UNIVERSIDADE GAMA FILHO PÓS-GRADUAÇÃO LATO-SENSU EM ATIVIDADE FÍSICA ADAPTADA A SAÚDE Rio de Janeiro – RJ ARTRITE REUMATÓIDE E ATIVIDADE FÍSICA Estudo de Revisão Marcelo Caxias de Souza Dr. Luzimar - Orientador – ARTRITE REUMATÓIDE E A ATIVIDADE FISICA Resumo A artrite reumatóide (AR) é uma doença inflamatória sistêmica, de caráter auto-imune e etiologia desconhecida, caracterizada por poliartrite crônica, simétrica, erosiva, podendo levar a vários graus de destruição articular, com deformidades e redução de funções.1-2 Os pacientes com AR apresentam redução da força, resistência muscular, fadiga, depressão, auto-estima diminuída e tem a expectativa de vida reduzida em média de 10 a 15 anos. 3 Estudos demonstram que os pacientes com AR têm menor força muscular, menos flexibilidade e menor capacidade funcional que os controles saudáveis. 4 O treinamento físico é importante para preservar ou melhorar a amplitude de movimento das articulações, prevenir a atrofia muscular, aumentar o volume muscular e reduzir os danos articulares. O treinamento de força dinâmica conduz a um aumento de força e hipertrofia muscular associado à melhoria da capacidade funcional e diminuição da dor. Tudo leva a crer que atividade física pode ser prescrito por profissionais de educação física sem receio para o paciente com AR, pois além de contribuir para o bem estar geral e melhora significativa dos sintomas da AR, melhora a capacidade funcional, reverter a perda mineral óssea, reduz a taxa de hospitalização, reduz a incapacidade para o trabalho tendo, portanto um importante papel na melhoria de vários aspectos da qualidade de vida. Nesta revisão discute-se como um programa de treinamento físico pode contribuir para a melhora da qualidade de vida dos portadores de AR. Palavras-chaves: Artrite Reumatóide (AR), auto-imune e treinamento físico. Abstrat INTRODUÇÃO A artrite reumatóide (AR) é uma doença sistêmica auto-imune de etiologia desconhecida, cuja principal característica é a sinovite crônica, simétrica e erosiva das articulações periféricas. 5 A AR ocorre em todas as raças e em todas as partes do mundo, não havendo diferença na prevalência quanto à latitude, longitude ou clima6. O curso da AR pode ser variável, desde acometimento leve e intermitente até forma mais grave e progressiva. Não existem testes laboratoriais e achados histológicos ou radiológicos que conclusivamente possam indicar um diagnóstico definitivo de AR. De acordo com os critérios do American College of Rheumatology (ACR) para classificação da AR, a evidência de sinovite objetiva deve estar presente por pelo menos seis semanas.7 A AR afeta as atividades da vida, podendo diminuir seriamente a autonomia e, por conseguinte, a qualidade de vida da pessoa afetada. A característica principal é a inflamação articular persistente, mas há casos em que outros órgãos são comprometidos. As queixas características dos pacientes são dor e rigidez em múltiplas articulações, além dos sinais flogísticos locais e da limitação do movimento articular. Esta é uma doença comum e a prevalência pode chegar a 1,5% da população em algumas regiões. Pode ocorrer em qualquer faixa etária, apesar de a prevalência aumentar com a idade, geralmente com pico entre as 4ª e 6ª décadas. É incomum em homens jovens (0 a 0,5%).6-8 As mulheres participam com 70% dos casos9, mas a AR compromete também crianças. Sua freqüência aumenta paralelamente à idade dos pacientes. 10 Para que AR se desenvolva são necessárias algumas combinações de defeitos genéticos e a presença de um ou mais estímulos externos, o que faz com que a incidência em familiares de pacientes com esta doença não seja grande, pois não existe hereditariedade e sim uma prédisposição. No passado, os médicos freqüentemente aconselhavam os pacientes a repousar e evitar os exercícios. O repouso permanece importante, especialmente durante as crises. No entanto, a inatividade pode acarretar fraqueza muscular, rigidez articular, limitação dos movimentos articulares e diminuição da energia e da vitalidade. Atualmente, os reumatologistas aconselham um equilíbrio entre atividade física e o repouso individualizado de acordo com as necessidades especiais do paciente. 