O Estado de S. Paulo, 08/02/2017 – acesse no site de origem

Propaganda
Aluna de Engenharia denuncia trote
violento com diesel em Sorocaba
Segundo relato de jovem de 18 anos, veteranos a obrigaram a ingerir bebidas
alcoólicas e a beijaram à força; como resistiu, jogaram combustível em seu corpo
Foto: Reprodução
Ela alega que foi abordada por veteranos na cantina da escola, obrigada a ingerir bebidas alcoólicas e assediada
sexualmente
SOROCABA ­ Uma estudante de 18 anos denunciou à Polícia Civil ter sido vítima de
trote violento e assédio sexual durante recepção a calouros na Faculdade de
Engenharia de Sorocaba (Facens), no interior de São Paulo, na noite de segunda. Ela alega que estava com uma amiga, também caloura, quando as duas foram
abordadas por veteranos na cantina da instituição. Eles anunciaram o trote e as
levaram a um bar fora do câmpus, obrigando­as a ingerir bebidas alcoólicas. Um
veterano do 4.º ano tentou beijar a caloura à força. Como ela resistiu, um estudante
de outro grupo jogou óleo diesel em seu corpo. A aluna conta que depois disso ela apagou. Os veteranos a deixaram desacordada no
portão da faculdade e outros colegas a socorreram. A universitária foi atendida por
uma unidade do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). Os médicos
constataram lesões nos braços e hematomas. A garota também estava intoxicada
pelo consumo de álcool e pelo contato com o óleo diesel. Depois de receber alta, ela
e familiares denunciaram a violência à Polícia Civil.
Foto: Reprodução
A aluna decidiu sair da escola e desmaiou após passar pelo portão. Ela foi socorrida por uma unidade do Samu
Falando ao Estado, nesta quarta­feira, 8, com a condição de não ser identificada, a
jovem contou que é de São Paulo, mas reside em Sorocaba há quatro anos. “Fazer
Engenharia era um sonho, me esforcei para entrar, só não esperava esse mau início
logo no primeiro dia de aula.” Ela conta que estava com uma amiga também caloura
na cantina, quando foram abordadas por um grupo de veteranos. “Eles disseram:
calouras, vocês têm que vir com a gente. E foram nos puxando. Eu não esperava
nada demais, afinal a escola tinha colocado faixas e carro de som avisando que
qualquer tipo de trote era proibido e todas as atividades eram optativas.”
Segundo a jovem, os rapazes disseram que elas seriam apenas pintadas. As duas
foram levadas para um bar próximo da Facens onde estavam outros veteranos e
calouros. “Aí começaram os excessos. Eles nos forçavam a beber, dizendo que ou
bebia ou tinha de beijar.” Foi nesse momento, segundo ela, que um quartanista, que
ela conhecia de vista, tentou beijá­la à força. Depois disso, segundo ela, os excessos
continuaram, até que um dos jovens despejou óleo diesel misturado com café na
cabeça dela. Atordoada, a jovem apagou. “Quando acordei, eu estava recebendo
atendimento. Dois estudantes que não participaram do trote me encontraram
desacordada perto do portão. Não sei como me levaram para lá.” A jovem disse que não vai desistir do curso nem de levar o caso à frente. Nesta
quarta, com o joelho e um pé inchados em razão de uma possível queda, e com
dificuldade para andar, ela não foi à aula.
Apuração e lei. A Faculdade de Engenharia de Sorocaba informou em nota que
“lamenta profundamente” o trote, destacando que foi praticado fora do câmpus. “A
Facens está empenhada na apuração dos fatos.” Uma lei municipal de 2013 proíbe
trotes estudantis violentos em Sorocaba, fixando multa de até R$ 20 mil para o
infrator.
