RINALDO PUFF ESTUDO DE FADIGA PARA MATERIAIS FERROSOS COM VAZIOS E INCLUSÕES NÃO METÁLICAS Tese apresentada ao curso de Pós Graduação em Ciência e Engenharia de Materiais da Universidade do Estado de Santa Catarina como requisito para obtenção do título de Doutor em Ciência e Engenharia de Materiais. Orientador: Prof. Dr. Renato Barbieri Coorientador: Prof. Dr. Miguel Vaz Jr. JOINVILLE, 2015 ii iii iv v À minha amada esposa Sandra e queridas filhas Luciana, Helena que me apoiaram e incentivaram do início ao fim desta jornada. vi vii AGRADECIMENTOS À minha esposa e filhas pela paciência, e compreensão que tiveram para que eu pudesse dedicar o maior tempo possível para estudar e concretizar este objetivo. Aos meus Pais e irmãos pela dedicação dispensados ao longo da minha vida, e pelo apoio para ultrapassar os momentos difíceis, a quem certamente devo em grande parte o mérito de ter concluído este trabalho. Mesmo no âmbito acadêmico. Ao Prof. Dr. Renato Barbieri, pela orientação e pelo sempre atencioso apoio dispensado durante a elaboração desta tese, contando sempre com o seu conhecimento na área em questão. Ao Prof. Dr. Miguel Vaz Jr. pela coorientação e pelas brilhantes aulas de Mecânica do Contínuo e Plasticidade Computacional que me motivaram ao aprofundamento na matéria e utilização dos conceitos no desenvolvimento deste trabalho. À Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC e ao Programa de Pós-graduação em Ciência e Engenharia de Materiais – PGCEM pela oportunidade, recursos e apoio dispensados. A todos os professores do Curso de Doutorado em Ciência e Engenharia de Materiais, que de uma forma direta ou indireta contribuíram para a realização desse trabalho. Ao aluno Mateus Müller Barbieri, pela execução dos ensaios de fadiga, e auxílio na compilação dos resultados À empresa EMBRACO pelo apoio técnico e logístico, e incentivo para que a conclusão desta meta se tornasse uma realidade. Ao amigo e grande incentivador Dietmar E. B. Lilie, pelo companheirismo e referência na busca do aprimoramento contínuo. Aos amigos e colegas da Embraco pelo apoio técnico e moral recebido durante o desenvolvimento desse trabalho. Aos Técnicos Mecânicos Marcelo Knies e Moises Lungarese pelo valoroso e persistente trabalho na condução dos experimentos. Aos Laboratórios Metalab e Senai pela realização de ensaios de tração em corpos de prova. viii ix “Tenho a impressão de ter sido uma criança brincando à beiramar, divertindo-me em descobrir uma pedrinha mais lisa ou uma concha mais bonita que as outras, enquanto o imenso oceano da verdade continua misterioso diante de meus olhos” Isaac Newton x xi RESUMO PUFF, Rinaldo. Estudo de fadiga para materiais ferrosos com vazios e inclusões não metálicas. 2015. 294 f. Tese (Doutorado em Ciência e Engenharia de Materiais – Área: Metais) – Universidade do Estado de Santa Catarina. Programa de Pós Graduação em Ciência e Engenharia de Materiais, CCT, Joinville, 2015. Esta tese foi motivada pelo estudo da influência de vazios e inclusões não metálicas na fadiga de alto ciclo de materiais ferrosos como aços, materiais obtidos por metalurgia do pó e ferros fundidos cinzentos. Foi objetivo também, avaliar parâmetros de medição mais simples, como os obtidos de ensaios de dureza e de flexão ou tração estáticos, como forma de avaliar materiais em fases iniciais de projeto, evitando-se longos ensaios de fadiga. Inicialmente obteve-se a resistência à fadiga de alto ciclo de um aço de alto teor de carbono. Analisou-se também o efeito da presença de uma inclusão de óxido de silício próximo à superfície de um arame de aço Cr-Si utilizado em molas submetidas a cargas reversas. A análise foi feita em termos de concentração de tensão nos contornos da inclusão, devido à aplicação de shot peening na superfície e também devido às cargas de operação. Uma revisão de propriedades mecânicas de aços obtidos por metalurgia do pó e do ferro fundido foi realizada, assim como ensaios estáticos sem e com entalhe, no intuito de obter um fator de sensibilidade ao entalhe estático, como forma de correlacionar com a sensibilidade ao entalhe na fadiga em torção. Foi avaliada a relação entre a dureza do ferro fundido e a sua resistência à fadiga na torção e realizadas simulações com material linear elástico e não linear para obter um fator de concentração de tensão geométrico. Uma simulação em mesoescala em estado plano de tensão foi realizada, podendo-se determinar a concentração de tensões locais na matriz do ferro fundido. Palavras-chave: Material ferroso, fadiga, entalhe, inclusões não metálicas, vazios. xii xiii ABSTRACT PUFF, Rinaldo. Fatigue study for ferrous materials with voids and non-metallic inclusions. 2015. 294 f. Thesis (Doutorado em Ciência e Engenharia de Materiais – Área: Metais) – Universidade do Estado de Santa Catarina. Programa de Pós Graduação em Ciência e Engenharia de Materiais, CCT, Joinville, 2015. This thesis was motivated by the study of voids and non-metallic inclusions’ influence on the high cycle fatigue of ferrous materials like steel, powder metal and gray cast iron. A second objective was to obtain simpler parameters, like the ones measured in hardness, static bending or axial tests, to evaluate materials in early phases of projects, in a way to avoid long fatigue tests. Initially the average fatigue strength was obtained for a high carbon steel. The effect of a silicon oxide inclusion near the surface on the performance of heavy-duty Cr-Si spring wire was also analyzed. The evaluation was done in terms of stress concentrating on the inclusion contours, due to the shot peening application on the surface and normal fluctuating loads. Mechanical properties of powder metal and cast iron were revised. Static tests without and with the presence of notches were performed, with the objective of obtaining a static notch sensitivity factor, to correlate with torsion fatigue results. The relation between hardness and torsion fatigue strength was evaluated for the cast iron, and simulations using linear elastic and nonlinear materials were performed to obtain geometric stress concentrating factors. A mesoscale simulation was done in plane stress, making it possible to evaluate local stress concentration in the cast iron matrix. Key-words: Ferrous materials, fatigue, notch, non-metallic inclusions, voids. xiv xv LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1 – Figura 2 – Figura 3 – Figura 4 – Figura 5 – Figura 6 – Figura 7 – Figura 8 – Figura 9 – Figura 10 – Figura 11 – Figura 12 – Figura 13 – Figura 14 – Figura 15 – Figura 16 – Figura 17 – Engrenagem produzida por Metalurgia do Pó (MP) de uma liga Fe-C. .................................................... 2 Vista esquemática de um mecanismo do tipo bielamanivela. ................................................................. 3 Compressor hermético para refrigeração. .............. 3 Distribuição de tensão próxima a um orifício em uma placa carregada em tração. .................................. 10 Diagrama de sensibilidade ao entalhe para aços e ligas de alumínio forjado UNS A92024-T submetidas a flexão reversa ou a cargas axiais reversas. ...... 14 Curvas de sensibilidade ao entalhe para materiais em torção reversa. ................................................ 14 Detalhe da montagem do corpo de prova e modelo de viga equivalente. .............................................. 21 Malha do modelo de elementos finitos. ................ 23 Dados obtidos com os corpos de prova cortados a laser e as correspondentes curvas S–N médias. . 26 Dados obtidos para os corpos de prova cortados por eletro erosão a fio e as correspondentes curvas S– N médias. .............................................................. 26 Curvas SN para 10%, 50% e 90% de Probabilidade de Falha (PF) para arame de 2 mm de liga Si-Cr de molas helicoidais para válvulas com shot peening. (k = coeficiente de inclinação da curva).................... 31 Geometria e carregamentos aplicados na mola em estudo. ................................................................... 33 Análise de tensões utilizando MEF. (a) Mola completa e (b) Detalhe da região da falha (tração e compressão com razão de carga R = 0,79)........ 34 Análise harmônica da mola. .................................. 36 Microestrutura do material da matriz (Ataque com nital 4% – aumento de 1000x). ............................. 38 Análise superficial do componente utilizando MEV. ............................................................................... 39 Comparação das tensões residuais encontradas no presente estudo e medições feitas por Pyttel et al. (2013). ................................................................... 40 xvi Figura 18 – Figura 19 – Figura 20 – Figura 21 – Figura 22 – Figura 23 – Figura 24 – Figura 25 – Figura 26 – Figura 27 – Figura 28 – Figura 29 – Figura 30 – Figura 31 – Superfícies da fratura do componente. Aumento de 20X. ....................................................................... 41 Análise via MEV da inclusão encontrada na superfície de fratura. Aumentos de 18 e 300X. .... 42 Diagrama de Gerber comparativo. ....................... 44 Modelo de tensão plana. (a) Geometria da superfície e esfera. (b) Malha micrométrica na superfície. (c) Sequência dos movimentos impostos à esfera. ... 46 Modelo de encruamento isotrópico bilinear utilizado na simulação. ........................................................ 46 Resultados da simulação do shot peening sem a inclusão. (a) Deformação plástica equivalente e (b) tensão principal mínima. ....................................... 47 Comparação entre Tensões residuais simuladas e medição feita no componente. .............................. 49 Tensões ao redor da inclusão para o modelo com = 0. (a) Tensão principal máxima (S1); (b) Tensão principal mínima (S3); (c) Detalhe da tensão principal máxima e (d) Detalhe da tensão principal mínima. ............................................................................... 50 Tensões ao redor da inclusão para o modelo com = 0,6 . (a) Tensão principal máxima ( S1 ); (b) Tensão principal mínima (S3); (c) Detalhe da tensão principal máxima e (d) Detalhe da tensão principal mínima................................................................... 52 Tensões principais máxima e mínima ao longo das linhas tracejadas ilustradas na Figura 25 para o modelo sem atrito = 0. ..................................... 55 Tensões principais máxima e mínima ao longo das linhas tracejadas ilustradas na Figura 26 para o modelo com atrito = 0,6. .................................. 55 Vista comparativa da inclusão real (a) e a aproximação feita no modelo usando MEF (b)..... 57 Detalhes do modelo. (a) seção do arame utilizada; (b) malha de MEF; (c) detalhe da inclusão. .......... 58 Malha para a inclusão e no entorno da mesma. O tamanho do elemento é 2 µm. O número total de elementos é 607.957; O número total de nós é 921.424. ................................................................ 59 xvii Figura 32 – Resultados de intensidade de tensão para o modelo 3D para (a) = 0 e (b) = 0,6. ......................... 60 Figura 33 – Tensão cisalhante máxima na superfície da mola, próximo à inclusão (Detalhe “A” da Figura 30). .... 62 Figura 34 – Relação entre dureza e densidade de aços obtidos por MP. .................................................................. 64 Figura 35 – Comparativo de medição de dureza Brinnel e Vickers em um material obtido por MP. ................ 65 Figura 36 – Relação entre Módulo Elástico e densidade para material ferroso obtido por MP. ............................. 66 Figura 37 – Tensão de Escoamento estática (convencional) em função da densidade. ............................................ 67 Figura 38 – Tensão de Escoamento estática e cíclica em função da densidade para duas ligas de ferro obtidas por MP. ........................................................................ 68 Figura 39 – Influência da densidade no limite de fadiga para a liga (Fe - 1,5%Cu – 0,6%C) obtida por MP, com sinterização feita à 1120°C durante 30 minutos. (a) Carregamento axial e (b) carregamento de flexão. ............................................................................... 69 Figura 40 – Influência da densidade no limite de fadiga para a liga (Fe – 2,0%Cu – 2,5%Ni) obtida por MP, com sinterização feita à 1250°C durante 60 minutos. (a) Carregamento axial e (b) carregamento de flexão. ............................................................................... 70 Figura 41 – Resistência à fadiga de peças sem e com entalhe de aços obtidos por MP e aço forjado. ...................... 72 Figura 42 – Comparativo de resistência à fadiga de dois materiais obtidos por MP com aços comuns e ferro fundido nodular, para faixa de confiabilidade de 10 a 90%. (a) Carregamento axial e (b) carregamento de flexão. .................................................................... 73 Figura 43 – Relação entre o limite de fadiga relativo e fator de entalhe. .................................................................. 74 Figura 44 – Fator de sensibilidade ao entalhe na fadiga obtido a partir do gráfico anterior, em função do fator de concentração de tensão geométrico. .................... 75 Figura 45 – (a) Engrenagem com 15 dentes. Somente um quarto de um dente é modelado usando simetria. (b) xviii Figura 46 – Figura 47 – Figura 48 – Figura 49 – Figura 50 – Figura 51 – Figura 52 – Figura 53 – Figura 54 – Figura 55 – Figura 56 – Figura 57 – Figura 58 – Figura 59 – Figura 60 – Figura 61 – Distribuição de porosidade final em um quarto do dente após a compactação até uma porosidade média de 4,5%. ..................................................... 77 Dano acumulado na raiz do dente da engrenagem após ciclo número 1 (a), número 3 (b), número 5 (c) e número 7 (d)....................................................... 77 Exemplo de um dos corpos de prova com entalhe obtidos da biela para o ensaio de flexão. ............. 83 Seção de um dos corpos de prova, indicando o perfil de tensão esperado, para o cálculo analítico. ...... 84 Tensão de Ruptura obtida para os corpos de prova sem e com entalhe do material da biela, em teste de flexão. .................................................................... 86 Resultados de sensibilidade ao entalhe estático obtidos para o material da biela em teste de flexão. ............................................................................... 86 Formato das amostras de material obtido por MP e regiões das quais os corpos de prova para os ensaios foram extraídos........................................ 89 Corpo de prova de tração sem entalhe fabricado a partir das amostras de aço obtidas por MP. ......... 90 Variação da tensão nominal de ruptura para três ligas de aço em função do fator de concentração de tensão estático. ..................................................... 93 Resultados de sensibilidade ao entalhe estático para as três ligas de aço ensaiadas.............................. 94 Equipamento de ensaio de fadiga por torção. ...... 96 Forma do corpo de prova sem entalhe para ensaio de torção reversa. ................................................. 98 Layout dos corpos de prova de torção extraídos da amostra de um dos materiais................................ 98 Funções de densidade de probabilidade da distribuição log-normal com η = 0. ..................... 105 Gráfico ilustrando a dispersão de todos os dados levantados neste ensaio. .................................... 109 Dados obtidos com corpos de prova sem entalhe e com entalhe e as curvas de quantis para 5 e 95% correspondentes. ................................................ 110 Gráfico de resistência à fadiga projetado para 107 ciclos, resultante da análise realizada, em função do xix Figura 62 – Figura 63 – Figura 64 – Figura 65 – Figura 66 – Figura 67 – Figura 68 – Figura 69 – Figura 70 – Figura 71 – Figura 72 – Figura 73 – Figura 74 – Figura 75 – Figura 76 – Figura 77 – fator de concentração de tensão geométrico K ts . ............................................................................. 113 Variação do fator de sensibilidade ao entalhe na fadiga de torção em função do fator de concentração de tensão K ts . ...................................................... 114 (a) Efeito de concentração de tensão na proximidade de um grão de grafita esférica. (b) Mesmo efeito na extremidade de uma lamela grafita, na forma de veios. ................................................................... 118 Tipos de matriz metálica em ferros fundidos. (a) Ferrita (100x) e (b) perlita (1.000x). .................... 119 Microestrutura de ferro fundido cinzento FC250, revelando a estrutura da grafita. ......................... 120 Microestrutura de ferro fundido nodular. ............. 121 Microestrutura do ferro fundido vermicular. Grafita predominantemente em forma de vermes, com alguns nódulos. 5% nodularidade, sem ataque. 100X. ................................................................... 123 Diagrama de equilíbrio Ferro-Carbono. .............. 124 Exemplo de solidificação de ferro fundido com 3,4%C. ................................................................. 125 Estrutura hexagonal da grafita. O crescimento preferencial na direção C (plano basal) resulta em grafita nodular, enquanto que o crescimento na direção A (planos prismáticos) produz grafita lamelar. ................................................................ 127 Esquema do crescimento da grafita em veios e em nódulos. ............................................................... 128 Morfologias típicas da grafita em ferros fundidos. ............................................................................. 129 Dois tipos de matriz típicas do ferro fundido....... 129 Ilustração da razão de aspecto da grafita........... 132 Ilustração mostrando os quatro tipos de deformação que o ferro fundido sofre. .................................... 133 Relação Deformação/Tensão Deformação para diferentes tipos de ferro fundido. ........................ 134 Relação do MT Tensão para os três principais tipos de ferro fundido. .................................................. 135 xx Figura 78 – Figura 79 – Figura 80 – Figura 81 – Figura 82 – Figura 83 – Figura 84 – Figura 85 – Figura 86 – Figura 87 – Figura 88 – Figura 89 – Figura 90 – Figura 91 – Figura 92 – Figura 93 – Figura 94 – Modelos de eixo de ferro fundido cinzento avaliados no presente trabalho. .......................................... 136 Distribuição das peças no molde de fundição. ... 137 Ilustração de simulação de preenchimento feita por Magma, com resultados de resistência a tração previstos. ............................................................. 138 Corpo de prova para ensaio de tração simples conforme norma ABNT NBR ISO 6892-1 (2013). ............................................................................. 139 Dados fornecidos pelo laboratório MetaLab para um dos corpos de prova testados. ............................ 140 Dados digitalizados para o mesmo tipo de corpo de prova, indicando as regiões de escorregamento.140 Ajuste realizado para um dos conjuntos de dados obtido para um dos corpos de prova. ................. 141 Curva de Hollomon ajustada para os dados dos quatro modelos testados..................................... 142 Comparativo das relações Tensão deformação conforme Hollomon obtidas dos ensaios e tratamento dos dados. ........................................ 144 Malha axissimétrica utilizada para simulação linear e não linear dos ensaios de tração. (a) sem entalhe; (b) com entalhe de re = 0,2mm e (c) detalhe da raiz do entalhe............................................................ 146 Distribuição de tensão para o caso de tração com entalhe de re = 0,2 mm utilizando modelo elástico linear.................................................................... 146 Distribuição de tensão para o caso de tração com entalhe de re = 0,2 mm utilizando modelo não linear. ............................................................................. 147 Tensão normal na linha de simetria em função do raio do corpo de prova – r, para diferentes raios de entalhe, para modelo elástico linear. .................. 148 Tensão normal na linha de simetria em função do raio do corpo de prova – r, para diferentes raios de entalhe, para modelo não linear. ........................ 148 Desenvolvimento do K tmax × σ0 ......................... 149 Desenvolvimento do K traiz × σ0 . ........................ 150 Distribuição de tensão com modelo elástico linear com entalhe de re = 0,1 mm. .............................. 151 xxi Figura 95 – Figura 96 – Figura 97 – Figura 98 – Figura 99 – Figura 100 – Figura 101 – Figura 102 – Figura 103 – Figura 104 – Tensão cisalhante na área de simetria em função do raio do corpo de prova, para diferentes raios de entalhe, para material linear................................ 152 Modelo 3D para análise de inclusão realizado por Zhu et al. (2012). (a) Malha geral e na inclusão e adjacências; (b) Distribuição de tensão normal na seção que contem a inclusão e (c) Distribuição de tensão equivalente de von Mises na mesma seção. ............................................................................. 154 Curvas tensão-deformação obtidas por intermédio do modelo utilizado por Collini. ........................... 156 (a) Micrografia base e detalhe utilizado para a simulação. (b) Região de análise de 400 × 400 µm. ............................................................................. 157 Região de análise modelada com o aplicativo de MEF. (a) Modelo completo e (b) detalhe da malha. ............................................................................. 158 Resultados de simulação para malha contínua – Teste 1. (a) Tensão normal [N/µm2], (b) Detalhe da tensão normal, (c) deformação plástica equivalente e (d) detalhe da deformação plástica equivalente. ............................................................................. 161 Resultados de simulação para malha contínua – Teste 2. (a) Tensão normal [N/µm2], (b) Detalhe da tensão normal, (c) deformação plástica equivalente e (d) detalhe da deformação plástica equivalente. ............................................................................. 163 Resultados de simulação para malha contínua – Teste 3. (a) Tensão cisalhante [N/µm2], (b) Detalhe da tensão cisalhante, (c) deformação plástica equivalente e (d) detalhe da deformação plástica equivalente. ......................................................... 165 Resultados de simulação para malha contínua – Teste 4. (a) Tensão cisalhante [N/µm2], (b) Detalhe da tensão cisalhante, (c) deformação plástica equivalente e (d) detalhe da deformação plástica equivalente. ......................................................... 167 Curvas de tensão deformação nas duas direções, comparadas à curva do ensaio. .......................... 170 xxii Figura 105 – Curva de tensão cisalhante simulada τxy em função da deformação angular γxy . ................................ 170 Figura 106 – Resultados de simulação com atrito e expansão térmica da grafita – Teste 5. (a) Tensão normal [N/µm2], (b) Detalhe da tensão normal, (c) deformação plástica equivalente e (d) detalhe da deformação plástica equivalente. ....................... 172 Figura 107 – Resultados de simulação com atrito e expansão térmica da grafita – Teste 6. (a) Tensão normal [N/µm2], (b) Detalhe da tensão normal, (c) deformação plástica equivalente e (d) detalhe da deformação plástica equivalente. ....................... 174 Figura 108 – Comparativo das curvas tensão deformação para o MLA. ................................................................. 176 Figura 109 – Resultados para simulação de carga e descarga. (a) Tensão normal σx sob carga [N/µm2], (b) deslocamento Ux com carga, (c) Tensão residual σx após retirada da carga e (d) deslocamento residual Ux após retirada da carga. .................................. 178 Figura 110 – Resultado da simulação de carga e descarga da microrregião analisada, ilustrando as quatro componentes de deformação descritas por Jögren. ............................................................................. 180 Figura 111 – Microestrutura das três ligas avaliadas por Noguchi e Nagaoka. .......................................................... 183 Figura 112– Efeito da concentração de tensão no RRE para diferentes ligas de ferro fundido. Amostras circulares com quatro níveis de entalhe. ............................. 184 Figura 113 – Efeito da concentração de tensão no RRE para o ferro fundido FC25. Amostras com seção retangular e diferentes níveis de entalhe. ............................ 185 Figura 114 – Formato dos corpos de prova de tração, sem e com dois níveis de entalhe, usinados a partir de dois modelos de eixo utilizados em compressores. Dimensões em [mm]. .......................................... 189 Figura 115 – Resultados de tensão normal em função do raio – r – para as três condições testadas. (a) Material linear e (b) Material não linear. ..................................... 190 Figura 116 – Corpos de prova ensaiados do modelo A. ......... 192 Figura 117 – Corpos de prova ensaiados do modelo B. ......... 192 xxiii Figura 118 – Tensão de Ruptura média obtida para os modelos A e B. ...................................................................... 193 Figura 119 – Fator de sensibilidade ao entalhe estático médio obtido para os materiais “A” e “B”. ...................... 194 Figura 120 – Regiões selecionadas para análise dos modelos tipo A e B .................................................................... 196 Figura 121 – Micrografia da microestrutura do material em análise. ................................................................ 197 Figura 122 – Esquema que ilustra o tipo e tamanho de grafita nas regiões dos modelos analisados......................... 198 Figura 123 – Análise de microdureza Vickers realizada para cada um dos quatro modelos....................................... 199 Figura 124 – Comparativo de microdureza Vickers para o modelo A-frio. ................................................................... 201 Figura 125 – Comparativo de microdureza Vickers para o modelo B obtido da cavidade quente e fria. .................... 201 Figura 126 – Comparativo de microdureza Vickers para os modelos obtidos da cavidade fria (A B). .......... 202 Figura 127 – Comparativo de microdureza Vickers para os modelos obtidos da cavidade quente (A B). ... 202 Figura 128 – Análises de dureza Brinnel realizadas para cada uma das amostras. .............................................. 203 Figura 129 – Comparativo de dureza Brinnel entre cavidade fria vs. Quente para os modelos A e B. .................... 205 Figura 130 – Comparativo de dureza Brinnel entre modelos A vs. B, para cavidade fria e quente. ........................... 206 Figura 131 – Avaliação de normalidade feita para um dos conjuntos de dados (A-quente sem entalhe). (a) Distribuição e teste de normalidade. (b) Gráfico de probabilidade normal. .......................................... 208 Figura 132 – Gráfico tipo “box plot” comparando os resultados obtidos para os corpos de prova sem entalhe. ... 209 Figura 133 – Correlação entre a resistência à ruptura média e a microdureza Vickers e dureza Brinnel, para a região central do corpo de prova. .................................. 211 Figura 134 – Comparativo de sensibilidade ao entalhe estática para os quatro tipos de eixo, com consideração de modelo elástico linear. ........................................ 219 xxiv Figura 135 – Comparativo de sensibilidade ao entalhe estática para os quatro tipos de eixo, com consideração de material não linear............................................... 220 Figura 136 – Curvas de distribuição de falhas e não falhas para os quatro modelos, sem entalhe e as curvas de quantis de 5, 50 e 95%. ...................................... 222 Figura 137 – Comparativo de resistência à fadiga na torção para os quatro modelos em estudo, juntamente com os quantis de 5 e 95%. ............................................ 224 Figura 138 – Correlação entre a resistência à fadiga na torção média e a microdureza Vickers e dureza Brinnel, para a região central do corpo de prova. ............ 225 Figura 139 – Correlação entre a resistência média à fadiga na torção e a resistência média à tração. ................ 226 Figura 140 – Distribuição de falhas e não falhas e curvas ajustadas para quantis de 5, 50 e 95%, para os corpos de prova do modelo A-quente................. 227 Figura 141 – Tensão cisalhante reversa para 107 ciclos do material “A” obtido da cavidade quente, em função do fator de concentração de tensão geométrico Kt e os quantis de 5 e 95%. ....................................... 230 Figura 142 – Fator de sensibilidade ao entalhe na torção em função do fator de concentração de tensão geométrico........................................................... 231 Figura 143 – Comparativo do fator de sensibilidade ao entalhe na tração estática e fadiga na torção, para o modelo Aquente. ................................................................ 232 Figura 144 – Direção de injeção e solidificação em um eixo de compressor.......................................................... 238 xxv LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Tabela 2 – Tabela 3 – Tabela 4 – Tabela 5 – Tabela 6 – Tabela 7 – Tabela 8 – Tabela 9 – Tabela 10 – Tabela 11 – Tabela 12 – Tabela 13 – Tabela 14 – Tabela 15 – Tabela 16 – Parâmetros de Heywood a para aços. .................. 15 Figuras de cada etapa dos processos de corte e acabamento utilizados nesta análise. ................... 20 Ilustrações das fraturas típicas obtidas para cada tipo de processo. ................................................... 24 Comparação entre os resultados obtidos para o limite de fadiga médio para os corpos de prova cortados a laser e por eletro erosão a fio, (R = -1). ............................................................................... 25 Composição química do material da mola comparada à composição esperada de acordo com a norma DIN EN 10270-2 (2001). ......................... 37 Composição química da inclusão encontrada na superfície de fratura. Análise feita com o uso de EED. ...................................................................... 43 Tensões principais mínima e máxima encontradas próximo aos vértices da inclusão. ......................... 54 Resultados de tensão para os cinco pontos indicados na Figura 32. ......................................... 61 Revisão do fator de concentração de tensão na fadiga – K f e estático – K t . .................................... 80 Valores de K t obtidos via MEF para os corpos de prova da biela. ....................................................... 85 Resultados para a sensibilidade ao entalhe estático obtidos no ensaio para o material da biela (5 amostras de cada corpo de prova). ...................... 85 Composição química avaliada para as amostras de aço obtidas por MP. .............................................. 87 Densidade avaliada para as amostras de aço obtidas por MP a serem ensaiadas. ..................... 88 Dimensional de uma peça de cada material e tipo de entalhe dos corpos de prova. Dimensões em [mm]. ............................................................................... 91 Fator de concentração de tensão estático obtido para os corpos de prova. ...................................... 92 Resultados de tensão nominal de ruptura e fator de sensibilidade ao entalhe estático obtido nos ensaios xxvi Tabela 17 – Tabela 18 – Tabela 19 – Tabela 20 – Tabela 21 – Tabela 22 – Tabela 23 – Tabela 24 – Tabela 25 – Tabela 26 – Tabela 27 – Tabela 28 – Tabela 29 – Tabela 30 – Tabela 31 – Tabela 32 – Tabela 33 – Tabela 34 – Tabela 35 – com corpos de prova de quatro ligas de aço obtido por MP. .................................................................. 92 Fatores de concentração de tensão estático obtidos via MEF. ................................................................ 99 Resultados da medição de rugosidade medida para os corpos de prova sem entalhe conforme norma ISO 97/JIS01 em Ra [µm]. .................................. 100 Medição das características geométricas importantes dos corpos de prova para o ensaio de torção reversa. Dimensões em [mm]. ................. 100 Imagens de uma amostra de cada tipo de corpo de prova testado e níveis de porosidade encontrados. ............................................................................. 102 Microestrutura de uma amostra de cada tipo de corpo de prova testado. ...................................... 104 Resultados obtidos para o ensaio de torção dinâmica. ............................................................. 112 Representação esquemática das características das diversas classes do ferro fundido cinzento. ........ 120 Representação esquemática das características das diversas classes do ferro fundido nodular. ......... 122 Comparativo de propriedades mecânicas principais entre o ferro fundido cinzento, vermicular e nodular. ............................................................................. 123 Tipos de deformação de ferros fundidos. ........... 132 Coeficientes “K” e “θ” obtidos para a equação de Hollomon aplicada a cada um dos materiais. ..... 144 Comparativo dos fatores de concentração de tensão para material linear e não linear, na tração. ....... 149 Fatores de concentração de tensão para modelo elástico linear, na torção. .................................... 152 Propriedades correspondentes aos modelos elastoplásticos da ferrita e perlita. ................................ 156 Propriedades e unidades utilizadas na simulação. ............................................................................. 159 Testes realizados com a geometria modelada ... 160 Resultados para o fator de concentração de tensão encontrado. ......................................................... 169 Testes realizados com a geometria modelada. .. 171 Resultados para o fator de concentração de tensão encontrado. ......................................................... 177 xxvii Tabela 36 – Expressões para K f . ............................................ 187 Tabela 37 – Valores de K t obtidos via MEF para este primeiro ensaio, na raiz do entalhe. .................................. 191 Tabela 38 – Resultados de Tensão de Ruptura e sensibilidade ao entalhe estático obtidos no ensaio para o modelo A. ............................................................................. 192 Tabela 39 – Resultados de Tensão de Ruptura e sensibilidade ao entalhe estático obtidos no ensaio para o modelo B. ............................................................................. 193 Tabela 40 – Composição química de amostras dos modelos A e B e das cavidades quente e fria.......................... 207 Tabela 41 – Quantidade de Carbono em Massa para as amostras do modelo B. ....................................... 207 Tabela 42 – Comparação estatística dos valores obtidos nos testes de tração entre os corpos de prova. ........ 210 Tabela 43 – Correlação entre a resistência à tração (desvio padrão) e dureza da região correspondente dos corpos de prova................................................... 211 Tabela 44 – Legenda para as Tabela 45 à 48 ........................ 213 Tabela 45 – Resultados para o modelo A-frio. ....................... 214 Tabela 46 – Resultados para o modelo A-quente. ................. 214 Tabela 47 – Resultados para o modelo B-frio. ....................... 215 Tabela 48 – Resultados para o modelo B-quente. ................. 215 Tabela 49 – Comparação estatística dos resultados com entalhe e sem entalhe para cada tipo de modelo em análise. ............................................................................. 217 Tabela 50 – Resultados de sensibilidade ao entalhe estática obtidos nos ensaios, com consideração de modelo elástico linear e não linear – modelo A-frio......... 218 Tabela 51 – Resultados de sensibilidade ao entalhe estática obtidos nos ensaios, com consideração de modelo elástico linear e não linear – modelo A-quente... 218 Tabela 52 – Resultados de sensibilidade ao entalhe estática obtidos nos ensaios, com consideração de modelo elástico linear e não linear – modelo B-frio......... 218 Tabela 53 – Resultados de sensibilidade ao entalhe estática obtidos nos ensaios, com consideração de modelo elástico linear e não linear – modelo B-quente... 219 xxviii Tabela 54 – Valores de resistência à fadiga para os quatro materiais, projetados para 107 ciclos, juntamente com os valores de dureza Vickers e Brinnel. ..... 224 Tabela 55 – Resultados de sensibilidade ao entalhe em fadiga na torção para o modelo A-quente. ......................... 