youtCOLCOAR A CAPA AZUL DO tcc Pró-Reitoria de Graduação Numerar as folhas conforme o manual Curso de Biomedicina Trabalho de Conclusão de Curso CONTROLE DE QUALIDADE EM DIAGNÓSTICO DE TUBERCULOSE PELA TÉCNICA DE ZIEHL NEELSEN NA REDE PÚBLICA Autor: Joyce de Melo Moreira Orientador: Prof. MSc. Paulo Roberto Sabino Júnior Brasília - DF 2013 JOYCE DE MELO MOREIRA CONTROLE DE QUALIDADE EM DIAGNÓSTICO DE TUBERCULOSE PELA TÉCNICA DE ZIEHL NEELSEN NA REDE PÚBLICA Monografia apresentada ao curso de graduação em Biomedicina da Universidade Católica de Brasília, como requisito parcial para obtenção do Título de Bacharel em Biomedicina. Orientador: MSc. Paulo Roberto Sabino Jr Brasília 2013 Monografia de autoria de Joyce de Melo Moreira, intitulado “Controle de qualidade em diagnóstico de tuberculose pela técnica de Ziehl Neelsen na rede pública”, apresentado como requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Biomedicina da Universidade Católica de Brasília, em 11 de junho de 2013, defendida e aprovada pela banca examinadora abaixo assinada: ____________________________________________________ Prof. Msc. Paulo Roberto Sabino Júnior Orientador Curso de Farmácia – UCB _____________________________________________________ Prof. Esp. Wislon Mendes Pereira Curso de Farmácia – UCB _____________________________________________________ Prof. Esp. Douglas Araújo dos Santos Albernaz Curso de Biomedicina – UCB Brasília 2013 Dedico esta monografia a minha maior companheira, Tereza Tavares, que ao longo de todos esses anos com muito esforço e dedicação enfrentou comigo todos os desafios que a vida nos impôs, e ao meu pai, José Gonçalves, que sempre me incentivou destacando minha capacidade de alcançar conquistas maiores e me educou da melhor forma para que eu chegasse até aqui. AGRADECIMENTOS A Deus por se manifestar intensamente na minha vida e de meus familiares. Aos meus irmãos, Denis, Davi e Eduarda que com muito carinho me apoiaram e estiveram presente durante esta etapa. Ao meu namorado Gusthavo pelo apoio e paciência. Ao professor Sabino pela presteza e orientação, o que tornou possível a realização desta monografia. “Nenhum trabalho de qualidade pode ser feito sem concentração e autosacrifício, esforço e dúvida.” Max Beerbohm RESUMO MOREIRA, Joyce de Melo. Controle de qualidade em diagnóstico de tuberculose pela técnica de Ziehl Neelsen na rede pública. 2013. 28 f. Monografia (Biomedicina)- Universidade Católica de Brasília, Brasília - DF, 2013. A Tuberculose (TB) é uma patologia reemergente contagiosa causada por bastonetes do gênero Mycobacterium que, por muito tempo, foi responsável por alta taxa de mortalidade. Diversos fatores contribuem para seu ressurgimento: resistência a medicamentos, coinfecção com HIV (Vírus da Imunodeficiência Humana), diagnóstico incorreto e até mesmo a displicência para com o controle epidemiológico. O exame laboratorial de escolha para diagnóstico é a baciloscopia, que consiste na observação dos bastonetes ao microscópio em amostras de escarro. Para a obtenção de resultados fidedignos é necessária a realização do controle de qualidade da baciloscopia. De acordo com o Ministério da Saúde o controle de qualidade deve ser realizado por laboratórios de referência obedecendo ao descrito no seu protocolo. Algumas discordâncias são encontradas na análise do procedimento quando comparado ao preconizado. O controle de qualidade poderia ser melhor planejado para atender seu objetivo de forma mais eficiente e precisa. A doença requer diagnóstico sensível para que seu monitoramento seja realizado fielmente reduzindo o contágio e um possível ressurgimento acentuado. Palavras-chave: Tuberculose. Baciloscopia. Controle de qualidade ABSTRACT Tuberculosis (TB) is a reemerging infectious disease caused by the Mycobacterium genus rods that long, was responsible for high mortality rate. Several factors contribute to its revival: drug resistance, co-infection with HIV (Human Immunodeficiency Virus), misdiagnosis and even indifference to the epidemic control. The laboratory test of choice for diagnosis is bacilloscopy, which consists in the observation of microscopic rods in sputum samples. To obtain reliable results is necessary to perform quality control of