiente, em que cada vez mais o desenvolvimento sustentado passa a ser uma realidade. Um conjunto significativo de novas tecnologias de geração distribuída assenta nesta filosofia de geração sustentada e novos combustíveis. Hoje em dia, a exigência ambiental e a eficiência energética são os pilares desta nova tecnologia de geração, para aplicação distribuída. Outro fator que tem ajudado ao crescimento da geração GD é o aumento de consumidores que, em muitas zonas do planeta, faz com que os níveis de qualidade da energia tenham vindo a diminuir, ficando inadequados às necessidades das cargas dos consumidores. Surgem assim condições para que a GD seja uma opção dando uma resposta rápida para a satisfação destas necessidades [4]. Por outro lado, a integração com cargas intermitentes, como a energia eólica, energia solar e, em alguns casos energia térmica, conhecida como combined heat and power(CHP), podem colocar um desafio adicional para o equilíbrio do sistema. Dentre outras barreiras para a disseminação de fontes renováveis alternativas na geração de energia elétrica do Brasil podemos citar o seu custo tecnológico mais elevado, quando comparado ao das fontes convencionais, assim como a dificuldade de financiamento. O estágio de desenvolvimento em que ainda se encontram algumas tecnologias de aproveitamento das fontes renováveis alternativas e as produções em escala não industrial ainda não as tornam atrativas sob o ponto de vista estritamente econômico. Capítulo 2 – Geração Distribuída 7 2.3 HISTÓRICO A evolução dos sistemas de potência se deu há séculos atrás, mais precisamente no final do século XIX. Thomas Edison, inventor e homem de negócios estadunidense, iniciou esse processo em 1882, com a implementação do primeiro sistema de distribuição de energia elétrica do mundo com fins comerciais. O sistema gerava em corrente contínua, com seis unidades geradoras com potência total de 700 kW, para alimentar 7200 lâmpadas em 110 V. Pouco tempo depois, a partir de um trabalho com campos elétricos rotacionais, Nikola Tesla, inventor Sérvio, físico e engenheiro eletro-mecânico, desenvolveu um sistema de geração, transmissão e uso de energia elétrica proveniente de corrente alternada. Esse sistema se tornou mais vantajoso que o sistema de Thomas pelo fato deste proporcionar bem menos perdas na transmissão em alta tensão, e um custo menor em sua implementação. O engenheiro e empresário estadunidense George Westinghouse fez um acordo com Tesla em que comprou os direitos e as patentes desse sistema e, em 1886, fundou a Westinghouse Electric & Manufacturing Company, renomeada para Westinghouse Electric em 1889. Esse período ficou conhecido como “guerra das correntes” onde a corrente alternada saiu vitoriosa, pois o sistema de Westinghouse ganhava cada vez mais aceitação, especialmente depois de ganhar o contrato para a construção de uma nova central elétrica de corrente alternada na fronteira entre os Estados Unidos e o Canadá, ligando as Cataratas do Niágara a Buffalo, por um preço mais baixo e numa distância impossível de ser alcançada através de corrente contínua [5], [6] e [7]. A produção de energia elétrica no local de consumo, pela falta de redes de transporte e tecnologia, quer fosse destinada à indústria, ao comércio, às residências ou à agricultura, foi posta em prática na primeira metade do século XX. Com as melhorias técnicas nos transformadores e nas linhas de transmissão, com tensões cada vez maiores, passou a ser possível transportar mais potência, proporcionando o desenvolvimento de geradores com uma potência cada vez mais elevada e fazendo com que o rendimento de certos processos de produção de energia fosse melhorado. A produção de energia centralizada a partir das grandes centrais produtoras passa a ser a prática dominante face à GD, permitindo grandes economias de escala. Capítulo 2 – Geração Distribuída 8 Este tipo de produção resulta em grandes investimentos, com instalações de enormes dimensões e com pouca flexibilidade, que logicamente irá interferir com o modelo de exploração do setor elétrico. Em muitos países opera com o regime de monopólio resultante da necessidade de expandir a rede ao maior número de clientes possível. Neste tipo de ambiente monopolista interessa que a produção centralizada se mantenha, sob o pretexto das economias de escala, sendo a geração distribuída confinada a situações onde o consumidor está isolado da rede. Mas, este panorama começou a mudar com as crises petrolíferas que começaram nos anos 70, ajudando fortemente ao aparecimento da co-geração e, mais timidamente, de outras formas de produção de energia local e consequentemente distribuída. Nos anos 90, passou a existir competição no serviço de energia elétrica estimulando todos os participantes a apresentarem custos competitivos. Como resultado da transformação deste mercado, passa a ser produzidos novos equipamentos, sendo aumentada a atratividade em geração distribuída. Em alguns países, como Finlândia e Holanda, este tipo de produção ultrapassa 40% das necessidades elétricas nacionais. [4] Por vezes, a introdução desta produção, em boa parte dos países, é bastante lenta, pois a transformação do mercado dá-se a taxas reduzidas e, porque a produção centralizada exigiu fortes investimentos e estes têm de ser pagos, o que dificulta a liberalização do setor, logo a competição. Na Figura 2.3 mostra-se a previsão, expressa em bilhões de kilowatthora, constante no “Anual Energy Outlook 2008”, para a evolução da procura de eletricidade, num horizonte temporal até 2030. [4] Figura 2.3 – Previsão de evolução da produção de eletricidade das diferentes fontes.[4] Capítulo 2 – Geração Distribuída 9 Para a geração distribuída, tendo ainda como referência o “Annual Energy Outlook 2000” (AEO2000), podem ser vistas projeções de evolução das tecnologias de geração distribuídas num horizonte temporal de previsão até 2020. Embora as tecnologias de geração distribuídas emergentes (Ex: Fotovoltaicas (PV), pilhas de células de combustível, microturbinas, etc...) mostrem declínios de custo ao longo do período de projeção, estes não são muito grandes de forma a se obterem ganhos significativos, com a entrada destas formas de GD durante os próximos 20 anos. A Figura 2.4 mostra a previsão da construção de centrais das várias tecnologias de geração distribuídas até 2020. [4] Figura 2.4 – Previsão de evolução das várias tecnologias de GD. [4] Como é visível na figura, a tecnologia de turbina de gás natural tende a ter a liderança da geração distribuída até mesmo ao fim do período, com uma pequena variação dos níveis do presente. As pilhas de células de combustível vão ganhar cada vez mais uma percentagem maior do mercado, devido, em boa parte, à descida dos custos de instalação, pois esta tecnologia está atualmente em fase de demonstração, e em curto prazo vai entrar na era da sua produção em massa. A PV terá uma dimensão pequena relativamente às outras tecnologias, embora vá aumentado com o tempo devido à redução dos seus custos e a políticas de incentivo que possam promover a sua instalação [4]. Capítulo 2 – Geração Distribuída 10 2.4 TECNOLOGIAS DE GERAÇÃO DISTRIBUÍDA 2.4.1 COGERAÇÃO OU COMBINED HEAT AND POWER (CHP) Através de uma produção combinada entre calor e energia ou CHP, será mais fácil entender o processo térmico de produção de energia elétrica, onde o calor resultante é reutilizado no processo ou aquecimento urbano, em vez de ser rejeitado para o ambiente. Uma unidade de co-geração (mostrada na Figura 2.5) é, portanto, capaz de atingir uma eficiência de conversão de energia de 85% ou mais. Este tipo de fornecimento de energia é especialmente útil para os consumidores que necessitam uma demanda de calor contínua, ou seja, em países com temperaturas baixas. [8] Figura 2.5 – Exemplo de CHP em Nossener Brüke, Alemanha. O princípio básico por trás de uma unidade de cogeração com turbina a vapor é dada na Figura 2.6. Na caldeira a água de entrada é transformada em vapor seco de alta pressão. O vapor é transmitido para a turbina, onde se expande e, como resultado, a energia elétrica é produzida. O vapor úmido deixa a turbina e passa por dois condensadores de calor, onde Capítulo 2 – Geração Distribuída 11 ocorrem as trocas de calor e água no condensador. A água obtida como resultado da condensação do vapor é transferida ao seu respectivo tanque. Com a ajuda de uma bomba de água é forçada para a caldeira a uma pressão adequada e o processo recomeça. Figura 2.6 – Princípio de funcionamento de uma Cogeração. [8] A eficiência elétrica média dessa