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LEVANTAMENTO DA RIQUEZA DE MACROINVERTEBRADOS QUE HABITAM AS
MACRÓFITAS E O SEDIMENTO NO IGARAPÉ BEEN POR ALUNOS DE UMA
ESCOLA PÚBLICA DE HUMAITÁ, AM
Lucélia Rodrigues dos Santos
Lidiane Ferreira
1
João Ânderson Fulan
RESUMO
O objetivo deste trabalho foi proporcionar aos alunos do ensino médio a compreensão das
principais comunidades de macroinvertebrados que habitam as macrófitas e o sedimento
de um igarapé no sul do estado do Amazonas. Foram selecionados 10 alunos que se
destacaram na disciplina de Biologia, os quais acompanharam todo o processo de estudo
dos macroinvertebrados em passos como coleta, triagem e identificação. As macrófitas
foram coletadas como auxílio de um quadrado vazado de 0,09 m 2 e uma draga tipo Van
Veen com área de pegada de 0,025 m 2. Ao todo foram identificados nas macrófitas e no
sedimento cinco taxa: Chironomidae, Coleoptera, Hemiptera, Odonata e Oligochaeta.
Concluímos que o projeto possibilitou aos alunos um maior conhecimento da fauna de
macroinvertebrados que vivem no igarapé localizado bem próximo à escola participante
do projeto, assim como um maior entendimento dos conceitos sobre Limnologia. Este
projeto poderá estimular os alunos em atividades de pesquisa, assim como demonstrar a
importância da fauna local para a preservação dos ecossistemas aquáticos.
Palavras-chave: Bentos. Educação Ambiental. Macrófita. Limnologia.
SURVEY OF MACROINVERTEBRATES RICHNESS THAT INHABIT BEEN IGARAPÉ
SEDIMENT AND MACROPHYTES BY STUDENTS FROM A PUBLIC SCHOOL IN
HUMAITÁ, AMAZONAS STATE, BRAZIL
ABSTRACT
The goal of this study was to provide high school students an understanding about macro
invertebrate communities inhabiting macrophytes and sediment of a river in southern
Amazonas state, Brazil. Ten students who have excelled in Biology, followed the entire
process of study of macroinvertebrates such as: collecting, sorting and identifying.
Macrophytes were collected with a square of 0.09 m2 and a 0,025 m2Van Veen dredge
type. We identified five Taxa in macrophytes and sediment: Chironomidae, Coleoptera,
Hemiptera, Odonata, and Oligochaeta. We concluded that the project allowed students a
better understanding of the macroinvertebrate community living in the river located near
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Doutorado em Zoologia (UNESP). Professor adjunto no Instituto de Educação, Agricultura e Meio
Ambiente, Universidade Federal do Amazonas, Humaitá/AM. Contato: [email protected].
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SANTOS, L. R.; FERREIRA, L.; FULAN, J. A. Levantamento da riqueza de macroinvertebrados que habitam
as macrófitas e o sedimento no Igarapé por alunos de uma escola pública de Humaitá, AM. Rev. Ciênc.
Ext. v.10, n.3, p. 85-91, 2014.
SANTOS, L. R.; FERREIRA, L.; FULAN, J. A.
the participating school project, as well as a greater understanding of the concepts of
Limnology. This study can encourage students in research activities, as well as
demonstrate the importance of local fauna for aquatic ecosystem preservation.
Keywords: Benthos. Machophyte. Limnology. Environmental education.