bacilloscopy. According to the Ministry of Health quality control must be performed by reference laboratories obeying described in its protocol. Some discrepancies are found in the analysis of the procedure when compared to recommended. Quality control could be better designed to meet your goal more efficiently and accurately. The disease requires sensitive diagnosis for your monitoring is carried out faithfully reducing contagion and a possible resurgence sharp. Keywords: Tuberculosis. Bacilloscopy, Quality control. LISTA DE ABREVIATURAS AEQ Avaliação externa da qualidade BAAR Bacilos álcool ácido resistentes CQE Controle de qualidade externo CQI Controle de qualidade interno DNA Ácido desoxirribonucleico HIV Human immunodeficiency virus infection MQ Melhoria da Qualidade RDC Resolução da diretoria colegiada SIDA Síndrome da imunodeficiência adquirida TB Tuberculose LISTA DE SIGLAS ANVISA Agência Nacional de Vigilância Sanitária LACEN Laboratório Central de Saúde Pública MS Ministério da Saúde PNCQ Programa Nacional de Controle de Qualidade SciELO Scientific Electronic Library Online SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO 11 2 CONTROLE DE QUALIDADE NO DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DA TUBERCULOSE 13 2.1 TUBERCULOSE 13 2.1.1 Histórico 13 2.1.2 Agente 14 2.1.3 Patogenia 14 2.2 CO-INFECÇÃO HIV/TB 16 2.3 DIAGNÓSTICO LABORATORIAL 17 2.4 CONTROLE DE QUALIDADE 19 2.4.1 Requisitos e Normas 19 2.4.2 Sistema de Garantia da Qualidade 20 3 CONCLUSÃO 24 REFERÊNCIAS 26 11 1 INTRODUÇÃO A tuberculose (TB) é uma doença milenar, causada por bacilos do gênero Mycobacterium e responsável pela morte de mais de um bilhão de pessoas no decorrer dos séculos. Existem relatos de que a doença está presente desde 5.000 a. C e a medicina pouco evoluída não conseguiu conter sua propagação devastadora. A busca por fármacos capazes de conter a TB alcançou sucesso somente nos anos 40, motivo da redução da mortalidade e contágio. Mas apesar do grande decréscimo no número de casos a TB ainda significava um grande problema de saúde pública, principalmente em países pobres (ROSEMBERG, 2011; HIJJAR, 2012). Por volta de 1980 a TB voltou a ser um problema mundial. Bacilos resistentes, a displicência para com o controle simultaneamente a grande incidência da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (SIDA) foram fatores decisivos para a reinstalação da doença. Atualmente a epidemia é considerada controlada, mas ainda restam casos especialmente em locais pouco desenvolvidos (HIJJAR, 2012). O contágio se dá através de aerossóis carregados de bacilos causadores de TB, que são eliminados através da tosse ou espirro de indivíduos contaminados. Este contato pode ou não dar início à doença, dependerá da resposta imunológica desenvolvida pelo hospedeiro. Normalmente apresenta como sintomas: tosse seca ou produtiva por mais de duas semanas, febre, astenia, perda de peso, dor torácica e em casos graves hemoptise. O bacilo causa principalmente infecção pulmonar levando a destruição alveolar com conseqüente comprometimento do estado geral (HIJJAR, 2012; TARANTINO, 2008). O diagnóstico está vinculado à clínica, histórico e exames do paciente. O principal exame laboratorial solicitado é a baciloscopia de escarro, visto que a TB acomete principalmente os pulmões. Os exames laboratoriais requisitados para auxílio no diagnóstico demandam uma grande confiabilidade e para que isso ocorra procedimentos para controle de qualidade devem ser realizados como descrito na Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) 302 de 13 de outubro de 2005. Esse sistema de controle de qualidade é monitorado por Laboratórios Centrais de Saúde Pública (LACEN) de cada localidade para garantir resultados fidedignos ao paciente, avaliando a variação inerente (imprecisão) e o viés (inexatidão) dos processos analíticos(CONDE, 2011; KONEMAN, 2008). 