Pensamento do Dia Economistas analisam a Economia, o Brasil e o mundo, mundo, na mídia diária 13 05 2010 ------------------------------------------------------------------O Estado de S.Paulo - 13/05/2010 Bernardo fala em corte de gastos e avisa: 'Vai doer' Ministro do Planejamento diz que medida visa a evitar superaquecimento da economia e alta do juro O ministro Paulo Bernardo (Planejamento) disse em entrevista ao Estado que o governo pretende evitar que a economia do País registre superaquecimento neste ano e tenha de sofrer freada brusca em 2011. Para isso, haverá cortes de gastos, o que vai na contramão do que foi feito até aqui na gestão Lula. ""Vamos tentar fazer o menos dolorido possível, mas vai doer", afirmou Bernardo. O ministro disse que a ideia é evitar forte alta de juros, mas negou interesse eleitoral. "Aqui não nos preocupamos com eleição. Se fosse por causa disso, deixaríamos a economia crescer 8% (em 2010) e crescer pouco no ano que vem. Isso, sim, seria visão eleitoreira." Sobre as pressões por aumento para aposentados e servidores, ele disse: "Não temos condições de atender, nem de longe, todas essas coisas". ""Corte de gastos do governo vai doer"" ENTREVISTA Paulo Bernardo, ministro do Planejamento Depois de passar todo o governo Luiz Inácio Lula da Silva atuando em sentidos contrários, as políticas de gastos e de juros do governo vão entrar em coordenação. Essa é, pelo menos, a intenção da equipe econômica, que propôs ao presidente um corte de gastos, o que ajudaria no combate à inflação e pouparia o Banco Central de elevar os juros em 2010. O objetivo, segundo explicou ao Estado o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, é evitar que a economia superaqueça este ano tenha de ser freada bruscamente em 2011. O ministro disse que não será um megacorte, mas avisa que "vai doer". A seguir, trechos da entrevista. O ministro Guido Mantega levantou a hipótese de o governo cortar gastos este ano. Tem até especulação que o decreto de programação financeira, no dia 20, virá com um corte. É isso? Não temos decisão, mas é verdade que o Guido Mantega falou comigo e com o presidente. E o presidente não deu orientação na direção contrária. Determinou que estudássemos. Mas por que cortar, se a economia está indo bem e a perspectiva é de receitas elevadas? Cresce um sentimento de que a economia está acelerando para além daquilo que todos avaliavam. Já tem gente falando que podemos crescer 7%. O que pode acontecer? Vamos ficar olhando o Banco Central aumentar os juros? O que estamos discutindo são outras alternativas. Como podemos ajudar com a política fiscal. Não é de hoje que a ata do Copom avisa sobre o risco inflacionário criado pela demanda do governo. Por que agora se olha para o problema? Tem relação com a crise na Europa? O Banco Central faz o papel dele quando coloca esses alertas na ata e nós, normalmente, levamos esses alertas a sério. Com a crise internacional, temos de ficar mais atentos. Ninguém acha que a Grécia tem peso suficiente para arrastar a economia mundial, mas é verdade que as expectativas se deterioraram. É para evitar uma alta do juro às vésperas da eleição? Aqui não nos preocupamos com eleição. Não estou com brincadeira, não. O governo quer que tenhamos condições de crescer 5% no ano que vem, 5% em 2012. Se fosse por causa da eleição, deixaríamos a economia acelerar, crescer 8% e crescer pouco no ano que vem. Isso sim, seria uma visão eleitoreira. Vai ter uma coordenação maior entre as políticas monetária e fiscal? Sempre tentamos fazer isso. Para fazer o ajuste fiscal, o governo vai abrir mão de descontar as despesas com o PAC do superávit primário? Isso não mudou. Todos os anos, tentamos cumprir a meta sem descontar. Descontamos um tiquinho em 2008 e 2009. Foi um ponto fora da curva. Existe a necessidade de aumentar a meta de superávit? Existe, mas eu não vejo condição para fazer isso, sinceramente. Não vamos parar o PAC, não vamos cortar os programas sociais. Então, não será um megacorte. Não. Vamos tentar fazer o menos dolorido possível, mas vai doer. --------------------------------Valor Econômico - 13/05/2010 Lições gregas para o mundo Por Dani Rodrik Está claro que o tombo grego rendeu um olho preto à União Europeia. Os governos alemão e francês tampouco poderão impedir que a Grécia deixe a zona do euro O pacote de ajuda de US$ 140 bilhões que o governo grego finalmente recebeu dos seus parceiros da União Europeia (UE)e do Fundo Monetário Internacional (FMI) dá ao país a pausa para fôlego necessária para assumir a dura tarefa de colocar suas finanças em ordem. O pacote poderá ou não evitar que Espanha e Portugal se arruínem de forma semelhante, ou até mesmo impedir um calote grego eventual. Seja qual for o resultado, está claro que o tombo grego rendeu um olho preto à UE. No fundo, no fundo, a crise é mais uma manifestação daquilo que eu chamo de "trilema político da economia mundial": globalização econômica, democracia política e a naçãoEstado são mutuamente irreconciliáveis. No máximo podemos ter dois ao mesmo tempo. A democracia só será compatível com soberania nacional se restringirmos a globalização. Se pressionarmos por globalização ao mesmo tempo em que mantivermos a naçãoEstado, precisaremos nos desfazer da democracia. E se quisermos democracia junto com globalização, deveremos colocar a nação-Estado de lado e lutar para obter mais governança internacional. Os arquitetos do regime de Bretton Woods entenderam que os países democráticos precisariam de espaço para conduzir políticas fiscais e monetárias independentes. Dessa forma, eles só contemplaram uma globalização "aguada", com fluxos de capital limitados sobremaneira a tomadas e concessões de crédito de longo prazo. John Maynard Keynes, que escreveu as regras junto com Harry Dexter White, enxergava os controles de capital não como um expediente temporário, mas como uma característica permanente da economia global. O regime de Bretton Woods desabou na década de 1970, como resultado da incompetência ou da indisposição - não está claro qual deles - dos principais governos gerenciarem o volume crescente de fluxos de capital. Na Europa, seus líderes sempre entenderam que a união econômica precisa ter uma firme fundação política para se apoiar. Ainda que alguns, como os britânicos, desejassem conferir o mínimo poder possível à União, a força do argumento estava com os que pressionaram pela integração