230 xxix LISTA DE ABREVIATURAS 2D 3D BISO CP DEM – – – – – DRX EED EPT FoFo HCF MEF MEV MLA MLE MNL MP PF RRE S–N VHCF – – – – – – – – – – – – – – – Duas Dimensões. Três Dimensões. Modelos de Encruamento Bilinear Isotrópico. Corpo de Prova. Método de Elementos Discretos – Discrete Element Method. Difração de Raios X. Espectrometria de Energia Dispersiva. Estado Plano de Tensões. Ferro fundido. Fadiga de Ciclo Alto (High Cycle Fatigue). Método de Elementos Finitos. Microscopia Eletrônica de Varredura. Modelo Lagrangeano Aumentado. Modelo Linear Elástico. Modelo Não Linear. Metalurgia do Pó. Probabilidade de Falha. Razão de Resistência ao Entalhe. Tensão Número de ciclos reversos. Fadiga de Ciclo Muito Alto (Very High Cycle Fatigue). xxx xxxi LISTA DE SÍMBOLOS 𝐴0 𝐴𝑐 𝐴𝑚𝑎𝑡 𝐷𝑚𝑎𝑥 𝐻𝑆0 𝐼1 𝐼𝑚𝑎𝑥 𝐾𝑓𝑠 𝐾𝑡𝑠𝑒𝑠𝑡 𝐾𝑡𝑒𝑠𝑡 𝐾𝑡𝑚𝑎𝑥 𝐾𝑡𝑟𝑎𝑖𝑧 𝐾𝑡𝑠 𝐾𝑓 𝐾𝑡 𝐿1 𝐿1 𝑀𝑇 𝑀𝑒𝑛𝑔 𝑁𝑓 Coeficiente de Poisson. Expoente calculado em função da microdureza Vickers de uma matriz. Área nominal. Fator de aceleração entre tempo de falha 𝑇1 do nível de estresse 𝑉1 e o tempo de falha 𝑇2 no nível de estresse 𝑉2 . Parâmetro característico do produto, geometria, fabricação e método de teste numa relação tempo estresse. Dimensão máxima de uma inclusão. Profundidade a partir de uma superfície na qual a tensão residual passa de compressiva para de tração. Momento de Inércia de uma seção em flexão. Máximo comprimento de uma partícula de grafita. Fator de concentração de tensão cisalhante em fadiga. Fator de concentração de tensão estático para tensão cisalhante obtido experimentalmente. Fator de concentração de tensão estático para tensão normal obtido experimentalmente. Fator de concentração de tensão geométrico na região de máxima tensão. Fator de concentração de tensão geométrico na raiz do entalhe. Fator de concentração de tensão geométrico para tensão cisalhante. Fator de concentração de tensão normal em fadiga. Fator de concentração de tensão geométrico para tensão normal. Comprimento da região do corpo de prova que sofre flexão. Comprimento total do corpo de prova. Módulo tangente. Momento de reação do corpo de prova no engaste. Número de ciclos até a falha. xxxii 𝑅𝑤 𝑆𝑠𝑤 𝑆1 𝑆2 𝑆3 𝑆𝑤 𝑌𝑚𝑎𝑥 √𝑎 √𝑎𝑟𝑒𝑎 𝑓0 𝑞𝑠𝑒𝑠𝑡 𝑞𝑠𝑓 𝑞𝑒𝑠𝑡 𝑞𝑠 𝑟𝑒 𝑡𝑝 𝑧𝑝 𝛽1 𝛾𝑥𝑦 𝛾𝑦𝑥 𝜀𝑝𝑙 𝜀𝑢𝑡 𝜌0 Razão de carga corrigido devido à presença de uma inclusão abaixo da superfície. Resistência à fadiga para tensão cisalhante corrigida devido à presença de uma inclusão abaixo da superfície. Tensão principal máxima. Tensão principal média. Tensão principal mínima. Resistência à fadiga para tensão normal corrigida devido à presença de uma inclusão abaixo da superfície. Deflexão imposta à um corpo de prova em ensaio de fadiga de flexão reversa. Constante de Neuber. Dimensão característica de uma inclusão. Dano inicial dado pela fração de vazios inicial do material. Fator de sensibilidade ao entalhe estático para tensão cisalhante. Fator de sensibilidade ao entalhe em fadiga para tensão cisalhante e um número finito de ciclos 𝑓. Fator de sensibilidade ao entalhe estático para tensão normal. Fator de sensibilidade ao entalhe em fadiga para tensão cisalhante. Raio do entalhe. Tempo para o quantil 100 − 𝑝% da distribuição normal padrão. Quantil 100 − 𝑝% da distribuição normal padrão. Parâmetro característico do produto, geometria, fabricação e método de teste numa relação tempo estresse. Deformação cisalhante no plano normal ao eixo 𝑋, na direção do eixo 𝑌. Deformação cisalhante no plano normal ao eixo 𝑌 na direção do eixo 𝑋. Parcela plástica da deformação. Alongamento na ruptura. Densidade no estado de referência. xxxiii 𝜌𝑟 𝜎𝑓𝑠 𝜎0 𝜎𝐸 𝜎𝑁 𝜎𝑎 𝜎𝑓 𝜎𝑚 𝜎𝑚𝑎𝑥 𝜎𝑚𝑎𝑥 𝜎𝑚𝑖𝑛 𝜎𝑢𝑡 𝜎𝑥 𝜎𝑦 𝜏0 𝜏𝑁 𝜏𝑎 𝜏𝑚 𝜏𝑚𝑎𝑥 𝜏𝑚𝑎𝑥 𝜏𝑚𝑖𝑛 𝜏𝑢𝑡 𝜏𝑥𝑦 𝜏𝑦𝑥 k 𝐴 𝐶𝐸 𝐸 𝐹 𝐺 𝐺𝑆 𝐻 Densidade relativa ou grau de compactação em relação à densidade do material totalmente compactado. Tensão cisalhante reversa de fadiga para um número de ciclos 𝑓. Tensão normal nominal. Tensão de Escoamento para tensão normal. Limite de resistência à fadiga para tensão normal. Tensão normal alternada. Tensão normal reversa de fadiga para um número de ciclos 𝑓. Tensão normal média. Tensão normal máxima. Tensão normal máxima. Tensão normal mínima. Tensão de Ruptura normal. Tensão normal na direção 𝑥. Tensão normal na direção 𝑦. Tensão cisalhante nominal. Limite de resistência à fadiga para tensão cisalhante. Tensão cisalhante alternada. Tensão cisalhante média. Tensão cisalhante máxima. Tensão cisalhante máxima. Tensão cisalhante mínima. Tensão de Ruptura cisalhante. Tensão cisalhante no plano normal ao eixo 𝑋 , na direção do eixo 𝑌. Tensão cisalhante no plano normal ao eixo 𝑌 , na direção do eixo 𝑋. Coeficiente de inclinação de uma curva. Área. Carbono Equivalente. Módulo de Elasticidade ou Módulo de Young. Força. Módulo de Cisalhamento ou Módulo Torcional. Grau de Saturação. Profundidade a partir de uma superfície. xxxiv 𝐻𝐵 𝐻𝑅 𝐻𝑉 𝐼𝑇 𝐾 𝑀 𝑀𝑇𝑇𝐹 𝑁 𝑅 𝑅𝐴 𝑇 𝑉 𝑏 𝑐 𝑑 𝑓 𝑚 𝑛 𝑞 𝑟 𝑡 𝑤 𝛿 𝜀 𝜂 𝜃 𝜇 𝜌 𝜍 𝜎 Dureza Brinnel. Dureza Rockwell. Microdureza Vickers. Intensidade de Tensão = 2 × 𝜏𝑚𝑎𝑥 Coeficiente de ajuste para equação de Hollomon. Momento. Tempo médio de vida – Mean Time to Failure. Número de ciclos. Razão de carregamento reverso em fadiga = 𝑐𝑎𝑟𝑔𝑎 𝑚á𝑥𝑖𝑚𝑎⁄𝑐𝑎𝑟𝑔𝑎 𝑚í𝑛𝑖𝑚𝑎. Razão de Aspecto. Tempo até a falha. Variável de estresse. Espessura. Distância da linha de centro à extremidade de uma seção. Diâmetro. Evolução da fração de vazios do material. Coeficiente independente numa equação do tipo loglog. Coeficiente dependente numa equação do tipo log-log. Fator de sensibilidade ao entalhe em fadiga para tensão normal. Raio numa seção circular. Tempo. Largura. Desvio padrão de uma distribuição de log(𝑡). Deformação normal. Média de uma distribuição de log(𝑡). Coeficiente de ajuste para equação de Hollomon. Coeficiente de atrito de Coulomb. Densidade ou peso específico. Deslocamento relativo ao escoamento do material quando 𝜎 = 𝜎𝐸 . Tensão normal. xxxv SUMÁRIO 1 1.1 2 2.1 2.2 3 3.1 3.2 3.3 3.4 3.4.1 3.4.2 3.4.3 4 4.1 4.2 4.3 4.4 4.4.1 4.4.2 4.5 4.5.1 4.5.2 5 5.1 INTRODUÇÃO .................................................................. 1 OBJETIVOS ...................................................................... 5 CONCENTRAÇÃO DE TENSÃO ..................................... 9 CONCENTRAÇÃO DE TENSÃO EM CARREGAMENTO ESTÁTICO ........................................................................ 9 CONCENTRAÇÃO DE TENSÃO EM CARREGAMENTO DINÂMICO ...................................................................... 11 FADIGA EM AÇOS DE ALTO CARBONO .................... 17 ANÁLISE DOS CORPOS DE PROVA OBTIDOS COM OS DOIS PROCESSOS DE CORTE .................................... 18 MATERIAL ...................................................................... 19 TESTE DE FADIGA ........................................................ 21 RESULTADOS ................................................................ 23 Aspectos da fratura para os corpos de prova cortados a laser ............................................................................. 23 Aspectos da fratura para os corpos de prova cortados por eletro erosão a fio .................................................. 23 Resultados de resistência à fadiga ............................. 25 EFEITO DE INCLUSÕES NÃO METÁLICAS NA RESISTÊNCIA À FADIGA DE AÇOS DE ALTO CARBONO ...................................................................... 29 ANÁLISE DE TENSÕES PARA AS CONDIÇÕES DE PROJETO. ...................................................................... 33 ANÁLISE DO MATERIAL ............................................... 36 ANÁLISE DA FRATURA ................................................. 40 AVALIAÇÃO DO EFEITO DA INCLUSÃO NAS TENSÕES RESIDUAIS DO PROCESSO DE SHOT PEENING ...... 45 Definição do modelo numérico ................................... 45 Resultados para a simulação 2D ................................. 47 ANÁLISE EM 3D DAS TENSÕES AO REDOR DA INCLUSÃO ...................................................................... 56 Modelamento numérico ................................................ 56 Resultados para a simulação 3D ................................. 59 FADIGA EM AÇO OBTIDO POR METALURGIA DO PÓ ......................................................................................... 63 CARACTERÍSTICAS DE MATERIAIS OBTIDOS POR MP ......................................................................................... 63 xxxvi 5.1.1 5.1.2 5.1.3 5.1.4 5.2 Dureza ............................................................................ 63 Módulo de Elasticidade ................................................ 65 Tensão de Escoamento estática e cíclica .................. 66 Resistência à fadiga ..................................................... 69 DETERMINAÇÃO DA SENSIBILIDADE AO ENTALHE ESTÁTICO PARA MATERIAL OBTIDO POR MP UTILIZADO EM BIELAS DE COMPRESSORES ........... 83 5.3 TESTES ESTÁTICOS DE TRAÇÃO PARA OUTRAS LIGAS DE AÇO OBTIDAS POR MP .............................. 87 5.3.1 Materiais......................................................................... 87 5.3.2 Corpos de Prova ........................................................... 88 5.3.3 Dimensional dos corpos de prova .............................. 90 5.4 ENSAIOS DE TORÇÃO REVERSA ............................... 95 5.4.1 Avaliação das características dos corpos de prova . 99 5.4.2 Análise de porosidade e microestrutura dos corpos de prova ensaiados.......................................................... 101 5.4.2.1 Análise de porosidade .................................................. 101 5.4.2.2 Análise de microestrutura ............................................. 103 5.5 TRATAMENTO DOS DADOS DE TORÇÃO REVERSA ...................................................................................... 105 5.5.1 Distribuição probabilística ......................................... 105 5.5.2 Relação estresse-Resposta. ...................................... 107 5.5.3 Resultados obtidos nos ensaios de torção reversa 108 5.5.4 Comparativo de dados de fadiga para 107 ciclos.... 112 6 FERRO FUNDIDO E SUAS PROPRIEDADES ........... 117 6.1 FATORES DETERMINANTES NAS PROPRIEDADES MECÂNICAS ................................................................. 117 6.2 TIPOS DE FERRO FUNDIDO ...................................... 119 6.3 METALURGIA DOS FERROS FUNDIDOS.................. 124 6.4 MATRIZ FERRÍTICA X PERLÍTICA ............................. 125 6.5 CARBONO EQUIVALENTE ......................................... 126 6.6 GRAFITA LAMELAR X NODULAR .............................. 127 6.7 GRAFITA X CARBONETOS (INOCULAÇÃO) ............. 128 6.8 DEFORMAÇÃO DE FERROS FUNDIDOS .................. 132 6.9 COMPILAÇÃO DE RESULTADOS DO TESTE DE TRAÇÃO ESTÁTICA EM CORPOS DE PROVA DE MATERIAL FUNDIDO USADO EM EIXOS DE COMPRESSORES HERMÉTICOS .............................. 136 6.10 SIMULAÇÃO DO FATOR DE CONCENTRAÇÃO DE TENSÃO GEOMÉTRICO UTILIZANDO O MATERIAL NÃO LINEAR ................................................................ 145 xxxvii 6.10.1 Resultados para a simulação da tração ................... 146 6.10.2 Resultados para a simulação da torção ................... 150 7 SIMULAÇÃO EM MESOESCALA DO FERRO FUNDIDO CINZENTO .................................................................... 153 7.1 MODELAMENTO DA REGIÃO DE ANÁLISE .............. 156 7.2 SIMULAÇÃO UTILIZANDO-SE A MALHA CONTÍNUA 160 7.3 SIMULAÇÃO UTILIZANDO MODELO DE CONTATO E EXPANSÃO TÉRMICA DA GRAFITA .......................... 171 7.4 SIMULAÇÃO DE CARGA E DESCARGA .................... 177 8 SENSIBILIDADE AO ENTALHE DO FERRO FUNDIDO ....................................................................................... 183 8.1 DETERMINAÇÃO DA SENSIBILIDADE AO ENTALHE DO FERRO FUNDIDO UTILIZADO NO EIXO DE COMPRESSORES. ...................................................... 188 8.2 ANÁLISE DE MICROESTRUTURA E DUREZA NAS DIFERENTES REGIÕES DOS EIXOS ......................... 195 8.2.1 Análise de microestrutura.......................................... 196 8.2.2 Análise de microdureza Vickers (HV) ....................... 199 8.2.3 Análise de dureza Brinnel (HB) ................................. 203 8.3 TRATAMENTO PARA A RESISTÊNCIA MECÂNICA DOS CORPOS DE PROVA DO SEGUNDO ENSAIO .......... 207 8.3.1 Resultados para os corpos de prova sem entalhe.. 209 8.3.2 Resultados de tração estática para os corpos de prova com entalhe ................................................................. 212 8.4 RESULTADOS OBTIDOS NOS ENSAIOS TORÇÃO REVERSA ..................................................................... 220 8.4.1 Resistência à fadiga em solicitação de torção para os corpos de prova sem entalhe .................................... 221 8.4.2 Resistência à fadiga na torção para os corpos de prova com entalhe do material obtido do modelo A-quente ....................................................................................... 226 9 CONCLUSÕES ............................................................. 233 9.1 FADIGA EM AÇO ALTO CARBONO ............................ 233 9.2 EFEITO DE INCLUSÕES NÃO MATÉLICAS NA FADIGA DO AÇO CR-SI ............................................................. 233 9.3 FADIGA EM MATERIAIS OBTIDOS POR MP ............. 235 9.4 CONCENTRAÇÃO DE TENSÃO NO FERRO FUNDIDO ....................................................................................... 236 xxxviii 9.5 SIMULAÇÃO EM MESOESCALA DO FERRO FUNDIDO CINZENTO .................................................................... 237 9.6 FADIGA DO FERRO FUNDIDO CINZENTO ............... 237 10 SUGESTÕES PARA FUTUROS TRABALHOS .......... 241 11 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................ 243 Anexo A: ................................................................................... 253 Anexo B: ................................................................................... 255 Anexo C: ................................................................................... 257 Anexo D: ................................................................................... 261 Anexo E: ................................................................................... 265 Anexo F: ................................................................................... 269 Anexo G:................................................................................... 273 1 INTRODUÇÃO Inúmeras são as referências bibliográficas que podem ser citadas, quando o tema se refere ao projeto de máquinas e equipamentos. Dentre estas, uma que é largamente conhecida é (SHIGLEY; MISCHKE; BUDYNAS, 2005), na qual é reforçado o conceito de que o projeto de máquinas e equipamentos requer a análise prévia do estado de tensões em seus componentes. A análise pode ser efetuada com a utilização de equações analíticas, no caso de geometrias mais simples, ou então de ferramentas numéricas, como o Método de Elementos Finitos (MEF). As tensões decorrentes da aplicação de forças e demais condições de contorno podem ser estáticas, ou então dinâmicas. Outro ponto fundamental a ser considerado são as restrições de projeto, em função de limitações na geometria. Exemplos típicos de elementos de máquinas submetidos às cargas anteriormente citadas são eixos rotativos, os quais devem ser projetados para que mancais possam assentar-se apropriadamente e, assim responder às cargas axiais; podem ter também rasgos usinados, a fim de fixar polias e engrenagens, ou então conduzir óleo para as regiões onde este é requerido. Em casos específicos, podem ter ainda regiões excêntricas, as quais recebem cargas cisalhantes e de torção, além de cargas de inércia. Outro exemplo típico são parafusos de porca, que apresentam uma cabeça em uma extremidade e roscas na outra extremidade, ambas responsáveis por mudanças abruptas de secção transversal. Outras peças ainda, requerem furos, ranhuras e entalhes de várias espécies. Qualquer descontinuidade em uma peça de uma máquina altera a distribuição de tensões na circunjacência, de modo que as equações elementares para avaliação de tensões não mais descrevem o estado de tensão da peça nestes locais. Tais descontinuidades são denominadas “aumentadores de tensão” e as regiões em que ocorrem são conhecidas como áreas de “concentração de tensões”. Outro exemplo típico de componente submetido à carga dinâmica são engrenagens, conforme ilustrado na Figura 1. Estes componentes apresentam na base dos dentes variação de seção e raios de concordância, os quais propiciam a possibilidade de concentração de tensões. 2 Figura 1 – Engrenagem produzida por Metalurgia do Pó (MP) de uma liga Fe-C. Fonte: (Eu, robótica, 2014) Diferentes materiais podem ser utilizados para a fabricação deste tipo de componente que é largamente utilizado na indústria de máquinas e equipamentos. Aços ligados especiais, mas também materiais como ferro fundido, alumínio e ligas de ferro-carbono obtidas pelo processo de Metalurgia do Pó (MP). Tanto no caso dos aços, ferros-fundidos e no caso das ligas Fe-C obtidas por MP, uma correta avaliação de tensões deve ser feita para evitar que por um lado os componentes fiquem subdimensionados, aumentando a possibilidade de falhas e por outro lado superdimensionados, aumentando o consumo de material e consequentemente o custo dos componentes. Na área de refrigeração, tanto doméstica como comercial, a utilização de compressores herméticos com mecanismo do tipo biela-manivela é muito comum. Uma ilustração do referido mecanismo pode ser vista na Figura 2 e o mesmo realiza a conversão do movimento rotacional do eixo “M” acionado por um motor elétrico em movimento alternativo do pistão “P” no interior de um cilindro, através da porção excêntrica do eixo “M” e da biela “B”. 3 Figura 2 – Vista esquemática de um mecanismo do tipo biela-manivela. Fonte: (SCIO SCIRE DOMINIUM, 2014) No caso específico de compressores herméticos conforme ilustrado na Figura 3, a biela que transmite força do eixo excêntrico ao pistão, é frequentemente fabricada com ligas de ferro obtidas por MP, com a adição de determinado percentual de carbono, além de outros elementos de liga. Já o eixo excêntrico é fabricado normalmente de ferro fundido do tipo lamelar ou cinzento. Figura 3 – Compressor hermético para refrigeração. Fonte: (Imagem de compressor hermético, 2014). 4 Bielas utilizadas em compressores herméticos de refrigeração doméstica e comercial sofrem principalmente tensões compressivas durante o processo de compressão do gás. No entanto, devido às deformações do mecanismo, acabam por sofrer também tensões de tração, as quais são normalmente danosas para componentes obtidos por MP. Além disso, para reduzir o consumo de matéria prima e consequentemente o custo da peça, suas dimensões precisam ser otimizadas e reduzidas. A consequência deste processo é a maior exigência do componente com relação à fadiga. Eixos de ferro fundido utilizados neste tipo de compressor, são também alvo de otimização, pois além da função de transmitir o esforço gerado pelo motor à biela, possuem a função de mancal hidrodinâmico, os quais requerem diâmetros cada vez mais reduzidos para a obtenção da eficiência energética adequada. Este tipo de componente está sujeito a esforços de torção, combinados com esforços de flexão, decorrentes da compressão do gás. Um terceiro material é fundamental no projeto de compressores. O aço empregado na fabricação de válvulas, molas de suspensão, parafusos e outros componentes que são submetidos à esforços repetitivos durante a operação deste tipo de máquina. O conhecimento das propriedades mecânicas estáticas e principalmente a resistência à fadiga dos materiais utilizados é fator determinante para uma boa escolha. No entanto, testes de fadiga são na maioria das vezes demorados e custosos, sendo que propriedades ou características particulares e que possam ser correlacionadas com as propriedades dinâmicas são interessantes para que se possa fazer uma análise nas fases iniciais de projeto. A correta avaliação das tensões e projeto dos componentes fabricados com aço, por MP e ferro fundido, passa pela avaliação coerente dos pontos de concentração de tensões. A utilização do MEF calcula eficientemente as tensões máximas, não sendo necessário o cálculo de um fator de concentração de tensões. No entanto, é sabido que diferentes materiais possuem diferente sensibilidade aos diferentes tipos de descontinuidades geométricas. Materiais como os ferros fundidos e os obtidos por MP são menos sensíveis à entalhes. A proporção do quanto são ou não sensíveis é obtida pelo fator de sensibilidade ao entalhe, 5 denominado por 𝑞 ou 𝑞𝑠 , para tensão normal e cisalhante, respectivamente. 1.1 OBJETIVOS No Capítulo 2, realiza-se uma revisão dos conceitos de concentração de tensão e de sensibilidade ao entalhe em fadiga. Introduz-se também o conceito de sensibilidade ao entalhe estático 𝑞𝑒𝑠𝑡 e 𝑞𝑠𝑒𝑠𝑡 para tensão normal e cisalhante respectivamente, como forma de avaliar preliminarmente materiais, sem a realização de longos testes de fadiga. No Capítulo 3, avalia-se aços de alto teor de carbono e suas propriedades de fadiga, segundo os critérios tradicionais, considerando as condições de processamento, ou meios de manufatura. Nas fases iniciais de projeto, quando há a necessidade de fabricar protótipos, o uso de meios de prototipagem adequados pode aumentar a resistência à fadiga, assim como o uso de um meio inadequado pode comprometê-la. Neste sentido, iniciou-se este trabalho com uma revisão e nova análise dos testes de fadiga do aço SAE 1075 laminado a frio, utilizado na fabricação de molas planas. Avalia-se dois processos de corte e quatro níveis de tratamento superficial. Os testes de fadiga são realizados com a utilização de uma máquina ensaio por flexão. No Capítulo 4 avalia-se o efeito de inclusões não metálicas na matriz de aço Cr-Si utilizado em molas helicoidais. Este tipo de material pode conter defeitos, ou inclusões, oriundas do processo de manufatura nas aciarias. Tais defeitos ou inclusões podem comprometer a resistência à fadiga do aço e também a efetividade de processos que visam aumentar esta propriedade, como o processo de shot peening. Neste sentido, analisa-se um componente fabricado com este material e que apresentou uma falha em operação, sendo tal falha associada à presença de uma inclusão não metálica, identificada como sendo óxido de silício, ou sílica, possivelmente advinda do revestimento do forno da aciaria. O efeito desta inclusão sobre as tensões locais e sobre o processo de shot peening é avaliado utilizando MEF através do aplicativo ANSYS. São realizadas simulações em Estado Plano de Tensões 6 (EPT) em Duas Dimensões (2D), além de um modelo em Três Dimensões (3D). No Capítulo 5, faz-se uma revisão a respeito das principais propriedades mecânicas de aços obtidos por MP. Além disso, são apresentados resultados obtidos através de ensaios estáticos de flexão e de tração, com o objetivo de avaliar a sensibilidade ao entalhe estática, conforme definido no Capítulo 2, para os dois tipos de ensaio. Os corpos de prova para o ensaio estático de flexão são obtidos a partir da região da alma de bielas de compressores herméticos. Para os ensaios de flexão, três tipos de ligas são avaliadas. O material é obtido na forma de amostras cilíndricas, sendo que os corpos de prova são extraídos das mesmas. Testes de fadiga por torção são realizados com corpos de prova de um dos materiais, obtendo-se a resistência à fadiga na torção para 107 ciclos para corpos de prova sem entalhe. Também são testados corpos de prova com diferentes níveis de entalhe, obtendo-se e o fator de sensibilidade ao entalhe em fadiga de torção 𝑞𝑠𝑓 . Este resultado é comparado aos resultados obtidos no teste estático, para avaliar a aplicabilidade destes como avaliação preliminar de materiais deste tipo. Neste capítulo, ferramentas de análise de dados utilizando estatística são utilizados, dado o número de corpos de prova testados. As mesmas ferramentas são utilizadas para o tratamento de dados do Capítulo 8. O objetivo no Capítulo 6 é inicialmente revisar conteúdo bibliográfico relacionado às propriedades mecânicas do ferro fundido cinzento. São apresentados também resultados obtidos em ensaio de tração estática, para corpos de prova obtidos de dois tipos de modelo de eixo de compressores herméticos. Os modelos são fundidos em moldes de produção e são selecionadas amostras provenientes de cavidades quentes, localizadas próximas ao canal de enchimento do molde e de cavidades frias localizadas próximo à duas paredes do molde. Como resultados do ensaio de tração estática, obtém-se as curvas de tensão deformação. Uma destas curvas é utilizada para uma simulação utilizando o MEF, para comparar o fator de concentração de tensão quando se utiliza Modelo Linear Elástico (MLE) Modelo Não Linear (MNL). No Capítulo 7 realiza-se um modelamento em mesoescala em 2D e EPT, de uma região com tamanho 400 × 400 µ𝑚 da 7 microestrutura do ferro fundido cinzento. O principal objetivo de simular o carregamento de tração e de cisalhamento e avaliar qualitativamente a concentração de tensão estática local, na região dos contornos da grafita. Dois modelamentos são utilizados para a interface entre grafita e matriz e é avaliada também a resposta do modelo quanto à curva tensão deformação simulada comparada à que foi obtida no ensaio de tração apresentada no Capítulo 6. Finalmente, no Capítulo 8 é abordado o tema de sensibilidade ao entalhe do ferro fundido cinzento. Ensaios de tração estática são realizados para corpos de prova obtidos de modelos, conforme mencionado anteriormente, sendo que os resultados para condição sem entalhe e diferentes níveis de entalhe são apresentados para as quatro condições dos modelos. Com estes resultados, o fator de sensibilidade ao entalhe estático é avaliado. Também é avaliada a microdureza Vickers e dureza Brinnel para diferentes regiões dos eixos, sendo possível estabelecer uma relação entre a segunda e a resistência à tração. Ensaios de torção em fadiga são realizados para uma das configurações, utilizando corpos de prova sem e com entalhe, com o objetivo de avaliar o fator de sensibilidade ao entalhe em fadiga de torção. Ao final estabelece-se uma relação entre a resistência à fadiga na torção para 107 ciclos e um comparativo entre os fatores de sensibilidade ao entalhe na fadiga de torção e o fator obtido com os ensaios estáticos de tração. 8 9 2 CONCENTRAÇÃO DE TENSÃO 2.1 CONCENTRAÇÃO DE TENSÃO EM CARREGAMENTO ESTÁTICO O objetivo deste capítulo é o de realizar uma revisão dos conceitos relacionados à concentração de tensão estática e do fator de sensibilidade ao entalhe dos materiais. É introduzido o conceito de fator de sensibilidade ao entalhe estático, como forma de realizar uma análise desta característica dos materiais, utilizando-se resultados de tração estática de corpos de prova com e sem entalhes. De acordo com Shigley, Mischke e Budynas (2005), a distribuição de tensão elástica ao longo de uma secção transversal de um membro pode ser uniforme, como ocorre em uma barra sob tração; linear como no caso de uma viga sob flexão; ou ainda, rápida e cheia de curvas, como em uma viga curvada de modo acentuado. A concentração de tensão pode surgir de alguma irregularidade não inerente ao componente, tal como marcas de ferramentas, furos, entalhes, ranhuras ou roscas. Diz-se que haverá tensão nominal se o membro estiver livre de concentradores de tensão. Em caso contrário, estes devem ser levados em consideração através do uso de diagramas de fatores teóricos ou tabelas adequadas, algumas delas encontradas em (PETERSON, 1974). Outra forma de se realizar a análise é através de simulação pelo MEF, o qual já avalia a tensão concentrada. A Figura 4 auxilia na compreensão deste efeito. As trajetórias de tensão são uniformes em todos os locais, exceto nas proximidades do furo; nele, entretanto, essas linhas de fora têm de se curvar para dar a volta. A concentração de tensão é um efeito altamente localizado. A tensão na placa sob tração é máxima na borda do furo no plano A-A; essa tensão cai rapidamente, à medida que pontos mais afastados da beira do furo são examinados e de imediato, torna-se uniforme novamente. Um fator de concentração de tensão teórico, ou geométrico, 𝐾𝑡 ou 𝐾𝑡𝑠 é utilizado para relacionar a máxima tensão real na descontinuidade com a tensão nominal. Os fatores são definidos pelas equações: 10 𝐾𝑡 = 𝜎𝑚𝑎𝑥 𝐾𝑡𝑠 = 𝜎0 𝜏𝑚𝑎𝑥 𝜏0 (1) (2) em que 𝐾𝑡 é utilizado para tensões normais e 𝐾𝑡𝑠 para tensões de cisalhamento. As tensões nominais 𝜎0 ou 0 são as tensões encontradas na região de interesse, caso não houvesse um concentrador de tensão. São mais difíceis de serem definidas e geralmente calculadas utilizando-se as equações elementares de tensão e a área líquida, ou secção transversal líquida. No entanto algumas vezes a seção transversal incluindo o furo é utilizada em seu lugar, de modo que é sempre prudente verificar sua fonte de 𝐾𝑡 ou 𝐾𝑡𝑠 antes de calcular a tensão máxima. Figura 4 – Distribuição de tensão próxima a um orifício em uma placa carregada em tração. A tensão de tração em uma seção B-B distante do orifício é 𝜎0 = 𝐹/𝐴, em que 𝐴 = 𝑤. 𝑏 e 𝑏 é a espessura da placa. Na secção em A-A, passando pelo orifício, a área é 𝐴0 = (𝑤 – 𝑑). 𝑏 e a tensão nominal é 𝜎0 = 𝐹/𝐴0. Fonte: (SHIGLEY; MISCHKE; BUDYNAS, 2005). 11 Durante o desenvolvimento deste trabalho, observou-se que para solicitação estática, os materiais com entalhe em estudo apresentavam tensões efetivas de ruptura superiores às previstas, no caso da consideração do fator de concentração de tensões teórico ou geométrico. Desta forma define-se aqui o conceito de fator de sensibilidade ao entalhe estático 𝑞𝑒𝑠𝑡 e 𝑞𝑠𝑒𝑠𝑡 para tração e cisalhamento, respectivamente. 𝑞𝑒𝑠𝑡 = 𝑞𝑠𝑒𝑠𝑡 = 𝐾𝑡𝑒𝑠𝑡 −1 𝐾𝑡 −1 𝐾𝑡𝑠 𝑒𝑠𝑡 −1 𝐾𝑡𝑠 −1 (3) (4) Nestas equações, os termos 𝐾𝑡𝑒𝑠𝑡 e 𝐾𝑡𝑠𝑒𝑠𝑡 referem-se aos fatores de concentração de tensão obtidos experimentalmente em ensaios estáticos e são calculados da seguinte forma: 𝐾𝑡𝑒𝑠𝑡 = 𝜎𝑢𝑡 (𝑝𝑎𝑟𝑎 𝑚𝑎𝑡𝑒𝑟𝑖𝑎𝑙 𝑠𝑒𝑚 𝑒𝑛𝑡𝑎𝑙ℎ𝑒) 𝜎𝑢𝑡 (𝑝𝑎𝑟𝑎 𝑚𝑎𝑡𝑒𝑟𝑖𝑎𝑙 𝑐𝑜𝑚 𝑒𝑛𝑡𝑎𝑙ℎ𝑒) 𝜏 (𝑝𝑎𝑟𝑎 𝑚𝑎𝑡𝑒𝑟𝑖𝑎𝑙 𝑠𝑒𝑚 𝑒𝑛𝑡𝑎𝑙ℎ𝑒) 𝐾𝑡𝑠𝑒𝑠𝑡 = 𝜏𝑢𝑡 (𝑝𝑎𝑟𝑎 𝑚𝑎𝑡𝑒𝑟𝑖𝑎𝑙 𝑐𝑜𝑚 𝑒𝑛𝑡𝑎𝑙ℎ𝑒) 𝑢𝑡 (5) (6) sendo que 𝜎𝑢𝑡 e 𝜏𝑢𝑡 denotam as tensões de ruptura de tração e cisalhamento obtidas nos ensaios. 2.2 CONCENTRAÇÃO DE TENSÃO EM CARREGAMENTO DINÂMICO Na sessão anterior, verificou-se que a presença de descontinuidades geométricas nos componentes mecânicos, tais como furos, reentrâncias ou entalhes, aumenta as tensões teóricas significativamente, na vizinhança imediata da descontinuidade. O fator de concentração de tensão teórico 𝐾𝑡 ou 𝐾𝑡𝑠 , deve ser utilizado em conjunto com a tensão nominal para obter-se a máxima tensão resultante decorrente da irregularidade ou defeito. Definiu-se também um fator de sensibilidade ao entalhe 12 estático, em função dos resultados experimentais obtidos para corpos de prova com e sem entalhe. De maneira semelhante, observa-se que para carregamentos dinâmicos, alguns materiais também não são completamente sensíveis à presença de entalhes e assim, para estes, um valor reduzido de 𝐾𝑡 ou 𝐾𝑡𝑠 pode ser utilizado. Para esses materiais, a máxima tensão é de fato, 𝜎𝑚𝑎𝑥 = 𝐾𝑓 ∙ 𝜎0 (7) ou para o cisalhamento, 𝜏𝑚𝑎𝑥 = 𝐾𝑓𝑠 ∙ 𝜏0 (8) sendo que 𝐾𝑓 e 𝐾𝑓𝑠 são valores reduzidos de 𝐾𝑡 e 𝐾𝑡𝑠 e 𝜎0 e 𝜏0 são as tensões definidas anteriormente. Os fatores 𝐾𝑓 e 𝐾𝑓𝑠 são normalmente denominados fatores de concentração de tensão em fadiga. Estes fatores são reduzidos, devido a uma reduzida sensibilidade do material à entalhes quando submetidos à carregamentos dinâmicos. Os fatores resultantes são definidos pelas equações 𝜎𝑓 (𝑒𝑚 𝑚𝑎𝑡𝑒𝑟𝑖𝑎𝑙 𝑠𝑒𝑚 𝑒𝑛𝑡𝑎𝑙ℎ𝑒) 𝐾𝑓 = 𝜎𝑓 (𝑒𝑚 𝑚𝑎𝑡𝑒𝑟𝑖𝑎𝑙 𝑐𝑜𝑚 𝑒𝑛𝑡𝑎𝑙ℎ𝑒) 𝐾𝑓𝑠 = 𝜎𝑓𝑠 (𝑒𝑚 𝑚𝑎𝑡𝑒𝑟𝑖𝑎𝑙 𝑠𝑒𝑚 𝑒𝑛𝑡𝑎𝑙ℎ𝑒) 𝜎𝑓𝑠 (𝑒𝑚 𝑚𝑎𝑡𝑒𝑟𝑖𝑎𝑙 𝑐𝑜𝑚 𝑒𝑛𝑡𝑎𝑙ℎ𝑒) (9) (10) sendo 𝜎𝑓 e 𝜎𝑓𝑠 as tensões alternadas de fadiga na tração e cisalhamento, respectivamente, obtidas em ensaios. A sensibilidade ao entalhe 𝑞 e 𝑞𝑠 são definidas por: 𝑞= 𝐾𝑓 −1 𝐾𝑡 −1 (11) e 𝑞𝑠 = 𝐾𝑓𝑠 −1 𝐾𝑡𝑠 −1 (12) 13 em que 𝑞 e 𝑞𝑠 ficam normalmente entre zero e a unidade. Pela equação, observa-se que quando 𝑞 = 0 e 𝑞𝑠 = 0, então 𝐾𝑓 = 1 e 𝐾𝑓𝑠 = 1 e o material não tem qualquer sensibilidade a entalhes. De outro modo, se 𝑞 = 1 e 𝑞𝑠 = 1 , então 𝐾𝑓 = 𝐾𝑡 e 𝐾𝑓𝑠 = 𝐾𝑡𝑠 e o material tem total sensibilidade a entalhes na fadiga. As Figura 5 e a Figura 6 na sequência mostram o fator de sensibilidade ao entalhe em função do raio do entalhe 𝑟𝑒 para diferentes materiais, como aços e ligas de alumínio de acordo com Shigley, Mischke e Budynas (2005). Já para ferros fundidos, a informação geral é de que a sensibilidade ao entalhe é muito pequena, variando entre 0 e cerca de 0,2, dependendo da resistência à tração. Recomenda-se que o valor 𝑞 = 0,2 seja utilizado para todos os tipos de ferro fundido. A Figura 5 tem como base a equação de Neuber (NEUBER, 1946), que é fornecida por: 𝐾𝑓 = 1 + 𝐾𝑡 −1 1+ √𝑎 √𝑟𝑒 (13) em que √𝑎 é definida como a Constante de Neuber e é uma propriedade do material e 𝑟𝑒 é o raio de entalhe. Por dedução, a equação de sensibilidade ao entalhe em fadiga é dada por: 𝑞= 1 1+ √𝑎 √𝑟𝑒 (14) 14 Sensibilidade a entalhe - q Figura 5 – Diagrama de sensibilidade ao entalhe para aços e ligas de alumínio forjado UNS A92024-T submetidas a flexão reversa ou a cargas axiais reversas. 1,0 0,8 0,6 ut = 1,4 GPa 1,0 GPa 0,7 GPa 0,4 GPa 0,4 0,2 0,0 0 0,5 1 1,5 2 Aços Ligas de Alumínio 2,5 3 3,5 4 Raio de entalhe [mm] Fonte: (SHIGLEY; MISCHKE; BUDYNAS, 2005). Sensibilidade a entalhe - qs Figura 6 – Curvas de sensibilidade ao entalhe para materiais em torção reversa. 1,0 0,8 Aços temperados e estirados (BHM > 200) Aços revenidos (BHM < 200) 0,6 0,4 0,2 Ligas de alumínio 0,0 0 0,5 1 1,5 2 2,5 Raio de entalhe [mm] Fonte: (SHIGLEY; MISCHKE; BUDYNAS, 2005). 3 3,5 4 15 Uma distinção na configuração do entalhe é considerada pela Equação de Neuber modificada por Heywood (BUCH, 1988), na qual o fator de concentração de tensão de fadiga 𝐾𝑓 é fornecido por: 𝐾𝑓 = 1+ 𝐾𝑡 2(𝐾𝑡 −1) ∙√𝑎⁄√𝑟𝑒 𝐾𝑡 (15) Nesta relação, os valores para √𝑎 para aços com furos transversais, flanges e entalhes dados pela Tabela 1, em função da Tensão de Ruptura 𝜎𝑢𝑡 . Tabela 1 – Parâmetros de Heywood √𝑎 para aços. Atributo Furo transversal Flange Entalhe √𝒂(√𝒎𝒎) 𝝈𝒖𝒕 em MPa 𝟏𝟕𝟒/𝝈𝒖𝒕 𝟏𝟑𝟗/𝝈𝒖𝒕 𝟏𝟎𝟒/𝝈𝒖𝒕 Fonte: (SHIGLEY; MISCHKE; BUDYNAS, 2005). Para carregamento simples, pode-se reduzir o valor do Limite de Resistência à Fadiga, dividindo o valor obtido com amostras sem entalhe por 𝐾𝑓 , ou então multiplicando o valor da tensão reversa de carga por 𝐾𝑓 . Contudo, ao lidar com problemas de tensões combinadas que podem envolver mais do que um valor de fator de concentração para fadiga, as tensões são multiplicadas por 𝐾𝑓 . Quando os ciclos até a falha 𝑁𝑓 , são menores que 106, há evidência experimental, segundo Shigley, Mischke e Budynas (2005), que o fator de concentração de tensão de fadiga 𝐾𝑓 depende do número de ciclos reversos 𝑁𝑓 e é menor do que o calculado com as equações descritas até aqui. À medida que 𝑁𝑓 se aproxima de 103 ciclos, 𝐾𝑓 (𝑁𝑓 ) para metais de alta resistência (geralmente de baixa ductilidade) aproxima-se do valor de 𝐾𝑓 calculado com as equações anteriores. Em contrapartida, para metais de baixa resistência (geralmente dúcteis) 𝐾𝑓 (𝑁𝑓 ) 16 aproxima-se da unidade. Um enfoque conservador consiste em manter 𝐾𝑓 constante dentro do intervalo 103 ≤ 𝑁 ≤ 106. 17 3 FADIGA EM AÇOS DE ALTO CARBONO Neste capítulo são apresentados alguns resultados do artigo “Effect of Fast Prototyping Means on the Fatigue Strength of High Carbon Steels, Applied Mechanics and Materials Vol. 302 (2013) pp 241-247”, (PUFF; BARBIERI, 2013), que foi publicado durante a execução deste trabalho. O principal objetivo deste trabalho foi analisar a fadiga de aços com alto teor de carbono, utilizando corpos de prova planos, submetidos à flexão reversa, com razão de carga 𝑅 = 𝜎𝑚𝑎𝑥 ⁄𝜎𝑚𝑖𝑛 = −1, fabricados com diferentes processos de corte e tratamento superficial. Este tipo de aço é utilizado na forma de molas planas, aplicadas em diferentes tipos de equipamentos. Estas molas tem a função de absorver e liberar energia enquanto o mecanismo opera em ressonância, sendo que devido a esta característica de operação, tensões reversas de grande amplitude são geradas. Este tipo de mola é normalmente fabricado utilizando aços de alto carbono como o SAE 1075, laminados a frio, temperados e revenidos. O processo de corte e o tratamento superficial aplicado podem influenciar significativamente o resultado final para a resistência à fadiga do componente. Busca-se abordar por intermédio da realização de ensaios de fadiga, a influência destes processos de corte e de acabamento, no resultado final da resistência média a fadiga deste tipo de aço. Os processos de corte avaliados foram os seguintes: Corte a laser, utilizando uma máquina Cincinat com comando numérico modelo CL.5, série 47957, com uma tensão de 750 V e atmosfera formada por uma mistura de oxigênio O2 e nitrogênio N2, com 45 libras ou 0,31 MPa de pressão no cabeçote de corte. Não foi utilizada refrigeração e empacotamento de lâminas para o corte das amostras. Este tipo de procedimento é utilizado com frequência, quando se deseja aumentar a produtividade no corte de chapas. O feixe do laser utilizado foi de 0,202 mm e a velocidade de corte de 1800 mm/s. 18 Corte por eletro erosão à fio, utilizando uma máquina Charmilles, modelo Robofil 400. A máquina utiliza arame de corte de zinco, com diâmetro de 0,25 mm. A corrente aplicada foi de 32 A e a refrigeração é feita com água deionizada à uma temperatura de 20°C. As lâminas foram empacotadas até uma altura de 100 mm para realizar o corte das amostras e a velocidade de corte utilizada foi de 2,2 mm/s. Com relação aos processos de acabamento, foram utilizados os seguintes: Tamboreamento com chips cerâmicos num formato prismático, com dimensão máxima de 5 mm. Os corpos de prova foram colocados juntamente com os chips cerâmicos no interior de uma máquina de tamboreamento adequada, sendo submetidos à vibração durante 24 h para se obter uma boa remoção das irregularidades geradas pelos processos de corte. Polimento realizado após o processo de tamboreamento, utilizando-se outros meios abrasivos dentro de um tambor vibratório, tais como sabugo de milho ou casca de arroz. O processo exige um tempo bem maior, podendo chegar a alguns dias, para se atingir o grau de polimento desejado. Tratamento de shot peening, que é caracterizado pela aplicação de um jato controlado de esferas de aço sobre os componentes, criando na superfície dos mesmos um estado de tensões de compressão de acordo com Collins (1993) e Almen e Black (1963). Quando o componente é submetido a tensões reversas, as tensões residuais decorrentes deste processo são somadas às tensões de tração, reduzindo seu efeito e aumentando a resistência à fadiga. O processo aplicado foi com o uso de esferas de aço alto carbono com diâmetro de 0,7 mm até a saturação, sendo após, aplicado um processo de alívio de tensões à 250°C durante 15 minutos. 