Introdução à Astrofísica Lição 9 – O Espectro da Luz INTRODUÇÃO À ASTROFÍSICA LIÇÃO 10 – O ESPECTRO CONTÍNUO DA LUZ A medição do brilho das estrelas está diretamente ligada à medida de distância. A medida de distância é feita através da paralaxe, como já vimos. Seja 𝑝 o Ângulo de paralaxe, a distância até o objeto, medido em parsec (pc), será: 1 𝑑= 𝑝 O valor 1 representa a unidade astronômica. O brilho de um objeto é medido em termos do fluxo recebido da fonte. O fluxo é a quantidade total de energia em todos os comprimentos de onda que atravessam uma área unitária do detector por unidade de tempo. Seja um objeto de luminosidade L a uma distância r da Terra, e assumindo que nenhuma luz é absorvida no caminho, o fluxo será: 𝐿 𝑓= 4𝜋𝑟 2 A magnitude é uma escala logarítmica do brilho de um objeto. A magnitude absoluta é definida como a magnitude aparente que um objeto teria se fosse colocado a uma distância de 10 pc. Uma diferença de 5 magnitudes corresponde a uma diferença de 100 vezes o brilho. Assim: 𝑚1 −𝑚2 𝑓1 = 100 5 𝑓2 𝑓1 𝑚1 − 𝑚2 = −2,5 log 𝑓2 𝑚−𝑀 100 5 𝑑= 𝑓10 𝑑 = = 𝑓 10𝑝𝑐 2 𝑚−𝑀+5 10 5 𝑝𝑐 𝑚 − 𝑀 = 5 log 𝑑 − 5 𝑚 − 𝑀 = 5 log 𝑑 10𝑝𝑐 Onde 𝑓10 é o fluxo que o objeto teria se estivesse a 10 pc, d é a distância e m-M é o módulo de distância. Os “m” representam as magnitudes. Exemplo: a magnitude aparente do sol é -26,83 e sua distância é 1 UA = 4,848 × 10−6 pc. Determine a magnitude absoluta e seu módulo de distância. Fazemos: 𝑑 10−6 𝑀𝑆 = 𝑚 − 5 log = −26,83 − 5 log 4,848 × = +4,74 10 10 𝑚 − 𝑀𝑆 = −31,57 Note que, quanto maior o brilho de um objeto, “menor” é sua magnitude. Podemos analisar a temperatura de um corpo pela energia cinética média dos seus átomos. Assim, um corpo absorvendo energia aumenta sua temperatura. Os elétrons são acelerados e emitem radiação, o que reduz a energia cinética dos átomos. Se a taxa de absorção é igual a taxa de emissão, então o corpo está em equilíbrio térmico. Um emissor ideal não reflete a luz, então o chamamos de corpo negro. A radiação do corpo negro é o nome dado à essa emissão de energia. A luminosidade L de um corpo negro de área A e temperatura T é dado por: 𝐿 = 𝐴𝜎𝑇 4 Onde 𝜎 = 5,6704 × 10−8 𝑊𝑚−2 𝐾 −4 é a constante de Stefan-Boltzmann. Para uma estrela esférica de raio R com área 4𝜋𝑅²: 𝐿 = 4𝜋𝑅2 𝜎𝑇 4 O fluxo na superfície da estrela é: 𝑓𝑆 = 𝜎𝑇 4 Exemplo: a luminosidade do Sol é 𝐿⊙ = 3,839 × 1026 𝑊 e seu raio é 𝑅⊙ = 6,95508 × 108 𝑚. Temos então: O fluxo na superfície é: 