Aula 10-03-2015 E-Concept I-Concept O objeto da pesquisa é o I-Concept: entidades que estão na mente. Uma sentença (estrutura sintática) exprime um conceito. Ao ouvir uma sentença, o ouvinte reage de diferentes formas: a) checar a consistência do que é afirmado; b)produzir inferências; c) dar uma resposta; d) traduzir a sentença para outra língua. Mas sempre o ouvinte trabalha a partir do conceito, e não da estrutura sintática. Da mesma forma que as sentenças não podem ser reduzidas a listas, os conceitos também não podem, já que as sentenças são infinitas. Sendo assim, deve haver um conjunto de primitivos conceituais, e um conjunto de princípios de organização da estrutura conceitual. Ou seja, deve haver uma “gramática dos conceitos sentenciais”. Além disso, há conceitos lexicais que correspondem a esquemas conceituais. Assim, há dois níveis na estrutura conceitual: primitivos e regras de composição (nível sentencial) e conceitos lexicais. Parte dos primitivos e parte dos princípios devem ser inatos, para possibilitar a aquisição. Isso se aplica também aos conceitos lexicais; muitos deles são composições de elementos mais básicos. Solteiro= não casado. Matar= x Causar y Morrer. Comprar: x passa a possuir um bem de y, entregando dinheiro a y. 4. Três modelos para a descrição do significado 1- Model-theoretic semantics (ou semântica referencialista, ou formalista) O significado é o meio para se chegar a um referente no mundo (Frege). Símbolos são associados com aspectos do mundo (Lewis). Objeto de pesquisa deste modelo é a Verdade: uma relação entre linguagem e realidade. A Linguagem é vista como um objeto abstrato, externo aos falantes (Tarski; Davidson). ELanguage. Na perspectiva conceitual ou cognitiva, a estrutura semântica é interna ao falante. Como o mundo é X como apreendemos o mundo. Os conceitos são objetos psicológicos (I-Semantics). Fodor é outro proponente da teoria conceitual (The Language of Thought, 1975): a teoria computacional da mente. No entanto, Jackendoff se opõe ao Realismo Intencional de Fodor, segundo o qual há proposições com referência no mundo. “capturamos o mundo do modo que fazemos, justamente porque o mundo é assim” Intencionalidade: “mental states are directed towards things different from themselves” http://plato.stanford.edu/entries/intentionality/ A semântica conceitual foca apenas na forma da estrutura semântica, ou seja, na computação das representações mentais, e não no conteúdo referencial. Propriedades da mente x propriedades da realidade. Diferenças da abordagem de Jackendoff em relação à semântica cognitiva (Langacker, Lakoff): a) Autonomia dos níveis sintático e semântico. Em tese, a semântica cognitiva não leva em conta a sintaxe). B) formalismo; c) base inata forte. Regras de inferência: mapeamento de estruturas semânticas, para estruturas semânticas. A estrutura da Semântica-I Classes de palavras conceituais ou categorias ontológicas. Coisa, Evento, Estado, Lugar, Trajetória, Propriedade (Característica) e Quantidade. Essas categorias têm as seguintes similaridades: a) Um constituinte sintático corresponde a um constituinte semântico. Por exemplo: João correu em direção à casa. (John ran toward the house.) SNs; John- Coisa; casa- coisa SP: em direção à casa- Trajetória. Sentença inteira: Evento A relação sintaxe-semântica é de muitos-para-muitos (many-to-many) Um SN pode exprimir uma Coisa (the dog), um Evento (the war), uma Trajetória (para casa), uma Propriedade (redness). Uma categoria conceitual pode ser interna a um item lexical. Compare: i. Saia já! ii. Get out of here now! b) Uma categoria conceptual pode estar ligada a um input não-linguístico. (pg 81) c) Muitas categorias permitem uma distinção type-token. d) Muitas categorias permitem quantificação. Todos os dinossauros tinham cérebro (Coisas) Tudo que você faz, eu faço melhor. (Ações) Qualquer lugar que você vá, eu posso ir também (Lugares). e) As categorias podem ser decompostas em um estrutura função-argumento (pg 82) f) A estrutura conceptual de um item lexical é uma entidade com zero ou mais lugares argumentais vazios. 