3.1 ANÁLISE DOS CORPOS DE PROVA OBTIDOS COM OS DOIS PROCESSOS DE CORTE A Tabela 2 mostra, utilizando-se as técnicas de análise de microestrutura e Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV), que o processo de corte a laser deixa na superfície de corte uma 19 camada branca, termicamente afetada pelo aporte de energia do processo. Esta camada é composta basicamente de bainita com uma microdureza Vickers entre 840 e 880 HV0,2, muito elevada e frágil. Já o processo de corte por eletroerosão a fio deixa uma camada termicamente afetada muito menor e que pode ser facilmente removida pelos processos de acabamento. Já a análise com MEV, mostra que a qualidade da superfície de corte é ruim, principalmente no corte a laser. Neste último, há a formação de um tipo de serrilhado e que certamente poderá funcionar como pontos de iniciação de trincas numa aplicação com tensões reversas. Pode ser observado também na tabela, que os processos de acabamento superficial podem, até um certo grau, remover estas imperfeições, o que poderá melhorar o desempenho do componente em aplicações deste tipo. 3.2 MATERIAL Nesta análise, o material utilizado foi um aço SAE 1075, laminado a frio, temperado e revenido, com espessura de 2 mm. A matéria prima bruta foi obtida em chapas com dimensão de 11 m. Alguns testes foram realizados para determinar as propriedades mecânicas e outras características. A microestrutura foi analisada e revelou que é formada de martensita revenida, com microdureza entre 450 e 460 HV0,2. A Tensão de Escoamento foi determinada por meio de ensaio de tração, chegando-se ao valor de 𝜎𝐸 = 1405 𝑀𝑃𝑎 e a Tensão de Ruptura foi determinada como sendo 𝜎𝑢𝑡 = 1510 𝑀𝑃𝑎. Através da técnica do uso das frequências naturais descrita por Blevins (1995), o Módulo de Elasticidade foi determinado como sendo 𝐸 = 207 𝐺𝑃𝑎. 20 Tabela 2 – Figuras de cada etapa dos processos de corte e acabamento utilizados nesta análise. Corte a Laser Microestrutura do corte bruto. Ataque com Nital. Aumento de 100X Superfície do corte bruto analisado com o uso do MEV. Aumento de 100X. Superfície de corte após o tamboreamento. Aumento de 100X. Superfície de corte após tamboreamento e polimento. Aumento de 100X. Superfície de corte após tamboreament, polimento de shot peening. Aumento de 100x. Fonte: Produção do próprio autor. Corte por eletro erosão a fio 21 3.3 TESTE DE FADIGA Uma máquina foi construída para realizar os testes de fadiga. Conforme ilustrado na Figura 7a, O corpo de prova é fixado em um dos lados e submetido a esforços de flexão reversa na outra extremidade. Duas metodologias foram utilizadas para avaliar a tensão máxima resultante do deslocamento imposto na extremidade. Uma analítica e a outra utilizando o MEF. A Figura 7b apresenta o corpo de prova da forma como o mesmo é montado na máquina de teste. A equação analítica (16), derivada da equação clássica de flexão de vigas e descrita por Shigley e Minske (1989), fornece o valor de tensão normal máxima como função do deslocamento na extremidade imposto pela máquina. max Ymax .E.L2 .c 2 2 L1 L1. L2 L2 .L1 3 (16) Figura 7 – Detalhe da montagem do corpo de prova e modelo de viga equivalente. Acoplamento rígido com movimento oscilatório a) Ilustração do corpo de prova montado na máquina. Engaste 22 b) Ilustração esquemática do corpo de prova para a avaliação da tensão analítica na região de engaste. 𝐿1 = 60 𝑚𝑚 ; 𝐿2 = 80 𝑚𝑚; 𝑒𝑠𝑝𝑒𝑠𝑠𝑢𝑟𝑎 = 2 𝑚𝑚; 𝑙𝑎𝑟𝑔𝑢𝑟𝑎 = 8 𝑚𝑚. Fonte: Produção do próprio autor. Outra metodologia utilizada para a avaliação das tensões decorrentes da imposição do movimento, foi através do uso do MEF. A análise foi realizada considerando simetria do corpo de prova e não-linearidade geométrica. O modelo de elementos finitos foi constituído com elementos hexaédricos parabólicos de 20 nós, tomando-se o cuidado de dividir a espessura do corpo de prova em pelo menos 4 elementos. Os resultados do modelo de elementos finitos foram utilizados levando-se em conta o fato de que as diferenças encontradas para o modelo analítico não foram superiores à 2%. A Figura 8 ilustra o modelo e malha de elementos finitos utilizada. 23 Figura 8 – Malha do modelo de elementos finitos. Fonte: Produção do próprio autor. 3.4 RESULTADOS 3.4.1 Aspectos da fratura para os corpos de prova cortados a laser Uma tênue diferença pode ser observada na Tabela 3 (ad). Na Tabela 3a, para o corpo de prova sem qualquer processo de acabamento, o aspecto da fratura mostrada utilizando-se MEV é praticamente plana, sem arestas apresentando material residual. Na Tabela 3b-c, correspondente aos corpos de prova com tamboreamento e polimento respectivamente, as fraturas são também planas, mas as arestas apresentam em ambos os casos material residual. Finalmente, na Tabela 3d, para o corpo de prova com shot peening, a fratura não é plana. Existem duas regiões com propagação de trinca bem definidas, indicadas pelas setas. 3.4.2 Aspectos da fratura para os corpos de prova cortados por eletro erosão a fio Também para os corpos de prova cortados por este processo, diferenças podem ser observadas entre os diferentes 24 processos de acabamento. Na Tabela 3e, o aspecto da fratura é plano, tal qual a fratura equivalente do corpo de prova cortado a Tabela 3 – Ilustrações das fraturas típicas obtidas para cada tipo de processo. Corte a laser (a) Corte por eletroerosão a fio (e) (b) (f) (c) (g) (d) (h) Corte bruto Peças tamboreadas Peças tamboreadas e polidas Peças tamboreadas, polidas e com shot peening Fonte: Produção do próprio autor. laser mostrada na Tabela 3a. No entanto, para o corpo de prova tamboreado, mostrado na Tabela 3f, a fratura já apresenta duas 25 regiões, assim como para a peça polida mostrada na Tabela 3g. Finalmente, para o corpo de prova com shot peening, mostrado na Tabela 3h, o aspecto da fratura é bem mais irregular. Este corpo de prova também rompeu no nível de tensão mais elevado. 3.4.3 Resultados de resistência à fadiga A Figura 9 apresenta os dados obtidos para os corpos de prova cortados a laser, com diferentes processos de acabamento na forma das curvas de Tensão Número de ciclos reversos (SN) médias obtidas para cada uma das condições testadas. A Figura 10 apresenta os dados obtidos com os diferentes processos de acabamento para os corpos de prova cortados por eletro erosão a fio, também na forma das curvas SN médias. Em ambos os casos as setas representam os corpos de prova que não apresentaram fratura, para o número de ciclos correspondente. A Tabela 4 apresenta um sumário dos resultados obtidos para o limite de fadiga médio (50%) para cada condição testada. Tabela 4 – Comparação entre os resultados obtidos para o limite de fadiga médio para os corpos de prova cortados a laser e por eletro erosão a fio, (𝑅 = −1). Processos de acabamento Processos de corte Corte bruto Tamboreamento Tamboreamento e polimento Tamboreamento, polimento e shot peening Laser 368 MPa 560 MPa 600 MPa 860 MPa Eletro erosão a fio 535 MPa 440 MPa 645 MPa 820 MPa Diferença + 45 % - 22 % + 7,5 % - 4,7 % Fonte: produção do próprio autor. 26 Figura 9 – Dados obtidos com os corpos de prova cortados a laser e as correspondentes curvas S–N médias. 1400 Tensão reversa [MPa] 1200 1000 Shot peening 800 Polimento Tamboreamento 600 Corte Bruto 400 Corte bruto Tamboreado Polido 200 Shot peening 0 103 104 105 106 107 108 Ciclos Fonte: Produção do próprio autor Figura 10 – Dados obtidos para os corpos de prova cortados por eletro erosão a fio e as correspondentes curvas S–N médias. Tensão reversa [MPa] 1400 1200 1000 Shot peening 800 Polimento Corte bruto Tamboreamento 600 Corte Bruto 400 Tamboreado Polido 200 Shot peening 0 103 104 105 106 Ciclos Fonte: Produção do próprio autor 107 108 27 Os testes realizados mostram que o processo de corte tem uma influência no resultado final de resistência à fadiga, por duas razões principais: pela qualidade da superfície de corte gerada e também pela formação ou não de uma região termicamente afetada com uma microestrutura diferente originada principalmente nos processos que introduzem um aporte de energia muito grande como o processo a laser. Outro resultado importante é o fato de em se removendo as imperfeições introduzidas pelo processo de corte, através do uso de processos de acabamento como tamboreamento e polimento, consegue-se melhorar a resistência à fadiga dos componentes. Mas o principal resultado é o obtido pela introdução do processo de shot peening, sendo que tal processo uma vez executado adequadamente, proporciona ganhos que podem ultrapassar os 100% de resistência à fadiga em relação à peça com corte bruto, conforme observado nos testes realizados. Finalmente, pode-se concluir que em se tratando de limite de resistência à fadiga médio 𝜎𝑁 , este valor para aços SAE 1075 temperados e revenidos, com a aplicação de processos de acabamento superficial adequados e utilização de shot peening, pode chegar em média a ultrapassar os 800 MPa. 28 29 4 EFEITO DE INCLUSÕES NÃO METÁLICAS NA RESISTÊNCIA À FADIGA DE AÇOS DE ALTO CARBONO Este capítulo apresenta os resultados do artigo “Effect of non-metallic inclusions on the fatigue strength of helical spring wire; Engineering Failure Analysis Vol. 44 (2014) pp 441-454” também publicado por (PUFF; BARBIERI, 2014), durante a condução deste trabalho. Este artigo foi voltado para o estudo da influência de uma inclusão de óxido de silício presente na matriz martensítica de uma mola helicoidal que falhou de maneira imprevista em trabalho. Como foi mostrado no Capítulo 3, a utilização de ensaios típicos de fadiga, com máquinas convencionais possibilita a avaliação de um limite de fadiga para diferentes materiais e condições de processamento. Considera-se neste caso que para aços em geral existe um limite de fadiga, sendo que o mesmo é definido pela tensão de resistência ao carregamento cíclico com 107 ciclos. Murakami (2002) argumenta que a curva SN para a maioria dos aços claramente apresenta a conhecida inflexão para o número de ciclos mencionado acima. Para número de ciclos superior, tensões reversas com amplitude abaixo do chamado “Limite de Fadiga” não seria razão para a abertura e propagação de trincas a partir da superfície. Durante muito tempo este conceito vem sendo utilizado para o projeto de componentes mecânicos. Componentes mecânicos que são submetidos aos carregamentos dinâmicos, podem muitas vezes superar 107 ciclos. Esta faixa de ciclos é conhecida como Fadiga de Ciclo Muito Alto (Very High Cycle Fatigue – VHCF). Pyttel, Schwerdt e Berger (2011) observaram que as falhas continuam ocorrendo nesta região VHCF mesmo quando o componente é carregado com tensões abaixo do “Limite de Fadiga”. Testes realizados por Berger e Kaiser (2006), mostram que a curva de fadiga continua a decrescer com outra inclinação, mesmo para um número de ciclos maior que 107, o que explica as falhas na região de VHCF. De acordo com Bathias (1999) e Sonsino (2007), “um limite de fadiga real só pode ser atingido na ausência de não-homogeneidades microestruturais, ou quando não há interferência de um meio corrosivo”. Isto levanta a 30 importância do uso de curvas SN que possam prever a redução na resistência à fadiga em condições de VHCF, para o projeto de componentes mecânicos. Kaiser & Berger (2006?) realizaram uma importante revisão nesta teoria. Em seu trabalho, foram avaliadas molas submetidas à cargas de compressão, com 𝑅 > 1 e fabricadas com diferentes materiais, de acordo com a norma DIN EN 10270 – 1 à 3 (2001). Uma avaliação inicial foi feita utilizando condições de Fadiga de Alto Ciclo (High Cycle Fatigue – HCF) ou seja, até 107 ciclos. Nesta avaliação puderam encontrar níveis de resistência à fadiga para o que denominaram como sendo “tensão de curso” (igual à duas vezes a amplitude de tensão) usando diferentes tipos e diâmetros de arame. Ainda do mesmo trabalho e posteriormente relatado em outras duas publicações diferentes, Berger e Kaiser (2006) e Pytel et al. (2013) avaliaram a resistência à fadiga de ligas de cromo-silício Si-Cr, termperadas em óleo e revenidas, identificadas na norma DIN EN – 2 como VCSiCr, em condições de VHCF, até 1,2109 ciclos. Nestes estudos utilizaram molas feitas com arame de diâmetro 2 mm e tratadas na superfície com o processo de shot peening. A principal conclusão a que chegaram foi de que não há um limite de fadiga que possa ser identificado para este tipo de material e que durante os testes feitos nas condições de VHCF, houve uma redução de aproximadamente 25% na resistência à fadiga para 1,2109 ciclos. No regime de VHCF, ao invés de haver fraturas iniciando a partir da superfície devido aos defeitos na mesma, as mesmas se iniciam abaixo, devido a micro defeitos e/ou presença de inclusões na matriz. Os resultados de uma forma geral podem ser verificados na Figura 11. Complementando seus trabalhos anteriores, Kaiser, Pyttel e Berger (2011) avaliaram o comportamento de três diferentes materiais para molas, com dois diâmetros de arame diferentes (1,6 e 3 mm) no regime de VHCF, sob ação de cargas de compressão reversas (𝑅 > 1). Os materiais analisados desta vez foram Cr-Si e Cr-Si-V temperado e revenido e aço inoxidável, todos na forma de arame para molas helicoidais de válvulas, sendo as molas submetidas ao tratamento de shot peening para melhorar a resistência à fadiga da superfície. 31 Figura 11 – Curvas SN para 10%, 50% e 90% de Probabilidade de Falha (PF) para arame de 2 mm de liga Si-Cr de molas helicoidais para válvulas com shot peening. (k = coeficiente de inclinação da curva). Tensão cisalhante reversa [MPa] 2000 Molas helicoidais com shot peening, Liga de SiCr. Arame de aço para molas de válvulas com 2 mm de diâmetro R = 0,05 Frequência de teste = 20Hz Pf(%): 90 50 10 1500 k=5 1000 k=30 Falhas Não falhas 500 103 104 106 105 107 108 109 1010 1011 Ciclos para falha Nf Fonte: (BERGER; KAISER, 2006). Os testes foram conduzidos ao nível de 109 ciclos e os autores chegaram à conclusão de que as curvas SN para molas fabricadas com arame de aço mola ligado de Cr-Si e Cr-Si-V são similares, enquanto que molas fabricadas com arame de aço mola inoxidável mostram uma inclinação mais acentuada. Eles também verificaram que as molas fabricadas com arame de Cr-Si e Cr-SiV e com 1,6mm de diâmetro apresentaram uma quantidade razoável de falhas devido à fadiga por fretting, que se caracteriza pelo aparecimento de falhas sub-superficiais em componentes que apresentam tensão compressiva entre si (ROSSINO et al., 2009). Neste caso, a fadiga ocorreu na transição entre as espiras inativas e ativas, principalmente devido à combinação de maior dureza e fragilidade deste tipo de diâmetro de arame com o shot peening aplicado nas peças. Com este trabalho os autores concluíram que diferentes condições entre as amostras sem e com o tratamento de shot peening podem influenciar fortemente os resultados de fadiga nas condições de VHCF. 32 Akiniwa et al. (2008) realizaram a avaliação de fadiga de arame de aço mola de Cr-Si utilizado em molas para válvulas, de acordo com a norma JIS G3561 (2009) e material tipo SWOSC-V, sob condições de carga axial e de torção no regime de VHCF. As curvas S–N obtidas para tensão e compressão, além das obtidas para o carregamento de torção puderam ser aproximadas utilizando funções logarítmicas. Este é o mesmo ajuste já demonstrado em outros estudos. Os autores também verificaram que a razão entre a resistência à fadiga sob carregamento de torção e axial foi de 0,68 e aproximadamente constante em toda faixa de VHCF. Diferentemente de estudos anteriores, as falhas se iniciaram na superfície do material, provavelmente devido ao fato de os testes terem sido feitos com corpos de prova usinados e polidos com lixa #800 e uma camada de 50 µm ter sido removida da superfície utilizando eletro-polimento, para eliminar tensões residuais introduzidas pela usinagem. Pytel et al. (2013) investigaram o efeito de vários parâmetros no comportamento em fadiga de molas helicoidais em condições de VGCF. O trabalho foi conduzido utilizando-se materiais diferentes: Cr-Si e Cr-Si-V temperados em óleo e revenidos e arame de aço inoxidável para molas, em dois diferentes diâmetros e com aplicação de shot peening simples e duplo. Assim como em estudos anteriores, os autores concluíram que não há limite de fadiga, mas uma redução considerável na região entre 107 < 𝑁 < 1,5 × 109 , para todos os materiais testados. Uma conclusão importante a que chegaram é a de que a aplicação de um segundo shot peening melhorou a resistência à fadiga das molas feitas com ligas de Cr-Si e Cr-Si-V e com diâmetro de 1,6 mm e aumentou também o percentual de falhas iniciadas abaixo da superfície. De acordo com os autores, análise feita com o uso de MEV na superfície das molas, mostrou que as molas que foram tratadas com duplo shot peening mostraram superfícies mais suavizadas e uniformes, em comparação com as molas que sofreram um único shot peening. Neste capítulo, o objetivo foi examinar um caso de falha prematura de uma mola no regime de HCF, em torno de 107 ciclos, submetida à um carregamento de compressão-tração com 𝑅 = 0,79. Um modelo de um componente para este caso pode ser visto na Figura 12, assim como as condições de contorno e carregamento aplicado. 33 Figura 12 – Geometria e carregamentos aplicados na mola em estudo. Fonte: Produção do próprio autor. Diferentemente de molas helicoidais convencionais, esta possui apenas uma espira. Foi fabricada com arame de mola do tipo VDSiCr, com diâmetro de 7,2 mm e submetido à um tratamento de shot peening duplo, que é detalhado adiante. Na região da falha, foi constatada a presença de uma inclusão composta de óxido de silício. Algumas análises numéricas foram realizadas via MEF, com o objetivo de se obter uma explicação qualitativa e talvez quantitativa da influência desta inclusão nas tensões residuais resultantes da aplicação do shot peening, assim como das tensões resultantes da aplicação dos carregamentos de trabalho e seu impacto na falha prematura. Detalhes de cada uma destas simulações são mostradas na sequência. 4.1 ANÁLISE DE TENSÕES PARA AS CONDIÇÕES DE PROJETO. O modelo da mola ilustrada na Figura 12 foi analisado utilizando o MEF, com elementos parabólicos de 20 nós e 34 utilizando as cargas de trabalho. Os resultados para máxima tensão cisalhante, a região da falha e a visualização dos detalhes da malha utilizada podem ser observados na Figura 13. Figura 13 – Análise de tensões utilizando MEF. (a) Mola completa e (b) Detalhe da região da falha (tração e compressão com razão de carga 𝑅 = 0,79). 35 Fonte: Produção do próprio autor. A distribuição de tensões na mola não é constante, pelo fato de ser apenas uma espira. O carregamento é aplicado em uma frequência de 110 Hz, menor do que as frequências naturais que foram avaliadas utilizando-se o MEF – análise harmônica – com a qual obteve-se 260 e 310 Hz para o primeiro e segundo modos axiais, de acordo com o ilustrado na Figura 14. De acordo com Shigley, Mischke e Budynas (2005) este tipo de material é também conhecido e classificado como Cr-Si 92540 (A401) tendo como componentes de liga principais o Cromo com 0,6 à 0,8% e Silício com 1,2 à 1,6% e as seguintes propriedades mecânicas: 𝜎𝑢𝑡 = 1540 à 1710 𝑀𝑃𝑎 e dureza 36 Rockwell C entre 50 e 53 RC, correspondente à uma microdureza Vickers entre 513 e 560 HV. Figura 14 – Análise harmônica da mola. Resposta Harmônica 101 Frequência de operação 100 1ª freq. natural 2ª freq. natural 10-1 10-2 10-3 10-4 100 150 200 250 300 350 400 450 500 Frequencia (Hz) Fonte: Produção do próprio autor. De acordo com estes mesmos autores, para o projeto de molas para aplicação dinâmica é recomendado que se utilize uma Tensão de Ruptura cisalhante equivalente à 𝜏𝑢𝑡 = 0,67 𝜎𝑢𝑡 . Assim como mencionado anteriormente esta relação foi avaliada por Akiniwa et al. (2008), sendo que para o material em análise, 𝜏𝑢𝑡 = 1032 à 1146 𝑀𝑃𝑎 . Esta relação é válida principalmente devido ao fato de a superfície do material de molas ser normalmente suave, sem imperfeições. Na análise do projeto em questão, a tensão cisalhante máxima encontrada foi de 𝜏𝑚𝑎𝑥 = 314 𝑀𝑃𝑎. Considerando a razão de carga, falhas não deveriam ser esperadas utilizando-se o critério convencional, como o de Goodman-Zimmerli (ZIMMERLI, 1957). De acordo com estas referências, o Limite de resistência à fadiga no cisalhamento esperado seria de 𝜏𝑁 = 524 𝑀𝑃𝑎. 4.2 ANÁLISE DO MATERIAL As características principais da microestrutura do material foram verificadas com a utilização de microscopia ótica e testes de 37 dureza. A Figura 15 mostra a microestrutura do material, como sendo constituída de martensita revenida. A composição química foi determinada utilizando-se Espectrometria de Energia Dispersiva (EED) e é mostrada na Tabela 5, comparada à composição esperada de acordo com a norma DIN EN 10270-2 (2001). Tabela 5 – Composição química do material da mola comparada à composição esperada de acordo com a norma DIN EN 10270-2 (2001). Elemento DIN EM 10270-2 [%] C Cr V Cu (máx) Si S (máx) P (máx) Mn 0.5-0.6 0.5-0.8 0.15-0.25 0.006 1.2-1.6 0.020 0.025 0.5-0.9 Matriz (medição via EED) [%] -0.72 --1.08 --0.69 Fonte: Produção do próprio autor. A microdureza Vickers da matriz foi avaliada em duas direções ortogonais. Os valores encontrados foram 562 HV na direção da seção e 582 HV na direção do eixo do arame. A principal razão para esta diferença pode estar relacionada ao fato de que o material é conformado no formato de uma mola helicoidal. 38 Figura 15 – Microestrutura do material da matriz (Ataque com nital 4% – aumento de 1000x). Fonte: Produção do próprio autor. A fabricação do componente conta com a aplicação do tratamento de shot peening. De acordo com o que já foi mencionado no Capítulo 2, este processo tem o objetivo de melhorar a resistência à fadiga do componente. De acordo ainda com Pytel et al. (2013), a aplicação de um shot peening duplo introduz melhor resistência à fadiga do que a aplicação de um shot peening simples. No componente em análise neste capítulo, o tratamento foi aplicado em duas etapas. Inicialmente com esferas de 0,6 mm de diâmetro e após com esferas de 0,4 mm de diâmetro, ambos até a saturação. No processo de shot peening atinge-se a saturação quando para um determinado tempo existe uma intensidade aplicada tal, que mesmo que se duplique este tempo não se obtém uma variação maior que 10% na intensidade. No final, um alívio de tensões à 240°C foi aplicado. 39 A Figura 16 apresenta a análise da superfície do componente utilizando MEV e a textura típica, resultante de sua deformação causada pelo impacto das esferas. Na Figura 17, as tensões residuais na superfície e camadas abaixo da mesma foram medidas utilizando difração de raios X (DRX) e comparadas com os resultados observados em Pytel et al. (2013), como função da profundidade normalizada 𝐻⁄𝐻𝑆0, em que 𝐻 é a profundidade a partir da superfície na qual o processo de shot peening foi aplicado e 𝐻𝑆0 é a profundidade na qual a tensão residual passa de compressiva para de tração. Nesta referência, as medições foram feitas na porção interior da mola e nas duas direções de máxima tensão cisalhante (45 e 135°). Uma boa correlação é obtida para a forma geral da curva. Os níveis de tensão compressiva mais baixos encontrados na mola em estudo podem estar relacionados à diferença no diâmetro do arame (mola em estudo 7,2 mm vs. Referência 3,0 mm) e também às condições de processamento. De qualquer modo, um resultado típico pode ser observado, com os níveis de tensão residual compressiva atingindo aproximadamente -500 MPa próximo à superfície (( 𝐻/𝐻𝑆0 < 1 ). Já para a região mais profunda ( 𝐻/𝐻𝑆0 > 1 ), a tensão residual é de tração. Figura 16 – Análise superficial do componente utilizando MEV. Fonte: Produção do próprio autor. 40 Figura 17 – Comparação das tensões residuais encontradas no presente estudo e medições feitas por Pyttel et al. (2013). 400 Tensão Residual (MPa) 200 0 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2 1,4 1,6 1,8 2,0 -200 -400 -600 -800 -1000 -1200 Pyttel et al. (45°) Pyttel et al. (135°) Componente em estudo Fonte: Produção do próprio autor. 4.3 ANÁLISE DA FRATURA A Figura 18 mostra as duas partes fraturadas do componente em estudo e a região de iniciação da trinca indicada pelas setas. A análise da região fraturada foi realizada com o uso do MEV e a principal característica observada foi a presença de uma inclusão na região de iniciação da fratura, conforme ilustrado na Figura 19. Esta inclusão tem uma dimensão particular de 163 m, numa profundidade de 137 m a partir da superfície. A composição química da inclusão foi analisada e é mostrada na Tabela 6. 41 Figura 18 – Superfícies da fratura do componente. Aumento de 20X. Fonte: Produção do próprio autor. 42 Figura 19 – Análise via MEV da inclusão encontrada na superfície de fratura. Aumentos de 18 e 300X. Fonte: Produção do próprio autor 43 Tabela 6 – Composição química da inclusão encontrada na superfície de fratura. Análise feita com o uso de EED. Componentes % O 50,54 Mg 0,38 Al 3,46 Si 35,8 Ca 1,51 Ti 0,75 Mn 7,66 Fonte: Produção do próprio autor De acordo com a análise, pode-se concluir que a inclusão em questão é composta basicamente por óxido de silício, ou sílica e pode ser proveniente do processo de manufatura (revestimento do forno). As propriedades mecânicas típicas deste material podem ser encontradas em (CALLISTER; RETHWISCH, 2012) como sendo: 𝜎𝑢𝑡 = 104 𝑀𝑃𝑎 ; 𝐸 = 73 𝐺𝑃𝑎 e Coeficiente de Poisson 𝜈 = 0,17 . Outra observação importante que pode ser verificada na Figura 19 é a presença de trincas indicadas pelas setas, associadas aos vértices agudos presentes na inclusão. Estas são regiões de concentração de tensão como será visto adiante. Para fazer uma estimativa da resistência à fadiga nesta condição, Murakami (2002) propôs um modelo que considera o tamanho da inclusão, a dureza da matriz e o fator de carga 𝑅𝑤 associado. O modelo proposto é mostrado é o seguinte: 𝑆𝑤 = 1,56∙(𝐻𝑉+120) (√ 1⁄ 𝑎𝑟𝑒𝑎) 6 ∙[ 1−𝑅𝑤 𝛼 2 ] (17) 2 Na referida equação, o termo √𝑎𝑟𝑒𝑎 = √𝜋. 𝐷𝑚𝑎𝑥 /4 indica a dimensão característica da inclusão, sendo que 𝐷𝑚𝑎𝑥 (𝜇𝑚) é a máxima dimensão da seção da inclusão, 𝐻𝑉 é a microdureza Vickers da matriz e o expoente é calculado utilizando a relação abaixo. Para a geometria da inclusão, o valor encontrado para a dimensão característica foi de √𝑎𝑟𝑒𝑎 = 144𝜇𝑚. 𝛼 = 0,226 + 𝐻𝑉 × 10−4 (18) 44 Uma vez que o objetivo é encontrar o novo limite de fadiga devido à presença da inclusão, não é considerada sua distância da superfície, mas somente a dimensão característica. Utilizando os parâmetros encontrados no componente em estudo; tensão cisalhante média 𝜏𝑚 = 33 𝑀𝑃𝑎 , microdureza Vickers 𝐻𝑉 = 572 e através de um rápido processo iterativo, a nova resistência à fadiga e razão de carga encontrados são 𝑆𝑤 = 462,4 𝑀𝑃𝑎 e 𝑅𝑤 = −0,867 . Para carregamentos de torção a resistência à fadiga é estimada multiplicando-se por 0,67 (SHIGLEY; MINSCHKE; BUDYNAS, 2005), (PYTEL et al., 2013). Desta forma a resistência à fadiga por torção devido a presença da inclusão é 𝑆𝑆𝑤 = 0,67 ∙ 462,4 = 309,8 𝑀𝑃𝑎. Dividindo-se este valor pela tensão de Zimmerli (ZIMMERLI, 1957) encontra-se o fator de 0,585. Com este valor, conclui-se que existe uma redução significativa na resistência à fadiga devido à inclusão. O gráfico mostrado na Figura 20 apresenta um diagrama de Gerber (SHIGLEY; MINSCHKE; BUDYNAS, 2005). Neste diagrama, o eixo horizontal é o eixo das tensões cisalhantes médias 𝜏𝑚 e o eixo vertical é o das tensões cisalhantes alternadas 𝜏𝑎 . O comparativo é feito entre a condição de resistência prevista por Zimmerli, sem a presença da inclusão, o valor previsto utilizando a equação de Murakami, que considera a inclusão e o valor decorrente do carregamento aplicado. Pode ser observado que o ponto de projeto se aproxima da resistência prevista pelo modelo com inclusão. É importante considerar que as curvas apresentadas são estimadas para 106 ciclos. Tensão cisalhante alternada a [MPa] Figura 20 – Diagrama de Gerber comparativo. 600 Gerber-Zimmerli Gerber-Murakami Zimmerli Componente 500 400 300 200 100 0 0 200 400 600 800 1000 Tensão cisalhante média - m [MPa] Fonte: Produção do próprio autor. 1200 45 4.4 AVALIAÇÃO DO EFEITO DA INCLUSÃO NAS TENSÕES RESIDUAIS DO PROCESSO DE SHOT PEENING 4.4.1 Definição do modelo numérico Para possibilitar uma avaliação quantitativa do efeito da presença da inclusão no resultado final obtido com o processo de shot peening, uma simulação numérica do processo foi realizada, inicialmente sem e depois com a presença da citada inclusão. Hong, Ooi e Shaw (2008) utilizaram o MEF para realizar um estudo paramétrico que tinha o intuito de investigar a correlação entre vários fatores envolvidos no processo e a tensão residual resultante do mesmo. Eles também realizaram uma análise utilizando Método de Elementos Discretos (Discrete Element Method - DEM) para avaliar o comportamento dinâmico do processo de shot peening. Em seu trabalho, utilizaram uma sequência única de impactos, num modelo em 3D e com o uso de elementos lineares com integração reduzida. No estudo deste capítulo, um modelo em 2D e EPT foi aplicado, mas com elementos parabólicos de oito nós, o qual mostrou uma boa concordância com dados medidos. Como pode ser observado na Figura 21, a malha próximo da superfície é homogênea (sem elementos distorcidos) e altamente refinada para poder representar adequadamente as deformações elásticas e plásticas esperadas. A esfera é tratada como sendo um elemento rígido e para efeito de simulação possui rigidez infinita ( 𝐸 = ∞ ). A simulação foi realizada de forma quase-estática, através da imposição de uma sequência de movimentos, por várias vezes, na seguinte ordem: (i) deslocamento prescrito de 10 m da esfera contra a superfície do material; (ii) retorno da esfera à sua posição original; (iii) deslocamento lateral de 0,5 mm da esfera; (iv) um novo deslocamento da esfera de 10 m contra a superfície e (v) o retorno da esfera à posição prévia. O procedimento é repetido cerca de onze vezes em uma direção. Quando a esfera retorna fazendo os mesmos movimentos, as deformações são feitas entre as regiões prévias, realizadas no primeiro passo. 46 Figura 21 – Modelo de tensão plana. (a) Geometria da superfície e esfera. (b) Malha micrométrica na superfície. (c) Sequência dos movimentos impostos à esfera. Fonte: Produção do próprio autor. Conforme reportado por Hong, Ooi e Shaw, 2008 e Puff e Vaz, 2011, as propriedades do material foram modeladas utilizando um modelo de encruamento bilinear isotrópico (BISO). De acordo com os autores, as propriedades mecânicas do material necessárias para a simulação, além das propriedades elásticas como Módulo de Elasticidade e Coeficiente de Poisson, são a Tensão de Escoamento, Tensão de Ruptura e Alongamento na Ruptura. Com estas propriedades é possível avaliar o Módulo Tangente 𝑀𝑇 . No presente caso, as propriedades utilizadas foram: 𝜎𝐸 = 1420 𝑀𝑃𝑎 , 𝜎𝑢𝑡 = 1595 𝑀𝑃𝑎 , = 8% , 𝐸 = 203,4 𝐺𝑃𝑎 e 𝜈 = 0,29. O modelo de encruamento utilizado é ilustrado na Figura 22. Figura 22 – Modelo de encruamento isotrópico bilinear utilizado na simulação. Encruamento Bilinear - BISO Módulo Tangente E Módulo de Elasticidade 0,08 Fonte: Produção do próprio autor. 47 4.4.2 Resultados para a simulação 2D Os resultados para deformação plástica equivalente e tensão principal mínima (compressão) são ilustrados na Figura 23; enquanto que a Figura 24 apresenta uma comparação entre as tensões residuais obtidas com o uso do MEF e dados experimentais medidos para a mola em estudo, como função de 𝐻/𝐻𝑆0. Conforme já ilustrado na Figura 17, a medição das tensões residuais no componente foi realizada por DRX. Figura 23 – Resultados da simulação do shot peening sem a inclusão. (a) Deformação plástica equivalente e (b) tensão principal mínima. 48 Fonte: Produção do próprio autor. Uma boa correlação pode ser observada para a tensão compressiva máxima e profundidade resultante a partir da superfície, para 𝐻/𝐻𝑆0 entre 0,2 e 0,8, que representa a região de interesse do presente estudo. Na superfície, a diferença encontrada pode ser devido a metodologia utilizada nesta abordagem, com apenas duas etapas de deformação que permite um retorno elástico devido a energia livre da superfície. Na peça real, as tensões residuais são decorrentes de um número de impactos muito superior, uma vez que o processo de shot peening é realizado até a saturação, durante o tratamento duplo. Na outra região, acima de 0,8, a diferença encontrada pode estar relacionada às condições iniciais do material, antes da aplicação do processo. Na simulação, o material é livre de tensões residuais enquanto que na peça real, tensões de tração podem estar presentes, decorrentes da conformação do mesmo na forma helicoidal. Além disso, a simulação é realizada em 2D para possibilitar um menor consumo de recursos computacionais do que um modelo 3D, o qual poderia representar melhor a distribuição de tensões residuais. Estas são simplificações, no entanto os resultados obtidos com a simulação podem ser considerados válidos para o propósito do estudo de avaliar o efeito da presença da inclusão. 49 Figura 24 – Comparação entre Tensões residuais simuladas e medição feita no componente. 300 Medida no componente (Difração de raios X) Tensão Residual [MPa] 200 100 0 -100 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2 1,4 -200 -300 -400 -500 -600 Simulação Fonte: Produção do próprio autor. A presença da inclusão na matriz do material foi modelada considerando os mesmos parâmetros descritos anteriormente. A inclusão foi modelada perfeitamente contida na matriz e a razão para tal hipótese reside no fato de que o coeficiente de dilatação térmica do óxido de silício ser de aproximadamente 0,75 µm/m°C, enquanto que a mesma propriedade da matriz é de aproximadamente 12 µm/m°C (CALLISTER; RETHWISCH, 2012). Devido à diferença nesta propriedade, durante o resfriamento do material a contração da matriz é muito maior que a contração da inclusão de óxido de silício. Dois modelos de interface foram considerados: o primeiro considerando uma condição sem atrito e o segundo, considerando coeficiente de atrito de 𝜇 = 0,6 (Engineering Toobox, 2015), entre os dois materiais. Collini (2004) realizou uma simulação em mesoescala para a presença de nódulos de grafita em uma matriz perlítica. A simulação em mesoescala é feita de tal forma a considerar as diferentes fases e inclusões presentes no material, sem no entanto entrar num nível de grão. A Mecânica do Continuo é considerada para cada fase no modelo. Em seu trabalho, os nódulos de grafita foram considerados perfeitamente aderidos à 50 matriz, diferente do presente estudo. O modelo de contato entre a inclusão e matriz utilizado foi o Lagrangeano Aumentado (MLA), de acordo com o que é descrito em ANSYS (2011). A Figura 25 mostra os resultados obtidos para tensão principal máxima 𝑆1 e mínima 𝑆3 em torno da inclusão com o modelo sem atrito e a Figura 26 mostra os mesmos resultados para o modelo com atrito. Em ambos os casos, podem ser observados pontos de concentração de tensão nos vértices da inclusão. Um gradiente de tensão acentuado pode ser observado, com tensões compressivas evidentes na interface e alta tensão de tração logo acima da mesma. Os gráficos apresentados na Figura 27 e Figura 28 ilustram o gradiente de tensão, para as tensões principais mínima e máxima, de acordo com as ilustrações na Figura 25c-d e Figura 26c-d. Os picos de tensão encontrados em ambos os modelos são listados na Tabela 7. Figura 25 – Tensões ao redor da inclusão para o modelo com = 0. (a) Tensão principal máxima (𝑆1); (b) Tensão principal mínima (𝑆3); (c) Detalhe da tensão principal máxima e (d) Detalhe da tensão principal mínima. a) 51 b) c) 52 d) Fonte: Produção do próprio autor. Figura 26 – Tensões ao redor da inclusão para o modelo com = 0,6 . (a) Tensão principal máxima ( 𝑆1 ); (b) Tensão principal mínima (𝑆3); (c) Detalhe da tensão principal máxima e (d) Detalhe da tensão principal mínima. a) 53 b) c) 54 d) Fonte: Produção do próprio autor. Tabela 7 – Tensões principais mínima e máxima encontradas próximo aos vértices da inclusão. Modelo 𝑆3 [MPa] Localização de 𝑆3 𝑆1 [MPa] Distância de 𝑆1 max do vértice [µm] =0 1144 Vértice 580 6.2 = 0,6 115 Vértice 304 1.8 Fonte: Produção do próprio autor. 55 Figura 27 – Tensões principais máxima e mínima ao longo das linhas tracejadas ilustradas na Figura 25 para o modelo sem atrito = 0. Tensões principais [MPa] 800 Modelo sem atrito entre inclusão e matriz 600 400 200 0 -200 -400 -600 -800 -1000 -1200 -1400 0 5 10 15 20 25 30 35 Distância a partir da inclusão [m] Fonte: Produção do próprio autor. Figura 28 – Tensões principais máxima e mínima ao longo das linhas tracejadas ilustradas na Figura 26 para o modelo com atrito = 0,6. 350 Modelo com atrito entre inclusão e matriz Tensões principais [MPa] 300 250 200 150 100 50 0 -50 -100 -150 0 5 10 15 20 25 Distância a partir da inclusão [m] Fonte: Produção do próprio autor. 30 35 56 Os resultados mostram que o modelo plano de tensões pôde reproduzir o efeito das tensões residuais de compressão e no caso da presença da inclusão, pôde deixar claro ao redor da mesma, principalmente nos pontos de concentração de tensão geométrica, que o shot peening pode gerar um estado de tensões elevadas que possibilitam a propagação de uma trinca. 