RESUMO 24ªEXPANDIDO RAIB 376 143 PAPEL DOS ROEDORES URBANOS COMO RESERVATÓRIOS DE LEPTOSPIROSE M.JF. Almeida-Silva1*, M.S. Lima2*, V. Castro2, M.R. Potenza3, A.E.C. Campos1 Instituto Biológico, Unidade Laboratorial de Referência em Pragas Urbanas, Av. Cons. Rodrigues Alves, 1252, CEP 04014-002, São Paulo, SP, Brasil. E-mail: [email protected] 1 RESUMO A humanidade luta contra os roedores há tempo. Os métodos de exploração da natureza desenvolvidos pelo homen acabaram por favorecer a instalação e a proliferação desses animais. Três espécies são consideradas pragas urbanas, isto é, espécies de animais que convivem próximo ao ser humano, a despeito da vontade deste. São elas, a ratazana (Rattus norvegicus), o rato-de-telhado (Rattus rattus) e o camundongo (Mus musculus), sendo consideradas, de ocorrência cosmopolita. Os roedores são os principais reservatórios da Leptospirose, sendo esses hospedeiros primários, essenciais para a persistência dos focos da infecção e os seres humanos hospedeiros acidentais. Diante desse quadro, torna-se importante avaliar o potencial transmissor da leptospirose por roedores, principalmente em áreas sujeitas a enchentes, quando há maior probabilidade de contaminações, que foi objetivo deste projeto. PALAVRAS-CHAVE: Roedores sinantrópicos, zoonoses, leptospirose. INTRODUÇÃO A humanidade luta contra os roedores há tempos. Os métodos de exploração da natureza desenvolvidos pelo homen acabaram por favorecer a instalação e a proliferação desses animais (Brasil, 2006). Embora muitas pessoas considerem roedores, em geral, como praga, somente um pequeno número de espécies causa danos econômicos e transmite doenças para o homem, para os animais domésticos e para os silvestres. Provavelmente, menos de 50 espécies são consideradas realmente pragas (Alves, 1990). Dessas, a maioria é considerada, apenas, como praga agrícola, atacando campos de diversas culturas pelo mundo todo. Três espécies são consideradas pragas urbanas, isto é, espécies de animais que convivem próximo ao ser humano, a despeito da vontade deste. São elas a ratazana (Rattus norvegicus), o rato-de-telhado (Rattus rattus) e o camundongo (Mus musculus), sendo consideradas, conforme Meehan (1984), de ocorrência em todo o mundo, inclusive na Cidade de São Paulo (Garcia, 1998). A Cidade de São Paulo, nos últimos 5 anos, através do Serviço de Atendimento ao Cidadão (SAC), tem registrado um número crescente de reclamações dos munícipes sobre a presença de roedores. Houve um aumento de cerca de 400%, em quatro anos, passando de 4.565 em 2004, para 18.499 em 2008. Nesse mesmo período, apresentou centenas de casos e óbitos por Leptospirose, onde ocorreram 750 casos confirmados e 143 óbitos. Em 2009 ocorreram 1.319 casos de Leptospirose, com 45 óbitos (Secretaria Municipal de Saúde, s.d). Até o momento, já foram notificados, na capital, 1.023 casos, com 16 óbitos. Entretanto, o mapeamento das demais doenças transmitidas por roedores não tem sido foco das prefeituras dos municípios brasileiros, principalmente pela dificuldade dos exames nos animais. Mortes de seres humanos por Leptospirose muitas vezes ficam indefinidas, pela falta de conhecimento dos médicos em diagnosticar a doença. Além da Leptospirose os roedores são transmissores de pelo menos 30 zoonoses: peste bubônica, tifo murino, hantaviroses, salmoneloses, febre da mordedura e triquinose são algumas delas (Brasil, 2006). A Leptospirose é uma doença de carater zoonótico, causada por sorovares da Leptospira spp., uma espiroqueta móvel, devido ao seu axóstilo (estrutura semelhante a flagelo e filamentosa). A bactéria acomete roedores e outros mamíferos silvestres e constitui um problema veterinário de grande relevância, atingindo animais domésticos, como caninos e felinos, além de outros animais de importância econômica, como bovinos, equinos, suínos, caprinos e ovinos (McDonough, 2001). Diante desse quadro, torna-se importante avaliar o potencial transmissor da Leptospirose por roedores, principalmente em áreas sujeitas a enchentes, quando há maior probabilidade de contaminações, que foi objetivo deste projeto. Instituto Biológico, Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Sanidade Animal, São Paulo, SP, Brasil. Instituto Biológico, Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Proteção Ambiental, São Paulo, SP, Brasil. *Programa de Pós-Graduação - Instituto Biológico. 