Universidade Federal Fluminense INSTITUTO DE FÍSICA Curso de Pós-Graduação em Física Noemi Raquel Checca Huaman Orientador: Prof. Dr. Yutao Xing Co-orientador: Profª. Drª. Elisa Baggio Saitovitch Niterói Agosto - 2013 II Noemi Raquel Checca Huaman INSTITUTO DE FÍSICA Universidade Federal Fluminense Estudo de sistemas de Multicamadas de ZnO/MT (MT = Fe, CoFe e NiFe) Tese apresentada ao Instituto de Física de Universidade Federal Fluminense como requisito parcial para a obtenção do título de Doutor em Física, sob orientação do professor Dr. Yutao Xing. Niterói Agosto - 2013 III C514 Checca Huaman, Noemi Raquel. Estudo de sistemas de multicamadas de ZnO/MT (MT = Fe, CoFe e NiFe)/ Noemi Raquel Checca Huaman ; orientador: Yutao Xing. –- Niterói, 2013. 171 f. : il. Tese (Doutorado) – Universidade Federal Fluminense, Instituto de Física,2013. Bibliografia: f. 164-171. 1.MAGNETISMO. 2.PARTÍCULA (FÍSICA). 3.MULTICAMADA. I.Xing, Yutao, Orientador. II.Universidade Federal Fluminense. Instituto de Física, Instituição responsável. III.Título. CDD 537 IV Dedicatória Aos meus pais, os pilares do meu lar; a minha pequena sobrinha Tiara Tais, graduada de anjo. V Agradecimentos Agradeço a meus orientadores: Professor Dr. Yutao Xing e Professora Drª. Elisa Baggio Saitovitch por terem aceito me orientar, pela paciência e ajuda recebida durante meu período de doutorado, e pela oportunidade de trabalhar nos laboratórios destes dois grandes centros de pesquisa em Física, o IF-UFF e o CBPF. Aos professores Dante Franceschini e Renato Bastos Guimarães pela ajuda recebida nos laboratórios, discussões sobre o trabalho e pela paciência. Ao professor Fernando Pelegrini e Marcos de Sousa, pela ajuda e discussões de FMR durante minha estadia em Goiânia. À professora Leila Cruz do IME pelas medidas de transmitância, e Marcos de Castro Carvalho pela paciência, ajuda e discussões sobre semicondutores. Aos professores da UFF do grupo de “Estado Sólido Experimental e Novos Materiais” pela colaboração nas discussões mediante os seminários oferecidos. A William Alayo, pela amizade e ajuda recebida no laboratório de filmes finos do CBPF. A Estéfani Marchiori Pereira, pela correção de Português da tese. A meus amigos Justiniano e Jackeline, pela companhia durante todo o tempo que passei no CBPF, com saudade das “amanhecidas e papos que levamos”. A Diego, nas boas e nas más horas sempre perto para me ajudar Aos amigos e colegas com os quais durante todo o doutorado compartilhei o laboratório, sala de estudos e lar. Obrigada por sua companhia e amizade incondicional. A meus pais, que sempre estão a meu lado, à distancia, mas perto. À Capes pelo financiamento deste programa de doutorado. A Deus, sobre todo. VI Resumo Neste trabalho estudamos o comportamento ferromagnético de uma série de multicamadas de ZnO/MT com MT = Fe, CoFe, NiFe. Este tipo de sistemas é importante por suas aplicações na spintrônica; cálculos teóricos em multicamadas de ZnO/Co fixando a espessura da camada do ZnO em 5 nm, mostram que estas estruturas podem ter até 100% de polarização de spin. As multicamadas com estrutura [ZnO(5nm)/MT(t)]x6 foram crescidas por magnetron sputtering variando a espessura do MT numa série de valores t = 0,3; 0,4; 0,6; 0,8 e 1,0 nm. A estrutura cristalográfica foi analisada com um difratômetro de raios-X (DRX), revelando um crescimento preferencial no plano (002) do ZnO e mostrando um alargamento de linha e picos satélites. A topografia foi analisada com um microscópio de força atômica (AFM), e revela uma relação entre a espessura do MT com as imperfeições da superfície. A resposta magnética estática foi analisada com um magnetômetro de amostra vibrante (VSM) obtendo curvas de magnetização em função do campo (M vs. H) e curvas de magnetização em função da temperatura (M vs. T) pelo método de medidas de zero field cooling (ZFC) e field cooling (FC). As formas das curvas de histerese revelam a mudança da serie, de um filme com interação dipolar forte a um sistema de nanopartículas não interagentes dependendo da “concentração” do MT na multicamada; as medidas de ZFC/FC confirmam que a ordem ferromagnética é favorecida quanto maior é a espessura depositada do MT. A resposta magnética dinâmica foi analisada por espectroscopia de ressonância ferromagnética (FMR), e revela o decrescimento do campo de ressonância na serie, devido á anisotropia de forma, mostrando uma mudança do eixo fácil da magnetização do plano para a perpendicular. Análise química foi feita por espectroscopia de fotoemisão de raios-X, e revela a formação de fases mistas (íons) coexistindo com o MT; e por último medidas de transmitância revelam a existência de um pico plasmon na faixa de 250 – 340 nm. Estes picos de plasmon são característicos de sistemas dielétricos com nanopartículas. O tratamento térmico de 6000C por 2 horas em vácuo da multicamada [ZnO(5nm)/Fe(t)]x6 teve a finalidade de incrementar a espessura do semicondutor magnético diluído (SMDs) na multicamada, mediante a difusão do MT na rede do ZnO; estes sistemas revelam uma mudança nas suas propriedades estruturais e magnéticas e possivelmente o aparecimento do SMDs, devido a que seu comportamento magnético não corresponde a de um filme nem a de um sistema granular. Palavras chaves: Multicamadas de ZnO/MT, SMDs e sistema de partículas, XPS, Magnetismo. VII Abtract In this work we study the ferromagnetic behavior of a series of multilayer ZnO / MT with MT = Fe, CoFe, NiFe. Such systems are important for applications in spintronics: theoretical calculations in multilayer of ZnO/Co with fixed ZnO thickness of 5 nm show that these structures can have up to 100% spin polarization. The multilayers with structure of [ZnO (5nm) / MT (t)] x6 were grown by means of magnetron sputtering varying the thickness of the MT with the values of t = 0,3; 0,4; 0,6; 0,8 and 1, 0 nm. The crystallographic structure is analyzed by X-ray diffractometer (XRD) and the results revealed a preferential growth of ZnO along (002) plane, enlargement of the width of the peaks and existence of satellite peaks. The topography is analyzed with the atomic force microscope (AFM) and it reveals a relationship between the thicknesses of the MT layers and the surface imperfections. The static magnetic response was analyzed with a vibrating sample magnetometer (VSM) and magnetization curves as a function of field (M vs. H) and as a function of temperature (M vs. T) using the zero field cooling measurements (ZFC) and field cooling (FC) were obtained. The shapes of hysteresis curves show the changes of a film with strong dipolar interactions to a system of non-interacting nanoparticles according to the "concentration" of MT in the multilayer. Measurements of ZFC / FC M-T curves confirm that the ferromagnetic order is favored in the samples with thicker deposited MT layers. The dynamic magnetic response was analyzed by ferromagnetic resonance spectroscopy (FMR) and it shows the decrease of the resonance field in the series, which is due to the shape anisotropy, showing a change of the easy axis of magnetization from in plane to the perpendicular of the plane. The chemical analysis is done by X-ray photoemission spectroscopy (XPS) and the result shows the formation of mixed phases (ions) of the MT. Transmittance measurements reveal the existence of a peak of plasmon in the range of 250 to 340 nm. These peaks of plasmon are characteristic dielectric systems with nanoparticles. Heat treatment for the sample of [ZnO (5nm) / Fe (t)] x6 has been done at 600oC for 2 hours in vacuum in order to increase the thickness of diluted magnetic semiconductor (SMDs) layers in the multilayer system due to the diffusion process of MT atoms. These systems show changes in their structural and magnetic properties, which can be due to the appearance of SMDs since the magnetic behavior does not match to a film or to a granular system. Keywords: Multilayer ZnO / MT, SMDs and particle system, XPS, Magnetism VIII Conteúdo Capítulo 1 Introdução 1.1 - Semicondutores magnéticos diluídos 1 1.2 - Multicamadas de semicondutor/ferromagnetos 5 1.3 - Sistemas granulares em matriz não magnética 6 1.4 - Objetivos do trabalho 7 1.5 - Estrutura da tese 7 Capítulo 2 Fundamentos e métodos de análises 2.1 – Energia livre e anisotropia Magnética 9 2.2 - Anisotropia de superfície 11 2.3 - Domínios magnéticos 12 2.4 – Superparamagnetismo 13 2.5 - EAM em pequenas partículas 13 2.6 – Relaxação magnética 15 2.7- Modelos fenomenológicos: M(H) 17 Capítulo 3 Técnicas experimentais, equipamentos utilizados e considerações teóricas. 3.1- Preparação das amostras 25 3.1.1 - Sputtering 26 3.1.2 - Amostras preparadas 28 3.2 - Caracterização das amostras 29 3.2.1 - Difração de raios X 29 3.2.2 - Magnetômetro de amostra vibrante (VSM) 31 3.2.3 - Ressonância ferromagnética (FMR) 33 3.2.4- Microscopia de força atômica (AFM) 39 3.2.5 - Espectroscopia de fotoelétron (XPS) 40 3.2.6 - Espectroscopia de absorção da luz visível: Transmitância 44 Capítulo 4 Resultados IX 4.1-Camada única de ZnO 48 4.1.1- Difração de raios X 49 4.1.2 - Microscopia de força atômica (AFM) 52 4.1.3-Transmitância 54 4.2- Multicamadas de ZnO/Fe 57 4.2.1- Difração de raios X 58 4.2.2- Microscopia de força atômica (AFM) 60 4.2.3 - Propriedades magnéticas 64 4.2.3.1- Propriedade magnética estática (VSM) 64 4.2.3.2- Propriedade magnética dinâmica (FMR) 73 4.2.4 - Espectroscopia de fotoelétron (XPS) 4.3 - Multicamadas de ZnO/Fe com recozimento de 600oC por 2 horas 84 89 4.3.1- Difração de raios X 89 4.3.2- Microscopia de força atômica (AFM) 92 4.3.3 - Propriedades magnéticas 94 4.3.3.1. Propriedade magnética estática (VSM) 94 4.3.3.2- Propriedade magnética dinâmica (FMR) 95 4.3.5 - Espectroscopia de fotoelétrons (XPS) 4.4-Filmes finos de ZnO/Fe com espessura total nominal de ~300nm 96 100 4.4.1- Difração de raios X 100 4.4.2-Propriedades magnéticas 102 4.4.3 - Microscopia de força atômica (AFM) 105 4.4.4 -Transmitância 107 4.5 - Multicamadas de ZnO/CoFe 109 4.5.1- Difração de raios X. 110 4.5.2- Microscopia de força atômica (AFM) 111 4.5.3 - Propriedades magnéticas 113 X 4.5.3.1 - Propriedade magnética estática (VSM) 113 4.5.3.2 - Propriedade magnética dinâmica (FMR) 118 4.5.4 - Espectroscopia de fotoelétron (XPS) 124 4.5.5 - Transmitância 126 4.6 - Multicamadas de ZnO/NiFe 128 4.6.1 - Difração de raios X 129 4.6.2 - Microscopia de força atômica (AFM) 130 4.6.3- Propriedades magnéticas 132 4.6.3.1- Propriedade magnética estática (VSM) 132 4.6.3.2 - Propriedade magnética dinâmica (FMR) 134 4.6.4 - Espectroscopia de fotoelétron (XPS) 137 4.6.5 - Transmitância 139 Capitulo 5 Conclusões 141 Referências 145 XI Lista de figuras Fig. 1.1 - Representação esquemática dos Três tipos de Semicondutores: (a) Semicondutor não magnético (b) semicondutor magnético, (c) semicondutor magnético diluído. Figura adaptada da referencia [1]. 2 Fig. 2.1 - (a) Perfil da energia de anisotropia dada pela equação (2.6) sem campo externo (b) Energia de 14 anisotropia na presença de um campo externo (H), equação (2.7). Fig. 2.2 - Curvas de magnetização em função do campo externo. Para T < TB a curva mostra uma histerese típica de um sistema bloqueado (Hc≠0, Mr ≠0). Para T > TB a curva apresenta um comportamento 17 superparamagnético (Hc= Mr= 0). Fig. 2.3 - Sistema de coordenadas utilizado no calculo da magnetização de partículas em um campo externo H e com anisotropia orientada em um ângulo θ com a direção de fácil magnetização . 22 Fig. 3.1.1 - Representação esquemática do processo do sputtering a) DC e b) RF, onde se observa como os átomos são arrancados da superfície do alvo devido a colisões com os íons incidentes para formar um filme no substrato. 26 Fig. 3.1.2 - Sistema de deposição por pulverização catódica do Laboratório de Filmes Finos do CBPf. 27 Fig. 3.2.1 - a) Representação esquemática de uma curva de ZFC/FC e b) indicamos as tres temperaturas características de uma curva de ZFC/FC. 33 Fig. 3.2.2 - a) Ilustração da precessão do vetor da magnetização em torno do campo estático (H) e do campo magnético de alta frequência e b) Esquema representando as transições de Zeeman. 35 Fig. 3.2.3 - Diagrama simplificado do arranjo experimental para as medidas de FMR [89]. 38 Fig. 3.2.4 - (a) comportamento da força de van der Waals em função da distancia e (b )ilustração da varredura de uma sonda AFM. 39 Fig. 3.2.5 - a) Ilustração do efeito fotoelétrico em termos de níveis de energias. Um fotoelétron é ejetado do átomo devido à energia fornecida pelo fotoelétron incidente. b) Diagrama do nível de energia da amostra e do analisador do XPS. 41 Fig. 3.2.6 - Representação do campo cristalino para a simetria do octaedro (Oh) e para a simetria tetragonal (D4h) para orbitais d. Onde Δ é o parâmetro de transferência de carga (eV), que fornece a diferença de energia XII N entre as configurações (centros de) 3d e 3d N-1 L. O valor efetivo de Δ (Δeff) é afetado pelo multipleto e efeitos do 43 campo do cristal em cada configuração. Fig. 4.1.1 - Difratogramas dos filmes de ZnO com espessura de 300nm crescidos a temperatura ambiente sobre substrato de vidro e a diferentes concentrações de O2, onde (a), (b) e (c) correspondem à concentração de 0%, 49 10% e 20% respectivamente. Fig. 4.1.2 - Micrografias de 5x5 μm2 das superfícies dos filmes de ZnO crescidos a diferentes concentrações de O2 na atmosfera de crescimento. Na coluna da direita é apresentada a imagem em unidades da voltagem. 