12 O objetivo deste trabalho é avaliar o controle de qualidade dos exames de baciloscopia aplicado pelo Laboratório Central do Distrito Federal nos Laboratórios Regionais do Distrito Federal, destacando a importância do diagnóstico correto no controle da tuberculose bem como avaliar a adequação da sistemática dos Laboratórios Regionais ao preconizado pelo Ministério da Saúde (MS) para o diagnóstico da doença. Para realização deste trabalho foi executada pesquisa bibliográfica nas bibliotecas da Universidade Católica de Brasília, Universidade de Brasília e nas bases de dados: Pubmed, ScieELO (Scientific Electronic Library Online) e Medline. Juntamente a essa pesquisa bibliográfica foi analisado o relatório 2012 do controle externo de qualidade realizado pelo LACEN-DF. 13 2 CONTROLE DE QUALIDADE NO DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DA TUBERCULOSE 2.1 TUBERCULOSE 2.1.1 Histórico A tuberculose é uma doença milenar, causada por bacilos do gênero Mycobacterium e responsável pela morte de mais de um bilhão de pessoas no decorrer dos séculos. Ossadas e múmias encontradas em diversos locais do mundo já apresentavam lesões características da doença, deixando indícios de que a tuberculose existe desde 5000 a.C. Posteriormente foi encontrado corpo mumificado que teria vivido há 1100 a.C apresentando bacilos pulmonares com DNA (ácido desoxirribonucleico) preservado, conhecendo assim o diagnóstico bacteriológico. A 1 tísica fez um somatório devastador de vítimas em todas as classes sociais: faraós, médicos, cientistas, realezas e principalmente pobres. A revolução industrial, reformas urbanas e guerras, onde se amontoavam indivíduos sem qualquer estrutura e condição humana representavam o auge da mortalidade ocasionada pela doença (ROSEMBERG, 2011). Tratamentos ineficientes curavam apenas 30% dos doentes, a busca de medicamentos capazes de provocar a destruição dos bacilos obteve sucesso somente em 1940, reduzindo consideravelmente a mortalidade e o contágio, principalmente em países ricos, permanecendo ainda vários casos nos países em desenvolvimento. (HIJJAR, 2012). Apesar do decréscimo de casos, a tuberculose ainda era considerada um grave problema de saúde pública especialmente em países pobres. Eis que por volta de 1980 a displicência para com o controle, a grande incidência de HIV (Human immunodeficiency virus infection), aparecimento de bacilos resistentes às drogas e outros fatores contribuíram para o ressurgimento acentuado da enfermidade em todo o mundo. Diante dessa epidemia a Organização Mundial de Saúde decretou estado de emergência no mundo e classificou a TB como doença de notificação 1 Tísica: Nomenclatura antiga atribuída a tuberculose. 14 compulsória. Atualmente a epidemia foi controlada e os casos se concentram nos países mais pobres, incluindo o Brasil que juntamente a 22 países detém de 80% dos casos do mundo (HIJJAR, 2012; TARANTINO, 2008). 2.1.2 Agente Os bastonetes pertencem ao gênero Mycobacterium, representado por microorganismos em forma de bastões, móveis, esporulados, e que possuem, como característica peculiar, resistência à descoloração pelo álcool-ácido. Seu desenvolvimento pode ser rápido (aproximadamente 3 horas) quando nas cavidades pulmonares ou lento (chegando a 20 horas) em locais oclusos e intracelulares (BUTEL, 2012; CONDE, 2011). Dentre os microorganismos deste gênero que são relacionados com a tuberculose estão: Mycobacterium tuberculosis responsável pela grande maioria dos casos de tuberculose humana; Mycobacterium bovis que representa o bacilo bovino, patogênico para alguns animais e também para humanos; Mycobacterium africanum, bacilo que se comporta como M. tuberculosis, sendo encontrado no Oeste da África; Mycobacterium bovis-BCG utilizado como vacina profilática para tuberculose, esse bacilo é um derivado do M. bovis e perdeu sua virulência; Mycobacterium microti é inofensivo aos humanos, afetando apenas roedores selvagens, foi testado como vacina promovendo imunidade, mas devido às lesões ocasionadas no local onde é administrada não é utilizada (TARANTINO, 2008) 2.1.3 Patogenia O contágio se dá através de aerossóis carregados com bacilos de Koch, denominado assim em referência à Robert Koch que descobriu o bacilo causador da doença, esses são liberados por tosse ou espirro de indivíduos contaminados e alguns sobrevivem no ar alcançando novos hospedeiros. O maior tempo de exposição ao bacilo e ambientes fechados aumenta a chance de infecção. Indivíduos idosos, imunossuprimidos e crianças são os mais afetados pela infecção e pela doença (KRITSKI, 2005). 