SABRINA DE CASTRO BRASIL ª AVALIAÇÃO RADIOGRÁFICA DA INFLUÊNCIA DA OSTEOPOROSE NA EVOLUÇÃO DE LESÕES PERIRRADICULARES EM RATAS 2013 i 2011 SABRINA DE CASTRO BRASIL AVALIAÇÃO RADIOGRÁFICA DA INFLUÊNCIA DA OSTEOPOROSE NA EVOLUÇÃO DE LESÕES PERIRRADICULARES EM RATAS Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Odontologia da Universidade Estácio de Sá visando a obtenção do grau de Mestre em Odontologia (Endodontia). Orientadoras: Prof.ª Dra. Luciana Armada Dias Prof.ª Dra. Rachel Moreira Moraes dos Santos UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ RIO DE JANEIRO 2013 ii Dedicatória À Deus, que me conduz e fortalece a cada dia. Ao meu amado filho Rafael, que mesmo sem entender direito o que estava acontecendo, me renovou a cada dia desta trajetória com muito amor e alegria. À minha mãe Celi, por ter vivido cada fase de forma companheira e por ter sido tão ajudadora em todo tempo. À minha irmã Paula pelo incentivo, amizade, apoio e por ser um exemplo profissional em minha vida. iii AGRADECIMENTOS À Prof.ª Dra. Luciana Armada Dias, a quem tenho grande respeito e admiração, pela orientação, amizade, incentivo e por ter acreditado em mim para a realização deste trabalho. Sua competência e dedicação foram e sempre serão motivadores essenciais em minha vida. À Prof.ª Dra. Rachel Moreira dos Santos Morais pela orientação, paciência, apoio, amizade, e por ter me recebido com tanto carinho nas instalações da Universidade Federal Fluminense. Sua humildade, seriedade e habilidade foram e serão inspiradores. Obrigada por me ajudar a acreditar que seria possível. Ao coordenador do PPGO, Prof. Dr. José Freitas Siqueira Júnior, a quem tenho a honra de ter conhecido e a gratidão por ter depositado confiança em mim para a execução deste trabalho. Aos meus pais pelo apoio emocional em todo o tempo, por me incentivarem durante toda a minha trajetória profissional e por terem me ensinado valores indispensáveis para a execução de tarefas aparentemente impossíveis. Ao meu filho Rafael pela compreensão, carinho e amor, que funcionaram como combustível para a conclusão desta etapa da minha vida. À minha irmã Paula, pelo apoio emocional, amizade, pelas palavras de incentivo e motivação. Ao Luciano, meu companheiro e amigo pelo incansável apoio emocional e profissional. Aos brilhantes professores que compõem o PPGO da UNESA, pois todos contribuíram grandemente em minha vida com seus ensinamentos. Ao Prof. Dr. Flávio Ferreira Alves, por ter acreditado em mim e me incentivado a ingressar no PPGO. Agradeço por sua contagiante motivação e dedicação. Aos professores Prof. Dr. Fábio Vidal, pelas brilhantes considerações na etapa de qualificação, ao Prof. Dr. José Cláudio Provenzano pelo incentivo e palavras motivadoras e a Prof. Dra. Mônica Schultz Neves, a quem tenho grande carinho, gratidão e admiração por sua excelência clínica. Ao Prof. Dr. Fábio Ramôa Pires, pelas brilhantes considerações na qualificação, pela contribuição para a realização da análise morfológica e nas etapas de inclusão e cortes histológicos. iv À equipe técnica do laboratório de Patologia da UERJ pelo auxílio nas etapas de inclusão, cortes histológicos e confecção das lâminas. Ao Renan de Souza Lima, médico veterinário, pela parceria no trato com os animais em todo o experimento, principalmente nas etapas de ovariectomia, desenvolvimento de lesão perirradicular e sacrifício. À secretária Angélica Pedrosa pelo imenso carinho, apoio e amizade. À minha ASB e amiga Rosilene Santos pela compreensão, amizade e parceria. Às minhas amigas de trabalho, Dras. Benícia Bizzo, Priscila Nielle e Danielle Torres pelo incentivo, paciência, carinho e acima de tudo pela grande amizade. À equipe da Universidade Federal Fluminense, em especial a técnica Arlete pela presteza e auxílio nas etapas de descalcificação e inclusão, a aluna de iniciação científica Roberta pelo auxílio com os animais e companhia nas leituras de lâminas durante a citologia e ao bioterista Redinei pelo auxílio no cuidado com os animais. À equipe técnica do laboratório de Patologia da UERJ pelo auxílio nas etapas de inclusão, cortes histológicos e confecção das lâminas. À equipe da Clínica CIROD Radiologia Oral, que permitiram a realização das radiografias digitais em todas as fases experimentais. Aos colegas de turma Adirson Jorge e Helena Baruffaldi pelo carinho e amizade em todo o decorrer do curso, e aos demais colegas do Mestrado e Doutorado pela amizade e companheirismo em especial Natasha Ajuz, Camila Arão, Fábio Barcelos, Cintia Bueno e Renata Val. v ÍNDICE Página RESUMO.............................................................................................................. vii ABSTRACT........................................................................................................... viii LISTA DE FIGURAS............................................................................................. ix LISTA DE TABELAS............................................................................................. xi LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS................................................................ xii 1. INTRODUÇÃO.......................................................................................... 01 2. REVISÃO DE LITERATURA..................................................................... 03 3. JUSTIFICATIVA........................................................................................ 27 4. HIPÓTESE................................................................................................ 28 5. PROPOSIÇÃO.......................................................................................... 29 6. MATERIAIS E MÉTODOS........................................................................ 30 7. RESULTADOS.......................................................................................... 35 8. DISCUSSÃO............................................................................................. 43 9. CONCLUSÕES......................................................................................... 50 10. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS......................................................... 51 11. ANEXO..................................................................................................... 62 vi RESUMO Objetivo: Avaliar os efeitos da osteoporose na evolução da lesão perirradicular. Métodos: Foram utilizadas ratas Wistar (n=24), isogênicas e virgens, com 3 meses de idade, previamente avaliadas por citologia vaginal. Metade dos animais foi ovariectomizada (OVX) e a outra metade foi pseudo-operada (C). Após 150 dias de castração foi estimulado o desenvolvimento de lesão perirradicular através da exposição pulpar dos primeiros molares inferiores esquerdos. A massa corporal foi verificada semanalmente. Ao final dos períodos experimentais (21 e 40 dias de lesão) os animais foram sacrificados, o sangue foi coletado para análise de fosfatase alcalina, cálcio e fósforo e as mandíbulas foram excisadas e radiografadas. Resultados: A deficiência estrogênica resultou em ganho de massa corporal significantemente maior (p < 0.01) em OVX 40 dias quando comparado ao C 40 dias. Esta diferença não foi observada no experimento de 21 dias. Os níveis séricos de cálcio, fósforo e fosfatase alcalina não apresentaram diferenças estatisticamente significativas entre OVX e C (21 e 40 dias). As lesões perirradiculares avaliadas radiograficamente foram significativamente maiores no grupo OVX 40 quando comparado a C 40 (p<0.05) e a C 21 (p< 0.001). Conclusões: Através deste estudo foi possível verificar que a osteoporose atuou como modificador da doença, pois influenciou na evolução da lesão perirradicular, principalmente em períodos crônicos. Palavras-chaves: lesão perirradicular; osteoporose; mandíbula. vii ABSTRACT Aim: Evaluate the effects of osteoporosis in the evolution of apical periodontitis. Methods: Wistar rats (n = 24),isogenic and virgins, 3 months old, previously assessed by vaginal cytology were used. Half of the animals were ovariectomized (OVX) and the other half pseudo-operated (C). 