53 Fig. 4.1.3 - Tendência da Rrms e do tamanho médio do grão dos filmes de ZnO de 300nm de espessura crescidos 54 a diferentes concentrações de O2. Fig. 4.1.4 - Os espectro de transmitância dos filmes de ZnO crescidas com diferentes concentrações de O2. 55 Fig.4.1.5 - (a) Grafico dehv)2versus energia do fóton para os filmes de ZnO e (b) gráfico da absorbância versus comprimento de onda. 56 Fig. 4.2.1 - Caracterização da amostra Fe3 crescida a temperatura ambiente. 58 Fig. 4.2.2 - Difratogramas dos filmes de ZnO/Fe com diferentes espessuras de Fe, a amostra ZnO-0 foi colocada 59 como referencia. Fig. 4.2.3 - a)Amplificação do pico principal dos difratogramas da Fig. 4.2.2 mostrando as diferentes fases e b) ajuste das fases mistas do Fe e do ZnO na amostra Fe3 . 60 Fig. 4.2.4 - Micrografias de 5x5 μm2 das superfícies da série dos filmes de[ZnO(5nm)/Fe(t)]x6 onde t= 0.3, 0.6 e 1nm. Na coluna esquerda apresentamos a topologia em nanômetros e na coluna direita em voltagem. 62 Fig 4.2.5 - Esquema da interface entre ZnO e Fe (a) espessura do Fe <<R; (b) espessura do Fe <R ; (c) espessura do Fe >R e (d) espessura do Fe>>R. Figura esquemática retirada da referência[108]. 63 Fig. 4.2.6 - Loop de histerese da série ZnO/Fe , com sinal do porta amostra e substrato, b) sem o sinal de porta amostra e substrato. Figura inserida: a amplificação mostra uma melhor diferença do campo coercitivo e a magnetização de reminiscência da série. 65 Fig. 4.2.7 - Comparação das curvas M(H) medidas a 300K e 50K da multicamada com t=1nm. Figura inserida se observa o incremento do Hc medido a 50K. 67 XIII Fig. 4.2.8 - Magnetização em função do campo medidas a RT, com campo magnético externo perpendicular. 67 Fig. 4.2.9 - M(T) de ZFC/FC da serie [ZnO(5nm)/Fe(t)] com um campo aplicado de 50 Oe. 68 Fig. 4.2.10 - M(T) de ZFC/FC da amostra Fe10 com diferentes campos aplicados. 70 Fig. 4.2.11 - a) Magnetização (ZFC) dependente da temperatura para o filme e b) Dependência do campo em função da Tirr para a obtenção Tirr (H=0). 71 Fig.4.2.12 - a) Linha de Almeida Thouless (AT), para determinar o Hc (campo que divide a fase paramagnética com a fase de vidro de spin) e b) Dependência da temperatura de bloqueio em função do campo externo aplicado. 72 Fig. 4.2.13 - As figuras representa a derivada d(MZFC-MFC)/dT dos dados experimentais da amostra Fe10 e Fe8 respectivamente, o ajuste representa uma gaussiana. 73 Fig. 4.2.14 - Espectros de FMR medidos a temperatura ambiente da multicamada [ZnO(5nm)/Fe(1 nm)]x6 para diferentes ângulos entre o campo aplicado e a normal ao plano do filme. 74 Fig. 4.2.15 - Espectros de FMR da amostra [ZnO(5nm)/Fe(1nm)]6 para algumas orientações do campo magnético entre o plano e a perpendicular do filme. Onde o modo principal é representado por ⇓ e o modo secundário por ⇑. 75 Fig. 4.2.16 - Comportamento do campo de ressonância em função do ângulo entre a normal ao plano e o campo aplicado da amostra Fe10 para os dois modos, os pontos são extraídos dos espectros de FMR. 76 Fig. 4.2.17 - Comportamento da largura de linha em função do ângulo entre a normal ao plano e o campo aplicado para os dois modos da amostra Fe10. O gráfico inserido é o comportamento linear da largura de linha em função do ângulo planar. 78 Fig.4.2.18 - Comportamento do campo de ressonância em função do ângulo com o campo aplicado no plano na amostra Fe10 para os dois modos, os pontos são extraídos dos espectros de FMR. 80 Fig. 4.2.19 - Espectros das amostras Fe8 e Fe6 para diferentes ângulos entre o campo aplicado e a normal ao plano dos filmes, observa-se uma diminuição marcante das intensidades dos espectros. 80 Fig. 4.2.20 - Espectros de FMR da amostra Fe8 para algumas orientações do campo magnético entre o plano e a perpendicular do filme. O espectro com θ= 0o apresenta um sinal assimétrico. 82 Fig. 4.2.21 - Espectros assimétricos de FMR da amostra Fe6 para algumas orientações do campo magnético entre o plano e a perpendicular do filme. 82 XIV Fig. 4.2.22 - Comportamento do campo de ressonância em função do ângulo entre a normal ao plano e o campo aplicado da amostra Fe8 e Fe6, os pontos são extraídos dos espectros de FMR. 83 Fig. 4.2.23 - Comportamento da largura de linha em função do ângulo entre a normal ao plano e o campo aplicado para a amostra Fe8. 84 Fig. 4.2.24 - Espectros de XPS do Zn 2P da amostra Fe10, cada espectro corresponde a diferentes profundidades da amostra. 85 Fig. 4.2.25 - Espectro de XPS do Fe 2P3/2 e 2P1/2 referente à posição mais profunda analisada. 86 Fig. 4.2.26 - a) Espectro de XPS do O 1s referente às diferentes posições e b) ajuste gaussiano do espectro de O. 86 Fig. 4.2.27 - Espectros de XPS de: a)do Zn 2P3/2 e 2P1/2, b) do Fe 2P3/2 e 2P1/2 e c) O 1S correspondentes à amostra Fe6. 87 Fig. 4.2.28 - a) Espectro de XPS do Fe 2P3/2 e 2P1/2 e b) ajuste gaussiana do pico 2P3/2 mostrando a contribuição das duas fases do Fe. 88 Fig.4.3.1 - Difratogramas dos filmes de [ZnO(50nm)/Fe(tnm)]x6 onde t=0,3; 0,4; 0,6; 0,8 e 1 nm, recozidos em alto vácuo a 600 oC por 2 horas, mostram claramente o pico correspondente a reflexão (002) do ZnO. 89 Fig. 4.3.2 - Amplificação do pico principal dos difratogramas da serie sem recozer (ezquerdo) e recozido (direito). 90 Fig. 4.3.3 - Tendência das grandezas físicas obtidas dos difratogramas, podendo-se observar que acontece uma transição para a espessura de Fe indicada pela seta. 91 Fig. 4.3.4 - Imagem da micrografia de 5x5 μm2 da superfície da série dos filmes de [ZnO(5nm)/Fe(t)]x6 onde t= 0.3, 0.6 e 1nm recozidas em alto vácuo a 600oC por 2 horas. Na coluna à esquerda apresentamos a topologia da superfície em nanômetros e na coluna à direita a imagem varrida em voltagem. 93 Fig. 4.3.5 - Loops de histerese da série ZnO/Fe submetidos a um recozimento de 600oC por 2 horas sem contribuição diamagnética. A figura inserida exibe em detalhe a diferença do H c e Mr da série. 94 Fig. 4.3.6 - M(T) de ZFC/FC da serie recozida [ZnO(5nm)/Fe(t)] com um campo aplicado de 50 Oe. 95 Fig. 4.3.7 - Espectros de FMR medidos a temperatura ambiente da amostra a-Fe10, para diferentes ângulos entre o campo aplicado e a normal ao plano do filme. 96 Fig. 4.3.8 - Espectro de XPS do Zn 2P da amostra a-Fe10. Cada espectro corresponde às diferentes posições. 97 XV Fig. 4.3.9 - Espectro de XPS de: a) Fe 2P3/2 e 2P1/2 a diferentes profundidades. b) Ajuste gaussiano do pico Fe 2P3/2 e c) espectro medido com a maior profundidade mostrando os picos das fases do Fe. 98 Fig. 4.3.10 - Espectro de XPS do O 1s referente às diferentes posições. 99 Fig. 4.4.1 - a)-b) e c) Difratogramasdo filmes ZnO-0, Fe50/1 e Fe50/5 respectivamente e d) ajuste dos picos das reflexões (002) e (101)usando a Equação Pseudovoigt 1 para a amostra Fe50/5 e d) ajuste do pico do Fe no 101 plano(101) para a amostra Fe50/5. Fig. 4.4.2 - Gráfico da M(H) das amostras Fe50/5 e Fe50/1 tomadas a temperatura ambiente e com campo no 103 plano. Figura inserida: melhor observação do campo coercitivo e da magnetização de reminiscência. Fig. 4.4.3 - Gráfico da M (H) da amostra Fe50/5 tomadas 50K e 300K com campo no plano. Figura inserida: 103 Destaque do campo coercitivo e da magnetização de reminiscência. Fig. 4.4.4 - Curvas de magnetização em função da temperatura M(T) da amostra Fe50/5 variando o campo externo aplicado onde a temperatura de irreversibilidade muda dependendo do campo. 104 Fig. 4.4.5 - M(T) de ZFC e FC da amostra Fe50/1 variando o campo externo aplicado. 105 Fig. 4.4.6 - Micrografias de 5x5 μm2 das superfícies das multicamadas de ZnO/Fe . Na coluna a direita é apresentada a imagem varrida em voltagem. 106 Fig. 4.4.7 - a) Espectro de transmitância das multicamadas Fe50/5 e Fe50/1 além da ZnO-0 e b)Figura inserida:da amostra Fe50/5, observando-se um fraco pico de ressonância de plasmon a 513 nm. 107 Fig. 4.4.8 - Espectro da UV no visível dos filmes de ZnO crescidas com diferentes concentrações de O 2. Podemos observar que a transmitância media é ligeiramente maior na amostra crescida com 10% de O 2. 108 Fig. 4.5.1 - Difratogramas dos filmes de ZnO/CoFe com a espessura de CoFe diferentes. 110 Fig. 4.5.2 - a) Amplificação do pico principal do difratograma dos filmes crescidos sobre o substrato de Si/SiO 2 e b) Pico principal dos mesmos filmes, porém crescidos sobre substrato de vidro. Fig. 4.5.3 - Micrografias de 5 x 5 μm2 da superfície da série dos filmes de [ZnO(5nm)/CoFe(t)] x6 onde 111 t= 0,3 ; 0,6 e 1,0 nm. Na coluna à esquerda apresentamos a topologia em nanômetros e na coluna à direita em voltagem. 112 Fig. 4.5.4 - Loop de histerese da série ZnO/Fe, com sinal do porta amostra e substrato b) sem o sinal do porta amostra e substrato. Figura inserida: Ampliação para observação do H c e da Mr da série. 114 Fig. 4.5.5 - Comparação das curvas M(H) medidas a 300 K e 50 K da multicamada com t = 1 nm. Na figura inserida se observa o incremento do Hc medido a 50 K. 114 XVI Fig. 4.5.6 - Curvas de M(H) no plano e perpendicular para as amostra CoFe10 e CoFe8 respectivamente. 115 Fig. 4.5.7 - M(T) de ZFC/FC da série [ZnO(5nm)/CoFe(t)] com um campo aplicado de 50 Oe. 116 Fig. 4.5.8 - M(T) de ZFC/FC da amostra CoFe10 com diferentes campos aplicados. 117 Fig. 4.5.9 - a) Magnetização ZFC dependente da temperatura para o filme e b) Dependência do campo em função da Tirr para a obtenção Tirr (H=0). 117 Fig. 4.5.10 - Derivada d(MZFC-MFC)/dT dos dados experimentais da amostra CoFe10 e CoFe8 respectivamente, o ajuste representa uma gaussiana. 118 Fig. 4.5.11 – a)-c)Curvas de ZFC/FC da amostra CoFe4 com diferentes campos aplicados e d) inversa da suscetibilidade em função da temperatura para determinar a temperatura de Curie. 118 Fig. 4.5.12 - Espectros de FMR medidos a temperatura ambiente da multicamada [ZnO(5nm)/CoFe(0.8 nm)]x6 para diferentes ângulos entre o campo aplicado e a normal ao plano dos filmes. 119 Fig. 4.5.13 - Espectros de FMR medidos a temperatura ambiente da multicamada [ZnO(5nm)/CoFe(0.8 nm)]x6 para diferentes ângulos entre o campo aplicado e a normal ao plano dos filmes. 119 Fig. 4.5.14 - Espectros das amostras CoFe6 e CoFe4 para diferentes ângulos entre o campo aplicado e a normal ao plano dos filmes, não se observa diminuição das intensidades destas duas séries. 120 Fig. 4.5.15 - Espectros de FMR da amostra CoFe6 para algumas orientações do campo magnético entre o plano e a perpendicular do filme. São observados claramente os três modos. A linha continua é o ajuste da derivada da Loretziana. 121 Fig. 4.5.16 - Espectros de FMR da amostra CoFe4 para algumas orientações do campo magnético entre o plano e a perpendicular do filme. São observados claramente os três modos. A linha contínua é o ajuste da derivada da Loretziana. 121 Fig. 4.5.17 - Espectros de FMR da amostra CoFe3 para algumas orientações do campo magnético entre o plano e a perpendicular do filme. A linha continua é o ajuste da derivada da Loretziana. 122 Fig. 4.5.18 - Comportamento do campo de ressonância e largura de linha em função do ângulo entre a normal ao plano e o campo aplicado da amostra CoFe8. 123 Fig. 4.5.19 - Espectro de XPS do Zn 2P da amostra CoFe10, cada espectro corresponde a diferentes profundidades da amostra. 124 Fig. 4.5.20- a) Espectro de XPS do Fe 2P3/2 e 2P1/2 da amostra CoFe10 e b) ajuste gaussiana do pico P 3/2 mostrando a contribuição das fases do Fe. 125 XVII Fig. 4.5.21 - a) Espectro de XPS do Co 2P da amostra 2653 e b) ajuste da gaussiana do único pico. 125 Fig. 4.5.22 - a) Espectro de XPS do O 1s referente às diferentes posições e b) ajuste gausseano do espectro de O. 126 Fig. 4.5.23 - a) Espectro de transmitância das multicamadas da série ZnO. Figura inserida mostra uma ampliação das curvas. b) Ampliação do pico de plasmon com ressonância na pocição de 310 nm. 127 Fig. 4.5.24 - a) Derivada da transmitância em função do comprimento de onda para determinar o band gap e b) tendência do band gap da série de multicamada e transmitância do pico do plasmon em função da espessura do CoFe. 128 Fig. 4.6.1 - Difratogramas dos filmes de ZnO/NiFe crescidos a RT e sobre substrato de vidro. 129 Fig. 4.6.2 - Micrografias de 5x5 μm2 da superfície da série dos filmes de [ZnO(5nm)/NiFe(t)] x6 onde t= 0,3; 0.6 e 1nm. Na coluna à esquerda apresentamos a topologia em nm e na coluna à direita em voltagem. 131 Fig. 4.6.3 - Loop de histerese da série ZnO/NiFe, com sinal do porta amostra e substrato b) sem o sinal de porta amostra e substrato e c) ampliação das curvas de histerese para melhor visualização do comportamento do H c 132 e da Mr da série. Fig. 4.6.4 - Loops de histerese medidos a diferentes temperaturas da amostra a) amostra NiFe10 e b) amostra NiFe8. As figuras inseridas indicam o comportamento do campo coercitivo. 