política aliada à integração econômica. Mesmo assim, o projeto político europeu ficou muito aquém do econômico. A Grécia se beneficiou de uma moeda comum, mercados de capital unificados, e de livre comércio com os demais países membros da UE. Mas ela não tem acesso automático a um emprestador de última instância. Seus cidadãos não recebem cheques do segurodesemprego de Bruxelas da forma como o californianos recebem da capital Washington, quando a Califórnia atravessa uma recessão. Os gregos desempregados tampouco podem, considerando-se as barreiras linguísticas e culturais, se movimentar com a mesma facilidade através da fronteira, transferindo-se a um país europeu mais próspero. E os bancos e firmas gregos perdem a sua capacidade creditícia junto com a do seu governo se os mercados perceberem que este último está insolvente. Os governos alemão e francês, por sua vez, pouco tiveram a dizer sobre as políticas orçamentárias da Grécia. Eles não puderam impedir que o governo grego continuasse tomando emprestado (indiretamente) do BCE enquanto as agências de classificação de crédito considerassem a dívida grega digna de crédito. Se a Grécia optar pelo calote, eles não poderão impor o cumprimento das demandas dos seus bancos sobre os tomadores de crédito gregos nem confiscar ativos gregos. Eles tampouco poderão impedir que a Grécia deixe a zona do euro. O significado de tudo isso é que a crise financeira acabou ficando muito mais profunda, e sua resolução, consideravelmente mais confusa do que o necessário. Os governos francês e alemão propuseram relutantemente um pacote de empréstimo imponente, mas somente depois de demora considerável e com o FMI se postando ao seu lado. O BCE reduziu o limite mínimo de solvência que os títulos do governo grego precisam atingir para permitir a continuidade da captações de crédito da Grécia. O sucesso do plano de socorro está longe de estar garantido, em vista da magnitude das medidas de aperto que está pleiteando e da hostilidade que despertou da parte dos trabalhadores gregos. Quando chegar a hora da verdade, as políticas domésticas triunfarão sobre os credores estrangeiros. A crise revelou como são exigentes os pré-requisitos políticos da globalização. Ela mostra quanto as instituições europeias ainda precisam evoluir para respaldar um mercado único vigoroso. A escolha que a UE enfrenta é a mesma nas demais partes do mundo: ou se integra politicamente, ou reduz a intensidade da unificação econômica. Antes da crise, a Europa parecia ser a candidata mais provável a fazer uma transição bem-sucedida para o primeiro ponto de equilíbrio - maior unificação política. Agora seu projeto econômico está em frangalhos, enquanto a liderança necessária para reavivar a integração política saiu de cena. O melhor que pode ser dito é que a Europa não poderá adiar por mais tempo a escolha que o episódio grego desnudou. Se você for um otimista, até poderá concluir que, consequentemente, a Europa acabará emergindo ainda mais forte. Dani Rodrik é professor de economia política na Escola de Governo John F. Kennedy da Universidade Harvard. -------------------------------Estadão Online – 13/05/2010 Os Estados Unidos não estão no centro de tudo Paul Krugman Agora os republicanos resolveram se manifestar contra a participação dos Estados Unidos num resgate da Grécia – o que é interessante, levando-se em consideração que ninguém nos convidou a participar. (De fato, fazemos parte do FMI, que providenciará parte do dinheiro – mas trata-se de uma fração de outra fração e seria uma péssima ideia se os membros do FMI começassem a escolher os programas dos quais participarão.) Deixando de lado a estupidez do protesto, o que mais me impressiona neste caso é o delírio – extremamente comum nos EUA, em especial entre a direita, embora isso não se restrinja a ela – de que estamos no centro de tudo, algo que emana da concepção equivocada do quão super nós realmente somos enquanto superpotência. Fenômeno semelhante pôde ser observado nos preparativos para a guerra no Iraque, quando os seguidores de Bush estavam absolutamente convencidos de que poderiam intimidar os membros temporários do Conselho de Segurança da ONU a apoiar a guerra – aparentemente ignorando o fato de que, para muitos desses membros, a Europa é um mercado mais importante e uma fonte de ajuda muito mais importante do que os EUA. O mesmo pode ser dito da disputa em relação à tributação do aço, quando o governo Bush se mostrou aparentemente ignorante do fato de a Europa ser um participante tão importante quanto nós no comércio mundial, além de ser absolutamente capaz de uma retaliação contra violações claras das regras comerciais. (A equipe de Obama é menos ingênua: está disposta a jogar duro, como por exemplo na questão dos pneus, mas toma o cuidado de não exceder aquilo que é permitido.) E agora isso. Vejam, a Europa está em apuros – e parte da encrenca pode contaminar os EUA. Mas, basicamente, não estamos no centro desse problema: como vemos, nem sempre os EUA estão no centro de tudo. -------------------------------Folha de S.Paulo - 13/05/2010 Europa em transe Paulo Nogueira Batista Jr. QUANDO O ano começou, eu alimentava esperanças de que a minha vida fosse ficar um pouco mais fácil aqui em Washington. A crise internacional estava amainando e a pressão sobre o FMI parecia diminuir. Não aconteceu. Estamos tendo reuniões da diretoria até no domingo. A Europa não dá descanso. O terremoto europeu, com epicentro na Grécia, afetou grande parte do continente e reverberou no resto do mundo. O superpacote anunciado pela União Europeia na madrugada de segunda-feira é uma tentativa dramática de estancar a crise. Os primeiros efeitos foram positivos. Morfina para os mercados, declarou um alto funcionário do FMI. Em grande parte, é uma repetição do que foi feito para lidar com a crise global depois do colapso do Lehman. Com uma diferença importante: procura-se agora atuar em grande escala antes que a Grécia ou algum outro elo fraco provoque uma crise comparável à de 2008-2009. Mas o quadro é desalentador. Mercados turbulentos, misturando pânico e especulação agressiva, mostram uma capacidade fenomenal de encurralar governos financeiramente frágeis. A matilha de lobos, na expressão de uma autoridade europeia, sente o cheiro de sangue e ataca sem dó nem piedade. Em resposta, o setor oficial (governos europeus, autoridades regionais, bancos centrais, FMI