11 Para a AR moderado erosivo12 é prescrito um programa formal para educar o paciente sobre os princípios de proteção articula, caminhar, simplificação de tarefas, amplitude de movimento e exercícios para o fortalecimento muscular. O paciente é encorajado a participar ativamente do programa de tratamento. O programa de medicação é reavaliado periodicamente e as mudanças apropriadas são feitas se necessário. A atividade física é importante para preservar ou melhorar a amplitude de movimento das articulações, prevenir a atrofia muscular e aumentar o volume muscular, mantendo a integridade da articulação em pessoas saudáveis e reduzindo os danos naquelas com patologias articulares.13 1. REVISÃO DA LITERATURA A primeira descrição clínica de AR é creditada a Augustin – Jacob Landré – Beauvais (1772-1840), tendo ocorrido na Universidade de Paris no ano de 1800. Até então, ela era considerada uma variante da gota, sendo descrita sob denominação de “gota astênica primária”. O termo artrite reumatóide, entretanto só foi introduzido na literatura médica em 1858, em Londres por Sir Alfred Baring Garrod (1819-1907). Somente em 1941, o termo artrite reumatóide foi adotado pela “American Rheumatism Association” (ARA), atual ACR. 14 A AR uma doença universal, com prevalência entre 0,5 a 1% da população adulta. O início desta doença ocorre, habitualmente, entre 20 e 60 anos de idade, com a maior incidência em torno dos 45 anos, podendo comprometer também crianças. As mulheres participam com 70% dos casos e sua freqüência aumenta paralelamente à idade dos pacientes. 9 No Brasil, as doenças do sistema osteomuscular e do tecido conjuntivo, dentre elas a AR, foram responsáveis por mais de 293 mil internações a um custo de quase 195 milhões de reais no ano de 2004, com permanência média de internação hospitalar de 5,8 dias. As mulheres são afetadas cerca de três vezes mais que os homens, que a prevalência aumenta com a idade, e as diferenças sexuais diminuem nos grupos etários mais velhos. 15 Um estudo epidemiológico em uma população de origem japonesa, no interior de São Paulo, detectaram uma prevalência de AR de 0,2%. 16 Em estudo multicêntrico 17 desenvolvido verificou que a prevalência de AR em adultos brasileiros variou de 0,2 a 1,0%, conforme as macroregiões estudas: Belém 1,0%, Natal 0,57%, Brasília 0,5%, Campinas 0,6% e Curitiba 0,2%. A AR é uma doença multissistêmica crônica, auto-imune, de causa desconhecida. Apesar de haver uma série de manifestações sistêmicas, o elemento característica da artrite reumatóide é uma sinovite inflamatória persistente, que acomete habitualmente as articulações periféricas numa distribuição simétrica. Potencial da inflamação sinovial em acarretar destruição da cartilagem e erosões ósseas e subseqüentemente deformidades articulares constituem a marca registrada da doença. 15 Devido a sua distribuição mundial foi sugerido que poderia ser uma manifestação da resposta a um agente infeccioso em um hospedeiro geneticamente suscetível. 14 Foram sugeridos inúmeros agentes causais possíveis, porém ainda não apareceu qualquer evidência convincente. Além disso, o processo pelo qual o agente infeccioso poderia causar uma artrite inflamatória crônica, também está sujeito a muitas controvérsias. Outros mecanismos etiológicos potenciais da artrite reumatóide incluem o comprometimento da autotolerância normal que resulta em reatividade aos autoantígenos na articulação, como o colágeno tipo II, ou a perda dos mecanismos do controle imunoregulador, resultando na ativação das células T policlonais. É possível que diferentes estímulos artritogênicos ativem a resposta imunológica em um hospedeiro geneticamente susceptível. Dentre estes estímulos, são sugeridos diversos agentes infecciosos e substâncias endógenas tais como colágeno, proteoglicanos e imunoglobulinas alteradas que funcionaram como auto-antígenos. 19 Doenças auto-imunes (DAI) são um grupo de doenças cuja patologia corresponde à ativação de células T e/ou células B na ausência de infecção ativa ou outra causa discernível. Com exceção da artrite reumatóide e tireoidite auto-imune, as DAI são raras; mas, em termos gerais, atingem cerca de 5% da população ocidental. Essas doenças acabam lesionando o próprio organismo por diversas maneiras, e são causa de grande morbidade. No AR, a reação auto-imune ocorre, sobretudo no tecido cinovioal. Ocorre fagocitose produzindo enzimas na articulação estas degradam o colágeno, causando edema, proliferação da membrana sinovial e, finalmente, a formação de grânulos. Os grânulos destroem e erodem o osso. Os músculos são afetados do mesmo modo que as fibras musculares subjacentes às alterações degenerativas, com perda da elasticidade muscular e força de contratilidade. 