133 Fig 4.6.5 - a-c) Curvas de ZFC/FC da série [ZnO(5 nm)/NiFe(t)] com um campo aplicado de 50 Oe, d) gráfico do inverso da susceptibilidade em função da temperatura da amostra NiFe10 e) curvas de ZFC da amostra NiFe10 com diferentes campos aplicados. 133 Fig. 4.6.6 - Espectros de FMR medidos a temperatura ambiente da amostra NiFe10 para diferentes ângulos entre o campo aplicado e a normal ao plano dos filmes. 135 Fig. 4.6.7 - Espectros de FMR medidos a temperatura ambiente da multicamada NiFe10 para os espectros nos o o ângulos 90 e 0 , a linha contínua é o ajuste da curva da Loretziana. 135 Fig. 4.6.8 - Espectros das amostras NiFe8 e NiFe6 medidas a temperatura ambiente, mostrando os espectros o o dos ângulos de 90 e 0 , a linha contínua é o ajuste da Loretziana. 136 Fig. 4.6.9 - a) Comportamento do campo de ressonância em função do ângulo e b) Comportamento da largura de linha em função do ângulo entre a normal ao plano e o campo aplicado para a amostra NiFe10. 136 Fig. 4.6.10 - Espectro de XPS do Zn 2P da amostra NiFe10, cada espectro corresponde a diferentes profundidades da amostra. 137 XVIII Fig. 4.6.11 - a) Espectro de XPS do Ni 2P e b) Espectro do Fe 2P para a amostra NiFe10. 138 Fig. 4.6.12 - a) Espectro de XPS do O 1s referente às diferentes profundidades e b) ajuste gaussiano do espectro de O. 139 Fig. 4.6.13 - a) Espectro de transmitância das multicamadas da série ZnO/NiFe e b) ampliação do pico de plasmon com ressonância na posição de 300 nm. 139 Fig. 4.6.14 - a) Derivada da transmitância em função do comprimento de onda e b) tendência do band gap e transmitância do pico do plasmon em função da espessura de Fe. 140 Fig. 5.1 - Comportamento do campo de ressonância em função do ângulo entre a normal ao plano e o campo aplicado da serie ZnO/Fe. 142 Fig. 5.2 - Comportamento do campo de ressonância em função do ângulo entre a normal ao plano e o campo aplicado da serie ZnO/CoFe. 143 XIX Lista de tabelas Tabela 3.1.1 - Parâmetros experimentais utilizados no crescimento das multicamadas pela técnica de magnetron sputtering DC e RF. 27 Tabela 3.1.2 - Taxas de deposição e alvos usados na preparação das amostras. Os valores de corrente e potencia correspondem às fontes de ignição. 28 Tabela 3.1.3 - Relação de amostras preparadas medidas e analisadas nesta tese. 28 Tabela 4.1.1 - Relação de amostras preparadas de ZnO com espessura nominal de 300 nm. 49 Tabela 4.1.2 - Tamanho médio dos grãos cristalinos de ZnO na direção fora do plano obtido por DRX. 51 Tabela 4.1.3 - Dados obtidos das micrografias de 5 x 5μm2 das amostras de ZnO com espessuras de 300 nm. 54 Tabela 4.1.4 - Dados obtidos dos espectros de transmitância dos filmes de ZnO. 57 Tabela 4.2.1 - Relação de amostras preparadas de ZnO/Fe com espessura nominal de ZnO fixo de 5 nm e variando a espessura do Fe (t=0,3; 0,4; 0,6; 0,8 e 1,0 nm). 57 Tabela 4.2.2 - Dados obtidos com as análises da morfologia dos filmes da série [ZnO(5nm)/Fe(t)]. 61 Tabela 4.2.3 - Dados obtidos com as análises das curvas de ZFC/FC da amostra Fe10 com diferentes campos aplicados. 70 Tabela 4.2.4 - Dadas obtidas das medidas dos espectros de FMR para os dois modos da amostra Fe10. 79 Tabela 4.2.5 - Dados obtidos das medidas dos espectros de FMR para as amostra Fe8 e Fe6. 83 Tabela 4.3.1 - Relação de amostras submetidas a recozimento de 600oC por 2 horas. 89 Tabela 4.3.2 - Dados sobre as amostras recozidas obtidos dos difratogramas de DRX. 91 Tabela 4.3.3 - Dados obtidos com as análises da morfologia dos filmes da série [ZnO(5nm)/Fe(t)]. 92 Tabela 4.4.1 - Relação de amostras preparadas de ZnO/Fe com espessura nominal de ZnO fixo de 50 nm e variando a espessura do Fe (t= 1,0 e 5,0 nm). 100 Tabela 4.4.2 - Dados obtidos do difratograma de DRX. 102 Tabela 4.4.3 - Dados obtidos das curvas de ZFC e FC da amostra Fe50/5 aplicando campos externos de 30, 50 e 100 Oe. 104 XX Tabela 4.4.4 - Dados obtidos das micrografias de 5x5 μm2 das multicamadas de ZnO/Fe. 107 Tabela 4.5.1 - Amostras de ZnO/CoFe com espessura nominal de ZnO fixo de 5 nm e espessura do Fe (t = 0,3; 0,4; 0,6; 0,8 e 1,0 nm). 109 Tabela 4.5.2 - Dados obtidos com as análises da morfologia dos filmes da série [ZnO(5nm)/CoFe(t)]. 113 Tabela 4.5.3 - Dados obtidos das medidas dos espectros de FMR para as amostra CoFe8, CoFe6, CoFe4 e CoFe3. 123 Tabela 4.5.4 - Dados obtidos das medidas dos espectros de transmitância. 128 Tabela 4.6.1 - Amostras preparadas de ZnO/NiFe com espessura nominal de ZnO fixo de 5 nm e variando a espessura do Fe (t=0,3; 0,4; 0,6; 0,8 e 1,0 nm). 129 Tabela 4.6.2- A rugosidade média e diâmetro de grão obtidos com as análises da morfologia dos filmes da série [ZnO(5nm)/NiFe(t)]. 130 Tabela 4.6.3 - Dados obtidos das medidas dos espectros de FMR para as amostra com espessuras de 0,6; 0,8 e 1,0 nm de NiFe. 137 Tabela 4.6.4 - Dados obtidos das medidas dos espectros de transmitância. 140 1 Capítulo 1 Introdução Os semicondutores dopados com átomos de metais de transição podem dar origem a materiais conhecidos como semicondutores magnéticos diluídos (SMDs) e apresentar propriedades estruturais e magnéticas que são de grande interesse para aplicações em spintrônica. Em particular, os óxidos magnéticos diluidos, baseados em ZnO vem sendo intensamente estudados teórica e experimentalmente. Estudos teóricos mostraram propriedades ferromagnéticas à temperatura ambiente para o ZnO dopado com metais de transição 3d. Existe ainda controvérsia para a explicação destes resultados, uma vez que o ferromagnetismo observado pode ser de natureza intrínseca do oxido magnético diluído ou devido aos clusters ou aglomerados magnéticos formados dentro da matriz de ZnO. A seguir descreveremos brevemente os semicondutores magnéticos diluídos (SMDs) e sistemas granulares magnéticos. 1.1 - Semicondutores magnéticos diluídos Os semicondutores magnéticos diluídos (DMSs) são materiais obtidos por dopagem de um semicondutor não-magnético pertencentes aos grupos III-V (GaAs , InAs), II-VI (CdTe) ou ao grupo IV tipos (Ge e Si) com uma pequena porcentagem atômica de metais de transição (MT). Dependendo de suas propriedades magnéticas, estes semicondutores podem ser classificados como: semicondutores magnéticos, semicondutores magnéticos diluídos (SMDs) e semicondutores não magnéticos, em função da quantidade e distribuição de contaminantes magnéticos, como são mostrado na figura 1.1[1]. 2 Fig. 1.1 - Representação esquemática dos Três tipos de Semicondutores: (a) Semicondutor não magnético (b) semicondutor magnético, (c) semicondutor magnético diluído. Figura adaptada da referencia [1]. Em sistemas reais de SMDs, os cátions do MT são distribuídos aleatoriamente dentro da matriz semicondutora, substituindo uma fração dos cátions da matriz. Nestes materiais, a presença dos íons magnéticos 3d influencia o comportamento dos elétrons livres através da interação de troca sp-d entre os momentos magnéticos localizados e os spins dos portadores itinerantes, que são introduzidos, pelo dopante magnético[2,3,4]. As interações magnéticas entre os spins isolados em tais sistemas são medidas pelos portadores livres, que podem ser controlados por meio de parâmetros externos. Um dos exemplos tecnologicamente mais importantes é o controle do ferromagnetísmo com campo elétrico, no qual a propriedade magnética é alterada de forma reversível mediante a aplicação de um campo elétrico[5]. A eletrônica convencional tem se desenvolvido com a exploração das propriedades eletrônicas dos portadores de carga em materiais semicondutores, como pode ser visto nos dispositivos semicondutores eletrônicos e optoeletrônicos. Por exemplo, vários tipos de chips de memória, processadores de informação, e os dispositivos emissores de luz utilizam as propriedades da carga como veículos de controle. No entanto, o elétron tem outro grau de liberdade que pode ser utilizado, isto é, o spin, que é um momento angular intrínseco do elétron. Ele é representado pelo número quântico do spin, que pode assumir os valores de 1/2 (spin-up) e -1/2 (spin-down), com respeito a um campo magnético de referência. A spintrônica ou eletrônica do spin refere-se a uma área de pesquisa emergente que se baseia na possibilidade da utilização deste grau de liberdade para controlar as propriedades de transporte nestes sistemas[6, 7]. Nos SMDs, o ferromagnetismo é mediado por portadores, que por sua vez, pode ser controlados por dopagem, luz e campo elétrico. Portanto semicondutores magnéticos diluídos são candidatos ideais para aplicações na spintrônica[8]. A aplicação destes materiais é promissora devido ao uso do grau de liberdade do spin do elétron além da sua carga. Isso pode permitir a integração de armazenamento de dados magnético processados em um único dispositivo chamado de "dispositivo de spintrônica". Esta nova classe de 3 aparelhos inclui válvulas de spin, transistores, diodos emissores de luz de spin, memórias nãovoláteis, sensores magnéticos, etc.[1]. O spin eletrônico é um grau de liberdade da mecânica quântica; a exploração de efeitos de interferência quântica nestes dispositivos poderia eventualmente levar à concepção de computadores quânticos. Contudo, a maioria dos SMDs conhecidos na literatura tem uma baixa temperatura de Curie (TC), que limita totalmente a sua utilização em aplicações práticas. No ano 2000, Dietl e colaboradores sugeriram vários possíveis candidatos para sistemas SMDs com temperaturas de Curie relativamente altas, tais como óxidos de zinco e nitreto de gálio, com base no modelo de Zener [9]. Além disso, usando cálculos de primeiro princípios, Sato et al. [10], mostraram que a matriz de ZnO dopada com átomos de TM: como V, Cr, Fe, Co e Ni apresentaram ferromagnetismo em temperatura ambiente, mas dopando com Ti e Cu resultou em um estado paramagnético. Isto motivo esforços experimentais envolvendo nitretos e óxidos com MT, a fim de encontrar um SMDs que apresentassem temperaturas criticas (Tc) mais elevadas, acima da temperatura ambiente. Vários óxidos e nitretos dopados com MT com alta temperatura Curie foram produzidos, mas ainda há forte controvérsia sobre a origem do ferromagnetismo nestes materiais. O comportamento intrínseco do ferromagnetismo nestes materiais significa que o spin localizado do material ferromagnético é mediado pela interação com os portadores deslocalizados de longo alcance, satisfazendo o termo "diluído" em SMDs, enquanto que o comportamento extrínseco do ferromagnetismo é originado por aglomerados magnéticos (cluster). Teoricamente foi previsto que nos materiais tipo-p existe uma interação de troca sp-d sendo este o ingrediente-chave para o magnetismo mediado por portadores de carga móveis. No entanto, os óxidos dopados exibem ferromagnetismo quando contem vacâncias de oxigênio e são semicondutores tipo n. Parece improvável que a teoria originalmente proposta seja aplicável a tais sistemas. Os semicondutores ferromagnéticos com anion de O2- tal como os ZnO, TiO2 ou SnO2 dopados com MT, são também denominados óxidos magnéticos diluídos (OMDs). Os óxidos semicondutores têm muitas vantagens em comparação com os não óxidos como: i) Amplio banda larga adequada para aplicações de luz de comprimento de onda curto, ii) transparência e coloração simples com pigmentos, iii) Concentrações elevadas de transporte tipo-n, iv) capacidade de ser produzido mesmo em temperaturas baixas em substratos plásticos, v) segurança ecológica e durabilidade e vi) baixo custo. Além disso, a forte eletronegatividade do 4 oxigênio produz um forte acoplamento de troca p→d entre portadores da banda e spins localizados, apontado como uma característica importante do SMD[11]. Existem dois principais critérios para a seleção dos materiais mais promissores para a spintrônica a base de semicondutores. Primeiro como já foi mencionado, o ferromagnetismo deve ser mantido a temperaturas acima dos 300 K, e, segundo, que é uma grande vantagem, que exista uma tecnologia existente para o material em outras aplicações. Afortunadamente o ZnO dopado com MT satisfaz os dois critérios. O ZnO dopado com MT tem sido intensamente investigado nos últimos anos por apresentar ferromagnetismo a temperatura ambiente (FMRT) e por suas promissoras propriedades de magneto transporte[12]. Como o ZnO apresenta uma banda larga de 3,37 eV e baixo custo, foi foco de aplicações como emissores de luz UV, produtos eletrônicos transparentes de alta potência, dispositivos de onda acústica de superfície, transdutores piezoelétricos e células solares[13]. O rápido aumento de trabalhos em todo o mundo sobre os SMDs e o progresso do uso destes materiais multi-funcionais é um tema muito difícil de resumir. Até o momento, não há nenhuma explicação teórica firme de como e por que o magnetismo em materiais SMD funciona e existem controvérsias sobre as condições necessárias para alcançar a ordem magnética de longo alcance nestes materiais. Os mecanismos mais populares sugeridos para o ordenamento magnético do ZnO dopado com MT são: troca mediada pelo portador[14] e polarons magnéticos ligados (BMP)[15]. Os mecanismos