etc.) procura impressionar os mercados exibindo uma artilharia pesada. Como fizeram em 2008 e 2009, governantes anunciam novamente números estratosféricos de apoio financeiro oficial. Outra vez, aparece a cifra mágica: US$ 1 trilhão ou quase. O FMI é chamado a comparecer com grandes empréstimos. O Banco Central Europeu e outros bancos centrais do continente, depois de muita hesitação, dispõem-se finalmente a comprar títulos públicos e outros papéis duvidosos rejeitados pelo mercado. Voltam as operações de "swap" de moedas entre o Fed e os principais bancos centrais. Em resumo, um deus nos acuda. Tudo para impedir que a quebra de governos ou de instituições financeiras gere perdas para os credores e recrie um quadro de crise profunda. Um dos grandes objetivos desses superpacotes é mostrar determinação e poder de fogo na esperança de que o dinheiro anunciado não precise ser totalmente utilizado. Pode funcionar. Nem todo o socorro oficial anunciado pós-colapso Lehman teve que ser desembolsado. A repetição do artifício leva, porém, ao seu desgaste. Tanto mais que há um elemento de blefe nos números anunciados. Os valores nem sempre estão efetivamente disponíveis. No caso do FMI, os 250 bilhões que a instituição deveria aportar para socorrer os europeus constituem, de acordo com o divulgado pela administração do Fundo, um valor "hipotético" (sic). Os europeus parecem ter perdido o rumo de casa. Há pouco tempo, autoridades europeias graúdas consideravam inaceitável que a Grécia, um país da zona do euro, recorresse ao FMI. Agora, os europeus anunciam demandas extraordinárias sobre a instituição, as suas equipes e os seus recursos. No limite, levariam todo o dinheiro que temos aqui -e mais algum. FMI, não. FME -Fundo Monetário Europeu. PAULO NOGUEIRA BATISTA JR. , 55, escreve às quintas-feiras nesta coluna. É diretor-executivo no FMI, onde representa um grupo de nove países (Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Haiti, Panamá, República Dominicana, Suriname e Trinidad e Tobago), mas expressa seus pontos de vista em caráter pessoal. ----------------------------O Globo - 13/05/2010 Ritmo acelerado Miriam Leitão O PIB do Brasil pode crescer 7,5% este ano. O Itaú Unibanco divulgou essa previsão, dias depois de o Bradesco ter revisto a projeção para 7%. Quem não está perto desse número avisa que está revendo os cálculos. Setores empresariais estão elevando suas apostas de altas de vendas. O economista-chefe do Itaú, Ilan Goldfajn, disse que o Brasil cresceu a uma taxa anualizada de 12% no primeiro trimestre. Nossos cálculos indicam que o país deve ter crescido 3% no primeiro trimestre deste ano, o que é uma taxa chinesa. Mesmo se incluirmos uma queda para um crescimento de 1,1% nos outros trimestres, o crescimento vai para 7%. O número é absolutamente realista. Pode ser um pouco mais baixo, da mesma forma como pode chegar a 8% diz Goldfajn. O Departamento de Estudos Econômicos do Bradesco também reviu a projeção para o PIB de 6,4% para 7%. A mudança foi provocada por números mais fortes da produção industrial, das vendas do varejo e da taxa de desemprego, que vieram melhores do que o esperado. Ontem, o IBGE divulgou que as vendas do comércio cresceram 12,8% no primeiro trimestre em comparação com o mesmo período do ano passado. Em março, o volume de vendas cresceu 1,6% em relação a fevereiro. A MB Associados também acabou de rever seu número de 6% para 6,6%. O Credit Suisse prevê crescimento de 6,5%, mas avisou que o número está em revisão. A Tendências Consultoria também revisou sua estimativa, de 5,2% para 6%. O Boletim Focus sobe há oito semanas seguidas a previsão do PIB, que já está em 6,26%. Como era de se supor, as expectativas de inflação também têm se elevado. Há 16 semanas seguidas a projeção para o IPCA sobe na pesquisa realizada pelo Banco Central e agora já está em 5,5%. Na conversa com setores e empresas, os números impressionam. A Coca-Cola soma 24 trimestres ininterruptos de crescimento no Brasil. O aumento das vendas no primeiro trimestre deste ano, de 12%, é três vezes maior que no mesmo período de 2009. O desempenho da empresa no país contrasta com os números no resto do mundo. No mesmo período, houve crescimento de 3% das vendas globais e de 4% na América Latina. A Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee) disse que no primeiro trimestre deste ano foram abertos 9.160 postos de trabalho, um aumento de 5,73% em relação a dezembro. A Associação Brasileira dos Supermercados (Abras) informou que as vendas no primeiro trimestre tiveram aumento de 8,61% em relação ao mesmo período do ano passado. Na Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) a alta no faturamento foi de 20,2% nos três primeiros meses do ano. O setor de shopping centers registrou alta de 14% nas vendas do primeiro trimestre, e o presidente da Abrasce, Luiz Fernando Veiga, disse que elas podem fechar o ano em 15%. O Bradesco argumenta que as melhores condições de emprego e renda permitiram que o consumo continuasse forte mesmo após a retirada de uma parte dos benefícios fiscais dados pelo governo. O banco projeta que a indústria crescerá 12,7%; o comércio, 10,8%; e o desemprego médio atingirá o mínimo histórico de 7,1% em 2010. Os dados do mês de abril e do início de maio mostram que a desaceleração da atividade tem sido pequena, resultando em sustentação de um crescimento acima do potencial também no segundo trimestre, diz o Bradesco. O problema desse ritmo é que ele está sendo acompanhado por inflação. A projeção do Bradesco para o IPCA deste ano subiu para 6%, mas o banco alerta que há risco de superar o teto da meta, que é 6,5%. Para o IGPM, a previsão é de 8,7%: O crescimento acima do potencial tem se dado com pressões inflacionárias que se revelam incompatíveis com o centro da meta e, hoje, ameaçam em algum grau o cumprimento da meta dentro da banda de tolerância do Banco Central. O solo para propagação da inflação e de recomposição de margens das empresas vem justamente do baixo desemprego e da elevada utilização da capacidade instalada. Ilan Goldfajn não tem esse mesmo grau de preocupação. Ele projeta a inflação em 5,5% este ano e os mesmos 5,5% no ano que vem. Um pouco acima dos 5,26% do acumulado em 12 meses até abril. Nós achamos que o Banco Central vai subir juros para 11,75% este ano (está em 9,5%) e para 13% no ano que vem. Esse é um aumento forte de juros, que conterá as pressões