150 days after castration was induced development of apical periodontitis by pulp exposure of their mandibular left first molars. Body weight was checked weekly. At the end of the experimental periods (21 and 40 days of injury) the animals were sacrificed, blood was collected for analysis of alkaline phosphatase, calcium and phosphorus and the jaws were excised and radiographed. Results: Estrogen - deficient state resulted in significantly greater gain in body mass (p <0.01), OVX at 40 days compared to C 40 days. This difference was not observed in the experiment of 21 days. Serum calcium, phosphorus and alkaline phosphatase showed no statistically significant differences between OVX and C (21 and 40 days). The periradicular lesions evaluated radiographically were significantly higher in the OVX group compared to 40 C 40 (p <0.05), and C 21 (p <0.001). Conclusions: The findings from this study showed that osteoporosis acted as a modifier of the disease, as influenced the evolution of apical periodontitis, especially in chronic periods. Key-words: apical periodontitis, osteoporosis; jaw. viii LISTA DE FIGURAS Página Figura 1: Dano tecidual direto e indireto causado por bactérias ao exercerem sua patogenicidade.................................................................. 11 Figura 2: Funções do RANK, RANKL e OPG na osteoclastogênese em condições homeostáticas e inflamatórias.................................................. 16 Figura 3: Modificadores da doença........................................................... 17 Figura 4: Fotomicrografia de lâminas de esfregaço vaginal de ratas controle, nas diferentes fases o Ciclo Estral, coradas pelo método tricômico de Shoor..................................................................................... 26 Figura 5: Citologia vaginal......................................................................... 31 Figura 6: Desenvolvimento de lesão perirradicular................................... 32 Figura 7: Valor de massa corporal inicial (g)............................................. 36 Figura 8: Valor de massa corporal final (g)............................................... 36 Figura 9: Valor de Δ (massa corporal final-massa corporal inicial)........... 37 Figura 10: Análise comparativa dos níveis séricos de cálcio.................... 38 Figura 11: Análise comparativa dos níveis de fósforo.............................. 39 Figura 12: Análise comparativa dos níveis de fosfatase alcalina.............. 40 Figura 13: Análise comparativa do tamanho de lesões perirradiculares entre os grupos experimentais................................................................... 42 Figura 14: Radiografias de mandíbulas.................................................... ix 42 LISTA DE TABELAS Página Tabela 1: Mediadores Químicos da inflamação e seus efeitos................. 10 Tabela 2: Valores de massa corporal inicial (g)........................................ 35 Tabela 3: Médias das concentrações séricas de cálcio (mg/dl) por grupo.......................................................................................................... 38 Tabela 4: Médias das concentrações séricas de fósforo (mg/dl) por grupo.......................................................................................................... 39 Tabela 5: Médias das concentrações séricas de fosfatase alcalina (U/L) por grupo.................................................................................................... 40 Tabela 6: Médias dos tamanhos das lesões perirradiculares................... x 41 LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS C controle °C graus Celsius dl decilitro FcyR receptor celular de superfície gama Fcy receptor de superfície FcyRIIIa receptor celular de superfície gama IIIa FSH hormônio folículo estimulante IFN-γ interferon Gama HIV vírus da imunodeficiência humana Ig imunoglobulina IL-1 interleucina-1 IL-1α interleucina-1 alfa IL 1-β interleucina-1 beta IL-6 interleucina-6 IL-11 interleucina-11 IL-17 interleucina-17 LH hormônio luteinizante M-CSF fator estimulante de colônia de macrófago mg miligrama Mmol milimol OPG osteoprotegerina xi OVX ovariectomizado PAF fator de agregação plaquetária PTH paratormônio PG prostaglandina RANK receptor activator of NF Kappa RANKL receptor activator of NF-kB ligand TNF fator de necrose tumoral TNF-α fator de necrose tumoral alfa TNF-β fator de necrose tumoral beta Toll toll-like receptors U/L unidade por litro Δ delta xii 1. INTRODUÇÃO A lesão perirradicular é uma doença inflamatória de etiologia microbiana causada primariamente pela infecção do sistema de canais radiculares (SIQUEIRA, 2011). Embora fatores de ordem física e química possam induzir ao aparecimento de uma lesão perirradicular, vários estudos indicam que apenas os agentes microbianos são responsáveis pela progressão e manutenção da inflamação perirradicular (KAKEHASHI, et al.,1965; MÖLLER, 1966; SUNDQVIST,1976; MÖLLER et al., 1981). A ocorrência da doença perirradicular está associada às respostas inflamatória e imunológica do hospedeiro com o intuito de conter o avanço da infecção endodôntica (LOPES & SIQUEIRA, 2010). Diversos mediadores químicos, como por exemplo, interleucinas (IL) 6, 11, 17 e fator de necrose tumoral alfa (TNF-α), são liberados aos tecidos perirradiculares em casos de infecção. Ao atingirem níveis críticos, estes estimularão células do estroma e osteoblastos a expressarem receptor activator of NF-kB ligand (RANKL), e diminuir a produção de osteoprotegerina (OPG), promovendo a diferenciação e ativação dos osteoclastos, responsáveis pela reabsorção óssea e consequente crescimento da lesão perirradicular (TAKAYANAGI, 2005a e 2005b). No entanto, os hospedeiros podem apresentar diferentes respostas à infecção perirradicular e ao mesmo tipo de tratamento endodôntico. Tal fato ocorre, pois alguns indivíduos apresentam condições que podem influenciar na 1 susceptibilidade da doença (SEGURA-EGEA et al., 2005; ROSANIA et al., 2009). Estas condições podem ser referidas como modificadores da doença, desde que não sejam sua causa, mas possam influenciar no desenvolvimento, diagnóstico, severidade ou resposta ao tratamento (SIQUEIRA, 2011). A osteoporose representa uma das osteopatias mais comuns, e caracteriza-se pela redução da massa óssea e deterioração do tecido ósseo, conduzindo a um aumento da fragilidade óssea e a um consequente aumento do risco de fratura (AMADEI et al., 2006). Quando o metabolismo ósseo está em condições normais, existe um equilíbrio entre a formação e a reabsorção ósseas. Porém, tanto no hipogonadismo como na senescência, há um desequilíbrio na remodelação óssea que resulta em redução de massa óssea, caracterizando assim um quadro de osteoporose (JHONSON et al., 2002). As alterações no metabolismo ósseo levam a um aumento da reabsorção óssea e a uma diminuição na possibilidade de reparo. É provável que esta condição exerça influência sobre a evolução das lesões perirradiculares, que são processos inflamatórios que resultam em destruição do osso alveolar ao redor do ápice dentário. Porém, não existem relatos na literatura sobre a osteoporose como modificador da doença perirradicular. 2 2. REVISÃO DE LITERATURA 2.1. Infecções Endodônticas Em condições fisiológicas assépticas, os tecidos e órgãos internos de mamíferos encontram-se livres de microrganismos. Esta situação é mantida pela ação de barreiras naturais, representadas por fatores mecânicos, químicos e biológicos, que isolam o interior do organismo, impedindo assim, o contato com microrganismos ambientais e com os componentes da própria microbiota anfibiôntica (SIQUEIRA & DANTAS, 2000). Portanto, a exposição da dentina coloca a polpa em risco de infecção como consequência da permeabilidade da dentinária normal inerente a estrutura tubular (COHEN, 2011). As principais alterações patológicas que acometem a polpa e os tecidos perirradiculares são de natureza inflamatória e etiologia infecciosa. Estudos clásssicos indicam que agentes microbianos são os principais responsáveis pela progressão e manutenção da inflamação perirradicular (KAKEHASHI, et al.,1965; MÖLLER, 1966; SUNDQVIST,1976; MÖLLER et al., 1981). Quando os microrganismos que colonizam o sistema de canais radiculares conseguem alcançar os tecidos perirradiculares via forame apical, ou via forames laterais, instala-se um processo inflamatório na região com o intuito de tentar evitar que a infecção se dissemine pelo osso e pelos tecidos moles. Na maioria das vezes, há um equilíbrio entre as defesas do hospedeiro e a agressão causada pelos patógenos endodônticos, originando uma lesão perirradicular crônica. Porém, quando