UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS DISCIPLINA DE FARMACOLOGIA I TERAPIA ANTI-VIRAL DO HIV MAIO/2012 GRUPO 6 Cícera Machado João Batista José Alves Lílian Mohr Lucas Nunes Luiza Rivero Alcoforado Luma Burguinhão Marcella Bellini Marcela Montojos Maria Clara Zampirolli Maria Eduarda La Roque Marianna Cosentino 2 Sumário Introdução..………………………………………………………………………….. 4 AIDS................................................................................................................ 4 Vírus HIV......................................................................................................... 5 Anti-retrovirais................................................................................................. 9 Inibidores nucleosídeos da transcriptase reversa................................ 9 Inibidores não-nucleosídeos da transcriptase reversa....................... 16 Inibidores da Protease........................................................................ 21 Inibidores da Fusão............................................................................ 25 Em fase de investigação.................................................................... 27 Tratamento............................................................................................. 27 Conclusão..............................................................................................29 Bibliografia.............................................................................................30 3 Introdução Nos últimos anos, o grande avanço verificado no campo da farmacologia dos anti-retrovirais (talvez a área de maior crescimento e desenvolvimento) mudou a vida das pessoas vivendo com AIDS, possibilitando um aumento da sobrevida e melhora da qualidade de vida. Apesar deste avanço, a facilidade com que os vírus adquirem resistência, torna imprescindível o desenvolvimento de novos medicamentos. Neste sentido, a Farmacêutica tem um papel fundamental seja no estudo direto de novos fármacos ou na atenção farmacêutica trabalhando a questão da adesão ao medicamento. A adesão ao medicamento é essencial para a manutenção da baixa carga viral e menor desenvolvimento de resistência. Através da genotipagem, hoje adotada apenas para pacientes com falha terapêutica, é possível uma terapia de resgate mais personalizada de acordo com o perfil de mutações apresentadas. A ampliação do arsenal terapêutico aliado a politerapia baseada na genotipagem para todos os pacientes com indicação de uso poderá quem sabe no futuro garantir o controle farmacológico desta infecção por períodos maiores, auxiliando no controle da epidemia. AIDS Aids, ou Síndrome da Imunodeficiência Adquirida, é uma doença infectocontagiosa causada pelo vírus HIV (Human Immunodeficiency Virus), que leva à perda progressiva da imunidade. A doença – na verdade uma síndrome – caracteriza-se por um conjunto de sinais e sintomas advindos da queda da taxa dos linfócitos CD4, células muito importantes na defesa imunológica do organismo. Quanto mais a moléstia progride, mais compromete o sistema imunológico e, consequentemente, a capacidade de o portador defender-se de infecções. Na maioria dos casos, os sintomas iniciais podem ser tão leves que são atribuídos a um mal estar passageiro. Quando se manifestam mais intensidade, são os mesmos de várias outras viroses, mas podem variar de acordo com a resposta imunológica de que cada indivíduo. 4 Os mais comuns são febre constante, manchas na pele (sarcoma de Kaposi), calafrios, ínguas, dores de cabeça, de garganta e dores musculares, que surgem de 2 a 4 semanas após a pessoa contrair o vírus. Nas fases mais avançadas, é comum o aparecimento de doenças oportunistas como tuberculose, pneumonia, meningite, toxoplasmose, candidíase, etc. Existe um exame de sangue específico para o diagnóstico da AIDS, chamado teste Elisa. Em média, ele começa a registrar que a pessoa está infectada 20 dias após o contato de risco. Se depois de três meses o resultado for negativo, não há mais necessidade de repetir o exame, porque não houve infecção pelo HIV. O uso da camisinha nas relações sexuais é a forma mais eficaz de prevenção da AIDS. Também é imprescindível usar somente seringas descartáveis. Gestantes devem obrigatoriamente fazer o teste de HIV durante o pré-natal. Se estiverem infectadas, é fundamental iniciar logo o tratamento a fim de evitar que o vírus seja transmitido para o feto. Hoje, é perfeitamente possível para uma mulher infectada engravidar e dar à luz um bebê livre do vírus. Vírus HIV Estrutura genômica O HIV tem muitos genes que codificam proteínas estruturais. Genes retrovírus gerais: gag : proteínas derivadas do gag sintetizam o capsídeo viral em forma de cone (p24, i.e. proteína de 24 Quilo[[dáltons, CA) a proteína do núcleocapsídeo (p17, NC) e um proteína da matriz (MA). pol. :O gene pol codifica as proteínas enzimaticamente ativas do vírus. A mais importante é a chamada transcriptase reversa (RT) que realiza a única transcrição reversa do RNA viral em uma cadeia dupla de DNA. O último é integrado ao genoma do hospedeiro, ou seja, em um 5 cromossomo de uma célula infectada de uma pessoa HIV-positiva pela integrase (IN) pol-codificadora. Além disso, a pol codifica uma protease viral específica (PR). Essa enzima cliva o gag e as proteínas derivadas de gag e pol em pedaços funcionais. env : env, abreviação para "envelope". As proteínas derivadas de env são uma membrana de superfície (gp120) e uma proteína transmembrana (gp41). Elas estão localizadas na parte externa da partícula viral, formando um envelope viral o qual permite que o vírus se anexe e incorpore às células-alvo para então iniciar o ciclo infeccioso. A gp possui uma estrutura semelhante a uma maçaneta. Genes