inflacionárias. Além do aperto monetário, acreditamos que haverá também queda dos estímulos fiscais e creditícios para desacelerar o ritmo de crescimento diz Goldfajn. O Bradesco também acredita que o Banco Central vai subir os juros até 13% nos primeiros meses do ano que vem, para que a economia desacelere para 4,5% em 2011. O banco diz que a crise externa não o leva alterar o cenário base. Ilan acha que o mundo também acelerou o ritmo de recuperação. A previsão do Itaú Unibanco é que o mundo vai crescer 4,5%: Os Estados Unidos vão crescer mais do que o calculado, a China também vai crescer mais, o Japão está se recuperando. Só a Europa é que terá um grande período de baixo crescimento. O pacote do fim de semana na Europa conseguiu resolver um problema de curto prazo, mas por décadas o continente pode ter queda do ritmo de crescimento. No seu relatório, o Itaú Unibanco diz que, apesar das instabilidades globais, o banco está reforçando o cenário base para o crescimento brasileiro. O país está de fato em ritmo de recuperação forte, depois do recessivo ano de 2009. Os bancos acham que o Banco Central vai subir juros durante todo este ano e no ano que vem. Não entra na equação aparentemente que este é um ano eleitoral e juros é um tema polêmico. -----------------------------------Folha de S.Paulo - 13/05/2010 É a democracia, estúpidos Clóvis Rossi MADRI - A discussão em torno da autonomia absoluta do Banco Central, levantada por José Serra, é na verdade a propósito da democracia. Democracia pressupõe que o eleitor escolha alguém (no Brasil chamado presidente da República), que tomará as decisões que julgar convenientes, entre elas o nível dos juros, o câmbio, o deficit ou superavit fiscal adequado. Democracia não pressupõe que um funcionário subalterno tome tais decisões à revelia do presidente. É simples assim. O raciocínio subjacente à tese de que o Banco Central pode fazer o que quiser e o presidente da República não tem que se meter é radicalmente antidemocrático. Pressupõe que o tal de povo pode, de repente, eleger um maluco para a Presidência (maluco do ponto de vista dos mercados, aos quais o Banco Central presta a maior reverência). Para contrabalançar esse risco, é preciso ter alguém sensato (sensato do ponto de vista dos mercados) para evitar maluquices. Levado ao limite, tal raciocínio acabará por dispensar o voto popular, transferindo a escolha de uma boa vez para os sábios do mercado -os mesmos que estão na raiz da brutal crise ainda em curso. A primazia da política sobre os mercados apareceu ontem em artigo para "El País" de Felipe González, que pode ser acusado de muita coisa, menos de antimercado. Foi ele quem, como líder do Partido Socialista Operário Espanhol, limou o marxismo ainda existente no programa partidário. Como presidente do governo, levou a Espanha à Comunidade Europeia, o segundo maior centro capitalista do mundo, após os EUA. González cobrou a regulação do sistema financeiro com este argumento: "Se não os regularmos [os mercados], eles acabam por regular-nos [aos governos e à sociedade], a seu capricho especulativo e com custos insuportáveis". Serra já tem com quem falar. -------------------------------Folha de S.Paulo - 13/05/2010 Remédio tardio para a indigestão Vinicius Torres Freire O MINISTÉRIO da Fazenda acredita que o país teria crescido em torno de 8,5% no primeiro trimestre deste ano (taxa do trimestre, anualizada). As projeções dos maiores bancos e consultorias vão de 9% a 12%, ao menos nas estimativas daqueles que costumam ser mais certeiros e realistas. Ontem, o Itaú Unibanco revisou sua previsão de crescimento do PIB deste ano para 7,5%. Na segunda-feira, o Bradesco atualizara a sua estimativa para 7%. As revisões têm sido mensais e muito fortes. Para o ministro da Fazenda, Guido Mantega, tais projeções são exageradas. O crescimento ficaria entre 5,5% e 6%. A se confirmar a previsão do Itaú Unibanco, teríamos neste ano a maior alta do PIB per capita desde 1976. Em um terço de século. Como se escreveu nesta coluna, faz um mês, a equipe econômica de Lula já estava então preocupada com a aceleração excessiva da economia e dos preços: "O governo está algo surpreendido com a velocidade da recuperação. Pensa agora como pode ajudar a conter a escalada de alguns preços". O governo então pensava em tomar medidas pontuais a fim de conter aumentos de preços com grande poder de contágio, por assim dizer, como os do aço e de material de construção. Ainda imaginava que o BC poderia apertar o crédito sem apenas recorrer à taxa de juros -exigindo mais depósitos compulsórios dos bancos nos cofres do BC. Agora, Planejamento e Fazenda anunciam em público e difundem por meios mais discretos a ideia de que pretendem reduzir os gastos de modo a dar sua parte na redução do consumo e, assim, conter a aceleração excessiva da economia. Em si mesma, a ideia é boa. No mínimo, vai colaborar marginalmente para a redução da dívida pública. Os juros de tal dívida são monstruosos e constituem, enfim, uma grande transferência de renda para a minoria de brasileiros que têm poupança, grandes investidores e bancos. Quanto a esfriar a economia com cortes de gastos a fim de conter a inflação e evitar altas maiores de juros, esses são outros quinhentos. Onde o governo pode cortar o bastante, a ponto de dar uma mão na política monetária (a de juros, do BC)? Os aumentos de renda devidos à ação do governo foram contratados no ano passado, e um tanto mais neste: rendas assistenciais, aposentadorias do INSS, salários de servidores, tudo isso já foi. A despesa pode aumentar ainda, com o reajuste que o Congresso deu aos aposentados do INSS. Mas tal reajuste extra nem estava na conta do governo. Seria corte de vento. Previdência, salários e gastos vinculados com saúde e educação perfazem quase todo o gasto do governo. Onde é que se vai cortar? É tarde também para o governo mexer em outra rubrica do PIB, o investimento. O governo aumentou o capital do BNDES. Boa coisa, pois os investimentos crescerão. Mas não dá mais para conter a demanda por aí, a não ser em parte, e com uma paulada nas taxas de juros. Ainda que o governo tivesse como fazer cortes importantes neste ano, é um tanto tarde para que a medida possa evitar as altas de juros previsíveis para 2010 ("tudo o mais constante", não considerando a hipótese de catástrofes pelo mundo, claro). -------------------------------O Estado de S.Paulo - 13/05/2010 