ANÁLISIS DE LA RIQUEZA DE MACROINVERTEBRADOS QUE HABITAN LAS
MACRÓFITAS Y EL SEDIMENTO EN UN ARROYO POR LOS ALUMNOS DE UNA
ESCUELA PÚBLICA IN HUMAITA, AM
RESUMEN
El objetivo de este estudio fue proporcionar a los estudiantes de la enseñanza secundaria
la comprensión de las principales comunidades de macroinvertebrados que habitan
macrófitas y sedimentos de un arroyo en el estado sureño de Amazonas. Se han
seleccionado 10 estudiantes que han sobresalido en la asignatura de Biología, los cuales
acompañaron todo el proceso de estudio de los macroinvertebrados como la recogida,
clasificación e identificación. Los macrófitos se han recogido con ayuda de un cuadrado
vaciado de 0,09 m2 y una draga tipo Van Veen con una superficie de 0.025 m2. Al fin se
han identificado en las macrófitas y en los sedimentos cinco tasas: Chironomidae,
Coleoptera, Hemiptera, Odonata y Oligochaeta. Llegamos a la conclusión de que el
proyecto permitió a los estudiantes una mejor comprensión de la comunidad de
macroinvertebrados que viven en el arroyo situado en las cercanías de la escuela donde
tuvo lugar el proyecto y una mayor comprensión de los conceptos de Limnología. Este
proyecto puede estimular a los estudiantes a que hagan actividades de investigación y
puede demostrar la importancia de la fauna del lugar para la conservación del ecosistema
acuático.
Palabras clave: Bentónico. Macrófito. Limnología.
INTRODUÇÃO
Limnologia é o ramo da ecologia que estuda o ecossistema aquático continental
independente de sua origem, concentração salina ou tamanho (ESTEVES, 1998). Em
cada ecossistema aquático é possível diferenciar compartimentos como o sedimento onde
são registradas as espécies que vivem no fundo de rios e lagos. Os conhecimentos sobre
os macroinvertebrados que vivem no sedimento são extremamente importantes, pois
todas as alterações físicas e químicas que ocorrem na coluna d’água, assim como a
maioria dos poluentes que são liberados decantam e acabam se acumulando no fundo
afetando diretamente essas comunidades conhecidas como bentônicas. Portanto, o
conhecimento sobre os macroinvertebrados bentônicos pode refletir a saúde de todo o
ecossistema aquático. Outro compartimento importante em ecossistemas aquáticos são
as zonas litorâneas, onde são observadas as plantas aquáticas.
As macrófitas ou plantas aquáticas são plantas que habitam desde brejos até
ambientes verdadeiramente aquáticos como igarapés (ESTEVES, 1998). As plantas
aquáticas desempenham diversas funções ecológicas nos ecossistemas como reciclagem
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as macrófitas e o sedimento no Igarapé por alunos de uma escola pública de Humaitá, AM. Rev. Ciênc.
Ext. v.10, n.3, p. 85-91, 2014.
Levantamento da riqueza de macroinvertebrados que habitam as macrófitas...
de nutrientes, barreira de retenção de sedimentos transportados e desempenham um
papel primordial como refúgio para uma grande variedade de espécies como peixes e
macroinvertebrados (HARRISON et al., 2005).
É neste contexto que o objetivo deste trabalho foi o de apresentar aos alunos de
uma escola pública no município de Humaitá, Amazonas, a importância dos
macroinvertebrados para a preservação do ecossistema, assim como contribuir para o
conhecimento da ciência Limnologia que, apesar de ser uma realidade regional é
desconhecida pela população local.
METODOLOGIA
Área estudada
A cidade de Humaitá está situada no sul do Estado do Amazonas e possui uma
hidrografia privilegiada, não só utilizada para o escoamento da pesca regional, mas
também como meio de transporte. O igarapé Been passa lateralmente ao município e
sofre forte influência antrópica durante seu trajeto, pois recebe grande quantidade de
esgoto sem tratamento (Figura 1).
Figura 1. Igarapé Been, com acesso pelo rio Madeira, no município de Humaitá, AM.
Procedimentos
Dez alunos de 14 a 18 anos do ensino médio (1ª, 2ª e 3ª séries) da escola estadual
Álvaro Botelho Maia, Humaitá-AM, que se destacaram na disciplina de Biologia, foram
selecionados para o projeto. Foram realizadas aulas teóricas sobre Ecologia com ênfase
em Limnologia, prática de campo, Taxonomia e princípios básicos de Matemática e
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Ext. v.10, n.3, p.85-91, 2014.