a agressão microbiana aos tecidos for 3 muito intensa, um abscesso perirradicular agudo poderá se desenvolver na região, podendo a infecção alcançar outras áreas da região da cabeça e do pescoço (SIQUEIRA & RÔÇAS, 2008). A inflamação é a principal resposta da polpa e dos tecidos perirradiculares a uma gama de estímulos que causam injúria tecidual. A intensidade da resposta inflamatória irá variar conforme o tipo de agressão e, principalmente, a sua intensidade. Uma vez que a agressão rompe a integridade tecidual, a resposta inflamatória localiza e prepara os tecidos alterados para a reparação da região afetada. Na persistência do estímulo agressor, as próprias respostas de defesa do hospedeiro, específicas ou inespecíficas, podem gerar o dano tecidual. No caso de doenças pulpares e perirradiculares, a destruição tecidual causada pelas defesas do hospedeiro em resposta a uma agressão persistente parece ser mais significativa do que os próprios efeitos diretos proporcionados pelos microrganismos (LOPES & SIQUEIRA, 2010), e é caracterizada por alterações vasculares, extravasamento e migração de neutrófilos e monócitos ao local da agressão (SIQUEIRA, 2011). Na infecção endodôntica, os microrganismos penetram no sistema de canais radiculares além do alcance das defesas do hospedeiro e de antibióticos sistêmicos. A falta de suprimento sanguíneo ativo na polpa necrosada ou dentes despolpados (tratados) impede o transporte de células/moléculas de defesa e antibióticos sistêmicos ao sítio infectado. Tal fato difere a infecção endodôntica de infecções que ocorrem em outros locais do corpo humano (CHÁVES de PAZ, 2007; JUNGERMANN et al., 2011). 4 Quanto à localização, as infecções endodônticas podem ser classificadas em intrarradicular e extrarradicular A infecção intrarradicular ocorre quando microrganismos colonizam o sistema de canais radiculares, e pode ser classificada como primária, secundária ou persistente (SIQUEIRA, 2011). A infecção primária é causada por microrganismos que inicialmente invadem e colonizam o tecido pulpar necrótico. Já a secundária é causada por microrganismos que não estavam presentes durante a infecção primária, mas invadiram o canal radicular algum tempo após intervenção profissional. A infecção persistente ocorre quando microrganismos envolvidos na primária e secundária resistiram aos procedimentos antimicrobianos e à escassez de nutrientes em canais tratados (RÔÇAS et al., 2011). A persistência das infecções crônicas está geralmente relacionada à organização comunitária dos biofilmes e à inacessibilidade às defesas do hospediro, devido à localização anatômica da infecção (COHEN, 2011). O biofilme pode ser definido como uma comunidade microbiana multicelular séssil, caracterizada por células que estão firmemente ligadas a uma superficie e aderidas em matriz polimérica extracelular, usualmente, polissacarídeos (DUGGAN & SEDGLEY, 2007; SIQUEIRA, 2011). As células localizadas mais profundamente no biofilme são expostas às condições ambientais que diferem daqueles na superfície, incluindo diminuição da tensão de oxigênio. Isto resulta em uma alteração fenotípica em termos de taxa de crescimento e transcrição de genes, que podem facilitar certas características de sobrevivência e virulência. A lenta taxa metabólica de microorganismos em biofilmes, bem 5 como a matriz extracelular do biofilme pode impedir a eficácia de muitos antimicrobianos (DUGGAN & SEDGLEY, 2007). A infecção extrarradicular é caracterizada pela invasão microbiana do tecido perirradicular inflamado como uma sequela da infecção intrarradicular. Teoricamente, essas infecções podem ser dependentes ou independentes da infecção intrarradicular, embora a última apresente controvérsias (RICUCCI & SIQUEIRA, 2008). As lesões perirradiculares constituem uma resposta inflamatória e imune contra patógenos bacterianos que infectam e destroem a polpa dental, em consequência da formação de cáries dentárias e traumas. Este processo inflamatório resulta em destruição do osso alveolar ao redor do ápice radicular (FUMISHIGE et al., 2009). 2.2. Defesa Tecidual contra Infecções Endodônticas A resposta imune à penetração e proliferação bacteriana nos tecidos é dividida em imunidade inata e imunidade adaptativa. A imunidade inata é a primeira linha de defesa, e a resposta imune adaptativa é a mais sofisticada e efetiva em termos de reconhecimento e prevenção à reinfecção (SIQUEIRA, 2011). 2.2.1. Resposta Imune Inata A imunidade inata é uma defesa inicial, ativada imediatamente após a invasão de bactérias nos tecidos. Esta resposta pode ser dividida em fase préinflamatória primariamente, onde macrófagos 6 residentes e sistema complemento tentam eliminar bactérias, e resposta inflamatória aguda. Os principais mecanismos da resposta inata contra bactérias são ativação do sistema complemento, fagocitose e a resposta inflamatória (SIQUEIRA, 2011). ITO et al. (2013) descrevem a resposta inata como uma rápida proteção contra patógenos, a qual, com o tempo, pode ativar e iniciar a resposta imune adaptativa através de receptores Toll-like receptors (Toll), que também desempenham papel importante no reconhecimento de componentes microbianos. Quando da persistência da agressão bacteriana, não eliminada pela defesa inata não induzida, um dano tecidual é gerado, o que induz o desenvolvimento da resposta inflamatória aguda (SIQUEIRA & DANTAS, 2000). A destruição tecidual e a inflamação observadas na lesão perirradicular estão associadas ao tecido de granulação, que contém células inflamatórias como linfócitos T e B, plasmócitos e inúmeras células como monócitos/macrófagos. Estas células produzem uma gama de mediadores químicos envolvidos no processo inflamatório (ABBAS et al., 2007) . Alterações vasculares são induzidas pela variedade de mediadores químicos liberados em resposta ao reconhecimento de microrganismos e ao dano tecidual. No local onde ocorreu a injúria, ocorrem alterações no calibre vascular, com o consequente aumento do fluxo sanguíneo; alterações estruturais nos componentes da microcirculação, acarretando em aumento da permeabilidade vascular e na saída de células e moléculas dos vasos para os 7 tecidos; migração de células de defesa (leucócitos) e acúmulo no espaço extravascular (SILVERTHORN, 2003). 2.2.2. Resposta Imune Adaptativa A imunidade adaptativa é iniciada quando ocorre falha na eliminição da infecção pela imunidade inata (SIQUEIRA, 2011). Trata-se de uma resposta antígeno específica, e serve para aprimorar os mecanismos de proteção da imunidade inata inespecífica (HAHN & LIEWEHR, 2007). A resposta imunológica adaptativa é dividida em dois tipos básicos: imunidade humoral, mediada por anticorpos, moléculas responsáveis pelo reconhecimento específico de partículas estranhas, e imunidade celular, mediada por linfócitos T. A imunidade adaptativa inclui receptores específicos nos linfócitos T e B, além dos seus produtos os quais incluem as quimiocinas, citocinas inflamatórias e anticorpos. Quimiocinas inflamatórias dirigem o tráfico de células do sistema imunológico, e as citocinas induzidas durante a ativação das células T promovem a regulação de respostas imunes e inflamatórias (HAHN & LIEWEHR, 2007; LOPES & SIQUEIRA, 2010). O maior componente de defesa envolvido na inflamação crônica, portanto, é a resposta imune adaptativa, que pode ser dividida em três fases: reconhecimento de antígenos, ativação de linfócitos e fase efetora (SIQUEIRA, 2011). 8 2.3. Mediadores Químicos Envolvidos na Evolução das Lesões Perirradiculares Os mediadores químicos endógenos da inflamação são substâncias responsáveis pela indução, controle e amplificação dos eventos vasculares e celulares da inflamação. Podem ser vasoativos, causando vasodilatação e aumento da permeabilidade vascular, e quimiotáticos para células inflamatórias, atraindo-as para o local da lesão tecidual. Estas substâncias agem como opsoninas, destroem bactérias, causam dano tecidual e dor (SILVERTHORN, 2003). A origem dos mediadores químicos ocorre basicamente de duas formas: através do plasma (intravascular) e de células. Mediadores derivados do plasma estão presentes em suas formas precursoras, e podem ser ativados, usualmente, por uma série de clivagens proteolíticas. A ativação normalmente ocorre após danos aos vasos sanguíneos ou extravasamento do plasma aos tecidos. Mediadores químicos derivados do plasma incluem bradicinina e os sistemas complemento, fibrinolítico e o de coagulação. Mediadores derivados de células podem ser encontrados em estágio de pré-formação intracelular ou podem ser imediatamente produzidos por células de defesa em resposta a estímulos. Exemplos destes mediadores incluem histamina, metabólitos do ácido aracdônico (prostraglandinas e leucotrienos) enzimas lisossomais, metaloproteinases de matriz, e citocinas dentre outros (Tabela 1) (SIQUEIRA, 2011). 