12 Apesar de extremamente associados à artrite reumatóide, os fatores reumatóides (FR) não são os causadores da doença. Sua produção ocorre comumente em outras doenças ou distúrbios em que existe estimulação antigênica crônica, como endocardite bacteriana, sífilis, tuberculose, calazar, infecções virais, abuso de drogas endovenosas e cirrose. Indivíduos normais podem produzir FR, especialmente com o envelhecimento. Os FRs são auto-anticorpos para uma porção específica (Fc) das moléculas de IgG produzidos por linfócitos B no sangue e nos tecidos sinoviais, estando presentes em cerca de 80% dos pacientes com AR. Esses casos são denominados soropositivos. Altos títulos de FR sérico associam-se com doença articular mais grave e manifestações extra-articulares. O FR detectado pelos métodos habituais (fixação do látex, por exemplo) são IgM. Também existem FR IgA, IgE e IgD. 12 A inflamação envolve uma série de etapas relacionadas. A primeira etapa é o evento desencadeador em que o antígeno estimula os monócitos ativos e linfócitos T. Na etapa seguinte, os anticorpos imunoglobulina formam complexos com os antígenos (reação do tipo III – complexo imunomediado). A fagocitose dos complexos imunes é iniciada, gerando uma reação inflamatória.12 Durante a etapa seguinte, há um desvio da resposta imune normal. A fagocitose produz substâncias químicas, como leucotrienos e prostaglandinas. Os leucotrienos contribuem para o processo inflamatório atraindo outras células brancas para o local. As prostaglandinas atuam como modificadores na inflamação: em alguns casos, elas aumentam a inflamação; em outros, lentificam-na. Os leucotrienos e as prostaglandinas produzem enzimas, como a colagenase, que degradam o colágeno, uma parte vital da articulação normal. A liberação destas enzimas na articulação causa edema, proliferação da membrana sinovial e formação de granulação, destruição da cartilagem e erosão óssea. 12 O processo inflamatório imunológico começa com a preservação de antígenos para células T (linfócitos T), seguindo por proliferação das células T e B. as células B são a fonte de células formadoras de anticorpos, ou células plasmáticas. Em respostas a antígenos específicos, as células plasmáticas produzem e liberam anticorpos. O conjunto de anticorpos correspondente aos antígenos, formando pares ou complexos imunes. Os complexos imunes aumentam e são depositados no tecido sinovial ou em outros órgãos no corpo; desse modo, o desencadeamento da reação inflamatória pode finalmente lesar o tecido envolvido. 12 As manifestações clinicas da AR variam e, geralmente, refletem o estágio e a gravidade da doença. Dor articula, edema, calor, eritema e falta de função são aspectos clínicos clássicos da AR. A palpação das articulações revela tecido fofo ou aquoso. O líquido, freqüentemente, pode ser aspirado da articulação inflamada. Outros sintomas comuns incluem edema articular, movimento limitado, rigidez, fraqueza e fadiga12 . O padrão característico de comprometimento articular começa nas pequenas articulações das mãos, punhos e dedos. Com a evolução da doença, as articulações dos joelhos, ombros, quadris, cotovelos, tornozelo, coluna cervical e articulações temporomandibulares são envolvidas. O inicio dos sintomas geralmente é agudo; os sintomas são, em geral, bilaterais e simétricos. Além da dor articular e edema, outro sinal clássico de AR é a rigidez, especialmente de manhã, durando mais de 30 min. A limitação na função pode ser observada mesmo nos estágios iniciais da doença, antes das alterações ósseas ocorrerem, e quando há atividade inflamatória na articulação. As articulações que estão aquecidas, edemaciadas e dolorosas não são facilmente mobilizadas, e o paciente tende a resguardar ou proteger imobilizando-as. A imobilização por longos períodos pode causar contraturas, criando deformidades no tecido danificado. As deformidades das mãos e dos pés são comuns na AR. A deformidade pode ser causada pelo deslizamento resultante do edema, destruição articular progressiva ou subluxaçao que ocorre quando um osso desliza sobre o outro e elimina o espaço articular. A AR tende a afetar principalmente pequenas articulações do corpo, tais como a dos pés, mãos, joelhos, tornozelos, cotovelos e punhos. 