8 exprime generalizações sobre as categorias conceituais. (p 83). Campos semânticos Espaço, posse, atribuição de propriedades, agendamento de atividades. Esquemas conceituais comuns a estes campos semânticos (p. 85). Regras de inferência: mapeamentos de estruturas conceituais, para estruturas conceituais. Ex em 13 (pg 86). (13) é uma inferência válida para todos os campos semânticos. Outro exemplo de inferência CAUSA ( x , Evento ) → Evento No entanto, há inferências específicas para determinados campos semânticos: Um objeto não pode estar em dois lugares distintos ao mesmo tempo. Assim, se (13), x não está mais em sua posição de origem. No entanto, essa inferência não se aplica ao campo semântico informação. 6.3 Aggregation and boundedness Bill dormiu (evento não delimitado) Bill comeu o cachorro quente (evento delimitado) João ficou desenhando círculos a tarde inteira (repetição de um evento delimitado) Plural de eventos: aspecto iterativo. A bola ficou quicando. A torneira estava pingando. Plural de Coisas: gato, gatos Delimitado/ não delimitado = contável/ não contável Homogeneidade dos eventos não delimitados = homogeneidade de termos não contáveis Coisas x substâncias, Eventos x Processos Esquema na pg 89. O esquema conceitual em (15) aplica-se a coisas, eventos e trajetórias. Exs. De Trajetória Ele foi para casa. (delimitado) Ele foi na direção da estrada. (não-delimitado) Ele foi pela rua. (não delimitado) Ele foi nas casas. (múltiplos eventos limitados). Pontos em eventos e coisas podem ser estendidos. Borda da pizza Fim da palestra “sistemas formais abstratos” por trás dos usos das palavras 7. Onde a teoria de traços falha Condições necessárias e suficientes Rosch (protótipos). Wittegenstein (semelhanças de família) Valores default. Ex. o conceito de jogo. Atividade física, competição entre participantes. Conferir pesca, paciência, xadrez. 7.1 Estrutura espacial dos objetos Cadeira- banco –sofá Aspectos geométricos representados no campo visual “imagem de um exemplar estereotípico” Padrões visuais de modos de movimento Exs. Tremular, balançar, quicar, rodopiar 7.2 Valores focais Há domínios (ou campos semânticos) com valores contínuos e não discretos. Nesse espaço cognitivo contínuo, uma palavra define um ponto focal. 7.3 Sistemas de regras de preferência p. 93 Ex. Verbo climb . Nenhuma das duas condições é necessária; ambas são suficientes. Também não é uma disjunção. C1 ou C2. Preferentemente, as duas. Fodor. Para Fodor, os sentidos lexicais não são decomponíveis. Dificuldade: como explicar inferências do tipo: João levou a filha a fazer essa besteira. → a filha fez besteira O sentido de “levar a” se decompõe na ação de causa e de ação resultante. Fodor se restringe a propor um postulado de sentido (regras semânticas ad hoc). Para o verbo “levar a”, teríamos um postulado de sentido como: “Se x levou y a fazer algo, então y fez algo”. Por outro lado, Jackendoff argumenta que a decomposição lexical permite a estipulação de regras gerais de inferência. Pg 97, exs. (18) e (19). Segundo a teoria cognitiva, a aprendizagem se consiste na combinação de primitivos já existentes. Com isso, tem-se um potencial de um número infinito de conceitos. Aula dia 24-03-205 Frame Semantics. Charles Fillmore Frame: “um sistema de conceitos relacionados de tal forma que, para entender qualquer um dos conceitos, é preciso entender a estrutura completa na qual o conceito se encaixa”. (p. 111). Frame seria equivalente a “script”, “cenário”, “modelo cognitivo”, “Folk theory”. Tradição da semântica descritiva, empírica. Frame semantics responde à seguinte questão: “Que categorias da experiência são codificadas pelos membros desta comunidade de fala, por meio das escolhas linguísticas que eles fazem, ao usar a linguagem?” p 111. Nessa perspectiva, palavras são categorizações da experiência, ancoradas em um background de conhecimento. Palavras (e textos) são uma caixa de ferramentas. Inserem-se num quadro de ação determinado. 