de troca mediada pelo portador podem ser divididos em: interação Rudermann-Kittel-Kasuya-Yosida (RKKY), interação de troca e dupla troca. A Interação RKKY formalmente descreve a interação de troca entre momentos magnéticos localizados mediada por elétrons livres[16]. A interação de troca mediada por portadores propõe que o ordenamento ferromagnético é acionado por uma diminuição da energia dos portadores, devido à redistribuição do spin entre as sub-bandas desdobradas pela interação de troca[17]. Finalmente, o modelo de dupla troca refere-se ao acoplamento indireto mediado por átomos de oxigênio entre íons vizinhos ferromagnéticos em diferentes estados[18]. Um elétron associado a um defeito em particular será confinado em um orbital hidrogeniônico de raio RH. Como a concentração do doador decresce os orbitais 1s se sobrepõem para formar uma banda de impureza. O modelo é baseado na interação dos cátions magnéticos com os elétrons hidrogeniônicos na banda de impureza. O acoplamento dos momentos dos cátions 3d localizados dentro dos orbitais dos doadores tende a formar polarons magnéticos acoplados. A BMP 5 é, portanto, uma quase partícula composta de portadores localizados com os cátions magnéticos englobados dentro do seu raio, em que a interação de troca tende a alinhar os momentos paralelos um ao outro no interior da BMP. Os cátions apresentam um potencial aleatório extra que se prolonga nas regiões localizadas à medida que a sua concentração aumenta. Quando o raio do BMP é suficientemente grande; é possível correlacioná-lo com o alinhamento de seus spins, produzindo interações ferromagnéticas de longo alcance. Muitos pontos e mecanismos foram propostos para explicar o ordenamento ferromagnético nestes sistemas. Por exemplo, foi proposto que o ferromagnetismo é originado na interface ZnO/MnO2 por difusão do Zn para os grãos de óxido de manganês, que funciona como um retardador da MnO2 → Mn2O3. Neste caso, está relacionado com o ferromagnetismo de dupla troca entre Mn, Mn3+ e Mn4+, em que é necessário não apenas a coexistência de ambos os cátions, mas também a presença de cátions do Zn[19]. É evidente que a estrutura local e o comportamento magnético de ZnO dopado com TM são fortemente sensíveis a parâmetros de preparação. O procedimento de preparação da amostra, defeitos estruturais, o efeito do substrato, propriedades de transporte, e de outras variáveis importantes devem ser tidos em conta para clarificar a variedade dos resultados contraditórios relatados para estes materiais. A maioria dos resultados relatados sobre os óxidos semicondutores magnéticos (OSM) são em forma de filmes finos dopados com MT, comumente depositados por deposição a laser pulsado (PLD), pulverização catódica [incluindo corrente contínua (DC), reativa e de rádio-frequência (RF)], epitaxia de feixe molecular (MBE), deposição química a vapor (CVD), implantação de feixe de íons, métodos de sol-gel, etc. Apesar de se saber que o comportamento magnético de ZnO dopados com MT em filmes é insensível as condições de deposição, não há conclusão, sobre qual é o melhor método de deposição dos filmes com ferromagnetismo a temperatura ambiente. Por essa razão, a técnica magnetron sputtering é cada vez mais popular para preparar estes filmes de ZnO dopados com MT devido ao seu baixo custo e alta eficiência, fácil controle e sua produção de filmes uniformes[20]. 1.2 - Multicamadas de semicondutor/ferromagnetos Para a aplicação na spintrônica, é necessária uma alta polarização de spin no material. Por exemplo, uma alta polarização dos spins dará uma forte magnetorresistência gigante, alta magnetorresistência de tunelamento e efeito de spin torque, etc. Neste caso, a alta polarização do 6 spin é sempre uma meta dos pesquisadores e a busca de novos materiais torna-se essencial e fundamental para pesquisa e aplicações práticas. Foram realizados cálculos teóricos em multicamadas de ZnO/Co por I. S. P. Marin e colaboradores[21] mostrando que estas estruturas podem ter até 100% de polarização de spin, mas ainda não há evidências experimentais. Neste contexto, o interesse especial no estudo deste sistema reside no fato de que a preparação das multicamadas de ZnO/MT nos permitem estudar a interface ZnO-MT e seu papel no ferromagnetismo do sistema Zn-O-MT . As propriedades de interface foram reivindicadas como sendo de grande importância para as propriedades magnéticas desse sistema[22,23]. Por outro lado, a preparação das estruturas de multicamadas foi relatada para outros materiais à base de ZnO: como filmes finos de ZnO / Co por pulverização catódica[24] e sputtering assistida por de ion-beam[25] e filmes finos de ZnO/CoFe preparados por íon - beam sputtering[26], nos quais foi observado o comportamento ferromagnético a temperatura ambiente. No entanto, tem-se ainda pouca informação relatada sobre multicamadas crescidas por sputtering de ZnO / Fe, ZnO/CoFe e ZnO/NiFe descrito neste trabalho. Os sistemas estudados foram produzidos tendo como base principal o papel causado pela desordem devido a os diferentes parâmetros de rede dos MT sobre ZnO. 1.3 - Sistemas granulares em matriz não magnética Sabemos que um sistema magnético granular é constituído por pequenas partículas que estão imersas numa matriz não magnética, devido a sua complexidade inerente da origem a existência variada de tamanhos e formas com eixos de anisotropia variados e orientados aleatoriamente, que dependem também do tipo de matriz utilizada (isolante ou condutora alem de cristalina ou amorfa, podendo ainda conter mais de uma fase do material) e da quantidade do material magnético. Estes sistemas apresentam diferentes tipos de interações magnéticas. Devido à complexidade destes sistemas, sua magnetização pode ser calculada analiticamente em dois casos limites: quando a temperatura é Zero (modelo de Stoner-Wohlfarth)[27] ou quando a temperatura é alta (modelo de Langevin)[28]. Embora o modelo de Langevin tenha sucesso para temperaturas acima da temperatura de bloqueio média (TB), os resultados podem ser enganosos, fornecendo parâmetros estruturais muito diferentes dos reais. Este sistema é de grande interesse do ponto de vista cientifico e tecnológico desde a descoberta do fenômeno do magneto resistência gigante (GMR)[29]. Recentemente outros sistemas nanoscópicos têm apresentado interessantes características de magneto transporte, como a 7 magneto resistência túnel[30] e o efeito Hall gigante (GHE)[31]. apresentam também uma grande variedade de Estes sistemas nanoscópicos outras propriedades, como o superparamagnetismo[32], cinética de nucleação e crescimento de grãos[33] e comportamento do tipo vidro de spin[34]. 1.4 - Objetivos do trabalho Neste trabalho propomos estudar as propriedades magnéticas de multicamadas ZnO/MT, (MT = Fe, NiFe e CoFe) devido a sua grande potencia de aplicações. Alem disso, estudar o surgimento das nanopartículas/cluster nestes sistemas, com espessura nominal de algumas amostras de MT esta abaixo do valor mínimo de um filme contínuo. Neste contexto, é necessário também estudar a matriz do ZnO, devido a sua importância na formação das nanopartículas do MT, devido a que o ZnO possui superfícies polares, onde uma das extremidades do plano basal polar termina com sítios parcialmente positivos da rede de Zn e a outra extremidade termina em sítios da rede parcialmente negativos de oxigênio, então a estrutura de ZnO pode ser descrita como uma série de planos tetraédricos constituídos por empilhamentos alternados do Zn+2 e O2- o que resulta em um momento de dipolo normal e polarização espontânea ao longo do eixo c. Alem disso, o ZnO é atomicamente estável e não apresenta reconstrução na sua superfície. Portanto, a superfície polar do ZnO pode ser a causa do impedimento da formação de um filme continuo, forçando a aparição de clusters, podendo assim se comportar como um sistema granular de partículas ou clusters ferromagnéticos sobre uma matriz não magnética; este comportamento ferromagnético granular é anulado quando se tem muito pouco material ferromagnético devido a criação de fases secundarias relatadas amplamente em sistemas magnéticos diluídos. Os sistemas trabalhados nesta tese são as multicamadas de: ZnO/Fe, ZnO/ FeNi e ZnO/CoFe. 1.5 - Estrutura da tese No capítulo 1 é dada uma breve introdução desta tese, mostrando o estado da arte na área de semicondutores magnéticos diluídos e os principais objetivos deste trabalho. No capítulo 2 são apresentados alguns fundamentos físicos de sistemas magnéticos em geral enfocados particularmente ao estudo das nanopartículas magnéticas; estes fundamentos são 8 utilizados para analisar e interpretar os resultados experimentais obtidos para os diferentes sistemas estudados. No capítulo 3 são descritos brevemente as técnicas utilizadas para a caracterização dos sistemas preparados, com seus fundamentos físicos e detalhes do equipamento utilizado. No capítulo 4 são apresentados os resultados estruturais, morfológicos, magnéticos, químicos e ópticos dos sistemas preparados nesta tese. Os resultados experimentais são divididos em subseções com sistemas diferentes. Neste contexto são 6 os sistemas apresentados neste capitulo. No capítulo 5 são apresentadas as conclusões finais deste trabalho, e as perspectivas futuras para estudos destes sistemas. 9 Capítulo 2 Fundamentos e métodos de análises Neste trabalho estudaram-se principalmente as propriedades magnéticas geradas devido à interface entre um material semicondutor e um metal de transição, utilizando se para este fim análises estruturais, químicas e ópticas. Neste capítulo serão descritos os conceitos básicos sobre magnetismo de filmes finos e de nanopartículas, assim como os métodos de análises utilizados para interpretar os resultados experimentais obtidos para os sistemas estudados. 2.1 – Energia livre e anisotropia Magnética Tem-se uma ampla literatura sobre energia livre e anisotropia magnética que pode ser encontradas nas referencias [35-41]. A energia livre ferromagnética E é definida pela magnetização dinâmica e a estrutura magnética. A energia livre total Et de um ferromagneto é uma função complexa dos seguintes parâmetros macroscópicos: temperatura (T), campo magnético externo (H) e estresse induzido (σ). Nos estudos teóricos e experimentais a energia livre tem a forma: Et Ez Ed EA Onde E z é a energia Zeeman ( Ez (2.1) M .H ), Ed é a energia de desmagnetização definida pela 1 2 forma macroscópica do ferromagneto ( Ed M .H d ). O último termo E A é a energia de anisotropia. A energia de anisotropia magnética (EAM) determina a orientação preferencial da magnetização espontânea ao longo de certas direções características do material. No caso de simetria uniaxial, esta direção é conhecida como “eixo fácil” da magnetização. Analogamente a direção onde resulta mais difícil orientar a magnetização é conhecida como “eixo difícil”. Em 10 amostras maciças com simetria cúbica, a EAM é de poucas dezenas de μeV/átomo. Porém, em filmes finos com anisotropia uniaxial, é aumentada por um fator de 100-1000. A EAM está associada a dois fatores: a interação spin-órbita (que dá origem à anisotropia cristalina) e a interação dipolar (responsável pela energia da anisotropia de forma). a.- Interação spin-órbita: Esta interação é a única de origem intrínseca e pode ser explicada como uma interação electromagnética entre o spin do elétron e o campo magnético gerado pela órbita do elétron em torno do núcleo. Como a nuvem eletrônica dos íons tende a se alinhar com os eixos de simetria do cristal os spins dos elétrons não são afetados pelos campos elétricos cristalinos, mas como os spins dos íons magnéticos estão acoplados aos orbitais das nuvens eletrônicas através do acoplamento spin–órbita, a simetria da rede cristalina acaba afetando aos íons magnéticos. As orientações das órbitas estão fortemente ligadas aos eixos cristalinos. Porém, quando um campo externo tenta reorientar o spin de um elétron, a órbita do elétron também tende a ser reorientada, a reorientação do spin é dificultada, pois a órbita está fortemente acoplada à rede cristalina. A energia de anisotropia necessária para reorientar o sistema de spins para fora da direção do eixo fácil é justamente a energia necessária para vencer o acoplamento spin–órbita. Este acoplamento é relativamente fraco, visto que os campos de poucas centenas de Oersteds são capazes de reorientar o sistema de spins. A energia magnetocristalina uniaxial pode ser escrita como: E K K1V sin 2 (sin 4 ) (2.2) Onde K 1 é a constante de anisotropia uniaxial de primeira ordem, V é o volume, é o ângulo entre o momento magnético e a direção do eixo fácil e (sin 4 ) são os termos de até quarta ordem, normalmente desconsiderados. b.