18 Os nódulos reumatóides podem estar presentes em 20 a 25% dos casos. Estes nódulos geralmente são rijos e moveis no tecidos subcutâneos; eles costumam aparecer sobre as proeminências ósseas como as articulações, variam em tamanho e podem desaparecer simultaneamente. Os nódulos ocorrem somente em pessoas que tenham fator reumatóide. Os nódulos com freqüência estão associados com a doença progressiva e destrutiva. Outros aspectos extra-articulares incluem artrite, neuropatia, esclerite, pericardite, esplenomegalia e síndrome de Sjögren (olhos e mucosas ressecadas). As teorias principais da causa da AR e outros fatores possíveis são9: 1. Infecção – sem evidência definida, já que nenhum organismo é encontrado “consistentemente” nas articulações ou sangue. 2. Autoimunidade – a participação de antígenos endógenos na gênese da AR é controversa. 3. Hereditariedade – há maior prevalência de AR soropositiva nas famílias do que nos controles. Fatores ambientais podem ser pelo menos tão importantes como a herança na etiologia da AR. Portanto, há a participação de outros fatores além da suscetibilidade genética, no aparecimento da doença. 15 4. Clima – maior prevalência de AR nos climas temperados. Baixa prevalência nos climas tropicais e nos Pólos. 5. Trauma – o aparecimento coincide freqüentemente com trauma em uma articulação, e as articulações lesadas são freqüentemente afetadas com maior gravidade do que as outras. 6. Fatores endócrinos – incidência maior em mulheres; remissões são comuns na gravidez; as exacerbações são comuns na menopausa; os hormônios adrenocorticotrófico levam a uma acentuação da atividade da doença. 7. Fatores psicológicos – o aparecimento de AR pode ser associado freqüentemente ao traumatismo psíquico. Na fase inicial da AR, o tratamento começa com a educação, um equilíbrio entre repouso e exercício e encaminhamento aos serviços de saúde para suporte. O tratamento médico começa com doses terapêuticas de salicilatos e DAINEs. Quando são usadas dosagens terapêuticas plenas, estas medicações oferecem efeitos antiinflamatórios e analgésicos. Os pacientes são instruídos a tomar as medicações de modo prescrito, para manter um nível sangüíneo consistente e, assim, otimizar a eficácia da droga. Existem três tipos de AR a moderada, erosiva, a persistente, erosiva e a avançada, não-remissiva, todas com o seu tratamento especifico. Somente para a AR moderada são prescritos exercícios. 12 Embora o controle da inflamação com a utilização de antiinflamatórios e drogas de ação lenta (ADL) constitua a base do tratamento, a fisioterapia, incluindo exercícios gerais e específicos, os programas educacionais e a atenção para fatores psicológicos são todas importantes para a melhora clínica do paciente. 15 Os objetivos no tratamento da AR são: reduzir o processo inflamatório, prevenir ou minimizar o aparecimento das deformidades, manter o indivíduo produtivo e integrado na sociedade e conseqüentemente melhorar a sua qualidade de vida. 20 Existem evidências de que tanto a intervenção farmacológica quanto a não-farmacológica, podem alterar no curso evolutivo da doença, diminuindo o ritmo de progressão da limitação funcional e, principalmente, melhorando a qualidade de vida dos pacientes. 21 Em todos os estágios da AR, a depressão e a insônia podem requerer o uso a curto prazo de drogas antidepressivas, para restabelecer o padrão de sono adequado e melhorar o controle da dor crônica. Os pacientes com AR freqüentemente apresentam anorexia, perda de peso e anemia. A historia alimentar identificara os hábitos alimentares usuais e as preferências alimentares. O paciente é ensinado a selecionar os grupos alimentares básicos, com ênfase nos alimentos ricos em vitaminas, proteínas e ferro para a construção e reparo tecidual. Para os pacientes extremamente anoréticos, podem ser prescritas refeições pequenas, com aumentos de suplementos de proteínas. Algumas medicações usadas no tratamento da AR estimulam o apetite e, quando combinadas com a redução da atividade, podem causar ganho de peso. Quanto à dieta, o American College of Rheumatolog7 adverte que “até que existam mais dados disponíveis, os pacientes devem continuar a seguir dietas balanceadas e saudáveis, ser céticos em relação aos anúncios ‘miraculosos’ e evitar as praticas nutricionais de eliminação e dietas da moda”. De acordo com as normas do o American College of Rheumatolog7, o tratamento