tecnologia se encontra em torno de 20 a 30%, caso seja utilizada a tecnologia de condensação-extração, mas o rendimento total pode chegar num patamar variando entre 80 e 85% quando é utilizada a tecnologia de contra-pressão, também contribuem para essa variação no rendimento a capacidade da caldeira, do tamanho da unidade e das perdas nos aquecedores e condensadores. [8] A potência ativa é linear e depende da produção térmica. O controle pode de certa forma, ser alcançado através do uso de armazenamento de temperatura. A potência reativa, por sua vez, pode ser controlada dentro dos limites operacionais do gerador síncrono. Por esta razão, unidades de CHP estão equipadas com um controle de fator de potência. Existem diferentes tipos de caldeiras a vapor e quase todos os tipos de combustível podem ser utilizados. Portanto, existem caldeiras que utilizam gás natural, óleos combustíveis e bio-combustíveis, como bagaço de cana, restos de madeira e em alguns casos, cascas de arroz. No entanto, a preocupação com resíduos desses combustíveis é muito grande, eles devem estar preparados para a combustão (transformada em uma massa homogênea), caso Capítulo 2 – Geração Distribuída 12 contrário, correm o risco de perder suas propriedades, particularmente umidade, o que irá influenciar consideravelmente o valor térmico de cada combustível. 2.4.2 MOTORES ALTERNATIVOS Os motores alternativos, desenvolvidos mais de 100 anos atrás, foram os primeiros usados em GD. Máquinas de Otto e motores do ciclo diesel (Figura 2.7) ganharam aceitação em quase todos os setores da economia. Eles são usados em muitas escalas, desde pequenas unidades de 1kVA a grande dezenas de usinas MW. Os motores menores são principalmente concebidos para transporte e geralmente podem ser convertidos para a geração de energia com pouca modificação. Já os grandes motores são freqüentemente projetados para geração de energia, acionamento mecânico, ou de propulsão marítima. Os motores alternativos são geralmente alimentados a gás natural ou diesel, com emissões de potências variadas. Quase todos os motores utilizados para a geração de energia elétrica operam no regime de quatro tempos (admissão, compressão, combustão e exaustão) semelhante ao motor de automóveis. O processo inicia com a mistura entre o combustível e ar. A mistura resultante é introduzida no cilindro (admissão), depois ocorre a compressão da mistura dentro do cilindro, para que, próxima de uma vela, aconteça o processo de combustão onde ocorre a ignição através de uma faísca (ciclo de Otto) ou por pressão (ciclo diesel), fazendo o pistão girar, o processo termina com a nova subida do pistão, dessa vez liberando os gases queimados na combustão. Esse pistão que está ligado a um cilindro que se conecta a um gerador síncrono, que produz a eletricidade. Para as unidades de funcionamento a diesel, o ar e o combustível são introduzidos separadamente com o combustível sendo injetado após o ar ser comprimido. Capítulo 2 – Geração Distribuída 13 Figura 2.7 – Gerador a diesel. [8] A eficiência elétrica dessa tecnologia varia entre 30 a 50% para motores a diesel e 24 a 45% para motores a gás natural. Em aplicações de co-geração, uma eficiência total de 80 a 85% pode ser alcançada. [8] A potência ativa é controlada ajustando o torque produzido pelo motor. Isto significa, na prática, que há uma alteração da relação ar/combustível da mistura para ser queimada no motor para haver esse controle. Outro controle é necessário para manter a tensão terminal desejada no gerador. Ao ajustar a corrente de magnetização do gerador síncrono de potência reativa também será controlada. O controle moderno e sistemas de filtragem estão diminuindo as concentrações de óxidos de nitrogênio (NOx) e monóxido de carbono (CO) dos gases para abaixo dos limites permitidos, mas, para os motores diesel esses níveis ainda são relativamente altos. Entretanto, os motores que a gás natural têm níveis muito baixos de produção de NOx. 2.4.3 CÉLULAS COMBUSTÍVEIS As células combustíveis são capazes de converter combustível e oxigênio em energia elétrica de calor e água. Seu funcionamento é similar às pilhas em que ambas usam um processo eletroquímico para a produção de corrente contínua. Essa tecnologia não é tão nova, a teoria de células de combustível nasceu há mais de 100 anos e seu desenvolvimento foi projetado a mais de 40 anos atrás. São muito versáteis e podem potencialmente ser usados em várias aplicações para atender demanda de energia, desde telefones celulares até grandes MW em usinas. [8] Capítulo 2 – Geração Distribuída 14 A conversão ocorre por meio de duas reações químicas parciais em dois eletrodos separados por um eletrólito apropriado: a oxidação de um combustível no ânodo e a redução de um oxidante no cátodo. Uma simples célula combustível é capaz de produzir uma tensão de apenas 1 volt. Por conta disso, é necessário conectar um grande número de células em série com a tensão desejada. A esse bloco de células dá-se o nome de pilha (stack). Os diferentes tipos de células a combustível são usualmente nomeados de acordo com seus eletrólitos. Figura 2.8 – Exemplo de sistema a células combustíveis. [8] Todas as células combustíveis, como representada na Figura 2.8, geram corrente contínua. A tensão gerada é função da tensão da pilha e do número de células em série, como dito anteriormente. Além disso, a tensão varia com a carga e também com tempo de vida útil das células. Ao suprir uma carga em corrente alternada, um sistema com células combustíveis possui um equipamento de conversão de CC em CA (inversor) e um controle de corrente, tensão e frequência. Existem quatro principais tecnologias de células combustíveis, porém, poucas características as diferem entre si. A principal diferença aparente está no eletrólito, que também têm efeitos de longo alcance sobre a concepção e funcionamento da célula Capítulo 2 – Geração Distribuída 15 combustível. Na Tabela 2.1 essas quatro tecnologias estão listadas com suas características chave. Tabela 2.1 – Tabela de eficiência das quatro tecnologias mais usadas. [8] O controle de fluxo de carga do lado CC funciona de maneira similar a uma bateria (com grande resistência interna). Em modo de operação conectada à rede a célula combustível alimenta de forma contrária a carga total da rede, o que significa que há exigências especiais sobre o inversor para controlar a carga [8]. 2.4.4 ENERGIA EÓLICA Energia eólica caracteriza-se por grandes turbinas que convertem a energia proveniente dos ventos em energia elétrica, com geração avaliada no mercado de até 2 MW. Geralmente, grandes turbinas chegam a 80 metros de altura e suas pás, que geram o movimento do rotor, têm o diâmetro de até 65 metros. [8] Seu funcionamento consiste em pás que ficam dispostas em forma de hélice que recebem rajadas de vento. Essas hélices se encontram acopladas a um sistema de engrenagens que fazem uma mudança da frequência da hélice para uma frequência adequada para o funcionamento de um gerador síncrono ligado a essas engrenagens. Geradores síncronos geralmente são equipados com conversores de modulação de largura de pulso. O controle adequado desses conversores é essencial para a regular o comportamento do moinho de vento na rede elétrica. Capítulo 2 – Geração Distribuída 16 Para evitar o stress mecânico que a unidade é submetida, turbinas que produzem acima de 1 MW são equipadas com um sistema de controle da variação da velocidade de giro das pás através de dispositivos eletrônicos. Esses dispositivos controlam a potencia transmitida para o motor para manter a extração de potencia máxima vinda da geração eólica. 