9 Tabela 1: Mediadores Químicos da inflamação e seus efeitos MEDIADOR EFEITO Prostaglandinas, Histamina, Óxido Nítrico Vasodilatação Neuropeptídeos Histamina, C3a e C5a, Bradicinina, Aumento da permeabilidade vascular Leucotrienos C4, D4 e E4, Fator de agregação plaquetária, Neuropeptídeos Quimiocinas, C5a, Leucotrienos B4, Fator Quimiotaxia de agragação plaquetária, Fibrinopeptídeos Enzimas lisossomais, Matriz Dano Tecidual metaloproteinases, Óxido Nítrico, Citocinas, Prostaglandinas IL-1 e TNF, Prostaglandinas Febre Bradicinina, Prostaglandinas Dor *Adaptada de: SIQUEIRA, 2011. Citocinas pró-inflamatórias e pró-reabsortivas desempenham papel fundamental na reabsorção óssea associada à lesão perirradicular (Figura 1). Mecanismos pró-inflamatórios devem ser bem controlados de modo a prevenir a destruição tecidual excessiva. O equilíbrio entre citocinas pró-inflamatórias e anti-inflamatórias controla a extensão da resposta do hospedeiro e a estimulação antigênica durante o processo inflamatório crônico (MORSANI et al., 2011). 10 Figura 1: Dano tecidual direto e indireto causado por bactérias ao exercerem sua patogenicidade (Adaptada de: SIQUEIRA, 2011). É possível verificar que em resposta a infecção endodôntica, diversos mediadores químicos, como as citocinas IL-1β, IL-6, IL-11, IL-17 e TNF-α são liberados aos tecidos perirradiculares. Esses mediadores são essenciais durante o processo de formação da lesão perirradicular. Ao atingirem níveis críticos vão estimular células do estroma e osteoblastos a expressar RANKL, e diminuir a produção de OPG, o que acaba estimulando a osteoclastogênese (TAKAYANAGI, 2005a e 2005b). A IL-1 é um regulador chave de defesa a infecções microbianas, e o maior modulador de catabolismo de matriz extracelular e reabsorção óssea. Existem basicamente duas formas de IL-1: α e β. IL 1-β é 15 vezes mais potente que a IL-1α e mil vezes mais que TNF em induzir reabsorção (LOPES & SIQUEIRA, 2010). Macrófagos são os principais produtores de IL -1. Células 11 endoteliais e algumas epiteliais também podem produzir essa citocina (SIQUEIRA, 2011). A IL-1 pode induzir a expressão de TNF e IL-6, outras citocinas envolvidas no processo inflamatório (COIL, 2004). O TNF pode existir nas formas α e β. TNF-α é um polipeptídeo sintetizado predominantemente por macrófagos e linfócitos T, estes últimos em menor quantidade. TNF-β, também conhecido como linfotoxina, é uma glicoproteína produzida exclusivamente por linfócitos T ativados. Ambas as moléculas induzem a formação de osteoclastos a partir dos precursores e estimulam a função de osteoclastos maduros. Seus efeitos sobre os osteoclastos também são indiretos, sendo mediados por osteoblastos. Além disso, TNF também inibe a neoformação óssea (LOPES & SIQUEIRA, 2010). HENRIQUES et al. (2011) encontraram níveis significantes de TNF-α em lesões perirradiculares refratárias em dentes com tratamento endodôntico, quando comparadas a dentes saudáveis. Como é um potente mediador das respostas imunológicas, aguda e crônica, o TNF-α tem a capacidade de aumentar a reabsorção óssea. A IL-6 é uma citocina sintetizada por macrófagos, células endoteliais, fibroblastos e outras células. É sintetizada por osteoblastos em resposta a outros agentes envolvidos na reabsorção como o paratormônio (PTH), prostaglandina (PG) e IL-1. A IL-6 pode estimular a formação de osteoclastos a partir de precursores hematopoiéticos (LOPES & SIQUEIRA, 2010). As PGs são derivadas da metabolização do ácido aracdônico pela enzima cicloxigenase, e induzem a síntese de colagenase por osteoblastos, favorecendo o início da reabsorção. Tem sido demonstrado que PGs estimulam 12 a reabsorção de osso, fato este comprovado pela constatação de que indometacina e flurbiprofeno, inibidores da síntese de PGs, inibiam a reabsorção óssea. Contudo, é inteiramente possível que os efeitos mediados por PGs sejam indiretos e estejam relacionados à sensibilização das células ósseas à ação de outros mediadores químicos. As PGs têm sido envolvidas nos processos de reabsorção associados às doenças inflamatórias, como periodontites, artrite reumatóide e lesões perirradiculares (SIQUEIRA & DANTAS, 2000). A IL-11, produzida por células do estroma da medula óssea e por osteoblastos, pode promover a proliferação e diferenciação dos precursores hematopoiéticos dos osteoclastos. Evidências sugerem que a IL-11 seja um fator essencial para o desenvolvimento de osteoclastos, o que depende da adesão intercelular (contato célula-célula) entre os precursores do osteoclasto e as células do estroma da medula ou dos osteoblastos (TAKAYANAGI, 2005a e 2005b). A IL-17 atua principalmente em células endoteliais estromais e epiteliais, bem como no subconjunto de monócitos para induzir a secreção de mediadores pró-inflamatórios. Esta citocina está associada tanto na fase ativa e reabsortiva, quanto na fase crônica da lesão periapical. A correlação positiva entre Interferon gama (IFN-γ) e IL-17 foi demonstrada em culturas de lesões periapicais, sugerindo que ambas as citocinas são importantes para a exacerbação da inflamação (HENRIQUES, 2011). O fator estimulante de colônia de macrófagos (M-CSF) é um polipeptídeo produzido por macrófagos, células endoteliais, osteoblastos e 13 fibroblastos. A sua produção por osteoblastos pode ser induzida por IL-1 e TNF, sugerindo que M-CSF pode servir na comunicação do sinal reabsortivo do osteoblasto para osteoclasto e estimula a proliferação dos precursores de osteoclasto (SIQUEIRA & DANTAS, 2000). 2.3.1. Reabsorção Óssea O processo de perda óssea é regulado por fatores físicos como estímulos mecânicos, e por inúmeros polipeptídeos, como hormônios e citocinas que atuam no aumento na ativação de substâncias que induzam o aumento da atividade osteoclástica (GRIMAUDI et al., 2003). Osteoclastos são células que possuem a função de degradação de matriz óssea (YANG, 2007). Segundo LOPES & SIQUEIRA (2010), são tipos celulares gigantes multinucleadas, oriundas da mesma linhagem de células precursoras dos monócitos/macrófagos, cuja diferenciação é primariamente regulada por M-CSF, ligante do receptor para ativação do RANKL e OPG. A diferenciação do precursor em osteoclasto requer a presença de células do estroma da medula óssea ou osteoblastos, as quais expressam as duas moléculas essenciais para a promoção da osteoclastogênese – M-CSF e RANKL (SIQUEIRA, 2011). A diferenciação e ativação de osteoclastos são dirigidas pela interação de Receptor Activator NF Kappa (RANK) com o ligante RANKL, e regulada pela OPG. ZHANG & PENG (2005) relataram a identificação de RANKL e seu receptor RANK como uma proteína essencial na ativação de osteoclastos, cuja diferenciação pode ser responsável pela reabsorção óssea periradicular. 14 RANKL é expressa principalmente na membrana de osteoblastos ou células do estroma, e participa de cada fase da osteoclastogênese enquanto o RANK é o receptor presente na superfície de pré- osteoclastos. A OPG é uma proteína que regula a densidade óssea e que pode agir localmente ou sistematicamente na inibição da maturação de osteoclastos. OPG é um receptor que se liga e inibe a ligação de RANKL ao seu receptor RANK e, por isso, protege o tecido dental mineralizado de reabsorção. A detecção de OPG em macrófagos, linfócitos e células do plasma, sustenta a afirmação da presença desta citocina na regulação das respostas imune e inflamatórias (KUTZ, 2001). Em condições homeostáticas, níveis de RANKL e OPG encontram-se em equilíbrio, regulando a origem de osteoclastos responsáveis pela reabsorção. Em contrapartida, uma super expressão de RANKL pode ser observada em condições inflamatórias, principalmente como resultado da presença de RANKL/OPG, células levando inflamatórias, a uma resultando excessiva em desequilíbrio atividade entre osteoclástica e consequentemente à reabsorção óssea patológica (Figura 2) (MENEZES et al., 2008). 15 Figura 2: Funções de RANK, RANKL e OPG na osteoclastogênese em condições homeostáticas e inflamatórias. (Adaptada de: MENEZES et al., 2008). 