Personalidades - Grandes Mestres da Educação Introdução: A pesquisa para este trabalho centrou-se em três incontornáveis mestres da Educação: Sócrates, João de Deus e Papert, e teve como principal objectivo conhecer mais detalhadamente o trabalho dos mesmos. A nossa escolha recaiu nas supra referidas personalidades pela razão de já termos tido oportunidade de conhecer um pouco do seu contributo para a história da pedagogia. Pareceu-nos importante, a partir de cada um deles, apresentar épocas tão distintas, contextos e visões diferenciadas. No entanto, optámos por destacar Seymour Papert por ser um autor contemporâneo e pela investigação acerca do seu trabalho representar um importante elemento de interdisciplinariedade. Como detalhamos mais à frente, concluímos que tanto Sócrates, como João de Deus e Papert, foram muito relevantes no romper de mentalidades da sua época, chocando os seus contemporâneos com ideias consideradas absurdas. Este foi também um dos motivos pelos quais quisemos apresentar os seguintes mestres. Sócrates Nas informações que chegam aos dias de hoje acerca de Sócrates há poucas certezas e pouco de concreto. Sabe-se que terá nascido por volta de 470 a.C. e que é indiscutível a sua importância para a as ciências em geral, e para a Filosofia em particular, sendo considerado o primeiro filósofo da história. Sócrates nasceu na Grécia, em Atenas, numa altura em que a ideia de escola começava a surgir. Não existindo na forma física, por escola entendia-se o ensino que os Mestres transmitiam aos aprendizes. Era desta forma que os ensinamentos dos sábios perduravam no tempo e preparavam os mais novos para aquilo que eram os grandes objectivos da época: defender o território grego e dominar outros povos, através da cultura escrita, que se começava a revelar essencial. É precisamente nestas aulas que Sócrates vai revolucionar o ensino praticado até então. O seu método passava pela tentativa de criar “mentes pensantes”, isto é, discordava da forma tradicional e vaga como os ensinamentos eram transmitidos. Preferia então, questionar os alunos, por ele próprio assumir que estava sempre à procura de respostas e que no fundo, nada sabia. Desta forma, acreditava que os discípulos chegariam às suas próprias conclusões sem que fossem grandemente influenciados. Eram “obrigados” a pensar, a questionar, a problematizar. No fundo, a fazer o que a Filosofia propõe. Contudo, as elites conservadoras discordavam de Sócrates e negaram que as suas ideias pudessem ser aplicadas a todos os alunos. A novidade implícita ao seu pensamento não fora bem recebida, era impensável para os seus contemporâneos, o que fez com que o mestre fosse perseguido e condenado à morte. Sócrates aceitou este facto sem contestação. Tratou-se de facto de um homem muito à frente do seu tempo, que marcou gerações e até hoje está presente no nosso dia-a-dia. No entanto, os seus pensamentos chegaram aos dias de hoje não escritos pelo próprio, mas pela mão dos seus discípulos, referências inevitáveis como Platão, que por sua vez transmitiu ensinamentos a Aristóteles. Dos seus ensinamentos ficam algumas frases célebres que demonstram como a sua busca pelo conhecimento era insaciável, convencendo-se que nunca teria de facto respostas. São exemplos disso: "Wisdom begins in wonder" "I know that I am intelligent, because I know that I know nothing" João de Deus João de Deus de Nogueira Ramos, nasceu em São Bartolomeu de Messines a 8 de Março de 1830 e veio a falecer em Lisboa a 11 de Janeiro de 1896. Considerado, na sua época, um homem muito à frente do seu tempo, João de Deus foi um eminente poeta lírico e pedagogo, também apelidado de poeta do amor. Além disso, foi o criador de um método de ensino da leitura – a Cartilha Maternal, que se tornou o feito mais notável da sua carreira. Em 1876, um ano após a morte de António Feliciano de Castilho, e perante a descrença que recaíra sobre o Método Português de Castilho, João de Deus envolveu-se nas campanhas de alfabetização que tentavam desenvolver o país, criando o projecto da Cartilha. Este método caraceriza-se então pela exigência, rigor e disciplina. Garante assim, serem possíveis melhores resultados em detrimento dos velhos métodos. João de Deus dá sobretudo muito valor ao ritmo de cada criança para aprender a ler e pretende, além disso que cada aprendiz seja bem sucedido na actividade da leitura, rejeitando uma aprendizagem decorada e não totalmente apreendida. Anos mais tarde da sua criação, e apesar das iniciais adversidades, o famoso método foi então aprovado como o método nacional de aprendizagem da escrita da língua portuguesa. A expansão do método da Cartilha Maternal foi seguida de um autêntico fenómeno de culto pela figura do poeta, tornando-o numa das figuras mais populares do século XIX português. Atualmente a teoria de João de Deus é ainda aplicada em algumas escolas que dão preferência a métodos menos convencionais. É exemplo disso a Associação de JardinsEscolas João de Deus, uma Instituição Particular de Solidariedade Social dedicada à educação e à cultura. Em 2002 a Associação tinha ao seu serviço quase 1000 pessoas, entre educadores, professores, auxiliares de educação e outros colaboradores, cuja actividade se repartia pela Escola Superior de Educação João de Deus e por 34 jardinsescolas distribuídos por todo o país. Desde a sua fundação até 2003 passaram pelas escolas da Associação aproximadamente 164 mil crianças, todas elas ensinadas pelo método da Cartilha Maternal. A procura actual das famílias por escolas que utilizem este meio de ensino é ainda enorme. Este facto deve-se aos resultados obtidos pelas crianças que foram formadas através destes exigentes