específicos do HIV tat. Um porção da estrutura do RNA do HIV é uma estrutura como um grampo de cabelo que inicialmente impede que uma transcrição completa ocorra. Parte do RNA é transcrita (ie. antes da parte do grampo) e codifica a proteína tat. A tat liga-se à CdK9/CycT e a fosforila, ajudando a alterar sua forma e a eliminar o efeito da estrutura de grampo do RNA. Isso por si só aumenta a taxa de transcrição, fornecendo um ciclo de retroalimentação positiva. Isto permite que o HIV tenha uma resposta explosiva, uma vez que uma grande quantidade de tat é produzida. rev. A rev permite que fragmentos do mRNA do HIV que contém uma unidade de resposta a rev (RRE) sejam exportados do núcleo ao citoplasma. Na ausência da rev, a maquinaria de splicing do RNA no núcleo rapidamente cliva o RNA. Na presença da rev, o RNA é exportado do núcleo antes de ser clivado, num mecanismo de retroalimentação positiva. 6 Ciclo Viral O Vírus da Imunodeficiência Humana (VIH) pertence a um grupo de vírus conhecidos como retrovírus. Estes vírus armazenam o seu material genético como ARN (ácido ribonucleico), uma cadeia única de código genético. A maior parte dos organismos tem ADN (Ácido desoxirribonucleico), uma cadeia dupla de código genético. Quando chega à corrente sanguínea, o VIH ataca alguns tipos de células, sobretudo, os linfócitos T. O ciclo do vírus HIV inicia-se quando o próprio liga-se ao receptor CD4 na superfície celular do linfócito T CD4, por meio da proteína de superfície gp 120, presente no envelope viral. A proteína gp 120 sofre uma mudança conformacional após a ligação e se liga a um co-receptor quimiocina (CCR5 ou CXCR4) especifico na célula. Essa ligação libera a proteína transmembrana gp41, que expõe o peptídeo de fusão para a membrana citoplasmática da célula de defesa e produz então a fusão do envelope viral com a membrana citoplasmática e a liberação do centro viral no citoplasma. O genoma RNA é liberado e sofre ação da enzima transcriptase reversa, tonando-se um cDNA de dupla fita. Este migra ao núcleo em associação com a enzima integrase viral, integrando-se no genoma celular e tornando-se um provirus. Novos RNA e mRNA genomicos virais são produzidos a partir do provirus e exportados ao citoplasma, por meio da ação do gene rev, que permite que fragmentos do mRNA do HIV que contém uma unidade de 7 resposta a rev (RRE) sejam exportados do núcleo ao citoplasma. O mRNA viral é traduzido em proteínas virais. As proteínas do envelope viajam a membrana plasmática, enquanto outras proteínas virais e o RNA genomicos são montados em nucleocapsideos. Novas partículas virais brotam da célula, adquirindo seu envelope lipídico e suas glicoproteinas do envelope no processo. Sendo assim, saem da célula levando consigo todas as proteínas víricas e o ARN necessário para formar partículas de vírus (os viriões). Os novos viriões ainda estão imaturos quando entram na corrente sanguínea e, nesta fase, são incapazes de infectar outras células, tendo de passar por um processo de amadurecimento para se tornarem infecciosos. As células CD4 não sobrevivem, habitualmente, à invasão do VIH. Desintegram-se devido ao elevado número de vírus germinados ou porque o sistema imunológico do corpo reconhece as proteínas de envelope vírico na membrana da célula e destrói as células danificadas. Como as células CD4 são elas próprias uma parte essencial do sistema imunológico, a sua destruição pode provocar imunodeficiência profunda. Depois do novo vírus deixar a célula, uma outra enzima vírica, a protease viral, corta a molécula que contém as proteínas centrais do VIH. As proteínas individuais libertadas são remontadas para formar um vírus estruturado e maduro. Este vírus pode agora infectar outras células. O HIV destrói os linfócitos CD4 gradativamente (em média a contagem declina 80-100 células/ml/ano). A contagem relaciona-se inversamente com a gravidade da doença. Para fins de tratamento com as drogas antirretrovirais consideram-se os seguintes parâmetros: Abaixo de 200 células/ml: Muito vulnerável, tratar imediatamente; Entre 200 e 350 células/ml: Vulnerável, deve ser iniciado o tratamento para evitar riscos; 8 Entre 350 e 500 células/ml: Pouco vulnerável, pode começar a critério médico; Acima de 500: Saudável, não precisa começar o tratamento. Porém todos os pacientes com doença oportunista relacionada ao HIV devem ser tratados mesmo com CD4 alto. Anti-Retrovirais Existem cinco tipos de drogas que influenciam no ciclo viral. Elas são conhecidas como drogas antirretrovirais: A) Inibidores nucleosídeos da transcriptase reversa (INTR) Atuam pela inibição competitiva da transcriptase reversa do HIV-1 e também podem ser incorporados na cadeia de DNA viral em crescimento, causando sua interrupção. 9 Os inibidores exigem ativação intracitoplasmática em conseqüência da fosforilação por enzimas celulares Maioria exibe atividade contra HIV-1 e HIV-2 1) Zidovudina A zidovudina (azidotimidina), AZT) é análogo da desoxitimidina. É bem absorvida pelo intestino e distribui-se pela maioria dos tecidos e líquidos corporais. Sua ½ vida no soro é de 1 hora, já a ½ vida intracelular do composto fosforilado é de 3,3 horas. No LCR os níveis do fármaco correspondem a 60-65% dos níveis do soro. Sofre excreção renal após glicuronidação no fígado e sua depuração encontrase diminuída em cerca de 50% dos pacientes urêmicos e a toxicidade do fármaco pode aumentar em pacientes com insuficiência hepática avançada. Esse fármaco diminui a taxa de progressão da doença clínica e prolonga a sobrevida de pacientes infectados por HIV e sua eficácia também foi demonstrada no tratamento da demência e trombocitopenia associada ao HIV. Um esquema de zidovudina oral iniciado entre 14 e 34 semanas de gestação (100mg, 5x ao dia), com zidovudina intravenosa durante o trabalho de parto (2mg/kg durante 1 hora e, a seguir, 1mg/kg/h por infusão contínua) e xarope de zidovudina administrado ao neonato desde o nascimento até 6 semanas de idade (2mg/kg a cada 6h), diminui a taxa de transmissão vertical do HIV em 23%. Em camundongos a zidovudina induz desenvolvimento de neoplasias epiteliais vaginais , mas esse efeito não tem sido relatado em seres humanos. A exemplo de outros INTR, a resistência pode limitar a eficiência clínica da zidovudina, particularmente quando usado em monoterapia. A ocorrência de uma ou duas mutações pode conferir resistência parcial, enquanto se observa 10 geralmente uma resistência de alto nível, em cepas com três ou mais mutações. Acredita-se que a terapia com outros agentes anti-retrovirais constitua-se a melhor abordagem, pela maior potência e desenvolvimento tardio de resistência. O aparecimento de certas mutações que conferem menor susceptibilidade a um fármaco parece aumentar a sensibilidade em cepas previamente resistentes a zidovudina. A interrupção da exposição a zidovudina pode permitir a reversão de isolados de HIV resistente a zidovudina no fenótipo susceptível de tipo selvagem. O efeito adverso mais comum é a mielosupressão, resultando em neutropenia ou anemia. Podem ocorrer intolerância gastro-intestinal, cefaléias e insônia, que tendem a regredir com a terapia. Efeitos menos freqüentes incluem trombocitopenia, hiperpigmentação das unhas e miopatia e a administração de doses muito altas pode causar ansiedade, confusão e tremor. Foram relatados casos raros de acidose lática e hepatomegalia grave com esteatose. O tratamento com zidovudina deve ser suspenso na presença de níveis rapidamente crescentes de aminotransferase, hepatomegalia progressiva ou acidose metabólica ou lática de causa desconhecida. Pode ocorrer aumento de seus níveis séricos com a administração concomitante de probenicida, fenitoína, metadona, fluconazol, atovaquona, ácido valpróico e lamivudina, através da inibição do metabolismo de primeira passagem ou da diminuição da depuração. A zidovudina pode diminuir os níveis de fenitoína, exigindo monitorização. A toxicidade hematológica pode estar aumentada durante a co-administração de outros agentes mielodepressores, como ganciclovir e agentes citotóxicos. 2) Didanosina A didanosina (ddI) é um análogo da desoxiadenosina. 11 Em pH ácido, a hidrólise da ligação glicosídica entre o açúcar e a base da ddI inativa o composto. A formulação original , que consistia em pó tamponado, foi substituída por comprimidos tamponados mastigáveis e dispersíveis com maior biodisponibilidade (30-40%). Por esses comprimidos conterem tanto fenilalanina quanto sódio, deve-se ter cautela em pacientes com fenilcetonúria ou com dietas restritas em sódio. A ASC da ddI encontra-se reduzida em 55% se o fármaco for ingerido dentro de 2 horas após refeição. As concentrações séricas máximas são em média 1ug/ml após uma dose de 300mg. As concentrações no LCR são de aproximadamente 20% das concentrações séricas. A ½ vida de eliminação 0,6-1,5 hora, porém a ½ vida intracelular do composto ativado é de 12-24 horas. O fármaco é eliminado por filtração glomerular e secreção tubular. Por conseguinte, é necessária uma redução da dose para a depuração diminuída da creatinina, após hemodiálise ou diálise peritoneal ambulatorial contínua e em caso de baixo peso corporal Deve ser tomada com estomago vazio e devido a formulação tamponada, deve ser administrada pelo menos 2 horas após administração de fármacos que necessitam de acidez para sua absorção ótima (por exemplo: cetoconazol, itraconazol,dapsona). A fluoroquinolonas e as tetraciclinas devem ser administradas pelo menos 2 horas antes ou depois da ddI, a fim de evitar concentrações plasmáticas diminuídas do antibiótico, devido à quelação. A coadministração com ganciclovir resulta em aumento da ASC da ddI e diminuição da ASC do ganciclovir, enquanto co-administração com metadona resulta em diminuição dos níveis séricos de ddI. A resistência à ddI (devido a mutação), pode restaurar, em parte, a susceptibilidade a zidovudina, mas pode conferir resistência cruzada ao abacavir, zalcitabina e lamivudina. Sua principal toxicidade clínica consiste no desenvolvimento de pancreatite dose-dependente. Outros efeitos adversos relatados incluem neuropatia distal 12 periférica dolorosa, diarréia, hepatite, ulceração do esôfago, miocardiopatia e toxicidade do sistema nervoso central (cefaléia, irritabilidade, insônia). A hiperuricemia assintomática pode precipitar crises de gota em indivíduos susceptíveis. A observação de alterações da retina e neurite óptica em paciente em uso de ddI indica utilidade de exames periódicos da retina. À semelhança de outros INTR, existem raros relatos de acidose lática ou hepatomegalia grave com esteatose. 3) Lamivudina A lamivudina (3TC) é um análogo da citocina com atividade in vitro contra o HIV-1, que é sinérgico com uma variedade de análogos de nucleosídeos antiretrovirais – incluindo zidovudina e estavudina – contra cepas de HIV-1 tanto sensíveis quanto resistentes à zidovudina. Sua biodisponibilidade oral ultrapassa 80% e não depende da presença de alimentos. Seus níveis séricos máximos são de 1,5 +- 0,5ug/ml. A ½ vida de eliminação média é de 2,5 horas, enquando a intracelular é de 10,5-15,5 horas em linhagens infectadas por HIV-1 e de 17-19 horas em linhagens infectadas por HBV. A maior parte é eliminada de modo inalterado na urina. Deve-se reduzir a dose em pacientes com insuficiência renal ou baixo peso corporal. A terapia com lamivudina leva rapidamente à seleção de mutantes HIV M184V resistentes, conferindo alto nível de resistência à lamivudina e uma redução na sensibilidade ao abacavir, didanosina e zalcitabina. A lamivudina , como outros agentes anti-retrovirais é utilizada de preferência em terapias de combinação quem suprimem por completo a replicação viral, reduzindo a geração de mutantes resistentes. A mutação M184V pode restaurar a sensibilidade fenotípica à zidovudina, indicando que esses dois fármacos administrados em esquemas de combinação podem ser particularmente benéficos. Todavia foram isoladas cepas de HIV-1 resistentes tanto à lamivudina quando a zidovudina. 