15 Indivíduos que entraram em contato com o bacilo podem ou não avançar para a doença. Quando há uma resposta imune eficaz contra o microorganismo a doença não se instala, podendo permanecer em forma latente. Diante de uma imunidade ineficaz o infectado desenvolve a doença. Segundo Conde (2011) essa progressão pode acontecer por 3 formas: Ao primeiro contato com o Mycobaterium; por reinfecção, quando um indivíduo infectado é exposto novamente a uma carga bacilar; por reativação de bacilo latente diante de uma situação de imunossupressão. (CONDE, 2011; BRASIL, 2010) A tuberculose pode se instalar em qualquer órgão, mas afeta principalmente o pulmão, onde encontra condições favoráveis ao seu desenvolvimento, podendo disseminar-se por outros pontos. Apresenta como sintomas: tosse seca ou produtiva por mais de duas semanas, febre, astenia, perda de peso, dor torácica e em casos mais graves eliminação de sangue junto ao escarro. A nível celular o bacilo de Koch causa primeiramente inflamação nos alvéolos, recrutando células de defesa para o local, polimorfonucleados e monócitos formando um tubérculo com células de langehans, leucócitos, células epitelióides e posteriormente sofre caseificação resultando em um granuloma tuberculoso (TARANTINO, 2008). Inicialmente os bacilos provocam uma reação inflamatória inespecífica, que é denominada cancro de inoculação, transitam pela via linfática podendo chegar à corrente sanguínea e atingir os mais variados locais do organismo caracterizando uma bacilemia precoce. Duas a oito semanas após o contágio ocorre a viragem tuberculínica, neste momento o teste tuberculínico torna-se positivo. Durante este período reações de hipersensibilidade podem estar presentes. Entre o segundo e o quinto mês alterações pulmonares podem ser visualizadas a partir da radiografia pulmonar, e entre o quarto e sétimo mês alguns pacientes apresentam derrame pleural. A fase que compreende os 12 primeiros meses denomina-se “tuberculose primária”. Ressalta-se que na maior parte dos casos de TB, as manifestações apresentadas acima não ocorrem, mas após anos ou décadas do contágio os bacilos disseminados podem ser ativados dando início o tuberculose pós primária (SILVA, 2001). De acordo com Ministério da Saúde a infecção pós primária atinge indivíduos que possuem imunidade desenvolvida seja a partir da infecção natural ou pela vacinação. Essa pode ocorrer tardiamente por reativação ou reinfecção. Neste 16 quadro não existe um sintoma patognomônico da doença, mas sim o comprometimento geral do paciente, febre baixa no período da tarde com sudorese, fraqueza e emagrecimento. Quando a doença se apresenta em sua forma pulmonar o paciente poderá ter dor torácica e tosse produtiva e até mesmo hemoptise (BRASIL, 2009). 2.2 CO-INFECÇÃO HIV/TB Por volta de 1980 quando o primeiro caso de SIDA foi diagnosticado, aproximadamente um terço da população mundial estava infectada pelo M. tuberculosis. A maioria dos infectados possuíam resposta imune eficaz e desenvolviam infecção latente. Nesse momento iniciou-se a disseminação da SIDA, que causa alterações nos sistema imunológico viabilizando a instalação da tuberculose (BOFFO et al, 2003). Este fato contribuiu fortemente para o aumento de casos de TB. A ação do vírus pode resultar em forte imunossupressão facilitando a infecção por Bacilos Álcool Ácido Resistentes (BAAR). Por outro lado a tuberculose também favorece a infecção pelo HIV através da resposta imunológica induzida pelos bacilos de Koch que recruta células alvo do HIV possibilitando assim aceleração da doença no hospedeiro (SILVA, 2012). O diagnóstico em pacientes HIV positivo deve ser criterioso, pois esses desenvolvem frequentemente a doença em sua forma extrapulmonar, dificultando o diagnóstico comum realizado pela pesquisa de BAAR em escarro. Por este motivo a cultura é sempre indicada para portadores de HIV e deve de fato ser realizada, visando o aumento da sensibilidade. O grande impacto da co-infecção tem sido observado principalmente nos países pobres e em desenvolvimento, especialmente em países africanos onde a prevalência de HIV e TB é maior. Entre esses países está também o Brasil, que apresenta o maior número de casos de TB na América Latina, estima-se que 8% dos infectados por BAAR também possuem HIV. (FERREIRA; ÁVILA, 2009; BECK, 2009). 