HOSPITAL DO SERVIDOR PÚBLICO MUNICIPAL DE SÃO PAULO PROGRAMA DE RESIDÊNCIA MÉDICA EM COLOPROCTOLOGIA MANOMETRIA ANORRETAL E CORRELAÇÃO COM A QUALIDADE DE VIDA E A GRAVIDADE DOS PACIENTES COM INCONTINÊNCIA FECAL. THIAGO IBIAPINA ALVES SÃO PAULO 2014 THIAGO IBIAPINA ALVES MANOMETRIA ANORRETAL E CORRELAÇÃO COM A QUALIDADE DE VIDA E A GRAVIDADE DOS PACIENTES COM INCONTINÊNCIA FECAL. Trabalho de conclusão de curso apresentado à comissão de residência médica Área: Coloproctologia Orientadora: Juliana Magalhães Lopes Geraldes SÃO PAULO-SP 2014 FICHA CATALOGRÁFICA Alves, Thiago Ibiapina Manometria anorretal e correlação com a qualidade de vida e a gravidade dos pacientes com incontinência fecal / Thiago Ibiapina Alves. São Paulo: HSPM, 2014. 30 f.: il. Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Comissão de Residência Médica do HSPM-SP, para obter o título de Residência Médica na área de Coloproctologia. 1. Incontinência fecal 2. Manometria 3. Qualidade de vida I. Hospital do Servidor Público Municipal II. Título. LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Posição de Sims ...................................................................................................... 16 Figura 2 - Manômetro anorretal...............................................................................................17 Figura 3 - Cateter de perfusão com água..............................................................................17 LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Características gerais da população do estudo................................................ 20 Tabela 2 - Descrição dos resultados da Escala de Continência de Jorge/Wexner ........20 Tabela 3 - Descrição das médias para as variáveis da FIQLS ..........................................21 Tabela 4 – Descrição dos resultados da manometria anorretal........................................ 22 Tabela 5 - Correlação entre as variáveis “Líquido” e “Pressão de repouso” ...................22 RESUMO A incontinência fecal é a perda involuntária de fezes sólidas ou líquidas, muco ou gases e afeta 2 a 9% da população, sendo responsável por enorme impacto socioeconômico. Sua gravidade pode ser estimada pela Escala de Continência de Jorge e Wexner e pela Escala de Qualidade de Vida da Incontinência Fecal. A manometria anorretal é um teste valioso no arsenal propedêutico coloproctológico, servindo para avaliação objetiva de distúrbios funcionais anorretais, pré-operatória e do impacto de terapias ou técnicas operatórias sobre o aparelho esfincteriano e o reto. É também utilizada como primeira linha de investigação na incontinência fecal. O objetivo deste estudo foi correlacionar os achados manométricos com a gravidade da incontinência fecal e seu impacto na qualidade de vida. O estudo foi do tipo observacional transversal com 12 pacientes com sintoma de incontinência fecal, que foi estimada através das Escalas de Continência de Jorge/Wexner e Qualidade de Vida na Incontinência Fecal. Os pacientes realizaram exame de manometria anorretal e os valores encontrados foram correlacionados com os resultados das escalas referidas. Foi encontrada uma correlação entre a variável “Líquido” da Escala de Continência de Jorge/Wexner e a variável “Pressão de repouso” da manometria anorretal. Não houve correlação estatística significativa entre as demais variáveis da Escala de Continência de Jorge/Wexner e da Escala de Qualidade de Vida na Incontinência Fecal (FIQLS) com os resultados da manometria anorretal. Estes resultados necessitam de melhor investigação devido ao número reduzido da amostra. Palavras-chave: Incontinência fecal; manometria; qualidade de vida. ABSTRACT Fecal incontinence is the involuntary loss of solid or liquid stool, mucus or gases and affects 2-9% of the population, accounting for huge socioeconomic impact. Its severity can be estimated by the Jorge/Wexner Continence Grading Scale and Fecal Incontinence Quality of Life Scale (FIQLS). Anorectal manometry is a valuable exam in the coloproctologic armory, serving for objective evaluation of functional anorectal disorders, preoperative and the impact