- Interação dipolar: Esta contribuição ocorre por meio do campo desmagnetizante proveniente da indução de polos magnéticos na superfície do material, sendo que o campo desmagnetizante H d N d M (onde Nd é o fator desmagnetizante que depende da geometria da amostra) se opõe ao campo aplicado. Em um sistema de grãos esféricos a magnetização é a mesma para qualquer direção do campo; se os grãos não forem esféricos, será mais fácil magnetizá-lo na direção de seu eixo maior, pois o campo desmagnetizante é mais fraco nesta direção, minimizando a energia, e quando a magnetização está ao longo de seu eixo menor, a energia é máxima, pois o campo desmagnetizante é mais intenso. Então a forma da amostra pode ser uma fonte de 11 anisotropia. A densidade de energia de desmagnetização de uma amostra da forma de um elipsóide com um ângulo θ entre a magnetização e seu eixo de simetria é: EK F 1 1 N cVM 2 ( N a N c )VM 2 2 2 (2.3) Onde Nc e Na são os fatores de desmagnetização n direção do eixo de simetria e na direção perpendicular respectivamente. Em filmes finos esta contribuição à energia de anisotropia é de particular importância por ser a responsável pela permanência da magnetização no plano do filme. No entanto, quando o filme ferromagnético é reduzido a poucas camadas atômicas, esta magnitude é de menor importância e a interação spin-órbita passa a dominar. 2.2 - Anisotropia de superfície Ao reduzir as dimensões de um sistema de filmes finos ou de nanopartículas à escala nanométrica, os átomos superficiais experimentam uma menor simetria em comparação aos átomos do interior (volume), pois a fração de átomos que se encontram na superfície aumenta. Esses átomos da superfície enxergam um entorno magnético diferente dos átomos que estão no volume. É esta quebra de simetria que gera a anisotropia de superfície. Em filmes ultrafinos a densidade de EAM K eff ( Jm 3 ) pode ser fenomenologicamente separada em uma contribuição de volume K V ( Jm 3 ) e em uma contribuição de interface ou de superfície K s ( Jm 2 ) com a seguinte relação: K eff KV 2 Ks t (2.4) Onde K eff é a constante de anisotropia efetiva por unidade de volume, K V contém as contribuições devido à energia desmagnetizante (dada pela forma das amostras), K S é associada à energia superficial de Néel, que tem como origem a quebra de simetria devida à superfície ou interface, e t é a espessura da camada magnética. O fator 2 se deve ao fato de haver duas superfícies por camada. Analogamente, em nanopartículas esféricas a densidade EAM pode ser também expressa em função da contribuição da anisotropia do volume e da superfície da forma: K eff KV 6 Ks (2.5) 12 Onde ϕ é o diâmetro da nanopartícula. Sem embargo, em muitos casos estas expressões fenomenológicas não descrevem adequadamente a evolução da anisotropia efetiva dos sistemas [42]. 2.3 - Domínios magnéticos Os materiais magnéticos maciços como Fe, Ni, Co, etc, apresentam uma estrutura de multidomínios, se comportando como se fossem não magnéticos, ou seja, a magnetização total é nula. Para explicar este comportamento P. Weiss introduziu pela primeira vez o conceito de domínios magnéticos, onde esses domínios são separados por interfaces denominadas paredes de domínio. Na configuração de multidomínios a energia dipolar é reduzida; esta redução da energia é feita à custa da energia de troca aumentada dos momentos magnéticos que pertencem à fronteira dos domínios. Visto que a interação de troca é de curto alcance, o ganho em termos da energia dipolar é considerável, devido ao longo alcance desta interação; a energia dipolar de cada momento magnético cai quando os domínios são formados. Embora as interações de troca sejam mais fortes que as dipolares, a quantidade de spins que experimentam esta interação é muito pequena em comparação a toda a população de spins. Em amostras com tamanho próximo ao comprimento típico das paredes de domínio pode ser pouco vantajoso criar uma estrutura de domínios, pelo fato de que criariam uma região de alta energia magnética. As partículas magnéticas são por tanto, constituídas por monodomínios quando são suficientemente pequenas, menores que o tamanho crítico. O processo de magnetização de um ferromagneto pela aplicação de um campo magnético inclui o rearranjo da orientação dos domínios. Para partículas de multidomínio, a reversão da magnetização ocorre inicialmente por deslocamento de paredes de domínio e depois por rotação do momento magnético. Para partículas de monodomínio maiores, a reversão da magnetização ocorre através de rotação não coerente, observando-se o enrolamento (curling) particularmente em grãos alongados [43]. Em partículas de monodomínio menores, a reversão ocorre através de um movimento de rotação em forma de leque (fanning) [43]. Quando uma partícula se ordena formando um único domínio magnético, ela apresenta um momento magnético muito grande (supermomento) comparado com o momento iônico; dependendo do tipo de ordem magnética e do tamanho da nanopartícula, este momento magnético pode oscilar entre 102 – 105 μB . 13 2.4 – Superparamagnetismo Para estudar as propriedades magnéticas de um conjunto de partículas não interagentes (com uma distribuição larga de tamanhos e com uma distribuição aleatória de eixos de fácil magnetização), utilizamos a teoria superparamagnética, introduzida por Bean e Livigston [44] devido à analogia que existe com os sistemas paramagnéticos, mas com um momento magnético efetivo muito maior. A primeira suposição da teoria superparamagnética é a de considerar que os momentos magnéticos atômicos no interior de uma partícula se movimentam coerentemente, ou seja, que o momento magnético total pode ser representado por um único vetor clássico de magnitude μ= μatN onde μat é o momento magnético atômico e N é o numero de átomos magnéticos que formam a dita partícula. Em partículas magnéticas pequenas a direção de magnetização pode flutuar por causa da energia térmica, quando a energia de anisotropia (KV) é muito pequena comparada com a energia térmica (kBT) [45]. Enquanto o campo magnético externo tende a alinhar os momentos magnéticos, as flutuações térmicas tendem a desalinhá-los. No caso mais simples (um monodomínio) a direção do momento magnético é determinada pela anisotropia uniaxial (de tipo magnetocristalina, de forma, ou magnetoelástica), e pelo campo magnético externo H. É dizer que uma partícula pequena terá uma direção preferencial chamada de eixo de fácil magnetização, que é a direção onde preferentemente se encontra o vetor do momento magnético. É importante resaltar que a definição de superparamagnetismo está fortemente vinculada ao tempo de medida, por tanto ao tempo de relaxação: quanto menor for o grão, mais facilmente o momento magnético poderá ser revertido [46 - 49]. 2.5 - EAM em pequenas partículas A EAM é fortemente afetada quando se reduz o tamanho de um sistema (efeito do tamanho) e em consequência, outras fontes de anisotropia são as que determinam o comportamento magnético do sistema. No caso de pequenas partículas com monodomínio a anisotropia magnética é muito relevante, pois a maior ou menor dificuldade em reverter à direção de magnetização depende diretamente desta propriedade [41,50]. 14 Fig. 2.1– (a) Perfil da energia de anisotropia dada pela equação (2.6) sem campo externo (b) Energia de anisotropia na presença de um campo externo (H), equação (2.7). Se considerarmos uma partícula com simetria uniaxial quando não há campo magnético aplicado, a anisotropia magnética pode ser escrita como: E KVsen 2 (2.6) Onde θ é o ângulo que a magnetização forma com o eixo de fácil magnetização, V é o volume da partícula. Assim a energia magnética tem dois mínimos simétricos que correspondem a 0 e 180 graus e determinam o eixo fácil, a separação dos dois mínimos é dada pela barreira de energia KV que tem que ser vencida para que a partícula passe de um mínimo de energia a outro. Na figura 2.1 a) é mostrada a energia de anisotropia em função do ângulo θ, na ausência de campo externo e pode ser apreciado que se a energia térmica da partícula (kBT) for maior que a energia da barreira (KV) a partícula pula de uma posição de equilíbrio a outra, se KBT < KV a partícula permanece num das posições de equilíbrio. Na presença de um campo magnético aplicado (H) a energia da partícula é dada por: E KVsen 2 H cos (2.7) onde μ é o momento magnético da partícula. Assim, os momentos magnéticos na direção do campo externo são favorecidos e a barreira de energia é dada por: H E KV 1 H o onde H 0 2K , e Ms é a magnetização de saturação espontânea das partículas. Ms (2.8) 15 2.6 – Relaxação magnética A relaxação temporal da magnetização destas partículas monodomínio pode ser descrita por uma lei de tipo Arrthenius [51]: M= Mo exp(t / ) (2.9) Onde M0 é a magnetização inicial e τ é o tempo característico de decaimento. Este tempo característico da partícula é função da energia da barreira (EB = KV) e da temperatura: o ex( E B / K B T ) (2.10) Onde o está associada á frequência de tentativas de saltos do momento magnético da partícula entre os sentidos opostos do eixo de fácil magnetização, e KB é a constante de Boltzmann. Os valores aceitos hoje em dia para o estão na faixa de 10-9-10-10 seg. Nestes sistemas o comportamento magnético observado depende do valor do tempo típico da medição m da técnica experimental utilizada, com respeito ao tempo de relaxação próprio do sistema. Se m >> o sistema relaxa muito rapidamente para ser observado, de modo que a variação temporal da orientação da magnetização vista por este instrumento é nula e o conjunto de partículas se comporta de modo análogo a um sistema paramagnético. Se pelo contrario m << a relaxação do sistema resulta muito lenta e se observam quantidades quase estáticas, como nos sistemas magneticamente ordenados. Este regime se denomina bloqueado. A temperatura que separa estes regimes denomina-se temperatura de bloqueio TB e depende do tempo característico de medição m . A temperatura de bloqueio definida como aquela na qual m = , está associada à energia de barreira, e por isso cresce com o aumento do tamanho da partícula. Pelo contrário, pora um dado tamanho, TB decresce com o aumento do tempo característico de medição. Alguns tempos característicos de medição m são: magnetização (SQUIDVSM): 100 seg; espectroscopia Mossbauer: 10-8 seg; susceptibilidade em corrente alterna: 10-4 – 1 seg. Vamos definir um volume critico Vc a certa temperatura constante T0 que requer m = , abaixo do qual a partícula está no estado superparamagnético: Vc 25 K BT0 K (2.11) 16 Para um dado tempo de medida é possível definir a temperatura que separa ambos os regimes, conhecida como a temperatura de bloqueio (TB). Agora, para certo volume fixo V=V0 também fazemos que m = . Deste modo obtemos: TB KV0 25K B (2.12) Estes resultados indicam alguns pontos muito importantes. O volume crítico para o superparamagnetismo é diretamente proporcional à temperatura, ou seja, quanto maior seja a temperatura, maior será o tamanho crítico das partículas e todas aquelas que tenham um tamanho menor ou igual ao crítico entram em regime superparamagnetico. Da equação (2.12) vemos que a temperatura de bloqueio é diretamente proporcional ao volume das partículas e a sua constante de anisotropia, ou seja, as partículas maiores são superparamagnéticas a temperaturas mais elevadas. Para altas temperaturas ou partículas extremadamente pequenas, o tempo característico de relaxação térmica resulta ser muito menor que qualquer tempo característico utilizado nos equipamentos de medição, e por tanto o momento magnético pode “saltar” de um poço de potencial ao outro varias vezes durante a medição e o sistema se encontrará em um regime superparamagnético. Por outro lado, quando a temperatura é suficientemente baixa, a escala temporal se torna muito grande, muito maior que qualquer tempo de observação e, portanto, os momentos magnéticos permanecem congelados. Sem poder explorar novos estados (a ativação térmica não é suficiente para superar a energia de barreira), o estado magnético que se mede depende da história prévia do sistema. Resumindo, durante o tempo de medida as partículas de volume V0 estarão no estado superparamagnético para temperaturas maiores que TB e no estado bloqueado para temperaturas menores que TB. Assim, o valor de TB define dois regimes: para T < TB as partículas se comportam de forma equivalente ao ferromagnetismo, no qual as curvas de magnetização em função do campo externo apresentam histerese, isto é, o campo coercitivo (Hc) e a magnetização remanescente (Mr) são diferentes de zero. Para T >TB as partículas tem um comportamento superparamagnético e as curvas de magnetização não apresentam histerese, isto é, Hc = Mr = 0. Na figura 2.2 são apresentadas duas curvas de magnetização medidas para T < TB e T > TB ilustrando os comportamentos típicos das curvas de magnetização do regime bloqueado e superparamagnético, respectivamente. 17 1.0 M/Ms 0.5 Mr T > TB T < TB Hc 0.0 -0.5 -1.0 -0.50 -0.25 0.00 0.25 0.50 Campo magnético (T) Fig. 2.2 – Curvas de magnetização em função do campo externo. Para T < T B a curva mostra uma histerese típica de um sistema bloqueado (Hc≠0, Mr ≠0). Para T > T B a curva apresenta um comportamento superparamagnético (Hc= Mr= 0). 