Mares nunca navegados Celso Ming O pacote de socorro à Grécia e demais países encrencados da União Europeia não se notabilizou somente pelo seu tamanho (quase US$ 1 trilhão em garantias e disponibilidades), mas pelo compromisso fora de padrão assumido pelo Banco Central Europeu (BCE) de recomprar títulos de dívida emitidos por países da área hoje rejeitados pelo mercado. Essa é uma novidade de graves implicações, cuja execução seu presidente, Jean-Claude Trichet, considerava "inadmissível" apenas dois dias antes de anunciá-la. Em princípio, todo banco central deveria limitar-se a defender sua moeda, portanto, a prover a oferta de dinheiro na economia (o que acaba por definir o tamanho dos juros) na proporção adequada ao controle da inflação, que na Europa não deve, em média, exceder os 2% ao ano. Ao comprometer-se a recomprar títulos de dívida no mercado secundário, o BCE navega por águas não mapeadas. Em primeiro lugar, incorpora-se aos esforços de socorro a países em dificuldades e, nessas condições, abandona o campo exclusivo do combate à inflação. Em segundo lugar, ao recomprar títulos de dívida, estará emitindo moeda para dar cobertura a despesas públicas. Esses títulos são documentos de dívida assumida antes pelos governos para pagar seus gastos que, no caso, ultrapassaram substancialmente os limites a que estão obrigados por tratado. Não importa aqui que esses títulos tenham chegado ao mercado com intermediação bancária. Na prática, são despesas dos Tesouros cuja conta vai sendo empurrada aos guichês do BCE. Em terceiro lugar, essas recompras correspondem a uma solução monetária para um problema de natureza fiscal que deveria contar com solução apenas fiscal. E, finalmente, numa operação desse tipo, o BCE se mistura demais com dirigentes políticos e corre o risco de contaminar suas decisões técnicas, de combate à inflação, com atitudes que, a rigor, são parte constituinte do jogo do poder. E isso pode ser desastroso para a saúde de uma moeda, não só porque cria precedentes, mas, também, porque reforça o vício dos políticos, que adoram gastar. O BCE tem pronta uma longa argumentação em favor de sua decisão. Vai dizer que sua função mais importante é defender a moeda, exatamente o que está fazendo. Vai dizer, também, como já disse, que essa operação não se destina a financiar governos irresponsáveis, mas, apenas, a reduzir os juros de longo prazo de títulos cuja rejeição pelo mercado vinha prejudicando a condução de sua própria política monetária. Trata-se, portanto, do acionamento de um mecanismo de afrouxamento quantitativo (quantitative easing). O BCE acrescentará, como já acrescentou, que essas recompras de títulos serão, no seu devido tempo, seguidas de operações destinadas a retirar do mercado o excesso de moeda que vier a ser emitido (esterilização monetária). E, finalmente, dirá que, em tempos de crise, o que importa é a defesa do interesse público, pouco ou nada importando se as atuações não estejam explicitamente autorizadas na lei. O problema não é o de apenas definir limites para intervenções que, em princípio, deveriam acontecer em casos excepcionais. O problema de fundo é o de que o euro tem pés de barro e, enquanto assim se mantiver, não só o BCE, mas outras instituições da União Europeia estarão sujeitos a enormes contorcionismos monetários e jurídicos para sustentá-lo. Como esse aí. CONFIRA Em busca do ouro Como o euro está seriamente ferido e o iene japonês não tem densidade para atender à procura global de reserva de valor, o ouro voltou a despertar forte interesse nos mercados. O gráfico mostra como a onça-troy tem se valorizado. No acumulado do ano (até ontem), suas cotações aumentaram 12,8%. Apenas em maio, a alta já é de 5,0%. Até mais O escrevinhador desta Coluna está saindo de férias. Estará de volta ao posto dia 1º de junho. --------------------------------Correio Braziliense - 13/05/2010 O BC de cada um Antonio Machado Visões de Serra e de Dilma sobre os juros se assemelham mais do que reconhece a análise convencional O cenário ampliado da economia brasileira, em meio ao contexto de expansão econômica acelerada no país, recuperação lenta nos EUA, crise profunda na Europa, preocupação com a estabilidade na China e eleições gerais em outubro, confunde as percepções. O que está à vista pode não coincidir com o que se forma na linha do horizonte. A dificuldade está em separar a visão do momento da do futuro que se avizinha. Sobre ele já agem o Banco Central, com o novo ciclo de alta da Selic, para prevenir pressões inflacionárias e dilatação do deficit externo, e os candidatos à sucessão do presidente Lula. José Serra, do PSDB, saiu na frente, ao inserir como destaque em sua campanha a crítica aos juros altos praticados pelo BC, gerando ação contrária de Dilma Rousseff, do PT, possivelmente por indução da assessoria de Lula, mas não necessariamente antagônica ao que o rival diz quanto à sintonia entre as políticas monetária e fiscal. Serra, pelo que já explicita, e Dilma, pelos economistas com que mais se relaciona, não divergem acentuadamente sobre o que seriam as diretrizes principais de governo. Ambos enfatizam a expansão da economia puxada pelo investimento. O entendimento, com variações de ênfase, é que há espaço para aumento mais moderado do consumo condição necessária para o investimento assumir fatia maior sobre o Produto Interno Bruto (PIB) sem desestabilizar a economia. Como diz um importante quadro da campanha de Dilma, onde o BC é bem-sucedido, ele não está nas manchetes. Equivale ao que verbera Serra ao se queixar da proeminência do Banco Central na economia. Não é que o BC ocupe posição central por desvio de função, noves fora avaliações equivocadas sobre o cenário econômico ressaltadas por Serra. Assim acontece pela falta de sintonia entre o monetário e o fiscal, responsável por adicionar à economia muito mais do que ela é capaz de absorver, gerando desequilíbrios que levam o BC, por conta do regime legal de metas de inflação, a subir os juros. É essa automaticidade entre causa e efeito que faz do BC o xerife da estabilidade macroeconômica. Sua autoridade é delegada porque não expressa em lei pelo presidente da República. Assim foi com o presidente Fernando Henrique e é no governo Lula. Vai continuar, mas como recurso de última instância, o que não implica que seria pro forma. A intenção é que o BC não precise usar seus poderes. Pegadinha eleitoral Serra e