4.5 ANÁLISE EM 3D DAS TENSÕES AO REDOR DA INCLUSÃO 4.5.1 Modelamento numérico Para verificar o efeito da presença da inclusão sob a aplicação do carregamento de tensão cisalhante no arame da mola, um modelo usando MEF foi construído para representar uma pequena porção do arame da mola que contém a inclusão. As cargas são equivalentes às experimentadas por uma porção equivalente do arame na região de falha da mola, resultando nas mesmas tensões cisalhantes observadas na mola completa. A matriz do material foi modelada utilizando a mesma metodologia aplicada no modelo 2D em EPT, mas utilizando elementos hexaédricos com 20 nós. Na região da inclusão a malha foi refinada de forma a capturar as tensões próximo às arestas da mesma. Os mesmos dois modelos de contato foram utilizados, assim como o foram no modelo 2D. As tensões residuais decorrentes do shot peening não foram consideradas. A inclusão de sílica foi modelada no sentido de aproximarse o máximo possível da seção observada na Figura 29a, utilizando a análise via MEV e foi posicionada à 45°, de acordo com a orientação da superfície da falha. O formato na sua direção normal não é conhecido e desta forma o modelo 3D foi aproximado por uma extrusão da seção da inclusão em 0,15 mm. A Figura 29b ilustra o modelo em vista plana. 57 Figura 29 – Vista comparativa da inclusão real (a) e a aproximação feita no modelo usando MEF (b). a) b) Fonte: Produção do próprio autor . A região próxima da inclusão foi dividida em volumes menores de tal forma a se fazer possível o refino da malha. Apesar de terem sido modelados separados, os volumes formam um modelo contínuo, evitando-se desta forma a necessidade de modelos de contato entre os mesmos. Apenas a interface da inclusão foi modelada utilizando-se o modelo de contato. A Figura 30 mostra os detalhes do modelo e a Figura 31 a malha refinada utilizada. 58 Figura 30 – Detalhes do modelo. (a) seção do arame utilizada; (b) malha de MEF; (c) detalhe da inclusão. a) b) c) Fonte: Produção do próprio autor. 59 Figura 31 – Malha para a inclusão e no entorno da mesma. O tamanho do elemento é 2 µm. O número total de elementos é 607.957; O número total de nós é 921.424. Fonte: Produção do próprio autor. 4.5.2 Resultados para a simulação 3D A Figura 32 mostra os resultados de Intensidade de Tensão 𝐼𝑇 = 2 × 𝜏𝑚𝑎𝑥 para o modelo sem atrito ( = 0) e com atrito de Coulomb ( = 0,6). A Tabela 8 apresenta os resultados de tensão principal máxima e mímima e intensidade de tensão para 5 pontos indicados no contorno da inclusão. 60 Figura 32 – Resultados de intensidade de tensão para o modelo 3D para (a) = 0 e (b) = 0,6. a) b) Fonte: Produção do próprio autor. 61 Tabela 8 – Resultados de tensão para os cinco pontos indicados na Figura 32. 𝑆1 𝑆3 𝑚𝑎𝑥 * [MPa] [MPa] [MPa] 0 452 -275 352 0,6 540 -314 334 0 243 -328 287 0,6 308 -251 925 0 669 -258 462 0,6 673 -291 856 0 517 -292 422 0,6 521 -100 1102 0 1031 -91 541 0,6 1000 -243 781 * 𝑚𝑎𝑥 correspondente ao valor máximo encontrado na região. Região Fonte: Produção do próprio autor. A tensão cisalhante máxima na superfície também é afetada pela presença da inclusão, como pode ser observado na Figura 33, que ilustra a distribuição de tensão no detalhe “A” da Figura 30a. De acordo com o modelo sem a inclusão, a tensão cisalhante máxima esperada seria de 314 MPa, enquanto que o resultado para a mola com a inclusão mostra um valor na superfície como sendo 321,7 MPa. No interior da matriz, no entorno da inclusão o ponto mais afetado é o , com tensão principal igual a 1031 MPa para o modelo sem atrito e 1000 MPa para o modelo com atrito. A tensão cisalhante máxima chega aos 531 MPa e 781 MPa para os dois modelos, respectivamente. A tensão cisalhante máxima esperada para a região da inclusão, distante cerca de 3,463 mm do centro do eixo, seria de 303 MPa para o modelo inicial. Desta forma, os fatores de concentração de tensão para os modelos sem e com atrito são 1,78 e 2,58 respectivamente, para o carregamento normal aplicado no modelo 3D. Em qualquer uma das situações, estes níveis de tensão comprometem a resistência à fadiga do 62 arame da mola, mesmo com a aplicação do processo de shot peening. Deve-se considerar também a presença de tensões residuais no entorno da inclusão, introduzidas por este processo, conforme detectado pelo modelo 2D. Figura 33 – Tensão cisalhante máxima na superfície da mola, próximo à inclusão (Detalhe “A” da Figura 30). Fonte: Produção do próprio autor. 63 5 FADIGA EM AÇO OBTIDO POR METALURGIA DO PÓ Este capítulo é focado em materiais ferrosos obtidos por Metalurgia do Pó (MP) e se insere no contexto da presente tese pelo fato de que estes tipos de materiais possuem por natureza, vazios ou porosidades decorrentes do processo de fabricação. Inicialmente apresenta-se um sumário sobre as características destes tipos de materiais. Em seguida, os resultados de sensibilidade ao entalhe para carregamentos estáticos de flexão e de tração. Finalmente, apresenta-se os resultados de sensibilidade ao entalhe dinâmico para carregamentos alternados de torção. 5.1 CARACTERÍSTICAS DE MATERIAIS OBTIDOS POR MP De acordo com Esper e Sonsino (1994) as características relacionadas a aplicação que permitem a seleção de materiais obtidos por metalurgia do pó são listadas a seguir: Dureza Módulo de Elasticidade Limite de escoamento (estático e cíclico) Limite de fadiga (dependente de entalhes, modo de carregamento, tensão média, etc.) Dados de fratura mecânica. Resistência ao impacto e elongação (com limitações). A seguir é feita uma revisão para cada uma das características acima citadas e sua correlação com as propriedades desejadas para o referido material. 5.1.1 Dureza A dureza em componentes estruturais obtidos por MP é uma função clara de sua densidade, composição química e microestrutura. Devido à porosidade residual no material, a dureza à que se refere aqui é na verdade a dureza aparente. Para estes tipos de materiais, é recomendado utilizar a dureza Brinell (HB). 64 Frequentemente alta resistência ao desgaste é requerida em peças deste tipo de material e nestes casos, a superfície deve ser endurecida. Isto pode ser feito através de vários tipos de tratamento térmico segundo Pohl (1983). Em alguns casos tratamentos à vapor são suficientes de acordo com Parshal (1949). Em peças tratadas termicamente a microdureza é normalmente determinada pelos métodos Vickers (HV) ou Rockwell (HR). Pode-se observar na Figura 34 que quando se mede a microdureza com carga de 0,1 kg (HV0,1), os valores são independentes da densidade do material. Já quando se mede com carga de 10 kg (HV10), pode se perceber a influência da densidade do material. Outra observação importante, é que a dispersão do primeiro valor é menor do que o segundo. A Figura 35 ilustra esquematicamente este efeito. Figura 34 – Relação entre dureza e densidade de aços obtidos por MP. Dureza Vickers [Hv] 1000 900 dispersão para Hv0,1 800 700 600 500 400 dispersão para Hv10 300 200 6,2 6,4 6,6 6,8 7 7,2 Densidade [g/cm3] Fonte: (Esper e Sonsino, 1994). 7,4 7,6 7,8 65 Figura 35 – Comparativo de medição de dureza Brinnel e Vickers em um material obtido por MP. Brinnel Vickers Endentador Porosidade pode influenciar na medição de microdureza Vickers Fonte: Produção do próprio autor. 5.1.2 Módulo de Elasticidade O Módulo de Elasticidade, necessário para a avaliação de deformações elásticas e tensões, foi ajustado à densidade através de uma equação log-log, a partir dos dados obtidos em (ESPER; SONSINO, 1994). A Figura 36 ilustra o ajuste encontrado. 66 Figura 36 – Relação entre Módulo Elástico e densidade para material ferroso obtido por MP. 206 200 180 160 7,85 Módulo de Elasticidade [GPa] 220 140 120 100 80 6 6,5 7 7,5 8 Densidade - [g/cm3] Fonte: Produção do próprio autor a partir dos dados obtidos em (ESPER; SONSINO, 1994). No entanto, existe certa dependência em relação ao formato dos poros, tamanho e distribuição, assim como no estado de carregamento. Uma aproximação baseada no Módulo de Elasticidade do material sólido em questão pode ser facilmente obtida para o material fabricado por MP. Com relação à liga, tanto os aços sólidos como os fabricados por MP, possuem pouca sensibilidade quanto ao Módulo de Elasticidade. 5.1.3 Tensão de Escoamento estática e cíclica A Figura 37 mostra a Tensão de Escoamento estática (convencional) em função da densidade. Intervalos de Tensão de Escoamento estática são mostrados para diferentes densidades. Este método de apresentação foi escolhido porque esta característica pode ser melhorada pela adição de elementos de liga. 67 Tensão de Escoamento [MPa] Figura 37 – Tensão de Escoamento (convencional) em função da densidade. estática 1400 1200 1000 800 600 400 200 0 6,0 à 6,4 Densidade [g/cm3] 6,4 à 6,8 6,8 à 7,2 7,2 à 7,5 Aços obtidos por MP com diferentes composições 7,75 à 7,85 7,75 à 7,85 Aços médio Aços ligados carbono não conformados conformados à quente Fonte: (ESPER; SONSINO, 1994). A Tensão de Escoamento estática é dependente não somente da densidade, mas também no tipo e quantidade de elementos de liga. No intervalo de densidade até 6,8 g/cm3, a mesma Tensão de Escoamento estática pode ser obtida de duas formas: Maior densidade e menor concentração de elementos de liga; Menor densidade e maior concentração de elementos de liga. A escolha de qual das duas soluções a utilizar é frequentemente uma questão econômica. Valores mais elevados para as propriedades mecânicas podem ser obtidos apenas com maiores densidades e composição química apropriada. No entanto, deve ser levado em consideração que a composição química para componentes carregados estaticamente deve ser mantida num intervalo de ±0,25% em relação à especificação, para estar de acordo com as propriedades requeridas. A Figura 38 compara a Tensão de Escoamento estática com a cíclica para dois materiais obtidos por MP. Percebe-se que 68 a Tensão de Escoamento estática pode ser claramente distinguida para os dois materiais, mas a cíclica é muito similar. Figura 38 – Tensão de Escoamento estática e cíclica em função da densidade para duas ligas de ferro obtidas por MP. Tensão de Escoamento [MPa] 450 400 350 300 Fe - 1,5%Cu - 0,6%C (estático) Fe - 1,5%Cu - 0,6%C (cíclico) Fe - 2,0%Cu - 2,5%Ni (estático) Fe - 2,0%Cu - 2,5%Ni (cíclico) 250 200 6,50 7,00 Densidade 7,50 [g/cm3] Fonte: (ESPER e SONSINO, 1994). A Tensão de Escoamento cíclica da liga Fe-Cu-Ni é maior do que a estática. Já o oposto ocorre para a liga Fe-Cu-C. A razão para isto é que no primeiro caso, o material é endurecido durante o carregamento cíclico. Uma sobrecarga pode ter o mesmo efeito. No segundo caso, o material é “amolecido” com o carregamento cíclico. Alguns aços que não são obtidos por MP apresentam o mesmo efeito. É importante deixar claro que não se trata de um ensaio de fadiga, mas sim de um ensaio cíclico. Para julgar o comportamento de materiais sob ação de sobrecargas ocasionais, dentro do intervalo da Tensão de Escoamento estática, é necessário conhecer a Tensão de Escoamento cíclica. Se sobrecargas repetitivas são esperadas, materiais que endurecem ciclicamente devem ser preferidos. 69 5.1.4 Resistência à fadiga O comportamento em fadiga de aços obtidos por MP é discutido basicamente para dois compostos de resistência média, pois são investigados em um amplo intervalo de densidade, compreendendo resistências baixas e altas. Em alguns casos, o comportamento em fadiga para aços obtidos por MP de alta resistência é também avaliado. De acordo com as Figuras 39 e 40, a resistência à fadiga de aços obtidos por MP aumenta progressivamente com o aumento da densidade. Este comportamento é observado para os componentes com e sem entalhe. Surpreendentemente, a dependência da resistência à fadiga na densidade é muito similar para ambos os materiais testados, isto é, sua resistência à fadiga é influenciada apenas levemente pela diferença na composição química. Pode ser observado que a resistência à fadiga destes materiais de resistência média difere apenas da ordem de 20%. Desta forma, em muitas aplicações materiais com custo menor podem satisfazer requisitos de fadiga. Figura 39 – Influência da densidade no limite de fadiga para a liga (Fe - 1,5%Cu – 0,6%C) obtida por MP, com sinterização feita à 1120°C durante 30 minutos. (a) Carregamento axial e (b) carregamento de flexão. Tensão reversa [MPa] a) 450 400 Fe - 1,5%Cu - 0,6%C (1120°C / 30min) Carregamento Axial 350 300 250 200 150 100 50 0 6,0 6,5 7,0 Densidade 7,5 [g/cm3] 8,0 70 Tensão reversa [MPa] b) 450 Fe - 1,5%Cu - 0,6%C (1120°C / 30min) Carregamento de Flexão 400 350 300 250 200 150 100 50 0 6,0 6,5 7,0 7,5 8,0 Densidade [g/cm3] Fonte: (ESPER; SONSINO, 1994). Figura 40 – Influência da densidade no limite de fadiga para a liga (Fe – 2,0%Cu – 2,5%Ni) obtida por MP, com sinterização feita à 1250°C durante 60 minutos. (a) Carregamento axial e (b) carregamento de flexão. Tensão reversa [MPa] a) 450 Fe - 2,0%Cu - 2,5%Ni (1250°C / 60min) Carregamento Axial 400 350 300 250 200 150 100 50 0 6,0 6,5 7,0 Densidade [g/cm3] 7,5 8,0 b) 450 Tensão reversa [MPa] 71 350 Fe - 2,0%Cu - 2,5%Ni (1250°C / 60min) Carregamento de Flexão 400 300 250 200 150 100 50 0 6,0 6,5 7,0 7,5 8,0 Densidade [g/cm3] Fonte: (ESPER; SONSINO, 1994). Conforme ilustrado na Figura 41, enquanto que a resistência à fadiga de amostras de aço obtidas por MP sem entalhe (𝐾𝑡 = 1) é menor que a de aços forjados, corpos de prova feitos por MP com densidade maior que 7,1 g/cm3 e com entalhes, com 𝐾𝑡 > 2,0 tem uma resistência à fadiga muito similar à de aços forjados, em ensaio de flexão reversa (curva média para 𝑅 = −1 , 𝑁 = 2 × 106 ). Para satisfazer os requisitos de fadiga é essencial que a densidade nas áreas críticas seja mantida num intervalo de tolerância de 0,05 g/cm3. 72 Resistência à Fadiga [MPa] Figura 41 – Resistência à fadiga de peças sem e com entalhe de aços obtidos por MP e aço forjado. 400 350 300 Aços obtidos por MP 250 Aço forjado 200 150 100 50 0 150 250 350 450 550 650 750 Resistência à Tração [MPa] Aço obtido por MP (Fe - 2,0%Cu - 2,5%Ni) Aço obtido por MP (Fe - 1,5%Cu - 0,6%C) Aços estruturais e tratáveis termicamente Fonte: (ESPER; SONSINO, 1994). A resistência à fadiga de componentes estruturais obtidos por MP que apresentam concentração de tensões correspondentes a um fator de 𝐾𝑡 > 2,0 e tendo densidade maior que 7,1 g/cm3 é comparável à de componentes estruturais feitos de aços forjados, ou de ferro fundido nodular, conforme Figura 42a-b. Isto explica a experiência passada, que mesmo componentes submetidos a altas solicitações de fadiga podem ser feitos de aço por MP, ao invés de aços forjados, ou ferro fundido nodular. 73 Figura 42 – Comparativo de resistência à fadiga de dois materiais obtidos por MP com aços comuns e ferro fundido nodular, para faixa de confiabilidade de 10 a 90%. (a) Carregamento axial e (b) carregamento de flexão. Tensão reversa [MPa] para Nf = 2x106 ciclos a) 300 Carregamento Axial SAE 1017 à 1046 Ferro Fundido Nodular Fe - 2,0%Cu - 2,5%Ni; Fe - 0,45%P Fe - 1,5%Cu; Fe - 1,5%Cu - 0,6%C 250 200 150 100 50 0 Para cada material é apresentado o intervalo de 10 à 90% de confiabilidade 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0 Fator de concentração de tensão geométrico Kt Tensão reversa [MPa] para Nf = 2x106 ciclos b) 350 Carregamento de Flexão SAE 1017 à 1046 Ferro Fundido Nodular Fe - 2,0%Cu - 2,5%Ni; Fe - 0,45%P Fe - 1,5%Cu; Fe - 1,5%Cu - 0,6%C 300 250 200 150 100 Para cada material é apresentado o intervalo de 10 à 90% de confiabilidade 50 0 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 Fator de concentração de tensão geométrico Kt Fonte: (SONSINO; GRUBISIC, 1989). 4,0 74 A Figura 43 mostra a dependência da resistência à fadiga no fator de concentração de tensão. A redução da resistência à fadiga com o aumento do 𝐾𝑡 não é tão pronunciada em aços obtidos por MP como o é para aços forjados, porque o material poroso não é tão sensível a entalhes externos, como é o material forjado que não tem poros. A porosidade atua como entalhes internos e assim compensa a existência de poros externos. Assim, a resistência à fadiga de aços obtidos por MP é menos alterada pelos entalhes externos devido à presença da porosidade na microestrutura. Porém, deve ser observado que aumentando a dureza do material, a sensibilidade ao entalhe aumenta e consequentemente a resistência à fadiga é reduzida com a presença de entalhes. Figura 43 – Relação entre o limite de fadiga relativo e fator de entalhe. Resistência à Fadiga Relativa a Kt / a Kt = 1 1,0 Material 0,9 0,8 0,7 0,6 0,5 0,4 0,3 Resistência [MPa] Fe-Cu-C; Fe-Cu Fe-Cu-Ni; Fe-P 250 - 500 F.F. Nodular 400 - 700 Aço Forjado 400 - 1200 Ensaio de Flexão 0,2 Carregamento Axial 0,1 0,0 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0 Fator de concentração de tensão geométrico Kt Curva média Nf = 2x106 Fonte: (ESPER; SONSINO, 1994). Uma outra forma de interpretar a Figura 43 é realizando uma conversão dos dados para o fator de sensibilidade ao entalhe, conforme ilustrado na Figura 44. Neste gráfico é possível observar que esta propriedade possui uma insensibilidade quanto ao fator de concentração de tensão geométrico quando se trata de aços forjados. No entanto, para materiais como o ferro fundido e os obtidos por MP, é possível observar um decréscimo da referida 75 propriedade na medida em que aumenta o fator de concentração de tensão geométrico. Figura 44 – Fator de sensibilidade ao entalhe na fadiga obtido a partir do gráfico anterior, em função do fator de concentração de tensão geométrico. Fator de sensibilidade ao entalhe em fadiga - q 1,0 Ensaio de Flexão 0,9 Carregamento Axial 0,8 Material 0,7 0,6 0,5 F.F. Nodular 0,4 Aço Forjado 400 - 1200 Fe-Cu-Ni; Fe-P 250 - 500 Fe-Cu-C; Fe-Cu 250 - 500 400 - 700 0,3 0,2 0,1 0,0 1,0 1,5 2,0 2,5 Resistência [MPa] 3,0 3,5 4,0 Fator de concentração de tensão geométrico Kt Curva média Nf = 2x106 Fonte: Adaptação do autor com base nos dados obtidos de (ESPER; SONSINO, 1994). Cedergren, Melin e Lidström (2005) estudaram o dano ocasionado em engrenagens fabricadas pelo processo de MP de uma forma numérica, utilizando o MEF. Para tanto desenvolveram o modelo numérico utilizando o modelo de dano apresentado por Gurson (1977), baseado no dano gerado pela nucleação e crescimento de vazios no interior da matriz do material, dado pela variável interna do material 𝑓 . Este modelo se aplica a componentes obtidos por MP, uma vez que os mesmos já possuem vazios decorrentes do próprio processo de fabricação. Esta proporção de vazios inicial da peça representa o dano inicial presente na matriz do material, denotado por 𝑓0 . A evolução do dano é obtida por 𝑓 − 𝑓0 , representando o aumento da fração de vazios na medida em que as cargas são aplicadas. O estudo é feito para uma engrenagem de 15 dentes submetidos a carregamento cíclico, no entanto, são os carregamentos de “sobrecarga” que são o foco desta análise. 76 A fração de vazios inicial da peça é obtida a partir de uma simulação prévia do processo de compactação do pó metálico, sendo que a mesma é menor na superfície e maior no centro. Como se pretende utilizar simulação num modelo de tensão/deformação plana, a fração de vazios foi avaliada através de uma média ponderada ao longo da altura do material. Como já mencionado, o Modelo de Gurson no formato viscoplástico foi utilizado para contabilizar o dano acumulado no carregamento cíclico. As tensões no material são representadas pelo Tensor Tensão de Cauchy (BONET; WOOD, 2008) e a Tensão Equivalente de von Mises. A Tensão Hidrostática e a Tensão de Escoamento da matriz do material constituem os elementos do modelo de plasticidade. A formulação por MEF é feita utilizando o princípio do trabalho virtual e o Método de Integração Explícito de Newmark (NEWMARK, 1959) e (BELYSCHKO; CHIAPETTA; BARTEL, 1976) em deformação plana é utilizado. O trabalho mostra que a região mais afetada pelos carregamentos cíclicos em termos de dano acumulado é a raiz do dente da engrenagem conforme ilustrado na Figura 45 e Figura 46. Esta é a região mais solicitada em termos de tensões. Em função desta concentração de tensões, ocorre também a acumulação de dano neste local. É observado também que não é necessário realizar a simulação de compactação para se obter a distribuição de porosidade ao longo da espessura da engrenagem. No entanto, para que a análise seja conservadora, a utilização da porosidade no centro, que é menor, é mais aconselhável. 77 Figura 45 – (a) Engrenagem com 15 dentes. Somente um quarto de um dente é modelado usando simetria. (b) Distribuição de porosidade final em um quarto do dente após a compactação até uma porosidade média de 4,5%. Fonte: (CEDERGREEN; MELIN; LINDSTRÖM, 2005). Figura 46 – Dano acumulado na raiz do dente da engrenagem após ciclo número 1 (a), número 3 (b), número 5 (c) e número 7 (d). Fonte: (CEDERGREEN; MELIN; LINDSTRÖM, 2005). 78 Os resultados numéricos são utilizados para desenvolver um modelo de deterioração da peça em função do dano inicial e do carregamento imposto, para possibilitar a previsão de vida do componente. A conclusão é que o modelo de Gurson para previsão do dano acumulado mostrou-se adequado para o material em questão. O acúmulo de dano é um fenômeno localizado na raiz do dente da engrenagem e dependente do dano (fração de vazios) inicial da peça. Foi verificado também que a estimativa feita utilizando uma fração de vazios média é nãoconservativa. Assim é recomendável utilizar a do centro da peça. O modelo de previsão de vida desenvolvido é ferramenta bastante útil na análise inicial destes componentes submetidos a milhões de ciclos de carregamento de baixa amplitude, mas com frequentes sobrecargas, as quais introduzem dano ao componente. O modelo de deformação plana favorece o acúmulo de dano quando é utilizado o modelo de Gurson. Desta forma a avaliação e definição correta do dano inicial da peça são fundamentais para uma correta previsão da vida do componente sujeito a frequentes sobrecargas. Satsangi, Sharma e Prakash (2003) propuseram um modelo elastoplástico de elementos finitos incremental e escalonado para simular o forjamento de metal poroso obtido pela MP. O modelo incorpora não linearidades geométricas e do material e se baseia no Princípio Variacional de Hill (SATSANGI; SHARMA; PRAKASH, 2003) para deformações incrementais. Os parâmetros do material são dependentes da densidade e no caso da MP. Tal constatação é fundamental, pois esta propriedade varia ao longo do processo. É salientado que trabalhos anteriores não levaram em conta o comportamento elastoplástico ideal e nem as não linearidades geométricas. No trabalho proposto pelos autores, as não linearidades geométricas são levadas em conta pela introdução dos termos de rotação de corpos rígidos. Efeitos de inércia e temperatura não são considerados. A variação das propriedades do material proposta pelos autores é dada por: 𝐸 = 222,4 − 651,9 ∙ (1 − 𝜌𝑟 ) [GPa] (19) 𝐺 = 86,8 − 253,2 ∙ (1 − 𝜌𝑟 ) [GPa] (20) 79 onde 𝜌𝑟 é a densidade relativa do material, ou grau de compactação em relação à densidade do material totalmente compactado. Os autores concluem que o modelo proposto, aplicado para simular a perturbação livre de corpos de prova cilíndricos, com diferentes fatores de forma mostrou boa concordância com resultados experimentais no que tange às cargas de deformação e forma dos componentes durante o processo. A distribuição de densidade no interior das peças foi também prevista após a deformação especificada e além disso, com o uso do modelo constitutivo, foi possível estudar a influência do fator de forma na carga de deformação, forma e distribuição de densidade nas peças. Bier e Hartmann (2006) propuseram uma função (superfície) de escoamento convexa inovadora para materiais dependentes da pressão. Propuseram também um modelo de deformações plásticas finitas independentes da taxa de deformação para modelar a compactação de pós. Foi utilizada a decomposição multiplicativa do gradiente de deformações elásticas e plásticas. As variáveis internas foram utilizadas para determinar a evolução da função de escoamento para representar o encruamento compressível do material. Neste trabalho foi utilizado pó de cobre, mas o modelo constitutivo foi desenvolvido representando o comportamento essencial dos materiais, observado durante o processo de compactação. Como a forma da função de escoamento depende das variáveis internas, as quais evoluem de acordo com as equações diferenciais para descrever o encruamento, é necessário um esforço adicional para garantir a convexidade durante o processo. Os autores propuseram uma interpolação logarítmica de duas funções escalares de escoamento. Utilizaram o esquema de Predictor Elástico e Corretor Plástico normalmente utilizados nos modelos do MEF e testaram o modelo para vários materiais. Finalmente, os autores concluíram que o modelo proposto representa bem o comportamento de deformação compressiva de vários materiais. Martin (2004) realizou o modelamento explícito da compactação de pós introduzindo a possibilidade de haver o carregamento plástico, o descarregamento elástico e a de-coesão 80 no contato. Foi utilizado DEM e o propósito do trabalho foi o de propor um representação mais realista da compactação, descarregamento e falha de compactação de pós utilizando a formulação de Mesarovic e Johnson (MESAROVIC; JOHNSON, 2000). Qylafku et al. (1999) fizeram uma revisão de relações entre o fator de concentração de tensão na fadiga 𝐾𝑓 , estático 𝐾𝑡 , raios de entalhe 𝑟𝑒 e parâmetros geométricos e de material. A revisão é apresentada na Tabela 9. Tabela 9 – Revisão do fator de concentração de tensão na fadiga – 𝐾𝑓 e estático – 𝐾𝑡 . Autor K f 1 Peterson Kuhn e Hardraht 1 A re Kt 1 a 1 N re Kt 1 2 cH re Kf h 1 2.1 re r0 K f Kt A Buch Brand K f 1 K f 1 Heywood Kt 1 ap 1 re Kt 1 K f 1 Neuber Stieler Siebel Parâmetros de material Expressão e Kf Kt 1 1 c 𝑎𝑝 é uma constante do material (mm) (PETERSON, 1974) 𝐴 = 𝑓(𝑅𝑚) é a função da Tensão de Ruptura (mm) = â𝑛𝑔𝑢𝑙𝑜 𝑑𝑜 𝑒𝑛𝑡𝑎𝑙ℎ𝑒 (rad) (KUHN; HARDRAHT, 1952) 𝑎𝑁 = 𝑓(𝑅𝑚) é a função da Tensão de Ruptura (mm) (NEUBER, 1946) 𝑐𝐻 = 𝑓(𝑅𝑚) é dependente do material e amostra (BUCH, 1988) 𝐴, ℎ dependentes do material e amostra. 𝑟0 = 𝑓(𝐴, ℎ) (BUCH, 1988) 𝑐 = 𝑓(𝑅0,2 ) é constante do material D 0 Kt D0 A log B A e B são constantes Fonte: (QYAFKU et al., 1999). Referências do material (KUHN; HARDRAHT, 1952) (LIEURADE; TROUCHON; FLAVENOT, 1992) (BRAND; SUTTERLIN, 1980) 81 Neste trabalho afirma-se que os valores de 𝐾𝑓 referenciam-se usualmente somente aos limites de fadiga e raio de entalhe, reduzindo o escopo de seu uso. Os modelos de dano que aceitam uma tensão elástica estão longe da realidade e a previsão de fadiga é indeterminada. A resistência à fadiga não depende apenas da tensão de pico na raiz do entalhe, mas também do campo de tensões na região de dano. O escopo deste trabalho é a quantificação do tamanho desta região em um material obtido por MP. O conceito de intensidade do campo de tensões é utilizado e os resultados são comparados com os obtidos com corpos de prova em ensaio de tensão-deformação clássico. De acordo com o trabalho, a falha por fadiga irá ocorrer quando a intensidade do campo de tensão da peça com entalhe for igual à resistência à fadiga de componentes sem entalhe. Adib-Ramezami e Jeong (2007) realizaram uma pesquisa, no intuito de desenvolver um método volumétrico para avaliar a fadiga de componentes com entalhe. O método desenvolvido leva em consideração os efeitos do gradiente de tensão na raiz dos entalhes. Tais gradientes naturalmente aparecem ao redor de entalhes devido à descontinuidade geométrica em corpos de prova e componentes mecânicos. Para materiais dúcteis, é essencial levar em consideração as propriedades elastoplásticas do material, no entanto o método elastoplástico apresenta erros de truncamento numérico baseados nas características discretas dos cálculos numéricos. Tais efeitos podem ser capturados elasticamente após a primeira derivação numérica. São utilizados dois métodos para capturar estes efeitos: o Método Volumétrico e o de Intensidade do Campo de Tensões. Neste último método, a função peso representa a contribuição da tensão na região de acúmulo de dano por fadiga. Esta depende explicitamente da tensão, gradiente de tensão e distância a partir da raiz da trinca. Os autores apresentam ainda outros métodos: polinomial volumétrico; caminho da trajetória do pico de tensão e de deformação. A conclusão é de que os gradientes de tensão próximo à raiz dos entalhes são importantes para a fadiga e que os métodos que não são baseados no gradiente, não são efetivos em peças com muitos entalhes. A concentração de tensão tem que ser acompanhada do gradiente. Concluem ainda que o Método 82 Polinomial Volumétrico resolve o problema numérico do comportamento elastoplástico. Weixing, Kaiquan e Yi (1994) estudaram o fator de concentração de tensão 𝐾𝑓 utilizando três tipos de modelos: Modelo de Tensão Média, Modelo da Mecânica da Fratura e o de Intensidade do Campo de Tensões. Segundo os autores, 𝐾𝑓 está relacionado ao tamanho e geometria do componente e utilizam a fórmula modificada de Neuber (NEUBER, 1961), para avaliar esta característica. Tal formulação estabelece que 1 ≤ 𝐾𝑓 𝐾𝑡 , mas que em alguns casos admite 𝐾𝑓 > 𝐾𝑡 . Além disso, 𝐾𝑓 está também relacionado às propriedades do material, seus defeitos intrínsecos, tamanho e geometria, gradiente de tensão, tipo de carregamento e número de ciclos de carga e descarga. Finalmente concluem que o Modelo de Intensidade do Campo de Tensões é o melhor para estimar o 𝐾𝑓 . Liu e Wang (2001) realizaram uma investigação da vida em fadiga sob condições de carregamento multiaxial. Utilizaram um Método de Energia para previsão da orientação e propagação de trincas. As curvas de fadiga uniaxial do tipo SN não proporcionam informações essenciais para caracterizar detalhes físicos do dano em fadiga. O conceito de energia virtual de deformação é utilizado para demonstrar a efetividade em se prever o modos de falha em fadiga ocorrendo em fases críticas. O material utilizado foi o aço Inoxidável 316 e os testes de torção foram combinados com tração e compressão. O Método de Energia Virtual de deformação é superior aos que são baseados na faixa de deformação equivalente para previsão da vida cíclica deste material. Este método também pode prever as características físicas da fadiga, como iniciação de trincas, modos de fratura e orientação de trincas. Ainda com relação ao método, o mesmo subestimou a fadiga sob torção, com tensão média compressiva. Alguns ajustes são necessários para o efeito compressivo na vida em fadiga. Akshantala e Talreja (2000) realizaram um estudo baseado em um modelo de micromecânica para previsão de vida de compósitos laminados. Neste trabalho a evolução do dano é baseado na micromecânica e é utilizado um critério de falha por fadiga semi-empírico. Os materiais laminados são compósitos de epóxi/vidro e epóxi/carbono. A conclusão é de que a distribuição de tensão cisalhante cúbica é melhor que a distribuição linear para 83 a previsão da evolução do dano e propriedades mecânicas do material laminado. 5.2 DETERMINAÇÃO DA SENSIBILIDADE AO ENTALHE ESTÁTICO PARA MATERIAL OBTIDO POR MP UTILIZADO EM BIELAS DE COMPRESSORES É comum a utilização de uma liga de aço obtida por MP para a fabricação de bielas em compressores herméticos de pequeno porte. Isto se deve ao fato de o processo proporcionar condições para se fabricar o componente já na sua forma final, sem necessidade de processos adicionais. Além disso, novos desenvolvimentos têm sido feitos para a utilização deste tipo de material em outros componentes, cada vez mais leves e com maior solicitação à fadiga. O componente possui duas regiões circulares de mancal unidas por uma alma, da qual é possível a fabricação de corpos de prova. Neste ensaio para verificar a sensibilidade ao entalhe estático deste material foram fabricados corpos de prova de flexão sem e com três níveis de entalhe. O material é uma liga Fe 0,5%C. É objetivo nesta análise, avaliar a sensibilidade ao entalhe estática, tal como definida pela Equação (3), com 𝐾𝑡𝑒𝑠𝑡 definido pela equação (5), ambas no capítulo 2. Os corpos de prova foram propostos no formato de vigas, para ensaio de flexão, conforme Figura 47. Figura 47 – Exemplo de um dos corpos de prova com entalhe obtidos da biela para o ensaio de flexão. Fonte: produção do próprio autor. 84 O cálculo das tensões pode ser feito de forma analítica, conforme ilustrado na Figura 48 e eqs. (21) e (22). Figura 48 – Seção de um dos corpos de prova, indicando o perfil de tensão esperado, para o cálculo analítico. Fonte: Produção do próprio autor. 𝑀.𝑐 𝜎0 = 𝐼1 = 𝐼1 𝑏.(2𝑐)3 12 (21) (22) onde 𝑀 é o momento fletor resultante da aplicação do carregamento, 𝑐 é a distância da linha de centro da seção efetiva até a extremidade e 𝑏 é a largura do corpo de prova. Outra forma para se obter as tensões, tanto a nominal 𝜎0 , quanto a máxima 𝜎𝑚𝑎𝑥 , é através do uso do MEF, utilizando material elástico linear, com Módulo de Elasticidade 𝐸 = 139 𝐺𝑃𝑎 calculado utilizando a equação (19), utilizando uma densidade relativa 𝜌𝑟 = 0,873 e Coeficiente de Poisson 𝜈 = 0,25 para obtenção dos fatores de concentração de tensão geométrico 𝐾𝑡 , através de: 𝐾𝑡 = |𝜎𝑚𝑎𝑥 | |𝜎0 | (23) Os valores obtidos encontram-se na Tabela 10 e as ilustrações obtidas nesta simulação encontram-se no Anexo A. 85 Tabela 10 – Valores de 𝐾𝑡 obtidos via MEF para os corpos de prova da biela. 𝐾𝑡 numérico (MLE) 1 2,096 2,878 4,504 CP Sem entalhe 𝑟𝑒 = 5,0 𝑟𝑒 = 1,5 𝑟𝑒 = 0,5 Fonte: Produção do próprio autor. Os resultados obtidos no ensaio são mostrados na Tabela 11. Nesta tabela, 𝜎𝑢𝑡 (𝑐/𝑒) é a Tensão de Ruptura conforme equação (21) para os corpos de prova com entalhe e 𝜎𝑢𝑡 (𝑠/𝑒) é a Tensão de Ruptura para os corpos de prova sem entalhe. O desvio padrão é calculado considerando que cinco amostras de cada corpo de prova foram testadas. Em adição, 𝐾𝑡𝑒𝑠𝑡 é calculado utilizando a equação (5) e 𝑞𝑒𝑠𝑡 a equação (3), ambas descritas no Capítulo 2. Tabela 11 – Resultados para a sensibilidade ao entalhe estático obtidos no ensaio para o material da biela (5 amostras de cada corpo de prova). 𝜎𝑢𝑡 (𝑐/𝑒) CP 𝐾𝑡 Sem entalhe 1 435,8 𝑟𝑒 = 5,0 2,096 422,6 (desv. Padrão) 𝜎𝑢𝑡 (𝑠/𝑒) (desv. Padrão) (1,5) (10,9) 𝑟𝑒 = 1,5 2,878 416,7 𝑟𝑒 = 0,5 4,504 409,9 (12,1) (9,5) 435,8 (1,5) 𝐾𝑡𝑒𝑠𝑡 𝑞𝑒𝑠𝑡 1 0 1,031 0,028 1,046 0,024 1,063 0,018 Fonte: Produção do próprio autor. A Figura 49 apresenta o comparativo das tensões de ruptura obtidas para o material da biela testado, em função do fator de concentração de tensão geométrico. A utilização da equação 86 (21) para este cálculo é válida, considerando que o material apresenta muito pouca ductilidade. Em trabalhos futuros, uma avaliação considerando material não linear poderá adicionar uma perspectiva melhorada da análise. Figura 49 – Tensão de Ruptura obtida para os corpos de prova sem e com entalhe do material da biela, em teste de flexão. Tensão de Ruptura (MPa) 440 Teste Estático de Flexão 435 430 425 420 415 410 405 1 1,5 2 2,5 3 3,5 4 4,5 5 Fator de Concentração de Tensão Geométrico - Kt Fonte: Produção do próprio autor. A Figura 50 apresenta os resultados obtidos para o fator de sensibilidade ao entalhe estático. Sensibilidade ao entalhe estática - qest Figura 50 – Resultados de sensibilidade ao entalhe estático obtidos para o material da biela em teste de flexão. 0,035 Teste Estático de flexão 0,030 0,025 0,020 0,015 0,010 0,005 0,000 1 1,5 2 2,5 3 3,5 4 4,5 Fator de Concentração de Tensão Geométrico - Kt 5 87 Fonte: Produção do próprio autor. O que se pode observar neste teste é a baixíssima sensibilidade ao entalhe, conforme esperado. A Figura 39b apresenta valores da referência bibliográfica para ensaio de flexão reversa e no caso de uma densidade entre 6,8 e 6,9 g/cm3, como é o caso de bielas, o resultado para flexão reversa mostra para uma liga Fe-C que a amplitude de tensão nominal para 𝐾𝑡 = 1 é cerca de 30% maior do que para 𝐾𝑡 = 2,8. Para o caso de teste estático aqui apresentado, o valor foi de aproximadamente 5%. Além disso, o comportamento em relação ao fator de concentração de tensão é decrescente e apresenta o mesmo comportamento observado no gráfico da Figura 44. Esta constatação é fator motivador para a continuidade no estudo de fadiga deste tipo de material. 5.3 TESTES ESTÁTICOS DE TRAÇÃO PARA OUTRAS LIGAS DE AÇO OBTIDAS POR MP 5.3.1 Materiais Três tipos diferentes de aços foram obtidos na forma de amostras circulares. A partir destas, foram preparados corpos de prova para ensaio estático, com diferentes níveis de entalhe. O material também foi caracterizado em termos de sua composição (% de C e outros elementos) e também densidade e os resultados são apresentados na Tabela 12 e Tabela 13. Tabela 12 – Composição química avaliada para as amostras de aço obtidas por MP. Amostra %C %S 1 0,43 0,004 2 0,79 0,017 3 0,47 0,008 Fonte: Produção do próprio autor. %Ni %Si %Mn %P 0,052 0,022 0,021 0,0130 0,0095 0,0097 0,13 0,33 0,16 0,0058 0,012 0,013 88 Tabela 13 – Densidade avaliada para as amostras de aço obtidas por MP a serem ensaiadas. Método: Arquimedes Densidade do líquido utilizado: 0,78514 g/cm3 Amostra 1 2 3 Peso no ar [g] Peso imerso no líquido [g] Peso específico [g/cm3] 21,9645 22,3968 17,0434 19,8524 22,2775 22,5537 19,4442 19,8186 15,0758 17,5598 19,7049 19,9453 6,84 6,82 6,80 6,80 6,80 6,79 Peso específico médio [g/cm3] 6,83 6,80 6,79 Fonte: Produção do próprio autor. 5.3.2 Corpos de Prova Os corpos de prova foram dimensionados de tal forma a representarem uma faixa de concentração de tensão geométrica com quatro níveis. O tamanho dos corpos de prova foi definido de tal forma a ser possível a obtenção do maior número de peças a partir das amostras circulares (1, 2 e 3), conforme ilustrado na Figura 51. 