2. Uma história particular do conceito de frame Definição inicial de frame: Sequências padronizadas de palavras, ou sequências de classes de palavras Co-ocorrências de palavras. Classes de distribuição. Tradição da tagmêmica (estruturalismo) Condições para substituição dentro do mesmo slot em um frame: X ama y X carrega y X vende y para z Preservação do significado; preservação da estrutura. Um exemplo desse tipo de pesquisa: “John is Mary´s husband – he doesn´t live with her” BUT, YET podem ocupar este slot (-), sem alterar nem o sentido, nem a estrutura. AND, OR podem também ser inseridos, mas alterando a significação. Essa metodologia permitia definir o tipo de estruturas nas quais uma palavra ocorre e qual a função que ela desempenha nessa estrutura. Classificação dos verbos da língua inglesa, definindo também as diferentes estruturas gramaticais (transformações), nas quais esses verbos podiam ocorrer. Exs do português. Comprar, vender, amar, sentir aceitam a forma passiva. Pesar, medir (no sentido de ter dada medida) não aceitam a forma passiva. Furar, rasgar, queimar aceitam a forma intransitiva. Descobrir, construir e amar não aceitam a forma intransitiva. Descobertas sobre os padrões dos verbos levariam à descoberta da gramática subjacente do inglês (no espírito da gramática gerativa). A ideia era que as propriedades distribucionais de itens lexicais derivavam de princípios gramaticais. História transformacional. Frames sintáticos. O menino1 vendeu o livro2. O livro2 foi vendido pelo menino1. João soube da história. João1 soube p1sair na hora certa. João descobriu a história. ?? João1 descobriu p1sair na hora certa. João vende fácil apartamento pequeno Apartamento pequeno vende fácil. João matou o bandido. ?? O bandido mata fácil. (não pode no sentido de que o bandido se deixa matar fácil). Próxima etapa no conceito de frame: Papel semântico (ou temático) dos argumentos. Valência dos verbos. Diferença entre tradição europeia e teoria gerativa: The subcategorization notion is similar to the notion of valency, although subcategorization originates with phrase structure grammars in the Chomskyan tradition,[4] whereas valency originates with Lucien Tesnièreof the dependency grammar tradition.[5] The primary difference between the two concepts concerns the status of the subject. As it was originally conceived of, subcategorization did not include the subject, that is, a verb subcategorized for its complement(s) (=object and oblique arguments) but not for its subject.[6] Many modern theories now include the subject in the subcategorization frame, however.[7] Valency, in contrast, included the subject from the start.[8] In this regard, subcategorization is moving in the direction of valency, since many phrase structure grammars now see verbs subcategorizing for their subject as well as for their object(s). (Wikipedia). A proposta dos “case frames”. Cenas verbais descritas com base na combinação de papeis temáticos. Case frame: [- A P I] agente, paciente, instrumento A menina (agente) atirou no bandido (paciente) com um revólver (instrumento) Maria (agente) serrou (Instrumento incorporado) a madeira (paciente) João (agente) entregou os livros (Paciente) para Maria (beneficiário) João (experienciador) sentiu uma pontada no estômago (Tema) A floresta (Paciente) queimou. O maluco (agente) queimou a floresta (paciente). João (Agente) vende fácil apartamento pequeno (Paciente) Apartamento pequeno (Paciente) vende fácil. [V A P I] [verbo Agente Paciente Instrumento] Furar Princípios gerais para o mapeamento entre papeis semânticos e funções sintáticas O menino furou o pneu com um prego. Um prego furou o pneu. O