Dilma não questionam a autonomia do BC. Serra a encaixou em seu discurso por tática eleitoral. Falar mal do BC e dos juros o torna mais compreensível ao eleitor, pode até abrir uma relação de empatia. De quebra, constrange Dilma, impelida a defender o BC, para não expor uma das áreas vulneráveis da bem-avaliada política econômica de Lula. As pessoas associam juros altos com banqueiros, cuja imagem não combina com a que Lula tenta passar para Dilma. Tudo isso é pegadinha eleitoral. Certo é que, se o presidente do BC, Henrique Meirelles, tivesse saído para disputar alguma coisa nas eleições de outubro, como cogitava, seu substituto teria sido alguém com perfil oposto ao idealizado pelo mercado: conservador e ortodoxo. Dilma trabalhava o nome do presidente do BNDES, Luciano Coutinho, que também foi considerado por Lula. Ele é associado ao desenvolvimentismo, embora, ao contrário de expoentes dessa ala do pensamento econômico nacional, para Coutinho, o fiscal e monetário são políticas que devam conversar entre si. Hoje, nem tanto. Gambiarra de risco Os minuetos de Dilma e Serra, ambos sob os acordes de Lula que o público aprecia , tornam as suas evoluções na pista eleitoral mais complexas do que reconhece a análise convencional. As intenções reais estão em sutilezas. As dificuldades do BNDES, Petrobras e Eletrobrás para cumprir orçamento e os investimentos projetados dão a medida dos ajustes que necessariamente terão de vir. Por ora, o Tesouro os financia. É gambiarra de alto risco. Tabu une candidatos Dilma já expôs que o setor financeiro privado tem de ser um ator relevante no financiamento de longo prazo com fundos voluntários. Essa é a questão-chave. O entendimento de Serra é semelhante. A diferença é que o diz com críticas à gastança, que pega bem em certas áreas, e no mesmo contexto em quem renomeia o papel do BC. Eles acenam para a mesma direção: o aumento da poupança pública, entendida como o espaço para o investimento crescer sem crise. O difícil será que esmiucem tal ideia, facilmente associada a corte de gasto tabu só tratado em eleições para prejudicar o outro. Nuanças que separam As semelhanças conceituais não implicam que haja total identidade entre Serra e Dilma. Outras nuanças os separam a fundo. Vai-se ter tal distinção mais nítida, por exemplo, quando se souber como eles veem os desdobramentos da crise externa. Ela projeta um cenário de estagnação duradoura na Europa e de menor crescimento na China, o que tem implicação para a atividade interna e a balança comercial. A ociosidade de setores industriais deverá ficar mais visível no mundo, afetando prioridades hoje atribuídas pelo governo a certos investimentos. O programa de exploração do pré-sal pela Petrobras não fica ameaçado, mas poderá prescindir do aporte de capital hoje considerado essencial. Os candidatos terão de formar opinião sobre tais questões, enquanto tudo muda lá fora conforme a estação. --------------------------------------------Valor Econômico - 13/05/2010 Liquidez global ainda favorece ativos de risco Eduardo Campos A crise na Europa, que deu uma trégua na quarta-feira, não reduziu a ainda elevada liquidez nos mercados. Por mais que o investidor prefira ficar sentado em cima do dinheiro em momentos de incerteza, qualquer sinal de melhora é uma janela de oportunidade para buscar rendimento. "Os players do mercado, que são bastante rápidos em reavaliar riscos e oportunidades, continuam atentos para mudar suas posições, o que faz com que a volatilidade continue forte", diz a diretora da AGK Corretora de Câmbio, Miriam Tavares. Basta lembrar que as taxas de juros seguem próximas de zero tanto nos Estados Unidos quanto na própria Europa e mesmo no Japão. Então continua válida a estratégia de buscar oportunidade de ganho em ativos reais, como ações e commodities e mesmo títulos de renda fixa. Isso se torna ainda mais verdade para economias com boas perspectivas de crescimento, caso do Brasil. É dentro desse contexto que as bolsas subiram e o dólar perdeu força no pregão de ontem. Por aqui, a moeda americana recuou, mas continua rondando a linha de R$ 1,77. No mercado externo, o euro, no entanto, não mostra reação. A divisa segue na casa de US$ 1,26, próximo das mínimas da semana passada. Mas não poderia ser diferente, diz o diretor do portal InvestCerto, Luiz Rogé. "Estranho seria o euro não perder valor", diz o especialista. De maneira simples e direta, diz Rogé, a desvalorização do euro reflete o empobrecimento dos países da região, dado que os fundamentos de algumas de suas economias estão fragilizados. E para se corrigir esse desajuste, houve uma mudança de preços relativos. Por outro lado, diz o especialista, a perda de valor da moeda irá beneficiar países com fundamentos mais fortes e com economias voltadas para a exportação. "Não é por menos que a bolsa da Alemanha foi destaque de alta, ao ganhar 2,4% ontem. E deve continuar a se beneficiar da situação", pondera. Tal queda no preço da moeda não vai ajudar apenas a Alemanha, mas a economia em geral, ao reduzir custos e ampliar competitividade, diz o especialista. Dessa forma, Rogé acredita que se deve mudar a leitura sobre a queda do euro, porque ela reflete muito mais um ajuste aos excessos fiscais cometidos por esses países durante o ápice da crise do que apenas uma manifestação do aumento de aversão ao risco dos investidores. De volta ao câmbio local, vale a pena dar uma olhada nos dados de fluxo cambial parcial do Banco Central. Na semana do pânico, o fluxo cambial foi positivo em US$ 3,71 bilhões, sendo US$ 2,63 bilhões da conta comercial e US$ 1,07 bilhão da conta financeira. Já as atuações da autoridade monetária no mercado à vista enxugaram US$ 3,38 bilhões. Com isso, o saldo líquido de dólares na primeira semana do mês foi positivo em US$ 330 milhões, ou seja, "sobrou" moeda no mercado. A principal conclusão, segundo o diretor da NGO Corretora de Câmbio, Sidnei Moura Nehme, é de que a crise da Grécia não afetou em nada o mercado local. Segundo o diretor, os números do BC mostram que não houve pressão de demanda em função da turbulência externa. Todo o pânico que resultou em valorização de 6,5% do dólar comercial na semana passada foi movimentação dos bancos mesmo. "Não teria razão para uma puxada de alta no dólar. Foi um movimento de oportunidade dos bancos. Como o psicológico prevalece nesses momentos, os bancos tiraram proveito dos estrangeiros", diz