89 Figura 51 – Formato das amostras de material obtido por MP e regiões das quais os corpos de prova para os ensaios foram extraídos. Fonte: Produção do próprio autor. Na Figura 52 apresenta o desenho do corpo de prova sem entalhe utilizado no ensaio estático. A forma dos corpos de prova, a relação entre suas dimensões e os parâmetros de usinagem dos mesmos seguiram as orientações da norma ABNT NBR ISO 68921:2013 (ISO, 2013). Os demais desenhos para os corpos de prova com entalhe são mostrados no Anexo B. 90 Figura 52 – Corpo de prova de tração sem entalhe fabricado a partir das amostras de aço obtidas por MP. 20 D 12 14 R3 Fonte: Produção do próprio autor. 5.3.3 Dimensional dos corpos de prova Uma amostra de cada um dos tipos de corpos de prova de cada material foi medida para verificar o dimensional geral das peças e também dos entalhes, conforme contido na Tabela 14. 91 Tabela 14 – Dimensional de uma peça de cada material e tipo de entalhe dos corpos de prova. Dimensões em [mm]. Material 1 2 3 Material 1 2 3 Material 1 2 3 Material 1 2 3 Entalhe 𝑟𝑒 = 5,0 𝑟𝑒 = 5,0 𝑟𝑒 = 5,0 Entalhe 𝑟𝑒 = 2,0 𝑟𝑒 = 2,0 𝑟𝑒 = 2,0 Entalhe 𝑟𝑒 = 1,1 𝑟𝑒 = 1,1 𝑟𝑒 = 1,1 Entalhe 𝑟𝑒 = 0,2 𝑟𝑒 = 0,2 𝑟𝑒 = 0,2 D 8,01 8,01 8,06 D 12 12 12 D 12 12 12 D 12 12 12 𝑟𝑒 5 5 5 d 𝑟𝑒 2 2 2 d 7,99 8,01 8,01 d 7,99 8,00 8,02 d 8,01 7,99 8,17 𝑟𝑒 1,1 1,1 1,1 𝑟𝑒 0,2 0,2 0,2 Fonte: Produção do próprio autor. Assim como feito anteriormente, o fator de sensibilidade ao entalhe estático conforme definido pela Equação (3) foi obtido para os diferentes materiais em função do fator de concentração de tensão geométrico 𝐾𝑡 . Este último foi obtido utilizando-se o MEF, utilizando material linear elástico. Os resultados do 𝐾𝑡 obtidos estão contidos na Tabela 15 e as imagens capturadas na simulação são apresentados no Anexo E. Os resultados obtidos nos ensaios são mostrados na Tabela 16. 92 Tabela 15 – Fator de concentração de tensão estático obtido para os corpos de prova. Entalhe 𝑫 𝒅 𝑫/𝒅 𝒓𝒆 /𝒅 𝑲𝒕 numérico (MLE) Sem 8 8 1 ∞ 1 𝑟𝑒 = 5,0 12 8 1,5 0,6250 1,375 𝑟𝑒 = 2,0 12 8 1,5 0,2500 1,785 𝑟𝑒 = 1,1 12 8 1,5 0,375 2,311 𝑟𝑒 = 0,2 12 8 1,5 0,0250 4,515 Fonte: Produção do próprio autor. Tabela 16 – Resultados de tensão nominal de ruptura e fator de sensibilidade ao entalhe estático obtido nos ensaios com corpos de prova de quatro ligas de aço obtido por MP. Material 1 𝒓𝒆 𝑲𝒕 𝝈𝒖𝒕 (𝒄⁄𝒆) 1 1,375 1,785 2,311 4,515 1 1,375 1,785 2,311 4,515 1 1,375 1,785 2,311 4,515 278,3 286,0 249,8 247,1 209,5 239,8 251,0 226,5 225,8 192,8 240,3 260,8 235,8 246,1 187,4 5,0 2,0 1,1 0,2 2 5,0 2,0 1,1 0,2 3 5,0 2,0 1,1 0,2 Fonte: Produção do próprio autor. 𝝈𝒖𝒕 (𝒔⁄𝒆) 278,3 239,8 240,3 𝑲𝒕 𝒆𝒔𝒕 𝒒𝒆𝒔𝒕 1,0 1,0 1,1 1,1 1,3 1,0 1,0 1,1 1,1 1,2 1,0 0,9 1,0 1,0 1,3 0,0 -0,1 0,1 0,1 0,1 0,0 -0,1 0,1 0,0 0,1 0,0 -0,2 0,0 0,0 0,1 93 A Figura 53 apresenta os resultados obtidos com este novo ensaio com corpos de prova feitos a partir de amostras de três materiais sem e com 4 níveis de entalhe. A curva tracejada é um ajuste dos pontos obtidos para os três materiais avaliados. Optou-se por considerar todos os pontos no ajuste, pois todos os três materiais possuem um percentual de carbono entre 0,4 e 0,8%, além do que as densidades são equivalentes. No gráfico é também apresentada a equação de regressão, assim como o valor de 𝑅 2 que de acordo com (Um manual de estatística, 2015) e (Macrodados, 2015), representa o grau de sucesso do ajuste realizado, sendo que, quanto mais próximo da unidade, melhor é o ajuste. Figura 53 – Variação da tensão nominal de ruptura para três ligas de aço em função do fator de concentração de tensão estático. Tensão de ruptura nominal (MPa) 300 Teste de tração 280 Material 1 (0,43% C) 260 Material 2 (0,79% C) Material 3 (0,47% C) 240 220 200 180 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0 4,5 5,0 Fator de concentração de tensão geométrico - Kt Fonte: Produção do próprio autor. A Figura 54 apresenta o resultado do fator de sensibilidade ao entalhe estático para os dados ajustados com os três materiais ensaiados. Os resultados encontrados assemelham-se aos 94 obtidos anteriormente em outro ensaio feito com o material de bielas e que consta na Figura 50 e com a mesma tendência de decréscimo desta propriedade na medida em que aumenta o fator de concentração de tensão geométrico observado na Figura 44. Como no caso anterior, percebe-se claramente que os materiais obtidos por MP ensaiados se mostram muito pouco sensíveis ao entalhe. A explicação para os baixos valores encontrados pode ser creditada à não linearidade do material. Dada a porosidade inerente ao mesmo, materiais obtidos por MP podem ter comportamento não linear para a curva tensão deformação, tal como ocorre para os ferros fundidos. No Capítulo 6 poderá ser verificado que a concentração de tensão é alterada em valor e posição quando se utiliza uma formulação não linear para a simulação do ferro fundido, em lugar da formulação linear elástica convencional. Figura 54 – Resultados de sensibilidade ao entalhe estático para as três ligas de aço ensaiadas. Fator de sensibilidade ao entalhe estático - qest 0,25 Teste de tração 0,20 0,15 0,10 0,05 0,00 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0 4,5 5,0 Fator de concentração de tensão geométrico - Kt Fonte: Produção do próprio autor. Conforme esperado para este tipo de material, observa-se a baixa sensibilidade ao entalhe. A Figura 39a apresenta valores 95 da referência bibliográfica para ensaio de flexão reversa e no caso de uma densidade entre 6,8 e 6,9 g/cm3, como é o caso das amostras testadas, o resultado para carga axial reversa mostra para uma liga Fe-Cu-C que a tensão alternada para 𝐾𝑡 = 1 é cerca de 100% maior do que para 𝐾𝑡 = 2,8. Para o caso de ensaio estático aqui apresentado, o valor foi de aproximadamente 21%, considerando a curva ajustada com todos os dados. É importante considerar que o comparativo é válido apenas no comportamento geral, pois no caso mencionado como referência temos a presença do cobre na liga. Este material difunde-se durante a sinterização, enquanto que nas amostras avaliadas, este componente não foi adicionado. Outro fator importante que não foi abordado é a forma das partículas de pó de Fe e C utilizadas na fabricação das amostras. A forma das partículas pode influenciar no resultado final. 5.4 ENSAIOS DE TORÇÃO REVERSA Para dar sequência ao trabalho iniciou-se a definição do ensaio de torção reversa, no sentido de avaliar agora a sensibilidade ao entalhe na forma de carregamentos cíclicos de torção, utilizando um equipamento desenvolvido e construído conforme descrito em (JOAQUIM, 2007). Em seu trabalho, o autor desenvolveu o equipamento de ensaio ilustrado na Figura 55. O mesmo equipamento foi utilizado também por Stryhalski (2011), para testes de formação e crescimento de trincas em materiais como Aço SAE 1020, Ferro Fundido Cinzento e Alumínio 6063. Também estudou os modos de falha desde o início da trinca até a ruptura final do corpo de prova para verificar os modos de falha, início e propagação da trinca macroscópica desses materiais. 96 Figura 55 – Equipamento de ensaio de fadiga por torção. 10 6 9 8 7 2 1 3 4 11 5 12 Fonte: (JOAQUIM, 2007). De acordo com Joaquim (2007), Todo o dispositivo é acionado por um motor elétrico (1). Para a transmissão de rotação de forma precisa, são utilizadas polias sincronizadoras (2) em conjunto com uma correia dentada (3), evitando assim qualquer problema de escorregamento, fornecendo uma frequência (rotação) ao conjunto idêntica a frequência do motor, ao mesmo tempo, isolando este conjunto de possíveis carregamentos indesejáveis em função da vantagem da transmissão por correia. Esta rotação é transmitida pela correia a um eixo conectado a uma coroa (4), onde a mesma possui um furo roscado em uma posição para ser fixado o parafuso com as arruelas (5). No mesmo eixo da coroa, é montada uma haste (6) que ligará o eixo da polia ao eixo do corpo de prova. Este conjunto formado pela haste, a polia e parafuso com arruelas, será o gerador do carregamento cíclico torcional, cuja magnitude de carregamento torcional dependerá da rotação da polia e da massa de desbalanceamento (parafuso e arruelas de massa conhecida) 97 formando a força centrífuga, multiplicada pela distância entre a linha de centro do eixo do corpo de prova e do eixo da coroa. O corpo de prova a ser testado (8) com a forma de uma ampulheta, possui em cada uma de suas extremidades cilíndricas um rebaixo plano. O sistema de fixação dos corpos de prova consiste em dois cilindros especialmente projetados (7) para permitir uma troca rápida, evitar o afrouxamento nas fixações e garantir a padronização de posicionamento do corpo de prova. São dois cilindros, sendo um deles ligando o corpo de prova e a haste da polia de desbalanceamento e o outro cilindro ligando o corpo de prova ao braço (10) da célula de carga. Todas estas ligações são feitas por uniões parafusadas. Cada um dos cilindros é apoiado por mancais (9) de rolamentos definidos para absorver qualquer carregamento, a não ser o torcional, mantendo somente um grau de liberdade livre, sendo ele o de rotação em torno do eixo do corpo de prova, conforme a norma ISO (ISO, 1977) estabelece. Desta forma, também se garante que somente carregamento torcional oriundo do desbalanceamento da polia será aplicado ao corpo de prova. Por fim o braço (10) da célula de carga ligando um cilindro do corpo de prova com a célula de carga (11) firmemente fixada na base serão parte do nosso sistema de medição, pois o braço fabricado separa o eixo do corpo de prova do eixo da célula de carga com uma distância conhecida. Esta distância, sendo uma constante pela qual se multiplica a força medida por uma célula de carga de tração no sistema de aquisição de dados, nos dará o torque aplicado na célula de carga. A definição da configuração dos corpos de prova de torção, conforme ilustrado na Figura 56 para a configuração sem entalhe, seguiu indicações feitas na mesma referência e norma ISO (ISO, 1977), com relação a proporcionalidade. No entanto utilizou-se em tamanho reduzido para possibilitar a extração do maior número de peças possível a partir da amostra conforme ilustrado na Figura 57. Desta forma, torna-se possível obter 9 corpos de prova a partir de cada amostra. A ilustração dos demais corpos de prova com entalhe podem ser visualizados no anexo F. 98 Figura 56 – Forma do corpo de prova sem entalhe para ensaio de torção reversa. Fonte: Produção do próprio autor. Figura 57 – Layout dos corpos de prova de torção extraídos da amostra de um dos materiais. Fonte: Produção do próprio autor. O material escolhido para esta avaliação foi o 2 (Fe – 0,79%C – 0,017%S – 0,022%Ni – 0,0095%Si – 0,33%Mn – 99 0,012%P), por possuir maior percentual de carbono, indicado para aplicação em componentes que necessitam de resistência a fadiga. A geometria dos corpos de prova para o ensaio de torção foi definida levando-se em consideração dois aspectos: o primeiro relacionado aos coeficientes de concentração estáticos ou geométricos desejáveis e o segundo, aspectos de manufatura dos mesmos. O fator de concentração de tensão estático poderia ser obtido a partir das relações descritas por Shigley, Mischke e Budynas (2005). No entanto preferiu-se neste caso utilizar o MEF para obter os valores de forma mais precisa, considerando material elástico. Os resultados obtidos via MEF são apresentados na Tabela 17. Tabela 17 – Fatores de concentração de tensão estático obtidos via MEF. CP Sem entalhe 1 2 3 4 5 𝑫 5 7,5 7,5 7,5 7,5 7,5 𝒅 𝒓𝒆 𝑫/𝒅 𝒓𝒆 /𝒅 5 5 5 5 5 0,6 0,4 0,2 0,15 0,1 1,5 1,5 1,5 1,5 1,5 0,12 0,08 0,04 0,03 0,02 𝑲𝒕 (MEF) 1 1,467 1,629 2,010 2,212 2,551 Fonte: Produção do próprio autor. 5.4.1 Avaliação das características dos corpos de prova A Tabela 18 apresenta a rugosidade medida para os corpos de prova sem entalhe. 100 Tabela 18 – Resultados da medição de rugosidade medida para os corpos de prova sem entalhe conforme norma ISO 97/JIS01 em Ra [µm]. CP 1ª med. 2ª med. 01 0,6 0,7 02 1,4 1,2 03 0,3 0,3 04 0,9 0,9 05 0,4 0,4 06 0,6 0,6 07 1,5 1,4 08 0,8 0,8 09 0,8 0,8 10 0,5 0,5 Fonte: Produção do próprio autor. Os corpos de prova foram medidos com relação às suas dimensões mais importantes, porque estas podem influenciar os resultados dos testes de fadiga. Os resultados são mostrados na Tabela 19. Tabela 19 – Medição das características geométricas importantes dos corpos de prova para o ensaio de torção reversa. Dimensões em [mm]. Corpo de Prova de Torção 01 Corpo de Prova de Torção 02 re D d 0,65 0,65 0,65 0,63 0,65 0,65 0,62 0,86 0,67 0,64 0,67 0,66 0,68 0,65 0,76 7,34 7,35 7,36 7,32 7,20 7,25 7,39 7,06 7,33 7,30 7,33 7,32 7,40 7,28 7,23 4,96 4,96 4,96 4,97 4,94 4,97 4,97 4,86 4,97 4,95 4,97 4,97 4,97 4,97 4,78 Média 0,67 Desv. Padrão 0,06 7,30 0,09 4,94 0,05 Amostra 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 Amostra 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 Média Desv. Padrão Corpo de Prova de Torção 03 re D d 0,53 0,56 0,55 0,51 0,54 0,52 0,5 0,5 0,52 0,56 0,52 0,54 0,51 0,51 0,52 0,51 0,53 0,53 0,02 7,44 7,46 7,38 7,35 7,45 7,40 7,36 7,42 7,39 7,44 7,42 7,35 7,40 7,43 7,42 7,42 7,39 7,41 0,03 4,97 5,05 4,95 4,96 4,97 4,96 4,96 4,97 4,96 4,96 4,95 4,95 4,95 4,97 4,96 4,96 4,97 4,97 0,02 re D d 0,20 0,33 0,26 0,20 0,26 0,20 0,20 0,21 0,20 0,19 0,27 0,19 0,19 7,40 7,31 7,41 7,37 7,38 7,37 7,40 7,38 7,39 7,24 7,41 7,26 7,38 5,02 5,03 5,03 5,03 5,03 5,03 5,03 5,04 4,65 5,05 5,02 5,02 5,03 Média 0,22 Desv. Padrão 0,04 7,36 0,06 5,00 0,11 Amostra 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 101 Corpo de Prova de Torção 04 Amostra 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 Média Desv. Padrão Corpo de Prova de Torção 05 re D d 0,40 0,42 0,50 0,50 0,43 0,50 0,48 0,50 0,52 0,48 0,54 0,50 0,48 0,53 0,48 0,04 7,38 7,37 7,37 7,49 7,24 7,37 7,38 7,46 7,41 7,42 7,38 7,36 7,38 7,42 7,39 0,06 4,98 4,98 4,99 5,00 4,98 4,98 4,99 4,99 4,99 5,00 5,15 4,98 4,99 5,16 5,01 0,06 re D d 0,09 0,08 0,10 0,09 0,09 0,10 0,08 0,08 0,10 0,10 0,09 0,10 0,09 7,33 7,30 7,30 7,37 7,40 7,30 7,35 7,31 7,34 7,26 7,33 7,18 7,33 4,99 5,00 4,98 5,20 5,00 5,00 4,98 5,00 5,00 4,98 5,00 4,98 4,99 Média 0,09 Desv. Padrão 0,01 7,32 0,05 5,01 0,06 Amostra 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 Fonte: Produção do próprio autor. 5.4.2 Análise de porosidade e microestrutura dos corpos de prova ensaiados. Foram enviadas ao Laboratório de Materiais 6 (seis) grupos de corpos de prova do material 2, identificados como 01, 02, 03, 04, 05 e 06 para avaliação microestrutural e de porosidade. As amostras foram seccionadas, embutidas e preparadas metalograficamente para observação em microscópio óptico. 5.4.2.1 Análise de porosidade O nível de porosidade foi obtido através de comparação de imagens tiradas no aumento de 100x sem ataque, utilizando a norma ASTM E 112 (ASTM, 1996). As imagens e níveis de porosidade encontrados podem ser vistos na Tabela 20. 102 Tabela 20 – Imagens de uma amostra de cada tipo de corpo de prova testado e níveis de porosidade encontrados. Avaliação de porosidade CP sem entalhe. Porosidade nível 3. CP com 𝑟𝑒 = 0,6𝑚𝑚. Porosidade nível 2. CP com 𝑟𝑒 = 0,4𝑚𝑚. Porosidade nível 2. CP com 𝑟𝑒 = 0,2𝑚𝑚. Porosidade nível 3. CP com 𝑟𝑒 = 0,15𝑚𝑚. Porosidade nível 2. Fonte: Produção do próprio autor. CP com 𝑟𝑒 = 0,1𝑚𝑚. Porosidade nível 3. 103 Pequena variação no nível de porosidade pode ser observada. Tal variação pode ser creditada à diferentes regiões da amostra inicial, que possuía formato cilíndrico com grande espessura (30 mm). Não foi realizado um mapeamento inicial da variação de densidade com a espessura, mas de acordo com o trabalho realizado por Cedergren, Melin e Lidström (2005), que relata que a porosidade é menor na superfície e maior no centro da peça. Desta forma pode-se supor que as amostras com menor porosidade foram retiradas mais próximas da superfície do corpo de prova inicial e as com maior porosidade do centro. 5.4.2.2 Análise de microestrutura A análise de microestrutura foi realizada também para as seis amostras, utilizando-se ataque com nital 4%. A Tabela 21 ilustra as metalografias encontradas. A análise de microestrutura revelou que a estrutura da matriz dos grãos do material é composta por regiões de perlita e ferrita. Entre corpos de prova não se constatou diferença significante, o que era esperado por terem sido extraídos de amostras equivalentes de aço obtido por MP. 104 Tabela 21 – Microestrutura de uma amostra de cada tipo de corpo de prova testado. Análise de microestrutura Ataque com Nital 4%. Aumento de 500x CP sem entalhe. CP com 𝑟𝑒 = 0,6𝑚𝑚. CP com 𝑟𝑒 = 0,4𝑚𝑚. CP com 𝑟𝑒 = 0,2𝑚𝑚. CP com 𝑟𝑒 = 0,15𝑚𝑚. CP com 𝑟𝑒 = 0,1𝑚𝑚. Fonte: Produção do próprio autor. 105 5.5 TRATAMENTO DOS DADOS DE TORÇÃO REVERSA 5.5.1 Distribuição probabilística De acordo com Portal Action (2015), assim como a distribuição de Weibull, a distribuição log-normal é muito usada para caracterizar tempo de vida de produtos e materiais. Isso inclui fadiga de metal, semicondutores, diodos e isolação elétrica. A função densidade de probabilidade da distribuição lognormal é dada por: 𝑓(𝑡) = 𝑡𝛿 1 √2𝜋 1 log(𝑡)−𝜂 )] , 𝑡 𝛿 ∙ 𝑒𝑥𝑝 [− 2 ( > 0, (24) onde 𝑡 é o tempo até a falha, 𝜂 e 𝛿 são respectivamente a média e desvio padrão da distribuição de log(𝑡). Além disso, a função densidade de probabilidade é válida para −∞ < 𝜂 < ∞ e 𝛿 > 0. A Figura 58 ilustra a distribuição log-normal para três diferentes valores de 𝛿. Figura 58 – Funções de densidade de probabilidade da distribuição log-normal com 𝜂 = 0. 3,0 2,5 f(t) 2,0 1,5 1,0 0,5 0,0 0 1 2 3 4 t 5 Fonte: Produção do próprio autor. Existe uma relação entre as distribuições log-normal e normal, similar à existente entre as distribuições de Weibull e de valor extremo. O logaritmo de uma variável que segue distribuição log-normal com parâmetros 𝜂 e 𝛿 tem distribuição normal com 106 média 𝜂 e desvio padrão 𝛿 . Essa relação significa que dados provenientes de uma distribuição log-normal podem ser analisados segundo uma distribuição normal, se considerarmos o logaritmo dos dados ao invés dos valores originais. A função de confiabilidade de uma distribuição log-normal é dada pela equação log(t ) R (t ) (25) na qual (.) é a função de distribuição acumulada de uma distribuição normal padrão. O tempo médio de vida (Mean Time to Failure – 𝑀𝑇𝑇𝐹) e a variância da distribuição log-normal ( 𝑉𝑎𝑟(𝑇) ) são dados, respectivamente, por: 𝑀𝑇𝑇𝐹 = 𝑒𝑥𝑝 (𝜂 + 𝛿2 2 ) 𝑉𝑎𝑟(𝑇) = 𝑒𝑠𝑝(2𝜂 + 𝛿 2 ) ∙ [𝑒𝑥𝑝(𝛿 2 ) − 1] (26) (27) O quantil 100 p% para o tempo 𝑡𝑝 da distribuição lognormal é dado pela expressão 𝑡𝑝 = exp(𝑧𝑝 𝛿 + 𝜂) (28) sendo 𝑧𝑝 o quantil 100-p% da distribuição normal padrão. Para a análise dos dados deste trabalho, estão sendo considerados os quantis para 5, 50 e 95%. O conceito de testes de vida ou de fadiga acelerados está sendo utilizado para o tratamento dos dados. Por convenção, a projeção de nível de tensão alternada é feita para o tempo de 107 ciclos para o cálculo do fator de concentração de tensão em fadiga por torção 𝐾𝑓𝑠 . Posteriormente, este fator é utilizado para obtenção do fator de sensibilidade ao entalhe em fadiga 𝑞𝑠 , conforme a Equação (7). Testes acelerados são aqueles em que a resposta de interesse é o “tempo até a ocorrência da falha”. O objetivo neste caso é obter curvas S–N correspondentes à 5, 50 e 95% de falha, 107 a partir dos dados. Com estas curvas, pode-se extrapolar os resultados obtidos nos testes para as condições normais de uso, ou para algum determinado ponto de interesse. No presente experimento, o fator de aceleração é a tensão alternada imposta aos corpos de prova através do equipamento descrito na seção 5.1. 5.5.2 Relação estresse-Resposta. O experimento é de forma geral sujeito a variações que podem ser decorrentes de problemas com o próprio equipamento e procedimentos utilizados. Também podem ser devido ao fato de não se poder controlar todas as fontes de variação, seja por desconhecimento das mesmas ou pela impossibilidade prática de se executar tal controle. Dadas estas condições de variação, pode-se dizer que o tempo até a falha 𝑇 (resposta) está relacionado com o estresse (variável de estresse) segundo um modelo dado pela equação (25). 𝑇 = 𝑓(𝑒𝑠𝑡𝑟𝑒𝑠𝑠𝑒) + 𝑒𝑟𝑟𝑜 (29) De acordo com Portal Action (2015), A função “𝑓” deve ter uma forma funcional tal que expresse uma tendência decrescente, com o aumento do estresse. Esta função é a “relação estresseresposta”. Deve também ter algum significado físico ou químico, sendo que os mais utilizados são Arrhenius e Potência Inversa. O primeiro é mais utilizado quando o fator de estresse é a temperatura, afetando propriedades químicas do material em teste. Já a Potência Inversa é mais apropriada segundo a literatura para descrever fenômenos mecânicos como fadiga de metais e por isso é o escolhido para tratamento dos dados obtidos neste ensaio. Supondo-se que a variável de estresse V seja positiva (como acontece na maioria das situações). A relação de potência inversa tem a forma da equação (30). 𝑇= 𝐴𝑚𝑎𝑡 𝑉 𝛽1 (30) 108 na qual 𝐴𝑚𝑎𝑡 e 1 são parâmetros característicos do produto, geometria, fabricação, método de teste, etc. Pode-se escrever ainda: 𝑙𝑜𝑔(𝑇) = 𝛽0 + 𝛽1 [−𝑙𝑜𝑔(𝑉)] (31) 𝑙𝑜𝑔(𝑇) = 𝛽0 + 𝛽1 𝑥 (32) nas quais 𝛽0 = 𝑙𝑜𝑔(𝐴) e 𝑥 = log(𝑉). Da expressão (31) deriva-se o fator de aceleração entre o tempo de falha 𝑇1 do nível de estresse 𝑉1 e o tempo de falha 𝑇2 no nível de estresse de referência 𝑉2 , dado por 𝐴𝑐 = (𝑉2 ⁄𝑉1 )𝛽1 (33) Finalmente, a utilização da relação estresse-resposta, em conjunto com o modelo probabilístico, através do aplicativo Action (Portal Action, 2015) fornece as previsões de nível de tensão cisalhante alternada para o número de ciclos aqui neste trabalho definido como 107. 5.5.3 Resultados obtidos nos ensaios de torção reversa Para cada configuração de entalhe, cerca de 20 amostras foram testadas, sendo que no total foram realizados 78 ensaios para este material. O conjunto de todos os dados obtidos no ensaio é ilustrado no gráfico da Figura 59. Pode ser observado neste gráfico, que existe uma dispersão acentuada dos resultados, indicando que um maior número de ensaios deverá ser necessário para aumentar a precisão da análise. Outrossim, a análise foi realizada para cada conjunto de dados obtidos para cada um dos tipos de entalhe ensaiados. Outra informação relevante a ser considerada é a decorrente dos ensaios de tração realizados, para os quais obteve-se um valor de resistência à tração sem entalhe da ordem de 260 à 280 MPa, segundo o gráfico da Figura 53. Considerandose o Círculo de Mohr para ensaio de tração simples, temos que neste tipo de ensaio, a tensão cisalhante máxima corresponde à metade da tensão normal máxima encontrada. 109 Desta forma, os valores de tensão cisalhante reversa para um ciclo, projeção das curvas S–N encontradas no eixo Y, não deveriam ser muito superiores ou inferiores à faixa compreendida entre 130 e 140 MPa. Trata-se portanto, de um critério para validação ou não do conjunto de dados. Figura 59 – Gráfico ilustrando a dispersão de todos os dados levantados neste ensaio. Tensão cisalhante reversa (MPa) 200 180 Sem entalhe (falha) 160 Sem entalhe (não falha) 140 re = 0,6 (falha) 120 re = 0,6 (não falha) 100 re = 0,4 (falha) re = 0,4 (não falha) 80 re = 0,2 (falha) 60 re = 0,2 (não falha) 40 re = 0,15 (falha) 20 re = 0,15 (não falha) 0 100 1.E+00 re = 0,1 (falha) 101 102 1.E+02 103 104 1.E+04 105 106 1.E+06 107 re = 0,1 (não falha) Ciclos Fonte: Produção do próprio autor. O tratamento dos dados obtidos foi realizado utilizando-se o aplicativo Action, versão 2.7, obtido do Portal Action (2015). O intuito da análise com este aplicativo é de se obter para o conjunto de dados, tanto os de falha quanto os de não falha, também conhecidos como run-outs uma curva característica de fadiga de tensão cisalhante reversa em função do número de ciclos. Uma vez que estamos tratando de um material poroso, não se caracterizará uma inflexão na curva e a projeção será feita até 107 ciclos, convenção utilizada no presente trabalho. A Figura 60a-f a seguir apresenta os resultados obtidos para os corpos de prova sem entalhe e com entalhes de 𝑟𝑒 = 0,6 ; 0,4 ; 0,2 ; 0,15 ; 0,1 mm, respectivamente. 110 Tensão Cisalhante Reversa (MPa) Figura 60 – Dados obtidos com corpos de prova sem entalhe e com entalhe e as curvas de quantis para 5 e 95% correspondentes. 300 CP Sem entalhe 250 5% 200 150 50% 95% 100 50 0 100 1,E+00 Falhas Não Falhas 101 1,E+01 102 1,E+02 103 1,E+03 104 1,E+04 105 1,E+05 106 1,E+06 107 1,E+07 106 1,E+06 107 1,E+07 Tensão Cisalhante Reversa (MPa) Ciclos 300 CP com entalhe 250 200 5% 150 50% 100 50 0 100 1,E+00 95% Falhas Não Falhas 101 1,E+01 102 1,E+02 103 1,E+03 104 1,E+04 Ciclos 105 1,E+05 Tensão Cisalhante Reversa (MPa) 111 300 CP com entalhe 250 200 5% 150 50% 100 50 0 100 1,E+00 95% Falhas Não Falhas 101 1,E+01 102 1,E+02 103 1,E+03 104 1,E+04 105 1,E+05 106 1,E+06 107 1,E+07 1,E+06 106 1,E+07 107 Tensão Cisalhante Reversa (MPa) Ciclos 300 CP com entalhe 250 200 5% 150 50% 100 50 0 1,E+00 100 Série4 Não Falhas 1,E+01 101 95% 1,E+02 102 1,E+03 103 1,E+04 104 1,E+05 105 Tensão Cisalhante Reversa (MPa) Ciclos 300 CP com entalhe 250 50% 200 150 5% 95% 100 50 0 1,E+00 100 Falhas Não Falhas 1,E+01 101 1,E+02 102 1,E+03 103 1,E+04 104 Ciclos 1,E+05 105 1,E+06 106 1,E+07 107 112 Tensão Cisalhante Reversa (MPa) 300 CP com entalhe 250 200 5% 50% 95% 150 100 50 0 100 1,E+00 Falhas Não Falhas 101 1,E+01 102 1,E+02 103 1,E+03 104 1,E+04 105 1,E+05 106 1,E+06 107 1,E+07 Ciclos Fonte: Produção do próprio autor. Utilizando-se o critério proposto, são considerados válidos os resultados para entalhes com 𝑟𝑒 = 0,6 ; 0,4 ; 0,2 𝑒 0,1 𝑚𝑚. Assim sendo, projetou-se os dados das curvas S–N, para 107 ciclos e realizou-se a análise de sensibilidade ao entalhe. 5.5.4 Comparativo de dados de fadiga para 107 ciclos O comparativo foi feito para este número de ciclos, considerando os modelos utilizados da seção anterior para o ajuste de dados. Os dados obtidos para resistência à fadiga em 107 ciclos são apresentados na Tabela 22. Tabela 22 – Resultados obtidos para o ensaio de torção dinâmica. Entalhe 𝒓𝒆 𝑲𝒕𝒔 𝑺𝒇𝒔 (95%) [MPa] 𝑺𝒇𝒔 (50%) [MPa] 𝑺𝒇𝒔 (5%) [MPa] Sem Tipo 1 Tipo 2 Tipo 3 Tipo 4 Tipo 5 Sem 0,60 0,40 0,20 0,15 0,10 1,00 1,47 1,63 2,01 2,21 2,55 57 68 73 50 65 63 71 93 92 66 78 72 90 128 115 88 93 82 Fonte: Produção do próprio autor. A Figura 61 apresenta os resultados de resistência à fadiga projetados para 107 ciclos, em função do fator concentração de 113 tensão cisalhante 𝐾𝑡𝑠 . Tal como foi feito para os dados de tração, um ajuste foi feito para os dados considerados válidos, de tal forma a se obter as curvas de resistência à tração em função do fator de concentração de tensão geométrico. A Figura 62 apresenta os resultados de sensibilidade ao entalhe na fadiga de torção em função do fator de concentração de tensão geométrico. A primeira observação a ser feita é com relação ao formato da curva de sensibilidade ao entalhe na fadiga, que se apresenta decrescente na medida em que se aumenta o fator de concentração de tensão geométrico. Este comportamento é equivalente ao encontrado na referência e apresentado na Figura 44 Tensão cisalhante reversa (MPa) Figura 61 – Gráfico de resistência à fadiga projetado para 107 ciclos, resultante da análise realizada, em função do fator de concentração de tensão geométrico 𝐾𝑡𝑠 . 160 Ensaio de torção reversa 5% 140 120 50% 100 80 95% 60 40 20 0 1 1,2 1,4 1,6 1,8 2 2,2 2,4 Fator de concentração de tensão geométrico - Kts Fonte: Produção do próprio autor. 2,6 2,8 114 Fator de sensibilidade ao entalhe em fadiga na torção - qs Figura 62 – Variação do fator de sensibilidade ao entalhe na fadiga de torção em função do fator de concentração de tensão 𝐾𝑡𝑠 . 0.6 0.5 0.4 0.3 0.2 0.1 0 1 1.5 2 2.5 3 Fator de concentração de tensão geométrico na torção - Kts Fonte: Produção do próprio autor. Com relação aos valores, em geral o que se observa é uma sensibilidade ao entalhe na faixa de 0,5 para fadiga na torção. Estes valores são superiores aos encontrados no ensaio de flexão e de tração estáticos com entalhe, para os quais obteve-se respectivamente 0,025 e 0,15. Do gráfico da Figura 44, é possível obter-se o fator de sensibilidade ao entalhe em fadiga, para 𝐾𝑡 = 2,8, como sendo 0,14 em ensaio de flexão para liga Fe-Cu-C e FeCu. Já para carregamento axial da liga Fe-Cu-Ni e Fe-P, o valor calculado é 0,29. Por ser maior para o presente trabalho, o fator de sensibilidade ao entalhe na torção obtido para a liga Fe-C ensaiada, leva à recomendação de que no projeto de componentes, considere-se fatores entre 0,25 e 0,5. Há de se tomar em consideração também o fato de que as ligas que possuem cobre em sua composição podem ter seu comportamento diferenciado em relação à liga ensaiada, uma vez que o cobre se difunde entre as partículas de ferro e carbono durante a sinterização. De qualquer forma, dada a dispersão obtida nos ensaios, é recomendável aumentar o número de testes. Outro ponto 115 importante, é a avaliação da concentração de tensão geométrica utilizando material não linear. 116 117 6 FERRO FUNDIDO E SUAS PROPRIEDADES Este capítulo é focado em ferros fundidos e se insere no contexto da presente tese pelo fato de que estes tipos de materiais possuem em sua matriz células de grafita, interconectadas ou não. Inicialmente apresenta-se um sumário sobre as características destes tipos de materiais, suas propriedades mecânicas e fatores que influenciam as mesmas durante a fabricação. Em seguida, os resultados de ensaios de tração, assim como as curvas médias ajustadas obtidas para Tensão Deformação. É feita também uma simulação considerando material linear e não linear do ensaio de tração para analisar a concentração de tensão estática ou geométrica dos corpos de prova. Uma definição muito interessante para os ferros fundidos é a elaborada por Guesser (2009). Com base no diagrama de equilíbrio ferro carbono, pode-se definir ferro fundido como uma liga, onde o carbono possui teores maiores que 2%, apresentando-se na forma de carbono combinado e carbono grafítico. Assim o ferro fundido é considerado uma liga ternária FeC-Si, uma vez que o silício aparece naturalmente junto com o carbono, muitas vezes em porcentagem similar ou maior que o próprio carbono. Podem conter ainda Mn, S e P ou outros elementos de liga diversos, caracterizados pelo fato do teor de C ser maior que 2%. 6.1 FATORES DETERMINANTES NAS PROPRIEDADES MECÂNICAS Durante a solidificação o ferro fundido apresenta geralmente uma fase pró-eutética (austenita, grafita) e que se completa com uma solidificação eutética (austenita + grafita ou austenita + carbonetos). Nos ferros fundidos com grafita, a microestrutura apresenta-se como uma matriz similar aos aços (ferrita, perlita, martensita, etc.) e partículas ou um esqueleto de grafita. A grafita possui resistência mecânica muito baixa, de modo que, sob o enfoque de propriedades mecânicas, a sua presença pode ser entendida como uma descontinuidade da matriz, exercendo um efeito de concentração de tensões, sendo que a 118 forma e distribuição possuem profundo efeito sobre as propriedades mecânicas. Segundo Guesser, na forma esférica o fator de concentração de tensões causado pela grafita é de 𝜎𝑚𝑎𝑥 /𝜎0 ~1,7, enquanto que, quando em formas agudas (grafita em veios) o efeito de concentração de tensões é mais alto e de 𝜎𝑚𝑎𝑥 /𝜎0 ~5,4. Este ponto será novamente abordado mais à frente nas análises feitas em mesoescala. A Figura 63, apresenta de forma gráfica, a diferença existente entre os efeitos de concentração de tensão nas proximidades de grafitas na forma esférica e na forma de veios. Figura 63 – (a) Efeito de concentração de tensão na proximidade de um grão de grafita esférica. (b) Mesmo efeito na extremidade de uma lamela grafita, na forma de veios. Fonte: Produção do próprio autor. Outro fator determinante nas propriedades mecânicas dos ferros fundidos é sua matriz metálica. Uma matriz constituída de ferrita resulta em baixos valores de resistência mecânica associados a altos valores de ductilidade e tenacidade. Já uma matriz constituída de perlita irá resultar em bons valores de resistência mecânica e valores relativamente baixos de ductilidade. A mistura das duas matrizes resulta em diferentes classes de ferros fundidos, com diferentes combinações de propriedades, cada qual adequada para uma aplicação específica. Segundo Guesser, A obtenção de estruturas de martensita revenida ou austenita resulta em classes de ferro fundido de alta resistência. A Figura 64 ilustra os dois tipos de matrizes mais encontradas nos ferros fundidos. 119 Figura 64 – Tipos de matriz metálica em ferros fundidos. (a) Ferrita (100x) e (b) perlita (1.000x). Fonte: (GUESSER, 2009). 6.2 TIPOS DE FERRO FUNDIDO Segundo Guesser, os ferros fundidos são classificados de acordo com o formato da grafita na matriz metálica. O ferro fundido cinzento caracteriza-se por apresentar a grafita na forma de veios. Apesar de aparecer de forma isolada na metalografia, constituise num esqueleto contínuo em cada célula eutética. A matriz pode ser ferrítica ou mais comumente perlítica e cobrem uma faixa de resistência entre 100 a 400 MPa (mais comum de 150 a 300 MPa). A Figura 65 apresenta a microestrutura típica de ferro fundido cinzento classe FC250, com a grafita distribuída na forma de veios. 120 Figura 65 – Microestrutura de ferro fundido cinzento FC250, revelando a estrutura da grafita. Fonte: (Materiais de construção mecânica, 2015) A Tabela 23 apresenta esquematicamente as diversas classes do ferro fundido cinzento e o efeito em características importantes para diferentes tipos de aplicação. Tabela 23 – Representação esquemática das características das diversas classes do ferro fundido cinzento. Classe FC200 FC250 FC300 FC350 FC400 Resistência Mecânica Módulo de Elasticidade Capacidade de amortecimento de vibrações Resistência a altas temperaturas Resistência ao choque térmico Dureza Resistência ao desgaste Usinabilidade Acabamento superficial em superfícies usinadas Fundibilidade Custo FC100 FC150 Fonte: (GUESSER, 2009). 121 Outro tipo de ferro fundido largamente utilizado pela indústria é o nodular. Este tipo de material apresenta a grafita na forma de nódulos. A boa ductilidade é uma propriedade importante deste material, sendo que com matriz ferrítica possui Limite de Ruptura entre 380 a 450 MPa com alongamento entre 10 a 22%. Com matriz perlítica o Limite de Ruptura pode atingir até 900 MPa com alongamento de 2%. A Figura 66 mostra a microestrutura típica de um ferro fundido nodular. Figura 66 – Microestrutura de ferro fundido nodular. Fonte: (Materiais de construção mecânica, 2015) A Tabela 24 apresenta esquematicamente as diversas classes do ferro fundido nodular e o efeito em características importantes para diferentes tipos de aplicação. O ferro fundido nodular pode se apresentar também na forma austemperado e ligado. Neste caso a matriz se apresenta na forma de ausferrita, obtida pelo processo de austêmpera. Este tipo de tratamento proporciona altos níveis de resistência mecânica (850 à 1300 MPa), com boa ductilidade (2 à 10%). O ferro fundido nodular ligado Si/Mo e austeníticos, ligados ao Ni são muito empregados na indústria automobilística. 122 Tabela 24 – Representação esquemática das características das diversas classes do ferro fundido nodular. FE38017 FE42012 FE50007 Classe FE60003 FE70002 FE80002 FE90002 Limite de Resistência, Limite de Escoamento Alongamento Limite de Fadiga Resistência ao Impacto Dureza Resistência ao desgaste Usinabilidade Resposta à Têmpera Superficial Custo Fonte: (GUESSER, 2009). Uma outra classificação é o ferro fundido maleável, obtidos por tratamento térmico. Se o processo for de grafitização, obtémse o ferro maleável preto, no qual a grafita apresenta-se em forma de agregados, sendo a matriz ferrítica, perlítica ou de martensita revenida. As classes de resistência vão de 300 a 700 MPa, com alongamento de 12 a 2%. Se o processo utilizado for de descarbonetação obtêm-se o ferro maleável branco, com baixo teor de carbono e boa soldabilidade na camada descarbonetada. O ferro fundido também pode ser produzido na forma vermicular. Neste caso a grafita se apresenta predominantemente em forma de vermes (compacta). A matriz pode ser ferrítica, perlítica ou combinação destes microconstituintes. As propriedades mecânicas entre o ferro cinzento e nodular são mostradas na Tabela 25, logo após a Figura 67 que ilustra a microestrutura do ferro fundido vermicular. 123 Figura 67 – Microestrutura do ferro fundido vermicular. Grafita predominantemente em forma de vermes, com alguns nódulos. 5% nodularidade, sem ataque. 100X. Fonte: (GUESSER, 2009). Tabela 25 – Comparativo de propriedades mecânicas principais entre o ferro fundido cinzento, vermicular e nodular. Propriedade Limite de resistência Limite de escoamento 0,2 Módulo de Elasticidade Alongamento Limite de fadiga – flexão rotativa Dureza Condutividade térmica Amortecimento de vibrações Fonte: (GUESSER, 2009). Cinzento 55% Vermicular 100% Nodular 155% -- 100% 155% 75% 100% 110% 0% 100% 200% 55% 100% 125% 85% 100% 115% 130% 100% 75% 285% 100% 65% 124 6.3 METALURGIA DOS FERROS FUNDIDOS O processo de solidificação do ferro fundido pode ser explicado tomando-se como exemplo um ferro fundido cinzento com 3,4%C, à temperatura de 1400°C. A solidificação inicia-se cerca de 1260°C com a formação das primeiras dendritas de austenita. De acordo com o diagrama de fases, estas dendritas apresentam teor de carbono de aproximadamente 1,5% e seu crescimento rejeita carbono para a fase líquida. Com a diminuição da temperatura, aumenta a quantidade de austenita formada cuja composição altera-se em direção a “E”, conforme ilustrado na Figura 68, com uma amplificação da região de interesse na Figura 69. A composição do líquido movimenta-se em direção a “C”. Na temperatura de 1153°C a austenita tem composição de 2,0%C e o líquido está com 4,3%C. Pela regra da alavanca, a composição de fases é de 63% de austenita e 37% de líquido. Esta é a temperatura eutética e abaixo da mesma o líquido se transforma em dois sólidos simultaneamente: Austenita e Grafita. Figura 68 – Diagrama de equilíbrio Ferro-Carbono. Fonte: (PIESKE et al., 1976). 