2.7- Modelos fenomenológicos: M(H) O modelo superparamagnético clássico considera um sistema de partículas monodomínio iguais não interagentes e com rotação coerente dos momentos magnéticos, com uma barreira de energia muito menor que a energia térmica; no entanto, este modelo não é adequado para descrever sistemas reais, devido a não levar em consideração uma distribuição de tamanhos, nem a presença de interações magnéticas, nem efeitos de anisotropia das nanopartículas. Portanto, em uma análise de sistemas de nanopartículas ou aglomerados de nanopartículas deve-se levar em conta uma distribuição de tamanhos e interações das nanopartículas. Nestes sistemas podemos ter interação do tipo dipolar, de troca, super troca e Ruderman-Kittel-Kasuya-Yosida (RKKY), dependendo da concentração das partículas da matriz. No caso de sistemas metal/metal pode-se ter a presença de interações dipolares, de troca e RKKY [52]. Já no caso de sistemas metal/ isolante, somente a presença de interações dipolares é esperada, supondo que não haja contato entre as partículas [53]. 2.7.1- Sistema de partículas não distribuição de momentos magnéticos. interagentes, sem 18 Consideremos um conjunto de partículas de monodomínio, cada um com um momento magnético μ e uma anisotropia depreciável. Apesar de que o magnetismo é um fenômeno puramente quântico, podemos considerar o momento magnético μ como um vetor clássico, pois estaremos considerando que os momentos magnéticos de cada átomo dentro de cada partícula estão ferromagneticamente acoplados. Deste modo, todos os momentos magnéticos estarão fortemente acoplados, ainda durante uma rotação do momento total μ (conhecido como rotação coerente). Portanto o tratamento estatístico deste sistema pode seguir a mesma formulação clássica do paramagnetismo, só que os momentos magnéticos são muito maiores que os dos íons. Vamos considerar que o sistema se encontra a uma temperatura T, em presença de um campo magnético H, e já havendo alcançado o equilíbrio térmico. A essa temperatura todas as partículas se encontram em um estado superparamagnético. Temos assim uma distribuição de Boltzmann dos momentos μ com relação ao campo externo H, de modo análogo ao caso do paramagnetismo clássico. O desenvolvimento matemático desse modelo clássico é muito conhecido e pode ser verificado nas seguintes referencias [54, 55, 56]. A famosa função de Langevin é escrita como: H M H K B T L coth K B T H K B T Ms (2.13) Onde L descreve a magnetização de partículas superparamagnéticas em função do campo externo, para uma temperatura T. Da equação 2.13 vemos que é relativamente simples analisar se o sistema é superparamagnético ou não. Basta realizar medidas de magnetização vs campo magnético à diversas temperaturas, e se depois observarmos que no gráfico de M/Ms vs H/T todas as curvas convergem para uma única curva universal (curva de Langevin). Nos sistemas reais um dos motivos principais para que não se obtenha um bom ajuste das curvas experimentais se deve a existência de uma distribuição de tamanhos, ou bem a uma distribuição aleatória de eixos de anisotropia (podendo haver momentos magnéticos bloqueados) ou a interações entre partículas. 2.7.2 – Sistema de partículas não-interagentes, distribuição de momentos magnéticos. com 19 a.- Magnetização em função do campo externo Para esta análise será considerado que a magnetização das partículas acima da temperatura de bloqueio segue a função de Langevin. Geralmente, observações através de microscopia eletrônica indicam que as distribuições de tamanhos em sistemas granulares segue uma função distribuição do tipo log-normal [57]. Seja f(μ) a função (gaussiana) distribuição de tamanhos de partículas: f ( ) ln 2 ( / o ) N 1 exp 2 2 2 (2.14) onde <μ> é o momento magnético médio das partículas e σ é a dispersão da distribuição. Uma distribuição log-normal é uma função assimétrica que se anula na origem, é caracterizada pelo seu valor da mediana μo e da sua largura σ. Quanto à distribuição de tamanhos, é preciso ter cuidado quando se faz a transformação de diâmetro para volume / temperatura de bloqueio. Geralmente pensamos em distribuições simétricas e transformações lineares. Mas em alguns casos, precisamente quando a distribuição é não simétrica, a log-normal tem uma transformação não linear. Existem três quantidades que podem ser usadas para caracterizar uma distribuição: o valor típico, que é a posição do máximo da densidade da probabilidade; a mediana <D>, que é a posição que separa a população pela metade (50% de acima e 50 % abaixo); o valor médio <D> exp( D2 ) , que é o “centro de gravidade” da distribuição. Para uma distribuição simétrica as três posições tem o mesmo valor, mas para distribuições assimétricas elas tem valores diferentes. Para uma distribuição log-normal o valor típico (máximo) é: <D> exp( D2 ) . A transformação de f ( ) para f (D) é muito importante, 2 devido ao interesse de determinar uma distribuição de tamanhos a partir do ajuste das curvas de magnetização em função do campo. Então a relação entre os valores da mediana e do diâmetro, supondo que as partículas sejam esféricas, e que a magnetização de saturação seja igual do material massivo: 0 M S V0 M S 6 D03 M S D0 6 (2.15) Onde MS é a magnetização de saturação do material massivo e V é o volume de uma esfera de raio D0. Então V0 V D 6 3 ). D03 6 , relação válida para os valores medianos, mas não para os valores médios ( 20 Então, para simular a magnetização M(H,T) combinamos a distribuição de tamanhos com a função de Langevin e integramos sobre todos os valores de μ: H f ( )d M ( H , T ) L K BT 0 (2.16) Com a magnetização de saturação: Ms f ( )d N onde N é o número de partículas 0 por unidade de volume N f ( )d . Assim a magnetização reduzida pode ser escrita como: 0 M (H , T ) Ms H f ( )d K T B L 0 (2.17) f (u)d 0 De acordo com a definição dada, o momento magnético médio é dado por exp 2 / 2. Desse modo, os parâmetros μo e σ podem ser determinados através de um ajuste apropriado das curvas de magnetização experimental. Se considerarmos que as partículas possuem forma esférica, é possível obter uma distribuição de tamanhos, densidade de partículas e distancia média entre elas [58]. b.- Magnetização em função da temperatura A susceptibilidade inicial (definida como a razão entre a magnetização e o campo magnético aplicado) de uma partícula monodomínio com volume V, anisotropia uniaxial K e magnetização de saturação Ms dependerá da temperatura da medida, que determinará se a partícula é superparamagnética ou bloqueada. Considera-se que o tempo de escala da medida é de τm= 100 s para o magnetômetro. Para T > TB, o momento magnético da partícula se encontra em equilíbrio com o tempo de medida, e assim, está no estado superparamagnético. Neste caso, a magnetização de um conjunto de partículas idênticas seguirá a função de Langevin: Ms(T )VH M (T ) Ms coth K BT K BT Ms(T )VH (2.18) 21 Onde V é o volume das partículas, H é o campo magnético externo aplicado e Ms(T) é a magnetização de saturação que depende da temperatura. Para Ms(T )VH <<1 a equação (2.18) K BT Ms 2 (T )VH pode ser aproximada por M(H,T)= ou seja: 3K B T sp Ms 2 (T )V 3K B T (2.19) Que é chamada de lei de Curie. Para T < TB, o momento da partícula é bloqueado e a magnetização se orienta de forma a minimizar a energia. As magnetizações Zero field cooling e Field cooling são, respectivamente [59]: Ms 2 (T ) H 3K (2.20) Ms 2 (T ) 25Ms 2 (T ) H H 2 K B TB 3K (2.21) bl M ZFC (T ) bl M FC (T ) bl bl Onde M ZFC e M FC representam as magnetizações no estado bloqueado (T < TB) e com: TB KV 25K B (2.22) Se agora é introduzida uma distribuição de tamanhos de partículas [distribuição de volume PV (V ) e anisotropia uniaxial K], pode ocorrer uma distribuição de temperaturas de bloqueio TB; então as magnetizações ZFC e FC são respectivamente: M ZFC Ms 2 (T ) H 1 Ms 3 K T B V Ms 2 H 1 M FC (T ) 3 K T B V Vc (T ) V 2 . pv (V )dV 0 Vc (T ) 0 Ms 2 H 1 3K V Vp (V )dV (2.23) Vc (T ) 25Ms 2 (T ) H 1 V pv (V )dV 3K V 2. v Vp v (V )dV (2.24) Vc (T ) Onde V Vp v (V )dV é o volume médio das partículas na amostra e pv(V) é a função de 0 distribuição de volumes. O volume crítico, Vc(T) é igual a 25kBT/K, é o máximo volume da partícula no estado paramagnético. A primeira integral representa a contribuição das partículas paramagnéticas, 22 enquanto a segunda corresponde ao estado bloqueado. O limite entre as partículas superparamagnéticas é V Vc (T ) e das partículas bloqueadas é V Vc (T ) . 2.7.3 –Sistema de partículas interagentes com anisotropia e distribuição de tamanhos. Cálculos da magnetização em função do campo para partículas pequenas [60], considerando os efeitos de anisotropia, ou seja, o caso onde a barreira de anisotropia é muito menor que a energia termina (KV<<KBT), por meio do parâmetro KV 2 mostram que os efeitos de anisotropia K BT praticamente desaparecem e as partículas seguem o comportamento clássico descrito pela função de Langevin. Quando a razão MsVH 1 , a lei de escala do superparamagnétismo se verifica: K BT as curvas de M (H,T) medidas em diferentes temperaturas se sobrepõem, independentemente da intensidade da anisotropia. Para o cálculo de expressões analíticas da magnetização levando em conta os efeitos da anisotropia é considerando um sistema composto por partículas pequenas [61, 62], com uma anisotropia do tipo uniaxial e com o eixo fácil de magnetização orientado em um ângulo ψ com o campo externo aplicado, H, como é mostrado na figura 2.5. Fig. 2.3 – Sistema de coordenadas utilizado no calculo da magnetização de partículas em um campo externo H e com anisotropia orientada em um ângulo θ com a direção de fácil magnetização. O eixo fácil tem a direção z do sistema de coordenadas, a energia da partícula pode ser escrita como E KVsen 2 H cos , onde K é a constante de anisotropia, V é o volume por partícula, ω o ângulo entre o momento magnético de cada partícula μ e o campo H, ψ o ângulo entre 23 o campo externo e o eixo fácil de magnetização. A magnetização média é dada pelo valor médio de <cosω>: M ( , , ) Ms cos Ms com Z / Z (2.25) MsVH KV , onde MS a magnetização de saturação e e Z é a função de partição. K BT K BT a.- No caso de anisotropia zero; a magnetização é dada, então por 1 M ( ) Ms coth (2.26) b.- No caso de uma anisotropia diferente de zero, e com todas as partículas alinhadas com o campo externo, a magnetização é dada por M ( , ) 1 tanh tanh 2 2 Ms 2 cosh (2 ) (2.27) c.- No caso limite que → tem-se a magnetização M ( , ) tanh Ms (2.28) 2.7.4–Sistema de partículas interagentes com distribuição de tamanhos. Finalmente, considerando nH a equação (2.28) fica: K B (T ) nH 1 T nH nH nH M (H , ) tanh tanh cosh 2 Ms K B (T ) 2 T K B (T ) K B (T ) K B (T nH 1 T K ( T B (2 ) T 2 (2.29) A temperatura real T, foi substituída por uma temperatura efetiva (T-θ) para levar em conta os efeitos das interações; θ tem o mesmo significado que na lei de Curie-Weiss e espera-se que forneça informações sobre as interações entre as partículas [63,64]. 24 Capítulo 3 Técnicas experimentais, equipamentos utilizados e considerações teóricas. Neste capítulo são descritas as técnicas experimentais utilizadas tanto na fabricação quanto na caracterização das multicamadas estudas nesta tese. As amostras de dióxidos magnéticos diluídos são preparadas por pulverização catódica (magnetron sputtering) no laboratório de filmes finos no Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas(CBPF) usando a técnica de multicamadas. As camadas são depositadas sequencialmente sobre substratos de Si (100) para produzir as multicamadas de [ZnO/CoFe]6, [ZnO/NiFe]6 e [ZnO/Fe]6, onde a espessura nominal da camada ferromagnética (t) deverá ser da ordem do parâmetro de rede dos materiais de transição. As amostras são analisadas por difração de raios-X (DRX), microscopia de força atômica (AFM), magnetômetro de amostra vibrante (VSM), ressonância ferromagnética (FMR) e espectroscopia de absorção da luz visível. As famílias de amostras produzidas são as seguintes: [ZnO(5nm)/CoFe(t)]6/ZnO, [ZnO(5nm)/NiFe(t)]6/ZnO, e [ZnO(5nm)/Fe(t)]6/ZnO com t variando entre 0,3 e 1,0 nm. Todas as amostras de multicamadas foram analisadas por medidas de magnetização com um magnetômetro de amostra vibrante (VSM). Foram obtidos os ciclos de histerese M(H) a temperatura ambiente, bem como as curvas de magnetização M(T) medidas com resfriamento na presença (Field Cooling) e ausência (Zero Field Cooling) de campo magnético aplicado. As medidas de M(T) revelaram que as amostras de [ZnO/CoFe] e [ZnO/Fe] apresentam uma temperatura de bloqueio máxima de 150 K. Foram realizadas também medidas de ressonância ferromagnética (FMR) em temperatura ambiente só nas amostras que contêm maior espessura da camada ferromagnética. Estas medidas corroboram o comportamento ferromagnético e a existência de outra fase nas amostras. A Espectroscopia de foto emissão de raios-X (XPS) exibe a existência de íons tanto de Co, Fe e Ni 25 dependendo da amostra. A seguir apresento as técnicas de preparação e caracterização das amostras utilizadas neste trabalho. 