13 Recentemente foi aprovada para o tratamento da infecção crônica da hepatite B. A terapia crônica com lamivudina em pacientes com hepatite pode ser limitada pelo aparecimento de cepas de HBV resistentes a lamivudina Efeitos colaterais potenciais consistem em cefaléia, insônia, fadiga e desconforto gastrointestinal (condições tipicamente LEVES). A ASC aumenta quando o fármaco é administrado concomitantemente com tremetropim-sulfametoxazol. Os níveis máximos de zidovudina aumentam quando o fármaco é administrado com lamivudina, embora não se acredite que esse efeito tenha significado clínico. 4) Zalcitabina A zalcitabina (ddC) é um análogo da citosina que possui atividade anti-HIV-1 sinérgica com uma variedade de agentes anti-retrovirais contra cepas de HIV-1 tanto sensíveis quanto resistentes à zidovudina. A resistência parece ser rara, particularmente nos esquemas de combinação. Sua atividade como monoterapia é menor do que quando o fármaco é combinado com a zidovudina. Por isso costuma ser prescrita em esquemas de combinação. Possui ½ vida intracelular relativamente longa de 10 horas (apesar de sua ½ vida de eliminação de 2 horas e biodisponibilidade oral de mais de 80%). Seus níveis plasmáticos diminuem em25-39% quando o fármaco é administrado com alimentos ou com antiácidos. Suas concentrações no LCR são aproximadamente 20% daquelas obtidas no plasma. É necessário reduzir-se a dose em pacientes com insuficiência renal. Efeitos adversos: Seu uso associa-se a uma neuropatia periférica dosedependente, que pode limitar o tratamento em 10-20% dos pacientes e que parece ser lentamente reversível se o tratamento for interrompido de imediatamente (a redução da depuração renal causada pela anfotericina B, pelo foscarnet e aminoglicosídios pode aumentar o risco de neuropatia). Ulcerações orais e esofágicas constituem outra toxicidade relatada, assim 14 como pancreatite (que ocorre menos freqüentemente do que com uso de didanosina). Pode-se verificar a presença de cefaléia, náusea, exantema e artralgias, que tendem a ser leves e regredir durante a terapia. Raramente ocorreram miocardiopatia e acidose lática com hepatomegalia grave e esteatose. Quando administrada em combinação com probenicida ou cimetidina há aumento da ASC e quando administrada concomitantemente com antiácidos ou metoclopramida há diminuição da biodisponibilidade. 5) Estavudina A estavudina é um análogo da timidina e possui alta biodisponibilidade oral (>86%) que não depende da presença de alimentos. Sua ½ vida plasmática é de 1,22 hora e intracelular é de 3,5 horas, e as concentrações no LCR correspondem a 55% dos níveis plasmáticos. A excreção do fármaco ocorre por secreção tubular ativa e filtração glomerular. Sua dose deve ser reduzida em pacientes com insuficiência renal, em pacientes submetidos a hemodiálise e em indivíduos de baixo peso corporal. Resistência clinicamente significativa tem sido rara. A principal toxicidade que limita sua dose é a neuropatia sensorial periférica dose-dependente (a freqüência da neuropatia pode aumentar quando se administra a estavudina com outros fármaco que induzem neuropatia como ddC e ddI). Há regressão dos sintomas com sua interrupção. Outros efeitos adversos incluem pancreatite, artralgias e elevação das aminotransferases séricas. Raramente foi observada ocorrência de acidose lática e de hepatomegalia grave com esteatose. A zidovudina pode reduzir sua fosforilação, por isso não se deve administrar os dois juntos. 6) Abacavir 15 Abacavir é um análogo da guanosina que parece ser significamente mais eficaz que os outros dessa classe. É bem absorvido após administração oral (>83%) e não é afetado pela presença de alimento. Sua ½ vida de eliminação é de 1,5 hora e seus níveis no LCR são aproximadamente 1/3 dos níveis plasmáticos . O fármaco é metabolizado pela álcool desidrogenase e glicuronosil transferase em metabólitos inativos que são eliminados primariamente na urina. Resistência de alto nível ao abacavir parece exigir ao menos duas ou três mutações concomitantes, e por esse motivo pode se desenvolver lentamente Em 2-5% dos pacientes foram relatadas reações de hipersensibilidade (algumas vezes fatais). Os sintomas, que geralmente aparecem nas 6 primeiras semanas de terapia, afetam múltiplos sistemas de órgãos e incluem: febre, mal-estar e queixas gastrointestinais. Pode haver ou não erupção cutânea. Embora a síndrome tenda a regredir rapidamente com sua suspensão, a reexposição ao abacavir resulta no reaparecimento dos sintomas dentro de poucas horas e pode ser fatal. Outros efeitos adversos podem incluir exantema (na ausência de hipersensibilidade), náuseas, vômitos, diarréia, cefaléia e fadiga. Outros efeitos que parecem ser raros incluem: pancreatite, hiperglicemia, hipertrigliceridemia e acidose lática. Co-administração de álcool e abacavir pode resultar em aumento da ASC do abacavir. B) Inibidores Não-Nucleosídeos da Transcriptase Reversa (INNTR) Os INNTR ligam-se diretamente a um sítio na transcriptase reversa viral localizado próximo ao sítio de ligação dos INTR,porém distintos deles. A contrário do grupo dos INTR,os INNTR não competem com trifosfatos de nucleosídios nem necessitam de fosforilação para serem ativos,e,normalmente,exibem atividade específica contra HIV-1. A ligação do INNTR ao sítio ativo da enzima resulta em bloqueio das atividades da DNA polimerase RNA-e DNA-dependente. Em geral, a resistência a um 16 INNTR está associada à mutação K103N,bem como à mutação Y181C/Imenos crítica. O rápido aparecimento de resistência impede o uso de qualquer INNTR como monoterapia para tratamento das infecções por HIV. Não há resitência cruzada entre os INNTR e os INTR ou os inibidores da protease. 