Músicos mantêm o amor ao rock-androll vivo desde a década de 1960
Mario Cerveira, o Marinho, e João Carlos Kurkjian, o Kurk, são exemplos de cenário
comum nas noites paulistanas: roqueiros da 3ª idade que arrasam no palco
SÃO PAULO ­ Os garotos que amavam os Beatles e os Rollings Stones, na década de
1960, são hoje respeitáveis senhores. Há quem conseguiu se tornar um profissional
bem­sucedido, um chefe de família e um simpático vovô. Mas o amor à música, em
especial ao rock­and­roll, não tem limites e muito menos, idade. Dois músicos
ouvidos pelo Estado somam quase 140 anos e são prova de um cenário nem tão
incomum na cidade: músicos que estão na chamada terceira idade, mas que
quebram tudo em cima do palco.
Mario Cerveira é advogado e tem 66 anos. Especialista no setor de franquias, é dono
de um escritório que leva o seu sobrenome e é figura conhecida nas audiências
judiciais na capital e em outras cidades do Estado. Juízes, promotores e outros
advogados costumam cumprimentá­lo quando o encontram nos fóruns.
Mas à noite, ele assume as baquetas da banda Watt 69 e se transforma no
"Marinho". Faz isso há 50 anos. "Sou um advogado que também é músico.
Infelizmente, é impossível viver de música."
No Watt 69, Marinho fica à frente de praticamente tudo. É ele quem cuida dos
contratos dos shows, negocia os cachês, marca os ensaios em estúdio e até
providencia vagas no estacionamento para os demais integrantes da banda. O
vocalista Jorge Adamo, o Bidú, que é um advogado aposentado, também ajuda na
organização.
"A nossa recompensa é subir no palco. O que todos os artistas dizem por aí é a pura
verdade: a adrenalina é impressionante", disse Marinho. "Isso que faz com que o
artista não consiga ficar longe dos shows. É um momento mágico."
A banda conta com 11 integrantes, e o repertório é escolhido por todos. A prioridade
são as canções dos anos 1960 e 1970 que fazem sucesso até hoje. Rolling Stones,
Creedence Clearwater Revival, Roy Orbinson, entre outros, estão na lista. Aliás, a
escolha das músicas é um dos segredos que mantêm a banda em atividade.
"O que move a banda é o coração. Tocamos canções para agradar todo mundo, a
ideia é ouvir e dançar. Mas se uma música não pega, é limada", contou Marinho. No
meio do público, é comum encontrar colegas de profissão. "Já teve juiz, advogado,
que tomou um susto quando me viram tocando bateria. Eles dizem: 'Mas é você
mesmo?'. É muito divertido."
50 anos de rock. Na década de 1960, quando tinha 16 anos, João Carlos Kurkjian
foi conquistado pela música "I wanna hold your hand", dos Beatles. O interesse pelo
rock­and­roll cresceu com a idade e o motivou a montar os chamados "conjuntos
musicais".
O que era uma brincadeira de amigos ­ que usavam o tempo disponível para tocar
covers de seus artistas favoritos, como Pink Floyd, Rolling Stones e The Who ­ se
transformou em uma profissão. Na década de 1980, Kurkjian abandonou a
estabilidade do emprego, era administrador de empresas, e decidiu viver
exclusivamente dos seus shows, da música.
No meio musical, ele á carinhosamente conhecido como João Kurk ou apenas,
Kurk. Ele fundou e participou de bandas que fizeram história no cenário rock
paulistano. A mais famosa foi a Rockover, na qual ficou por 15 anos. Em seguida,
montou a Rock Stock. Mas quando completou 60 anos, decidiu começar tudo de novo. "Precisava de uma
banda onde todos os integrantes se dedicassem 100% a ela." Surgiu então a Mr.
Kurk. "O nome foi sugerido pelos demais integrantes e amigos. Depois de mais de
50 anos na estrada, pensei: por que não?"
Nos shows, Kurk recebe um tipo diferente de assédio. "É tudo com muito respeito.
As mulheres costumam dizer: 'Ai, que fofo, vovô".
Kurk tem a receita para tanto tempo de carreira. "Encaro o palco como um lugar
sagrado. Imagino como se a minha vó estivesse assistindo, por isso, não tem
palavrão e nem esculhambação", afirmou. "Tem muito respeito com o público."
Atualmente, ele prepara o documentário João Kurk, 50 anos de rock.
Download