3.1- Preparação das amostras 3.1.1 - Sputtering O sputtering é um processo mecânico que consiste em ionizar um gás nobre entre dois eletrodos, gerando assim um plasma; os íons desse gás se aceleram e colidem com os átomos do alvo pulverizando sua superfície. Os átomos ou aglomerados de átomos arrancados são depositados sobre um substrato possibilitando o crescimento do filme. O magnetron sputtering se diferencia do sputtering normal por possuir um arranjo de ímãs permanentes detrás do alvo, formando assim um campo magnético túnel. Isto faz com que os elétrons descrevam movimentos helicoidais em volta das linhas do campo magnético, devido à força de Lorentz, contribuindo assim para a ionização do gás e facilitando uma maior concentração do plasma e, portanto uma maior taxa de crescimento. O sputtering RF é similar ao DC, mas em lugar de um campo elétrico estático temos um campo elétrico oscilante; geralmente se utiliza o DC para alvos de boa condutividade elétrica (metais) e o RF para alvos que não tem boa condutividade elétrica (semicondutores e isolantes). Quando se trabalha com um alvo semicondutor ou isolante, a descarga luminescente de um sistema de sputtering DC não pode ser mantida devido à imediata reconstrução das cargas positivas na superfície do alvo; para poder sustentar a descarga deve-se substituir a fonte DC por uma fonte de energia RF, sendo a alta frequência alternada usada para neutralizar a superfície isolante do alvo com os íons do plasma. Nesta técnica, considera-se que a voltagem de RF aplicada ao catodo muda de fase com o tempo, o que faz o eletrodo mudar alternadamente do potencial negativo ao positivo. Por tanto, os elétrons alcançaram o eletrodo quando este estiver positivo e os íons positivos (Ar+), quando ele estiver negativo. Este sistema utiliza de uma fonte de impedância (caçador de impedância) entre a fonte RF e a câmara de descarga, que nos permite regular a potência da fonte transferida ao canhão do alvo sem originar refletividade. Em um sistema prático, a frequência utilizada é tipicamente de 13,56 MHz. Existe uma ampla literatura sobre os processos do sputtering DC e RF que pode ser encontrada nas referências [65 - 71]. Na figura 3.1 apresentamos uma representação esquemática dos processos de crescimento por sputtering DC e RF. 26 Fig. 3.1.1 - Representação esquemática do processo do sputtering a) DC e b) RF, onde se observa como os átomos são arrancados da superfície do alvo devido a colisões com os íons incidentes para formar um filme no substrato. O sputtering utilizado neste trabalho pertence ao laboratório de Filmes Finos do CBPF, sendo do modelo ATC-2400, produzido pela empresa AJA internacional, que possui duas câmaras cilíndricas: uma principal de 750mm de diâmetro por 350 mm de altura, e outra secundária de 100 mm de diâmetro. Na base da câmara principal estão instaladas 5 fontes circulares de magnetron sendo três para alvos de 50 mm de diâmetro e duas para alvos de 40 mm de diâmetro. O sistema possui três fontes DC e duas fontes RF. É possível inserir até 5 porta-substratos na câmara principal sobre uma base rotatória. Nesta base também se encontra uma caixa que possui um sistema de suporte, dentro da qual pode-se colocar um porta-substrato. Esta caixa possui um sistema de aquecimento que permite variar a temperatura do substrato desde a temperatura ambiente até 800oC. A câmara secundária está acoplada à câmara principal por uma válvula de ultra alto vácuo que nos permite colocar e retirar os portas-substratos da câmara principal sem quebrar o vácuo de ~10-8 torr. Ambas as câmaras possuem sistemas de bombeamento independente. Normalmente a atmosfera do sputtering se faz com um gás inerte (Argônio) de alta pureza, mas também é comum utilizar um gás reativo (oxigênio); costuma-se fazer sempre antes do crescimento do filme um présputtering no alvo com a finalidade de remover um possível óxido criado na superfície do alvo; um cuidado que se deve ter neste sistema é que os alvos ferromagnéticos sempre devem ser colocados nos canhões de 50 mm de diâmetro, colocando previamente um núcleo metálico para que as linhas do campo magnético não passem pelo interior do alvo. Mas quando se trata de alvos isolantes, este núcleo tem que ser um imã permanente assegurando assim que as linhas de campo passem pelo interior do alvo. Além disso, os alvos ferromagnéticos não podem exceder de 2,54 mm de espessura. Este sistema de 5 alvos possibilita o crescimento de multicamadas de até 5 materiais distintos; com ajuda de um sistema de computador podemos ter controle do posicionamento, tempo de deposição, e acionamento da abertura e fechamento dos obturadores dos canhões do magnetron, mas o 27 controle do acionamento do gás de trabalho é manual. Mais detalhes da estrutura do sistema de sputtering e seus funcionamentos estão descritos nas referencias [72,73]. Os parâmetros usados para a deposição das amostras investigadas neste trabalho estão indicados na tabela 3.1.1. Fig. 3.1.2 - Sistema de deposição por pulverização catódica do Laboratório de Filmes Finos do CBPF Tabela 3.1.1 - Parâmetros experimentais utilizados no crescimento das multicamadas pela técnica de magnetron sputtering DC e RF. Parâmetros -8 Pressão base 10 Torr Pressão de trabalho 10 Torr Distância Alvo-substrato 10.3 cm Fluxo do gás 20 -25 ccpm Alvo Fe (Fonte DC) 30 mA Alvo NiFe 81/19 (Fonte DC) 30 mA Alvo CoFe 50/50 (Fonte DC) 30 mA Alvo ZnO (Fonte RF) 50 Watt -3 Um ponto importante no crescimento dos filmes finos é a limpeza do substrato. Neste trabalho foram utilizados 3 tipos de substratos para o crescimento das multicamadas, sendo eles, Si(100) mono cristalino com polimento em uma face e camada nativa de 30 Å, Si(100) com uma 28 camada de oxido de 6000 Å ,e por último substratos de vidro. Antes do crescimento dos filmes estes substratos foram cortados em dimensões de aproximadamente 10 mm x 10 mm e limpados com água ionizada e sabão líquido neutro (extran) usando ultrassom durante 15 min (para eliminar sujeira e gorduras da superfície). Logo se faz um enxágue com água ionizada, acetona e por último álcool isopropílico, todos por 15 min; depois são conservados em álcool isopropílico até o momento de colocá-los na sub-câmara. 3.1.2 - Amostras preparadas Neste trabalho foram preparadas as seguintes multicamadas: ZnO/Fe, ZnO/Ni81Fe19 e ZnO/Co50Fe50 . As taxas de deposição, e potência utilizadas são listadas na tabela 3.1.2. As diferentes séries de amostras preparadas para cada sistema são apresentadas com o formato: Substrato / Multicamada (espessura de cada elemento)/ camada protetora (espessura), com exceção do sistema de filme único de ZnO. As espessuras apresentadas aqui são as espessuras nominais, as quais foram estimadas com as respectivas taxas de deposição, determinadas mediante o ajuste das respectivas curvas de refletividade (explicado na seção 3.2) Tabela 3.1.2 - Taxas de deposição e alvos usados na preparação das amostras. Os valores de corrente e potencia correspondem às fontes de ignição. Alvo Pureza % Diâmetro (mm) Espessura(mm) Taxa (A/seg) I (mA) Potencia(W) ZnO 99,9 38 3 1,11 - 50 Fe 99,95 51 3 0,20 30 12 Ni81Fe19 99,95 51 3 0,23 30 12 Co50Fe50 99,95 51 3 0,39 30 12 Na tabela 3.1.3 são listadas a série de amostras preparadas e analisadas nesta tese. O sub índice indica o numero de bicamada, as espessuras variáveis em cada sistema são denotadas por t. Tabela 3.1.3 - Relação de amostras preparadas medidas e analisadas nesta tese. Sistema Estrutura Espessura t (nm) ZnO Vidro/ZnO (t) 300 ZnO/Fe Si(100)/ [ZnO(5nm)/Fe(t)]6/ZnO 0,3; 0,4; 0,6; 0,8 e 1,0 ZnO/Fe Si(100)/ [ZnO(50nm)/Fe(t)]6/ZnO 1,0 e 5,0 ZnO/ Co50Fe50 Si(100)/ [ZnO(5nm)/CoFe(t)]6/ZnO 0,3; 0,4; 0,6; 0,8 e 1,0 ZnO/ Ni81Fe19 Si(100)/ [ZnO(5nm)/NiFe(t)]6/ZnO 0,3; 0,4; 0,6; 0,8 e 1,0 29 3.2 - Caracterização das amostras 3.2.1 - Difração de raios X A difração de raios X (DRX) é uma técnica amplamente difundida não destrutiva que se emprega na caracterização estrutural de sistemas massivos, tanto de monocristais como em sistemas policristalinos. Esta técnica fornece informação estrutural em escala atômica sobre extensões relativamente grandes da amostra, da ordem do comprimento de coerência estrutural. O difratograma de raios X é dividido em duas regiões: Altos ângulos (2θ > 15o) e baixos ângulos (2θ < 15o), descritos a seguir. a. - Difração de raios X de alto ângulo Com a difração da radiação incidente de alto ângulo se determina as estruturas cristalinas dos materiais sólidos como resultado do espalhamento coerente da radiação, devido à regularidade tridimensional das células unitárias cristalinas. Tipicamente, em sólidos cristalinos, desejamos medir espaçamento atômico da ordem das constantes de rede (0,2-0,4 nm); para isto, utiliza-se, radiação com comprimento de onda inferior a 0,2 nm. A lei de Bragg [74] é uma descrição simplista de espalhamento coerente a partir de um conjunto de locais de espalhamento periódicos, como os átomos de um sólido cristalino. Esta descrição (Eq. 3.1), d hkl n 2sen (3.1) Considera o caso de uma radiação monocromática refletida em planos atômicos espaçados (dhkl) dentro do cristal, sendo o comprimento de onda (λ) da radiação menor do que o espaçamento interatômico específico. Com base nisso, podem-se realizar medidas para determinar a distância entre os planos refletores, estrutura cristalográfica, coeficiente de dilatação térmica, textura, stress e composição dos filmes finos. Um espectro de difração de raios-X consiste em uma sequência de picos caracterizados pelas suas posições, intensidades, larguras, etc. Os fatores que promovem o alargamento dos padrões de difração são o tamanho de grão, as tensões uniformes e não uniformes e a geometria do difratômetro. A largura dos picos de difração é influenciada pelo numero de átomos (volume do cristal); quanto menor for o tamanho de grão maior será o alargamento da linha de difração. As tensões uniformes na direção paralela a superfície, produzem uma redução do espaçamento d entre os planos, ocorrendo uma contração da célula unitária e como consequência tem-se um 30 deslocamento dos picos de difração. As tensões não uniformes produzem deformações não homogêneas que variam ao longo do volume do material, provocando o alargamento das linhas de difração. Os filmes finos preparados neste trabalho apresentam uma textura de grãos, obtida por medidas da largura total a meia intensidade (FWHM) máxima do pico de difração de Bragg e usando a formula de Scherrer [74]: l 0,9 B cos (3.2) Onde l é o tamanho do cristalito, λ é o comprimento de onda da radiação-X usada, B é a largura de meia altura do pico (em radianos) devido ao efeito do tamanho de partícula, e θ é o ângulo de Bragg. O difratômetro usado é o Bruker AXS D8 Advance do Laboratório de Difração do IF-UFF, empregando a radiação da linha Kα1 e Kα2 do Cu a 40 KV e 40 mA. A configuração de operação é a Bragg-Bretano θ/θ. Os padrões de difração foram coletados usando um detector Bruker Lynx Eyes PSD, em um plano geométrico com passo de 0.2 graus e tempo de acumulação de 2 seg. por passo. b. - Difração de raios X de baixo ângulo A difração da radiação incidente de baixo ângulo (0,1-10 graus) é feita usando-se raios-X monocromáticos bem focados. Com a refletividade de raios-X (RRX) pode-se determinar a espessuras das camadas, a rugosidade e o grau de interdifusão atômica devido ao contraste da densidade eletrônica entre o ar/filme e filme /substrato. Quando crescemos filmes com densidade uniforme sobre um substrato, a refletividade normal de Fresnel do substrato fica modulada por oscilações, devida á interferência entre os raios refletidos na superfície das interfaces (e também entre as camadas, no caso de multicamadas). Estas oscilações são chamadas de franjas de Kiessig. Para a refletividade, o ângulo que o raio incidente faz com o substrato não é mais θ se convertendo em um ângulo de incidência corrigido (ângulo critico) θc que sofre refrações ao passar do ar para o filme e pode ser obtido através da lei de Snell [75]: n cos c cos (3.3) Considerando-se a equação de Snell, uma vez que o índice de refração n no interior do material é agora menor que o do ar (nair = 1), θc será o ângulo onde os raios-X são totalmente refletidos. Este ângulo é dependente da densidade eletrônica como: 31 4 e r0 2 k 1/ 2 c (3.4) Onde r0 é o raio clássico do elétron, ρe é a densidade eletrônica e K é o vetor de onda. Acima do ângulo crítico, devido à interferência entre os feixes de raios-X dispersas nas diferentes interfaces, é possível gravar uma varredura que consiste da espessura (franjas Kiessig), ou seja, a intensidade máxima correspondente à interferência construtiva e a mínima devido a interferência destrutiva. A posição destas franjas é diretamente relacionada com a espessura das camadas (d), o que é, de fato, a equação de Bragg, mas modificada pela influência da refração [76]: 2d (sen2m sen2c )1 / 2 m (3.5) Onde m é um número inteiro. Quando o ângulo de incidência θ for suficientemente pequeno [77], a Eq. (3.5) tem a forma: ( m2 c2 ) m 2 2d 2 (3.6) Colocando o coeficiente angular de 2º grau como a ( m2 c2 ) , a Eq. 3.6 pode ser reescrita como [76]: d 2(a)1 / 2 (3.7) Esta relação mostra um método simples para determinar a espessura da camada (ou multicamada) a partir da medição da curva de refletividade: basta representar o quadrado das posições angulares da intensidade máxima versus quadrados da ordem da franja Kiessig. 