2.4. Modificadores da Doença Embora existam protocolos altamente eficazes à erradicação da doença, diferentes respostas à infecção podem ocorrer ao mesmo tipo de tratamento endodôntico, quando estes apresentam fatores que, embora não sejam a causa, possam influenciar na susceptibilidade, desenvolvimento ou severidade da doença, principalmente por deficiências na resposta do sistema imunológico (Figura 3). Tal fato pode esclarecer o surgimento de sintomatologia dolorosa em casos assintomáticos, a cura tardia de algumas lesões, e explicam por que canais bem tratados podem resultar em fracasso. Os modificadores da doença 16 com potencial de influenciar a lesão perirradicular incluem condições sistêmicas (diabetes e infecções virais), genética (polimorfismo genético), e hábitos adquiridos (fumo) (SIQUEIRA, 2011). LESÃO PERIRRADICULAR Bactéria Composição e Virulência Anticorpos S. Complemento Fagócitos Componentes Estruturais Bacterianos e seus Produtos Resposta Inflamatória & Imunológica Citocinas MMPs Prostaglandinas RANKL Tecido Conjuntivo e/ou Destruição Óssea Mudanças no meio Sinais Clínicos & Sintomas da Doença Siqueira, 2011. Figura 3: Modificadores da doença (Adaptada de: Siqueira, 2011). O diabetes mellitus é uma desordem metabólica caracterizada por concentrações anormalmente altas de glicose no sangue, causadas por secreção de insulina inadequada e células-alvo com reações anormais ou ambas as situações. Esta doença pode se apresentar de duas formas distintas: Tipo 1, que é uma condição auto imune, causada pela deficiência de insulina pela destruição das células beta de Langerhans, e Tipo 2, a mais comum, caracterizada por um comprometimento metabólico e alteração nos níveis de insulina no sangue, apresentando-se de forma mais elevada que o normal (SILVERTHORN, 2003). A doença afeta muitas funções do sistema imune, e 17 está associada ao comprometimento da cicatrização. As complicações orais mais frequentes de portadores de diabetes mellitus não controlada podem incluir: xerostomia, infecções, dificuldade na cicatrização, aumento da incidência e severidade de cáries, candidíase, gengivite e doença periodontal (SEGURA-EGEA et al., 2005). A influência do diabetes no desenvolvimento, curso e resposta ao tratamento de lesões perirradiculares tem sido comprovada (SIQUEIRA, 2011). Um estudo realizado por ARMADA–DIAS et al., (2006), revelou que ratos diabéticos Tipo 1 apresentaram lesões perirradiculares significativamente maiores e com exsudato inflamatório quando comparados com os ratos normais, e que ratos diabéticos podem ser mais propensos a desenvolver lesões perirradiculares extensas, possivelmente devido à diminuição da capacidade de defesa contra patógenos microbianos. SEGURA-EGEA et al. (2005) e MAROTTA et al. (2012) verificaram que lesões perirradiculares foram significantemente maiores em dentes de indivíduos portadores de diabetes Tipo 2, sugerindo que o diabetes mellitus pode se manifestar como um modificador da doença perirradicular. Outra condição reconhecida como modificador da doença perirradicular é o polimorfismo genético. Trata-se de uma variação genética na sequência de bases nucleotídicas, ou na estrutura cromossômica que ocorre com uma frequência maior que 1% na população. O tipo mais comum de polimorfismo é o que envolve um único nucleotídeo, chamado de polimorfismo de nucleotídeo único ou polimorfismo de transição, onde, durante a replicação, ocorre a substituição de um nucleotídeo por outro, ocorrendo a troca de um único par de 18 base, podendo ainda assim afetar a estrutura e a função de um gene, consequentemente afetando a expressão de proteína (KINANE & HART, 2003). Polimorfismos em genes relacionados com a inflamação, como por exemplo, nos genes receptor celular de superfície gama (FcyR), podem levar ao aumento ou a inibição de eventos mediados por FcyR e consequentemente, podem influenciar a susceptibilidade e/ou gravidade das doenças inflamatórias. Os receptores Fcy presentes na superfície expressa nos leucócitos para a região constante de imunoglobulina G (IgG), se ligam a bactérias ou produtos bacterianos solúveis e funcionam como uma opsonina, favorecendo a fagocitose pelos neutrófilos via Fcy ou internalização pelas células apresentadoras de antígeno, incluindo macrófagos e células B (SIQUEIRA, 2011). Um estudo realizado por SÁ et al. (2007) relacionou polimorfismo com sintomatologia, sugerindo que fatores genéticos podem influenciar no desenvolvimento de abscessos perirradiculares agudos. SIQUEIRA (2011) investigou a associação do polimorfismo genético do receptor FcyRIIIa com periodontite apical pós-tratamento e concluíram que o polimorfismo no receptor FcyRIIIa não influencia a resposta do tratamento endodôntico em dentes com periodontite apical. Supostamente, a infecção pelo vírus da imunodeficiência humana adquirida (HIV) também pode ser considerada como um fator modificador da lesão perirradicular. Considera-se que as células T, que exercem importante papel no desenvolvimento, progressão e cura da lesão perirradicular pela ativação de macrófagos, células B e outros tipos celulares, sejam a célula – 19 alvo do HIV, é razoável afirmar que pacientes portadores do HIV possam apresentar dificuldade em elaborar uma resposta imune contra bactérias invasoras do tecido perirradicular (SIQUEIRA, 2011). Porém, ainda não existem estudos que comprovem esta suposição. Embora ainda existam controvérsias a respeito da relação entre o fumo e a lesão perirradicular, alguns autores consideram este hábito um potencial fator de risco à doença, além de considerarem que esta associação pode exercer papel relevante no curso da doença (KIRKEVANG & WENZEL, 2003; SIQUEIRA, 2011). LÓPEZ et al. (2012) concluíram em estudo que, após analisar sexo, idade, número de dentes, estado endodôntico, qualidade da obturação e estado diabético como co-variáveis, a presença de lesões perirradiculares está fortemente associada ao tabagismo. Outras condições como stress, infecção por herpes-vírus e osteoporose tem sido sugeridas como possíveis modificadores da lesão perirradicular, porém estudos ainda precisam ser realizados (SIQUEIRA, 2011). 2.5. Osteoporose O osso é um tecido que desempenha papel importante na homeostasia mineral, na reserva de elementos hematopoiéticos e no suporte para movimentos (SIQUEIRA & DANTAS, 2009). É uma estrutura dinâmica, continuamente renovada e reconstruída através da remodelação. A remodelação óssea é definida como um processo de aposição fisiológico e contínuo no qual há reabsorção do osso antigo e substituição por osso 20 recentemente formado. Esse evento continua por toda a vida adulta, sendo responsável pela renovação do esqueleto e manutenção da integridade anatômica e estrutural. É influenciada por diversos fatores, como mecanismos regulatórios intracelulares, hormonais, além de fatores locais e externos. Alterações na remodelação óssea podem resultar em diferentes distúrbios, entre eles a osteoporose (AMADEI et al., 2006). A osteoporose é uma doença do metabolismo ósseo, caracterizada por redução da massa e deterioração na arquitetura do esqueleto (BRAUNWALD et.al., 2005; LANE, 2005). É considerada uma “doença silenciosa” até o momento em que ocorre a fratura (GASS & DAWSON-HUGHES, 2006). Quando o metabolismo ósseo está em condições normais, existe um equilíbrio entre a formação e a reabsorção. Porém, tanto no hipogonadismo como na senescência ocorre um desequilíbrio na remodelação óssea que resulta em redução de massa óssea, caracterizando assim um quadro de osteoporose (JHONSON et al., 2002). Esta doença pode ser primária (tipos: I – pós-menopausa e II – senil) ou secundária. A osteoporose tipo I, pós-menopausa, é o tipo mais comum desta condição e está associada à deficiência de estrógeno. A perda da função do ovário altera significativamente a homeostase óssea e aumenta a perda de tecido ósseo. Este tipo de osteoporose afeta o osso trabecular, promovendo o imenso risco às mulheres pós-menopausa (HORAN &TIMMINS, 2009). Os esteroides sexuais possuem efeitos no desenvolvimento e maturação do esqueleto, como crescimento da placa de maturação e fechamento durante o crescimento longitudinal, regulação diferencial do metabolismo de ossos 21 cortical e trabecular, estimulam o pico de massa óssea e inibem a perda óssea (LIBOUBAN et al., 2002). A ação estrogênica