of therapies or surgical techniques on the anal sphincter and the rectum. It is also used as first-line investigation in fecal incontinence. The aim of this study was to correlate the manometric findings with the severity of fecal incontinence and its impact on quality of life. The study was cross-sectional observational study of 12 patients with symptoms of fecal incontinence, which was estimated by the Jorge/Wexner Continence Grading Scale and Fecal Incontinence Quality of Life Scale. Patients underwent anorectal manometry test and the values were correlated with the results of these scales. A correlation between the variable "Liquid" of Jorge/Wexner Continence Grading Scale and the variable "Resting pressure" of anorectal manometry was found. There was no significant correlation between the other variables of Jorge/Wexner Continence Grading Scale and Fecal Incontinence Quality of Life Scale (FIQLS) with the results of anorectal manometry. These results require further investigation due to the small sample size. Keywords: Fecal incontinence; manometry; quality of life. SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO...............................................................................................................09 2 OBJETIVO......................................................................................................................13 3 CAUSUÍSTICA ..............................................................................................................14 3.1 Tipo de estudo ............................................................................................................14 3.2 População de estudo.................................................................................................14 3.3 Considerações éticas ................................................................................................14 4. MÉTODOS ....................................................................................................................16 4.1 Escala de Continência de Jorge/Wexner ...............................................................16 4.2 Escala de Qualidade de Vida na Incontinência Fecal..........................................16 4.3 Manometria anorretal ................................................................................................17 4.4 Análise estatística ......................................................................................................20 5 RESULTADOS E DISCUSSÃO..................................................................................21 6 CONCLUSÃO ................................................................................................................25 REFERÊNCIAS .............................................................................................................26 EQUIPE CIENTÍFICA ...................................................................................................28 APÊNDICES...................................................................................................................29 ANEXOS .........................................................................................................................30 1. INTRODUÇÃO A incontinência fecal é habitualmente definida como a perda involuntária de 1 fezes sólidas ou líquidas, muco ou gases . Outros autores 2 consideram que a incontinência fecal é a perda involuntária e recorrente de fezes pelo período mínimo de um mês, enquanto que a incontinência parcial é geralmente descrita como a incapacidade de controlar a saída de muco e gases. Incontinência fecal é um problema comum. Estima-se que 2 a 9% da população 1 sejam afetados, sendo responsável por enorme impacto socioeconômico . Homens e mulheres de todas as idades podem ser afetados pela doença, 3 apesar de alguns estudos sugerirem que a prevalência aumente com a idade . Em estudos populacionais, a prevalência de incontinência fecal é de 0,9% dos 4 adultos entre 40 e 64 anos e de 2,3% a partir de 65 anos . Na prática clínica, mulheres são rotineiramente atendidas mais que homens. A prevalência deve ser maior no sexo feminino, provavelmente devido a complicações no parto vaginal e maior prevalência, neste grupo, da constipação intestinal com esforço 5 evacuatório crônico . O impacto da incontinência fecal é variável e pode alterar muito a capacidade da pessoa em executar suas atividades diárias. Alguns alteram o intervalo entre as refeições, hábitos alimentares e, possivelmente, evitam ocasiões sociais por medo de 3 constrangimento . 