SANTOS, L. R.; FERREIRA, L.; FULAN, J. A.
Estatística. Ao final de cada aula formaram-se grupos de discussão de cada tema
abordado a fim de se avaliar o entendimento dos alunos.
As coletas do material biológico foram feitas com um barco de pequeno porte em
quatro pontos diferentes conforme Tabela 1. No ponto 1 foram coletadas apenas
macrófitas, enquanto nos pontos 2, 3 e 4 foram amostrados os sedimentos. A coleta das
macrófitas foi realizada com um quadrado vazado de 0,30 m, cada lado totalizando uma
área de 0,09 m2. O quadrado era colocado sobre o banco de macrófitas e todas as
plantas da parte interna eram amostradas, colocadas em sacos plásticos e etiquetadas
para serem transportadas até o laboratório. Já a coleta de sedimento foi feita com uma
draga tipo Van Veen com área de pegada de 0,025 m 2. A draga era aberta e quando
tocava o sedimento era fechada e o material coletado era levado até uma bandeja e
posteriormente colocado em saco plástico e etiquetado até ser levado ao laboratório de
Limnologia do Instituto de Educação, Agricultura e Ambiente de Humaitá. Todas as
amostras, tanto as de sedimento quanto as de macrófitas, foram coletadas três vezes em
cada ponto. Foi realizado um maior número de coletas de sedimento em relação às
macrófitas, pois, junto ao sedimento, a riqueza e a abundância de macroinvertebrados
são muito menores.
Tabela 1. Pontos de amostragem dos macroinvertebrados utilizados no projeto
Pontos
1
2
3
4
Coordenadas Geográficas
S 07°32’38.3’’
W 063°01’17.9’’
S 07°31’06.9’’
W 063°00’58.8’’
S 07°31’51.9’’
W 063°01’18.5’’
S 07°32’43.0’’
W 063°01’18.9’’
Descrição
Amostra 1A e Amostra 1B (Macrófitas)
Amostras 2A e Amostra 2B (Sedimento),
profundidade de 4,3 metros
Amostras 3A e Amostra 3B (Sedimento),
profundidade de 6 metros
Amostras 4A e Amostra 4B (Sedimento),
profundidade de 3 metros
Em laboratório, os alunos lavaram o material biológico em uma peneira de 0,25 mm
e todos os macroinvertebrados foram colocados separados em potes com álcool 70%
para conservação. A identificação foi feita com bibliografia específica (LOPRETTO; TELL,
1995; MERRITT; CUMMINS, 1996; COSTA et al., 2006). Cada aluno do projeto após a
identificação desenhou pelo menos um exemplar de cada táxon.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Ao todo, os alunos identificaram nas macrófitas 79 macroinvertebrados e, no
sedimento, 22 exemplares, totalizando 101 macroinvertebrados. Cinco taxa foram
identificados ao todo: Chironomidae, Coleoptera, Hemiptera, Odonata e Oligochaeta
(Figura 2). Chironomidae foi o táxon com maior número de exemplares amostrados tanto
na macrófitas quanto no sedimento. Ninfas de Odonata foram pouco amostradas nos dois
substratos analisados. No entanto, o número de ninfas na macrófitas foi aproximadamente
12 vezes maior em comparação com o sedimento. Ninfas de Odonata são vorazes
predadoras e sua abundância varia de acordo com a disponibilidade de presas (CORBET,
1999). Neste trabalho foram registrados 360% mais macroinvertebrados nas macrófitas
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as macrófitas e o sedimento no Igarapé por alunos de uma escola pública de Humaitá, AM. Rev. Ciênc.
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Levantamento da riqueza de macroinvertebrados que habitam as macrófitas...
em comparação com o sedimento e, por esta razão, foi observado um maior número de
ninfas de Odonata nas macrófitas. O conhecimento sobre ninfas de Odonata é muito
importante economicamente. Ninfas de Pantala podem predar até 100% dos alevinos
mantidos em tanques de piscicultura e podem causar prejuízos extremamente
significativos na criação de Prochilodus lineatus conhecido como curimba (SOARES,
2003).
