Aluna de Engenharia denuncia trote violento com diesel em Sorocaba Segundo relato de jovem de 18 anos, veteranos a obrigaram a ingerir bebidas alcoólicas e a beijaram à força; como resistiu, jogaram combustível em seu corpo Foto: Reprodução Ela alega que foi abordada por veteranos na cantina da escola, obrigada a ingerir bebidas alcoólicas e assediada sexualmente SOROCABA ­ Uma estudante de 18 anos denunciou à Polícia Civil ter sido vítima de trote violento e assédio sexual durante recepção a calouros na Faculdade de Engenharia de Sorocaba (Facens), no interior de São Paulo, na noite de segunda. Ela alega que estava com uma amiga, também caloura, quando as duas foram abordadas por veteranos na cantina da instituição. Eles anunciaram o trote e as levaram a um bar fora do câmpus, obrigando­as a ingerir bebidas alcoólicas. Um veterano do 4.º ano tentou beijar a caloura à força. Como ela resistiu, um estudante de outro grupo jogou óleo diesel em seu corpo. A aluna conta que depois disso ela apagou. Os veteranos a deixaram desacordada no portão da faculdade e outros colegas a socorreram. A universitária foi atendida por uma unidade do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). Os médicos constataram lesões nos braços e hematomas. A garota também estava intoxicada pelo consumo de álcool e pelo contato com o óleo diesel. Depois de receber alta, ela e familiares denunciaram a violência à Polícia Civil. Foto: Reprodução A aluna decidiu sair da escola e desmaiou após passar pelo portão. Ela foi socorrida por uma unidade do Samu Falando ao Estado, nesta quarta­feira, 8, com a condição de não ser identificada, a jovem contou que é de São Paulo, mas reside em Sorocaba há quatro anos. “Fazer Engenharia era um sonho, me esforcei para entrar, só não esperava esse mau início logo no primeiro dia de aula.” Ela conta que estava com uma amiga também caloura na cantina, quando foram abordadas por um grupo de veteranos. “Eles disseram: calouras, vocês têm que vir com a gente. E foram nos puxando. Eu não esperava nada demais, afinal a escola tinha colocado faixas e carro de som avisando que qualquer tipo de trote era proibido e todas as atividades eram optativas.” Segundo a jovem, os rapazes disseram que elas seriam apenas pintadas. As duas foram levadas para um bar próximo da Facens onde estavam outros veteranos e calouros. “Aí começaram os excessos. Eles nos forçavam a beber, dizendo que ou bebia ou tinha de beijar.” Foi nesse momento, segundo ela, que um quartanista, que ela conhecia de vista, tentou beijá­la à força. Depois disso, segundo ela, os excessos continuaram, até que um dos jovens despejou óleo diesel misturado com café na cabeça dela. Atordoada, a jovem apagou. “Quando acordei, eu estava recebendo atendimento. Dois estudantes que não participaram do trote me encontraram desacordada perto do portão. Não sei como me levaram para lá.” A jovem disse que não vai desistir do curso nem de levar o caso à frente. Nesta quarta, com o joelho e um pé inchados em razão de uma possível queda, e com dificuldade para andar, ela não foi à aula. Apuração e lei. A Faculdade de Engenharia de Sorocaba informou em nota que “lamenta profundamente” o trote, destacando que foi praticado fora do câmpus. “A Facens está empenhada na apuração dos fatos.” Uma lei municipal de 2013 proíbe trotes estudantis violentos em Sorocaba, fixando multa de até R$ 20 mil para o infrator. Músicos mantêm o amor ao rock-androll vivo desde a década de 1960 Mario Cerveira, o Marinho, e João Carlos Kurkjian, o Kurk, são exemplos de cenário comum nas noites paulistanas: roqueiros da 3ª idade que arrasam no palco SÃO PAULO ­ Os garotos que amavam os Beatles e os Rollings