pneu furou. O carro furou o pneu. “Case frame” (esquema de caso) corresponde a uma pequena cena. Próximo passo: descrição mais detalhada do conteúdo das cenas. Ex. Verbos de julgamento Uma pessoa que julga (o juiz); a situação analisada pelo juiz (situação); ACUSAR: juiz afirma que o Réu é o responsável pela situação (pressuposição de que a situação é ruim); Frame: um domínio de vocabulário, num dado campo da experiência humana (estruturas sociais e experiências que organizam este domínio). Outro exemplo: o conceito de Papa está relacionado a um domínio estruturado: Celibato; líder da hierarquia religiosa; representante de Cristo; etc. Chefe de Estado: leva a outro domínio da experiência. Artefatos: livros, vaso sanitário, guardanapos, etc. Domínios calcados na função. Diferentes verbos podem “indexar” uma mesma cena de diferentes maneiras. Ex. Transação comercial. Comprador (interessado em trocar dinheiro por bens); Vendedor (interessado em trocar bens por dinheiro); Bens; Dinheiro. Comprar foca na ação do Comprador em relação aos Bens, deixando no background o Dinheiro e o Vendedor. Vender foca na ação do Vendedor em relação aos Bens, deixando no background o Dinheiro e o comprador Pagar foca na ação do comprador em relação aos Bens e ao Vendedor, deixando no background o Dinheiro. Paguei ao proprietário. Paguei 300 mil ao proprietário. Paguei 300 mil pelo apartamento. Paguei 300 mil ao proprietário pelo apartamento. Para saber o sentido dos verbos, é preciso conhecer o tipo de cena que proporcionou o background e a motivação para as categorias que esses verbos representam (p. 117). Conhecimento sobre os “frames interacionais”: esquemas sobre a situação comunicativa. Por exemplo: Ato de fala de prometer. Maria prometeu ajudar. O ato de fala implica: Maria tem condições de ajudar. Maria se compromete a ajudar. Maria fará isso no futuro. A ajuda é desejada pelo beneficiário da ajuda. Background prototype. Órfão evoca o seguinte protótipo de cena: pais e mães cuidam dos filhos; filhos sem pais têm uma situação não normal; órfãos permanecem assim até uma certa idade. Fim de semana evoca um certo esquema social de organização da semana. Vegetariano adquire seu sentido numa cultura em que uma pessoa que come só vegetais não é a situação normal. Vegetariano come SÓ vegetais. Envolve também a opção de fazer esse tipo de dieta. Uma pessoa muito pobre que não come carne porque não tem dinheiro para comprá-la não é um vegetariano. A trip from shore to shore: uma viagem através da água. A trip from coast to coast: uma viagem através da terra. A paisana (mufti): só faz sentido no contexto militar. Outro exemplo: terra à vista! Contextos mais amplos asseguram o frame: Herético em relação a uma religião estabelecida. Inconstitucional: relativo a uma sociedade com uma lei maior e escrita. Polissemia: dois frames Livro: objeto físico (mobília) Livro: informação Frames alternativos para uma mesma situação Econômico x gastador Pão duro, avaro x mão aberta, generoso Contraste entre frames: Ele não é pão-duro, ele é econômico. Ele não é rebelde, ele é questionador. Origem das palavras por empréstimo de frames Cavalheiro vem de cavaleiro Reframing a lexical set Bastardo mudou completamente seu sentido. Casamento x união estável Relexicalizando frames inalterados Suspect Aula dia 30-03 Significação e contexto Acarretamento a) Com base em esquemas conceituais. Causa João matou o bandido → o bandido morreu. O professor levou o aluno a fazer besteira → o aluno fez besteira Movimento O professor entregou o livro para o aluno. → o aluno recebeu o livro. O professor entregou o livro para o aluno → o professor não tem mais o livro. O bandido fugiu da prisão → o bandido não está mais na prisão. Experiência O aluno irritou o aluno → o aluno ficou irritado. Ele vive me chateando → houve mais de uma ocasião em que ele me chateou Eu persuadi o coordenador a deixar o cargo. → O