17 2.3 DIAGNÓSTICO LABORATORIAL O diagnóstico está vinculado à clínica e ao histórico dos pacientes. Sintomas e contatos com possíveis focos de transmissão são o início para alcançar uma possível confirmação. Na investigação de tuberculose, principalmente pulmonar, são realizados exames físicos, radiológicos e a confirmação exige também a participação de resultados laboratoriais que podem ser: Cultura de escarro: Baseia-se na semeadura da amostra. Permite o isolamento do bacilo e posterior conhecimento da espécie bem como realização de antibiograma. Pode ser feita por método manual ou automatizado sendo que o tempo de crescimento bacilar diminui consideravelmente quando utilizado método automatizado. Possui alta especificidade e sua sensibilidade possibilita identificação da doença em que a baciloscopia é negativa. O alto custo limita a realização da cultura à laboratórios de referência (CONDE, 2011; KONEMAN, 2008). Cultura de Urina: Frequentemente bacilos estão presentes na urina na tuberculose extrapulmonar e disseminada, principalmente em pacientes HIV positivos com contagem de CD4 < 200. Caracterizando uma forma de diagnóstico importante em tuberculoses extrapulmonares. A cultura é realizada utilizando a primeira urina da manhã, sendo coletadas 3 amostras em dias corridos (CONDE, 2011). Cultura fecal: Método utilizado raramente, baseia-se na detecção de bacilos presentes nas fezes provavelmente advindo de escarro pulmonar ingerido. Caracterizando uma tuberculose pulmonar (CONDE, 2011). Aspiração de linfonodos: Pacientes suspeitos que possuam adenomegalia são submetidos a punção de agulha fina para realização de baciloscopia utilizando o material obtido dos linfonodos (CONDE, 2011). Broncoscopia: Consiste na pesquisa direta de BAAR a partir de aspirado brônquico. Os resultados assemelham-se à pesquisa de bacilos por escarro induzido. Devido ao seu risco de infecção não é método de escolha (CONDE, 2011). Toracocentese: Quando ocorre derrame pleural o diagnóstico pode ser feito pela toracocentese e biópsia pleural. Essa forma de diagnóstico é utilizada principalmente em pacientes HIV positivos (CONDE, 2011). 18 Teste de amplificação de DNA: Utilizado para amplificar o DNA do Mycobaterium tuberculosis, pode ser aplicado em várias amostras e sua sensibilidade é alta (CONDE, 2011). Teste tuberculínico: É um teste de hipersensibilidade cutânea que indica contato com o bacilo. É realizado através da injeção intradérmica de tuberculina, antígeno obtido da cultura esterilizada. Caso o paciente apresente resposta imunológica cutânea entre 48 e 96 horas após a aplicação indica que houve contato anterior com BAAR (BRASIL, 2005); Baciloscopia: Principal exame laboratorial realizado para diagnóstico de TB, utiliza amostras de escarro. A primeira coleta é realizada no momento da suspeita, necessitando uma segunda amostra a ser coletada no dia posterior pela manhã após higiene oral, minimizando possíveis microorganismos interferentes. Esse método é amplamente utilizado pela sua facilidade e baixo custo. Consiste na visualização de BAAR corados pela método de Ziehl Neelsen ou Auramina ao microscópio. A coloração ocorre pela retenção de corantes pela parede bacilar rica em ácido micólico e resistente a descoloração por álcoolácido (CONDE, 2011; KONEMAN, 2008). É importante ressaltar que a devida orientação para a coleta é imprescindível para a qualidade do exame. O material biológico utilizado para baciloscopia é escarro fresco, este pode se apresentar como saliva, mucopurulento, sanguinolento e liquefeito, sendo que a amostra adequada é aquela proveniente dos brônquios a partir de expectoração espontânea após inspiração e retenção da respiração por alguns instantes seguido de tosse forçada. Amostras obtidas da faringe, secreção nasal ou salivar prejudicam o diagnóstico favorecendo resultado falso negativo. (BRASIL, 2010) Após o recolhimento das amostras o profissional deve confeccionar o esfregaço utilizando duas lâminas limpas e desengorduradas sobrepostas ou um palito para distribuição do material na lâmina, a coloração de Ziehl Neelsen deve ser realizada da seguinte forma: Cobre-se o esfregaço previamente