2.4.5 ENERGIA FOTO VOLTÁICA (PV) Embora a conversão de energia solar em energia elétrica tem sido uma técnica possível desde o final da década de 30, as primeiras aplicações práticas vieram as ser implementadas no início dos anos 70, onde células PV foram adotadas pelo programa espacial dos Estados Unidos. [8] Sistemas foto voltaicos são classificados em três tipos: Sistemas autônomos; Sistemas híbridos; Sistemas conectados a rede. O sistema autônomo geralmente envolve baterias e é usado em locais remotos que não tem acesso a rede publica. O sistema hibrido é aquele em que se trabalha várias outras tecnologias, como eólica e geradores a diesel junto com a geração PV, no sentido de suprir uma carga continuamente. O sistema conectado a rede normalmente não inclui baterias. E sim uma rede publica que atua como um sistema extremamente forte no qual aceita toda a energia disponível do sistema PV. A conexão com a rede é feita a partir de dispositivos conversores de energia. A eficiência dos sistemas PV esta diretamente ligada com a superfície onde estão instalados os módulos fotovoltaicos, a eficiência desses módulos e a radiação solar do local. Na prática, a potencia de saída depende da latitude, na qual determina a trajetória da radiação solar na atmosfera. Capítulo 2 – Geração Distribuída 17 2.5 PRINCIPAIS APLICAÇÕES DA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA Determinar qual tecnologia de GD é melhor para uma dada aplicação requer objetividade no projeto, uma compreensão clara das prioridades em questão e uma análise detalhada do local em que se julga necessário sua implantação. Geralmente aplica-se GD nas seguintes situações: Em zonas rurais e isoladas, onde existem dificuldades na implantação de sistemas de transmissão e distribuição de energia e os investimentos iniciais em sistemas desse porte são muitos caros. Em zonas urbanas desenvolvidas, onde a rede tem dificuldade para responder a novas solicitações de carga e o custo para projetar uma nova rede é muito elevado, podendo a GD ser um investimento mais rentável. Para consumidores que precisam de níveis altos de qualidade no fornecimento de energia, relacionada com a ausência de interrupções no fornecimento ou confiabilidade (“power reliability”) e/ou na qualidade da energia (“power quality”), onde os parâmetros característicos devem estar muito próximos dos valores nominais (frequência, tensões polifásico equilibrado e simétrico e formas de onda sinusoidais). Os consumidores com este tipo de necessidades de qualidade estão dispostos a pagar pela GD que geralmente faz parte da solução mais econômica para responder a essas necessidades específicas. 2.6 VANTAGENS E DESVANTAGENS NA IMPLANTAÇÃO DE TECNOLOGIAS DE GD A proximidade do local de consumo ao de produção faz com que a GD tenha algumas vantagens, trazendo benefícios tanto para os consumidores quanto para as empresas do setor, dentre elas, destacam-se: Diminuição das perdas na rede de transmissão e distribuição, logo redução dos custos de exploração, bem como menor investimento para reprojetar o sistema. Capítulo 2 – Geração Distribuída 18 Diminuição dos riscos de planejamento, devido ao menor tamanho das unidades de produção e flexibilidade das soluções. Melhoria da qualidade de serviço aos consumidores próximos à produção local As necessidades energéticas particulares dos clientes podem ser satisfeitas de forma personalizada. A diminuição dos impactos ambientais da produção de energia elétrica, resultante da utilização de combustíveis menos poluentes, do melhor uso dos combustíveis tradicionais. Isso permite, com a utilização da co-geração, a eliminação de resíduos industriais poluidores. São abertas maiores oportunidades de comercialização, na medida em que locais que eram remotos e não tinham viabilidade de disporem de energia elétrica, poderão passar a ser alimentados, melhorando as condições locais da atividade econômica dessas zonas. Para a competitividade no mercado de energia elétrica também surgem maiores oportunidades. Na medida em que a GD diminui o valor do capital investido, surgem outras empresas que não sejam necessariamente de capital intensivo, abrindo um leque de prestadores de serviço. Com isso, a possibilidade de se poder optar pelo fornecedor com melhores condições de mercado aumenta, reduzindo a fatura energética do setor industrial do país. As desvantagens da geração distribuída devem ser levadas em consideração, e têm, principalmente, como causas o aumento do número de entidades envolvidas e a separação das funções de distribuição e comercial. Assim, são relevantes as seguintes desvantagens: O planejamento e a operação do sistema elétrico ficam mais complexos. Haverá um aumento da complexidade nos procedimentos, na realização de ações de manutenção e nas medidas de segurança a serem tomadas. Por vezes, existe uma diminuição do fator de utilização das instalações das concessionárias de transporte e distribuição, bem como de centrais produtoras, o que vai fazer com que exista uma tendência para aumentar o preço médio de fornecimento das mesmas. As entidades responsáveis pelas redes de transporte e distribuição necessitam de se equipar com ferramentas de análise para avaliação do impacto das fontes de GD, ligadas à rede, quer sob o ponto de vista de confiabilidade de fornecimento, quer estabilidade de operação e qualidade da tensão [4]. Capítulo 2 – Geração Distribuída 19 2.7 QUALIDADE DE ENERGIA E GERAÇÃO DISTRIBUÍDA A GD exerce uma influência na qualidade de energia elétrica, principalmente devido a quatro fatores: 1. Interrupções na geração principal. 2. Regulação de tensão. 3. Harmônicos. 4. Afundamentos de tensão. 2.7.1 INTERRUPÇÕES NA GERAÇÃO PRINCIPAL Muitas das tecnologias de GD existentes eram instaladas como uma fonte de energia auxiliar a geração principal. Uma das tecnologias mais utilizadas para esse fim eram os motores a diesel. A grande capacidade dessa forma de GD pode ser notada pela transferência de carga para o sistema auxiliar. Nesse caso, existe um acréscimo de energia gerada que pode ser adquirida pela instalação em paralelo com o sistema principal. Muitas tecnologias em GD operam com melhor qualidade de energia quando ligadas em paralelo com a rede principal ou rede concessionária por conta da sua grande capacidade. Entretanto, não são todas as tecnologias adotadas que se pode implantar o paralelismo sem um investimento pesado. Concessionárias de energia podem alcançar uma maior confiabilidade empregando GD para cobrir contingências quando parte do sistema de entrega está fora de serviço. Neste caso, a GD não iria suprir toda a carga, mas apenas o suficiente para cobrir a parte que está fora de serviço. Isso pode resultar numa melhor gestão das despesas futuras para a construção. A desvantagem é que o sistema, ao longo dos anos possa perder sua confiabilidade. Pois o acréscimo da carga pode ultrapassar a capacidade do sistema inicialmente projetado, exigindo uma nova ampliação. 2.7.2 REGULAÇÃO DE TENSÃO Pode parecer inicialmente que a GD deve ser capaz de melhorar a regulação de tensão em um alimentador. Um controle adequado na geração pode apresentar resultados mais Capítulo 2 – Geração Distribuída 20 satisfatórios do que transformadores com mudança de tape e inclusão de bancos capacitores ao longo do circuito. No entanto, existem muitos problemas associados com a regulação de tensão como, por exemplo, os casos em que a GD é de pequeno porte e está localizada longe da subestação em relação a sua robustez por exemplo. Questões de regulação de tensão são freqüentemente as mais limitadoras para acomodar a GD sem alterações no sistema principal. Isso ocorre por que primeiro, nem todas as tecnologias têm a capacidade de regular tensão. É o caso de máquinas de indução. Em segundo lugar, concessionárias fornecedoras de energia não querem que a GD opere com a função de regulação de tensão, pois ela pode interferir no funcionamento dos equipamentos reguladores tensão da própria concessionária, aumentando o risco de problemas na rede. Finalmente, pequenas GD não possuem capacidade suficiente para regular a tensões e ficam a mercê das mudanças diárias de tensão no sistema da concessionária. Grandes GD que suprem em até 30% da capacidade de um alimentador, que são capazes de regular tensão, necessitam de um controle de comunicação especial para operar corretamente com os equipamentos de regulação de tensão da rede concessionária. 2.7.3 HARMÔNICOS Um problema que ocorre com certa freqüência é a produção de harmônicos quando a tecnologia da GD faz uso de conversor eletrônico. Harmônicas geradas por máquinas rotativas nem sempre podem ser desprezadas, sobretudo quando estão funcionando em paralelo com a rede. Para transformadores do tipo estrela-estrela aterrados, apenas máquinas síncronas com enrolamentos construídos com largura de bobina igual a 2/3 do passo polar para eliminação das harmônicas de 3ª ordem podem operar em paralelo com a rede sem estudos especiais para limitação da corrente de neutro. [9] 2.7.4 AFUNDAMENTOS DE TENSÃO O problema de qualidade de energia mais comum é o afundamento de tensão. A Figura 2.9 ilustra um caso em que a GD está interligado no lado da carga do transformador. Durante um afundamento de tensão, as GD podem contribuir para mitigar a severidade do afundamento de tensão na barra a que está conectada. Capítulo 2 – Geração Distribuída 21 Figura 2.9 – Influência da GD e transformadores na redução de afundamento de tensão. A influência da GD em afundamentos na sua barra de carga é auxiliada pela impedância do transformador, que representa o isolamento da fonte do afundamento do sistema da concessionária. No entanto, esta impedância dificulta a capacidade da GD de fornecer algum alívio para as outras cargas no alimentador mesmo. GD maior que 10 kW são obrigadas a ter o seu próprio transformador de serviço [9]. 