De uma maneira geral, os alunos demonstraram bastante curiosidade quanto aos
locais onde os macroinvertebrados foram coletados e puderam comparar a abundância de
macroinvertebrados nas macrófitas e no sedimento. Normalmente, a abundância de
macroinvertebrados no sedimento é menor. Neste trabalho, nas macrófitas, a abundância
e a riqueza foram sempre maiores que no sedimento. Assim que os alunos perceberam
essa diferença, foi realizada uma discussão sobre os motivos dessa divergência. Nas
macrófitas, devido à morfologia das plantas, a heterogeneidade espacial é maior e, por
essa razão, a quantidade de refúgios é maior e, consequentemente, há maiores riqueza e
abundância de macroinvertebrados (FULAN; ALMEIDA, 2010). Além disso, junto às
macrófitas, a quantidade de oxigênio dissolvido disponível é maior do que em relação ao
sedimento proporcionando uma maior oxigenação da água o que favorece o aumento da
riqueza e da abundância.
Figura 2. Abundância total de todos os macroinvertebrados identificados pelos alunos nas macrófitas e no
sedimento do igarapé Been, Humaitá, AM. Nenhum dos exemplares identificados eram adultos.
A presença de Oligochaeta e de Hemiptera foi reforçada devido às suas
importâncias na avaliação da saúde do ecossistema. Oligochaeta pode ser indicativo de
ambiente com poluição, isto é, locais onde há uma alta liberação de esgoto sua
abundância tende a ser maior (CALLISTO et al., 2001). Essa característica foi discutida
com os alunos para mostrar que a inexistência de saneamento básico acarreta
consequências danosas para o município, e que eles devem cobrar das autoridades
melhorias no tratamento do esgoto e na captação de água. Outra questão discutida com
os alunos foi a presença de Hemiptera apenas no ponto 1 onde foram coletadas as
macrófitas. Alguns Hemiptera podem ser predadores e, neste caso, podem ser
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Ext. v.10, n.3, p.85-91, 2014.
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encontrados em locais onde a abundância de macroinvertebrados é maior, no caso junto
às macrófitas.
Por meio da observação e da análise das respostas dos alunos percebeu-se que
os alunos conseguiram compreender cerca de 90% dos temas trabalhados, indicando
grande interesse nas questões abordadas, tanto na teoria quanto na prática. As
indagações feitas oralmente permitiram acompanhar o progresso dos alunos em relação
às questões de Limnologia trabalhadas. No questionário escrito, aplicado após a
realização de todas as atividades, observou-se que 80% dos alunos conseguiram resolver
corretamente as questões propostas e o restante teve dificuldade em pelo menos duas
questões.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por meio de estudos sobre os ecossistemas aquáticos, que são a base da
economia do município, este projeto contribuiu para a formação de alunos mais
conscientes do ambiente onde vivem. Foi possível, também, intensificar o vínculo entre a
universidade e a escola. Dessa forma, os alunos puderam conhecer a ciência Limnologia
por intermédio de experiências práticas que trabalharam várias capacidades dos alunos,
como identificação de material biológico, classificação e interpretação de resultados.
SUBMETIDO EM
ACEITO EM
21 mar. 2013
3 jun. 2014
REFERÊNCIAS
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ferramenta para avaliar a saúde de riachos. Revista Brasileira de Recursos Hídricos,
Porto Alegre, v. 6, n. 1, p. 71-82, 2001.
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1999. 829 p.
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HARRISON, S. S. C.; BRADLEY, D. C.; HARRIS, I. T. Uncoupling Strong predator-prey
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para su estudio. Argentina: Ediciones Sur, 1995. 1397 p.
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SOARES, C. M.; HAYASHI, C.; REIDEL, A. Predação de pós-larvas de curimba
(Prochilodus lineatus, Valenciennes, 1836) por larvas de Odonata (Pantala,
Fabricius,
1798) em diferentes tamanhos. Acta Scientiarum, Maringá, v. 25, n. 1, p. 95-100, 2003.
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