125 Figura 69 – Exemplo de solidificação de ferro fundido com 3,4%C. Fonte: (PIESKE et al., 1976). 6.4 MATRIZ FERRÍTICA X PERLÍTICA Após a solidificação, o resfriamento resulta em diminuição do teor de carbono dissolvido na austenita. À 723°C a austenita tem cerca de 0,7% de carbono dissolvido. Nesta temperatura ocorre a transformação eutetoide, em que um sólido se transforma em outros dois sólidos simultaneamente. No caso de uma reação eutetoide estável, a austenita se transforma em ferrita + grafita. Tal situação ocorre em temperaturas mais altas, com distâncias de difusão maiores e a grafita se deposita sobre as partículas existentes. Já no caso de uma reação eutetoide metaestável, a austenita se transforma em ferrita + cementita (perlita). Esta transformação ocorre em temperaturas mais baixas, ocorrendo a difusão do carbono apenas na austenita em frente às lamelas de ferrita que estão crescendo. A composição química tem profundo efeito sobre estas duas reações eutetoides. Alguns elementos favorecem a formação de matriz ferrítica como o caso do silício (Si) que aumenta a distância entre as temperaturas eutetoides estável e metaestável, promovendo a reação estável. Outros elementos favorecem a 126 formação de matriz perlítica. O manganês (Mn), cromo (Cr) e vanádio (V) reduzem a distância entre as temperaturas eutetoide estável e metaestável promovendo a reação metaestável. Já o estanho (Sn), cobre (Cu) e antimônio (Sb) dificultam a deposição do carbono sobre a grafita, também promovendo a reação metaestável. A velocidade de resfriamento e número de nódulos ou ramificação da grafita lamelar também tem sua influência sobre a transformação. Uma velocidade mais baixa favorece a reação eutetóide estável e o número de nódulos ou ramificação da grafita lamelar condiciona as distâncias de difusão para ocorrência de reação eutetoide estável. 6.5 CARBONO EQUIVALENTE Ferros fundidos são ligas complexas que contém além do Fe e C, vários outros elementos de liga e impurezas. Para levar em conta o efeito destes constituintes no diagrama Fe-C, utilizase o conceito de carbono equivalente 𝐶𝐸 e Grau de Saturação 𝐺𝑆. O carbono equivalente considera os efeitos dos elementos químicos sobre o deslocamento dos pontos importantes do diagrama de equilíbrio Fe-C e é dado pela relação: CE C ( Si P ) 3 (34) O grau de saturação avalia o quanto a composição química se afasta da composição eutética, considerando então os vários elementos químicos (PIESKE et al., 1976). Esta característica é dada pela equação. GS %C % Si % P 4,3 3 3 (35) 127 6.6 GRAFITA LAMELAR X NODULAR A grafita tem estrutura hexagonal e pode crescer em dois planos – Basal e Prismático, conforme Gruzlesky (2000) Figura 70 e McSwain e Bates (1975) na Figura 71. Em ligas Fe-C puras a direção preferida para crescer é no plano basal que tem baixa energia interfacial com o líquido. O resultado do crescimento no plano basal é a grafita na forma nodular. Elementos tenso ativos (S, O) tendem a ser absorvidos no plano prismático reduzindo sua energia interfacial. A grafita passa então a crescer neste plano na forma lamelar. Para se produzir o ferro fundido na forma nodular passa a ser importante a adição do magnésio (Mg) – forte desoxidante e dessulfurante. Figura 70 – Estrutura hexagonal da grafita. O crescimento preferencial na direção C (plano basal) resulta em grafita nodular, enquanto que o crescimento na direção A (planos prismáticos) produz grafita lamelar. Fonte: (GRUZLEZKI et al., 2000). 128 Figura 71 – Esquema do crescimento da grafita em veios e em nódulos. Fonte: (McSWAIN; BATES, 1974). 6.7 GRAFITA X CARBONETOS (INOCULAÇÃO) O processo de solidificação exige um certo afastamento da condição de equilíbrio para que a nucleação tenha início. Nos ferros fundidos ao invés de se formar a grafita, existe a possibilidade de se formar a cementita (Fe3C), fase de alta dureza. A cementita prejudica a usinabilidade da peça. A ferramenta que o fundidor dispõe é a inoculação – adição de aditivos que formam partículas sobre as quais a grafita pode se precipitar, reduzindo-se gastos com energias de superfície. Os inoculantes podem afetar as propriedades mecânicas, seja pelo aumento do número de nódulos (FoFo nodular) seja evitando a formação da grafita de super resfriamento associada a matriz ferrítica, de baixa resistência (FoFo cinzento). Jögren (2007) estudou a influência da grafita no comportamento de deformação elástica e plástica de ferros fundidos. Segundo o autor, o teor e morfologia da grafita presente nos ferros fundidos afeta suas propriedades. Em ferros fundidos lamelares, as propriedades mecânicas são baixas enquanto que a condutividade térmica é alta. Já em ferros fundidos nodulares, as propriedades mecânicas são altas e a condutividade térmica é baixa. O autor estudou dois grupos de materiais. Um com diferentes conteúdos de grafita e o segundo com diferenças na 129 morfologia. O autor correlaciona as propriedades com aspectos micro estruturais observados e são utilizados ensaios de tração e emissividade acústica para estudar a deformação. A Figura 72 mostra as três morfologias típicas da grafita em ferros fundidos. Figura 72 – Morfologias típicas da grafita em ferros fundidos. Estrutura lamelar – FoFo cinzento Estrutura de vermes – FoFo vermicular Estrutura nodular – FoFo nodular Fonte: (JÖGREN, 2007). A Figura 73 apresenta a matriz em duas formas típicas de ferro fundido. Figura 73 – Dois tipos de matriz típicas do ferro fundido. Matriz perlítica – Ataque com Nital 2% Fonte: (JÖGREN, 2007). Cementita livre (fase branca) – Ataque com Nital 10% 130 O interesse particular de Jögren foi com relação ao ferro fundido compacto (branco) utilizado em anéis de pistão. A fase cementita introduz o benefício de resistência ao desgaste. O autor aponta que o crescimento natural da grafita na fase líquida se dá na forma esferoidal. Já o crescimento na forma lamelar ou compactada é um padrão, modificado de crescimento e o que modifica este padrão é a presença de modificadores como oxigênio e enxofre através de mecanismo de absorção na superfície. Como já foi dito anteriormente, as diferentes morfologias encontradas nos ferros fundidos são obtidas através de parâmetros como: • • • • • Inoculação; Tratamento do fundido; Composição química; Taxa de solidificação e Tratamento térmico. Com relação a grafita formada durante a solidificação, suas propriedades mecânicas são dependentes também da direção de solidificação na qual ocorre. Para o Módulo de Elasticidade, valores na faixa de 4,17 a 303 GPa são encontrados na literatura. Utilizando nanoindexação Fukumasu et al. (2005) encontrou valores de 23 ± 3 GPa. Dryden e Purdy (1989) mediram o Módulo de Elasticidade para as diferentes direções cristalográficas, conforme ilustrado na Figura 70. Na direção do Plano Basal “A”, o valor encontrado foi de 1060 GPa, enquanto que na direção ortogonal ao mesmo “C”, o valor foi de 0,18 GPa. Trata-se de uma diferença significativa e a razão para a mesma reside no fato de que as forças atômicas no plano são ligações covalentes, enquanto que as forças entre planos cristalográficos são forças de Van der Waals. A resistência a tração é dada em vários trabalhos como sendo entre 20 e 45 GPa. A quantidade e forma da grafita afetam a deformação plástica do ferro fundido. Quanto mais grafita, menor a resistência mecânica. A grafita na forma lamelar leva a comportamento de deformação não linear. Com relação à matriz, que pode ser ferrítica ou perlitica, as propriedades do fundido podem também ser modificadas modificando-se as velocidades de resfriamento e alterando-se a 131 distância interlamelar da perlita. Todos os ferros fundidos contem concentrações relativamente altas de Si (1-3% em massa). Isto aumenta o potencial de grafitização. A adição de silício (Si) também aumenta a resistência de ferros fundidos de matriz ferrítica, permitindo maior refino de grão. Para cada 1% de Si adicionado na matriz ferrítica, a resistência a tração aumenta aproximadamente 45 MPa. O Módulo de Elasticidade do aço (200 a 210 GPa) pode ser atribuído aos diferentes tipos de matriz do ferro fundido. Para correlacionar a fase da grafita com as propriedades mecânicas, as partículas de grafita são caracterizadas de acordo com a forma, por vários parâmetros. Os mais utilizados são Circularidade, Nodularidade e Razão de Aspecto (RA). A Circularidade é dada pela relação a seguir (DRYDEN; PURDY, 1989): Circularidade 4 A I 2 max (36) onde 𝐼𝑚𝑎𝑥 é o máximo comprimento interceptado de uma partícula de grafita e 𝐴 é a área da partícula na seção. A circularidade total é calculada como a média da circularidade de todas as partículas estudadas na seção. O ferro lamelar por exemplo possui circularidade inferior à 0,25 e partículas interconectadas. Já o ferro compactado possui circularidade entre 0,25 e 0,60 e partículas interconectadas. Finalmente, o ferro nodular possui circularidade maior que 0,60 com partículas discretas e não interconectadas. O outro parâmetro é a Nodularidade, a qual é definida pela relação (37). 𝑁𝑜𝑑𝑢𝑙𝑎𝑟𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 = ∑ 𝐴𝑛ó𝑑𝑢𝑙𝑜𝑠 +0,5.∑ 𝐴𝑖𝑛𝑡𝑒𝑟𝑚𝑒𝑑𝑖á𝑟𝑖𝑜𝑠 ∑ 𝐴𝑝𝑎𝑟𝑡í𝑐𝑢𝑙𝑎𝑠>10𝜇𝑚 (37) na qual 𝐴 é a área correspondente à cada parcela da microestrutura. Para ferros compactados a nodularidade varia entre 0 e 10%. Para ferros nodulares a nodularidade se aproxima de 100%. Finalmente os ferros lamelares possuem nodularidade de 100%. 132 O terceiro parâmetro a ser considerado é a Razão de Aspecto da grafita na matriz. Trata-se da relação entre a maior e menor dimensão da grafita, conforme indicado na Figura 74. E a propriedade em si é definida pela relação (38). Figura 74 – Ilustração da razão de aspecto da grafita. Fonte: Produção do próprio autor. 𝑅𝐴 = 𝑎⁄𝑏 6.8 (38) DEFORMAÇÃO DE FERROS FUNDIDOS De acordo com Jögren (2007), a deformação de ferros fundidos está relacionada a capacidade de acomodar 4 componentes de deformação, listadas na Tabela 26. Num teste de tração de um ferro fundido, a deformação plástica inicia-se imediatamente. Não há resposta elástica confiável. Este comportamento faz o Módulo de Elasticidade inaplicável. A Figura 75 ilustra os quatro tipos de deformação que a matriz povoada de grafita sofre. Tabela 26 – Tipos de deformação de ferros fundidos. Componente 1 2 3 4 Deformação Elástica pura da matriz Plástica da matriz em pontos de concentração de tensão Reversível devido a abertura das cavidades das grafitas Permanente associada com a abertura adicional das cavidades Fonte: (JÖGREN, 2007). 133 Figura 75 – Ilustração mostrando os quatro tipos de deformação que o ferro fundido sofre. 180 160 Tensão [MPa] 140 120 100 Componente de deformação 3 80 60 40 20 Componente de deformação 2 e 4 0 0.000 0.002 Componente de deformação 1 0.004 0.006 Deformação [mm/mm] Fonte: (JÖGREN, 2007). A determinação de um Módulo de Elasticidade aproximado pode ser feita através de um gráfico hiperbólico ilustrado na Figura 76. Neste tipo de gráfico, a relação Deformação/Tensão é correlacionada com a deformação. O platô que aparece no gráfico pode ter um incremento leve devido à deformação plástica localizada na interface matriz/grafita. 134 Figura 76 – Relação Deformação/Tensão X Deformação para diferentes tipos de ferro fundido. Fonte: (JÖGREN, 2007). A partir desta correlação define-se o Módulo Tangente 𝑀𝑇 , correspondente à relação Tensão/Deformação (JÖGREN, 2007). Utilizando-se este método, pode-se definir uma boa aproximação para a região elástica e para um Módulo de Elasticidade equivalente a ser utilizado em análises numéricas. De acordo com o gráfico ilustrado na Figura 77, que correlaciona o Módulo Tangente com a tensão, é possível extrair os Módulos de Elasticidade para os três principais tipos de ferro fundido. 135 Figura 77 – Relação do 𝑀𝑇 Tensão para os três principais tipos de ferro fundido. Fonte: (JÖGREN, 2007). Módulos de Elasticidade equivalentes: FoFo Cinzento FoFo Compacto FoFo Nodular 88GPa 135GPa 170GPa 136 6.9 COMPILAÇÃO DE RESULTADOS DO TESTE DE TRAÇÃO ESTÁTICA EM CORPOS DE PROVA DE MATERIAL FUNDIDO USADO EM EIXOS DE COMPRESSORES HERMÉTICOS Compressores herméticos de pequena capacidade utilizam normalmente ferro fundido cinzento tipo FC25, o qual de acordo com a norma ABNT EB-126 (1986) para barras brutas de 20 mm, possui resistência mínima de tração equivalente a 28 kgf/(mm2) (274,4 MPa). O objetivo deste primeiro ensaio foi o de determinar experimentalmente a sensibilidade ao entalhe em ensaio estático, deste material utilizado em dois modelos de eixo utilizados em compressores. Tais modelos serão denominados para fins de referência, de modelo “A” e modelo “B”, conforme ilustrado na Figura 78. Figura 78 – Modelos de eixo de ferro fundido cinzento avaliados no presente trabalho. Modelo A 29 77 20 18 10,5 40 Modelo B 40 18 10 20 Fonte: Produção do próprio autor. 76 28 137 A principal diferenciação entre os dois modelos está no tamanho do contrapeso. O modelo “B” possui um contrapeso com mais massa do que o modelo “A”. Os materiais utilizados foram obtidos a partir do processo normal de fundição. Os moldes possuem normalmente 40 cavidades e existem duas regiões que de acordo com a simulação de preenchimento realizada com o aplicativo Magma, podem apresentar diferentes características no final do processo. A Figura 79 ilustra um molde e duas regiões doravante denominadas de “quente” e “fria”, sendo que a região “quente” é próxima do canal de enchimento apresentando um resfriamento mais lento e a região “fria” fica nas extremidades, apresentando um resfriamento mais rápido. Figura 79 – Distribuição das peças no molde de fundição. Região quente 1 Região fria Fonte: Produção do próprio autor. A resistência a tração é influenciada pela disposição das peças no molde. De acordo com a simulação realizada com o 138 mesmo aplicativo, as peças que sofrem um resfriamento mais rápido (cavidades frias), apresentam uma resistência mecânica superior à das peças que apresentam um resfriamento mais lento (cavidades quentes). A Figura 80 ilustra o resultado de uma simulação realizada utilizando-se o programa citado anteriormente. Figura 80 – Ilustração de simulação de preenchimento feita por Magma, com resultados de resistência a tração previstos. Fonte: Produção do próprio autor. Em função do que foi exposto, 4 configurações foram escolhidas para as análises adiante: Modelo “A” da cavidade fria................(A-frio) Modelo “A” da cavidade quente..........(A-quente) Modelo “B” da cavidade fria................(B-frio) Modelo “B” da cavidade quente..........(B-quente) Os corpos de prova para o ensaio de tração foram usinados da região do corpo do eixo, mais propícia para esta 139 operação. O corpo de prova para ensaio de tração é ilustrado na Figura 81. As ilustrações para os demais corpos de prova sem e com entalhe podem ser vistas no anexo D. Figura 81 – Corpo de prova para ensaio de tração simples conforme norma ABNT NBR ISO 6892-1 (2013). Fonte: produção do próprio autor. Os ensaios para determinação das curvas de tensão X deformação foram conduzidos no Laboratório MetaLab, localizado em Joinville/SC, conforme ilustrado na Figura 82 para um dos tipos de corpos de prova testados. Cada uma das curvas representa o resultado para cada um dos corpos de prova testados. Assim sendo, foi necessário inicialmente a digitalização das curvas, a qual foi realizada utilizando-se o aplicativo Engauge. Após digitalizadas, das curvas foram subtraídos os valores de deslocamento inicial, mas mesmo assim, percebe-se que existem conjuntos de dados que possuem uma acomodação inicial do clip-gage. A Figura 83 ilustra os dados digitalizados e os indícios de “escorregamento” inicial dos clip-gages. 140 Figura 82 – Dados fornecidos pelo laboratório MetaLab para um dos corpos de prova testados. Fonte: Relatório fornecido pelo Laboratório MatLab. Figura 83 – Dados digitalizados para o mesmo tipo de corpo de prova, indicando as regiões de escorregamento. Modelo "A" cavidade quente 350 Amostra 1 Tensão [MPa] 300 Amostra 2 Amostra 3 250 Amostra 4 200 Amostra 5 150 Amostra 6 Amostra 7 100 Amostra 8 50 0 0,000 Amostra 9 Amostra 10 0,001 0,002 0,003 0,004 Amostra 11 Deformação Fonte: Produção do próprio autor. Desta forma, foi necessário um tratamento adicional dos dados, sendo que foram expurgados os pontos correspondentes ao escorregamento, que em geral localizam-se na região de tensão abaixo de 100 MPa. 141 De acordo com Jögren, a relação tensão 𝑆 deformação plástica 𝜀𝑝𝑙 mais utilizada para materiais é a equação de Hollomon (HOLLOMON, 1945) e (GRONOSTAJSKI, 2000). K pl (39) para a qual 𝐾 e 𝜃 são os coeficientes de ajuste. Este tipo de equação tem que necessariamente passar por zero, ou seja, quando 𝑝𝑙 = 0, necessariamente 𝜎 = 0. Para determinar este deslocamento, uma constante 𝐶 foi introduzida na equação de Hollomon, tomando esta a forma da equação de Swift (SWIFT, 1952). K C pl (40) Em seguida, as curvas foram ajustadas utilizando-se esta equação e dos dados originais foi subtraída a constante 𝐶, obtida para cada conjunto de pontos, de cada corpo de prova testado. A Figura 84 ilustra um destes ajustes efetuado utilizando-se o aplicativo de regressão Table Curve 2D. Figura 84 – Ajuste realizado para um dos conjuntos de dados obtido para um dos corpos de prova. 350 Tensão [MPa] 300 250 200 150 100 50 0 0 0,0005 0,001 0,0015 0,002 Deformação [mm/mm] Fonte: Produção do próprio autor 0,0025 0,003 142 A seguir, todos os pontos de todos os corpos de prova de cada um dos modelos foram tratados simultaneamente, obtendose com isto uma relação tensão deformação, agora na forma original da equação de Hollomon. A Figura 85(a-d) ilustra este ajuste, com a faixa de 90% de confiança para os quatro modelos testados, respectivamente. Figura 85 – Curva de Hollomon ajustada para os dados dos quatro modelos testados. 350 Tensão [MPa] 300 a) Modelo A-frio 250 200 150 100 50 0 0,0000 0,0005 0,0010 0,0015 0,0020 0,0025 0,0030 0,0025 0,0030 Deformação [mm/mm] 350 b) Modelo A-quente Tensão [MPa] 300 250 200 150 100 50 0 0,0000 0,0005 0,0010 0,0015 0,0020 Deformação [mm/mm] 143 350 c) Modelo B-frio Tensão [MPa] 300 250 200 150 100 50 0 0,0000 0,0005 0,0010 0,0015 0,0020 0,0025 0,0030 0,0025 0,0030 Deformação [mm/mm] 300 d) Modelo B-quente Tensão [MPa] 250 200 150 100 50 0 0,0000 0,0005 0,0010 0,0015 0,0020 Deformação [mm/mm] Fonte: Produção do próprio autor. 144 Finalmente, a Tabela 27 apresenta os coeficientes “𝐾” e “𝜃” obtidos para os materiais ensaiados. Tabela 27 – Coeficientes “𝐾” e “𝜃” obtidos para a equação de Hollomon aplicada a cada um dos materiais. 𝐾 𝜃 A–frio 6366,01 0,5162 A–quente 8256,35 0,5548 B–frio 8439,81 0,5660 B–quente 6921,69 0,5644 Fonte: Produção do próprio autor. A Figura 86 apresenta um comparativo das equações de Hollomon obtidas para os quatro materiais testados. Figura 86 – Comparativo das relações Tensão deformação conforme Hollomon obtidas dos ensaios e tratamento dos dados. 400 Tensão [MPa] 350 300 250 200 A-frio A-quente B-frio B-quente 150 100 50 0 0,0000 0,0005 0,0010 0,0015 0,0020 0,0025 0,0030 0,0035 0,0040 Deformação Fonte: Produção do próprio autor. Observa-se que as curvas obtidas para os modelos A-frio, A-quente e B-frio são similares. Para o modelo B-quente observase que a curva está abaixo das demais. O modelo B possui maior massa, e quando produzido na cavidade quente tem seu 145 resfriamento mais lento. A associação destas duas características pode resultar na diferença encontrada nos ensaios estáticos. 6.10 SIMULAÇÃO DO FATOR DE CONCENTRAÇÃO DE TENSÃO GEOMÉTRICO UTILIZANDO O MATERIAL NÃO LINEAR Para auxiliar no entendimento e análise dos dados de tração estática e fadiga de torção do ferro fundido, optou-se por realizar uma simulação via MEF dos ensaios para possibilitar a avaliação dos fatores de concentração de tensão geométricos 𝐾𝑡 (para tração) e 𝐾𝑡𝑠 (para torção). Para simulação do ferro fundido cinzento ou lamelar utilizando modelo elástico linear utilizou-se as propriedades extraídas de (JÖGREN, 2007) para o Módulo de Elasticidade 𝐸 = 88 𝐺𝑃𝑎 e Coeficiente de Poisson = 0,24 (SHIGLEY; MISCHKE; BUDYNAS, 2005). Já para utilização de um modelo não linear, utilizou-se os dados obtidos no ensaio de tração para o modelo “A”, obtido da cavidade quente do molde, sendo que os dados foram inseridos no programa na forma apresentada no gráfico da Figura 86. A malha para o caso de tração estática foi obtida utilizando-se elementos quadráticos parabólicos de 8 nós, utilizando um modelo de axissimetria para possibilitando um refino adequado da malha na região de interesse. A Figura 87 apresenta a malha utilizada no caso sem entalhe e no caso do entalhe com menor raio (𝑟𝑒 = 0,2 𝑚𝑚). Todas as simulações tanto lineares como não lineares foram realizadas aplicando-se uma força de 6800 N, correspondente à uma tensão normal nominal de aproximadamente 350 MPa para uma seção de diâmetro 5 mm. Este valor corresponde à média encontrada para a ruptura do modelo em questão, como será visto no Capítulo 8. 146 Figura 87 – Malha axissimétrica utilizada para simulação linear e não linear dos ensaios de tração. (a) sem entalhe; (b) com entalhe de 𝑟𝑒 = 0,2𝑚𝑚 e (c) detalhe da raiz do entalhe. a) b) c) Fonte: Produção do próprio autor. 6.10.1 Resultados para a simulação da tração A Figura 88 mostra o resultado de distribuição de tensão para o caso elástico linear, com entalhe com 𝑟𝑒 = 0,2 𝑚𝑚 e a Figura 89 apresenta o mesmo resultado para o caso com modelo não linear. Figura 88 – Distribuição de tensão para o caso de tração com entalhe de 𝑟𝑒 = 0,2 𝑚𝑚 utilizando modelo elástico linear. Fonte: Produção do próprio autor. 147 Figura 89 – Distribuição de tensão para o caso de tração com entalhe de 𝑟𝑒 = 0,2 𝑚𝑚 utilizando modelo não linear. Fonte: Produção do próprio autor. Pode-se observar no resultado, que a tensão máxima para o caso de material não linear não ocorre na raiz do entalhe, como esperado, mas sim abaixo da mesma, conforme reportado por Noguchi e Nagaoka (1983). Tal evidência certamente poderá contribuir com os resultados para o fator de sensibilidade ao entalhe estático. A Figura 90 ilustra o comportamento da tensão normal para o caso de modelo elástico linear, enquanto que a Figura 91 ilustra o mesmo resultado para o caso de material não linear. Já a Tabela 28, mostra o comparativo de fator de concentração de tensão para ambos os casos, sendo que para o caso de modelo não linear, obtém-se a tensão normal na raiz do entalhe e máxima, abaixo da mesma. Tanto para o modelo elástico linear, quanto para o modelo não linear, os fatores são obtidos usando a equação (1), usando os valores de tensão máxima correspondentes. 148 Tensão normal [MPa] Figura 90 – Tensão normal na linha de simetria em função do raio do corpo de prova – 𝑟, para diferentes raios de entalhe, para modelo elástico linear. 200 re = 0,2 150 0,4 0,6 100 1,0 50 0 0 0,5 1 1,5 2 2,5 Fonte: Produção do próprio autor. Figura 91 – Tensão normal na linha de simetria em função do raio do corpo de prova – 𝑟, para diferentes raios de entalhe, para modelo não linear. re = 0,2 0,4 0,6 1,0 Tensão normal [MPa] 600 450 300 150 0 0 0,5 1 Fonte: Produção do próprio autor. 1,5 2 2,5 149 Tabela 28 – Comparativo dos fatores de concentração de tensão para material linear e não linear, na tração. Linear Raiz do entalhe 1,93 2,36 2,77 3,75 𝑟𝑒 1,0 0,6 0,4 0,2 Não Linear Raiz do entalhe Máximo 1,20 1,32 1,22 1,44 1,24 1,55 1,24 1,78 Fonte: Produção do próprio autor. A Figura 92 ilustra o desenvolvimento do 𝐾𝑡𝑚𝑎𝑥 , fator de concentração de tensão na região de tensão máxima para o caso não linear em função da tensão nominal, à medida em que esta vai evoluindo. A Figura 93 ilustra o mesmo comportamento, mas para o 𝐾𝑡𝑟𝑎𝑖𝑧 , que corresponde ao fator de concentração de tensão na raiz do entalhe. Figura 92 – Desenvolvimento do 𝐾𝑡𝑚𝑎𝑥 × 𝜎0 . 4,0 3,5 3,0 2,5 re = 0,2 2,0 0,4 0,6 1,0 1,5 1,0 0 50 100 Fonte: Produção do próprio autor. 150 200 250 300 350 150 Figura 93 – Desenvolvimento do 𝐾𝑡𝑟𝑎𝑖𝑧 × 𝜎0 . 4,0 3,5 3,0 2,5 re = 0,2 2,0 0,4 0,6 1,0 1,5 1,0 0 50 100 150 200 250 300 350 Fonte: Produção do próprio autor. Pode-se observar a grande diferença que existe entre os valores de concentração de tensão com a simulação linear e não linear. Para o segundo caso a não linearidade do material resulta em concentrações de tensão muito inferiores. Além disso, a tensão máxima ocorre abaixo da raiz da trinca. Tal comportamento influencia fortemente na sensibilidade ao entalhe, quando se leva em consideração a não linearidade. 6.10.2 Resultados para a simulação da torção Para a torção, a simulação foi realizada via MEF apenas para o caso de modelo elástico linear. A Figura 94 apresenta o resultado de distribuição de tensão para o caso linear de entalhe com 𝑟𝑒 = 0,1 𝑚𝑚. 151 Figura 94 – Distribuição de tensão com modelo elástico linear com entalhe de 𝑟𝑒 = 0,1 𝑚𝑚. Fonte: Produção do próprio autor. A Figura 95 ilustra o comportamento da tensão cisalhante em função do raio para o caso de material linear. A Tabela 29 mostra o fator de concentração de tensão linear. A simulação com modelo não linear não foi possível com o aplicativo utilizado. Tal simulação é também importante para o melhor entendimento do fator de sensibilidade ao entalhe, e fica como proposta para futuros trabalhos. 152 Figura 95 – Tensão cisalhante na área de simetria em função do raio do corpo de prova, para diferentes raios de entalhe, para material linear. Tensão cisalhente [MPa] 700 re = 0,1 600 0,15 0,2 0,4 0,6 500 400 300 200 100 0 0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 Fonte: Produção do próprio autor. Tabela 29 – Fatores de concentração de tensão para modelo elástico linear, na torção. 𝑟𝑒 0,60 0,40 0,20 0,15 0,10 Fonte: Produção do próprio autor. Linear Raiz do entalhe 1,45 1,61 2,00 2,21 2,57 153 7 SIMULAÇÃO EM MESOESCALA DO FERRO FUNDIDO CINZENTO Este capítulo é focado em ferros fundidos, particularmente cinzentos. Buscou-se realizar uma análise via MEF em mesoescala deste tipo de ferro fundido. Uma célula plana de 400 400 µm foi modelada para que fosse feita uma análise do efeito das lamelas de grafita na matriz de perlita. Buscou-se reproduzir uma curva tensão deformação de forma numérica e comparar com resultados experimentais. A interface entre grafita e matriz foi modelada de forma perfeitamente contínua e também utilizandose modelo de contato com atrito. A simulação de fenômenos relacionados a interação de uma matriz metálica com as inclusões presentes na mesma é fruto de diversos estudos encontrados na literatura. Particularmente neste trabalho, é principal interesse a análise da interação da matriz metálica com a grafita presente na mesma, no caso de ferros fundidos. No Capítulo 4 do presente trabalho, a influência de uma inclusão não metálica no interior de uma matriz martensítica foi estudada, verificando-se que tal inclusão introduz pontos concentradores de tensão e resultados indesejados na aplicação de processos com o shot peening na superfície do material. Zhu et al. (2012) utilizaram experimentação e simulação utilizando MEF para avaliar o mecanismo de transição de iniciação de trincas da superfície para o interior, pela combinação dos efeitos de “amolecimento” da matriz, oxidação superficial e tensões residuais compressivas na superfície. Um dos pontos importantes do referido trabalho é a análise utilizando MEF da influência de uma inclusão juntamente com tensões residuais introduzidas num primeiro carregamento de torção, seguido de outro de tração, conforme ilustrado na Figura 96. 154 Figura 96 – Modelo 3D para análise de inclusão realizado por Zhu et al. (2012). (a) Malha geral e na inclusão e adjacências; (b) Distribuição de tensão normal na seção que contem a inclusão e (c) Distribuição de tensão equivalente de von Mises na mesma seção. Fonte: (ZHU et al., 2012). Utilizando experimentação e simulação pôde-se avaliar o mecanismo de transição de iniciação de trincas da superfície para o interior pela combinação dos efeitos de “amolecimento” da matriz, oxidação superficial e tensões residuais compressivas na superfície. Foi proposto um novo modelo para avaliar o papel das inclusões na transição dos modos de iniciação de trincas a 370°C. O modelo considera a combinação do nível de tensão, tamanho das inclusões e profundidade das mesmas. O potencial relativamente mais alto de nucleação nas inclusões no interior à alta temperatura foi originado essencialmente em razão da menor resistência para iniciação de trincas influenciado pela temperatura de teste, tensões residuais e presença de hidrogênio no contorno das inclusões. 155 Collini (2003), em sua tese de doutorado, estuda utilizando MEF o comportamento de ferro fundido nodular, a nível de mesoescala. Segundo o autor, existem três materiais constituintes nos modelos (células axissimétricas ou modelos baseados na microestrutura) descritos adiante, como sendo a grafita, ferrita e perlita. Ainda segundo o autor, a grafita pode ser considerada isotrópica e perfeitamente elástica e com Módulo de Elasticidade simétrico (compressão e tração) com valor de 𝐸 = 15 𝐺𝑃𝑎 e Coeficiente de Poisson = 0,3. Os constituintes da matriz, ferrita e perlita, são assumidos como sendo descritos pela teoria de plasticidade com encruamento isotrópico e condição de escoamento de von Mises (BONET; WOOD, 2008). Segundo Collini, é bem conhecido que a ferrita é caracterizada por alta ductilidade e baixa resistência à ruptura, enquanto que a perlita se caracteriza por ter maior resistência à ruptura e coeficiente de encruamento e menor alongamento na ruptura. O autor modela tanto a ferrita quanto a perlita de acordo com a relação de Ramberg-Osgood (COLLINI; NICOLETTO, 2003) (STEGLICH; BROCKS, 1997), seguindo o modelo de deformação plástica dado pela equação: E E n 1 (41) onde 𝜎 e são a tensão e deformação uniaxial para cada constituinte da matriz, 𝐸 é o Módulo de Elasticidade (definido como a inclinação da curva tensão-deformação para tensão igual a zero), 𝜎𝐸 é a Tensão de Escoamento e 𝜍 é o deslocamento relativo ao escoamento do material (quando 𝜎 = 𝜎𝐸 , = (1 + 𝜍)𝜎𝐸 /𝐸) e 𝑛 é o expoente de encruamento para o termo plástico não linear. Quando 𝑛 = 1 o material não tem encruamento em todos os níveis de tensão, mas a não linearidade se torna significante somente nas magnitudes de tensão próximas ou acima de 𝜎𝐸 (TANDON; WENG, 1984). As propriedades para os modelos constituintes assumidos para o trabalho estão tabelados na Tabela 30 e a visualização gráfica pode ser vista na Figura 97. 156 Tabela 30 – Propriedades correspondentes aos modelos elastoplásticos da ferrita e perlita. Material constitutivo Ferrita Perlita 𝑢𝑡 𝐸 [MPa] 521 918 [MPa] 427 552 𝐴𝑢𝑡 [%] 11 3,6 𝐸 [GPa] 209 209 𝑛 0,3 0,3 20,2 5,4 0,978923 0,757243 Fonte: (COLLINI, 2003). Figura 97 – Curvas tensão-deformação obtidas por intermédio do modelo utilizado por Collini. 1000 900 Perlita Tensão [MPa] 800 700 Ferrita 600 500 400 300 200 100 0 0 0.02 0.04 0.06 0.08 0.1 0.12 Deformação [mm/mm] Fonte: (COLLINI, 2003). 7.1 MODELAMENTO DA REGIÃO DE ANÁLISE Para o presente trabalho, optou-se por utilizar uma abordagem de estado plano de tensão, escolhendo uma região retangular de 400 × 400 µ𝑚 da análise de microestrutura da região 4 (corpo – periferia) do modelo A-frio. A escolha buscou tomar uma região com maior concentração de grafita, para que se pudesse observar os efeitos de deformação e tensões de 157 interesse. A Figura 98 ilustra a micrografia original, com a indicação da região escolhida e a mesma amplificada. Figura 98 – (a) Micrografia base e detalhe utilizado para a simulação. (b) Região de análise de 400 × 400 µ𝑚. Fonte: Produção do próprio autor. 158 A região escolhida para análise foi tratada utilizando um editor de imagens, para definir as regiões de grafita lamelar e possibilitar a geração de um modelo de elementos finitos. O modelo foi gerado utilizando-se o aplicativo de MEF, com o qual foi gerada a malha em EPT ilustrada na Figura 99, completa e um detalhe de transição entre matriz e inclusões de grafita lamelar. Figura 99 – Região de análise modelada com o aplicativo de MEF. (a) Modelo completo e (b) detalhe da malha. 159 Fonte: Produção do próprio autor. A malha de elementos finitos foi gerada utilizando o “µ𝑚” como unidade, para minimizar erros de truncamento. Para tanto, as unidades das demais propriedades foram ajustadas para que se tivesse coerência na simulação e nos resultados. Para a matriz perlítica foi utilizado um modelo elasto-plástico bilinear, o qual conforme já demonstrado anteriormente fornece resultados adequados à presente necessidade. A Tabela 31 traz as propriedades utilizadas com suas respectivas unidades. Tabela 31 – Propriedades e unidades utilizadas na simulação. Material 𝐸 [𝑁⁄(𝜇𝑚2 )] 𝜎𝐸 [𝑁/(𝑚2 )] 𝜎𝑢𝑡 [𝑁/(𝑚2 )] 𝜀𝑢𝑡 [%] 𝑀𝑇 [𝑁/(𝑚2 )] Grafita 15 × 10−3 0,3 N.A. N.A. N.A. N.A. Fonte: Produção do próprio autor Perlita 209 × 10−3 0,3 552 × 10−6 918 × 10−6 3,6 10,167 × 10−3 160 7.2 SIMULAÇÃO UTILIZANDO-SE A MALHA CONTÍNUA Nesta primeira simulação, as malhas de grafita e perlita foram consideradas contínuas. Neste caso, os nós da interface entre as duas fases são compartilhados pelos elementos das mesmas. Assume-se com este modelamento que não haverá separação entre as fases a medida em que se aplica o carregamento. Foi utilizada simetria na direção “X” e “Y” e um deslocamento prescrito de 8 m foi aplicado nas duas direções, uma de cada vez. A simulação do cisalhamento também foi realizada e neste caso as condições de simetria são modificadas. Os quatro testes numéricos e as correspondentes condições de contorno são resumidos na Tabela 32. Nesta tabela, para cada teste numerado de 1 à 4, 𝑈 e 𝑉 são deslocamentos prescritos aplicados respectivamente nas direções 𝑋 e 𝑌. Os índices 𝑎1, 𝑎2, 𝑏1 e 𝑏2 correspondem às faces nas quais as condições de contorno são aplicadas para cada teste, conforme ilustrado na mesma tabela. Nas Figura 100 à 102 são apresentados para cada um dos testes os resultados de tensão normal, tensão cisalhante e de deformação plástica equivalente. Esta última, é definida de acordo com o critério de von Mises: Tabela 32 – Testes realizados com a geometria modelada Teste 1 2 3 4 Tensão 𝜎𝑥 𝜎𝑦 𝜏𝑦𝑥 𝜏𝑥𝑦 𝑈𝑎1 0 0 𝑈𝑎2 8 𝑈𝑏1 𝑈𝑏2 𝑉𝑎1 𝑉𝑎2 livre livre livre livre livre livre livre livre livre livre livre 0 8 livre livre 𝑉𝑏1 0 0 0 0 livre livre livre 0 8 livre 400 × 400 𝜇𝑚 Fonte: Produção do próprio autor 𝑉𝑏2 livre livre livre livre 161 Figura 100 – Resultados de simulação para malha contínua – Teste 1. (a) Tensão normal [N/µm2], (b) Detalhe da tensão normal, (c) deformação plástica equivalente e (d) detalhe da deformação plástica equivalente. 162 Fonte: Produção do próprio autor 163 Figura 101 – Resultados de simulação para malha contínua – Teste 2. (a) Tensão normal [N/µm2], (b) Detalhe da tensão normal, (c) deformação plástica equivalente e (d) detalhe da deformação plástica equivalente. 164 Fonte: Produção do próprio autor 165 Figura 102 – Resultados de simulação para malha contínua – Teste 3. (a) Tensão cisalhante [N/µm2], (b) Detalhe da tensão cisalhante, (c) deformação plástica equivalente e (d) detalhe da deformação plástica equivalente. 166 Fonte: Produção do próprio autor 167 Figura 103 – Resultados de simulação para malha contínua – Teste 4. (a) Tensão cisalhante [N/µm2], (b) Detalhe da tensão cisalhante, (c) deformação plástica equivalente e (d) detalhe da deformação plástica equivalente. 168 Fonte: Produção do próprio autor Para cada um dos 4 testes feitos, avaliou-se a seção na qual ocorreu o ponto máximo de tensão e o valor da mesma, assim como a área de perlita. O objetivo foi de avaliar o fator de 169 concentração de tensão máximo encontrado e comparar estes valores com as estimativas apresentadas no Capítulo 6. Os resultados encontrados são apresentados na Tabela 33. Tabela 33 – Resultados para o fator de concentração de tensão encontrado. Teste Tensão 1 2 3 4 𝜎𝑥 𝜎𝑦 𝜏𝑦𝑥 𝜏𝑥𝑦 Tensão média [MPa] 662 662 252 252 Tensão máxima [MPa] 997 1028 478 479 𝐾𝑡 1,50 1,55 1,90 1,90 Fonte: Produção do próprio autor Considerando a hipótese da grafita perfeitamente aderida à matriz de perlita, o valor de concentração de tensão para a tensão média na área total é mais adequada, sendo que os valores de concentração de tensão se aproximam mais do valor inferior de 1,7. Conforme foi visto no Capítulo 6, quando se utiliza um modelo não linear para simulação de tensões, os resultados de concentração de tensão são menores e é isto que ocorre no modelo simulado aqui, no qual a matriz de perlita foi modelada utilizando-se um modelo elasto-plástico bilinear, conforme a Figura 22. A Figura 104 mostra um gráfico comparativo para o resultado da curva tensão deformação simulada a nível de mesoescala, considerando a malha contínua, comparado ao resultado experimental médio obtido no teste feito no Capítulo 6 para o modelo A-quente. Observa-se uma boa concordância no ponto de ruptura do material, no entanto a forma inicial da curva simulada é mais linear que o resultado do ensaio. A Figura 105 mostra o gráfico de Tensão cisalhante 𝜏𝑥𝑦 em função da deformação angular 𝑥𝑦 . Observa-se que não há diferença significativa para as duas direções tanto para a carga normal quanto para a carga de cisalhamento. Isto se explica pela distribuição randômica dos veios de grafita na região escolhida para a análise. 170 Figura 104 – Curvas de tensão deformação nas duas direções, comparadas à curva do ensaio. 