Nehme. Basta lembrar que os investidores estrangeiros foram às compras no mercado futuro de dólar assim que a situação externa começou a azedar no começo do mês. Enquanto isso, os bancos seguiram vendendo moeda, tanto no futuro quanto no à vista. Agora, que vem a melhor parte, pelo menos para os bancos. Como a situação se acalmou, as instituições financeiras devem registrar ganhos elevados com esse acerto de posição. "E isso não está errado, joga o jogo quem sabe jogar. Os estrangeiros olharam mais para fora do que para dentro", conclui Nehme. Depois da rasteira que levaram dos bancos, os estrangeiros já estão reduzindo a posição comprada (aposta pró-dólar). Na terça-feira foram vendidos 14.491 contratos, ou US$ 724 milhões. Mas o estoque anda era de US$ 2,53 bilhões. Eduardo Campos é repórter -------------------------------O Globo - 13/05/2010 A autonomia do BC não é um capricho Carlos Alberto Sardemberg A autonomia (ou independência) do Banco Central não é uma imposição do mercado, muito menos um capricho de jornalistas econômicos nervosinhos. É uma condição necessária do regime de metas de inflação, uma política baseada em sólida teoria e, mais importante, na prática bem-sucedida de mais de uma centena de países, aqui incluídas as democracias mais importantes. Bem resumido, funciona assim: o governo determina ao Banco Central a meta de inflação. O BC persegue esse objetivo fixando a taxa básica de juros a taxa mínima, o custo do dinheiro para os bancos. Se a inflação e, mais importante, as expectativas de inflação estão em alta, sobem os juros. E inversamente. O objetivo é alcançar o maior crescimento possível, com a inflação na meta. Bobagem, portanto, dizer que o BC só se preocupa com a inflação. A ideia é a estabilidade como condição para o crescimento. O BC toma decisões com base em cenários econômicos, fundados em ampla análise de dados. Não é secreto. A cada três meses, o BC publica o Relatório de Inflação, alentado documento no qual revela como vê a economia brasileira e mundial. Além disso, o BC leva em conta o cenário de mercado, ou seja, os dados e análises produzidos por instituições financeiras, consultorias, institutos de pesquisa, também publicados. A cada seis semanas, reúne-se o Comitê de Política Monetária, Copom, formado pelos diretores do BC. São duas tardes de discussões e, por fim, a votação sobre a taxa de juros. Também não é secreto. Uma semana depois, o BC divulga a ata da reunião, que explica a decisão. Funciona assim no mundo inteiro. Há muita discussão para aperfeiçoar o sistema, mas com amplo acordo sobre a importância de autonomia. Nos regimes mais eficientes, o BC tem independência prevista em lei. Os diretores, indicados pelo chefe do governo e aprovados pelo Congresso, têm mandatos fixos, em geral passando de um governo para outro. No caso brasileiro, a autonomia não está na lei, mas foi respeitada na prática pelos presidentes FHC e Lula. Essa autonomia evita a politização da decisão, garantindo que seja a mais técnica possível. A prática mundial tem demonstrado que funciona. O Brasil pratica esse regime desde 1999, ano que fechou com a inflação em 9% (pelo IPCA) e a taxa básica de juros a 19% ao ano, tendo chegado a picos de 45%. Dez anos depois, o país registrou inflação de 4,3%, com juros a 8,75%. Isso e mais a atuação na crise deram ao BC brasileiro sólida reputação internacional. Houve outros fatores essenciais de estabilidade, como a Lei de Responsabilidade Fiscal e as privatizações, o ajuste nos Estados, a reforma financeira, o ambiente mundial favorável. Mas o regime de metas foi uma prática crucial. José Serra disse na entrevista à CBN que o BC não é Santa Sé e que pode ser criticado. Ora, é óbvio. Mais que isso, o BC é vigiado, comentado e criticado o tempo todo. Faz parte do ritual. Mas quando o BC tem credibilidade, quando as pessoas e o mercado acreditam que ele tem o poder e a capacidade de entregar a inflação na meta, a taxa de juros necessária para isso é cada vez menor. Ao contrário, quando se percebe que o BC é manipulado pelo governante do momento, todo o sistema desmorona. Por que a gente perderia tempo decifrando o Relatório de Inflação e as atas do Copom se a opinião do presidente da República é a que conta? Serra também disse que, eleito presidente, vai intervir quando achar que o BC cometeu um erro clamoroso. Ora, em quais estudos Serra se basearia para decretar que o BC está errado? Reparem: o procedimento e as análises do BC são fundamentadas e conhecidas de todos. O presidente da República faria a mesma coisa ou simplesmente decretaria vocês são uns idiotas e a taxa é de 5%? E por que a gente deveria acreditar na suposta sabedoria dele? Ou seja, ninguém está nervosinho porque o candidato Serra critica o BC. O que todos, a começar pelos eleitores que desfrutam da inflação baixa, gostariam de saber é o que ele colocaria no lugar de um BC autônomo. Serra também tem dito que algo está errado com os juros, muito elevados, e o dólar, muito barato, no Brasil. Muita gente pensa igual, de modo que essa não é a questão. O candidato precisa dizer, primeiro, qual a opinião dele sobre a causa disso. Os juros são altos porque o BC é imbecil ou porque, como entendem muitos analistas, a dívida pública ainda é muito elevada e o gasto público sempre expansionista? A partir daí, o candidato precisaria dizer qual seu plano para derrubar juros e desvalorizar o real, sem que isso cause a inflação que tem na Argentina, por exemplo. --------------------------------- ECONOMIA & OUTRAS NOTÍCIAS Valor Econômico - 13/05/2010 Parcela importada de bens industriais bate recorde A participação dos importados no consumo interno de bens industriais avançou no primeiro trimestre do ano, em decorrência da combinação do crescimento da demanda interna em ritmo chinês e do câmbio valorizado. De janeiro a março, as importações atingiram 17,7% do total, superando a máxima anterior, de 17,2%, registrada no quarto trimestre de 2008, segundo cálculos da LCA Consultores. Os produtos estrangeiros ganham terreno a despeito da expansão acelerada da produção doméstica porque as importações crescem ainda mais rápido. De janeiro a março, a produção industrial aumentou 18% em relação ao mesmo período de 2009 e o volume de compras externas avançou 38%. O economista Douglas Uemura, da LCA, diz que já esperava um aumento da fatia dos importados, mas foi surpreendido pelo ritmo da alta ocorrida entre