1)Neverapina Apresenta excelente biodisponibilidade oral(> 90%) e não depende da presença de alimento. O fármaco é altamente lipofílico,e cerca de 60% ligamse às proteínas. Atinge níveis no líquido cefalorraquidiano ,que correspondem a 45% dos níveis alcançados no plasma.Esse fármaco é extensamente metabolizado pela isoforma P450 CYP3A a metabólitos hidroxilados e,a seguir, excretada primariamente na urina. Indicação: A nevirapina é tipicamente utilizada como componente de um esquema de combinação anti-retroviral. Além disso, recentemente, foi constatado a eficácia de uma dose única de nevirapina (200mg) na prevenção da transmissão do HIV da mãe para o recém-nascido ,quando administrada a mulheres no início do trabalho de parto,seguida de uma dose oral de 2mg/Kg administrada ao neonato dentro de 3 dias após o parto. Efeitos adversos : Ocorreram erupções cutâneas graves e potencialmente fatais durante a terapia com nevirapina,incluindo síndrome de Stevens-Johnson e necrólise epidérmica tóxica. Vale ressaltar que a terapia com nevirapina deve ser imediatamente interrompida em pacientes com exantema intenso,bem como naqueles em que o exantema é acompanhado de sintomas constitucionais. A ocorrência de exantema é verificada em cerca de 17% dos pacientes,tipicamente nas 4-8 semanas de terapia,limitando a dose do fármaco em 7% dos pacientes.Ao iniciar o tratamento, recomenda-se o escalonamento da dose durante 14 diaspara diminuir a frequência do exantema. Já foram constatados alguns casos de hepatite fulminante ,com ou sem exantema.Recomenda-se a monitorização das provas de função hepática,com interrupção do tratamento com nevirapina em casos de elevações 17 significativas. Outros efeitos adversos associados à terapia com nevirapina,que são relatados com frequência, consistem em febre,náusea ,cefaléia e sonolência. Interações medicamentosas: A nevirapina induz o metabolismo de fármacos pela CYP3A,e a co-administração resulta em diminuição dos níveis de indinavir,ritonavir e saquinavir,bem como dos anticoncepcionais orais. A nevirapina não deve ser administrada concomitantemente com o cetoconazol, devido ao fato de isso resultar num aumento da nevirapina e na redução dos níveis de cetoconazol. Ao ser co-administrada com inibidores do metabolismo da CPY3A,como a cimetidina e os macrolídios, a nevirapina tem seus níveis aumentados, todavia, ao ser administrada concomitantemente com indutores da CYP3A,como a rifabutina e a rifampicina, seus níveis são reduzidos. Portanto, a co-administração desses agentes deve ser feita com muita cautela,e apenas se não houver outras alternativas satisfatórias. 2) Delarvidina Possui biodisponibilidade oral de cerca de 85%,que é reduzida na presença de antiácidos.O fármaco liga-se extensamente (cerca de 98%) às proteínas plasmáticas. Os correspondem,em níveis média, alcançados a apenas no líquido 0,4% das cefalorraquidiano concentrações plasmáticas,representando cerca de 20% da fração não-ligada às proteínas plasmáticas. A delavirdina é extensamente metabolizada a metabólitos inativos pelas enzimas P450 CYP3A e CYP2D6. Todavia, o fármaco inibe o seu metabolismo ,ao inibir a CYP3A.Deve-se ter cautela ao administrar delavirdina a pacientes com insuficiência hepática de grau significativo,visto que a experiência clínica 18 nessa situação é limitada. Efeitos adversos: Ocorre erupção cutânea em cerca de 18% dos pacientes,que aparece, tipicamente , no primeiro mês de terapia e que não impede nova exposição. Outros efeitos adversos observados em mais de 2% dos pacientes em uso de delavirdina incluem cefaléia,fadiga,náusea,diarréia e aumento dos níveis séricos de aminotransferases. Interações medicamentosas: Observa-se uma redução das concentrações plasmáticas de delavirdina na presença de antiácidos, didanosina, fenitoína,fenobarbital,carbamazepina,rifabutina,rifampicina,nelfinavir e saquinavir, enquanto que ocorre aumento das concentrações durante a co-administração com claritromicina,fluoxetina e cetoconazol. A delavirdina,todavia,determina uma redução dos níveis de claritromicina,indinavir,nelfinavir,saquinavir,rifabutina,dapsona,alprazolam,mida zolam,triazolam,nifedipina,cisaprida,quinidina,varfarina e derivados do esporão do centeio. A ASC da didanosina exibe uma diminuição de cerca de 20% na presença de delavirdina. Não se recomenda a co-administração de delavirdina com fenitoína,fenobarbital,carbamazepina,rifabutina,rifampicina e antagonistas dos receptores H2. A co-administração com antiácidos ou didanosina deve ter um intervalo de pelo menos uma (1) hora. Recomenda-se uma redução da dose de indinavir para 600mg,três vezes ao dia, caso esse fármaco seja administrado concomitantemente com a delavirdina. Aconselha-se a monitorização das provas de função 19 hepática caso a delavirdina seja administrada com saquinavir. Contra-indicação: delavirdina, Deve-se uma vez evitar que foi a gravidez constatado durante que a o uso delavirdina de é teratogênica em ratos ,causando defeitos do septo ventricular e outras malformações que não diferem das obtidas em seres humanos em exposição ao fármaco. 