2.8 PROTEÇÃO DA GD Um projeto de proteção é uma parte indispensável de um sistema elétrico. Análise de faltas, condições pré e pós-falta são necessários para a escolha dos dispositivos de interrupção, relés de proteção e suas coordenações. Os sistemas elétricos devem ter a capacidade de suportar certos limites de distúrbios na rede que afetam seus índices de confiabilidade. Em geral, a implantação de uma nova geração implica na necessidade de estudos para avaliação das condições de operação da rede e da coordenação da proteção em estado permanente e sob condição de falta. A resposta da rede depende de muitos fatores incluindo a magnitude da perturbação, impedância e localização da GD, o uso de dispositivos reguladores de tensão, configuração do sistema de energia, etc. A Figura 2.10 mostra um pequeno sistema de distribuição, constituído por uma geração principal e outras três gerações servindo de auxílio em diferentes alimentadores do Capítulo 2 – Geração Distribuída 22 sistema. Na configuração descrita, o sistema de proteção pode perder a coordenação após a instalação de uma GD. De acordo com a figura, antes da instalação da DG1, se ocorrer uma falta no ponto 1, o fusível FA deve operar antes do fusível FB. Quando a DG1 é instalada, a corrente de falta segue de DG1 para o ponto 1 fazendo FB abrir antes que FA se a diferenças entre as correntes que passam pelos fusíveis forem menor que a margem de coordenação mostrada na Figura 2.11. Figura 2.10 –Alcance de um relé de proteção para um pequeno sistema de distribuição da com GD. Figura 2.11 – Curvas características dos fusíveis da Figura 2.10 Um aumento da corrente de falta na rede muda a maneira que o sistema de proteção gerencia falhas (ajustes dos relés, religadores, capacidade de interrupção dos disjuntores e fusíveis). A Figura 2.10 mostra a DG3 instalada próxima da subestação. No caso da falta Capítulo 2 – Geração Distribuída 23 ocorrer no alimentador vizinho onde a DG3 está localizada, o disjuntor BB abrirá devido a corrente resultante no sentido da DG3 para o ponto de falha. Esse sistema pode ser aprimorado implementando no relé de proteção a função direcional (67) ao invés de somente a função de sobrecorrente(51). A instalação de uma GD no alimentador normalmente requer da concessionária um reajuste das suas configurações do religador, quando esse se encontra no sistema. Isso ocorre por dois motivos básicos: Religamentos em GD, particularmente aqueles sistemas que utilizam tecnologias de máquinas rotativas, pode causar danos ao gerador ou motor principal. GD deve desligar logo no início do intervalo de religamento para dar tempo para o arco elétrico dissipar, de forma que o religamento será bem sucedido. Normalmente, esse processo de detecção e desconexão deve ser simples. No entanto, algumas ligações de transformadores tornam difícil detectar certas faltas, o que poderia atrasar a desconexão da GD. A GD pode também reduzir a zona de proteção ou área de atuação dos relés de proteção. Considerando agora uma falta resistiva devido a um pico de demanda no ponto 2, de acordo com a Figura 2.10, a presença da GD2 entre o ponto de falha e um relé pode causar uma baixa corrente de falta para ser vista pelo relé de proteção. A GD reduz efetivamente o alcance (isto é, zona) do relé. Isso aumenta o risco de detectar faltas de alta resistência a falhas detectadas. Nesse caso, uma proteção de retaguarda pode intervir para interromper uma falha. 2.9 CONSIDERAÇÕES FINAIS A produção descentralizada permite, em certas aplicações, reduzir o investimento necessário e aumentar a eficiência global do sistema, bem como as perdas na transmissão. Estatisticamente é provado que a utilização de várias pequenas unidades, do ponto de vista da confiabilidade, é mais favorável pelo fato de existir uma maior diversidade no fornecimento de energia. No entanto, estudos para avaliar a adequação do sistema de proteção após conexão de GD à rede são necessários. Capítulo 2 – Geração Distribuída 24 CAPÍTULO 3 ESTUDO DE CASO: ALIMENTADOR JUREMA 4 3.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS Este capítulo tem a finalidade de representar o circuito que servirá para o estudo sobre a influencia da geração distribuída no ajuste da proteção de sistema de proteção de um alimentador de distribuição de energia elétrica. O circuito escolhido para investigação foi o alimentador da subestação de Jurema em Fortaleza (CE), denominado Jurema 4, da concessionária do estado do Ceará, Coelce – Companhia Energética do Ceará. No software EasyPower foram representados os parâmetros de carga, cabeamento, transformadores e equipamentos de proteção do alimentador de 13,8 kV. Será analisado o comportamento do fluxo de potencia no alimentador para se observar o nível de tensão nas barras e o carregamento dos vãos do alimentador bem como avaliar a coordenação da proteção do circuito. A partir desses parâmetros, será possível analisar o comportamento do circuito após a instalação da GD. 3.2 ASPECTOS GERAIS DO ALIMENTADOR O alimentador do circuito 4 da subestação de Jurema, JMA01M4, nomenclatura adotada pela COELCE para designar seus circuitos de distribuição possui uma extensão total de 24,66 km, sendo 5,239 km sua extensão principal e o restante derivações do circuito principal. Tal extensão abrange uma área correspondente ao bairro Conjunto Ceará e o início do bairro Bom Jardim. O circuito possui 108 transformadores de distribuição, dentre esses 89 são pertencentes à COELCE e o restante sendo de proprietários particulares. A potência instalada no alimentador JMA01M4 é de 10,068 MVA para atender aproximadamente 17.000 clientes. Basicamente, o alimentador JMA01M4 possui em sua extensão cabos de Cobre de 95mm², porém, nas derivações que surgem do circuito principal, existem outros tipos de cabos, dos quais os principais estão listados na Tabela 3.1. Capítulo 3 – Estudo de caso: Alimentador Jurema 4 25 Tabela 3.1 – Relação e características dos cabos utilizados no alimentador. Os transformadores ao longo do alimentador possuem suas potências nominais especificadas. Nesses transformadores, existem vários tipos de cargas que sofrem variações próprias da natureza dinâmica de cargas elétricas, como liga-desliga, ocorrências de corte de energia, solicitações de religação de clientes, migração de clientes entre grupos. A COELCE trabalha com dois grandes grupos: grupo A, clientes que utilizam a alta tensão, geralmente indústrias ou grandes complexos comerciais, e grupo B, correspondente aos clientes residenciais que utilizam a baixa tensão, dentre outras situações que resultam em grandes variações na carga. Por conta dessas variações de carga, para se fazer um estudo ou um planejamento em um alimentador, a COELCE adota uma tabela com uma relação aproximada do fator de potência e do fator de utilização de cada tipo de transformador. Por exemplo, um transformador de 150 kVA obviamente não está o tempo todo trabalhando em sua potência nominal, portanto, é preferível utilizar de um fator que justifica seu uso nos momentos de carga leve, carga intermediária e carga pesada. Tabela 3.2 – Tabela de fatores de modelagem de carga. De acordo com a Tabela 3.2 acima, nota-se os fatores variam de acordo com o tipo de transformador, onde o fator de utilização (FU) mostra o carregamento médio do transformador, e o fator de potência (FP) mostra quanto de potência ativa é suprida pelo transformador. O software Easypower 9.0 é uma ferramenta computacional utilizada na engenharia como auxílio ao desenvolvimento de projetos e análises de sistemas de potência industriais, Capítulo 3 – Estudo de caso: Alimentador Jurema 4 26 comerciais e de serviços públicos. Esse software possui uma enorme interatividade de análises. A partir de uma única base de dados de um dado sistema podem ser realizadas análises de curto-circuito, fluxo de potência, coordenação da proteção do sistema, estudo de harmônicos e de partida de motores. O programa possui também uma variada biblioteca de equipamentos com cabeamento de linhas, transformadores, relés de proteção, religadores, disjuntores, etc., é, portanto, uma grande ferramenta para o engenheiro quando se deseja resultados rápidos e precisos de um circuito de