600 Tensão [MPa] 500 Teste modelo A-quente 400 300 200 Simulação mesoescala 100 0 0,000 0,001 0,002 0,003 0,004 0,005 0,006 0,007 0,008 Deformação [mm/mm] Fonte: Produção do próprio autor Figura 105 – Curva de tensão cisalhante simulada 𝜏𝑥𝑦 em função da deformação angular 𝑥𝑦 . Tensão Cisalhante [MPa] 300 250 200 150 100 Simulação mesoescala 50 0 0,000 0,005 0,010 0,015 Deformação angular [rad/rad] Fonte: Produção do próprio autor 0,020 171 7.3 SIMULAÇÃO UTILIZANDO MODELO DE CONTATO E EXPANSÃO TÉRMICA DA GRAFITA Nesta segunda série de simulações, passou-se a utilizar um modelo de contato para tratar a interface entre grafita e matriz perlítica, para possibilitar a reprodução dos efeitos descritos por Jögren (2007) com relação à interação entre as duas fases. Foi considerada a diferença de dilatação térmica entre a matriz e a fase grafítica, pois de acordo com a literatura, o coeficiente de expansão térmica da grafita é muito menor que o da matriz. Assim, a simulação foi realizada em duas etapas. A primeira aplicando o efeito de dilatação térmica na grafita e a segunda aplicando os mesmos deslocamentos prescritos conforme descrito na seção 7.2. Foi considerado também um coeficiente de atrito de Coulomb entre as duas fases, com valor de = 0,21 (Engineering Toobox, 2015). Além do modelo de atrito, foi utilizado também o efeito de contração térmica da matriz contra a grafita, a partir da temperatura eutética de 723°C até a temperatura ambiente. O coeficiente de expansão térmica de 6 m/m°C foi aplicado apenas na grafita, simulando a diferença que existe entre os coeficientes da matriz e da grafita, respectivamente de 12 e 6 m/m°C, segundo Callister e Rethwish (2012). A Tabela 34 sumariza as duas condições simuladas e a Figura 106 e Figura 107 ilustram os resultados obtidos para as simulações de tração nas direções “X” e “Y”, em termos de tensões normais e deformações plásticas equivalentes. Tabela 34 – Testes realizados com a geometria modelada. Teste 5 6 Tensão 𝜎𝑥 𝜎𝑦 𝑈𝑎1 0 0 𝑈𝑎2 8 𝑈𝑏1 𝑈𝑏2 𝑉𝑎1 𝑉𝑎2 livre livre livre livre livre livre livre livre livre Fonte: Produção do próprio autor 𝑉𝑏1 0 0 𝑉𝑏2 livre livre 172 Figura 106 – Resultados de simulação com atrito e expansão térmica da grafita – Teste 5. (a) Tensão normal [N/µm2], (b) Detalhe da tensão normal, (c) deformação plástica equivalente e (d) detalhe da deformação plástica equivalente. 173 Fonte: Produção do próprio autor 174 Figura 107 – Resultados de simulação com atrito e expansão térmica da grafita – Teste 6. (a) Tensão normal [N/µm2], (b) Detalhe da tensão normal, (c) deformação plástica equivalente e (d) detalhe da deformação plástica equivalente. 175 Fonte: Produção do próprio autor 176 Pode-se observar que para o nível de deslocamento prescrito utilizado de 8 m, houve descolamento da matriz em relação à fase grafítica em algumas regiões. Desta forma, apresenta-se o comparativo entre o resultado do ensaio e o resultado das duas simulações, nas duas direções na Figura 108, limitando-se a deformação aos níveis de resistência da matriz, apesar de que em alguns pontos, este valor tenha sido ultrapassado localmente. Figura 108 – Comparativo das curvas tensão x deformação para o MLA. Tensão Normal [MPa] 400 350 Teste modelo A-quente 300 Simulação mesoescala 250 200 150 100 50 0 0,000 0,001 0,001 0,002 0,002 0,003 0,003 0,004 0,004 Deformação [mm/mm] Fonte: Produção do próprio autor Pode-se observar que neste caso obteve-se uma forma da curva simulada mais próxima da curva experimental, no entanto com valores mais baixos. A razão para esta diferença pode estar relacionada à região da microestrutura utilizada, a qual possui uma proporção maior de grafita do que regiões adjacentes. Desta forma, apesar de localmente obter-se valores de tensão mais baixos, para o componente como um todo o comportamento médio poderá se assemelhar à curva experimental. Um outro fator a ser observado, é que dependendo do teor local de grafita na matriz, o componente poderá apresentar uma grande anisotropia, fazendo com que as análises do componente considerando modelos isotrópicos possam levar a maiores incertezas. 177 O fator de concentração de tensão foi também avaliado, mas desta vez considerando a área apenas de perlita para cálculo da tensão média. Os valores encontrados são apresentados na Tabela 35. Pode-se observar que a concentração de tensão supera em muito as estimativas feitas por Guesser (2009), que aponta um valor máximo de 5,4. Tabela 35 – Resultados para o fator de concentração de tensão encontrado. Teste Tensão 5 6 𝜎𝑥 𝜎𝑦 𝐴𝑝𝑒𝑟𝑙𝑖𝑡𝑎 𝐴𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 0,67 0,80 Tensão média 205 144 Tensão máxima 2753 3368 𝐾𝑡 13,4 23,4 Fonte: Produção do próprio autor 7.4 SIMULAÇÃO DE CARGA E DESCARGA O objetivo desta simulação é o de realizar uma carga e descarga em mesoescala para verificar o comportamento da curva tensão deformação. Para realizar o ensaio numérico, limitou-se a tensão à 150 MPa, valor médio encontrado na simulação anterior, para uma deformação média de 3,6%. A simulação foi realizada para o modelo com MLA, atrito e dilatação térmica da grafita. Os resultados são apresentados na Figura 109. O processo de simulação foi realizado em três etapas: 1) Simulação do processo de resfriamento para possibilitar a contração da matriz em torno da grafita. 2) Simulação do processo de carga na direção do eixo 𝑋. 3) Simulação do processo de descarga. Ao final, a análise é feita para as etapas (2) e (3). 178 Figura 109 – Resultados para simulação de carga e descarga. (a) Tensão normal 𝜎𝑥 sob carga [N/µm2], (b) deslocamento 𝑈𝑥 com carga, (c) Tensão residual 𝜎𝑥 após retirada da carga e (d) deslocamento residual 𝑈𝑥 após retirada da carga. 179 Fonte: Produção do próprio autor 180 A Figura 110, traz o resultado da curva tensão-deformação para carga e descarga. Figura 110 – Resultado da simulação de carga e descarga da microrregião analisada, ilustrando as quatro componentes de deformação descritas por Jögren. Tensão Normal [MPa] 160 140 Carga 120 100 Descarga 80 60 40 3 20 0,000 1 2e4 0 0,001 0,002 0,003 0,004 0,005 0,006 0,007 Deformação [mm/mm] Fonte: Produção do próprio autor O resultado da simulação de carga e descarga ilustra as quatro regiões do gráfico tensão deformação citadas por Jögren: (1) Elástica da matriz de perlita; (2) Plástica da matriz nas regiões de concentração de tensão; (3) Abertura de vazios na interface matriz/grafita, com retorno elástico e (4) Abertura de vazios sem retorno elástico. Trata-se de uma forma interessante de análise, possível de ser aplicada também para estudar a interação de outras interações entre matriz e inclusões, ou até mesmo no caso de compósitos. A aplicação de um tratamento adequado da interface é também fator importante para produção de resultados com coerência. Pôde-se notar que uma interface contínua não representou adequadamente as deformações resultantes da abertura de vazios. Já a utilização de um modelo de contato 181 proporciona os melhores resultados. A simulação de diferentes regiões, com diferentes proporções de grafita poderá proporcionar resultados médios que representem os valores reais encontrados no teste. 182 183 8 SENSIBILIDADE AO ENTALHE DO FERRO FUNDIDO O presente capítulo tem por objetivo discutir a sensibilidade ao entalhe de ferros fundidos e apresentar resultados de ensaios estáticos de tração e dinâmicos de torção realizados com corpos de prova retirados do corpo de eixos das configurações em avaliação: Modelos “A” e “B” e cavidades “quente” e “fria”, conforme já descrito anteriormente. Noguchi e Nagaoka (1983) realizaram uma investigação experimental da sensibilidade ao entalhe de diferentes ligas de ferro fundido. As ligas avaliadas neste trabalho foram duas em ferro fundido cinzento (FC20 e FC30) e uma em ferro fundido nodular (FCD45), conforme ilustrado na Figura 111. Figura 111 – Microestrutura das três ligas avaliadas por Noguchi e Nagaoka. Fonte: (NOGUCHI; NAGAOKA, 1983). Os testes foram feitos em duas etapas. Inicialmente quatro níveis de concentração de tensão foram introduzidos em amostras circulares e também na forma de chapas para teste de tração. As peças foram ensaiadas, obtendo-se os resultados ilustrados na Figura 112 e Figura 113. Os resultados são apresentados pelos autores na forma de uma Razão de Resistência ao Entalhe (RRE), que é definida pela razão da resistência dos corpos de prova com 184 entalhe em relação à resistência dos corpos de prova sem entalhe. Estes valores correspondem ao inverso do fator de sensibilidade ao entalhe estático 𝐾𝑡𝑒𝑠𝑡 definido no Capítulo 2. Os testes foram feitos à temperatura ambiente e também submersas em nitrogênio líquido, com intuito de avaliar o efeito de fragilidade a frio. Figura 112– Efeito da concentração de tensão no RRE para diferentes ligas de ferro fundido. Amostras circulares com quatro níveis de entalhe. Fonte: (NOGUCHI; NAGAOKA, 1983) 185 Figura 113 – Efeito da concentração de tensão no RRE para o ferro fundido FC25. Amostras com seção retangular e diferentes níveis de entalhe. Fonte: (Noguchi e Nagaoka, 1983) Os autores também realizaram análises utilizando o MEF juntamente com a teoria elastoplástica, sendo que a curva tensão deformação dos materiais é aproximada pela relação de Swift (SWIFT, 1952) dada pela relação: 𝜃 𝜎 = 𝐶(𝐴 + 𝜀𝑝𝑙 ) (42) na qual 𝜎 é a tensão, 𝑝𝑙 é a deformação plástica obtida subtraindo-se da deformação a deformação elástica dada por 186 𝐸 /𝐸 , sendo 𝐸 o Módulo de Elasticidade constante e 𝐴 e 𝐶 , constantes do material. Os resultados da análise são comentados para as duas categorias de ferro fundido avaliadas. Ferro fundido cinzento: A análise foi realizada para avaliar a distribuição de tensões e deformações nas proximidades da raiz dos entalhes. Através das mesmas, os autores chegam à conclusão de que a baixa sensibilidade ao entalhe do ferro fundido cinzento e sua dependência na temperatura pode ser explicada por duas razões: a primeira é o comportamento não elástico da tensão deformação do material que relaxa a concentração de tensão e reduz a tensão de trabalho na raiz do entalhe. A segunda razão é a existência de uma região com tensões altas abaixo da raiz do entalhe que possibilita aos corpos de prova resistir a cargas nas quais as tensões de trabalho excedem o limite de escoamento do material. Em nitrogênio líquido, ou seja, a baixas temperaturas, o efeito não elástico do material é diminuído, e, além disso, a região com tensões altas tem uma profundidade menor abaixo da raiz do entalhe. Assim o material fica mais sensível ao entalhe do que na temperatura ambiente. Segundo os autores, tal verificação comprova a hipótese do efeito de relaxação do efeito não elástico. Ferro fundido nodular: para o caso deste material foi verificado através da análise, que devido ao fato dele ser mais dúctil, o efeito de triaxialidade de tensões é mais evidente. Desta forma, a região com tensões altas abaixo da raiz do entalhe é consideravelmente menor, propiciando melhores condições para a propagação da trinca a partir desta região. Assim, tensões concentradas na raiz do entalhe iniciam trincas no caso de excederem os limites do material e se propagam a partir daí. Isto confere ao material maior sensibilidade ao entalhe. Weixing, Kaiquan e Yi (1994) realizaram uma revisão abordando o fator de concentração de tensão em fadiga 𝐾𝑓 e de algumas expressões utilizadas para avaliação do mesmo. Tais expressões são agrupadas em três categorias fundamentais e são apresentadas na Tabela 36: modelo de tensão média, modelo da mecânica da fratura e o modelo de intensidade do campo de tensões. Em seu trabalho de revisão, os autores concluem através de ensaios e análises feitas via MEF, que os modelos de intensidade do campo de tensões são os que melhor estimam o comportamento do material. 187 Tabela 36 – Expressões para 𝐾𝑓 . Autor Parâmetros de material Expressão Referências Modelos de tensão média: estes modelos assumem que se a tensão média próximo da raiz do entalhe ultrapassar o limite de fadiga, a trinca se inicia. Neuber, Kuhn Hardraht e K f 1 K f 1 Peterson Kt 1 a 1 N re 𝑎𝑁 = 𝑓(𝑅𝑚) é a função da Tensão de Ruptura (mm) Kt 1 a 1 p re 𝑎𝑝 é uma constante do material (mm) Kt K f 1 Heywood (KUHN; HARDRAHT, 1952); c 1 2 H re (FROST; MARCH; POOK, 1974). Kf 𝑐𝐻 = 𝑓(𝑅𝑚) é dependente do material e amostra h 1 2.1 𝐴, ℎ dependentes do re r0 material e amostra. K f Kt A 𝑟0 = 𝑓(𝐴, ℎ) Buch Kt Stieler Siebel e Kf Kuhn Hardraht e K f 1 Wang e Zao 1 1 c Kt 1 1 (NEUBER, 1961); A re Kt Kf 0,88 A b 𝑐 = 𝑓(𝑅0,2 ) é constante do material 𝐴 = 𝑓(𝑅𝑚) é a função da Tensão de Ruptura (mm) (PETERSON, 1959) (HEYWOOD, 1955); (HEYWOOD, 1962) (BUCH, 1974); (BUCH, 1988) (SIEBEL; STIELER, 1955) (KUHN; HARDRAHT, 1952) = â𝑛𝑔𝑢𝑙𝑜 𝑑𝑜 𝑒𝑛𝑡𝑎𝑙ℎ𝑒 (𝑟𝑎𝑑) 𝐴 e 𝑏 são constantes (WANG; ZHAO, 1992) do material Modelos da mecânica da fratura: utilizam este conceito para definir se uma trinca se inicia ou não a partir da raiz do entalhe. Também consideram que a trinca pode não se propagar mais a partir de uma certa distância. Deff K f Y (ath )1 l0 Ting e Laurence ath > a* U * Y (a*) D a * K f th U th0 l0 ath a* 𝑙0 é o comprimento intrínseco da trinca, 𝑈𝑡ℎ0 é o limite efetivo de razão de intensidade de tensão para uma trinca longa (TING; LAWRENCE, 1993) 188 Autor Parâmetros de material Referências 𝑙0 é o comprimento intrínseco da trinca 𝑆 e são as faixas locais de tensão e deformação na raiz do entalhe (YU; DUQUESNAY; TOPPER, 1993) 𝐶𝑐 é o comprimento crítico da trinca, a e b são os semieixos da elipse (ZU; JUANG; CHEN, 1961) Expressão Para entalhe agudoa: Yu, DuQuesnay e Topper Kf 1 1 F Para entalhe obtusoa: Kf K f KT Zu, Huang e Chen D l0 K f KT K T S e E b 1 4,4 Cc re 1,0 a b 1 3,5 Cc re 0,05 a Modelos de Intensidade do Campo de Tensão: consideram que a falha por fadiga ocorre devido ao acúmulo de dano na zona afetada. Não somente devido à picos de tensão, mas também devido à existência de altos gradientes. Yao, Weixing Gu Yi e Kf 1 f ij r dv V O domínio do campo de tensões é uma constante do material (YAO, 1992); (YAO, 1993) Méd M 𝑀 é o domínio do Kf Sheppard (SHEPPARD, 1989) SN campo de tensões re é o raio na raiz do entalhe; é o gradiente relativo de tensões, 1 d . max dx a Para entalhes obtusos o limite de tensões ocorre na iniciação da trinca na raiz do entalhe e para entalhes agudos, o limite de tensão máximo ocorre num comprimento de trinca finito a partir da raiz do entalhe. Fonte: (WEIXING; KAIQUAN; YI, 1995) 8.1 DETERMINAÇÃO DA SENSIBILIDADE AO ENTALHE DO FERRO FUNDIDO UTILIZADO NO EIXO DE COMPRESSORES. Corpos de prova sem e com dois níveis de entalhe foram usinados a partir dos eixos fundidos, conforme Figura 114. Nesta primeira etapa os eixos não foram selecionados de acordo com a cavidade, portanto esta variável está misturada nas peças. A denominação dos corpos de prova foi feita de acordo com o nível de entalhe introduzido nas peças, sendo CP0 sem entalhe, CP1 com entalhe com raio de 5 mm e CP2 com entalhe com raio de 1,1 mm. 189 Figura 114 – Formato dos corpos de prova de tração, sem e com dois níveis de entalhe, usinados a partir de dois modelos de eixo utilizados em compressores. Dimensões em [mm]. PEÇAS USINADAS Fonte: Produção do próprio autor. 190 A avaliação da sensibilidade ao entalhe estática é feita utilizando-se a equação (4). Para tanto o fator de concentração de tensão estático 𝐾𝑡𝑒𝑠𝑡 é obtido utilizando os resultados do teste, aplicados na equação (5). Ambas as equações são definidas no Capítulo 2. A forma utilizada para se obter o fator de concentração de tensão geométrico 𝐾𝑡 é através do uso do MEF, com a consideração de material elástico linear e também utilizando a consideração de material não linear de acordo com resultados obtidos nos ensaios estáticos relatados no Capítulo 6. Os corpos de prova foram modelados e simulados para obtenção das tensões máximas, as quais em teoria já levam em consideração a presença do entalhe e desta forma representam a tensão concentrada que surge localmente durante o carregamento. Ilustrações dos resultados das simulações com material elástico linear e não linear podem ser encontradas no Anexo C. A Figura 115 apresenta os resultados de tensão normal em função do raio, para as três condições testadas inicialmente. Comparando-se esta, com a tensão analítica nominal da seção, obtém-se o fator de concentração de tensão 𝐾𝑡 , sendo que os valores obtidos são mostrados na Tabela 37. Figura 115 – Resultados de tensão normal em função do raio – r – para as três condições testadas. (a) Material linear e (b) Material não linear. Tensão Normal [MPa] a) 800 700 600 500 400 300 200 0 1 2 3 4 5 6 191 Tensão Normal [MPa] b) 500 450 400 350 300 250 200 0 1 2 3 4 5 6 Fonte: Produção do próprio autor. Tabela 37 – Valores de 𝐾𝑡 obtidos via MEF para este primeiro ensaio, na raiz do entalhe. Corpo de prova Sem entalhe Entalhe tipo 1 Entalhe tipo 2 𝐷 𝑑 𝑟𝑒 11,5 11,5 11,5 11,5 7,1 7,1 5 1,1 𝐾𝑡 (Elástico) 1 1,314 2,144 𝐾𝑡 (Não Linear) 1 1,086 1,194 Fonte: Produção do próprio autor. Os corpos de prova ensaiados são ilustrados na Figura 116 e Figura 117. 192 Figura 116 – Corpos de prova ensaiados do modelo A. Entalhe tipo 1 – raio 5mm Sem entalhe Entalhe tipo 2 – raio 1,1mm Fonte: Produção do próprio autor. Figura 117 – Corpos de prova ensaiados do modelo B. Entalhe tipo 1 – raio 5mm Sem entalhe Entalhe tipo 2 – raio 1,1mm Fonte: Produção do próprio autor. Um total de cinco corpos de prova foram testados para cada condição. Os resultados de média e desvio padrão para a Tensão de Ruptura, assim como para os valores de sensibilidade ao entalhe estático para os dois modelos de eixo são mostrados na Tabela 38 e Tabela 39. Tabela 38 – Resultados de Tensão de Ruptura e sensibilidade ao entalhe estático obtidos no ensaio para o modelo A. CP 𝐾𝑡 (MLE) 𝐾𝑡 (MNL) 𝜎𝑢𝑡 (𝑐/𝑒) 𝜎𝑢𝑡 (𝑠/𝑒) (desvio padrão) (desvio padrão) CP0 1 1 240,7 CP1 1,314 1,086 233,6 240,7 (7,7) (2,4) CP2 2,144 1,194 213,4 (2,4) (3,7) Fonte: Produção do próprio autor. 𝐾𝑡𝑒𝑠𝑡 𝑞𝑒𝑠𝑡 (MLE) 𝑞𝑒𝑠𝑡 (MNL) 1 0 0 1,031 0,098 0,360 1,124 0,110 0,639 193 Tabela 39 – Resultados de Tensão de Ruptura e sensibilidade ao entalhe estático obtidos no ensaio para o modelo B. CP 𝐾𝑡 (MLE) 𝐾𝑡 (MNL) 𝜎𝑢𝑡 (𝑐/𝑒) 𝜎𝑢𝑡 (𝑠/𝑒) (desvio padrão) (desvio padrão) CP0 1 1 277,3 CP1 1,314 1,086 264,6 277,3 (6,5) (6,9) CP2 2,144 1,194 222,1 (6,9) (13,2) 𝐾𝑡𝑒𝑠𝑡 𝑞𝑒𝑠𝑡 (MLE) 𝑞𝑒𝑠𝑡 (MNL) 1 0 0 1,048 0,152 0,558 1,249 0,221 1,284 Fonte: Produção do próprio autor. A Figura 118 apresenta o comparativo das tensões nominais de ruptura obtidas para os dois modelos de eixo, em função do fator de concentração de tensão geométrico e a Figura 119 o resultado do fator de sensibilidade ao entalhe estático, em função da mesma variável, para o caso de material elástico e não linear. Figura 118 – Tensão de Ruptura média obtida para os modelos A e B. Tensão de Ruptura média [MPa] 300 280 Modelo B 260 240 220 Modelo A 200 1 1,2 1,4 1,6 1,8 2 Fator de concentração de tensão geométrico - Kt Fonte: Produção do próprio autor 2,2 194 Figura 119 – Fator de sensibilidade ao entalhe estático médio obtido para os materiais “A” e “B”. Fator de sensibilidade ao entalhe estático - qest 1,4 Modelo A 1,2 1,0 0,8 MNL 0,6 0,4 MLE 0,2 0,0 1 1,2 1,4 1,6 1,8 2 2,2 Fator de concentração de tensão geométrico - Kt Fator de sensibilidade ao entalhe estático - qest 1,4 Modelo B 1,2 MNL 1,0 0,8 0,6 0,4 MLE 0,2 0,0 1 1,2 1,4 1,6 1,8 2 2,2 Fator de concentração de tensão geométrico - Kt Fonte: Produção do próprio autor. Duas observações importantes podem ser feitas a partir destes resultados. Primeiramente é a diferença das tensões nominais de ruptura, uma vez que se trata do mesmo material fundido. Em segundo lugar, o fator de sensibilidade ao entalhe menor para o material do eixo modelo A, em relação ao B. Considerando o que já foi visto anteriormente em 195 (NOGUCHI; NAGAOKA, 1983), a hipótese mais provável está relacionada à ductilidade do material. Eixos modelo B possuem massa maior do que os do modelo A. Isto pode conferir aos mesmos, diferentes velocidades de resfriamento para um mesmo processo de fundição, fazendo com que os eixos modelo B fiquem mais dúcteis e consequentemente com resistência a tração ligeiramente superior e mais sensíveis ao entalhe. 8.2 ANÁLISE DE MICROESTRUTURA E DUREZA NAS DIFERENTES REGIÕES DOS EIXOS Apesar de ambos os modelos de eixo serem especificados e fabricados do mesmo tipo de material, ou seja, ferro fundido cinzento, classe FC25, os resultados anteriores já mostram que existe diferença nas propriedades obtidas com os diferentes componentes. Faz-se aqui uma análise da microestrutura de peças de cada um dos modelos escolhidos, obtidos das cavidades quente e fria e ainda em cinco regiões definidas. As amostras foram retiradas de cada uma das regiões, no centro e periferia, conforme ilustrado na Figura 120. 196 Figura 120 – Regiões selecionadas para análise dos modelos tipo A e B. Modelo A Modelo B 1 1 2 2 3 3 4 4 5 5 Seção transversal Periferia Centro Fonte: Produção do próprio autor. 8.2.1 Análise de microestrutura A análise de microestrutura feita com microscópio óptico de uma amostra de um dos eixos evidencia se tratar de ferro fundido cinzento típico, conforme a Figura 121. 197 Figura 121 – Micrografia da microestrutura do material em análise. Ataque com Nital – aumento de 100X Ataque com Nital – aumento de 500X Fonte: Produção do próprio autor. A Figura 122 apresenta esquematicamente a distribuição do tipo e tamanho da grafita na matriz, nas cinco regiões, e no centro e periferia das mesmas, conforme indicação da Figura 120. As análises foram realizadas conforme norma ASTM A247 (1998). Ilustrações de todas as micrografias realizadas podem ser encontradas no Anexo G. Com relação aos tipos de grafita encontrados nas análises, pode-se observar que a grafita do tipo “A” é encontrada em todas as regiões de todas as amostras avaliadas. Já a grafita do tipo “B” é encontrada somente na periferia das seções analisadas, com exceção das amostras do modelo tipo “B” na seção 3. Já a grafita do tipo “D”, é encontrada no centro de todas as regiões avaliadas. Com relação ao tamanho da grafita, observa-se que quando do tipo “A”, apresenta uma variação de 3 à 5. Quando do tipo “B”, o tamanho se apresenta numa faixa de 4,5 à 6 e quando do tipo “D”, se apresenta predominantemente com tamanho 7. Figura 122 – Esquema que ilustra o tipo e tamanho de grafita nas regiões dos modelos analisados. “A” “D” “B” Material “A” 1 1 Periferia: Grafitas tipo “A” e “B” 2 2 3 3 4 4 5 5 Centro dos eixos: Grafitas tipo “A” e “D” Fonte: Produção do próprio autor. Material “B” Periferia: Grafitas tipo “A” e “B” 8.2.2 Análise de microdureza Vickers (HV) Para cada uma das 80 regiões analisadas, um ensaio de microdureza Vickers foi realizado, sendo que os resultados são apresentados graficamente, na Figura 123. Figura 123 – Análise de microdureza Vickers realizada para cada um dos quatro modelos. 350 Microdureza [HV] 340 Modelo A-frio 330 320 310 300 290 Centro 280 Periferia 270 1 2 3 4 5 Posição no Eixo 350 Microdureza [HV] 340 Modelo A-quente 330 320 310 300 290 Centro 280 Periferia 270 1 2 3 Posição no Eixo 4 5 200 350 Microdureza [HV] 340 Modelo B-frio 330 320 310 300 290 Centro 280 Periferia 270 1 2 3 4 5 Posição no Eixo 350 Microdureza [HV] 340 Modelo B-quente 330 320 310 300 290 Centro 280 Periferia 270 1 2 3 4 5 Posição no Eixo Fonte: Produção do próprio autor. Em todos os casos observa-se pouca ou nenhuma diferença de microdureza Vickers entre centro e periferia dos eixos, desta forma, para os comparativos seguintes, tomou-se o valor do centro, região da onde são usinados os corpos de prova. Por outro lado, observa-se um aumento de microdureza Vickers da região 1 (excêntrico) em direção à região 5 (corpo/base). A Figura 124 compara os resultados médios de microdureza Vickers para o modelo A, obtidos das cavidades quente e fria. 201 Figura 124 – Comparativo de microdureza Vickers para o modelo A-frio. 350 Microdureza [HV] 340 330 320 310 300 290 A-frio A-quente 280 270 1 2 3 4 5 Posição no eixo Fonte: Produção do próprio autor. Para o modelo A, não se observou diferença significativa entre a cavidade fria e quente. A Figura 125 compara os resultados médios de dureza Vickers para o modelo B, obtidos das cavidades quente e fria. Figura 125 – Comparativo de microdureza Vickers para o modelo B obtido da cavidade quente e fria. 350 Microdureza [HV] 340 330 320 310 300 290 B-frio B-quente 280 270 1 2 3 Posição no eixo 4 5 202 Fonte: Produção do próprio autor. Para este modelo, já se observa uma pequena diferença de microdureza Vickers entre as cavidades fria e quente, sendo que para a cavidade fria, os valores foram maiores. A Figura 126 e Figura 127 comparam os resultados de microdureza Vickers entre os dois modelos, para a cavidade fria e quente. Figura 126 – Comparativo de microdureza Vickers para os modelos obtidos da cavidade fria (A x B). 350 Microdureza [HV] 340 330 320 310 300 290 A-frio 280 B-frio 270 1 2 3 4 5 Posição no eixo Fonte: Produção do próprio autor. Figura 127 – Comparativo de microdureza Vickers para os modelos obtidos da cavidade quente (A x B). 350 Microdureza [HV] 340 330 320 310 300 290 A-quente B-quente 280 270 1 2 3 Posição no eixo Fonte: Produção do próprio autor. 4 5 203 Observa-se que para a cavidade fria, o modelo B tende a ter maior microdureza Vickers na extremidade do corpo/base, regiões 4 e 5, enquanto que para a cavidade quente, a tendência é de que o modelo A tenha maior microdureza Vickers na extremidade oposta do excêntrico (1). 8.2.3 Análise de dureza Brinnel (HB) Para cada uma das amostras, foram realizadas também análises de dureza Brinnel, sendo que os resultados são apresentados a seguir, na Figura 128. Figura 128 – Análises de dureza Brinnel realizadas para cada uma das amostras. Dureza Brinnel [HB] 260 250 Modelo A-frio 240 230 220 210 200 Centro 190 Periferia 180 1 2 3 4 5 Posição no Eixo 260 Dureza Brinnel [HB] 250 Modelo A-quente 240 230 220 210 200 Centro 190 Periferia 180 1 2 3 Posição no Eixo 4 5 204 260 Dureza Brinnel [HB] 250 Modelo B-frio 240 230 220 210 200 Centro 190 Periferia 180 1 2 3 4 5 Posição no Eixo Dureza Brinnel [HB] 260 250 Modelo B-quente 240 Centro 230 Periferia 220 210 200 190 180 1 2 3 4 5 Posição no Eixo Fonte: Produção do próprio autor. Para esta propriedade, observou-se a mesma tendência de aumento de dureza Brinnel da região 1 em direção à região 5. Para o modelo A, não se observou diferença significativa entre centro e periferia, mas para o modelo B, pôde-se observar uma tendência de que a região da periferia ser mais dura. A Figura 129 apresenta o comparativo de dureza Brinnel para os modelos A e B, comparando a cavidade fria vs. Cavidade quente em função da posição no eixo. 205 Figura 129 – Comparativo de dureza Brinnel entre cavidade fria vs. Quente para os modelos A e B. 260 Dureza Brinnel [HB] 250 240 230 220 210 200 A-frio A-quente 190 180 1 2 3 4 5 Posição no Eixo Dureza Brinnel [HB] 260 B-frio B-quente 250 240 230 220 210 200 190 180 1 2 3 4 5 Posição no Eixo Fonte: Produção do próprio autor. Em ambos os casos, pôde-se observar que as amostras obtidas da cavidade fria tem dureza Brinnel maior que os da cavidade quente. Esta diferença foi mais acentuada para o modelo B. A Figura 130 apresenta o comparativo de dureza Brinnel para as cavidades fria e quente, comparando o modelo A com o modelo B, em função da posição no eixo. 206 Figura 130 – Comparativo de dureza Brinnel entre modelos A vs. B, para cavidade fria e quente. 260 Dureza Brinnel [HB] 250 240 230 220 210 200 A-frio B-frio 190 180 1 2 3 4 5 Posição no Eixo 260 A-quente B-quente Dureza Brinnel [HB] 250 240 230 220 210 200 190 180 1 2 3 4 5 Posição no Eixo Fonte: Produção do próprio autor. Foi possível observar que para a cavidade fria, os dois modelos se assemelham, enquanto que para a cavidade quente, o modelo A se apresenta com dureza Brinnel superior. A verificação da composição química das amostras também foi realizada, sendo os resultados apresentados na Tabela 40 e a quantidade de carbono em massa na Tabela 41. 207 Tabela 40 – Composição química de amostras dos modelos A e B e das cavidades quente e fria. Amostra Si (%) Mn (%) P (%) Cr (%) Cu (%) Sn (%) Fe (%) “A” fria “A” quente “B” fria “B” quente 1,996 1,974 2,016 1,982 0,326 0,324 0,319 0,373 0,034 0,034 0,032 0,057 0,026 0,025 0,028 0,024 0,014 0,013 0,037 0,015 0,087 0,086 0,084 0,081 93,88 93,86 93,84 93,80 Fonte: Produção do próprio autor. Tabela 41 – Quantidade de Carbono em Massa para as amostras do modelo B. Cavidade Fria Quente Modelo B Excêntrico Corpo 3,7% 3,7% 3,7% 3,7% Fonte: Produção do próprio autor. 8.3 TRATAMENTO PARA A RESISTÊNCIA MECÂNICA DOS CORPOS DE PROVA DO SEGUNDO ENSAIO O tratamento dos dados para resistência mecânica dos corpos de prova no segundo ensaio foi feito utilizando o aplicativo de cálculo estatístico Minitab. Espera-se um comportamento Gaussiano ou normal para esta propriedade mecânica. Desta forma, inicialmente verificou-se a normalidade dos dados, utilizando o teste Anderson-Darling (STEPHENS, 1974) disponível neste aplicativo. Para verificar a normalidade utiliza-se o conceito de p-valor, também denominado nível descritivo do teste. Trata-se da probabilidade de que a estatística do teste (como variável aleatória) tenha valor extremo em relação ao valor observado (estatística) quando a hipótese de não-normalidade é verdadeira (Portal Action, 2015). No caso de verificação de normalidade, esta hipótese é testada contra a hipótese nula de não-normalidade com um nível de significância estatística de 5% (0,05). Se o P-valor encontrado for maior que este valor, a hipótese de normalidade é 208 verdadeira. Os corpos de prova utilizados no ensaio estão ilustrados no anexo E. A Figura 131a ilustra uma das distribuições obtidas com o aplicativo para um dos conjuntos de dados. Para os casos nos quais não se verificou distribuição Gaussiana, os dados foram avaliados utilizando-se o gráfico de probabilidade normal, conforme Figura 131b, no qual se espera um alinhamento dos pontos. Caso haja algum ponto que não se enquadre nesta tendência, pode-se optar por considerá-lo um ponto fora da normalidade e desta forma ser eliminado do conjunto de dados, caso se possa verificar a razão deste desvio. Figura 131 – Avaliação de normalidade feita para um dos conjuntos de dados (A-quente sem entalhe). (a) Distribuição e teste de normalidade. (b) Gráfico de probabilidade normal. 209 Fonte: Produção do próprio autor. 8.3.1 Resultados para os corpos de prova sem entalhe A Figura 132 mostra o comparativo na forma de um gráfico do tipo “box plot” para os dados de Tensão de Ruptura dos corpos de prova sem entalhe. Figura 132 – Gráfico tipo “box plot” comparando os resultados obtidos para os corpos de prova sem entalhe. Fonte: Produção do próprio autor. 210 A Tabela 42 mostra a análise estatística do tipo “2 variáveis” (T-Student), para verificar a igualdade/desigualdade entre as médias obtidas. A tabela também acrescenta os valores de dureza Vickers e dureza Brinnel obtidos na análise metalográfica, para a região do corpo do modelo (centro), região da na qual está o ponto de ruptura das peças. Tabela 42 – Comparação estatística dos valores obtidos nos testes de tração entre os corpos de prova. Material Média [MPa] (Desvio padrão) A – fria (p-valor) A – quente (p-valor) A – fria 289 Igual A – quente 301 B – fria 296 B – quente 233 (9) (11) (15) (15) B – fria (p-valor) B – quente (p-valor) Maior Igual Menor (0,017) (0,187) (0,000) Igual Menor (0,446) (0,000) Igual Igual Menor (0,000) Igual Fonte: Produção do próprio autor. Estatisticamente é possível estabelecer diferença significativa entre as amostras do modelo tipo A-quente sendo este resultado maior que o obtido para o modelo A-frio. Para o material do modelo B-quente, pode-se estabelecer uma diferença significativa em relação à todas as demais amostras, sendo que o valor encontrado foi menor que os demais Para entender as diferenças, passa-se a correlacionar os resultados com as microdureza Vickers e dureza Brinnel no centro da seção 4, obtidas nos devidos ensaios. Os valores são mostrados na Tabela 43. 211 Tabela 43 – Correlação entre a resistência à tração (desvio padrão) e dureza da região correspondente dos corpos de prova. 𝝈𝒖𝒕 Material (desvio padrão) 289 (9) 301 (11) 296 (15) 233 (15) A–frio A–quente B–frio B–quente Dureza HV Dureza Brinnel 307,1 317,0 321,0 311,5 231,9 217,1 225,3 193,3 Fonte: Produção do próprio autor. A Figura 133 traz uma correlação entre a microdureza HV e dureza Brinnel e os resultados médios de resistência à tração obtidos para os quatro tipos de modelo. Faz-se também um ajuste linear entre os dados, incluindo no gráfico o valor de R2. Este parâmetro mede a proporção da variabilidade no eixo Y que é explicada por X. É uma correlação direta entre as variáveis e quanto mais próximo da unidade, maior é a correlação (Um manual de estatística, 2015). Figura 133 – Correlação entre a resistência à ruptura média e a microdureza Vickers e dureza Brinnel, para a região central do corpo de prova. Tensão de ruptura [MPa] 320 300 280 260 240 220 200 304 308 312 316 Microdureza Vickers [HV] 320 324 212 Tensão de ruptura [MPa] 320 300 280 260 240 220 200 190 195 200 205 210 215 220 225 230 235 Dureza Brinnel [HB] Fonte: Produção do próprio autor. É possível verificar que a microdureza Vickers não é um bom parâmetro para identificação da resistência à ruptura, dada a baixa correlação entre os dados (R2 = 0,1592). A dureza Brinnel fornece uma correlação melhor (R2 = 0,7509). Desta forma, a segunda passa a ser um indicativo interessante para previsão da resistência à tração. Isto se deve ao fato de a dureza Brinnel fornecer uma avaliação global da microestrutura matriz + grafita. 8.3.2 Resultados de tração estática para os corpos de prova com entalhe As Tabelas 45 à 48 apresentam os resultados obtidos para os corpos de prova usinados com o modelo A e B obtidos das cavidades quente e fria. Um total de 214 amostras foram testadas e três laboratórios foram utilizados para os ensaios: Senai, Embraco e MetaLab; com o uso de máquinas convencionais de ensaio de tração. Os resultados são apresentados em termos da média e mediana, assim como o intervalo estatístico para estas duas características, levando-se em consideração um grau de confiança de 95%. Dado o fato de existir pelo menos um dos resultados com uma distribuição não normal, optou-se por utilizar os resultados de mediana para a compilação dos valores de sensibilidade ao entalhe estático apresentados na sequência. A 213 Tabela 44 apresenta a legenda para as variáveis apresentadas nas referidas tabelas. Tabela 44 – Legenda para as Tabelas 45 à 48. Item Descrição CP Corpo de prova testado Lab. Laboratório que realizou o teste de tração N Número de peças testadas P-valor Valor de significância estatística encontrado na análise de normalidade Normal? Resultado do teste de normalidade Média Média de 𝜎𝑢𝑡 encontrada no teste Intervalo da média Intervalo estatístico da média com 95% de confiança. Mediana Mediana de 𝜎𝑢𝑡 encontrada no teste Intervalo da mediana Intervalo estatístico da mediana com 95% de confiança Fonte: Produção do próprio autor. Tabela 45 – Resultados para o modelo A-frio. CP Lab. N P-valor 00 01 02 03 04 MetaLab 11 0,234 Embraco 11 0,064 Embraco 11 0,663 Embraco 11 0,137 Embraco 11 0,226 Total 55 Fonte: Produção do próprio autor. 𝐾𝑡 Normal? Média 𝜎𝑢𝑡 [MPa] 1 1,93 2,36 2,77 3,75 Sim Sim Sim Sim Sim 289 288 284 283 313 Intervalo da média 𝜎𝑢𝑡 [MPa] Mín Máx 283 296 267 310 263 305 272 294 272 353 Mediana 𝜎𝑢𝑡 [MPa] Intervalo da média 𝜎𝑢𝑡 [MPa] Mín Máx 293 308 264 286 261 274 278 300 408 477 Mediana 𝜎𝑢𝑡 [MPa] 290 300 284 278 335 Intervalo da mediana 𝜎𝑢𝑡 [MPa] Mín Máx 285 295 273 312 260 301 268 303 244 371 Tabela 46 – Resultados para o modelo A-quente. CP 00 01 02 03 04 Lab. N P-valor MetaLab 11 0,159 Senai 9 0,251 Senai 9 0,108 Embraco 12 0,137 Embraco 12 0,076 Total 53 Fonte: Produção do próprio autor. 𝐾𝑡 Normal? Média 𝜎𝑢𝑡 [MPa] 1 1,93 2,36 2,77 3,75 Sim Sim Sim Sim Sim 301 275 267 289 443 302 279 269 284 451 Intervalo da mediana 𝜎𝑢𝑡 [MPa] Mín Máx 295 311 260 283 256 276 280 295 422 482 215 Tabela 47 – Resultados para o modelo B-frio. CP Lab. N P-valor 00 01 02 03 04 MetaLab 12 0,625 Embraco 10 0,200 Embraco 10 0,106 Embraco 10 0,033 Embraco 10 0,880 Total 52 Fonte: Produção do próprio autor. 𝐾𝑡 Normal? Média 𝜎𝑢𝑡 [MPa] 1 1,93 2,36 2,77 3,75 Sim Sim Sim Não Sim 296 359 364 310 268 Intervalo da média 𝜎𝑢𝑡 [MPa] Mín Máx 287 306 327 391 333 395 265 356 257 279 Mediana 𝜎𝑢𝑡 [MPa] Intervalo da média 𝜎𝑢𝑡 [MPa] Mín Máx 223 243 157 228 139 207 196 240 212 241 Mediana 𝜎𝑢𝑡 [MPa] 295 372 379 279 271 Intervalo da mediana 𝜎𝑢𝑡 [MPa] Mín Máx 284 311 320 392 328 390 260 374 255 280 Tabela 48 – Resultados para o modelo B-quente. CP 00 01 02 03 04 Lab. N P-valor MetaLab 11 0,104 Embraco 10 0,546 Embraco 11 0,199 Embraco 10 0,973 Embraco 12 0,948 Total 54 Fonte: Produção do próprio autor. 𝐾𝑡 Normal? Média 𝜎𝑢𝑡 [MPa] 1 1,93 2,36 2,77 3,75 Sim Sim Sim Sim Sim 233 192 173 218 227 237 194 182 220 224 Intervalo da mediana 𝜎𝑢𝑡 [MPa] Mín Máx 222 244 157 218 113 219 196 243 209 242 Com estes resultados pôde-se proceder com a análise dos fatores de sensibilidade ao entalhe estático para os materiais, considerando material linear e não linear. Em ambos os casos foram utilizados os fatores de concentração de tensão geométricos obtidos na simulação feita no capítulo 6. A análise dos dados revelou fatores de sensibilidade ao entalhe negativos, o que não é real. Não se espera que materiais apresentem um aumento de resistência à tração, quando possuam entalhes ou descontinuidades geométricas. A explicação mais adequada para este comportamento, quando se observam os valores de medianas, reside no fato de que não se consegue provar estatisticamente diferença nos dados, a não ser para alguns casos de entalhe com fator de concentração de tensão geométrico muito elevado. Para comprovar a hipótese de que a insensibilidade ao entalhe é total para os tipos de eixo analisados, quando se trata de ensaio estático de tração, é feita uma análise e os resultados são mostrados na Tabela 49. Esta tabela apresenta os valores médios de 𝜎𝑢𝑡 encontrados, seus desvios padrão, e o P-valor para análise estatística comparativa. Para os casos em que este parâmetro é menor que a significância estatística de 5% (0,05), pode-se provar a hipótese alternativa de que os valores são maiores ou menores. Nos casos em que o P-valor é maior que 5% (0,05), prova-se a hipótese nula de que os valores são iguais. 