fixado pelo calor com fucsina fenicada de Ziehl Neelsen e faz-se o aquecimento da lâmina sem que o líquido entre em ebulição. A partir da emissão de vapores aguardar cinco minutos; a lâmina é lavada em água corrente e descorada com álcool-ácido até que não remova mais cor; novamente utiliza-se água corrente para lavagem; aplica-se azul de metileno por trinta segundos e por fim novamente é lavada com água corrente, posteriormente à secagem observa-se a lâmina ao microscópio óptico utilizando óleo 19 de imersão e realiza-se a contagem de bacilos presentes. Para acompanhamento da qualidade dos reagentes utilizados o prazo de validade deve ser observado periodicamente e a coloração de amostras com resultados conhecidos deve ser realizada. Estes procedimentos devem ser seguidos pelos laboratórios regionais e estão de acordo com o Manual Nacional de Vigilância Laboratorial da Tuberculose e outras Micobactérias (BRASIL, 2008). 2.4 CONTROLE DE QUALIDADE 2.4.1 Requisitos e Normas A baciloscopia é o exame inicial para diagnóstico da TB em pacientes sintomáticos e sua realização de forma eficaz é de suma importância para a saúde pública. O controle da tuberculose é direcionado à pacientes sintomáticos, negligenciando possíveis fontes de transmissão silenciosa. A triagem realizada através da pesquisa de BAAR necessita de análise criteriosa para o aumento da sensibilidade do exame (CONDE, 2011; BRASIL, 2012). Para todos os exames supracitados é mandatória a execução de procedimentos de controle de qualidade para verificação da precisão e da exatidão dos resultados produzidos pelos laboratórios. Segundo a RDC 302/2005 da Anvisa, em seus tópicos 8 e 9, é obrigatória a realização de Controle Interno e de Controle Externo da Qualidade, os quais monitoram, respectivamente, a variação inerente (imprecisão) e o viés (inexatidão) dos processos analíticos. O controle de qualidade é uma forma de verificação que visa garantir a minimização de erros, identificando verdadeiros positivos e verdadeiros negativos. Segundo o Programa Nacional de Controle de Qualidade (PNCQ, 2012) e Manual Nacional de Vigilância Laboratorial da Tuberculose e outras Micobacterias (2008), as possíveis causas de erros na baciloscopia são: Amostras com quantidade ou qualidade insuficientes; Erros na identificação do frasco; 20 Troca de lâminas; Local de análise inadequado ou mal iluminado; Falta de homogeneização; Esfregaços densos ou delgados; Lâminas arranhadas ou reutilizadas; Corante degradado; Aquecimento exagerado durante aplicação da fucsina; Descoramento insuficiente ou prolongado; Falta de limpeza das lentes do microscópio; Contaminação do óleo de imersão; Anotações de resultados realizadas de forma errada; Reutilização de frascos para recolhimento de amostras; Sobreposição e redução do número de campos de leitura. 2.4.2 Sistema de Garantia da Qualidade Para melhorar a confiabilidade e a eficácia dos serviços de laboratório foi criado um protocolo de avaliação da qualidade pelo Ministério da Saúde, denominado Sistema de Garantia da Qualidade (SGQ). Para que esse sistema funcione, foi criada uma rede de laboratórios com competência suficiente para acompanhar o sistema. Essa rede no Brasil é composta por Laboratório de Referência Nacional, Laboratório de Referência Regional, Laboratório de Referência Estadual (LACEN), Laboratórios Locais e Laboratórios de Fronteira. O SGQ utiliza 3 métodos para desenvolver sua função: Controle de Qualidade Interno (CQI) ou Supervisão Interna (SI): Este método compreende todas as iniciativas tomadas pelo laboratório de baciloscopia de escarro para o controle do exame. Isso inclui a verificação interna dos insumos para realização do exame; Melhoria da Qualidade (MQ): Procedimento que busca avaliar alternativas para retirar obstáculos que possam causar erros. Esta 21 análise necessita de constante identificação de falhas e treinamentos para prevenir novos problemas; Avaliação externa de Qualidade (AEQ): Este método permite que exista a comparação de resultados entre laboratórios participantes e laboratórios de referência, avaliando assim seu desempenho. Essa avaliação externa pode ser realizada a partir de 3 métodos: Teste de proficiência: Esta é realizada pela análise de painéis