Acta Scientiae Veterinariae, 2012. 40(Supl 1): s1-s60. ISSN 1679-9216 (Online) Adesivo de cianoacrilato no tratamento de descemetocele em um canino: relato de caso Daniela Moura dos Santos¹, Carolina Neumann¹, Iasmine Biz Mottin¹, Maíra Haase Pacheco¹, Mariana Soares¹, Luciane Albuquerque², Marcelo de Souza Muccillo³ & João Antônio Tadeu Pigatto4 RESUMO Introdução: Adesivos de cianoacrilato são utilizados em oftalmologia em lesões corneanas como microperfurações, afinamentos importantes, úlceras superficiais refratárias e descemetoceles. A aplicação desses adesivos visa manter a integridade da córnea, visto que uma úlcera pode evoluir desfavoravelmente para a perfuração ocular, predispondo a complicações como endoftalmites, catarata, glaucoma, e até mesmo a perda da visão. Apesar de apresentar excelentes resultados, o uso do adesivo de cianoacrilato em casos clínicos ainda é limitado. Este trabalho teve como objetivo relatar a experiência obtida com o uso do adesivo de cianoacrilato no tratamento de descemetocele em um canino. Caso: Um cão da raça Shih-Tzu, com cinco anos de idade, macho, foi encaminhado ao Serviço de Oftalmologia Veterinária da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, apresentando desconforto ocular. Ao exame oftálmico observou-se fotofobia, blefaroespasmo, hipópio, secreção ocular e descemetocele do bulbo do olho esquerdo com cerca de 3 mm de diâmetro. O olho contralateral apresentava-se sem alterações. O animal se apresentava em bom estado geral e com hemograma e exames bioquímicos normais, e foi encaminhado para tratamento com uso de N-butyl-2-cianoacrilato (Histoacryl®, B Braun) e recobrimento com a terceira pálpebra. Os procedimentos operatórios foram realizados sob anestesia geral inalatória com auxílio de microscópio cirúrgico (MCZ 900®, DFVasconcelos), utilizando-se cotonetes estéreis removeram-se os debris do local da úlcera e desepitelizou-se a área comprometida até 1 mm além da borda da lesão. Secou-se a área e, com agulha de insulina, gotejou-se o adesivo sobre a córnea lesada. Após 1 minuto a área foi irrigada com solução fisiológica. A seguir, realizou-se a fixação da terceira pálpebra na conjuntiva bulbar superior. Prescreveu-se colírio de tobramicina 0,3% (Tobrex®, Alcon) e colírio a base de flurbiprofeno sódico (Ocufen®, Alcon), ambos a cada 6 horas durante 20 dias. Além disso, foi prescrito sulfato de atropina colírio (Atropina 1%® Allergan) a cada 24 horas durante 7 dias e uso do colar elizabetano. Vinte dias após a realização do procedimento cirúrgico a sutura da terceira pálpebra foi removida e o recobrimento desfeito. Aos 27 dias de pós-operatório verificou-se prova da fluoresceína negativa, remissão da neovascularização e tecido de granulação no local da úlcera. Após dois meses observou-se transparência da córnea. Discussão: Os sinais clínicos comumente associados à úlcera de córnea incluem desconforto e dor ocular, fotofobia, epífora, blefaroespasmo e hiperemia conjuntival. No presente caso, os sinais clínicos associados a prova da fluoresceína permitiram o diagnóstico de descemetocele. O tratamento da descemetocele é cirúrgico e as opções incluem enxertos conjuntivais, ceratoplastias, transposição corneoescleral e adesivos sintéticos. A principal limitação ao uso do adesivo de cianoacrilato é o tamanho da lesão da córnea, que não deve ultrapassar 3 mm de diâmetro devido ao risco de toxicidade. Entretanto, por se tratar de uma lesão pequena, e pelo fato de o Histoacryl® ser menos tóxico do que outros adesivos, optou-se pela sua utilização. A descemetocele é uma situação emergencial que pode evoluir com infecção e perfuração ocular, comprometendo a integridade funcional do olho. Nessas situações todo esforço deve ser voltado na tentativa de manter a integridade da córnea. O adesivo ao polimerizar promove suporte durante a cicatrização estromal, ou até que outro procedimento cirúrgico possa ser realizado. Conclusão: Com base nos resultados obtidos, pode-se concluir que o adesivo de cianoacrilato mostrou-se um método seguro, viável e eficaz para o tratamento de descemetocele em um canino. Descritores: adesivo de cianoacrilato, descemetocele, canino. ¹Estudante de Graduação, Faculdade de Veterinária da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Porto Alegre, RS, Brasil. [[email protected]]. ²Médica Veterinária, Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ciências Veterinárias, Faculdade de Veterinária - UFRGS, Porto Alegre, RS, Brasil. ³Médico Veterinário, Hospital de Clínicas Veterinárias HCV – UFRGS, Porto Alegre, RS, Brasil. 4Doutor, Professor Adjunto, Faculdade de Veterinária – UFRGS , Porto Alegre, RS, Brasil. s50