9 Aproximadamente 40% das mulheres que tem perda fecal acidental apresentam sintomas severos que prejudicam sua qualidade de vida, apesar de menos de um terço 3 dessas mulheres procurarem atendimento médico devido à incontinência fecal . O impacto sobre a qualidade de vida do indivíduo e a maneira como ele encara o 1 problema também reflete o grau de incontinência e a forma de manejo . Incontinência para fezes sólidas ou líquidas, muco e flatos ocorre em uma frequência variável e pode ter um grande impacto na qualidade de vida e atividades 3 diárias . Jorge e Wexner desenvolveram uma escala que leva em consideração o tipo de 1 incontinência, a frequência e as alterações no estilo de vida . A escala é composta por cinco variáveis (fezes sólidas e líquidas, flatos, uso de protetor de vestimenta ou forro e alteração no estilo de vida), cada uma com resposta de zero a quatro pontos. Portanto, 6 a gravidade da incontinência é proporcional à pontuação, com máximo de 20 pontos . A Sociedade Americana de Cirurgia Colorretal desenvolveu a Escala de Qualidade de Vida da Incontinência Fecal (FIQLS), atribuindo valores a tipos de incontinência, sua frequência e seu impacto na qualidade de vida, baseando-se em 7 dados subjetivos de severidade atribuídos pelo próprio paciente . É composto por 29 questões distribuídas em quatro domínios, cada um abordando um aspecto da qualidade de vida: estilo de vida, comportamento, depressão e constrangimento. Este questionário foi traduzido, adaptado e validado para uso na 5 população brasileira . 10 A manutenção da continência depende de vários fatores, tais como o estado mental do indivíduo, volume e consistência das fezes, trânsito cólico, complacência e sensibilidade retal, função esfincteriana, sensibilidade do canal anal e integridade do 1 reflexo inibitório retoanal . Desde a década de 80, a avaliação da fisiologia do ânus, reto e cólon tem se tornado cada vez mais importante no manejo das condições que afetam estas áreas. Os testes não só ampliaram o entendimento sobre os processos fisiológicos, mas 8 também fornecem informações importantes para o melhor tratamento . Videodefecografia, defeco-ressonância magnética, ultra-sonografia do canal anal, eletroneuromiografia do assoalho pélvico, manometria anorretal, tempo de trânsito cólico, a medida do tempo de latência dos nervos pudendos e o tempo de trânsito orocecal são exames de avaliação da anatomia e fisiologia do cólon e do assoalho pélvico e se tornaram indispensáveis na avaliação adequada de pacientes 9 com distúrbios funcionais do trato digestivo e do assoalho pélvico . Dentre estes estudos, a manometria anorretal é um teste valioso no arsenal propedêutico coloproctológico, devido à sua capacidade de avaliar vários mecanismos 1 que podem estar relacionados ao desenvolvimento dessas patologias . A manometria (ou eletromanometria) anorretal é o método diagnóstico objetivo para avaliar o tônus da musculatura anal, a complacência retal, sensação anorretal e verificar a integridade do reflexo retoanal inibitório. Portanto, a manometria avalia de 8 forma reprodutível informações quantitativas da função esfincteriana . É utilizada na investigação etiológica de distúrbios funcionais anorretais (primários 11 ou secundários), avaliação pré-operatória de cirurgias orificiais ou colorretais e o impacto de terapias (radioterapia, radiofrequência e outras) ou técnicas operatórias 1 sobre o aparelho esfincteriano e o reto . Gowers (1987) fez a primeira referência ao método quando descreveu o reflexo retoanal inibitório, ou seja, a resposta de relaxamento esfincteriano provocada pela distensão do reto 10 . Os parâmetros avaliados pela manometria anorretal são o comprimento