contendo esfregaços baciloscópicos; Releitura cega dos esfregaços por laboratório de referência; Visita técnica realizada pelo laboratório de referência com o objetivo de revisar a qualidade do serviço desenvolvido. Fluxograma 1: Métodos para realização do sistema de garantia da qualidade O controle de qualidade externo avalia a proficiência dos laboratórios através da releitura realizada por um laboratório de referência. Utilizando uma amostra representativa, obtida através de amostragem aleatória, das lâminas examinadas 22 rotineiramente em determinado laboratório. É analisado o grau de concordância/discordância entre as leituras realizadas. Todas as lâminas devem ser armazenadas em ordem numérica, por no mínimo seis meses. Após a leitura o profissional deve retirar o excesso de óleo de imersão com papel absorvente evitando prejuízo ao esfregaço.e acondicionar as lâminas em caixa apropriada para devida conservação. O laboratório de referência realiza a avaliação em um trimestre anual. Solicita aos laboratórios avaliados o envio das lâminas referentes ao período analisado juntamente a cópia das folhas do Livro de Registro de Baciloscopia e de Cultura para Diagnóstico e Controle da Tuberculose. Caso o laboratório não possua o total de amostragem (80 lâminas), devem enviar as lâminas acumuladas no período de 4 a 6 meses. A amostra necessária para análise é de 80 lâminas, determinada a partir da avaliação do número médio de exames realizados pelos laboratórios locais e a disponibilidade do laboratório de referência fazer a releitura. O sorteio das lâminas a serem avaliadas se inicia determinando o quociente proporcional, que é obtido através da divisão do número total de lâminas recebidas por 80 (tamanho da amostra). Caso o resulte em número decimal, arredondar para o número inteiro mais próximo. Para definir o número de partida sorteia-se um número de 1 até o quociente proporcional. A primeira lâmina selecionada é a correspondente ao número de partida. Exemplo: Quociente proporcional: Se o número total de amostras analisadas durante o trimestre foi 1350 o quociente será: 1350/80 = 16,875 Quociente = 17 Número de partida: Sorteia-se um número qualquer entre 1 e 17. Exemplo: número 10 Seleção de lâminas: O número de partida é definido como 10, então a décima lâmina sequencial a partir do primeiro número de ordem será a primeira lâmina analisada. 23 Se o laboratório de referência recebe lâminas que iniciam sua ordem em 305 e termina em 1500 as lâminas a serem analisadas serão: 315, 325, 335, 345, até completar 80 lâminas. Critérios de Avaliação: Para análise no controle de qualidade são observadas as características das lâminas e a concordância de resultados e esses são classificados como satisfatórios ou insatisfatórios conforme descrito no Quadro 1. Quadro 1: Critérios de avaliação do controle de qualidade dos laboratórios de referência. Avaliação Satisfatório Não Satisfatório Esfregaço Homogêneo Espesso Delgado Coloração Adequada Presença de corante preciptado. Pouco corada Concordância Resultado concordante Falso Positivo Falso Negativo Ações em casos de discordância: Ações corretivas devem ser tomadas sempre que houver discordância nos critérios de avaliação apresentados na tabela 1. Dentre elas estão: Capacitação do profissional, visita técnica, substituição de reagentes e até mesmo uma segunda avaliação. Quando ocorre discordância tendo liberado resultado falso positivo o erro é considerado grave e deve ser aberta investigação imediata das causas. Falsos negativos indicam erro significativo e reprova o laboratório no controle de qualidade. 