janeiro e março. Para ele, a força da demanda é o principal fator que explica essa mudança, coadjuvada pelo dólar barato. A LCA estima que, no primeiro trimestre, o consumo das famílias cresceu 10,5% em relação ao período janeiro/março de 2009 e o investimento, 23%. Sinal eloquente do aquecimento da demanda é o desempenho das vendas no varejo, que subiram 12,8% no primeiro trimestre. Importação freia inflação, mas afeta indústria, diz analista Sergio Lamucci, de São Paulo A crescente oferta de produtos importados ajuda a conter pressões inflacionárias no curto prazo, mas traz a ameaça de um impacto negativo sobre a estrutura industrial em períodos mais longos. Em vez de complementar a produção local, o risco é de que haja uma substituição de bens nacionais por estrangeiros, apontam analistas, preocupados com o dólar barato. Fernando Sarti, professor da Unicamp, mostra desconforto com o aumento da participação dos importados. Num cenário em que o Brasil parece ter contratado uma demanda forte por vários anos, o risco é de que ela seja atendida por uma parcela cada vez maior de produtos estrangeiros. Sarti cita o caso do setor de autopeças, que sofre com a concorrência importada apesar de as montadoras venderem como nunca. Isso pode adiar investimentos necessários para acompanhar a dinâmica dos produtores de bens finais. O mesmo pode ocorrer em setores como o farmacêutico, diz ele. O temor de Sarti é que haja o "esvaziamento da cadeia produtiva e redução dos encadeamentos produtivos e tecnológicos". Em alguns anos, a fabricação de produtos finais em que o país é competitivo pode também ser atingido pela competição externa. André Sacconato, da Tendências Consultoria, tem uma visão mais benigna. Para ele, alguns setores de fato sofrem com a oferta maior dos importados, como os de calçados e vestuário, mas do ponto de vista da sociedade em geral há ganhos. Sem isso, a inflação estaria mais alta e os juros teriam que subir mais, diz Sacconato. Outro ponto é que a produção local cresce a taxas robustas, ainda que inferiores à das importações. Douglas Uemura, da LCA Consultores, lembra que a produção doméstica e as exportações avançam bastante, embora fosse desejável um maior desenvolvimento de cadeias com alto potencial de gerar valor agregado, como a eletroeletrônica. --------------------------------Folha de S.Paulo - 13/05/2010 Governo vê crescimento elevado no 1º trimestre PIB avançou ao ritmo de 8,5% ao ano no início de 2010, diz Fazenda A turbulência na Europa e a alta dos juros não serão suficientes para impedir o crescimento da economia acima da média neste ano. Mantida a atividade do primeiro trimestre, a taxa anualizada projeta alta de até 8,5%, segundo a Secretaria de Política Econômica do Ministério da Fazenda. O secretário Nelson Barbosa prevê uma desaceleração nos próximos meses. Para a Febraban, o crescimento no ano será de 6,3%. Relatório do Itaú Unibanco traz expectativa de 7,5%. O número oficial do IEGE para o primeiro trimestre será divulgado em junho. Em março, o comércio varejista cresceu 1,6% em relação a fevereiro. Na comparação com março de 2009, a alta foi de 15,7%, variação recorde da série iniciada pelo IBGE em 2001. Fazenda aponta ritmo chinês no PIB do 1º tri Expansão nos primeiros meses do ano pode ter chegado a 2,1%, o que representa taxa anualizada de mais de 8%, diz secretário Com o aquecimento da economia, Itaú amplia para 7,5% estimativa para o PIB do ano; governo vê ritmo menor nos próximos meses GABRIEL BALDOCCHI DA SUCURSAL DE BRASÍLIA O cenário de turbulência na Europa e o ciclo de alta de juros não serão suficientes para impedir o crescimento da economia brasileira acima da média. Mantido o ritmo do nível de atividade nos três primeiros meses, a taxa anualizada indicaria alta de 8,5%, segundo o Ministério da Fazenda -padrão de crescimento da China. A estimativa foi divulgada pelo secretário de Política Econômica, Nelson Barbosa. Para o ano todo, a previsão do governo é de alta de 5,5% para o PIB (Produto Interno Bruto). Barbosa explicou que os dados preliminares indicam expansão de 1,8% a 2,1% no primeiro trimestre, quando comparada com os três últimos meses de 2009. Anualizada, essa taxa ficaria entre 7,5% e 8,5%, mas ele prevê uma desaceleração nos próximos meses. Na série histórica do IBGE, a última vez em que o crescimento do PIB em um trimestre ficou acima de 2,1%, na comparação com os três meses anteriores, foi no quarto trimestre de 2007 -alta de 2,3% em relação ao período anterior. Para a Febraban (Federação Brasileira de Bancos), o crescimento no ano será maior do que os 5,5% a 6% previstos pelo governo. Relatório divulgado ontem com projeções das instituições aponta avanço médio de 6,3%, em linha com previsão de pesquisa do Banco Central. Há oito semanas, os economistas de mercado respondem pesquisa do Banco Central com revisão para cima na projeção do PIB. O último dado semanal, divulgado na segundafeira, elevou a expectativa de crescimento para 6,26%. O relatório de previsões do Itaú-Unibanco divulgado ontem sustenta maior otimismo. A instituição espera crescimento de 7,5% para a economia brasileira no ano de 2010. O texto aponta dinamismo crescente na economia. O número oficial do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) para o primeiro trimestre sai em junho. Segundo Barbosa, a tendência é de diminuição do crescimento nos próximos meses. Ele considera as projeções acima de 6% exageradas. "É exagerado porque o primeiro trimestre tinha todos os incentivos e o aumento do funcionalismo. Continuaremos crescendo com uma taxa mais desacelerada." As reavaliações para o crescimento da economia acima de 5,5% começaram a ser feitas pelo Banco Central em dezembro. No relatório de inflação divulgado no começo de abril, a instituição manteve a expectativa do PIB em 5,8%. O FMI (Fundo Monetário Internacional) recalculou em abril a previsão do crescimento do Brasil de 4,7% para 5,5%. E aconselhou ao país um aperto maior na política fiscal para conter pressões inflacionárias. O ritmo de crescimento do país passou a ser motivo de preocupação para o Ministério da Fazenda porque pode pressionar a inflação. Essa preocupação levou o governo a estudar corte de gastos para reduzir o ritmo de crescimento sob controle e, com isso, evitar uma alta muito grande na taxa de juros, que subiu 0,75 ponto na última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central.