da zona de alta pressão (canal anal funcional), a pressão de repouso (tônus do músculo esfíncter anal interno), a pressão de contração voluntária (contribuição do músculo esfíncter anal externo), a contração mantida (índice de taxa de fadiga), a presença do reflexo inibitório retoanal, a sensibilidade retal (volume de primeira sensação), primeiro desejo evacuatório (volume de primeira urgência evacuatória) e a capacidade retal (volume máximo tolerado) 1,8 . A manometria anorretal é considerada um dos testes básicos da função anorretal e utilizado como primeira linha de investigação na incontinência fecal, por 9 promover uma avaliação confiável e reprodutível . A manometria anorretal contribui para identificar o mecanismo envolvido na incontinência sem, contudo determinar sua etiologia. Por exemplo, não é capaz de diferenciar um defeito de esfíncter anal causado por trauma muscular e outras causas, 1 tais como prejuízo da inervação da musculatura do assoalho pélvico . 12 2. OBJETIVO Avaliar os resultados da manometria anorretal em pacientes com incontinência fecal no Hospital do Servidor Público Municipal de São Paulo. 13 3. CAUSUÍSTICA 3.1 Tipo de estudo Para este trabalho, foi desenvolvido um estudo observacional analítico do tipo transversal. 3.2 População de estudo A população deste estudo foi composta por 12 pacientes atendidos no ambulatório de Coloproctologia do Hospital do Servidor Público Municipal e que apresentavam o sintoma de incontinência fecal. Foram incluídos no estudo indivíduos a partir de 18 anos, de ambos os gêneros, com sintoma de incontinência fecal. Foram excluídos do estudo pacientes que apresentaram qualquer uma das seguintes características: gravidez, doença sistêmica grave e neoplasia maligna não controlada. Os pacientes incluídos passaram por duas consultas. Na primeira consulta, todos os pacientes fizeram exame proctológico completo a fim de excluir patologias orgânicas anorretais. Em uma segunda consulta, os pacientes realizaram o exame de manometria anorretal. 3.3 Considerações éticas A inclusão dos pacientes foi realizada após o preenchimento do Termo Consentimento Livre Esclarecido – TCLE (Apêndice A), de acordo com a Resolução 14 No. CNS Nº 466, de 12 de dezembro de 2012 do Ministério da Saúde e complementares. Foi preenchida uma ficha para coleta de dados e foram respondidos os questionários voltados para o preenchimento da Escala de Continência de Jorge/Wexner e da Escala de Qualidade de Vida na Incontinência Fecal (FIQLS). 15 4. MÉTODO 4.1 Escala de Continência de Jorge/Wexner A Escala de Continência de Jorge/Wexner é composta por cinco variáveis, cada uma recebe uma pontuação atribuída pelo paciente de forma objetiva e varia de zero a quatro pontos de acordo com a frequência em que ocorre o evento: zero (nunca), um (raramente ou ≤ 1/mês), dois (eventualmente ou ≤ 1/dia e > 1/mês), três (normalmente ou ≤ 1/dia e > 1/semana) e quatro pontos (sempre ou > 1/dia) (Anexo A). As três primeiras variáveis referem-se ao tipo de incontinência fecal: para sólidos, líquido (ou muco) e gases (flatos). As duas últimas são sobre o uso de forro (protetor de vestimenta) e se ocorreu alteração no estilo de vida devido à incontinência fecal. A pontuação varia de zero (ausência de incontinência fecal) a vinte pontos (incontinência fecal grave). 4.2 Escala da Qualidade de Vida na Incontinência Fecal (FIQLS) A Escala da Qualidade de Vida na Incontinência Fecal baseia-se em um questionário (Anexo B), elaborado com linguagem simplificada e deve ser respondido pelo paciente. Os domínios ou escalas que o compõe representam grupos de itens ou questões que abordam o mesmo aspecto referente à qualidade de vida. Os domínios (variáveis) do FIQL e suas respectivas questões são: 1. estilo de vida: composto por 10 itens, Q2 (a, b, c, d, e, g, h), Q3 (b, l, m); 2. comportamento: composto por 9 itens, Q2 (f, i, j, k, m), Q3 (c, h, j, n); 3. depressão: composto por 7 16 itens, Q1, Q3 (d, f, g, i, k), Q4; e 4. constrangimento: composto por 3 itens, Q2 (l), Q3 (a, e). A pontuação dos itens do questionário varia de 1 a 4, com exceção das questões 1 (1 a 5 pontos) e 4 (1 a 6 pontos). Existe ainda a possibilidade da resposta “não aplicável”, quando a resposta da pergunta é por outro motivo que não a incontinência fecal. Em cada variável, calcula-se a média de pontos para as respostas obtidas excluindo-se aquelas que não se aplicam. 