potência. Com o propósito de reduzir o número de barras do circuito Jurema 4 original, algumas derivações foram representadas por uma única carga situada no final da derivação. Salientando que se levou em conta a extensão até o fim do cabo que deriva do circuito principal, reduzindo assim o número de barras e concentrando toda a derivação em uma única barra. A representação do circuito no programa Easypower se inicia com as especificações para representação do sistema equivalente do restante do sistema da concessionária, para o que são necessárias as correntes de curto-circuito trifásico e monofásico e suas relações de X/R nos momentos de geração mínima e máxima. Os valores se encontram na Tabela 3.3. Tabela 3.3 – Níveis de curto circuito nos dois momentos de geração Com a representação geral do circuito, com seu cabeamento, transformadores e cargas, foi simulado o fluxo de potência para cada uma das três situações de carregamento, a fim de ser observado o perfil da tensão nos terminais dos transformadores e nas barras do alimentador. O ANEXO A mostra a configuração do alimentador estudado. De acordo com a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), no módulo 8 do Procedimento de Distribuição de Energia Elétrica no Sistema Elétrico Nacional (PRODIST), que trata sobre qualidade de energia, a tensão a ser contratada nos pontos de conexão pelos clientes atendidos em valor nominal superior a 1 kV deve situar-se entre 95% e 105% da Capítulo 3 – Estudo de caso: Alimentador Jurema 4 27 tensão nominal do sistema [10]. Dessa forma, foi observado que das variações de carga, somente a de carga pesada e geração máxima houve violação nas restrições de tensão como mostra a Figura 3.1 com destaque para as barras violadas em cor vermelha. Figura 3.1 – Barras onde a tensão difere do regulamento da ANEEL. A figura acima mostra que a partir das barras 58 até o final do circuito a tensão de fornecimento está abaixo de 0,95 p.u. ou abaixo de 95% de seu valor nominal. Isso sinaliza como um ponto provável de se instalar uma geração. Capítulo 3 – Estudo de caso: Alimentador Jurema 4 28 3.3 ESTUDO DA PROTEÇÃO A proteção do alimentador JMA01M4 foi basicamente representada no programa por uma coordenação de suas funções de sobrecorrente. Essas funções, assim como o restante das funções de proteção, funcionam da seguinte forma: Os relés de proteção atuam a partir da comparação dos dados medidos no sistema elétrico com valores pré-ajustados no próprio relé. Os relés recebem sinais de tensão e/ou sinais de corrente através de transformadores de instrumentos, transformadores de potencial (TP) e os transformadores de corrente (TC), respectivamente. Os valores de tensão e/ou correntes medidos são comparados com valores pré-definidos, e caso as grandezas medidas pelo relé na zona de proteção sob a sua responsabilidade estejam acima ou abaixo dos valores pré-definidos, os relés enviam comandos de abertura (trip) para o(s) disjuntor(es) para que seja isolada do restante do sistema a parte do sistema elétrico em falta. A coordenação da proteção foi feita entre os relés COELCE e o religador R29W1413 que se encontra no meio do circuito. O Easypower não possui em sua biblioteca o equipamento religador, mas e possível através do ajuste apropriado do rele representar a atuação do religador fazendo uso de curvas tempo x corrente rápidas e lentas, a fim de observar se há coordenação entre os dispositivos. 3.3.1 PROTEÇÃO DA CONCESSIONÀRIA No ponto de entrega de energia, ou seja, na saída do alimentador da subestação, os dispositivos de proteção foram dimensionados de acordo com a Ordem de Ajuste da Proteção (OAP) [11], documento existente na COELCE, que especifica todo o dimensionamento das proteções da média tensão em alimentadores e subestações. Essa especificação foi adotada para que seja obtida uma melhor representação do alimentador, tendo assim uma aproximação da realidade de um sistema distribuição de energia. Essas programações são obtidas pelas correntes de curto-circuito trifásico, bifásico e monofásico do alimentador, além dos dados da relação de transformação do TC (RTC) de fase e de neutro, TAPE de fase e de neutro, tipo de temporização (se a curva é normalmente inversa, muito inversa ou extremamente inversa) e o dial de tempo. Essas informações se encontram na OAP. Capítulo 3 – Estudo de caso: Alimentador Jurema 4 29 O relé utilizado na proteção desse alimentador é o modelo P142 do fabricante AREVA, voltado para o gerenciamento de alimentadores, para níveis de tensão de transmissão e distribuição, realizando a proteção, o controle e o monitoramento das linhas aéreas e cabos subterrâneos. A faixa de operação do relé é adequada para todas as aplicações em que é requerida a proteção de sobrecorrente. Além disso, é apropriado para vários tipos de aterramentos de sistema: sistemas solidamente aterrados, aterrados por impedância, aterrados por bobina de Petersen e para sistemas isolados. A lógica programável interna permite ao usuário customizar as funções de controle e proteção, além de realizar a programação das funcionalidades das entradas opticamente isoladas, relés de saída e indicações de LED. O esquema lógico programável é composto por portas lógicas e temporizadores de uso geral. As portas lógicas incluem "OU", "E" com suas principais funções, com a capacidade de inverter entradas e saídas e fornecer realimentação [12]. Na Tabela 3.4, tem-se a programação das proteções de sobrecorrente instantâneas e temporizadas de fase (50/51) e de neutro (50N/51N). A partir da programação, é possível traçar a curva de atuação das funções programadas nos relés. Com as curvas dos relés definidas e a curva do religador, será possível ver realizar a coordenação dos dispositivos e simular a proteção do sistema em questão. Tabela 3.4 – Dimensionamento dos relés da COELCE. 3.3.2 PROTEÇÃO AO LONGO DO CIRCUITO – RELIGADOR R29W1423 Como o nome sugere, um religador automaticamente religa após a abertura, restaurando a continuidade do circuito mediante faltas de natureza temporária ou interrompendo o circuito mediante falta permanente. O princípio de funcionamento pode ser descrito da seguinte forma: Ao detectar um curto-circuito no sistema, desliga e religa automaticamente os circuitos um número pré-determinado de vezes. Os contatos são abertos durante certo tempo, chamado tempo de religamento, a fim de constatar se a falta é transitória ou permanente. Se, com o fechamento dos contatos, a corrente de falta persistir, a seqüência Capítulo 3 – Estudo de caso: Alimentador Jurema 4 30 abertura/fechamento é repetida até três vezes consecutivas e, após a quarta abertura, os contatos ficam abertos e travados, sendo o novo fechamento somente manual. A prática comum de uso de religadores automáticos pelas concessionárias de energia elétrica tem reduzido a duração das interrupções de patamares de 1h para menos de 1 min, acarretando em benefícios para as concessionárias e clientes quanto a qualidade no serviço de suprimento. Normalmente os religadores são projetados para ter uma seqüência de religamento de até quatro operações abre-fecha e após isso uma operação de abertura final bloqueará a seqüência. Se ajustado para quatro operações, com seqüência típica de quatro disparos e três religamentos, a seqüência de operação varia entre disparos instantâneos e temporizados, que variam de acordo com a programação. No estudo em questão, a configuração do religador R29W1413 está no ajuste de 1 operação instantânea e 3 temporizadas. É possível ser ajustado no relé de proteção qual função será a responsável pela ativação dos ciclos de religamento. Ou seja, é possível definir, por exemplo, que o primeiro ciclo de religamento será ativado pela unidade de sobrecorrente instantânea de fase e que os demais ciclos serão ativados pela unidade de sobrecorrente temporizada de fase. Analogamente o mesmo comentário pode ser estendido às unidades de neutro, ou de terra de alta sensibilidade. Para o religador, o dimensionamento da proteção é feito em quatro etapas. O primeiro desligamento, em caso de falta, é rápido, pois a falta pode ser transitória. Já os outros desligamentos são lentos, para que haja tempo hábil para queima de fusível nas derivações do alimentador. Por conta disso, obtêm-se quatro curvas de proteção do sistema, duas para os acionamentos lentos e rápidos de fase e duas para os acionamentos rápidos e lentos de neutro. Como mostrados na Tabela 3.5. Tabela 3.5 – Dimensionamento do religador. Ao determinar os ajustes dos relés de sobrecorrente e demais dispositivos de proteção em série, deve-se manter uma margem de tempo adequada entre suas curvas características a fim de se obter uma operação coordenada. Capítulo 3 – Estudo de caso: Alimentador Jurema 4 31 A curva de coordenação resultante se encontra na Figura 3.2. Figura 3.2 – Gráfico da curva de coordenação de fase. De acordo com o gráfico, pode-se observar as curvas de atuação de sobrecorrente de fase da Coelce, em cor verde, e as curvas rápidas e lentas do religador. Nota-se que a função sobrecorrente de fase do religador atua muito antes do que o relé da concessionária, tanto as curvas 112 e 117. Isso mostra a coordenação perfeita entre os dispositivos de proteção do alimentador, onde caso haja uma falta, o religador atuará primeiro que os relés da COELCE, garantindo assim, o fornecimento. O mesmo se aplica observando o gráfico de sobrecorrente de neutro, mostrado na Figura 3.3. Capítulo 3 – Estudo de caso: Alimentador Jurema 4 32 Figura 3.3 – Curva de coordenação de Neutro. 