deve incluir: • Alterações no estilo de vida - exercícios para fortalecer a musculatura, perda de peso para reduzir a pressão sobre os ossos equipamentos de apoio tipo bengala ou espaldar nas paredes. • Tratamento da dor – fisioterapia. • Educação do paciente – informar os pacientes sobre a doença e fornecer ferramentas para auxiliá-los a superar a dor e ser ajustar à sua situação. Conforme o grau da enfermidade, entra no circuito o fisioterapeuta e o profissional de Educação Física. Com certeza os exercícios são apenas uma parte do tratamento podendo ser, caso a caso, os aeróbios, os de flexibilidade e os de força. A abordagem do paciente em um contexto multidisciplinar é um aspecto fundamental no tratamento da AR. Em geral, portadores de AR são descondicionados e sua capacidade cardiovascular é, em média, cerca de 40% inferior à de indivíduos sadios, 22 em que a fraqueza e o desuso associados ao processo primário da doença contribuem para a inatividade. 23 O exercício causa a liberação de â-endorfinas e alguns autores 24 têm sugerido que o uso do treinamento físico é uma modalidade de tratamento para aliviar a dor do paciente com AR, trazendo benefícios na mobilidade de estruturas periarticulares, incluindo cápsula articular, tendões e músculos. 25 O treinamento de resistência em pacientes com AR, considerando a disfunção física e a limitação funcional, tem sido respaldado por vários trabalhos,26,27,28 em sua maioria utilizando a bicicleta ergométrica, como parâmetro principal para verificar o efeito sobre a resistência cardiovascular em relação ao consumo máximo de oxigênio. Observa-se que o treinamento dinâmico contra-resistido (TDC-R) é, sem duvida, um recurso metodológico freqüentemente empregado para o desenvolvimento de algumas capacidades musculares, tanto no contexto dos esportes de rendimento, como em outras situações que não incluem performance. Esse modo de treinamento é mais conhecido na pratica profissional pela denominação de musculação, que na realidade, corresponde à conjugação sistemática de varias formas de trabalho muscular contra-resistivo, realizado através da enorme gama de dispositivos e equipamentos concebidos para esse fim. 29 Estudo realizado30 concluiu que a diminuição da força e da resistência muscular são problemas para alunos com AR. Em razão de esses fatores estarem diretamente relacionados com a falta de uso dos músculos, um programa gradativo de fortalecimento pode ajudar na manutenção de um nível de força funcional das partes afetadas. O processo demora semanas e até meses, mas as dores vão diminuindo com o tempo. Tais exercícios vão também garantir a mobilidade das articulações atingidas pela inflamação. Quanto maior a resistência nas articulações menor será a restrição nas tarefas cotidianas. Tanto os exercícios de reforço muscular isométricos quanto os isotônicos são recomendados. Os exercícios isométricos podem aumentar a força muscular sem efeitos adversos sobre uma articulação agudamente inflamada. Os exercícios isotônicos permitem que a articulação se mova com uma amplitude limitada ou completa enquanto os músculos se contraem. Esse tipo de exercício é recomendado quando a dor e a inflamação articular estiverem controladas e quando se tenha obtido uma força muscular suficiente por meio dos exercícios isométricos. O exercício isométrico deverá ser feito duas vezes ao dia durante a fase inflamatória, quando esta diminuir, poderá ser feito 5 a 10 vezes ao dia. Assim que a dor e a inflamação diminuírem deverá ser incluído contrações em diversas angulações. Depois podem ser adicionadas resistências manuais ou com pesos. 31 Os exercícios isométricos ajudam a prevenir a atrofia muscular; eles também produzem menos inflamação e menos alteração na pressão intra-articular do que outras formas ou exercício de resistência. Pesquisadores, da Tufts University, deram a seus pacientes com AR um treino de alta intensidade com pesos durante 12 semanas. Os resultados mostraram que os pacientes tiveram significativa redução da dor nas articulações, diminuição da fadiga além de um grande ganho em força. Um mesmo estudo foi realizado em Nebraska University, do qual foi aplicado um treinamento de 8 semanas com pesos. Neste estudo foi verificado que o trabalho com pesos causou um significante declínio na atividade da artrite. 32 Pesquisas mostraram claramente que o exercício maximiza a amplitude de movimento, 33 a força muscular34 a resistência, densidade óssea. 