3) Efavirenz O efavirenz (antigamente DMP 266) pode ser administrado uma vez ao dia, em virtude da sua meia-vida prolongada( 40-55 horas). É bem absorvido após a administração oral(45%),e sua biodisponibilidade aumenta em cerca de 65% após uma refeição rica em gordura.As concentrações plasmáticas máximas do efavirenz são observadas dentro de 3-5 horas após a administração de doses diárias,e a concentração plasmática em estado de equilíbrio dinâmico é alcançada em 6-10 dias. O efavirenz é metabolizado principalmente pela CYP3A4 e CYP2B6 a metabólitos hidroxilados inativos,sendo o restante eliminado na forma inalterada nas fezes. O fármaco liga-se intensamente à albumina (> 99%). Os níveis no líquido cefalorraquidiano variam de 0,3 a 1,2% daqueles alcançados no plasma, e são aproximadamente três vezes maiores do que a fração livre de efavirenz no plasma. Efeitos adversos: Embora o fármaco seja geralmente bem tolerado, os principais efeitos adversos afetam o sistema nervoso central (tontura, sonolência, insônia, cefaléia, confusão, amnésia, agitação, delírios, depressão, pesadelos, euforia), e tendem a ocorrer nos primeiros dias de terapia, regredindo durante o tratamento. A administração do fármaco ao deitar pode ser útil. Também foi relatada a ocorrência de erupção cutânea,no início da terapia,em até 28% dos pacientes,e o exantema ,tipicamente, regride 20 com a continuação da medicação. Outras reações adversas relatadas em mais de 2% dos pacientes incluem náusea e vômitos, diarréia,cristalúria,elevações das enzimas hepáticas e aumento de 10-20% dos níveis séricos de colesterol total. Interações medicamentosas: O efavirenz induz a CYP3A4,com consequente indução de seu próprio metabolismo,bem como alteração do metabolismo de muitos outros fármacos. Devido ao potencial de interações farmacológicas graves, os fármacos que utilizam a mesma via do efavirenz não devem ser administrados concomitantemente,e esses fármacos incluem:cisaprida, midazolam, triazolam e derivados do esporão do centeio. Além disso, deve-se ter cautela com o uso concomitante de varfarina,fenobarbital, fenitoína, rifampicina e eritromicina. Embora a experiência clínica seja limitada, recomenda-se muita cautela em pacientes com comprometimento hepático grave. Os níveis de ritonavir e nelfinavir podem aumentar na presença de efavirenz,enquanto claritromicina são que os níveis de significativamente amprenavir,saquinavir,indinavir reduzidos na e co-administração. As doses de indinavir (até 1.000mg a cada 8horas) e de rifabutina(em 50%) devem ser aumentadas na administração concomitante com efavirenz. Contra-indicação: A gravidez deve ser evitada em mulheres tratadas com efavirenz, uma vez que foram observadas altas taxas de anormalidades fetais em fêmeas grávidas de macacos expostas ao efavirenz em doses aproximadamente equivalentes à dose de 600mg/dia administrada a seres humanos. C) Inibidores da Protease (IPs) A protease é responsável pela clivagem das poliproteinas, que são moléculas precursoras, produzindo as proteínas estruturais finais do cerne do vírion maduro. Ao impedir esse processo, são formadas partículas virais imaturas e não infecciosas. Devido a ocorrência de alterações genotípicas específicas que 21 conferem resistência fenotípica a esses agentes, é contra-indicada a monoterapia. Amprenavir É rapidamente absorvido pelo trato gatrointestinal e pode ser ingerido com ou sem alimento, evitando-se refeições ricas em gorduras, uma vez que diminuem sua absorção. Sua meia-vida plasmática é relativamente longa (6-10,6 h). É metabolizado no fígado, devendo ser utilizado com cautela no contexto da insuficiência hepática. Os efeitos adversos mais comuns são náuseas, diarreia, vômitos, parestesias periorais, depressão e exantema. Atazanavir É um novo IP azapeptídico, cujo perfil permite a administração de uma dose única ao dia. Sua biodisponibilidade oral é de cerca de 60 a 68% e deve ser ingerido com alimentos. O fármaco necessita de um meio ácido para sua absorção e apresenta solubilidade aquosa dependente do pH, recomendandose assim, um intervalo de pelo menos 12 h para a ingestão de agentes redutores de ácido. Consegue penetrar tanto no LCR quanto no líquido seminal. Sua meia-vida plasmática é de 6 a 7 h, aumentando para cerca de 11 h quando é administrado juntamente com o ritonavir. A principal via de eliminação é biliar e não deve sem administrado em pacientes com insuficiência hepática. Os efeitos adversos mais comuns são náuseas, vômitos, diarreia, dor abdominal, cefaleia, neuropatia periférica e exantema. Pode ocorrer também hiperbilirrubinemia indireta com icterícia franca devido a inibição da enzima UGT1A1. Ao contrario dos outros fármacos, não está associado a dislipidemias, redistribuição das gorduras ou síndrome metabólica. 22 Existe grande potencial de interações medicamentosas com o atazanavir, devido a um aumento da toxicidade pelo bloqueio enzimático da glicuronidação (UGT1A1). Fosamprenavir Pró-fármaco do amprenavir que é rapidamente hidrolisado por enzimas no epitélio intestinal. Os comprimidos podem ser ingeridos com ou sem alimento. Substituiu o amprenavir para adultos uma vez que possui uma carga diária significantemente mais baixa de comprimidos. Indinavir Deve ser consumido com o estômago vazio para sua absorção máxima. A biodisponibilidade oral é de cerca de 65% e o fármaco apresenta grande penetração no LCR. A meia-vida sérica é de 1,5 h a 2 h. A excreção é sobretudo fecal. Exige redução da dose no contexto de insuficiência hepática. Os efeitos adversos consistem em hiperbilirrubinemia indireta e nefrolitíase, devido a cristalização do fármaco. A nefrolitíase pode ocorrer poucos dias após o início de administração do fármaco, podendo estar associada a insuficiência renal. É importante o consumo diário de pelo menos 1,5 L de água para manter uma hidratação adequada e evitar o desenvolvimento da nefrolitíase. Também foi relatada