VOCÊ ESTÁ EM: HOME / NOTÍCIAS / ARTIGOS Mulheres obesas podem ter dificuldade para engravidar Por Dr.Marchesini | Publicado dia 18/07/2014 às 04h48 O excesso de peso pode afetar diretamente a fertilidade das mulheres e, em muitos casos, dificultar a possibilidade de engravidar e de levar adiante a gestação. Isso porque a gordura corporal interfere diretamente na regulação hormonal da mulher, fazendo com que o corpo produza maior quantidade de estrógeno e prejudicando a fertilidade. “Nestes casos, o ciclo menstrual pode ocorrer normalmente e em intervalos regulares. No entanto, a ovulação normal talvez não ocorra em todos os ciclos”, explica o cirurgião especialista em obesidade, Caetano Marchesini. “Além disso, algumas mulheres, geralmente, com IMC acima de 50, podem deixar de menstruar por causa da obesidade”, ressalta Marchesini. Hoje, muitas mulheres obesas que buscam ginecologista com a intenção ou já com dificuldade de engravidar são encaminhadas para a cirurgia bariátrica. Para que se tenha uma ideia, cerca de 70% dos pacientes que realizam cirurgias bariátrica são do sexo feminino, com idade entre 35 e 50 anos, segundo dados da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM). Ou seja, é cada vez maior o número de mulheres que recorrem à cirurgia bariátrica, sendo que boa parte das pacientes que se submetem ao procedimento encontra-se em idade fértil. Gravidez pós-cirurgia bariátrica – As mulheres submetidas a cirurgia bariátrica percebem o retorno da menstruação logo durante o emagrecimento dos quilos iniciais após a cirurgia, sinalizando que a regulação hormonal está voltando ao normal. O emagrecimento também propicia a melhora de patologias que dificultam a gestação, como, por exemplo, a síndrome do ovário policístico, muito comum em mulheres obesas. No entanto, a decisão de engravidar deve ser comunicada à equipe bariátrica responsável pelo tratamento. O objetivo é avaliar se está tudo certo em termos clínicos, psicológicos, nutricionais e para preparar a paciente para a gestação. “Após a cirurgia, deve-se esperar um período de, pelo menos dois anos, para engravidar e este prazo deve ser respeitado. Isso para que a paciente conclua a perda de peso e para que a equipe de nutrição possa se certificar de que nem a mãe e nem o bebê sofrerão de alguma carência nutricional durante a gestação”, explica Marchesini. A rápida perda de peso e a própria intervenção cirúrgica podem desregular os estoques de nutrientes que se formam naturalmente no organismo e que são fundamentais para garantir uma gestação saudável, do começo ao fim, tanto para a mamãe quanto para o bebê. Exatamente por isso, embora seja possível engravidar logo após o procedimento, os especialistas recomendam esperar, no mínimo, um ano, período durante o qual recomendam o uso de métodos contraceptivos. “Esse intervalo é necessário para a estabilização do peso e para afastar maiores riscos“, ressalta Marchesini. Segundo ele, também deve ser feita uma reavaliação do aporte de suplementos nutricionais e monitoramento alimentar continuo durante todo o período da gestação. De acordo com a nutricionista funcional Christiane Vitola, uma mulher operada deve se preocupar com seu estado nutricional, mesmo antes da concepção. “Ao primeiro atraso menstrual deve ser iniciada intervenção nutricional, pois alguns nutrientes são mais exigidos durante esse período, como o ferro, ácido fólico e proteínas”, explica Vitola. Segundo ela, o acompanhamento nutricional é importante para adequar a alimentação e a suplementação. “A gestante bariátrica deve priorizar alimentos fontes de ácido fólico e ferro: feijão, vegetais verde escuros, grão de bico, etc”, exemplifica Chris Vitola. A nutricionista ressalta que as gestantes com problemas de enjoo e vômito devem ter a atenção redobrada, pois podem estar perdendo micronutrientes através desses episódios de vômitos. “Gestantes não devem comer por dois, por isso é importante o acompanhamento com o profissional nutricionista para seguir uma alimentação balanceada e tomar os suplementos certos. Se bem acompanhada, a gestação não irá oferecer riscos a mãe e ao bebê”, destacou. Qualidade de vida - Foi exatamente o que fez a dona-de-casa Camile Aparecida de Paula Kluppel Salvego. Em 2011 ela fez a cirurgia bariátrica. Pesava 115 quilos, perdeu 52 quilos e passou a pesar 63 quilos. Esperou dois anos para engravidar e, em 2013, teve a sua filha Helena de 1 ano e 9 meses. Ela conta que durante toda a gravidez engordou apenas 10 quilos. “Mantive a alimentação saudável que passei a ter após a cirurgia bariátrica. Com isso não ganhei muito peso e foi fácil voltar ao corpo que conquistei com 63 quilos”, comemora Camile. Para ela, os benefícios de se submeter à cirurgia bariátrica vão muito além da perda de peso. “O aumento da fertilidade foi um dos benefícios que a cirurgia me trouxe. Também é importante ressaltar que a perda de peso para uma mulher que pretende ser mãe também representa mais disposição e dinamismo para cuidar e brincar com os filhos”, enfatiza Camile. Quando o assunto é manter o peso que foi conquistado com cirurgia após a gestação, isto é, não achar pelo caminho percorrido os quilos que foram eliminados e os problemas de saúde deixados para trás, a dica dos especialistas é bastante simples: fazer acompanhamento rigoroso com uma equipe médica multidisciplinar. “É fundamental reforçar à paciente a necessidade de manter um estilo de vida saudável, com dieta balanceada, prática de exercícios físicos e suplementação alimentar, quando for necessário”, finaliza Marcheisni.