anti-reabsortiva está relacionada à sua capacidade de regular fatores modeladores da osteoclastogênese e não de uma ação direta no osteoclasto (MANOLAGAS, 2000; VANDERSCHUEREN et al., 2004). O aumento da liberação das citocinas no estado de hipoestrogenismo acelera a reabsorção óssea. Alguns estudos sugerem a participação de IL-1, IL-6 e TNF na perda óssea, já que seus níveis se encontraram aumentados em camundongos ovariectomizados e mulheres pós-menopausa; acreditando haver um aumento da secreção, pelos osteoblastos ou pelas células do estroma da medula óssea, capazes de estimular a osteoclastogênese e o consequente aumento da reabsorção óssea. Inversamente, a terapia de reposição hormonal suprime as citocinas, prevenindo a perda óssea (GRIZ, 2000; RAMALHO et al., 2000). Um estudo realizado por KRIBBS et al. (1983), analisou a relação entre osteopenia esquelética e alterações dentárias em 30 mulheres pósmenopáusicas com diagnóstico confirmado da osteoporose. Os resultados demonstraram que a osteopenia esquelética exerce influência sobre condições orais. Os autores afirmam que a massa óssea do rebordo alveolar e sua densidade mostram uma relação significativa com o cálcio total do corpo, e que quaisquer medidas terapêuticas que controlam ou têm efeito sobre a osteoporose, podem, por conseguinte, exercer influência sobre a densidade do rebordo residual. 22 A osteoporose tipo II ocorre após 65 anos de idade, afetando a população idosa de homens e mulheres na proporção de 1:3, e se traduz por uma perda mais lenta de osso trabecular e cortical e por fraturas de fêmur proximal, úmero e vértebras. As fraturas de fêmur proximal são as que trazem maior morbidade e mortalidade, e em 95% dos casos sofrem correções cirúrgicas (KRAHE, 2003; WIREN, 2005). A osteoporose secundária ocorre como consequência de processos patológicos (artrite reumatóide, hipertireoidismo, hiperparatireoidismo e mieloma múltiplo) e outras condições, tais como alcoolismo, imobilização, terapia crônica com heparina, uso de anticonvulsivantes e hipervitaminose A (MANOLAGAS, 2000). 2.6. Modelo experimental da perda óssea por hipogonadismo A castração em ratos é o modelo utilizado com maior frequência para o estudo de eventos associados à osteopenia, pois mimetiza perda óssea por hipogonadismo (LIBOUBAN et al., 2002; IWAMOTO et al., 2004; BORST & CONOVER, 2006). Os principais mecanismos biológicos responsáveis pelo ganho e perda óssea durante o crescimento normal e a vida adulta são os mesmos em seres humanos e ratos. Sabe-se também que ratos e humanos respondem similarmente à terapia hormonal. Por isso, murinos são ideais para a avaliação do agente terapêutico para a prevenção da osteoporose (OLIVERA et al., 2003; FITTS et al., 2004) 23 Antes de realizar a castração em fêmeas, é importante acompanhar as modificações na citologia vaginal para verificar se as ratas estão apresentando funcionamento normal ovariano. Roedores de laboratório, como camundongos, ratos e hamsters, são espécies poliestrais, em que o estro ocorre regularmente a cada 4-5 dias (MARCONDES et al., 2002). A concentração sérica dos hormônios sexuais apresenta variações ao longo do ciclo estral, decorrentes de modificações morfo-funcionais dos ovários, induzidas pelas gonadotrofinas hipofisárias, hormônio luteinizante (LH) e hormônio folículo estimulante (FSH). As variações hormonais cíclicas repercutem na morfologia e funcionalidade dos órgãos do aparelho reprodutor. No epitélio vaginal ocorrem alterações decorrentes da ação de estrogênio e de progesterona, que podem ser avaliadas à microscopia de luz (TEBAR et al., 1995). Em ratas, podem-se evidenciar quatro etapas que, normalmente, se sucedem a cada quatro ou cinco dias e que possuem relações com a concentração de hormônio gonadal presente. Estas fases são denominadas: proestro; estro; metaestro e diestro (MARCONDES et al., 2002). O proestro (Figura 4A) tem duração aproximada de doze horas. É o período pré-ovulatório, no qual ocorre aumento exponencial do folículo ovariano. Na manhã de proestro, a concentração sérica de estradiol é máxima promovendo na tarde do proestro o pico de LH, que é responsável pela ovulação e que é sucedido por um pico de secreção de progesterona (KALRA & KALRA, 1974). Caracteriza esta fase, ao esfregaço vaginal, por células redondas de tamanho pequeno e nucleadas. 24 A fase seguinte, denominada de estro (Figura 4B), tem duração aproximada de vinte quatro horas, quando ocorre a maturação final do folículo de Graaf e ovulação. Os níveis séricos de estradiol, progesterona e LH são baixos (KALRA & KALRA, 1974). Ao esfregaço vaginal, foram observadas células queratinizadas anucleadas e ausência de leucócitos. Este é o período de receptibilidade sexual (BERALDO, 1972; FEDER, 1981; RODRIGUES, 1992). O período consecutivo, metaestro (Figura 4C), dura de vinte quatro a trinta e seis horas. Ocorre, aí, o crescimento do corpo lúteo que passa a secretar níveis séricos crescentes de estradiol e progesterona, com queda brusca do estradiol sérico, ao final da fase (KALRA & KALRA, 1974). A análise microscópica do epitélio vaginal revela três tipos celulares: células nucleadas, células queratinizadas e leucócitos (BERALDO, 1972; FEDER, 1981; RODRIGUES, 1992). O diestro (Figura 4D), que dura em torno de vinte e quatro horas, pode se estender a quarenta e oito horas em algumas ratas. Caracteriza-se pela involução do corpo lúteo e nova fase de proliferação folicular, que ocorre caso o óvulo não seja fecundado. O estradiol sérico está baixo, porém ascendente; progesterona e LH apresentam concentração sérica baixa (KALRA & KALRA, 1974). A citologia vaginal mostra células nucleadas, mas a característica desta fase é a predominância de leucócitos (BERALDO, 1972; FEDER, 1981; RODRIGUES, 1992). 25 4A 4B 4D 4C Figura 4: Fotomicrografia de lâminas de esfregaço vaginal de ratas controle, nas diferentes fases do Ciclo Estral, coradas pelo método tricômico de Shoor (40x). Fases do Ciclo Estral: 4A: Proestro, 4B: Estro, 4C: Metaestro, 4D: Diestro. 26 3. JUSTIFICATIVA A redução na capacidade de remodelação e de reparação do tecido em pacientes com osteoporose tem sido comprovada ao longo dos anos. Porém, não existem estudos que investiguem a provável influência da osteoporose na evolução da lesão perirradicular. 27 4. HIPÓTESE A lesão perirradicular é um processo inflamatório que resulta em destruição do osso alveolar ao redor do ápice dentário. Alterações no metabolismo ósseo, características da osteoporose, levam a um aumento da reabsorção óssea e a uma diminuição na possibilidade de reparo. Espera-se através deste estudo, verificar a influência da osteoporose na evolução de lesões perirradiculares. 28 5. PROPOSIÇÃO 5.1. Objetivo Geral Avaliar os efeitos da osteoporose na evolução da lesão perirradicular. 5.2. Objetivos Específicos Determinar o tamanho de lesões perirradiculares através de análise radiográfica. Comparar as imagens radiográficas de animais controles e castrados com lesões perirradiculares de 21 e 40 dias. 29 6. MATERIAIS E MÉTODOS 6.1. Parecer Ético O projeto de pesquisa está de acordo com Princípios Éticos da Experimentação Animal do Colégio Brasileiro de Experimentação Animal (COBEA) e obteve aprovação do Comitê de Ética e Pesquisa Animal (CEPA), sob o número de protocolo 00134/09. 6.2. Seleção da Amostra Para realização deste estudo foram utilizadas ratas adultas (n= 24), da linhagem Wistar, isogênicas e virgens, com 3 meses de idade, mantidas em gaiolas, com temperatura ambiente controlada (25 a 27C), umidade constante e ciclo claro/escuro de 12 horas (6:00h às 18:00h), sendo a água e ração (Nuvilab, Sogorb Indústria e Comércio LTDA, SP, Brasil) fornecidas ad libitum. Os animais foram mantidos no biotério do departamento de Fisiofarmacologia do Instituto Biomédico da Universidade Federal Fluminense (UFF). Antes de dar início a cada experimento, as fêmeas foram avaliadas, diariamente, por duas semanas consecutivas através de citologia vaginal e somente as ratas com ciclos regulares foram incluídas no estudo. 6.2.1. Determinação das Fases do Ciclo Estral Coletas diárias de esfregaço vaginal (Figura 5) foram realizadas entre 9:00 e 10:00 horas, com a finalidade de selecionar os animais que 30 apresentassem ciclo estral regular. A coleta do fluido vaginal foi realizada com auxílio de ponteira plástica contendo solução de cloreto de sódio a 0.9%, que foi depositado em lâminas de vidro e analisado à fresco em microscópio óptico (Leica DM500, Heerbrugg, Suécia) com objetiva 10x, sendo classificadas de acordo com as proporções dos tipos celulares encontrados em cada fase do ciclo estral (MARCONDES, 2002). 