Stones, na década de 1960, são hoje respeitáveis senhores. Há quem conseguiu se tornar um profissional bem­sucedido, um chefe de família e um simpático vovô. Mas o amor à música, em especial ao rock­and­roll, não tem limites e muito menos, idade. Dois músicos ouvidos pelo Estado somam quase 140 anos e são prova de um cenário nem tão incomum na cidade: músicos que estão na chamada terceira idade, mas que quebram tudo em cima do palco. Mario Cerveira é advogado e tem 66 anos. Especialista no setor de franquias, é dono de um escritório que leva o seu sobrenome e é figura conhecida nas audiências judiciais na capital e em outras cidades do Estado. Juízes, promotores e outros advogados costumam cumprimentá­lo quando o encontram nos fóruns. Mas à noite, ele assume as baquetas da banda Watt 69 e se transforma no "Marinho". Faz isso há 50 anos. "Sou um advogado que também é músico. Infelizmente, é impossível viver de música." No Watt 69, Marinho fica à frente de praticamente tudo. É ele quem cuida dos contratos dos shows, negocia os cachês, marca os ensaios em estúdio e até providencia vagas no estacionamento para os demais integrantes da banda. O vocalista Jorge Adamo, o Bidú, que é um advogado aposentado, também ajuda na organização. "A nossa recompensa é subir no palco. O que todos os artistas dizem por aí é a pura verdade: a adrenalina é impressionante", disse Marinho. "Isso que faz com que o artista não consiga ficar longe dos shows. É um momento mágico." A banda conta com 11 integrantes, e o repertório é escolhido por todos. A prioridade são as canções dos anos 1960 e 1970 que fazem sucesso até hoje. Rolling Stones, Creedence Clearwater Revival, Roy Orbinson, entre outros, estão na lista. Aliás, a escolha das músicas é um dos segredos que mantêm a banda em atividade. "O que move a banda é o coração. Tocamos canções para agradar todo mundo, a ideia é ouvir e dançar. Mas se uma música não pega, é limada", contou Marinho. No meio do público, é comum encontrar colegas de profissão. "Já teve juiz, advogado, que tomou um susto quando me viram tocando bateria. Eles dizem: 'Mas é você mesmo?'. É muito divertido." 50 anos de rock. Na década de 1960, quando tinha 16 anos, João Carlos Kurkjian foi conquistado pela música "I wanna hold your hand", dos Beatles. O interesse pelo rock­and­roll cresceu com a idade e o motivou a montar os chamados "conjuntos musicais". O que era uma brincadeira de amigos ­ que usavam o tempo disponível para tocar covers de seus artistas favoritos, como Pink Floyd, Rolling Stones e The Who ­ se transformou em uma profissão. Na década de 1980, Kurkjian abandonou a estabilidade do emprego, era administrador de empresas, e decidiu viver exclusivamente dos seus shows, da música. No meio musical, ele á carinhosamente conhecido como João Kurk ou apenas, Kurk. Ele fundou e participou de bandas que fizeram história no cenário rock paulistano. A mais famosa foi a Rockover, na qual ficou por 15 anos. Em seguida, montou a Rock Stock. Mas quando completou 60 anos, decidiu começar tudo de novo. "Precisava de uma banda onde todos os integrantes se dedicassem 100% a ela." Surgiu então a Mr. Kurk. "O nome foi sugerido pelos demais integrantes e amigos. Depois de mais de 50 anos na estrada, pensei: por que não?" Nos shows, Kurk recebe um tipo diferente de assédio. "É tudo com muito respeito. As mulheres costumam dizer: 'Ai, que fofo, vovô". Kurk tem a receita para tanto tempo de carreira. "Encaro o palco como um lugar sagrado. Imagino como se a minha vó estivesse assistindo, por isso, não tem palavrão e nem esculhambação", afirmou. "Tem muito respeito com o público." Atualmente, ele prepara o documentário João Kurk, 50 anos de rock.