35, 36 o alinhamento adequado das articulações, a função 37 e a 38 O treinamento de resistência deverá envolver de 8 a 10 exercícios para os grandes grupamentos musculares30. A intensidade deverá ser entre 40 a 50% de 1 RM com iniciantes, dependendo da resposta do paciente pode aumentar gradualmente esta intensidade em 60 a 80% de 1 RM. A duração recomendada para iniciantes é de 1 série de 4 a 6 repetições podendo chegar a 8 repetições, evitando a fadiga muscular. A freqüência de treinamento deverá ser de duas a três vezes por semana, com intervalo de descanso de 72 horas. A progressão da intensidade e duração no treinamento de resistência deve ser gradual para dar tempo de se adaptar. 31 Outro estudo35 estabeleceu normas de prescrição do treinamento de resistência na população idosa, incluindo os grupos de pacientes com AR. De acordo com essas recomendações, treinamento de resistência deve estar dirigido aos grandes grupos musculares que são importantes na atividade da vida diária. Em média são recomendadas 8 a 10 repetições por exercício, sendo que cada repetição deverá ser realizada lentamente, levando em torno de 2 a 3 segundos para levantar o peso e 4 a 6 segundos para abaixá-lo; numa freqüência de treino de duas vezes por semana. 36 O ideal é o uso de máquinas, já que o peso pode ser aplicado em níveis baixos e incrementando lentamente, protegendo a coluna lombar e diminuindo o risco de lesão, muitas vezes evitando a força de preensão nas mãos, reduzindo o risco de hipertensão induzida pelo exercício, além de permitir realizar os movimentos em sua amplitude total, e não exigindo muito do equilíbrio ou manejo dos pesos pelos participantes. Os incrementos de força muscular geralmente acontecem por volta da segunda e terceira semana de treinamento e os aumentos são em torno de 10 a 15% por semana, durante as primeiras oito semanas. 35 Os exercícios dinâmicos parecem superiores ao treinamento estático para promover a função muscular nas extremidades inferiores entre os pacientes com doença estável. Para avaliar o impacto de um programa de exercícios de intensidade sobre a força muscular, listaram37 8 pacientes com AR, 8 jovens saudáveis e 8 idosos saudáveis, num programa de 12 semanas de treinamento de resistência de baixa intensidade, enquanto dos 8 idosos 6 realizaram exercícios de natação de aquecimento. Os resultados mostraram que os pacientes com AR bem controlada tiveram um aumento de 54 – 75% na força máxima dos grandes grupamentos musculares comparados com os controles, sem a exacerbação da atividade da doença, e estes pacientes também relataram significantes reduções da dor (21%) e fadiga (38%). Os jovens saudáveis tiveram um aumento de 44% e os idosos saudáveis de 35% da força muscular. Um programa de 2 anos para aumento de força muscular em 31 pacientes com AR de início recente, constatou que o treinamento de força melhorou a função física, a mobilidade da articulação comprometida, a atividade da doença regrediram e a força máxima dos grandes grupamentos musculares aumentou em 19-59%.38 Estudos têm demonstrado benefício adicional na resistência cardiovascular nos pacientes com AR das classes funcionais I e II com exercício aeróbio. 39 40,41 Os efeitos de exercício modificado baseado em dança para pacientes com AR foram publicados por Noreau et al.42 Nesse trabalho, os autores demonstraram que um programa com duração de três meses, realizados duas vezes por semana, comparando com pessoas normais, antes, no final e após seis meses de treinamento, revelou trazer benefícios para esses pacientes. Foi observada melhora de 13% a 23% na freqüência de depressão, ansiedade e fadiga dos pacientes. Komatireddy et al, 43 em 1997, utilizando treinamento muscular de baixa resistência em 49 pacientes com AR das classes II e III, constataram aumento da capacidade funcional com melhora clínica, mas sem alteração significante da resistência cardiovascular, recomendando o programa de exercício aeróbio moderado como o mais apropriado. 44 É importante lembrar que na AR a redução da força e a da resistência física são fatores que podem contribuir para o comprometimento da sobrevida e/ou qualidade de vida dos pacientes. Portanto, o treinamento de resistência muscular deve ser preferido ao treinamento aeróbico na AR, 45 pois pode parar ou reverter a perda de massa muscular, sendo preferência para a manutenção da capacidade funcional e independência. 