3.4 CONSIDERAÇÕES FINAIS O programa Easypower é uma ferramenta grande auxilio na simulação de circuitos de transmissão e distribuição. Sua interface é simples, de fácil manuseio e um banco de dados com vários tipos de equipamentos que permite uma representação bem aproximada de um circuito real. O alimentador JMA01M4 foi bem representado no programa citado, suas proteções se encontram coordenadas e suportam as correntes de curto que possam existir, sendo elas de natureza transitória ou permanente, ficando a cabo do religador do alimentador atuar antes de qualquer atuação da proteção da barra a que se conecta o alimentador. Capítulo 3 – Estudo de caso: Alimentador Jurema 4 33 CAPÍTULO 4 DIMENSIONAMENTO E ANÁLISE DA PROTEÇÃO DO GERADOR CONECTADO AO SISTEMA DE DISTRIBUIÇÃO 4.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS Este capítulo irá abordar as análises dos resultados de simulação da operação de um alimentador de sistema de distribuição após a instalação da GD no alimentador. Uma vez escolhido em qual momento e onde a GD deve ser instalada, necessita-se agora de um tipo de geração, no caso, foi escolhido um motor a diesel ligado a um gerador síncrono, depois será visto como o equipamento se comporta no circuito, bem como suas proteções em relação à subestação e suas proteções já existentes. 4.2 MAQUINA SÍNCRONA As máquinas síncronas estão entre os três tipos mais comuns de máquinas elétricas. São chamadas síncronas por que operam com uma velocidade de rotação constante e velocidade do campo do rotor sincronizada com velocidade do campo girante – sincronismo entre campo do estator e rotor. Como a maioria das máquinas girantes, a máquina síncrona é capaz de operar tanto como um motor, quanto como um gerador [13]. As duas partes principais de uma máquina síncrona são estruturas ferromagnéticas. A parte estacionária é chamada de estator ou armadura, nela possui ranhuras onde ficam as bobinas dos enrolamentos da armadura. A parte girante da máquina é chamada de rotor. Os enrolamentos do rotor são chamados de enrolamentos de campo [14]. O princípio de funcionamento de uma máquina se dá dependendo de como ela irá operar. Como gerador síncrono ou como motor síncrono. Capítulo 4 – Obtenção e Análise de Resultados 34 4.2.1 PRINCÍPIO DE FUNCIONAMENTO 4.2.1.1 GERADOR SÍNCRONO Ao operar como gerador, a energia mecânica é fornecida à máquina pela aplicação de um torque e pela rotação do eixo da mesma. A fonte de energia mecânica pode ser, por exemplo, uma turbina hidráulica, a gás ou a vapor. A tensão aos seus terminais é ditada pela frequência de rotação e pelo número de pólos: a frequência da tensão trifásica gerada depende diretamente da velocidade da máquina. Para que a máquina síncrona seja capaz de converter a energia mecânica aplicada no seu eixo, é necessário que o enrolamento de campo localizado no rotor da máquina seja alimentado por uma fonte de tensão contínua. Dessa forma, ao girar o campo magnético gerado pelos pólos do rotor, há um movimento relativo aos condutores dos enrolamentos do estator. Devido a esse movimento relativo entre o campo magnético dos pólos do rotor, a intensidade do campo magnético que atravessa os enrolamentos do estator irá variar no tempo, e assim teremos pela lei de Faraday, uma indução de tensões aos terminais dos enrolamentos do estator. Devido à distribuição e disposição espacial do conjunto de enrolamentos do estator, as tensões induzidas aos seus terminais serão alternadas. A corrente utilizada para alimentar o campo (enrolamento do rotor) é denominada corrente de excitação. Quando o gerador funcionar de forma isolada de um sistema elétrico, a excitação do campo irá controlar a tensão elétrica gerada. Quando o gerador está conectado a uma rede elétrica que possui diversos geradores interligados, a excitação do campo irá controlar a potência reativa. 4.2.1.2 MOTOR SÍNCRONO Ao operar como motor síncrono, a energia elétrica é fornecida à máquina pela aplicação de tensões alternadas trifásicas aos terminais dos enrolamentos do estator. Além disso, os enrolamentos de campo do rotor são alimentados por uma fonte de tensão contínua. As tensões aplicadas aos enrolamentos do estator, como são alternadas e trifásicas, induzirão uma corrente alternada de mesma frequência que a tensão aplicada. A corrente induzida produzirá campos magnéticos também alternados que variam no tempo. Capítulo 4 – Obtenção e Análise de Resultados 35 Além disso, devido à disposição espacial dos enrolamentos no estator, esses campos magnéticos variantes no tempo também irão circular pelo estator, de forma que o campo magnético resultante irá girar no entreferro da máquina com velocidade angular proporcional à frequência da tensão alternada aplicada nos enrolamentos. Assim, quando um dos pólos do campo magnético gerado pelo enrolamento do rotor interagir com o campo resultante do estator, haverá uma tentativa de alinhamento desses campos, com isso, surgirá no rotor um binário de forças que gera um torque de forma que o rotor gire e mantenha os campos do rotor e do estator alinhados e na mesma velocidade [15]. Apesar de uma tecnologia antiga, máquinas síncronas ainda são bastante comuns em sistemas de potência. 4.2.2 DADOS DO GERADOR SÍNCRONO UTILIZADO O gerador síncrono utilizado na simulação possui uma potência de 2MVA, tensão nominal de 13,8 kV. Os demais parâmetros como de impedância são mostrados na Tabela 4.1. Tabela 4.1 – Parâmetros do gerador síncrono de 2MVA. As reatâncias sub-transitória e transitória definem a intensidade da corrente na partida do gerador e sob condição de falta. O gerador síncrono que representa uma unidade de geração distribuída conectada ao alimentador da concessionária é protegido por relé com a função de sobrecorrente de fase e neutro, ambas do tipo instantâneas e temporizadas. Os enrolamentos de estator do gerador trifásico são ligados em estrela aterrada. Capítulo 4 – Obtenção e Análise de Resultados 36 Devido a presença da GD, o religador deverá ser removido do sistema, pois, caso haja um problema de falta, a seqüência de operação do religador (ligar e desligar) poderá causar danos eletromecânicos ao gerador [9]. Para isso, necessita-se de um projeto de proteção da GD. 4.3 DIMENSIONAMENTO DO TC E CÁLCULO DE AJUSTE DA PROTEÇÃO DO GERADOR Para dimensionamento do transformador de corrente que alimenta o relé de proteção do gerador, foi obtido no programa Easypower, através da opção short-circuit, as correntes de curto-circuito trifásico (Icc3F), bifásico (Icc2F), monofásico (Icc1F) e monofásico mínimo (Icc1F-MIN) para uma série de formulações encontradas em [16]. Os valores de corrente de curto circuito são apresentados na Tabela 4.2. Tabela 4.2 – Valores de curto-circuito do alimentador. 4.3.1 CÁLCULO DO DIMENSIOMENTO DO TC A partir dos valores de corrente de curto circuito e com a corrente nominal do gerador, calcula-se o dimensionamento do TC. Para isso, a corrente do primário do TC deverá ser maior que a máxima corrente de curto circuito dividida por 20, para que os TC´s não entrem em saturação. A corrente de primário do TC ( I PTC ) é calculada por: I PTC I CCMÁX 20 (4.1) Substituindo o valor de corrente máxima da Tabela 4.2 em (4.1) tem-se: I PTC I CCMÁX 20 5606 280.3 A 20 Logo, o primário do TC será I PTC 300 A e a corrente de secundário ( I STC ) do TC será: I STC 5 A , pois é o padrão de secundários de TC´s. Capítulo 4 – Obtenção e Análise de Resultados 37 4.3.2 CÁLCULO DOS TAPES DO RELÉ 4.3.2.1 AJUSTE DA CORRENTE DE FASE Para o ajuste da corrente de fase do relé do gerador, deve-se escolher o fator que representará a sobrecarga admissível na sua instalação. Normalmente, escolhe-se fator de segurança (FS) com valor entre 1,2 e 1,5. A corrente nominal deve ser multiplicada por este valor, para determinar a corrente máxima de sobrecarga entre as fases. Considerando que o relé irá enxergar a corrente que passa pelo secundário dos TC´s, o valor será: TAPE( F ) FSxI N RTC (4.2) RTC é a relação do transformador de corrente, que segundo os valores obtidos na seção 4.3.1 tem-se que: RTC 300 60 . 