4.3 Manometria anorretal Com o paciente em posição de Sims, é feita a calibragem do sistema de cateter de perfusão com água no manômetro anorretal. Figura 1: posição de Sims (Fonte: GORDON, 2007). 17 Figura 2: manômetro anorretal (Fonte: ALACER, 2014). Após um toque retal dilatador com gel lubrificante não anestésico, é introduzido o cateter via retal e posicionado a 06 cm da borda anal (Figura 2). Figura 3: cateter de perfusão com água e saída com 08 canais radiais (Fonte: ALACER, 2014). 18 Inicia-se o exame com a aferição das pressões de repouso do canal anal nas posições a 06, 05, 04, 03, 02 e 01 cm da borda anal. Segue-se o procedimento com a aferição das pressões de contração voluntária nas posições a 06, 05, 04, 03, 02 e 01 cm da borda anal durante contração máxima do ânus solicitada ao paciente neste momento. Posteriormente, com o cateter a 01 cm da borda anal, aferem-se as pressões de contração mantida durante uma contração sustentada por 30 segundos solicitada ao paciente. Finalmente, retorna-se o cateter na posição a 06 cm da borda anal e injeta-se água através deste cateter, preenchendo o balão em sua extremidade distal para determinar a sensibilidade retal (volume de líquido injetado em que ocorre a primeira sensação de conteúdo no reto), o primeiro desejo evacuatório e a capacidade retal (volume máximo tolerado). 19 4.4 Análise estatística As características gerais da população estudada (gênero e idade) foram calculadas por contagem direta. A gravidade da incontinência fecal dos pacientes foi calculada por meio de contagem direta da Escala de Continência de Jorge/Wexner e da Escala de Qualidade de Vida na Incontinência Fecal (FIQLS). Para determinar a correlação da gravidade da incontinência fecal e as alterações encontradas no exame de manometria anorretal foi utilizado os testes de correlação de Spearman (dados não paramétricos) e regressão logística múltipla. Os programas utilizados foram o BioEstat versão 5.3, GraphPad Prism versão 6.04 e Minitab versão 17. O nível de significância adotado foi de alfa = 5%, com intervalo de confiança de 95%. 20 5. RESULTADOS E DISCUSSÃO Foram incluídos neste estudo 12 pacientes com diagnóstico clínico de incontinência fecal e verificou-se que a maioria pertence ao gênero feminino. Característica dos pacientes Idade (anos) (média e desvio padrão) 64 ± (11) Gênero n (%) Masculino 3 (25) Feminino 9 (75) Tabela 1: Características gerais da população do estudo. Os resultados da Escala de Continência de Jorge/Wexner (Tabela 2) apresentaram valores de 2 a 13 pontos, com média de 7,25. Escala de Continência de Jorge/Wexner Uso de Forro Alteração no Tipo de Incontinência Sólido Líquido Gás (Vestimenta) Estilo de Vida 1 3 0 0 0 0 2 3 0 2 0 0 2 3 4 4 0 3 4 3 0 4 0 0 5 3 0 3 0 0 6 2 0 3 4 0 4 0 0 2 0 7 0 2 3 0 0 8 9 2 2 4 4 0 10 3 0 4 4 0 11 4 0 0 4 0 12 2 0 0 0 0 Tabela 2: Descrição dos resultados das variáveis da Escala de Continência de Jorge/Wexner. N Total 3 5 13 7 6 9 6 5 12 11 8 2 21 Apesar de não existir um critério definido pela literatura para classificação quanto à pontuação, há descrito que o valor de 0 significa um controle perfeito da continência e 11 o valor de 20 significa completa incontinência fecal . Portanto, deve-se compreender que a população estudada apresenta em média uma perda de 36,25% do controle perfeito da continência fecal. Os resultados da Escala de Qualidade de Vida na Incontinência Fecal demonstraram que todos os pacientes que participaram do estudo apresentaram redução da qualidade de vida. O domínio “Constrangimento” foi a que apresentou o menor índice (Tabela 3). Escala de Qualidade de Vida Domínio Media ± desvio padrão Estilo de vida 3.81 ± 0.26 Comportamento 3.28 ± 0.46 Depressão 3.75 ± 0.51 Constrangimento 2.48 ± 0.79 Total 3.30 ± 0.40 Tabela 2: Descrição das médias para os domínios da FIQLS. Utilizado software Graphpad Prism v.6.04 (Autor: Thiago Alves). Os resultados de cada variável da manometria anorretal e os valores de normalidade (V.N.) quando existentes estão apresentados na Tabela 4. 