trombocitopenia, elevação dos níveis sérios de aminotransferases, náuseas, diarreia e irritabilidade. Sua associação com o ritonavir (reforço) permite a administração do fármaco 2 vezes/dia em lugar de 3 vezes/dia e elimina a restrição de alimento associada ao seu uso. Todavia, existe o potencial de aumento da nefrolitíase com tal associação. Lopinavir/Ritonavir O lopinavir 100/ritonavir 400 é uma associação aprovada, em que as doses subterapêuticas do ritonavir inibem o metabolismo do lopinavir, resultando assim em maior exposição ao lopinavir. Mantém uma potente supressão viral além de proporcionar uma barreira farmacológica contra o desenvolvimento de 23 resistência. O ritonavir nessa associação, portanto, atua mais como intensificador farmacocinético do que como agente anti-retroviral. A associação melhora a adesão do paciente ao tratamento devido a menor carga de comprimidos e em geral, é bem tolerada. A absorção do lopinavir aumenta na presença de alimento. Os efeitos adversos mais comuns consistem em diarreia, dor abdominal, náuseas, vômitos e astenia. Nelfinavir Sofre maior absorção quando tomado com alimento, é metabolizado pelo CYP3A e excretado principalmente nas fezes. A meia-vida plasmática é de 3,5 a 5 h. Os efeitos adversos mais comuns consistem em diarreia e flatulência. Possui um perfil de segurança e farmacocinética favorável para mulheres grávidas em comparação com os outros IP. Ritonavir É inibidor das proteases do HIV-1 e do HIV-2 com alta biodisponibilidade (cerca de 75%), que aumenta quando o fármaco é ingerido com alimento. Sua transformação em metabólito ativo ocorre por intermédio das isoformas CYP3A e CYP2D6 e sua excreção ocorre sobretudo pelas fezes. Deve-se ter cautela em pacientes com insuficiência hepática. Os efeitos adversos mais comuns consistem em distúrbios gastrintestinais, parestesias (circum-orais e periféricas), elevação dos níveis séricos de aminotransferases, alteração do paladar e hipertrigliceridemia. Tipicamente ocorrem náuseas, vômitos e dor abdominal nas primeiras semanas de terapia. Recomenda-se um escalonamento lento da dose no decorrer de um período de 4 a 5 diaspara diminuir os efeitos colaterais que limitam a dose. O ritonavir é um potente inibidor da CYP3A4, sendo necessário ter cautela quando o fármaco é administrado concomitantemente com agentes intensamente metabolizados pela CYP3A, sendo essa característica explorada para elevar a concentração mínima e prolongar a meia-vida de agentes IP mais potentes e menos tóxicos. Além disso, sua meia-vida prolongada permite sua 24 administração a intervalos menos frequentes em comparação com outros agentes IP, aumentando a adesão ao tratamento. Saquinavir As formulações de saquinavir devem ser tomadas 2 h após uma refeição gordurosa para aumentar sua absorção. Possui um grande volume de distribuição, porém a penetração no LCR é insignificante. A meia-vida de eliminação é de 12 h. A excreção ocorre primariamente nas fezes. Os efeitos adversos relatados incluem desconforto gastrintestinal (náuseas, diarreia, vomito, dor abdominal, dispepsia) e rinite. A co-administração com o ritonavir foi adotada devido aos níveis mais elevados e mais eficazes de saquinavir, permitindo, ao mesmo tempo, uma redução da dose diária e da frequência de administração do saquinovir. Tipranavir É outro IP mais recente. Possui biodisponibilidade precária, porém aumenta quando o fármaco é administrado com uma refeição rica em gordura. É metabolizado pelo sistema microssômico hepático. Deve ser administrado em associação com o ritonavir para obter níveis séricos efetivos. Está contra-indicado para pacientes com insuficiência hepática e que possuem alergia conhecida à sulfa. Os efeitos adversos mais comuns consistem em diarreia, náuseas, vômitos, dor abdominal e exantema, sendo este último mais comum em mulheres. Foi observada a ocorrência de hepatotoxicidade, incluindo descompensação hepática potencialmente fatal, que é mais comum em pacientes com hepatite B ou C crônica. Outros efeitos incluem depressão, elevação dos níveis de colesterol total, triglicerídios e amilase e contagem diminuída de leucócitos. D) Inibidores de fusão Apesar da evolução das abordagens terapêuticas antiretrovirais, há muitos 25 doentes com intolerância aos medicamentos utilizados ou infectados com vírus resistentes à ação de tais medicamentos. Além disso, os inibidores da transcriptase reversa e os inibidores de protease atuam após a instalação da infecção e a replicação o vírus nos linfócitos. Dessa forma, os inibidores de fusão constituem uma promissora área de pesquisa na prevenção da entrada do vírus HIV na célula hospedeira. O ciclo reprodutivo do HIV depende da sua fusão com o linfócito CD4+, a qual baseia-se na interação com complexo gp120-gp41 com os receptores CD4 e CCR5 e/ou CXCR4 do linfócito CD4+. Os inibidores de fusão incluem, portanto: 1) Inibidores da interação da gp120 com o CD4, 2) Inibidores da interação do gp120 com os co-receptores CXCR4 e CCR5 e 3) Inibidores da interação com a gp41. Dentro das classes dos inibidores de fusão há muitos estudos sobre substâncias passíveis de serem utilizadas como parte da terapia anti-retroviral. Contudo, os inibidores da interação com a gp41 revelaram-se promissores na terapêutica. Utilizando-se peptídeos T-20 e T-1249 é possível impedir que a glicoproteína gp41 entre em contato com a superfície celular. O peptídeo T-20, também conhecido como Enfuvirtida (evidenciada em 2003), é uma reprodução sintética exata da cadeia de 36 aminoácidos de sequencia idêntica a da hélice próxima ao terminal carboxílico e à região transmembranar da gp41. Na fusão normal do vírus com a célula hospedeira, o domínio HR2 da gp41 liga-se ao domínio HR1, promovendo a aproximação e a infecção da célula hospedeira. Ao introduzir uma cópia de T-20 livre no organismo, ela mimetiza o HR2 e se liga de forma irreversível ao HR1, impedindo a ligação verdadeira entre os domínios HR2-HR1 da gp41 e a conseqüente fusão entre vírus e linfócito. Entretanto, pelo alto custo da terapia com o T-20, é mais indicada contra HIV multi-resistente. O T-1249 representa uma geração mais recente do T-20. Estudos preliminares indicam que a droga é cerca de 100 vezes mais ativa do que o T-20, sendo indicado como dose única diária injetável. 