5 Assim, substituindo os valores em (4.3) e adotando o fator de segurança igual a 1,3 e a corrente nominal retirada da Tabela 4.1 tem-se que: TAPE( F ) FSxI N 1.3x83.67 1.81A 60 RTC Adotando um tape de 2,0 A ( TAPE( F ) ADOTADO 2.00 A ), de forma que o relé não opere para a corrente de segurança, como a corrente de segurança que é dada por: I S ( F ) FSxI N (4.3) E a corrente de disparo do relé é obtida pela fórmula: ITRIP ( F ) RTCxTAPE( F ) ADOTADO Substituindo os valores nas equações (4.3) e (4.4): Capítulo 4 – Obtenção e Análise de Resultados (4.4) 38 I S ( F ) 1.3x83.67 108.77 A I ( F )TRIP RTCxTAPE( F ) ADOTADO 60 x 2 120 A O que satisfaz a condição de segurança: ITRIP Is (4.5) 4.3.2.2 TAPE DE NEUTRO Para o ajuste da corrente de neutro do relé de sobrecorrente do gerador, deve-se escolher o fator que representará a segurança na sua instalação, em relação à corrente que passa pelo condutor neutro, que num circuito equilibrado deveria ser nula. Porém, dificilmente uma instalação terá circuitos perfeitamente equilibrados. Normalmente, escolhese um fator de desequilíbrio (FD) com valor entre 0,1 e 0,3. A corrente nominal do cliente deve ser multiplicada por este valor, para determinar a corrente máxima de desequilíbrio entre as fases. Considerando que o relé irá enxergar a corrente que passa pelo secundário dos TC´s, o valor deste Tape será: TAPE( N ) FDxI N RTC (4.6) Adotando um fator de desequilíbrio igual a 0,2, o valor do TAPE de neutro é igual a: TAPE( N ) FDxI N 0.2 x83.67 0.28 A 60 RTC Análogo ao teste feito para o Tape de fase, foi adotado para o Tape de neutro valor igual a 0,4. A corrente de segurança é obtida por: I S ( N ) FDxI N 0, 2 x83.67 16.73 A Capítulo 4 – Obtenção e Análise de Resultados 39 A corrente de disparo (trip) de neutro é dado por: ITRIP ( N ) RTCxTAPE( N ) ADOTADO 60 x0.4 24 A Novamente, observa-se que o critério de segurança foi obedecido. 4.3.3 AJUSTES INSTANTÂNEOS 4.3.3.1 AJUSTE INSTANTÂNEO DE FASE Os ajustes instantâneos recebem esse nome porque não obedecem às curvas inversas de múltiplo-tempo, mas atuam instantaneamente, a partir dos valores de suas respectivas correntes de trip. São utilizadas, principalmente, para interromper imediatamente correntes de valores elevados, de forma que não provoquem danos às instalações elétricas ou ao sistema de distribuição. Para o cálculo da corrente de ajuste da unidade instantânea de fase, são levados em conta dois valores de correntes: a corrente de curto-circuito bifásico ( I CC 2 F ) e a corrente de partida do gerador( I P ). A corrente de partida circula durante a energização da máquina. Portanto, apesar de ser bem maior que a corrente nominal, não caracteriza sobrecarga ou curto-circuito. Logo, o relé não deve atuar para este valor de corrente, e sim, para os valores de corrente de curtocircuito bifásico e trifásico. Como o curto-circuito bifásico é sempre menor que o trifásico, ele será usado para o cálculo da corrente de ajuste instantânea, pois se o relé atua para o curtocircuito bifásico, certamente atuará também para o curto-circuito trifásico. Nessas condições: I P ( N ) ITRIP INST ( F ) I CC 2 F (4.7) I P ( N ) é cerca de 6 a 8 vezes a corrente nominal I ( N ) . Considerando a corrente no secundário dos TC´s: I P( N ) RTC I AJUSTE INST ( F ) I CC 2 F RTC Dessa forma, desenvolvendo as fórmulas (4.14) e (4.15) tem-se: Capítulo 4 – Obtenção e Análise de Resultados (4.8) 40 11,156 8 83, 67 4855 I AJUSTE INST ( F ) 80,92 A 60 60 Assim, para I AJUSTE INST ( F ) 15 A , e: ITRIP INST ( F ) RTCxI AJUSTE INST ( F ) 60 x15 900 A 4.3.3.2 AJUSTE INSTANTÂNEO DE NEUTRO Para o cálculo da corrente de ajuste da unidade instantânea de neutro, é levado em conta apenas o valor da corrente de curto-circuito monofásico mínimo, já que este é sempre menor que o valor da corrente de curto-circuito monofásico franco. Logo, se o relé atua para a corrente de curto-circuito monofásico mínimo, atuará também para o curto - circuito monofásico franco. Desta forma: I AJUSTE INST ( N ) I CC1F MIN RTC (4.9) Substituindo os valores de corrente de curto-circuito e RTC em (4.18) tem-se: I AJUSTE INST ( N ) I CC1F MIN 102 1.7 A RTC 60 O valor de ajuste adotado é igual a 1,5. Assim tem-se como ITRIP INST ( N ) : ITRIP INST ( N ) RTCxI AJUSTE INST ( N ) 60 x1.5 90 A Após esses cálculos, os valores encontrados foram inseridos nos relés de proteção no programa EasyPower para obter as curvas de coordenação das funções de sobrecorrente de fase e neutro. O resultado da coordenação de fase é mostrado na Figura 4.1 e Figura 4.2. É possível ver que as funções de sobrecorrente dos relés, tanto o do gerador, quando da concessionária, estão devidamente coordenadas. Com o acréscimo da GD no sistema, além de uma melhoria Capítulo 4 – Obtenção e Análise de Resultados 41 nas tensões de distribuição nos pontos que estavam abaixo de 0,95p.u., não houve necessidade de uma novo projeto de dimensionamento nos relés da concessionária, pois, apesar das correntes de curto-circuito terem aumentado, a antiga proteção ainda suporta esse aumento. Figura 4.1 – Coordenação de fase entre GD e Concessionária. Na Tabela 4.2 é mostrado o coordenograma de neutro. Pode se observar que os valores de projeto se encontraram muito próximos. Isso ocorre por conta da limitação do relé em relação aos tapes. O valor da corrente de neutro da GD poderia ser menor que 24 A, porém, era o mínimo de tape que poderia ser ajustado dentro do TC que foi dimensionado. Capítulo 4 – Obtenção e Análise de Resultados 42 Figura 4.2 – Coordenação de Neutro entre GD e Concessionária 4.4 CONSIDERAÇÕES FINAIS Com a instalação da GD, foi visto que o sistema não foi tão afetado em relação ao dimensionamento de sua proteção, mesmo com a retirada do religador do alimentador. Com isso, foi possível utilizar uma GD com uma potência para suprir uma demanda de carga, sem que ela afete o sistema de uma forma negativa. Capítulo 4 – Obtenção e Análise de Resultados 43 CAPÍTULO 5 CONCLUSÃO A produção descentralizada permite, em certas aplicações, reduzir o investimento necessário e aumentar a eficiência global do sistema, bem como diminuir as perdas na transmissão. Estatisticamente é provado que a utilização de várias pequenas unidades, do ponto de vista da confiabilidade, é mais favorável pelo fato de existir uma maior diversidade no fornecimento de energia. Um alimentador em 13,8 kV com quase 25 km de extensão, 108 transformadores de distribuição e potencia instalada de 10 MVA foi representado no programa de simulação Easypower. Para as condições de carregamento de carga leve, media e pesada foi obtido o fluxo de potência no alimentador para avaliar o nível de tensão nas barras. Foi detectada, sob condição de carregamento máximo, subtensão em seis barras do alimentador. Foi apresentado o coordenograma para as funções de proteção de sobrecorrente da barra da subestação Jurema e do religador do alimentador Jurema 4. A proteção se mostrou coordenada, com tempo de atuação menor para as curvas do religador, instantânea e temporizada, que a proteção da barra da subestação. Por meio de simulação, foi conectado na barra 61 do alimentador um gerador síncrono de 2 MVA ligado diretamente ao circuito, que antes da conexão do gerador apresentou subtensão, passou a operar com tensão na faixa de operação adequada quando a ela foi conectada a GD. Devido a conexão da GD ao alimentador, o religador foi ajustado para somente uma atuação instantânea. A proteção do gerador foi projetada e avaliada a coordenação da proteção do gerador e do alimentador. O coordenograma traçado mostrou que as proteções do gerador se encontram coordenadas com a proteção do alimentador, sem necessidade de qualquer adequação, a menos da exclusão da seqüência de operação do religador. Com a consolidação da GD no mercado de energia elétrica, um novo modelo de geração deverá surgir em que haverá a coexistência com a geração centralizada. Um grande número de pequenos e médios produtores de energia elétrica com tecnologia baseada em fontes renováveis de energia deverá ser integrado à rede elétrica. Milhares de usuários