coordenador deixou o cargo. Afetação completa João desenhou o círculo → o círculo foi completamente desenhado. Señor Jones taught Spanish to the students. [O Señor Jones ensinou espanhol para os alunos]. Señor Jones taught the students Spanish. [Señor Jones ensinou aos alunos espanhol]. → os alunos aprenderam espanhol. João pintou a porta → a porta ficou toda pintada João pintou na porta contestar la pregunta → conseguir responder à pergunta contestar a la pregunta Hiperonímia Eu tenho um carro → eu tenho um bem. Eu tenho um primo na cidade → eu tenho um parente na cidade. João vai de bicicleta para a UFSC → joão se desloca para a ufsc com veículo não motorizado. Aspecto verbal João estava estudando ontem → João estudou João estava concluindo a tarefa ontem Meu amigo tem ido aos Estados Unidos → Houve mais de uma ocasião em que meu vizinho foi aos Estados Unidos Meu amigo foi aos Estados Unidos. Ele estava morrendo lentamente. O menino vive me pedindo coisas → Houve mais de uma ocasião em que o menino me pediu coisas. O menino é pidão. → Houve mais de uma ocasião em que o menino pediu coisas. O menino me pediu uma coisa. O aluno vai sair → o aluno não saiu ainda b) Com base em conhecimento de mundo João mora em Florianópolis → João mora em Santa Catarina Ele está cursando semântica na UFSC em 2015-1 agora → ele está estudando acarretamento. Ele é amigo de Guga Kuerten → Ele é amigo de um campeão de Roland Garros. Ele já foi à lua → Ele já foi ao satélite da terra. c) Com base em frames O menino tem uma madrasta → O menino não tem mãe. João casou → João casou com apenas um cônjuge. João vendeu o livro → João tem direito a receber um valor financeiro. O juiz julgou o réu → O réu é acusado de alguma coisa. O papa é argentino → Há pelo menos um praticante do celibato na Argentina. Mas não há acarretamento em: Eu fiz um curso de informática/ eu tive um professor de informática Eu comi no restaurante/ eu escolhi no cardápio a refeição. Eu passei no concurso / havia outros concorrentes Aula dia 27-04-2015 Searle Como se dá a ligação entre estrutura e função? Propostas que Searle critica: Apagamento dos performativos (Ross) Postulados conversacionais (Gordon e Lakoff) Ross: Declarativas analisadas como performativos implícitos na estrutura profunda: Ele saiu (estrutura superficial) [Eu digo a você que] ele saiu. (estrutura profunda) Todas as sentenças possuem um performativo implícito Se F e G geralmente ocorrem juntas na estrutura superficial, e se há uma sentença em que F ocorre e G não ocorre, então deve haver uma estrutura profunda em que F e G ocorrem juntas. The airline [lost Jerry´s luggage]. Whose luggage did the airline [lose x]? Jerry´s luggage was [lost x] by the airline. (Baker, 1988) Simplicidade da teoria: apenas uma regra, e não duas, para os reflexivos. As regras de distribuição sintática devem mencionar apenas categorias sintáticas. Outro argumento: Frankly, you are drunk. Probably, it will rain. Supostamente, o advérbio Frankly modaliza um verbo implícito na estrutura subjacente. Comparar com: John frankly admitted his guilt. Portanto, a estrutura subjacente de Frankly, you are drunk. Seria I say to you frankly: you are drunk. Since you know so much, (I ask you) why did John leave? Outro exemplo, com o condicional: Se você tiver sede, tem cerveja na geladeira. A explicação pragmática de Searle: Toda situação de fala tem um falante, um ouvinte e um ato de fala realizado pelo falante. Os falantes têm um conhecimento compartilhado desses fatos e das regras que regem os diferentes atos de fala. Esses fatos pragmáticos explicam a distribuição sintática, sem que seja preciso evocar uma estrutura subjacente. Por exemplo, o advérbio frankly é preditível do ato de fala que está sendo realizado. O falante e o ouvinte têm conhecimento do ato de fala; não é preciso um verbo para representá-lo. “Ele deve estar em casa agora, porque eu o vi indo para