𝐿⊙ 𝑇⊙ = 2 4𝜋𝑅⊙ 𝜎 1 4 = 5777𝐾 4 𝑓𝑆 = 𝜎𝑇⊙ = 6,316 × 107 𝑊𝑚−2 A relação do comprimento de onda onde está a máxima emissão de radiação eletromagnética de corpo negro com sua temperatura é dada pela lei de Wien: 𝜆𝑚á𝑥 𝑇 = 0,0029 𝑚𝐾 Logo, para o Sol: 0,0029 𝜆𝑚á𝑥 ≈ = 501,6 𝑛𝑚 5777 Um dos grandes problemas para a física no final do século XIX, como vimos, era derivar a curva representando a radiação de corpo negro. Consideremos a função distribuição espectral 𝑅(𝜆) para um corpo negro, que determina a densidade de energia para ondas eletromagnéticas no interior de uma cavidade. Temos uma caixa com uma cavidade, onde dentro existe radiação. A probabilidade de um raio de luz sair da cavidade antes de ser absorvido pelas paredes internas é muito pequena. A potência irradiada para fora é proporcional à densidade total de energia U no interior da cavidade. É possível demonstrar que essa constante de proporcionalidade é igual a c/4. Então: 𝑐 4 Sendo 𝑢 𝜆 𝑑𝜆 a fração de energia por unidade de volume no interior da cavidade no intervalo de comprimento de onda entre 𝜆 e 𝜆 + 𝑑𝜆, então: 𝑐 𝑅 𝜆 =𝑢 𝜆 4 Para calcular 𝑢(𝜆) basta determinar o número de modos de oscilações do campo eletromagnético no interior da cavidade. Pode-se mostrar que o número de modos de oscilação por unidade de volume, 𝑛(𝜆), não depende da forma da cavidade e é dado por 𝑛 𝜆 = 8𝜋𝜆−4 . De acordo com a teoria clássica, a energia média por modo de oscilação é igual a 𝑘𝑇, onde 𝑘 é a constante de Boltzmann. A distribuição espectral da densidade de energia é: 𝑢 𝜆 = 𝑘𝑇𝑛 𝜆 = 8𝜋𝑘𝑇𝜆−4 Essa é a lei de Rayleigh-Jeans. Para 𝜆 tendendo a zero, 𝑢(𝜆) tende a infinito. E isso é um grave problema. Esse problema ficou conhecido como “catástrofe do ultravioleta”. 𝑅 𝜆 =𝑈 Planck reformulou esse problema. Na época, se escrevia a função distribuição de energia como 𝑓 𝐸 = 𝐴𝑒 −𝐸/𝑘𝑇 , onde A é uma constante. Podemos escrever a energia média como: ∞ 𝐸 = 𝐸𝑓 𝐸 𝑑𝐸 0 ∞ 𝐸𝐴𝑒 −𝐸/𝑘𝑇 𝑑𝐸 𝐸 = 0 𝐸 = 𝑘𝑇 Planck resolveu assumir que a energia não era contínua, mas sim discreta. Assim: 𝑛 𝐸𝑛 𝐴𝑒 −𝐸𝑛 /𝑘𝑇 𝐸 = 𝑖=0 𝜖 ℎ𝑐/𝜆 𝐸 = 𝜖/𝑘𝑇 = = 𝑒 − 1 𝑒 ℎ𝜈/𝑘𝑇 − 1 𝑒 ℎ𝑐/𝜆𝑘𝑇 − 1 Multiplicando esse resultado pelo número de osciladores por unidade de volume entre 𝜆 e 𝜆 + 𝑑𝜆, obtemos a função distribuição de densidade de energia no interior da cavidade: E essa é a lei de Planck. ℎ𝜈 8𝜋ℎ𝑐𝜆−5 𝑢 𝜆 = ℎ𝑐/𝜆𝑘𝑇 𝑒 −1 A densidade total de energia pode ser calculada integrando a nossa função: ∞ 𝑈= ∞ 𝑢 𝜆 𝑑𝜆 = 0 0 8𝜋ℎ𝑐𝜆−5 𝑑𝜆 ℎ𝑐/𝜆𝑘𝑇 𝑒 −1