terão geração própria tornando-se ambos, produtores e consumidores de energia elétrica. O Capítulo 5 – Conclusão 44 mercado de energia elétrica deverá fazer uso pleno de ambos, grandes produtores centralizados e pequenos produtores distribuídos. Porém, tendo em vista que a qualidade do serviço tem que ser garantida, através da proteção adequada dos sistemas de distribuição, no caso estudado, uma pequena geração foi utilizada, mas caso algum proprietário desejar produzir energia elétrica em larga escala, deverá ter em vista que a proteção do sistema deve ser algo a ser levado em consideração. Como desenvolvimento futuro, sugere-se um maior investimento na busca de novas tecnologias de geração, uma vez que as formas convencionais de geração de energia no Brasil se encontram no limite máximo de produção, pois os níveis das hidrelétricas baixando devido ao aquecimento global, um investimento adequado em GD´s favoreceriam a qualidade da energia para os consumidores finais, e um alivio maior para as usinas geradoras, que trabalhariam sem sobrecarga. Capítulo 5 – Conclusão 45 CAPÍTULO 6 REFERÊNCIAS [1] E.J.W. van Sambeek, M.J.J Scheepers.:“REGULATION OF DISTRIBUTED GENERATION” A European Policy Paper on the Integration of Distributed Generation in the Internal Eletricity Market, Sustelnet, June 2004. [2] Velasco, Juan A. Martinez, Arnedo, J. Martin.: “Distributed Generation Impact on Voltage Sags in Distribution Networks”, Barcelona Outubro de 2007. [3] http://www.dg.history.vt.edu “Distributed Generation: Education Modules” acessado às 22h35min do dia 16 de Setembro de 2010. [4] Santos, Fernando Antônio Castilho dos, Santos, Fernando Miguel Soares Mamede dos, “Geração Distribuída Versus Centralizada”, Matéria do site Millenium, Revista do ISPV, nº35, Novembro de 2008. [5] http://pt.wikipedia.org/wiki/Nikola_Tesla “Nikola Tesla” acessado às 15h48min do dia 19 de Setembro de 2010. [6] http://pt.wikipedia.org/wiki/Thomas_Edison “Thomas Edison” acessado às 16h12min do dia 19 de Setembro de 2010. [7] http://pt.wikipedia.org/wiki/Guerra_das_Correntes “Guerra das correntes” acessado as 16h33min do dia 19 de Setembro de 2010. [8] John Eli Nielsen, Christian, Gaardestrup, Soren Varming, SUSTELNET, Policy and regulatory roadmap for the integration of Distributed Generation and the development of sustainable electricity networks “Review of Technical options and constraints of integration of Distributed Generation in electricity netwoks” ELTRA. Capítulo 6 – Referências 46 [9] Roger C. Durgan, Mark F. McGranahan, Surya Santoso, H Wayne Beaty, “Electrical Power Systems Quality” 2nd Edition Copyright Material. [10] Procedimentos de Distribuição de Energia Elétrica no Sistema Elétrico Nacional – PRODIST. Módulo 8 Qualidade da Energia Elétrica. [11] Ordem de Ajuste De Proteção – Subestação: Jurema (JMA) OAP nº101 / 2009 COELCE. [12] AREVA. MiCOM P14X Feeder Management Relay – Technical Manual. 2006. [13] NASAR, Syed A. “Máquinas elétricas”, tradução de Heloi José Fernandes Moreira. São Paulo: McGraw-Hill do Brasil, 1984 (Coleção Schaum). [14] J. Grainger and W. Stevenson Jr. “Power System Analysis”, Mcgraw Hill Inc, 1994. [15] “Máquina Síncrona” http://pt.wikipedia.org/wiki/Máquina_síncrona acessado ás 20:00 do dia 04 de Novembro de 2010. [16] Júnior, Carlos Alberto de Oliveira, “Estudo de Proteção e Metodologia de Cálculo – Subestações de 15kV”, 2006. Capítulo 6 – Referências ANEXO A DIAGRAMA UNIFILAR DO ALIMENTADOR JMA01M4 29m JMA01M4 TT 150 42m 1:5000 42W1003 TT 45 18P0946 108m TT 75 44W0034 FJ44W0034 1m 4m 16m 142m CAA 4AWG TT 112,5 9m TT 112,5 TT 112,5 FR63W0067 TT 150 FU88I1022 14m 55P1076 175m 41W0078 79m 78m CCN 25MM2 63W0067 52W0076 TT 75 FH88P1067 1m 70m 92m 73m FR23W0153 23W0040 22m CAA 4AWG 23m CCN 4AWG 36m FR26W0113 FS03W0375 57m 107m 29m CAA 4AWG TT 150 TT 45 03W0342 TT 112,5 03W0127 133m 19W0039 199m 52m 51m SR26W0410 26m 139m TT 75 65m 70m 96m 23W0382 14m CAA 4AWG CAA 4AWG TT 45 FS03W0358 5m 19m 18m 03W0432 1m 54m 147m 20m TT 112,5 FR23W0309 TT 150 FR23W0113 23W0434 20m 82m 88P1087 28m 36W0118 101m TT 75 48m 40m TT 75 23W0206 CAA 1/0AWG TT 75 20m 54m CAA 1/0AWG 39W0123 TT 45 08O1099 27m 30W0078 77m FR23W0591 81W0039 36m TT 75 22W0455 111m TT 75 157m TT 112,5 FR23W0152 1m 1m 112m 39m TT 75 45m 111m CAA 4AWG FR26W0784 66P1153 56m 33m FR23W0746 1m 52W0325 67P1073 FG66P1118 38m 71W1198 26m TT 75 74m 1m TT 45 FS71W1170 21W1570 TT 75 SR26W0811 26W0653 23m TT 75 66P1118 10m 15m 66P1118 10m TT 150 22W0710 TT 75 23W1066 27m 18m TT 112,5 151m 134m CAA 4AWG SR26W0607 71W1170 46m CAA 4AWG 1m TT 150 FR23W0879 1m TT 225 FG66P1153 112m CCN 25MM2 67m 1m CCN 25MM2 30m CCN 25MM2 27W0103 102m FR22W0632 52W0298 192m 603m TT 75 FR42W1000 68m 3m 1m CAA 4AWG SX50W1063 TT 112,5 FR23W0263 23W0666 178m TT 45 42W1000 76m TT 112,5 111m 73m CAA 4AWG 55W1264 146m FR23W0967 48m SR22W0995 77P0069 123m 21m 103m 104m TT 112,5 34W0120 40m 74m 34m 77m 64m 21W0146 22W2157 422m 66W2228 32m 144m 23m 73m 94m TT 75 FW66W2259 25P1022 72m CAA 4AWG F69667 TT 112,5 226m TT 75 64m TT 75 24m 125m 1m TT 30 245m CAA 4AWG 1m TT 225 21W0845 62m 17m 26m 29m 112m TT 75 22P1395 62W1485 210m folha: L.1 C.5 FV33W0068 38P0085 21m CAA 4AWG 6m CAA 4AWG 1m CCN 25MM2 1m 30m CAA 4AWG 82m FR27W0361 27W0249 35m TT 112,5 22W1216 17m CAA 4AWG TT 112,5 23W1342 TT 150 29W0184 82m CCN 4AWG FV21W0146 CAA 4AWG 195m TT 112,5 110m 1m FV29W0134 30W0532 27m FR21W0845 FV21W0319 21W0235 110m 55m TT 150 21W1470 17m SU92W0006 203m 239m 23m CCN 4AWG 37m 29m 27W0069 33m 40m TT 225 TT 112,5 147m CAA 4AWG CAA 4AWG 204m TT 150 SR21W0693 137m 17m FU99W0016 168m CAA 1/0AWG FR21W1470 SR21W1169 86m 77m 21W0042 250m TT 75 216m 42m 39m 164m 134m 8m 81m CAA 1/0AWG 120m 21m 14m CAA 4AWG 55m TT 112,5 30W0033 39m 5m 21W1534 CAA 4AWG 1m CCN 25MM2 223m 1m TT 150 268m FR23W1166 1m CAA 4AWG 98m TT 150 45m folha: L.1 C.4 23W1250 TT 45 51m CAA 4AWG 141m 92m 34m TT 112,5 36m SR21W1661 folha: L.1 C.3 folha: L.1 C.2 100m 22m 32m SR21W1619 43m 1m CCN 25MM2 22W0969 113m 7m TT 112,5 SR29W1692 41m 96m folha: L.1 C.6 121m 29W1233 74m 151m TT 75 SR15W0097 8m FR29W1233 111m 72m 23m 1m CCN 95MM2 CAA 4AWG 29m SR22W0923 39m CAA 1/0AWG CAA 4AWG 16m 6m SR29W1453 A CAA 4AWG 102m 1m CCN 25MM2 28m CAA 1/0AWG SR23W1044 23W1154 28m 74m TT 45 18m FR21W0726 TT 112,5 33W0166 25m CCN 4AWG 11W0067 5m CAA 1/0AWG 3m TT 75 SR23W0957 R FS77W1943 TT 45 23P1107 105m 17W0078 127m 23m TT 75 107m FS71W0004 124m 07W0040 R.R29W1413 187m 5m TT 75 FR29W0853 63m FR21W1570 FR29W1806 72W0248 23m 22W0084 FR29W0721 2m 20m TT 75 FJ55W0170 92m CAA 1/0AWG 86m FI52W1549 134m 1m CAA 4AWG 1m 56m CAA 1/0AWG SR29W0936 155m TT 150 F69724 1m CCN 25MM2 CAA 1/0AWG 50W0830 1m 200m TT 150 SR29W0501 63m FX50W0830 74m 1m SI52W1589 44m CAA 4AWG 72m 52W1469 CAA 4AWG TT 45 94m 6m TT 45 52W1379 67m 1m 1m 28m 52W1282 28m 47W2477 TT 45 93m 52W1187 96m TT 150 TT 45 42m FX47W2476 93m CAA 4AWG 1m 252m CCN 25MM2 153m 52W1065 43m 35m 85P1963 11m 34m TT 75 TT 112,5 SX47W2581 85m 4m FD85P1963 104m CCN 25MM2 33m 10m 194m 48m CCN 25MM2 47W2476 152m 75m CCN 25MM2 70m 27m 35m 7m TT 90 SX44W1305 11m CCN 95MM2 33m FR22W0780 1m CAA 4AWG SR23W0864 71m 73m 87m 122m CAA 4AWG SI52W1664 FI52W1311 CAA 4AWG SGE0010 folha: L.1 C.1 TT 112,5 50W1036 10m JMA01M4 SGE1334 174m 26m CAA 4AWG FV12W0011 19m 19m 68m 154m 106m CCN 25MM2 FR27W0087 TT 45 34m 8m CCN 25MM2 CCN 70MM2 CAA 4AWG 28W0984 23m CCN 25MM2 56m 12W0081 129m TT 75 FR28W0984 FR29W2425 29W2461 31m 1m 31m 1m 23W1882 TT 112,5 110m 377m 28W1783 95W0283 FR27W0620 SN61W1247 1m 153m 24W0030 65m 25m FR24W0001 10m CCN 25MM2 TT 112,5 24W0001 97m 211m 32m 1m CAA 4AWG TT 75 29W1096 17m CCN 25MM2 109m 77m TT 75 73W0093 TT 112,5 32m TT 112,5 TT 75 FR28W0768 1m CAA 4AWG 112m TT 150 FR27W0565 82m 43m 38m 23W1689 27W0556 55m 47m CAA 4AWG 325m 72m 71m TT 45 TT 75 219m CAA 4AWG CCN 25MM2 40m CCN 25MM2 TT 75 28W1140 67m 225 27W0534 23m TT 75 FN09W1573 75m 69W1573 TT 112,5 TT 75 81W0071 84m 21W0761 114m CCN 25MM2 CAA 4AWG TT 112,5 SR27W0424 27W0277 143m TT 75 20m 29W0356 32m 43m 46m TT 75 80W0072 CAA 4AWG TT 75 114m 191m CCN 25MM2 TT 30 63W0109 10W0087 29m 46m FR27W0769 50m 14/12/2010 - JMA01M4 60m 23W1820 TT 112,5 39W0135 1m 42m 42m TT 30 21W1212 TT 75 10W0133 19m FN78W1697 23W2037 7m 77m 1m CCN 25MM2 FV10W0133 104m TT 75 38m 209m 34m FV21W1212 67m 8m TT 112,5 40W0098 15m CAA 2AWG 179m CCN 25MM2 TT 75 176m CCN 1/0AWG 1m CCN 25MM2 FR27W0728 23W2152 82m 110m TT 112,5 1m 18m FR23W1798 CAA 4AWG 136m 43m FI61W0014 21m 22m 267m 75 61W0014 114m CAA 4AWG TT 45 78W1697 5m 44m SI42W0445 folha: L.2 C.1 folha: L.2 C.2 folha: L.2 C.3 folha: L.2 C.4 folha: L.2 C.5 folha: L.2 C.6 42m