lá faz uma hora” A segunda sentença é uma justificativa do ato de fala. Os elementos do contexto não são palavras, mas os participantes da cena e as regras do ato de fala. Navalha de Occam: uma teoria não deve postular mais entidades do que as necessárias para explicar os fatos. Já que conhecemos os elementos relevantes (falante, ouvinte e ato de fala), não é preciso introduzir elementos sintáticos adicionais (na estrutura subjacente). He hit himself. Hit yourself. No caso do imperativo, o reflexivo yourself retoma um elemento definido pelo ato de fala diretivo, que define uma ação futura do interlocutor. A teoria dos atos de fala não força a eliminação do sujeito dos imperativos; ela explica por que este sujeito pode estar ausente. Em português, pode-se dizer: Bata em você mesmo. Ou Você bata em você mesmo. Ou ainda Você bata em você. Em alguns casos, o apagamento sintático de fato ocorre, como em: I met a richer man than Rockfeller. Mas nos casos do imperativo, o apagamento sintático não é necessário. Postulados conversacionais (Gordon e Lakoff) Você pode passar o sal? Eu apreciaria se você tirasse os pés de cima dos meus. Atos de fala indiretos Regras preparatórias de atos diretivos: O interlocutor tem de ter condições de realizar o ato (pense em “Me traga a lua”) Daí, se diz: Você pode me passar o sal? Condição de sinceridade: O falante deseja que o ato seja realizado. Daí: Eu apreciaria se você tirasse os pés de cima dos meus. Problema: como essas sentenças se ligam aos atos de fala indiretos? Postulado conversacional: A pergunta a B se B pode fazer Q → A pede a B para fazer Q Para Searle, tais postulados são entidades desnecessárias. Os falantes já sabem, pelos atos de fala e regras pragmáticas de inferências, que perguntar pode significar pedir. Aula dia 9-06-2015 Texto: Valores aspectuais do português brasileiro e do alemão: uma proposta de síntese. Dieysa Fossile. In: MOURA, H; MOTA, M.; SANTANA, A. Cognição, léxico e gramática. Insular, 2012. Diferenças entre tempo e aspecto. TEMPO ASPECTO Unidirecional Dêitico Tempo externo Estrutura interna do evento Não-dêitico Tempo interno Pense na distinção entre as ações de Tentar e Conseguir. O aspecto verbal pode ser inerente à raiz verbal ou pode ser marcado por outros meios, externos à raiz verbal. O aspecto inerente ao verbo recebe o nome de acionalidade (Aktionsart) e é dividido em três tipos (VENDLER, 1967): Estados, Atividades (verbos atélicos) e Processos (verbos télicos). Estados: estar doente, gostar, saber, separar (em frases como “a parede separa a sala em duas”) Atividades: correr, andar, acenar, ler, escrever, tentar, chover, esperar Processos: adoecer, desmaiar, construir, achar, matar, sair, conseguir Os valores aspectuais podem ser expressos, também, por outros meios, externos à raiz verbal: a) Pela morfologia (afixos) b) Pela sintaxe (construções gramaticais, verbos auxiliares, adjuntos). No alemão, há um uso muito forte de afixos para a marcação de valores aspectuais: brennen (queimar)- anbrennen (começar a queimar); blühen (florescer)- verblühen (murchar) (p. 53-4) Processos morfológicos no português, para marcação de aspecto verbal No português, este uso é mais restrito, mas ocorre também: Adormecer, florescer, refazer, adoecer, saltitar, engordar, envelhecer No português, usa-se também, para marcar o aspecto: a) b) c) d) Repetições. Ele pedia e pedia. Advérbios. Ele sempre vem aqui. Tempos compostos. Ele tem viajado muito. Verbos auxiliares. Ele começou a sorrir. Ela deixou de amar. E no alemão, também são usadas construções sintáticas: Er arbeitet weiter. (Ele continua a trabalhar) Es begann zu regnen. (Começou a chover) Tipos de eventos (Comrie, 1976) Primeiro par: télico x atélico Evento télico: evento tem uma conclusão bem definida. Nascer, morrer, explodir, construir, conseguir, florescer, escorregar, adoecer, abrir, elaborar, murchar, aprender Evento atélico: evento não