22 Manometria Anorretal Pressões de contração (V.N.: 60-110 mmHg) Índice de fadiga (V.N.: > 0,7 min) Sensibilidade retal (V.N.: 10-30 mL) Desejo evacuatório (cm) Pressões de repouso (V.N.: 40-70 mmHg) (mL) Capacidade retal (V.N.: 100300 mL) 1 2 22.6 96.2 0.5 39 113 185 2 3 42.6 150.6 0.5 23 58 115 3 4 33.7 54.5 0.6 41 81 141 4 3 53.1 92.7 1.6 25 73 193 5 1 35.6 51.5 0.9 87 87 295 6 1 26.9 117.6 0.7 15 52 103 7 2 64.4 57.6 0.6 22 60 214 8 3 26.6 232.8 2.4 28 92 154 9 3 32.7 97.6 0.9 25 58 133 10 3 64.4 86.5 5 86 146 272 11 2 29 63.7 0.5 15 32 101 12 2 35.5 41.3 3.8 29 59 155 N Canal anal funcional Tabela 4: Descrição dos resultados da manometria anorretal. Na análise de correlação entre as variáveis da Escala de Continência de Jorge/Wexner e os resultados da manometria anorretal não houve correlação estatística. Entretanto a variável “Líquido” da Escala de Continência de Jorge/Wexner e a variável “Pressão de repouso” do exame de manometria anorretal apresentaram uma correlação negativa moderada, ou seja, quanto maior os valores da pressão de repouso, menor a incontinência para fezes liquidas. “Líquido vs. Pressão de repouso” Coeficiente de Spearman (r) - 0.3366 Intervalo de confiança 95% -0.7711 – 0.3118 Valor de p 0.030 Tabela 5: Correlação entre as variáveis “Líquido” e “Pressão de repouso”. Utilizado software Graphpad Prism v.6.04 (Autor: Thiago Alves). 23 A mesma análise de correlação foi realizada entre os domínios da Escala de Qualidade de Vida na Incontinência Fecal e os resultados da manometria anorretal. Não foi encontrada correlação estatística significante. Foi realizada também uma análise de regressão logística múltipla para as variáveis da manometria anorretal e as variáveis da Escala de Continência de Jorge/Wexner, assim como entre as variáveis da manometria anorretal e os domínios da Escala de Qualidade de Vida na Incontinência Fecal. Entretanto, também não foi observada nenhuma associação estatística significante. Apesar de a manometria anorretal ser um dos testes básicos e de primeira linha de investigação na incontinência fecal, estes resultados podem não ter sido significativos devido ao reduzido número de amostra, portanto merecem melhor investigação. 24 6. CONCLUSÃO A partir dos resultados pode-se concluir que: a) Foi encontrada uma correlação negativa moderada entre a variável “Líquido” da Escala de Continência de Jorge/Wexner e a variável “Pressão de repouso” da manometria anorretal; b) Não houve correlação estatística significativa entre as variáveis da Escala de Continência de Jorge/Wexner e os resultados da manometria anorretal; c) Não houve correlação estatística significativa entre as variáveis da Escala de Qualidade de Vida na Incontinência Fecal (FIQLS) e os resultados da manometria anorretal. 25 REFERÊNCIAS 1. FILLMANN HS, FILLMANN LS. Incontinência fecal: aspectos clínicos e etiopatogenia. Em CAMPOS FG, REGADAS FSP, PINHO ML (eds). Tratado de Coloproctologia, 1ª ed. Atheneu: São Paulo, 2012, pp 1035-1044. 2. SANDS DR, MADSEN MA. Fecal Incontinence. In BECK DE, ROBERTS PL, SCLARIDES AJ et al. (eds). The ASCRS Manual of Colon and Rectal Surgery, 2nd ed, Springer: New York, 2014, pp 335-353. 3. VAN KOUGHNETT JAM, WEXNER SD. Current management of fecal incontinence: choosing amongst treatment options to optimize outcomes. World J Gastroenterol 2014; 19(48): 9216-9230. 4. WANG JY, ABBAS MA. Current management of fecal incontinence. Perm J 2013; 17(3): 65-32. 5. YUSUF SAI, JORGE JMN, HABR-GAMA A et al. Avaliação da qualidade de vida na incontinência anal: validação do questionário FIQL (Fecal Incontinence Quality of Life). Arq Gastroenterol 2004; 41(3): 202-208. 6. GORDON PH, SCHOUTEN WR. Fecal incontinence. In GORDON PH, NIVATVONGS S (eds). Principles and practice of surgery for the colon, rectum and anus, 3rd ed. Informa Healthcare: New York, New York, 2007, pp 293-331. 7. ROCKWOOD TH, CHURCH JM, FLESHMAN JW et al. Fecal incontinence quality of life scale: quality of life instrument for patients with fecal incontinence. Dis Colon Rectum 2000; 43: 9-17. 