parâmetros. O facto de estimular em grande medida o raciocínio lógico das crianças é um factor apelativo para os pais, aos quais, além disso é prometido um acompanhamento personalizado a cada aluno por parte dos professores. João de Deus, encontra-se atualmente sepultado no Panteão Nacional da Igreja de Santa Engrácia, em Lisboa. Seymour Papert Papert nasceu na África do Sul, em 1928. Embora a sua formação de base seja a Matemática, vai construir uma ligação muito próxima à Informática, destacando-se nesta área como cientista da computação. Próximo de Piaget, acredita que os métodos tradicionais de ensino estão ultrapassados, e que as crianças poderão desfrutar muito mais dos ensinamentos transmitidos se forem incentivadas a dominar o computador e a aprender com ele. Papert cria então o termo Construcionismo, procurando adaptar os princípios do Construtivismo de Piaget. Isto é, defende que se deve permitir ao aluno que construa o seu próprio conhecimento por intermédio de uma ferramenta educacional como o computador. A sua teoria da aprendizagem vem neste seguimento e tem como objectivo atribuir uma maior liberdade e autonomia ao aluno, fazendo-o essencialmente reflectir sobre o seu percurso de aprendizagem. Além disso, o aluno ensinado segundo a perspectiva de Papert, teria uma noção dos erros que cometia ao longo do processo, sendo-lhe fornecidas ferramentas para a resolução dos mesmos. É claro o papel de destaque do aluno como actor mais importante no processo de aprendizagem. Uma vez que a componente prática é uma prioridade, o aluno participa mais do que em métodos tradicionais de ensino e o objectivo é gerir os saberes que já adquiriu com os novos que pode vir a adquirir, relacionando ambos, para que resulte numa aprendizagem significativa. Nas palavras de Papert: “Aprendemos melhor fazendo… mas aprendemos ainda melhor, se além de fazermos falarmos e pensarmos sobre o que fizemos.” (PAPERT). Segundo o Construcionismo, o professor tem o papel de ajudar o aluno no seu percurso de aprendizagem sendo o mediador da relação aluno/computador. Assim, o professor deve adequar este mesmo apoio a cada aluno e suas necessidades e potencial. Para isso é necessário que faça uma análise das crianças em questão, conheça as potencialidades das ferramentas tecnológicas e fomente no aluno o desenvolvimento social, isto é, as relações que mantém com as pessoas que o rodeiam e como as mesmas podem ser úteis na construção da sua aprendizagem. No seguimento da teoria desenvolvida por Papert, foi criada pelo matemático a Linguagem LOGO que importa frisar no sentido em que constituiu um marco importante no impulso das tecnologias. Com fundamentos na teoria Construcionista, o LOGO permite à criança uma grande autonomia, uma noção de progresso e de erro, bem como de cooperação. O seu funcionamento implica que a criança em questão (ou aprendiz já em idade adulta) comande totalmente uma tartaruga, sendo este o símbolo da programação. Esta figura não foi escolhida ao acaso, tendo sido concebida em função de um aspeto mais apelativo para fomentar a motivação da criança pela aprendizagem que, sem dar conta, está a desenvolver. O facto de sentir que controla o animal, dá à criança uma noção de poder que lhe agrada ao aprender novas capacidades. Assim, fomenta-se uma reflexão sobre aquilo que o aprendiz está a desenvolver. Papert como seu criador, recusa que este mecanismo de aprendizagem seja encarado como um mero brinquedo e que sejam negligenciadas as suas potencialidades enquanto ferramenta educacional. Além disso, refere que o LOGO não se destina unicamente a crianças mas também a adultos que por sua vez desenvolvem competências mais complexas. Conclusões: Após estudar os três mestres referidos, embora todos de épocas e contextos diferentes, encontramos algumas semelhanças nos seus percursos. Em primeiro lugar foram figuras notáveis na área da Educação e distinguiram-se pela grande vontade de mudança: Sócrates com um novo método que não convinha aos Gregos da sua época; João de Deus também com uma ideia inovadora para o ensino de crianças; e finalmente Papert, que defendeu a liberdade do aluno para construir o seu próprio caminho e conhecimento. Tanto os métodos de ensino de Sócrates e de João de Deus, como a introdução de tecnologias na Educação pela mão de Papert, trazem uma nova roupagem ao acto de ensinar. Ainda que se tenham deparado com grandes dificuldades de afirmação, pois provocaram um grande abalo nas sociedades habituadas a não questionar o tradicional, as teorias destes grandes mestres continuam presentes até aos dias de hoje. O facto de terem arriscado, numa sociedade conservadora e levarem a cabo ideais não consensuais, faz destes três homens uma inspiração incontornável na história da educação. Assim, concluímos que os três mestres têm em comum o facto de não fecharem portas a novos métodos de ensino, a novas visões sobre a aprendizagem. Através das suas controversas ideias foram verdadeiramente inovadores à luz da sua época, mostrando até hoje resultados práticos das suas teorias Bibliografia: http://www.biography.com/people/socrates-9488126#synopsis http://www.ancientgreece.com/s/People/Socrates/ http://www.britannica.com/EBchecked/topic/551948/Socrates http://expresso.sapo.pt/o-sucesso-da-velha-cartilha-maternal=f884235 http://195.23.38.178/casadaleitura/portalbeta/bo/documentos/ot_metodo_leitura_joao_d eus_b.pdf PAPERT, Seymour - A Família em rede (Ultrapassando a barreira digital entre gerações). Lisboa: Relógio D’Água Editores, Novembro de 1997. PAPERT, Seymour (1994). A máquina das crianças: repensando a escola na era da informática/ Seymour Papert: trad. Sandra Costa. Porto Alegre. Artes Médicas