Carta de Salvador As autoridades econômicas do país, na pessoa do ministro Henrique Meirelles, encaminharam para a apreciação do congresso nacional a proposta de uma emenda constitucional que congela o nível do gasto do governo federal por 20 anos, tempo de uma geração. Trata-se da PEC 241. Se aprovada essa PEC, as consequências serão inúmeras, especialmente para a área social, com destaque para a educação e a saúde públicas. No caso específico dessa última, isso significa eliminar qualquer possibilidade de o SUS ver superado no futuro próximo seu subfinanciamento, o que seria agravado pelo fato de a população continuar a crescer e envelhecer nesses próximos 20 anos. Em nome da “necessidade” premente de conter a trajetória dos gastos, o que, na leitura de seus proponentes, promove instabilidade do mercado e inviabiliza o pagamento da dívida, é encaminhado, pura e simplesmente, retroceder a uma situação anterior à Constituição de 1988, fazendo dela letra morta. Se aprovada a PEC 241, a base sobre o qual incide o congelamento, a chamada base fixa, corresponde à 13,2% da Receita Corrente Líquida (RCL) de 2016, o que equivale, aproximadamente, a R$ 90,9 bilhões, um ‘piso-teto’ que, mesmo ajustado pela inflação ao longo dos anos, reproduzirá e agravará o subfinanciamento do SUS. Para se ter uma ideia do impacto dessa proposta, o SUS teria perdido R$ 257 bilhões no caso de considerados os 13,2% da RCL (Grupo Técnico Interinstitucional sobre o Financiamento do SUS - GTIF-SUS), no período entre 2003 a 2015, caso ela tivesse sido aprovada em 2002. Esse valor representa mais de duas vezes e meia o montante gasto pelo Ministério da Saúde em 2015. Esse ataque à Constituição implica dizer que o direito à saúde e as vinculações constitucionais “não cabem no orçamento”. Ademais, é revelador que tais autoridades não apresentem propostas no sentido de tornar o sistema tributário mais justo, diminuir as desonerações fiscais ou reduzir os juros. Frente a isso, a Associação Brasileira de Economia da Saúde - ABrES e os participantes do XII Encontro de Economia da Saúde se manifestam pela democracia, pelo Estado de direito e veementemente se posicionam contra qualquer redução de recursos para o SUS. Salvador, 26 de agosto de 2016.