217 Tabela 49 – Comparação estatística dos resultados com entalhe e sem entalhe para cada tipo de modelo em análise. Modelo 𝜎𝑢𝑡 [MPa] A–frio A–quente B–frio B–quente Média (desv. padrão) 289 (10) 301 (11) 296 (15) 333 (15) Hipótese Referência Referência Referência Referência 01 Média (desv. padrão) igual x diferente 288 (32) igual 275 (14) menor 359 (45) maior 193 (50) menor (P-valor) (0,944) (0,000) (0,002) (0,034) 02 Média (desv. padrão) igual x diferente 284 (31) igual 267 (9) menor 364 (43) maior 173 (51) menor (P-valor) (0,611) (0,000) (0,001) (0,003) 03 Média (desv. padrão) igual x diferente 283 (16) igual 289 (9) menor 310 (64) igual 218 (30) igual (P-valor) (0,314) (0,030) (0,517) (0,187) 04 Média (desv. padrão) igual x diferente 313 (61) igual 443 (54) maior 268 (15) menor 227 (22) igual (P-valor) (0,229) (0,000) (0,000) (0,443) CP 00 Fonte: Produção do próprio autor. Mesmo com a análise estatística, ainda existem situações que propiciam o aparecimento de valores de sensibilidade ao entalhe estática negativa, nos casos em que a Tensão de Ruptura com entalhe foi maior que a resistência a ruptura sem entalhe. São três os casos encontrados (em vermelho na tabela): modelo Aquente com entalhe de 𝑟𝑒 = 0,2 𝑚𝑚 e modelo B-frio com entalhes de 𝑟𝑒 = 1 𝑒 0,6 𝑚𝑚 . Estres três resultados tem em comum um elevado desvio padrão, indicando uma variabilidade elevada na execução dos testes. Desta forma, considera-se também para estes casos o valor de sensibilidade igual à zero. Desta forma está se admitindo um grau de conservadorismo na análise. As Tabela 50 à Tabela 53 apresentam os resultados obtidos para o fator de sensibilidade ao entalhe estático 𝑞𝑒𝑠𝑡 , para os 4 modelos em estudo e a Figura 134 e Figura 135 mostram estes resultados de forma gráfica. 218 Tabela 50 – Resultados de sensibilidade ao entalhe estática obtidos nos ensaios, com consideração de modelo elástico linear e não linear – modelo A-frio. CP R 00 01 02 03 04 1 0,6 0,4 0,2 𝐾𝑡 (MLE) 1 1,93 2,36 2,77 3,75 𝐾𝑡 (MNL) 1 1,20 1,22 1,24 1,24 𝐾𝑡𝑒𝑠𝑡 1,000 1,003 1,018 1,021 0,924 𝑞𝑒𝑠𝑡 (MLE) 0 0,003 0,013 0,012 0 𝑞𝑒𝑠𝑡 (MNL) 0 0,013 0,082 0,087 0 Fonte: Produção do próprio autor. Tabela 51 – Resultados de sensibilidade ao entalhe estática obtidos nos ensaios, com consideração de modelo elástico linear e não linear – modelo A-quente. CP R 00 01 02 03 04 1 0,6 0,4 0,2 𝐾𝑡 (MLE) 1 1,93 2,36 2,77 3,75 𝐾𝑡 (MNL) 1 1,20 1,22 1,24 1,24 𝐾𝑡𝑒𝑠𝑡 1,000 1,093 1,125 1,041 0,680 𝑞𝑒𝑠𝑡 (MLE) 0 0,100 0,092 0,023 0 𝑞𝑒𝑠𝑡 (MNL) 0 0,466 0,568 0,172 0 Fonte: Produção do próprio autor. Tabela 52 – Resultados de sensibilidade ao entalhe estática obtidos nos ensaios, com consideração de modelo elástico linear e não linear – modelo B-frio. CP R 00 01 02 03 04 1 0,6 0,4 0,2 𝐾𝑡 (MLE) 1 1,93 2,36 2,77 3,75 𝐾𝑡 (MNL) 1 1,20 1,22 1,24 1,24 Fonte: Produção do próprio autor. 𝐾𝑡𝑒𝑠𝑡 1,000 0,827 0,814 0,955 1,106 𝑞𝑒𝑠𝑡 (MLE) 0 0 0 0 0,039 𝑞𝑒𝑠𝑡 (MNL) 0 0 0 0 0,442 219 Tabela 53 – Resultados de sensibilidade ao entalhe estática obtidos nos ensaios, com consideração de modelo elástico linear e não linear – modelo B-quente. CP R 00 01 02 03 04 𝐾𝑡 (MLE) 1 1,93 2,36 2,77 3,75 1 0,6 0,4 0,2 𝐾𝑡 (MNL) 1 1,20 1,22 1,24 1,24 𝐾𝑡𝑒𝑠𝑡 1,000 1,210 1,346 1,068 1,027 𝑞𝑒𝑠𝑡 (MLE) 0 0,225 0,255 0,038 0,010 𝑞𝑒𝑠𝑡 (MNL) 0 1,049 1,573 0,283 0,113 Fonte: Produção do próprio autor. Fator de sensibilidade ao entalhe estático - qest Figura 134 – Comparativo de sensibilidade ao entalhe estática para os quatro tipos de eixo, com consideração de modelo elástico linear. 0,30 0,25 0,20 0,15 0,10 0,05 0,00 1 1,5 2 2,5 3 3,5 Fator de concentração de tensão geométrico - Kt A-frio A-quente Fonte: Produção do próprio autor. B-frio B-quente 4 220 Fator de sensibilidade ao entalhe estático - qest Figura 135 – Comparativo de sensibilidade ao entalhe estática para os quatro tipos de eixo, com consideração de material não linear. 1,80 1,60 1,40 1,20 1,00 0,80 0,60 0,40 0,20 0,00 1 1,5 2 2,5 3 3,5 4 Fator de concentração de tensão geométrico - Kt A-frio A-quente B-frio B-quente Fonte: Produção do próprio autor. De acordo com a Figura 134, pelo menos um dos modelos apresentou um fator de sensibilidade ao entalhe estático com valor máximo de 0,25 (B-quente). Já para o modelo A, o valor máximo encontrado foi de 0,1. Estes resultados reforçam o resultado encontrado no Capítulo 6, no qual se verificou que o modelo Bquente é o que possui menor resistência mecânica, o que certamente se reflete no resultado obtido quanto à sensibilidade ao entalhe. Outra constatação, é a diferença significativa entre a sensibilidade ao entalhe quando se utiliza o MNL para obtenção do fator de concentração de tensão geométrico, sendo que tal sensibilidade é muito superior do que quando se utiliza o MLE. 8.4 RESULTADOS OBTIDOS NOS ENSAIOS TORÇÃO REVERSA Os ensaios de torção reversa foram realizados da mesma forma como o foram para o material obtido por MP e apresentados no Capítulo 5. Foi utilizada também a mesma máquina de ensaio desenvolvida por Joaquim e que se encontra disponível no 221 Laboratório de Ensaios de Fadiga da UDESC Joinville. O tratamento dos dados foi realizado utilizando a Lei da Potência Inversa para correlacionar a tensão cisalhante alternada com o tempo para falha ou não falha. Já para tratar as variabilidades inerentes do experimento, foi utilizada a distribuição probabilística Log-Normal. Ambos os procedimentos estão descritos no item 5.5, sendo o aplicativo Action mais uma vez utilizado. Foram testados um total de 200 corpos de prova sendo possível o teste de todas as configurações de entalhe para o modelo A-quente e as configurações sem entalhe para os demais modelos. A razão para não ter finalizado todos os testes previstos reside no tempo que este tipo de teste leva para ser executado. Desta forma, o fator de sensibilidade ao entalhe em fadiga será avaliado para o primeiro modelo e as resistências à fadiga serão comparadas entre os materiais. 8.4.1 Resistência à fadiga em solicitação de torção para os corpos de prova sem entalhe O comparativo de resistência à fadiga em corpos de prova sem entalhe entre os materiais é apresentado inicialmente na forma dos dados obtidos de falhas e não falhas e as curvas de vida para os quantis de 5, 50 e 95%, ilustrados na Figura 136. 222 Tensão Cisalhante Alternada [MPa] Figura 136 – curvas de distribuição de falhas e não falhas para os quatro modelos, sem entalhe e as curvas de quantis de 5, 50 e 95%. 300 250 95% 50% 5% 200 150 100 Falhas 50 Não falhas A-frio 0 101 102 103 104 105 106 107 Tensão Cisalhante Alternada [MPa] Ciclos 300 50% 250 200 5% 95% 150 100 Falhas 50 Não Falhas 0 101 102 A-quente 103 104 Ciclos 105 106 107 Tensão Cisalhante Alternada [MPa] 223 300 50% 250 5% 95% 200 150 100 Falhas 50 Não falhas B-frio 0 101 102 103 104 105 106 107 Tensão Cisalhante Alternada [MPa] Ciclos 300 50% 5% 250 200 95% 150 100 Falhas 50 Não falhas B-quente 0 101 102 103 104 105 106 107 Ciclos Fonte: Produção do próprio autor A Tabela 54 mostra os valores obtidos nos ensaios com projeção para 107 ciclos, juntamente com o intervalo para os quantis de 5 e 95%. Adiciona-se também nesta mesma tabela os valores de dureza Vickers e Brinnel, para que posteriormente se busque uma correlação entre a resistência à fadiga na torção e estas propriedades. 224 Tabela 54 – Valores de resistência à fadiga para os quatro materiais, projetados para 107 ciclos, juntamente com os valores de dureza Vickers e Brinnel. Modelo 𝜎𝑆𝑛 (107) 95% 𝜎𝑆𝑛 (107) 50% A–frio 103,2 111,1 A–quente 86,8 B–frio B–quente 𝜎𝑆𝑛 (107) 5% Microdureza Vickers [HV] Dureza Brinnel [HB] 119,6 307,1 231,9 98,2 111,1 317,0 217,1 98,5 110,3 123,5 321,0 225,3 52,4 63,3 76,5 311,5 193,3 Fonte: Produção do próprio autor. O gráfico da Figura 137 mostra o comparativo entre os materiais sem entalhe. Figura 137 – Comparativo de resistência à fadiga na torção para os quatro modelos em estudo, juntamente com os quantis de 5 e 95%. Resistência à fadiga na torção [MPa] 140 120 100 5% 5% 5% 95% 95% 95% 80 5% 60 95% 40 20 0 A-frio A-quente B-frio B-quente Modelo Fonte: Produção do próprio autor. Observa-se que o único modelo que de fato se diferencia dos demais é o B-quente. Os gráficos da Figura 138 225 correlacionam a resistência à fadiga média na torção com a microdureza Vickers e dureza Brinnel. Figura 138 – Correlação entre a resistência à fadiga na torção média e a microdureza Vickers e dureza Brinnel, para a região central do corpo de prova. Resistência média à fadiga na torção [MPa] 120 100 80 60 40 304 308 312 316 320 324 Microdureza Vickers [HV] Resistência média à fadiga na torção [MPa] 120 100 80 9746 60 40 190 195 200 205 210 215 220 225 230 235 240 Dureza Brinnel [HB] Fonte: Produção do próprio autor. Pode se observar que não há qualquer correlação entre a resistência à fadiga na torção com a microdureza Vickers, 226 constatação indicada pelo valor de R2 = 0,0402. Em contrapartida, a correlação com a dureza Brinnel é muito boa, com R2 = 0,9746. Desta forma, esta propriedade pode ser utilizada como parâmetro para previsão. Na Figura 139 é feita adicionamente uma verificação da correlação entre a resistência à fadiga na torção, com a resistência estática na tração. Resistência média à fadiga na torção [MPa] Figura 139 – Correlação entre a resistência média à fadiga na torção e a resistência média à tração. 120 100 80 60 40 220 240 260 280 300 320 Resistência à tração [MPa] Fonte: Produção do próprio autor, A correlação não é tão boa quanto à da dureza Brinnel, mas ainda sim existe, com o valor de R2 = 0,843. 8.4.2 Resistência à fadiga na torção para os corpos de prova com entalhe do material obtido do modelo A-quente O comparativo de resistência à fadiga em corpos de prova com entalhe para o material obtido do modelo A-quente é apresentado inicialmente na forma dos dados obtidos de falhas e não falhas e as curvas de vida para os quantis de 5, 50 e 95%, ilustrados na Figura 140. 227 Tensão Cisalhante Alternada [MPa] Figura 140 – Distribuição de falhas e não falhas e curvas ajustadas para quantis de 5, 50 e 95%, para os corpos de prova do modelo A-quente. Sem entalhe 300 50% 250 200 5% 95% 150 100 Falhas 50 Não Falhas 0 101 102 103 104 105 106 107 106 107 Tensão Cisalhante Alternada [MPa] Ciclos Entalhe com 300 50% 5% 250 95% 200 150 100 Falhas 50 Não falhas 0 101 102 103 104 Ciclos 105 Tensão Cisalhante Alternada [MPa] 228 Entalhe com 300 250 95% 5% 200 150 100 Falhas 50 Não falhas 0 101 Tensão Cisalhante Alternada [MPa] 50% 102 103 104 Ciclos 106 107 106 107 Entalhe com 300 250 105 50% 5% 95% 200 150 100 Falhas 50 Não falhas 0 101 102 103 104 Ciclos 105 Tensão Cisalhante Alternada [MPa] 229 Entalhe com 300 250 95% 5% 50% 200 150 100 Falhas 50 Não falhas 0 101 102 103 104 105 106 107 106 107 Tensão Cisalhante Alternada [MPa] Ciclos Entalhe com 300 250 50% 5% 95% 200 150 100 50 Falhas 0 101 102 103 104 Ciclos 105 Fonte: Produção do próprio autor. O tratamento dos dados para os tipos de entalhe avaliados resulta no gráfico da Figura 141, que apresenta o resultado da tensão cisalhante reversa, em função do fator de concentração de tensão geométrico 𝐾𝑡 . 230 Figura 141 – Tensão cisalhante reversa para 107 ciclos do material “A” obtido da cavidade quente, em função do fator de concentração de tensão geométrico 𝐾𝑡 e os quantis de 5 e 95%. Tensão Cisalhante Reversa [MPa] 120 110 100 90 80 70 Média 60 1.00 1.20 1.40 1.60 5% 1.80 2.00 95% 2.20 2.40 2.60 Fator de concentração de tensão geométrico na torção - Kt Fonte: Produção do próprio autor. A Tabela 55 apresenta os dados e a obtenção do fator de sensibilidade ao entalhe no cisalhamento para o modelo A-quente. Novamente pôde-se perceber um valor negativo, o qual foi considerado como zero, baseado nas mesmas justificativas apresentadas nos ensaios estáticos. Tabela 55 – Resultados de sensibilidade ao entalhe em fadiga na torção para o modelo A-quente. CP R [mm] 𝐾𝑡 Tensão reversa (50%) [MPa] 00 1 98,2 1,000 0,000 01 0,60 1,467 93,8 1,047 0,101 02 0,40 1,629 92,6 1,060 0,095 03 0,20 2,010 100,4 0,978 0 𝐾𝑓 𝑞 231 CP R [mm] 𝐾𝑡 Tensão reversa (50%) [MPa] 04 0,15 2,212 91,1 1,077 0,064 05 0,10 2,551 96,8 1,014 0,009 𝐾𝑓 𝑞 Fonte: Produção do próprio autor. O gráfico da Figura 142 ilustra os resultados de sensibilidade ao entalhe obtidos nos ensaios para o modelo Aquente, em função do fator de concentração de tensão geométrico 𝐾𝑡𝑠 . Figura 142 – Fator de sensibilidade ao entalhe na torção em função do fator de concentração de tensão geométrico. Fator de sensibilidade ao entalhe em fadiga de torção - 0,15 0,10 0,05 0,00 1,0 1,2 1,4 1,6 1,8 2,0 2,2 2,4 2,6 Fator de concentração de tensão geométrico na torção - Fonte: Produção do próprio autor. Considerando os valores médios obtidos para a resistência à fadiga de torção projetados em 107 ciclos, os valores de sensibilidade ao entalhe obtidos na torção em fadiga estão de 232 acordo com o previsto na literatura. Para este modelo A-quente o maior valor obtido foi de aproximadamente 0.10 para sensibilidade ao entalhe. Na Figura 143 compara-se o fator de sensibilidade na tração estática com o mesmo valor na fadiga por torção e se percebe que de forma geral, em ambos os casos, a sensibilidade ao entalhe se mantém abaixo de 0,10, independente da concentração de tensão geométrica do modelo. Em termos de análise e projeto, a utilização de uma sensibilidade ao entalhe da ordem de 0,2, conforme já recomendado na bibliografia, é adequado, quando informações mais precisas não estão disponíveis. Figura 143 – Comparativo do fator de sensibilidade ao entalhe na tração estática e fadiga na torção, para o modelo Aquente. Fator de sensibilidade ao entalhe 0,15 0,10 0,05 0,00 1,0 1,5 2,0 2,5 Fator de concentração de tensão geométrico Fonte: Produção do próprio autor. 3,0 233 9 CONCLUSÕES 9.1 FADIGA EM AÇO ALTO CARBONO Condições de processamento, ou meios de manufatura nas fases iniciais de projeto podem aumentar ou comprometer a resistência à fadiga de componentes. Neste sentido, iniciou-se este trabalho com uma revisão e nova análise dos testes de fadiga do aço SAE 1075 laminado a frio, utilizado na fabricação de molas planas. Foram avaliados dois processos de corte e quatro níveis de tratamento superficial. Os testes realizados mostram que o processo de corte tem uma influência no resultado final de resistência à fadiga, por duas razões principais: pela qualidade da superfície de corte gerada e também pela formação ou não de uma região termicamente afetada com uma microestrutura diferente originada principalmente nos processos que introduzem um aporte de energia muito grande como o processo a laser. Outro resultado importante é o fato de em se removendo as imperfeições introduzidas pelo processo de corte, através do uso de processos de acabamento como tamboreamento e polimento, consegue-se melhorar a resistência à fadiga dos componentes. Mas o principal resultado é o obtido pela introdução do processo de shot peening, sendo que tal processo uma vez executado adequadamente, proporciona ganhos que podem ultrapassar os 100% de resistência à fadiga em relação à peça com corte bruto. Pôde-se concluir que em se tratando de limite de fadiga médio 𝑆𝑁 , este valor para aços SAE 1075 temperados e revenidos, com a aplicação de processos de acabamento superficial adequados e utilização de shot peening, pode chegar em média a ultrapassar os 800MPa. 9.2 EFEITO DE INCLUSÕES NÃO MATÉLICAS NA FADIGA DO AÇO CR-SI Componentes fabricados em aços de alto carbono, podem conter defeitos ou inclusões, oriundas do processo de fabricação 234 nas aciarias. Tais defeitos ou inclusões podem comprometer a resistência à fadiga do aço e também a efetividade de processos que visam aumentar esta propriedade, como o processo de shot peening mencionado acima. Neste sentido, buscou-se no Capítulo 4, analisar um componente mecânico fabricado com um aço de alto desempenho como Cr-Si, mas que apresentou uma falha em operação, sendo tal falha associada à presença de uma inclusão não metálica, identificada como sendo óxido de silício, ou sílica, possivelmente advinda do revestimento do forno da aciaria. O efeito desta inclusão sobre as tensões locais e sobre o processo de shot peening foi avaliado utilizando MEF. Uma conclusão deste capítulo foi que o processo de shot peening que é utilizado com o objetivo de melhorar a resistência à fadiga da superfície do material, pode também introduzir tensões residuais em regiões próximas a vértices de inclusões não metálicas quando elas estão próximas da superfície. Estas tensões, juntamente com as tensões de trabalho podem propiciar a iniciação e propagação de trincas nos contornos das inclusões. Cargas externas também são responsáveis pelo aparecimento de regiões de concentração de tensão próximo às inclusões, uma vez estando próximas à superfície. Os fatores de concentração de tensão são grandemente influenciados pela geometria da inclusão. As duas metodologias utilizadas para modelar o atrito na interface da matriz com a inclusão mostraram diferentes níveis de tensão próximos da interface. Assim, dependendo do modelo utilizado para modelar o atrito nesta interface as concentrações de tensão também podem variar. O modelo de Murakami prevê a redução de resistência à fadiga devido à presença da inclusão, dando um bom indicativo da margem de segurança do projeto, quando utilizado nas fases iniciais do mesmo. A aplicação do modelo pode ser feita sem inclusões, ou então considerando uma distribuição estatística de inclusões, quando esta informação é disponível. Conforme descrito no Capítulo 4, uma inclusão não metálica pode comprometer de forma decisiva as características de resistência à fadiga de um aço de alto teor de carbono. Materiais como aços obtidos por MP e ferros fundidos normalmente possuem uma grande quantidade de vazios e inclusões e os estudos de fadiga para este tipo de material mostram que eles apresentam sensibilidade ao entalhe bastante 235 reduzida quando são comparados com outros materiais como aços. 9.3 FADIGA EM MATERIAIS OBTIDOS POR MP Com relação aos aços obtidos por MP, a revisão das referências bibliográficas indicou que a característica que tem uma importância fundamental nas propriedades mecânicas em geral e particularmente na resistência à fadiga é a densidade, ou grau de compactação. Foi introduzido o conceito de sensibilidade ao entalhe estático, como forma de correlacionar resultados de ensaios mais rápidos como o de tração, com a característica de interesse que é a resistência à fadiga. Avaliou-se a sensibilidade ao entalhe estático utilizando-se corpos de prova retirados de bielas fabricadas por MP. Os primeiros resultados foram obtidos com o ensaio de flexão em 3 pontos e mostraram baixíssima sensibilidade ao entalhe para este material. O valor encontrado foi da ordem de 0,025. Para a tração foram encontrados valores maiores para a sensibilidade estática e da ordem de 0,10 a 0,15. Os resultados do ensaio de flexão e de tração mostraram a mesma tendência encontrada em Esper e Sonsino, sendo que nesta referência, a sensibilidade ao entalhe na flexão é de aproximadamente 0,16, enquanto que em carregamento axial é de aproximadamente 0,55 e obtidos com ensaios de fadiga. Por final, ensaios de fadiga por torção foram realizados utilizando-se corpos de prova em diferentes níveis de entalhe. Neste experimento foram testadas 78 amostras, obtendo-se uma resistência à fadiga média na torção de 115MPA, para corpos de prova sem entalhe. Com relação à sensibilidade ao entalhe, a conclusão a que se chegou é de que para o aço obtido por MP escolhido (Fe – 0,79%C – 0,33% Mn), o fator resultou em valores entre 0,45 e 0,55. Este resultado está acima dos valores obtidos nos ensaios estáticos. Desta forma, a utilização de fatores estáticos para este material não é um procedimento recomendável, pois na fadiga o material apresentou maior sensibilidade. Por outro lado, verificou-se também que em alguns casos testados, obteve-se uma dispersão elevada nos resultados, 236 quando feita a avaliação estatística, sendo que estes não foram considerados. 9.4 CONCENTRAÇÃO DE TENSÃO NO FERRO FUNDIDO Conforme descrito no Capítulo 4, uma inclusão não metálica pode comprometer de forma decisiva as características de resistência à fadiga de um aço de alto teor de carbono. Materiais como aços obtidos por MP e ferros fundidos normalmente possuem uma grande quantidade de vazios e inclusões e os estudos de fadiga para este tipo de material mostram que eles apresentam sensibilidade ao entalhe bastante reduzida quando são comparados com outros materiais como aços. A sensibilidade ao entalhe reduzida destes materiais se dá devido à alta concentração de tensões que tem origem pela presença dos vazios ou da grafita na forma de lamelas. Autores tem avaliado que peças com entalhe apresentam uma relaxação na concentração de tensões na raiz do entalhe devido ao comportamento não elástico da tensão. Além disso, existe uma região com tensão muito alta abaixo da raiz do entalhe possibilitando aos componentes resistirem às cargas nas quais a tensão de trabalho excede o escoamento do material. Materiais com maior ductilidade como os ferros fundidos nodulares apresentam maior sensibilidade ao entalhe devido maior sensibilidade à triaxialidade de tensões. Neste caso, a raiz do entalhe não sofre o efeito de relaxação de tensão e as trincas podem se iniciar e propagar a partir deste ponto. Este efeito pôde ser verificado ao realizar-se a simulação de carga nos corpos de prova de ferro fundido cinzento, utilizandose modelo de material linear elástico e uma curva tensãodeformação obtida através de ensaio de tração, que pode ser ajustada por uma curva de Hollomon. Nesta simulação, observouse que quando se utiliza material elástico, a tensão máxima ocorre na raiz do entalhe, com um fator de concentração de tensão geométrico maior do que 3, enquanto que utilizando material não linear, a concentração de tensão abaixo da superfície em pouco ultrapassa a unidade. 237 9.5 SIMULAÇÃO EM MESOESCALA DO FERRO FUNDIDO CINZENTO Em se tratando de ferro fundido cinzento, um passo adicional no entendimento do comportamento a nível de microestrutura foi dado através da simulação em EPT de uma região de 400 × 400 µ𝑚 de uma microestrutura feita em uma das amostras de material, sendo a matriz composta de perlita e os veios de grafita. Duas condições de interface entre grafita e matriz foram utilizadas: uma considerando o modelo contínuo e outra considerando expansão térmica da grafita e atrito. Pôde-se verificar a ocorrência das regiões de concentração de tensão em ambos os modelos, sendo que no primeiro, valores de 1,5 a 1,9 foram encontrados. Já no segundo caso, foi verificado o descolamento entra matriz e grafita e regiões de concentração de tensão bem maiores, chegando-se à valores de 13 a 23. Foi também realizada uma simulação de carga de descarga e constatou-se as quatro regiões de deformação ilustradas por Jögren. Na simulação, utilizando-se malha contínua, pôde-se observar uma curva tensão-deformação com valores próximos aos experimentais, apesar de a forma ser mais linear. Já na segunda simulação, obteve-se maior concordância na forma, mas valores mais baixos. Isto se deve ao fato de que a região escolhida continha propositalmente maior concentração de veios de grafita do que as demais regiões. 9.6 FADIGA DO FERRO FUNDIDO CINZENTO A parte final do presente trabalho foi focada na obtenção da sensibilidade ao entalhe estático com teste de tração e em teste de torção reversa. Utilizou-se corpos de prova obtidos do mesmo tipo de material – FC25 – mas em dois modelos, A e B. No primeiro ensaio não se considerou a cavidade do molde da qual as amostras foram retiradas. No segundo ensaio, avaliou-se também esta diferença. Foi realizada a avaliação de concentração de carbono, não sendo evidenciada diferença significativa. No entanto pôde-se verificar que a região central dos modelos é composta majoritariamente por grafitas do tipo “A” e “D”, enquanto 238 que a periferia é composta majoritariamente de grafita dos tipos “A” e “B”. Ensaios de microdureza Vickers e dureza Brinnel foram realizados em diferentes regiões das amostras, nas quatro configurações: Modelo A – cavidade fria e quente e modelo B – cavidade fria e quente. Nas análises de dureza, pôde-se observar que há uma tendência geral de que tanto a microdureza Vickers quanto a dureza Brinnel tem valores crescentes quando se vai do excêntrico em direção à base do corpo. Tal constatação indica uma relação com o sentido de fluxo do material e direção da frente de solidificação. A região da base do corpo é a primeira a iniciar o processo de solidificação, conforme ilustrado na Figura 144. Figura 144 – Direção de injeção e solidificação em um eixo de compressor. Fonte: Produção do próprio autor. Outra constatação interessante, ainda com relação à dureza, é a diferença significativa existente entre as cavidades fria e quente, principalmente no modelo B, que possui maior massa no contrapeso. O efeito é o mesmo observado ao longo do modelo, em função de que a velocidade de resfriamento dos modelos da cavidade fria é maior, resultando em valores de dureza superiores. Pôde-se observar também que há uma tendência de que para a cavidade quente, o modelo A possui dureza Brinnel superior. Os testes estáticos para determinação do fator de sensibilidade ao entalhe estático foram realizados em duas etapas. A primeira delas não considerou a cavidade e a segunda 239 considerou também este fator. Os resultados obtidos confirmaram para estes testes, que o fator se manteve abaixo de 0,25, com aparecimento inclusive de valores negativos, muito provavelmente devido à alguma variabilidade nos resultados. O uso das ferramentas de análise estatística foi fundamental, para que os dados fossem analisados considerando esta variabilidade. Considerando os valores para os corpos de prova sem entalhe, uma correlação razoável pôde ser estabelecida entre a resistência à tração e a dureza Brinnel, com o parâmetro R2 = 0,75, dada pela equação ajustada a seguir, para o intervalo de dureza entre 190 e 235 HB. 𝜎𝑢𝑡 = 1,6219. 𝐻𝐵 − 72,048 (43) Os ensaios de torção reversa, foram realizados inicialmente para os quatro materiais, sem entalhe, para que se pudesse estabelecer uma diferença ou igualdade entre as resistências à fadiga na torção entre os mesmos. Um total de 200 amostras foram testadas e os resultados foram tratados utilizando ferramentas de ensaio acelerado. Este tratamento foi feito para que se pudesse estabelecer uma média e um intervalo de confiança nos resultados, assim como a projeção num ponto fixo de 107 ciclos. Este ponto foi utilizado como referência de comparação. Os resultados indicaram que não há diferença significativa para as condições A-frio; A-quente e B-frio, sendo que o valor de resistência a fadiga por torção fica entre 87 e 124 MPa. No entanto, para a condição B-quente, os resultados foram inferiores, ficando no intervalo de 53 e 77 MPa. Já em termos de correlação entre variáveis, a melhor pôde ser obtida para a resistência à fadiga na torção e dureza Brinnel (𝑅 2 = 0,98). A relação é dada pela equação linear a seguir e é válida para o intervalo de dureza entre 190 a 235 HB. 𝑆𝑆𝑁 = 1,3123. 𝐻𝐵 − 188,9 (44) O fator de sensibilidade ao entalhe na fadiga por torção – 𝑞𝑠 – foi avaliado apenas para o modelo A da cavidade quente, sendo que não se conseguiu verificar valores superiores à 0,10 e 240 sem grande correlação com o fator de concentração de tensão geométrico. Desta forma, conclui-se que um procedimento adequado e conservador a ser adotado no projeto de componentes, é por um lado utilizar uma sensibilidade ao entalhe na fadiga da ordem de 0,2. Finalmente, a conclusão geral deste trabalho é de que um fator de sensibilidade ao entalhe estático, obtido em ensaios de tração, não pode ser utilizado como uma referência inicial adequada para o projeto de componentes de material obtido por MP. Já para o ferro fundido cinzento, tal procedimento é válido, pois os valores possuem similaridade. Além disso, outra característica adequada para avaliação inicial de ferro fundido é a dureza Brinnel, que mostrou ter boa correlação com a resistência à tração e melhor ainda com a resistência à fadiga por torção. 241 10 SUGESTÕES PARA FUTUROS TRABALHOS Determinar a curva tensão deformação não linear para os materiais obtidos por MP. Realizar a simulação do fator de concentração de tensão utilizando MNL para os materiais obtidos por MP. Aumentar o número de testes com os materiais obtidos por MP, para melhorar os ajustes de curvas. Realizar medições de microdureza Vickers e dureza Brinnel para os materiais obtidos por MP, no sentido de correlacionar com os resultados de tração estática e torção em fadiga. Concluir os ensaios de fadiga em torção para os modelos A-frio, B-frio e B-quente, com entalhe, para que se obtenha a sensibilidade ao entalhe em fadiga para estas configurações. Realizar ensaios de torção estática para os materiais obtidos por MP e FoFo, sem e com diferentes níveis de entalhe para se obter o fator de sensibilidade ao entalhe estático nesta condição de carregamento. Correlacionar os resultados com o fator de sensibilidade ao entalhe em fadiga na torção. Aplicar metodologias como a simulação em mesoescala para outros tipos de materiais fundidos, como o alumínio, ou então compósitos. 242 243 11 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABNT EB-126. Peças em ferro fundido cinzento classificadas conforme a resistência à tração, 1986. ABNT NBR ISO 6892-1. Materiais metálicos – ensaio de tração, 2013. ADIB-RAMEZANI, H. ; JEONG, J. Advanced volumetric method for fatigue life prediction using stress gradient effects at notch roots. Computational Materials Science. v. 39(3), p. 649-663, 2007. AKINIWA, Y. ; STANZL-TCHEGG, S. ; WAKITA, H. ; TANAKA, K. 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Sem entalhe 𝑅=∞ Entalhe tipo 1 𝑅=5 Entalhe tipo 2 𝑅=2 256 Entalhe tipo 3 𝑅=1 Entalhe tipo 4 𝑅 = 0,2 257 Anexo C: Ilustração das simulações feitas via MEF para obtenção do fator de concentração de tensão geométrico para os corpos de prova de Ferro fundido, materiais “A” e “B” utilizados no primeiro ensaio de tração estático, que não levou em conta a cavidade do molde. CP01 Tensão Nominal = 269 MPa 𝐾𝑡 = 1,314 Tensão Máxima = 355MPa 258 CP02 Tensão Nominal = 268 MPa 𝐾𝑡 = 2,144 Tensão Máxima = 574 MPa Simulação utilizando modelo de material elástico linear 259 Simulação utilizando modelo de material não linear 260 261 Anexo D: Ilustração dos corpos de prova sem e com entalhe utilizados no segundo ensaio de tração estático, realizado com os materiais “A” e “B”, levando-se em conta também a cavidade (fria e quente) das quais as amostras foram obtidas. Corpo de prova sem entalhe Corpo de prova com entalhe 01 (R=1mm) 262 Corpo de prova com entalhe 02 (R=0,6mm) Corpo de prova com entalhe 03 (R=0,4mm) 263 Corpo de prova com entalhe 04 (R=0,2mm) 264 265 Anexo E: Análise feita via MEF para obtenção do fator de concentração de tensão estático para o ensaio de tração com entalhe do segundo teste. Corpo de prova sem entalhe 266 Corpo de prova com entalhe 01 (R=1mm) Corpo de prova com entalhe 02 (R=0,6mm) 267 Corpo de prova com entalhe 03 (R=0,4mm) Corpo de prova com entalhe 04 (R=0,2mm) 268 269 Anexo F: Geometria dos corpos de prova a serem utilizados nos ensaios de torção dinâmica para o aço obtido por MP e para os materiais fundidos “A” e “B”, obtidos das cavidades fria e quente. Corpo de prova sem entalhe Corpo de prova com entalhe tipo 01 (R=0,6mm) 270 Corpo de prova com entalhe tipo 02 (R=0,4mm) Corpo de prova com entalhe tipo 03 (R=0,2mm) 271 Corpo de prova com entalhe tipo 04 (R=0,15mm) Corpo de prova com entalhe tipo 05 (R=0,1mm) 272 273 Anexo G: Análises de microestrutura realizadas para as amostras de modelo de eixo, para determinar tipo, percentual aproximado e tamanho da grafita conforme norma ASTM A247 em cada região dos modelos. Exemplo de informação contida nas análises: Análises da região 1 (excêntrico) – periferia “B” cavidade fria peça 1 Tipo A Tipo B 50% 5,0 Tipo D Tipo B 50% 50% 5,0 4,5 “B” cavidade quente peça 1 Tipo A “B” cavidade fria peça 2 Tipo A Tipo B Tipo D Tipo D Tipo B 50% 90% 4,5 5,0 “B” cavidade quente peça 2 Tipo A “A” cavidade fria peça 1 Tipo A Tipo B Tipo D Tipo D Tipo B 10% 70% 30% 5,0 5,0 5,0 “A” cavidade quente peça 1 Tipo A “A” cavidade fria peça 2 Tipo A Tipo B Tipo D Tipo D “A” cavidade quente peça 2 Tipo A Tipo B 100% 100% 100% 60% 40% 5,0 4,5 4,5 5,0 4,0 Tipo D 275 Análises da região 1 (excêntrico) – centro. “B” cavidade fria peça 1 Tipo A Tipo B “B” cavidade fria peça 2 Tipo D Tipo A 60% 40% 4,0 7,0 “B” cavidade quente peça 1 Tipo A 50% 50% 4,0 7,0 “B” cavidade quente peça 2 Tipo A 65% 35% 5,0 7,0 Tipo B “A” cavidade fria peça 1 Tipo D Tipo D Tipo A Tipo B Tipo B Tipo B “A” cavidade fria peça 2 Tipo D Tipo A 40% 60% 70% 30% 4,0 7,0 4,0 7,0 “A” cavidade quente peça 1 Tipo D Tipo A 50% 50% 5,0 7,0 Tipo B Tipo B Tipo D “A” cavidade quente peça 2 Tipo D Tipo A 80% 20% 40% Tipo B Tipo D 60% 5,0 7,0 4,0 7,0 276 Análises da região 2 (contrapeso) – periferia. “B” cavidade fria peça 1 Tipo A Tipo B 70% 5,0 Tipo D “B” cavidade fria peça 2 Tipo A Tipo B 30% 95% 5,0 4,5 “B” cavidade quente peça 1 Tipo A Tipo B 95% 5% 4,5 4,5 Tipo D Tipo D Tipo B 5% 50% 4,5 5,0 “B” cavidade quente peça 2 Tipo A “A” cavidade fria peça 1 Tipo A Tipo B Tipo D Tipo D “A” cavidade fria peça 2 Tipo A Tipo B 50% 25% 75% 5,0 5,0 4,0 “A” cavidade quente peça 1 Tipo D Tipo D “A” cavidade quente peça 2 Tipo A Tipo B Tipo A 100% 40% 60% 100% 4,0 5,0 5,0 4,5 Tipo B Tipo D 277 Análises da região 2 (contrapeso) – centro. “B” cavidade fria peça 1 Tipo A Tipo B “B” cavidade fria peça 2 Tipo D Tipo A 35% 65% 4,0 7,0 “B” cavidade quente peça 1 Tipo A 50% 50% 4,0 7,0 “B” cavidade quente peça 2 Tipo A 80% 20% 3,5 7,0 Tipo B “A” cavidade fria peça 1 Tipo D Tipo D Tipo A Tipo B Tipo B Tipo B “A” cavidade fria peça 2 Tipo D Tipo A 50% 50% 70% 30% 4,0 7,0 3,5 7,0 “A” cavidade quente peça 1 Tipo D Tipo A 80% 20% 4,5 7,0 Tipo B Tipo B Tipo D “A” cavidade quente peça 2 Tipo D Tipo A 80% 20% 80% Tipo B Tipo D 20% 4,0 7,0 4,0 7,0 278 Análises da região 3 (corpo/topo) – periferia. “B” cavidade fria peça 1 Tipo A Tipo B Tipo D “B” cavidade fria peça 2 Tipo A Tipo B Tipo D “A” cavidade fria peça 1 Tipo A Tipo B Tipo D “A” cavidade fria peça 2 Tipo A Tipo B 100% 100% 100% 95% 5% 4,0 4,5 4,5 4,5 4,5 “B” cavidade quente peça 1 Tipo A Tipo B Tipo D “B” cavidade quente peça 2 Tipo A Tipo B Tipo D “A” cavidade quente peça 1 Tipo A Tipo B Tipo D Tipo D “A” cavidade quente peça 2 Tipo A Tipo B 100% 100% 50% 50% 95% 5% 4,0 4,0 4,5 4,0 4,5 5,0 Tipo D 279 Análises da região 3 (corpo/topo) – centro. “B” cavidade fria peça 1 Tipo A Tipo B “B” cavidade fria peça 2 Tipo D Tipo A 70% 30% 3,0 7,0 “B” cavidade quente peça 1 Tipo A 50% 50% 4,0 7,0 “B” cavidade quente peça 2 Tipo A 75% 25% 4,0 7,0 Tipo B “A” cavidade fria peça 1 Tipo D Tipo D Tipo A Tipo B Tipo B Tipo B “A” cavidade fria peça 2 Tipo D Tipo A 50% 50% 70% 30% 4,0 7,0 4,0 7,0 “A” cavidade quente peça 1 Tipo D Tipo A 60% 40% 4,0 7,0 Tipo B Tipo B Tipo D “A” cavidade quente peça 2 Tipo D Tipo A 80% 20% 65% Tipo B Tipo D 35% 4,0 7,0 4,0 7,0 280 Análises da região 4 (corpo/meio) – periferia. “B” cavidade fria peça 1 Tipo A Tipo B 40% 5,0 Tipo D “B” cavidade fria peça 2 Tipo A Tipo B 60% 30% 5,0 5,0 “B” cavidade quente peça 1 Tipo B 70% 30% 5,0 5,0 “B” cavidade quente peça 2 Tipo B 40% 40% 4,5 5,0 Tipo B 60% 4,5 Tipo D “A” cavidade fria peça 1 Tipo A Tipo A Tipo A Tipo D Tipo D Tipo D “A” cavidade fria peça 2 Tipo A Tipo B 70% 75% 25% 5,0 5,0 5,0 “A” cavidade quente peça 1 Tipo A Tipo B 60% 10% 5,0 5,0 Tipo D Tipo D “A” cavidade quente peça 2 Tipo A Tipo B 90% 50% 50% 5,0 4,5 5,0 Tipo D 281 Análises da região 4 (corpo/meio) – centro. “B” cavidade fria peça 1 Tipo A Tipo B “B” cavidade fria peça 2 Tipo D Tipo A 80% 20% 4,0 7,0 “B” cavidade quente peça 1 Tipo A 70% 30% 4,0 7,0 “B” cavidade quente peça 2 Tipo A 90% 10% 3,5 7,0 Tipo B “A” cavidade fria peça 1 Tipo D Tipo D Tipo A Tipo B Tipo B Tipo B “A” cavidade fria peça 2 Tipo D Tipo A 70% 30% 50% 50% 4,0 7,0 4,0 7,0 “A” cavidade quente peça 1 Tipo D Tipo A 50% 50% 4,0 7,0 Tipo B Tipo B Tipo D “A” cavidade quente peça 2 Tipo D Tipo A 65% 35% 90% Tipo B Tipo D 10% 4,0 7,0 4,0 7,0 282 Análises da região 5 (corpo/base) – periferia. “B” cavidade fria peça 1 Tipo A Tipo B 50% 5,0 Tipo D “B” cavidade fria peça 2 Tipo A Tipo B 50% 70% 6,0 5,0 “B” cavidade quente peça 1 Tipo B 30% 70% 5,0 5,0 “B” cavidade quente peça 2 Tipo B 50% 20% 4,5 4,5 Tipo B 50% 4,5 Tipo D “A” cavidade fria peça 1 Tipo A Tipo A Tipo A Tipo D Tipo D Tipo D “A” cavidade fria peça 2 Tipo A Tipo B 30% 45% 55% 5,0 5,0 5,0 “A” cavidade quente peça 1 Tipo A Tipo B 80% 25% 5,0 5,0 Tipo D Tipo D “A” cavidade quente peça 2 Tipo A Tipo B 75% 30% 70% 5,0 4,5 5,0 Tipo D 283 Análises da região 5 (corpo/base) – centro. “B” cavidade fria peça 1 Tipo A Tipo B “B” cavidade fria peça 2 Tipo D Tipo A 60% 40% 4,0 7,0 “B” cavidade quente peça 1 Tipo A 70% 30% 4,0 7,0 “B” cavidade quente peça 2 Tipo A 60% 40% 4,0 7,0 Tipo B “A” cavidade fria peça 1 Tipo D Tipo D Tipo A Tipo B Tipo B Tipo B “A” cavidade fria peça 2 Tipo D Tipo A 40% 60% 70% 30% 4,5 7,0 4,0 7,0 “A” cavidade quente peça 1 Tipo D Tipo A 60% 40% 4,0 7,0 Tipo B Tipo B Tipo D “A” cavidade quente peça 2 Tipo D Tipo A 40% 60% 70% Tipo B Tipo D 30% 4,0 7,0 4,0 7,0