2 3 Biológico, São Paulo, v.73, n.2, p.376-377, jul./dez., 2011 24ª RAIB O papel do R. rattus na transmissão de doenças como a Leptospirose ainda é pouco conhecido, mas seu hábito intradomiciliar permite um contato mais estreito com o homem. Sendo assim, é necessário que o potencial dessa espécie como transmissora de doenças seja melhor estudado, para que a necessidade de controle da espécie seja fundamentada também sob o ponto de vista sanitário (Brasil, 2002). MATERIAL E MÉTODO A pesquisa foi registrada no Cetea sob o nº.85/09. Os ratos foram capturados por meio de armadilhas, que foram deixadas de 10 a 15 dias em residências e estabelecimentos comerciais na região leste do Município de São Paulo. Os animais foram eutanasiados em CO2 e necropsiados (Fig. 1). Foram coletados fragmentos de fígado e rim. Esses órgãos coletados foram inoculados em meios de cultivo seletivos para isolamento de Leptospira spp. nos períodos de maior índice pluviométrico, porém, há índice da patologia em toda a cidade (Brasil, 2002). Apesar da Leptospirose ser a principal doença transmitida pelos roedores sinantrópicos, a presença desses animais, no intra ou no peridomicilio, pode trazer, também, outros agravos à saúde, como Capillaria Hepática e poxviroses. Almeida-Silva et al. (2010) demostraram a dominância do rato de telhado no Bairro Aricanduva, zona leste de São Paulo onde foram capturados um total de 18 animais, sendo todos identificados como Rattus rattus. Esses dados são importantes, pois Brasil, (2002) destacou que o papel do R. rattus na transmissão de doenças como a Leptospirose ainda é pouco conhecido, mas seu hábito intradomiciliar permite um contato mais estreito com o homem e neste trabalho o sucesso de captura foi de R. rattus. REFERÊNCIAS ALMEIDA-SILVA; M.J.F.; POTENZA, M.R.; CAMPOS, A.E.C. Ocorrência do rato de telhado (Rattus rattus) no bairro Aricanduva, zona leste de São Paulo. O Biológico, São Paulo, v.72, n.2, p.158, 2010. Trabalho apresentado na REUNIÃO ANUAL DO INSTITUTO BIOLÓGICO, 23., 2010, São Paulo. Anais. São Paulo: Instituto Biológico, 2010. Resumo n.111. ALVES, C.J.; VASCONCELLOS, S.A.; CAMARGO, C.R.A.; MORAIS, Z .M. Influência dos fatores ambientais sobre a proporção de caprinos sororreatores para a Leptospirose em cinco centros de criação do Estado da Paraíba, Brasil. Arquivos do Instituto Biológico, São Paulo, v.63, n.2, p.11-18, 1996. Fig. 1 – Necropsia. Fonte: Almeida-Silva (2010). RESULTADOS E DISCUSSÃO Foram coletados um total de 50 roedores, sendo 49 indivíduos da espécie R. Rattus e 1 indívíduo da espécie R. norvegicus. No isolamento em meio de cultura, 09 das amostras, foram suspeitas para leptospira e será posteriormente confirmada ser positiva para Leptospira spp. por meio de análise de PCR. O isolamento da bactéria necessita da sua viabilidade e da mínima interferência de contaminantes na amostra. A cidade de São Paulo possui clima tropical atlântico com regiões sem saneamento básico, possuindo condições que favorecem a persistência das leptospiras viáveis no meio ambiente. A região da zona leste é marcada por episódios de enchentes, principalmente BRASIL. Ministério da Saúde. Manual de controle de roedores. Brasília: Fundação Nacional de Saúde, 2002. 129 p. BRASIL. Ministério da Saúde. Manual de saneamento. 4.ed. Brasília: Fundação Nacional de Saúde, 2006. 408p. GARCIA, N.O. Roedores em áreas urbanas. O Biológico, São Paulo, v.60, n.2, p.121-124, 1998. GENOVEZ, M.E. Diagnóstico laboratorial de la leptospirosis animal. In: CACHIONE, R.A.; DURLACH, R.; LARGUI, O.P; MARTINO, P. (Ed.). Temas de Zoonosis III. Buenos Aires: Asociacíon Argentina de Zoonosis, 2006. p.170-182. McDONOUGH, P.L. Leptospirosis in dogs. Ithaca: International Veterinary Information Service, 2001. Disponível em: <www.ivis.org>. Acesso em: 10 nov. 2009. Biológico, São Paulo, v.73, n.2, p.376-377, jul./dez., 2011 377