24 3 CONCLUSÃO A Tuberculose é uma doença que necessita de constante monitoramento, pois a displicência para com o controle pode contribuir para o aumento do número de casos. Ainda que esteja controlada representa um risco iminente para população. A pesquisa de BAAR é a forma de diagnóstico mais utilizada para identificação da tuberculose pulmonar, no entanto pacientes portadores de TB assintomática, extrapulmonar e despercebidos, visto que a até mesmo paucibacilares2 podem passar baciloscopia nesses casos apresenta menor sensibilidade. Por esse motivo outras formas de diagnóstico para triagem poderiam ser empregadas visando o aumento da sensibilidade e consequente diminuição do contágio. A realização da baciloscopia poderia ser complementada com a obrigatoriedade da cultura para todos os pacientes, aumentando a sensibilidade. A implementação de exame de amplificação de DNA poderia ser uma alternativa sensível e específica para identificação de doentes. Investimento na área de pesquisa seria de grande valor para o avanço do diagnóstico da TB, com intuito de torná-lo mais sensível. A busca de proteínas plasmáticas específicas expressas na presença do bacilo poderia resultar num diagnóstico sensível, específico e rápido (CONDE, 2011; KONEMAN, 2008). Todo o procedimento desde a coleta à liberação de resultados é passível de equívocos e ações inadequadas. Para minimizá-los o monitoramento deve ser realizado em todo o processo, desde a orientação à coleta, manuseio de amostras, reagentes de coloração até transcrição de resultados (BRASIL, 2005). O controle de qualidade é o procedimento que garante a confiabilidade do exame. O correto diagnóstico é a chave para o controle da doença, pois permite o seu monitoramento fidedigno auxiliando no decréscimo do contágio. Para que isso aconteça de forma bem-sucedida é necessário que a avaliação dos exames pelo controle de qualidade seja realizado periodicamente cumprindo todas as etapas (CONDE, 2011; BRASIL 2005). Esta avaliação contribui não somente para a população, mas também para os laboratórios participantes e Ministério da Saúde. Utilizando o SGQ os laboratórios 2 Paucibacilar: Poucos bacilos 25 reconhecem suas áreas de dificuldade e podem utilizar esses resultados como educação continuada. O Ministério da Saúde tem acesso a informações sobre o desempenho, metodologias, utilização de insumos, áreas mais afetadas e auxilia também na padronização do exame nacionalmente (BRASIL, 2005). O SGQ realizado na baciloscopia pelos laboratórios de referência acontece anualmente em um trimestre, admitindo longo período de tempo sem o devido monitoramento. Este processo tem finalidade maior voltada para o controle da exatidão ao CEQ. Seria recomendável a avaliação periódica de lâminas com diversos quantitativos de bacilos para teste de coloração e leitura, servindo ainda para promover a padronização dos resultados. Além de o CQ parecer insuficiente, nota-se que não é executado como o preconizado pelo MS (PNCQ, 2012). Em visita realizada ao LACEN -DF foi observado que na avaliação de 2012 houve discordância em um resultado, julgado positivo pelo laboratório de referência e negativo pelo LACEN-DF, configurando a liberação de um resultado falso positivo. Nesse caso deveria ser realizado, segundo protocolo do Ministério da Saúde, um treinamento do profissional responsável pela realização do exame, mas segundo LACEN-DF, este não compareceu. O monitoramento periódico realizado até mesmo por empresas privadas especializadas em controle de qualidade seria uma boa alternativa para que o controle de qualidade seja aplicado frequentemente sem sobrecarregar os laboratórios de referência. Treinamentos para profissionais também podem gerar bons resultados, bem como a implementação de educação continuada nos laboratórios da Secretaria de Saúde. O controle de qualidade bem como suas orientações devem ser seguidos e planejados com eficiência, de forma que exista o real beneficio ao paciente e população em geral. Realizar este procedimento com seriedade confere resultados seguros, confiabilidade ao laboratório e reflete dados epidemiológicos verdadeiros auxiliando no controle da Tuberculose. 26 REFERÊNCIAS BOFFO. M. M. S; et al. Tuberculose associada à Aids: características demográficas,clínicas e laboratoriais de pacientes atendidos em um serviço de referência do sul do Brasil. Rio Grande do Sul: Fundação Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2003. Disponível em: <www.scielo.br/pdf/jbpneu/v30n2/v30n2a11.pdf>. Acesso em: 05 set. 2012. BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. RDC- Anvisa nº 302, de 13-102005. Disponível em: <http://www.anvisa.gov.br/servicosaude/controle/curarem_rede.pdf>. Acesso em: 27 set. 2012. BRASIL. Ministério da Saúde. Guia de Vigilância Epidemiológica. Brasília, 2009. ______. 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