5B 5A Figura 5: Citologia vaginal. A: coleta de esfregaço vaginal. B: Análise a fresco de fluido coletado. 6.3. Castração Após esta etapa de avaliação, metade das ratas foram submetidas à remoção bilateral dos ovários (ovariectomia), sob anestesia com Tiopental, (Thiopentax, Cristália, São Paulo, Brasil) (0,1ml /100 g peso corporal), enquanto as ratas restantes, grupo controle, sofreram apenas estresse cirúrgico (pseudooperadas). 31 6.4. Desenvolvimento de Lesão Perirradicular Noventa dias após a cirurgia, todos os animais foram anestesiados com Tiopental (0,1ml /100g peso corporal), e o esmalte e a dentina dos primeiros molares inferiores esquerdos foram desgastados com broca carbide esférica de ½ (KG Sorensen, São Paulo, Brasil) com motor de baixa rotação (Dentec, CS 421, Brasil). A abertura foi realizada na fóssula mesial da superfície oclusal até a exposição pulpar (Figura 6). 6A 6B Figura 6: Desenvolvimento de lesão perirradicular. A: Determinação da área de trabalho. B: Exposição pulpar. Desta forma, 4 grupos experimentais foram formados: Grupo Controle com lesão de 21 dias (C 21 dias): n=6 Grupo Ovariectomizado com lesão de 21 dias (OVX 21 dias): n=6 Grupo Controle com lesão de 40 dias (C 40 dias): n=6 Grupo Ovariectomizado com lesão de 40 dias (OVX 40 dias): n=6 32 Ao final de cada período experimental (21 e 40 dias após desenvolvimento da lesão), os animais foram sacrificados por exsanguinação, sob anestesia com Tiopental (0,2 ml/100 g peso corporal), e removidos sangue e mandíbula. 6.5. Avaliação Biométrica A massa corporal dos animais foi verificada desde o inicio do experimento ate o dia do sacrifício. A pesagem foi realizada semanalmente com auxílio de uma balança digital (Mettler Toledo, Marte As 1000, SP, Brasil). 6.6. Avaliação Bioquímica O sangue dos animais foi coletado por punção cardíaca e centrifugado em centrífuga (RDE, MC 28, RJ, Brasil). Após a obtenção do soro, foram analisadas as concentrações de cálcio (calcio arsenazo III, K051), fósforo (phosphorus, K020) e fosfatase alcalina (phosphatase alkaline 019) através de testes colorimétricos da marca Bioclin (Quibasa, Belo Horizonte, Brasil) em espectofotômetro (Bioespectro, SP-22, PR, Brasil). 6.7. Avaliação Radiográfica As hemi-mandíbulas esquerdas foram lavadas e imersas em solução salina. Após este processo, as tomadas radiográficas foram realizadas em Aparelho Radiográfico Digital (Modelo Radioesfera – Siemens – SP, Brasil). As áreas das lesões perirradiculares presentes nos ápices das raízes mesiais dos primeiros molares da mandíbula esquerda foram mensuradas nas 33 radiografias através do software Image J (National Institute of Mental Health, Bethesda, USA). 6.8. Análise Estatística A análise comparativa dos dados obtidos foi realizada através de testes não paramétricos Kruskal-Wallis e Dunn´s Multiple Comparison utilizando o programa GraphPad Prism 4 (GraphPad Software, Inc, California, USA). A significância estatística considerada foi p<0.05. 34 7. RESULTADOS 7.1. Avaliação Biométrica Os valores numéricos das médias de massa corporal inicial e final, assim como os valores das médias das diferenças entre massa corporal final e inicial (∆) nos grupos C e OVX são apresentados na Tabela 2. Não houve diferença significativa entre a massa inicial dos animais do estudo (Figura 7). Foi possível observar que os grupos OVX apresentaram a massa corporal final e o ∆ superiores em todos os períodos experimentais (C 21 dias: ganho 13.5%, OVX 21 dias: ganho 23.4%, C 40 dias: ganho 4.3%, OVX 40 dias: ganho 31.4%) quando comparados com os grupos C. Porém, esses dados apenas foram estatisticamente significativos quando comparados OVX e C 40 dias, ou seja, com 191 dias de castração (Figuras 8 e 9). Tabela 2: Valores de massa corporal inicial (g). Grupo Massa corporal inicial (g) Massa corporal final (g) ∆ (g) C 21 dias 269.2 21.18 289.2 32.05 31.8 28.51 OVX 21 dias 260.2 18.40 321.0 21.87 60.8 12.24 C 40 dias 261.6 29.29 275.2 25.58 13.6 30.67 OVX 40 dias 263.3 27.07 344.7 25.01 81.4 28.59 * Os resultados são expressos por média DPM. ∆= massa corporal final- massa corporal inicial. 35 Massa corporal (g) 300 200 100 0 C 21 OVX 21 C 40 OVX 40 Figura 7: Valores de massa corporal inicial em todos os grupos experimentais expressos em (g). *# Massa corporal (g) 400 300 200 100 0 C 21 OVX 21 C 40 OVX 40 Figura 8: Valores de massa corporal final de todos os grupos experimentais expressos em (g). * OVX 40 vs C 21 p < 0.05, # OVX 40 vs C 40 p< 0.01. 36 *# 100 (g) 75 50 25 0 C 21 OVX 21 C 40 OVX 40 Figura 9: Valores de Δ (Massa corporal final-Massa corporal inicial) de todos os grupos experimentais expressos em (g). * OVX 40 vs C 21 p < 0.05, # OVX 40 vs C 40 p< 0.01. 7.2. Avaliação Bioquímica 7.2.1. Concentrações Séricas de Cálcio Os valores numéricos das médias das concentrações séricas de cálcio nos grupos C e OVX podem ser observados na Tabela 3. Os níveis séricos de cálcio foram semelhantes nos grupos C e OVX de 21 dias. Em 40 dias os níveis do grupo C foram maiores quando comparados ao OVX, mas esta diferença não foi estatisticamente significativa (Figura 10). 37 Tabela 3: Médias das concentrações séricas de cálcio (mg/dl) por grupo. Grupo Cálcio (mg/dl) Desvio padrão C 21 dias 2.063 0.5630 OVX 21 dias 1.960 0.7301 C 40 dias 2.725 1.740 OVX 40 dias 2.560 0.3209 3.5 Cálcio mg/dl 3.0 2.5 2.0 1.5 1.0 0.5 0.0 C 21 OVX 21 C 40 Figura 10: Análise comparativa dos níveis séricos de cálcio (mg/dl). 38 OVX 40 7.2.2. Concentrações Séricas de Fósforo Os valores numéricos das médias das concentrações séricas de fósforo nos grupos C e OVX podem ser observados na Tabela 4. Os níveis séricos de fósforo foram menores nos grupos OVX de todos os períodos experimentais quando comparados aos grupos C. Porém, esta diferença não foi estatisticamente significativa (Figura 11). Tabela 4: Médias das concentrações séricas de fósforo (mg/dl) por grupo. Grupo Fósforo (mg/dl) Desvio padrão C 21 dias 4.823 1.680 OVX 21 dias 3.939 0.5008 C 40 dias 4.450 1.566 OVX 40 dias 3.193 0.5617 6 Fósforo mg/dl 5 4 3 2 1 0 C 21 OVX 21 C 40 Figura 11: Análise comparativa dos níveis de fósforo (mg/dl). 39 OVX 40 7.2.3. Concentrações Séricas de Fosfatase Alcalina Os valores numéricos das médias das concentrações séricas de fosfatase alcalina nos grupos C e OVX podem ser observados na Tabela 5. Os níveis séricos de fosfatase alcalina foram maiores nos grupos OVX de todos os períodos experimentais quando comparados aos grupos C. Porém, esta diferença não foi estatisticamente significativa (Figura 12). Tabela 5: Médias das concentrações séricas de fosfatase alcalina (U/L) por grupo. Grupo Fosfatase alcalina (U/L) Desvio padrão C 21 dias 21.87 6.654 OVX 21 dias 25.60 4.011 C 40 dias 21.23 5.900 OVX 40 dias 23.60 7.184 Fosfatase alcalina U/L 30 20 10 0 C 21 OVX 21 C 40 OVX 40 Figura 12: Análise comparativa dos níveis de fosfatase alcalina (U/L). 40 7.3. Avaliação Radiográfica Os valores numéricos das médias dos tamanhos das lesões perirradiculares nos grupos C e OVX podem ser observados na Tabela 6. As lesões perirradiculares foram maiores nos grupos OVX de todos os períodos experimentais quando comparados aos grupos C. Porém, esta diferença foi estatisticamente significativa nas comparações OVX 40 dias x C 21 dias e OVX 40 dias x C 40 dias (Figura 13). Algumas das imagens obtidas através de radiografia podem ser observadas na Figura 14. Tabela 6: Tamanho das lesões perirradiculares (pixel). Grupo Tamanho da lesão (pixel) Desvio padrão C 21 dias 268.5 40.98 OVX 21 dias 353.7 49.31 C 40 dias 304.8 36.98 OVX 40 dias 548.4 141.7 41 Tamanho da lesão (pixel) 600 300 0 C21 OVX21 C40 OVX40 *# Figura 13: Análise comparativa do tamanho de lesões perirradiculares entre os grupos experimentais. ). * OVX 40 vs C 21 p < 0.05, # OVX 40 vs C 40 p< 0.01. A B C D Figura 14: Radiografias de mandíbulas. A: C 21 dias, B: C 21 dias, C: C 40 dias, D: OVX 40 dias. As setas indicam as lesões perirradiculares nas raízes mesiais dos primeiros molares esquerdos. 