tem uma conclusão bem definida. acenar, ler, escrever, chover, tentar, nadar, procurar, trabalhar, correr, pensar notar a distinção aspectual em latim, realizada através de prefixos: laborare: trabalhar (atélico) elaborare: realizar algo à custa de trabalho e esforço (télico) vadere (avançar, prosseguir) atélico evadere (escapar) télico volare (voar) atélico evolare (voar para fora, escapar) télico involare (voar para dentro) télico Segundo par: evento pontual x durativo pontual: evento se realiza em um momento determinado. Achar, descobrir, resolver, chegar, morrer, conseguir, tropeçar, terminar, alcançar, entender, murchar, cair, engolir, captar, pegar Durativo: evento perdura no tempo. Procurar, caminhar, estudar, construir, fazer, subir, descer, deslizar, refletir, esfregar, imaginar Eventos pontuais tendem a ser télicos: achar, sair, descobrir, adoecer mas há verbos télicos não pontuais: construir, fazer, destruir, desfazer, elaborar Terceiro par: estático x dinâmico Estático: evento não pode ser dividido em partes Conhecer, saber, ser alto, separar (o muro separa as propriedades), pensar, ser inteligente Dinâmico: partes do evento são distinguíveis entre si. elaborar, conseguir, construir, matar, correr, mastigar, murchar, queimar Um valor aspectual inerente ao verbo pode ser eliminado no contexto sintático: João está estudando (durativo) João estudou (não durativo, perfectivo) Um verbo atélico pode ser convertido num verbo télico, dependendo do contexto: João estava lendo hoje à tarde. (atélico, imperfeito) João leu um romance hoje à tarde (télico, perfectivo) João avançava cada vez mais no seu trabalho (atélico, imperfeito) João avançou o sinal (télico, perfectivo) Categorias de Vendler (1967): 1) Atividades. (exs. Correr, nadar, trabalhar, espreguiçar, pensar, balançar) Os verbos de atividade apresentam as seguintes características: a) Dinamicidade. O evento pode ser dividido em partes (algo acontece) b) Atelicidade. c) Duratividade d) Homogeneidade. (as partes do evento são iguais entre si) 2) Accomplishments (exs. Construir, matar, cortar, lavar) a)Dinamicidade. O evento pode ser dividido em partes (algo acontece) b)Telicidade. c) Duratividade d) Não- homogeneidade 3) Achievements (ex. achar, perder, conseguir, quebrar,chegar, pousar, morrer). a)Dinamicidade. O evento pode ser dividido em partes (algo acontece) b)Telicidade. c)Pontualidade d)Não- homogeneidade 4) Estados a) Não- Dinamicidade b) Atelicidade. c) Duratividade d) homogeneidade Quadro aspectual. 1. Aspecto perfectivo Evento visto como concluído. Conferir Pinker, 2008, p. 234. Marcado gramaticalmente no português. João achou o livro de semântica. O copo caiu. Das Glas ist gefallen. Le verre est tombé. O particípio, no português, marca o perfectivo: O jogador caído pediu ajuda. Terminada a festa, todos saíram. Outras formas gramaticais no perfectivo: Resultativo em inglês: The bottle broke open. The river frozen solid. He shot him dead. Completivos (cf. Bybee et al., The evolution of grammar, p. 54) A ação é realizada completamente, até o fim. Feed up, eat up Present Perfect Nixon has resigned! Ação completamente finalizada. Perfectivo em nakanai (língua da Nova Guiné): Eia kora-le, eia taulai-ti! 3.s deixar-isto, 3.s casar- PERF (Esqueça ela, ela já é casada) (Bybee et al., The evolution of grammar, p. 59) O perfeito em inglês é um subtipo de aspecto: o anterior. O anterior indica ação concluída, relativa (e relevante) para o tempo presente. Carol has taken statistics. Equivalente a: Carol já cursou estatística. !!!Carol has taken statistics last month Perfeito (em inglês) não combina com um passado específico. Mais parecido com: Já tendo feito estatística, ela pode nos ajudar… Outro exemplo de aspecto anterior (do sango, língua crioula da África Central): Fadesó mbi ça va awe Agora 1.s recuperar terminar (Agora estou completamente recuperado) (Bybee et al., The evolution of