8. CUTAIT R, SALUM M. Avaliação Funcional em Coloproctologia. Ernesto Reichmann: São Paulo, 2004, pp 128-145. 26 9. CORMAN, ML; NICHOLLS, RJ; FAZIO, VW et al. Corman's Colon and Rectal Surgery, 6th ed. Lippincott Williams & Wilkins: Philadelphia, Pennsylvania, 2012, pp 347-425. 10. SANDS DR, MADSEN MA. Fecal Incontinence. In BECK DE, ROBERTS PL, SCLARIDES AJ et al. (eds). The ASCRS Textbook of Colon and Rectal Surgery, 2nd ed, Springer: New York, 2011, pp 309-321. 11. American Society of Colon & Rectal surgeons # # 2009. http://www.fascrs.org/physicians/education/core_subjects/2009/fecal_incontine nce/ (acesso em Setembro de 2014). 12. Alacer Biomédica # # 2014. http://www.alacer.com.br/#!slideshow/c147l (acesso em Novembro de 2014). 27 EQUIPE CIENTÍFICA Nome Formação Função no projeto Thiago Ibiapina Alves Médico residente de Coordenar e executar o Coloproctologia projeto Médica Coloproctologista Orientadora Juliana Magalhães Lopes Geraldes 28 APÊNDICE A HOSPITAL DO SERVIDOR PÚBLICO MUNICIPAL TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (TCLE) O (A) senhor (a) está sendo convidado (a) a participar como voluntário da pesquisa com título “Implementação da Manometria Anorretal com ênfase no estudo da Incontinência Fecal na clínica de Coloproctologia do Hospital do Servidor Público Municipal de São Paulo”. Após ser esclarecido (a) sobre as informações a seguir e caso aceite fazer parte deste estudo, assine ao final deste documento que está em duas vias. Uma delas é sua e a outra é do pesquisador responsável. INFORMAÇÕES SOBRE A PESQUISA • Nome Completo dos Pesquisadores: Juliana Magalhães Lopes Geraldes – Coordenadora Thiago Ibiapina Alves – Colaborador • Telefones para contato: (011) 3397-7979 A pesquisa tem como objetivo avaliar os resultados da manometria anorretal em pacientes com incontinência fecal no Hospital do Servidor Público Municipal de São Paulo. O exame de manometria anorretal será feito com o paciente deitado sobre lado esquerdo do corpo e terá duração de cerca de 30 minutos. Através de um cateter fino e flexível via retal serão aferidas as pressões no reto e canal anal. Este exame pode gerar desconforto mínimo durante a manipulação do cateter, mas não acarreta risco à saúde do paciente. Este estudo é importante, pois pode levar a compreensão da dinâmica da continência anal através de dados manométricos e relacioná-los com os sintomas e a gravidade da incontinência fecal e a qualidade de vida, orientando o tratamento adequado para cada caso. O estudo terá duração de 03 meses e será realizada na clínica de Coloproctologia do Hospital do Servidor Público Municipal. Os pesquisadores estarão à sua disposição, a qualquer momento, para discutir as dúvidas que o senhor (a) possa ter a respeito deste estudo e sua participação. Sua participação no presente estudo é voluntária. O (A) senhor (a) pode optar por não participar ou interromper sua participação no estudo a qualquer momento, sem qualquer prejuízo da sua assistência. Os registros individuais dos seus dados serão mantidos em sigilo (confidencial). Os resultados do presente estudo de pesquisa poderão ser apresentados em eventos científicos ou publicações; porém a identidade do senhor (a) não será revelada nessas apresentações. Consentimento pós-informação: Eu, ___________________________________________, fui informado sobre o que o pesquisador quer fazer e porque precisa da minha colaboração e entendi a explicação. Por isso, eu concordo em participar da pesquisa, sabendo que não vou ganhar nada e que posso sair quando quiser. ______________________________________ __/__/____ Assinatura do participante Data ______________________________________ __/__/____ Profissional que conversou com o paciente Data 29 ANEXO A Escala de Continência de Jorge/Wexner Escala de Continência de Jorge/Wexner Tipo de Incontinência Nunca Raramente Eventualmente Normalmente Sempre Sólido Líquido Gás Forro Alteração no estilo de vida Fonte: GORDON, 2007. 30 ANEXO B Escala de Qualidade de Vida na Incontinência Fecal (FIQLS) Fonte: YUSUF, 2004. 31