42 8. DISCUSSÃO A osteoporose é uma condição sistêmica que gera alterações no metabolismo ósseo, o que sugere possíveis influências sobre as lesões perirradiculares, que também são caracterizadas por perda óssea patológica. SIQUEIRA & RÔÇAS (2008) e GARNER et al. (2009) comprovam que as condições sistêmicas podem exercer papel relevante na cura, tratamento e prognóstico das lesões perirradiculares. Alterações no metabolismo ósseo, provenientes da deficiência de esteróides sexuais em mulheres no período pós-menopausa, constituem a principal causa da osteoporose (HORAN & TIMMINS, 2009). KALU (1991) definiu o modelo animal de perda óssea pós-menopausa como um animal vivo, o qual a perda óssea espontânea ou induzida devido à deficiência hormonal ovariana pode ser estudada, e em que as características da perda de massa óssea e suas sequelas se assemelham aos encontrados em mulheres na pósmenopausa em um ou mais aspectos. Portanto, para a realização do presente trabalho foi adotado o modelo de ovariectomia para o desenvolvimento da osteoporose em ratas adultas. Antes do procedimento cirúrgico, foi realizada uma avaliação prévia do ciclo estral que, de acordo com MARTINS et al. (2005), é considerada importante para verificar variações que ocorrem durante o ciclo reprodutivo dos animais. De acordo com GOLDMAN et al. (2007), a avaliação do ciclo estral em roedores de laboratório pode ser uma medida útil da integridade reprodutiva do eixo hipotalâmico - pituitário - ovariano, e pode ser considerado uma forma de 43 assegurar que os animais exibem padrões anormais de ciclagem. Neste estudo, a análise microscópica diária do material coletado, em concordância com os estudos prévios (GOLDMAN et al., 2007; WESTWOOD, 2008), revelou alterações na padronização do fluido vaginal por diferentes tipos celulares observados durante o ciclo reprodutivo. Cinco animais que apresentavam ciclos irregulares foram descartados e somente aqueles com ciclos regulares foram incluídos no estudo. Após a seleção da amostra, a ovariectomia foi realizada em metade dos animais. JEFFCOAT et al. (2000) afirmaram que a castração pode influenciar a densidade óssea alveolar, da mesma maneira que pode influenciar na massa óssea observada em outras estruturas ósseas corporais. Em ratas, os efeitos sistêmicos da deficiência estrogênica surgem após aproximadamente 30 dias (KALU,1991; ARMADA et al., 2006). Realizamos a indução da lesão perirradicular em animais com 150 dias de castração, que de acordo com ARMADA (2009), possuem alterações ósseas características da osteoporose mais significativas. A metodologia utilizada para a indução da lesão perirradicular seguiu os mesmos parâmetros de estudos anteriores (ARMADA– DIAS et al., 2006; YANG et al., 2009; LIU et al., 2012). A reabsorção óssea perirradicular, induzida pela exposição pulpar, foi observada em todos os grupos experimentais através da análise radiográfica. Além da avaliação do tecido ósseo através de radiografia, também realizamos as avaliações biométrica e bioquímica para acompanhar os efeitos sistêmicos da deficiência estrogênica. 44 De acordo com a literatura, a deficiência hormonal característica do período pós-menopausa está relacionada às mudanças adversas no peso, na composição corpórea e na distribuição de gordura no corpo feminino. Esse aumento de peso se faz com o aumento de tecido adiposo e diminuição da massa magra (KIRCHENGAST et al., 1999). No presente estudo foi observado ganho de massa corporal significativamente maior em OVX em relação a C em ratas de 40 dias (190 dias de castração). Porém, não foi verificada diferença estatisticamente significativa na massa corporal entre os grupos OVX e C de 21 dias (171 dias de castração) corroborando com o estudo de ARMADA (2009), em ratas aos 150 dias de castração. Para VASCONCELLOS et al. (2004) o aumento na massa corporal em deficiência estrogênica pode não ocorrer devido ao ganho ponderal, ou seja, animais ovariectomizados apresentam aumento de tecido adiposo mas sofrem perda óssea. A osteoporose se caracteriza por alterações do metabolismo ósseo e, por esta razão, neste estudo foram avaliadas as dosagens séricas de cálcio e fósforo (componentes do tecido ósseo) e da fosfatase alcalina (marcador da atividade osteoblástica). As concentrações séricas de cálcio e fósforo se mantiveram constantes entre os grupos, confirmando dados encontrados na literatura (NETTO et al., 2006; ARMADA, 2009). Segundo TAKADA et al. (1997), somente em circunstâncias extremas, como desnutrição ou hiperparatireoidismo, estes íons sofrem alterações. Os níveis séricos de fosfatase alcalina também não apresentaram diferença estatisticamente significativa apesar de apresentarem valores esperados aos grupos de estudo, ou seja, maiores em OVX e menores em C. Esses resultados diferem de 45 NETTO et al. (2006) que ao avaliarem o metabolismo ósseo em ratas Wistar castradas encontraram médias estatisticamente maiores para atividade sérica da fosfatase alcalina quando comparadas às controles. Porém, os autores realizaram esta avaliação apenas com 60 dias de castração. YOSHIKUBO et al. (2005) também descrevem um aumento da atividade da fosfatase alcalina na osteomalácia ou outras condições onde o metabolismo ósseo está aumentado. No presente estudo, não houve diferença estatisticamente significativa entre o tamanho das lesões de animais OVX e C com 21 dias. São poucos os estudos (GUILLES, et al., 1997; XIONG et al., 2007; LIU et al., 2010) de avaliação da influencia da osteoporose na evolução de lesões perirradiculares em 21 dias e a comparação entre os resultados é dificultada pela diferença existente entre as metodologias. GUILLES et al. (1997) realizaram castração de ratas Sprague-Dawley com 3 meses. Após 3 semanas da cirurgia foi realizada a indução de lesões perirradiculares nos canais distais dos primeiros molares mandibulares esquerdos através de instrumentação com limas endodônticas, seguida da inserção de fatores de reabsorção óssea (IL-1 ou lipopolissacarídeo do Campylobacter Rectus 314) e selamento dentário. Esse procedimento foi repetido por 3 dias. Foram realizadas radiografias e foi verificado aumento significativo de lesões perirradiculares em OVX quando comparado com os controles. XIONG et al. (2007) realizaram experimento com ratas Sprague-Dawley (n=40) com 3 meses. Metade dos animais foi castrada e 3 semanas após a 46 cirurgia foi realizada a indução de lesões perirradiculares com exposição pulpar. Foram formados 4 grupos experimentais: normais, controles com lesão, OVX com lesão, OVX com lesão recebendo terapia com alendronato. O período experimental foi de 21 dias de lesão. Foram realizadas radiografias e foi verificado aumento significativo de lesões perirradiculares em OVX quando comparado com os grupos OVX com alendronato e controle. LIU et al. (2010) realizaram castração de ratas Sprague-Dawley (n=24) com 3 meses. Após 1 semana da cirurgia foi realizada a indução de lesões perirradiculares com a exposição pulpar. O período experimental foi de 21 dias de lesão. Os resultados demonstraram perda óssea significativa no grupo OVX quando comparado ao Controle. Em nosso estudo também foi realizado um periodo experimental crônico de lesão. Através da análise radiográfica, foi possível verificar que essas lesões perirradiculares em períodos mais crônicos (40 dias) em animais do grupo OVX foram significativamente maiores em relação ao grupo C 21 dias e C 40 dias. Esse resultado demonstra que a presença de osteoporose modificou a evolução da doença perirradicular. Não existem na literatura estudos com tempo de lesão semelhante. 47 9. CONCLUSÕES Através deste estudo foi possível verificar que a osteoporose atuou como modificador da doença, pois influenciou na evolução da lesão perirradicular, principalmente em períodos crônicos. Estes achados sugerem a importância da utilização de protocolos antimicrobianos mais eficazes para portadores desta doença, embora estudos em humanos ainda precisem ser realizados. 48 10. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Abbas AK, Lichtman AH, Pillai S (2007). Cellular and molecular immunology. 6a ed. Philadelphia: Saunders/ Elsevier. Amadei SU, Silveira VA, Pereira AC, Carvalho YR, Rocha RF (2006). A influência da deficiência estrogênica no processo de remodelação e reparação óssea. J Bras Patol Med Lab 42: 5-12. Armada L, Nogueira CRR, Neves UL, Detogne JP, Souza PS, Armada-Dias L, Moreira RM, Nascimento-Saba CCA (2006). Mandible analysis in sex steroiddeficient rats. Oral Diseases 12: 181-186. 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