26 E) Em fase de investigação A FDA aprovou recentemente novos inibidores não-nucleosídico da transcriptase reversa, o Rilpivirina em 2011 e o Etravirina, em 2088 Em 2007 foi lançado no mercado o Maviroque, o qual é um antagonista dos receptores CCR5, os quais são essenciais na internalização do HIV-1 com tropismo para CCR5 nas células T do hospedeiro. Há outros antagonista de CCR5 em estudos, como o Vicriviroque, que já se encontra em ensaios clínicos de fase III. Entretanto, a eficácia, toxicidade e efeitos adversos dos antagonistas de CCR5 de uso crônico ainda não estão estabelecidas. O Darunavir é um inibidor de protease com atividade anti-HIV-1 recente no mercado, aprovado pelo FDA em 2006. O Raltegravir é um inibidor de integrase também recente, aprovado pelo FDA em 2007. Tratamento Os protocolos sobre terapia antiretroviral foram primeiramente publicados em 2002, resumidos e simplificados em 2003 e atualizados em 2006. Agora, as novas recomendações são baseadas nos dados disponíveis mais atuais. As principais modificações nas recomendações da OMS para a terapia antiretroviral (TAR) são: A última orientação da OMS, feita em 2006, sugeria que os portadores do vírus iniciassem o tratamento assim que seus níveis de células T CD4 (célula de defesa) fossem iguais ou inferiores a 200 células por milímetro cúbico de sangue. De acordo com a nova recomendação, o tratamento para adultos e adolescentes HIV positivos deve começar mais precocemente, quando a contagem for igual ou inferior a 350 células por milímetro cúbico de sangue. A nova diretriz serve para todos os pacientes com HIV, inclusive grávidas, independente da presença ou ausência de sintomas da doença. Esta nova diretriz tem como base que o início precoce da TAR estimula o sistema imune, diminui o risco de mortalidade e morbidade associados ao HIV e também reduz o risco de transmissão de HIV e tuberculose. 27 Efeitos colaterais irreversíveis e de longo prazo, como a neuropatia periférica e a lipodistrofia (perda de gordura corporal), estão presentes com o uso da Estavudina (d4T), droga usada amplamente em países em desenvolvimento por sua disponibilidade e baixo custo. A OMS recomenda que a estavudina seja, na medida do possível, substituída pela Zidovudina (AZT) ou pelo Tenofovir (TDF). Para prevenir a transmissão de mães HIV positivas para seus filhos, a OMS recomenda que a TAR deva ser iniciada mais cedo na gravidez (com 14 semanas de gestação) e continuar até que a amamentação tenha se encerrado. É uma mudança em relação a 2006, que dizia para iniciar a TAR no terceiro trimestre da gestação, começando na 28ª semana da gravidez. A OMS recomenda que a amamentação siga até 12 meses de vida, desde que mães HIV positivas ou crianças recebam a TAR durante este período. Duas alternativas para mulheres HIV positivas que estão amamentando e não estão recebendo TAR são: Para mulheres que receberam AZT durante a gravidez, Nevirapina está recomendada diariamente para a criança, do nascimento até o final da amamentação. Para as mulheres que receberam esquema de 3 drogas durante a gravidez, o regime deve ser mantido até que a amamentação se complete. Existem dois desafios principais. O primeiro é disponibilizar os medicamentos para alguns países com recursos limitados. O segundo é fazer com que mais pessoas façam testes de HIV de maneira voluntária e recebam aconselhamento antes de desenvolverem os sintomas da doença. Caso as novas recomendações sejam seguidas, mais pessoas vão necessitar de tratamento, aumentando os custos. Mas os gastos com hospitalizações vão diminuir, aumentando a produtividade, já que os infectados poderão trabalhar por mais tempo sem apresentar os sintomas da doença. Menos crianças serão abandonadas com o vírus e, com a divulgação dos benefícios do início precoce 28 da terapia, mais pessoas ficarão motivadas a fazer testes de HIV e a receber aconselhamento sobre a doença. Conclusão Nos últimos anos, o grande avanço verificado no campo da farmacologia dos anti-retrovirais (talvez a área de maior crescimento e desenvolvimento) mudou a vida das pessoas vivendo com AIDS, possibilitando um aumento da sobrevida e melhora da qualidade de vida. Apesar deste avanço, a facilidade com que os vírus adquirem resistência, torna imprescindível o desenvolvimento de novos medicamentos. Neste sentido, a Farmacêutica tem um papel fundamental seja no estudo direto de novos fármacos ou na atenção farmacêutica trabalhando a questão da adesão ao medicamento. A adesão ao medicamento é essencial para a manutenção da baixa carga viral e menor desenvolvimento de resistência. Através da genotipagem, hoje adotada apenas para pacientes com falha terapêutica, é possível uma terapia de resgate mais personalizada de acordo com o perfil de mutações apresentadas. A ampliação do arsenal terapêutico aliado a politerapia baseada na genotipagem para todos os pacientes com indicação de uso poderá quem sabe no futuro garantir o controle farmacológico desta infecção por períodos maiores, auxiliando no controle da epidemia. 29 Bibliografia Farmacologia Básica & Clínica – Katzung – 10ª. Edição, 2008. http://drauziovarella.com.br/doencas-e-sintomas/aids/ http://www.roche.pt/sida/virus/life.cfm 30