grammar, p. 71) Mais-que perfeito: Ele tinha saído quando ela chegou (não-simultaneidade) # Ela estava saindo quando ele chegou (simultaneidade) Ele correu todo o trajeto. (perfectivo, télico) 2. Aspecto imperfectivo. Evento visto como não concluído. Conferir Pinker, 2008, p. 235. Marcado gramaticalmente no português. O gerúndio é tipicamente imperfectivo. Ele está estudando. Passei a tarde estudando Não, pois podemos dizer: Passei a tarde estudando, e ainda não terminei. Imperfectivo e a relação de acarretamento: João nadou até a ilha do Campeche. → João chegou na ilha do Campeche. João estava nadando até a ilha do Campeche Não acarreta João chegou na ilha do Campeche. Um verbo pode apresentar o aspecto imperfectivo, ainda que não apresente a conjugação do imperfeito: A criança brinca no jardim. Imperfectivo: ressalta as partes do evento. Perfectivo: descreve o evento na sua globalidade. A quadrilha de fiscais faturava 100.000 por semana. Iterativo (reiteração indefinida de um evento) imperfectivo Implicatura de que não fatura mais Comparar com: A quadrilha de fiscais faturou 100.000 na última semana. Um só evento no uso perfectivo. 3. Aspecto durativo. Alguns meninos estavam fazendo barulho lá fora. O professor está doente. Le professeur est souffrant. (O professor está doente) Às vezes, imperfectivo e durativo se equivalem. A criança brinca no jardim. Gerundismo: Vou estar fazendo isso. 4. Aspecto indeterminado. Eventos com duração não definida. A água ferve a 100 graus. (fato científico) João sabe latim (estado psicológico) 4.5 Aspecto iterativo Tempos verbais que são usados para marcar aspecto iterativo: Presente simples: ex 23 Imperfeito. Ex. 24 e Ele jogava futebol aos sábados. Pretérito perfeito composto. Ex. 25 Advérbios: Ele sempre foi à igreja. (muitos eventos) Comparar com: Ele foi à igreja. (um só evento) Sufixos que indicam repetição do evento p. 70 Também são usados sufixos, no alemão. flattERN (tremer) O caráter iterativo depende do uso. 1) Piscou uma vez e só. 2) Ficou piscando. 6. Aspecto habitual Ele viajava para os Estados Unidos. O aspecto habitual é similar ao aspecto iterativo. Mas, às vezes, podem ser considerados distintos: 1) Ele tinha viajado umas vezes para São Paulo, mas não viajava sempre. 2) Ele diz que fumou maconha umas vezes, mas que não fumava sempre, não era um hábito. 7. Aspecto pontual Transições rápidas de situações de coisas e pessoas correspondem a eventos pontuais: Quebrar, furar, estourar, explodir, cair, escorregar, etc Descrições de situações mentais também são muitas vezes eventos pontuais: Achar, descobrir, inventar, aprender, esquecer Compare aprender (pontual) com estudar (durativo) Compare, também, se apaixonar (pontual) com amar (durativo) O pretérito perfeito favorece a interpretação pontual. 1) Ele sorriu para Maria. Compare com: ele está sorrindo para Maria, ou Ele sorria para Maria. 2) Ele falou inglês na entrevista. Compare com: Ele fala inglês 8. Aspecto não começado. Indicação de evento iminente, prestes a acontecer, mas ainda não começado. 1- Seu irmão está para chegar. 2- Ele está pronto para atirar. 3- Ei, tu tá saindo? O futuro composto também pode indicar o evento iminente: 3) Mãe, eu vou sair! 9. Aspecto acabado- egressivo Indica a finalização do evento. Em alemão, há prefixos que indicam a finalização do evento: Verbluhen. (murchar) Zumachen (fechar) No português, o aspecto perfectivo indica a finalização do evento. 10. Aspecto inceptivo. Uso de verbos auxiliares: 1) Começou a correr Ou de afixos: (ex. pg 78). 4) Ele adoeceu. 11) Aspecto cursivo. Foca na fase medial do evento, ou seja, quando ele está pleno curso. É muito similar ao aspecto durativo. 12) Aspecto terminativo Indica a fase final do evento. O evento não é visto como concluído. Obs. Não considerei, aqui, o aspecto não-acabado ou começado (4.9), pois não é muito citado e pode ser reduzido aos aspectos durativo e cursivo.