35 Os aeróbios contribuem para diminuir o peso corporal. Os portadores de AR devem se preocupar em controlar o seu peso corporal, pois, com menos peso, menor será a sobrecarga numa articulação já comprometida e menos sofrimento e dor ele terá. Os exercícios devem ser feitos evitando a dor. Comece com exercícios lentos e com poucas repetições e aumente a carga, progressivamente, até conseguir seguir todo um programa de fortalecimento; A continuidade é fundamental para os exercícios produzirem resultados; As aulas devem ser contínuas e de baixa intensidade; Exercícios de longa duração e grande intensidade devem ser evitados durante a crise (inflamação); Indivíduos com artrite e artrose podem ter dificuldade de se aquecerem no início das atividades, portanto, o aquecimento na aula deve ser um pouco maior; As aulas devem se modificar em intensidade e duração, de acordo com as respostas dos alunos, com relação: a medicação usada, nível de dor e alterações da doença. No caso de dor, inchaço e inflamação: Suspender qualquer atividade física, a insistência no uso de uma articulação afetada só agrava seu estado; Descansar até a inflamação ceder. Mas não prolongue demasiado o tempo de repouso. Quando sentir melhoras retorne imediatamente ao programa de exercícios. Use as medicações dadas pelo médico e o procure se necessário. Calor elevado, em combinação com a unidade, reduz o inchaço, dor e rigidez de músculos e articulações (chuveiro, compressas, piscina aquecida). Evitar Hidroginástica em piscina fria (os alunos não suportam bem). Conclusão A artrite reumatóide é uma doença crônica com grande potencial incapacitante. Não pode ser curada ou evitada e, ainda que o objetivo do tratamento seja produzir uma remissão completa da doença, isto ocorre apenas em poucos casos. Na maioria dos pacientes, então, procura-se controlar a atividade da doença, aliviar a dor, manter o indivíduo capaz de desempenhar suas atividades cotidianas, maximizar a qualidade de vida e retardar o ritmo de lesão articular através de intervenções farmacológicas, nãofarmacológicas e cirúrgicas sendo muito eficaz o acompanhamento multidisciplinar dos portadores. O tratamento convencional ajuda a amenizar os efeitos do ataque das células de defesa do organismo, diminuindo as dores, mas o processo continua. Além de potentes antiinflamatórios, a medicina hoje conta com os imunomoduladores. Essas drogas agem no sistema de defesa, principalmente no processo de inflamação. A literatura mostra ainda, que os pacientes com artrite reumatóide estável suportam os exercícios, dependendo do grau da lesão, dinâmicos e estáticos, sendo que os primeiros conduzem a uma melhora acentuada na força e função muscular. A atividade física é comprovadamente importante para preservar ou melhorar a amplitude de movimento das articulações, prevenir a atrofia muscular e aumentar o volume muscular mantendo a integridade da articulação em pessoas saudáveis e reduzindo os danos naquelas com patologias articulares. O treinamento de força dinâmica em pacientes com AR resulta em melhoria da capacidade funcional e maior independência nas atividades de vida diária os aeróbios contribui no controle do peso corporal ajudando evitar maiores cargas nas articulações já comprometidas. Concluo que atividade física, controlada e personalizada, pode ser prescrita por profissionais de educação física sem receio para o paciente com AR, pois além de contribuir para o bem estar geral e melhora significativa dos sintomas da AR, melhora a capacidade funcional, reverte a perda mineral óssea, reduz a taxa de hospitalização, reduz a incapacidade para o trabalho tendo, portanto um importante papel na melhoria de vários aspectos da qualidade de vida. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1- SCHUMACHER HR: Rheumatoid arthritis – Epidemiology, pathology, and pathogesis. In Primer on the Rheumatic Diseases. Associate Editors, 1 –1 1 1- Atlanta, Georgia, Published by the Arterites Foundation, 1993, cap. 10, p. 86-96. 2- MAEHLUM S: Strategies to improve strength and stamina. In Klippel JH: Rheumatology, Times Mirror International Publishers Ltd., 1994, section 8:5, p. 1-5.8. 3- MARIA ROSENILDA P. CARVALHO, CARLOS AUGUSTO F. SALLES, ANTONIO SERGIO TEBEXRENI, TURÍBIO L. BARROS NETO, YARA Q. 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