3.2.2 - Magnetômetro de amostra vibrante (VSM) O magnetômetro de amostra vibrante (VSM) é um instrumento usado para medir a magnetização em função da temperatura M(T) e a magnetização em função do campo M(H) no plano e fora do plano do filme. O princípio de funcionamento do VSM tem como base a variação do fluxo magnético criada pela vibração de uma amostra magnetizada que induzirá uma tensão na bobina coletora. A tensão que é dependente do tempo de indução na bobina é dada pela seguinte equação: Vbobina d d dz dt dz dt (3.8) 32 Na Eq 3.8, o fluxo magnético Φ é delimitado pela bobina de captação, z é a posição vertical da amostra em relação à bobina, e t é o tempo. Para obter uma posição da amostra senoidalmente oscilante, a tensão é baseada na seguinte equação: Vbobina 2fCmAsen(2ft ) (3.9) Onde C é uma constante de acoplamento, m é o momento magnético DC da amostra, A é a amplitude de oscilação e f é a frequência de oscilação. Por tanto a medição dos momentos magnéticos envolve a medição do coeficiente de resposta da tensão senoidal a partir da bobina de detecção. O VSM modelo VersaLab da Quantum Design do Laboratório de Filmes Finos do CBPF é um sistema DC de medição de propriedades físicas (PPMS) que opera a uma frequência de 40 Hz e com uma sensibilidade de 10-6 emu. Este modelo é concebido especificamente para a caracterização magnética de até 3 tesla e ao longo de um intervalo de temperaturas de 50 ~ 400 K. Tem como base um cryocooler portátil, que emprega um novo sistema baseado a 4He que controla a temperatura, eliminando assim a necessidade de criogênicos líquidos. Além disso é totalmente automatizado e controlado através do software MultiVu [78]. O magnetômetro funciona com duas opções: opção de transporte elétrico e a opção de VSM; nesta tese se utilizou somente a segunda opção. Na opção de VSM podem-se fazer dois tipos de medidas: a magnetização em função da temperatura M (T) e a magnetização em função do campo. Podemos destacar as medições de magnetização resfriada sem campo magnético aplicado (Zero Field cooling - ZFC) e resfriada com campo magnético aplicado (Field cooling - FC), que indicam a temperatura média de bloqueio e também o perfil da distribuição de tamanhos das partículas. Na primeira, a amostra é resfriada sem a aplicação de campo externo até uma temperatura menor que a temperatura de bloqueio e então é aplicado um pequeno campo da ordem de 50 Oe e logo é medida a magnetização em função da temperatura. Esta curva é chamada de Zero field cooling (ZFC). Nesta modalidade, para T < TB os momentos magnéticos se encontram orientados de forma aleatória com <M> = 0, pois a energia térmica não é suficiente para permitir que os momentos possam transpor a barreira de energia; para T > TB a energia térmica satisfaz a condição τ ≈ τm e as partículas com volume crítico Vc adquirem uma magnetização dada pela equação de Langevin. Na segunda medida, a amostra é resfriada com a aplicação de um pequeno campo externo, e medida a magnetização em função da temperatura. Esta curva é chamada de Field cooling (FC). Quando as partículas são resfriadas abaixo da temperatura de bloqueio os momentos magnéticos são congelados, <M> ≠0, e 33 se mantém constante para T < TB, para T > TB as partículas com volume crítico Vc adquirem a magnetização dada pela equação de Langevin. ZFC FC M (emu/cm 3) 1000 60 T B 800 d(ZFC-FC)/dT 1200 <T > b 40 20 0 50 600 100 150 200 250 Temperature (K) T Irre 400 200 0 50 100 150 200 Temperatura (K) 250 300 Fig. 3.2.1- a) Representação esquemática de uma curva de ZFC/FC, indicamos as três temperaturas características de uma curva de ZFC/FC. Fig. 3.2.1 mostra curvas típicas de experimentos de ZFC e FC, permitindo distinguir três temperaturas características: temperatura de bloqueio TB, geralmente obtida como o máximo da curva ZFC; a temperatura de irreversibilidade, que é a temperatura para a qual a curva de magnetização ZFC se separa da FC ; e a temperatura do máximo de dT(MFC-MZFC) vs T, que fornece informação sobre o perfil da distribuição de tamanhos. 3.2.3 - Ressonância ferromagnética (FMR) A ressonância ferromagnética (FMR) é uma técnica poderosa para o estudo da magnetização dinâmica em filmes ferromagnéticos e nano particulados ferromagnéticos, proporcionando uma oportunidade para a determinação de todas as suas propriedades essenciais, incluindo a anisotropia magnética, magnetização efetiva, parâmetros de amortecimento, anisotropia magnética de superfície, e os parâmetros que descrevem o relaxamento da magnetização, etc. Sua alta sensibilidade, alta resolução, e relativamente fácil setup e trocas de amostras estão entre as vantagens das experiências com FMR, além das análises de seus resultados. 34 Diversos aspectos teóricos e experimentais podem ser consultados em numerosas fontes bibliográficas (ver referencias [79 ~ 85]). Nesta seção se apresentaram os aspectos mais pertinentes da técnica e as características do equipamento utilizado. 3.2.3.1- Fundamentos da técnica FMR A ressonância ferromagnética é um processo na qual a magnetização total de um material ferromagnético precessiona em torno de um campo magnético estático externo, absorvendo fortemente a energia de um campo rf transversal, quando a freqüência deste é igual à freqüência de precessão da magnetização total. Esta precessão tem sua origem no torque sofrido pela magnetização devido ao campo magnético externo. O termo “ressonância” implica uma sintonia com a freqüência natural do sistema magnético, neste caso, a precessão do momento magnético em torno do campo externo aplicado. A visão semi-clássica da ressonância ferromagnética descreve o torque sofrido pelos momentos magnéticos do material ferromagnético devido ao campo magnético externo estático H passando a precessionar em torno do H de acordo com a equação: d dt = -γ( X H ). Onde (3.10) g B é a razão giromagnética e g é o fator giromagnético. Os momentos magnéticos tem uma precessão com frequência angular: o H Para simplificar o problema, consideramos a magnetização total M como a soma de todos os momentos magnéticos do material por unidade de volume. Assumimos que o material se comporta como um monodomínio, pois nesta condição a estrutura de domínios é quebrada. Então, quando o material está na presença do campo oscilante fraco de alta frequência h (t), que é muito menor que o campo externo H , a magnetização terá uma componente oscilante podendo ser expressa por M Mo m(t ) . A ressonância poderá ocorrer quando a frequência deste campo magnético oscilante for igual à frequência de precessão de Lamor ωo 35 Figura. 3.2.2- a) Ilustração da precessão do vetor da magnetização em torno do campo estático (H) e do campo magnético de alta frequência e b) Esquema representando as transições de Zeeman. Os materiais ferromagnéticos possuem um campo magnético interno intrínseco Hint, que contém as contribuições do campo de desmagnetização, campo de anisotropia cristalina, etc. Assim, as diferentes interações que ocorrem no material ferromagnético podem ser tratadas assumindo que os spins, responsáveis pelo ferromagnetismo, precessionam com frequência ωo não em torno do campo magnético externo H, mas sim em torno de um campo magnético efetivo Heff = H+Hint, como é mostrado por Landau e Lifshitz [86~88]. É este campo efetivo que levanta a degenerescência dos níveis de energia do sistema ferromagnético em sub-níveis, por efeito Zeeman, que pode ser representado como: E g B ms .H eff Então esta condição de ressonância poderá ocorrer quando a energia dos fótons da radiação de micro-ondas provocarem transições entre os sub níveis Zeeman adjacentes do sistema ferromagnético separados pela energia: E g B .H eff A condição da ressonância ferromagnética esta dada pela expressão: E g B H t , onde Ht é o campo magnético total. No caso de amostras policristalinas, a condição de ressonância é obtida a partir da equação de movimento: E g B ( H H int ) onde H representa o campo magnético estático e Hint é o valor do campo magnético efetivo interno. Para um sistema com simetria esférica, o termo de campo desmagnetizante não contribui à ressonância. Então para um sistema de partículas não interagentes com simetria esférica e anisotropia cúbica orientada aleatoriamente, a condição de ressonância pode ser escrita como: E g B ( H K ) , onde K é a constante de 2Ms anisotropia e Ms é a magnetização de saturação. A largura de linha é notavelmente modificada como consequência dos campos internos. Em caso de nanopartículas não interagentes com anisotropia 36 cúbica, a largura de linha aumentará aproximadamente um valor de |K| . Em geral se observa um Ms aumento da largura de linha se no sistema há distribuição de tamanhos, anisotropias, magnetizações, etc. 3.2.3.2- Condição de ressonância com campo aplicado fora e no plano A densidade de energia de um filme fino é a soma das contribuições da energia Zeeman, da energia magnetoestática e da energia de anisotropia de primeira ordem. A condição de ressonância para filmes finos ocorre para dois casos: para a anisotropia fora do plano (onde se utiliza a direção do campo externo no plano e fora do plano do filme) e para a anisotropia no plano. Notavelmente esta analise é muito utilizado em filmes finos, assim neste trabalho a utilizaremos para analisar nossas amostras. Para o primeiro caso temos que a condição de ressonância é: E Hsen( H ) 4M eff sen cos (3.11) Onde θ e θH são os ângulos da magnetização M e do campo H com respeito a normal do filme. Então, a relação de dispersão para o campo de ressonância é: 2 w H cos( H ) 4M eff cos 2 x H cos( H ) 4M eff cos 2 (3.12) Onde não foi considerado o parâmetro de amortecimento, que aparece na equação de Landau -Lifshitz, devido a sua desprezível influencia na frequência de ressonância. Onde a magnetização efetiva é: 4M eff 4M s H k (3.13) e 4M s é a magnetização de saturação, H k é o campo perpendicular de anisotropia, ω é a frequência angular da micro-onda, g e é a razão giromagnética. Considerando-se apenas o 2m campo de ressonância nas posições paralela (θH=90o) e perpendicular (θH=0o) ao plano do filme, se obtém as seguintes condições de ressonância para cada caso respectivamente. 37 w H 4M eff (3.14) e 2 w H // H // 4M eff (3.15) A partir destas duas relações obtemos: 4M eff H H // 5H // H // H 2 4 1/ 2 (3.16) Com isto podemos determinar o campo de anisotropia efetiva: 4M eff H Keff 2 K eff Ms (3.17) Isto mostra que 4πMeff pode ser deduzido a partir da dependência angular do campo de ressonância, ou apenas a partir das medições dos campos de ressonância para as geometrias paralela e perpendicular ao campo aplicado, não havendo necessidade do parâmetro γ nem da frequência de micro-ondas. Para o segundo caso, temos que considerar um filme com anisotropia uniaxial Ku no plano, onde o eixo da anisotropia coincide com o eixo x, a magnetização de saturação Ms é definida pelos ângulos θ e ϕ, e o campo aplicado pelo ângulo ψ. Então a energia livre do sistema é: E M s H sen cos( ) cos 2M s cos 2 Ku (1 sen2 cos 2 ) 2 (3.18) Com esta equação podemos chegar à condição de equilíbrio e ressonância, respectivamente: 2 sen cos H Keff sen cos H (3.19) (3.20) w H cos( ) 4M s H K cos 2 xH cos( ) H K cos 2 Onde a magnetização de saturação fica confinada no plano da amostra. 38 3.2.3.3 - Detalhes experimentais Os espectros de FMR desta tese foram obtidos nas instalações do Laboratório de Ressonância Magnética Eletrônica da Universidade Federal de Goiás. O espectrômetro Bruker, EPS300C utilizado na investigação das amostras magnéticas utiliza micro-ondas na banda X (a frequência utilizada foi de 9.8 GHz). Durante o experimento a amostra fica em uma cavidade ressonante retangular, no centro de um eletroímã que fornece um campo magnético estático de até 20 KOe; dentro desta cavidade incide na amostra uma radiação de micro-ondas que foi produzida por uma válvula Klystron e conduzida até a cavidade ressonante através de uma guia de onda metálica retangular. A radiação refletida pela cavidade sofre uma alteração (diminui o valor) quando ocorre a absorção ressonante de energia pela amostra. Fig. 3.2.3 - Diagrama simplificado do arranjo experimental para as medidas de FMR [89] Dentro da cavidade, a amostra foi posicionada com certo ângulo entre o campo e a normal ao plano do filme. Por conveniência experimental, a frequência de micro-ondas se mantém fixa e se variou somente o campo magnético estático e no momento em que a frequência de precessão dos spins da amostra se iguala à frequência da radiação incidente (9.8 GHz) ocorre a ressonância. É nesta condição a amostra pode absorver a energia da onda eletromagnética, e as alterações que esta absorção provoca na onda é a origem do sinal detectado experimentalmente. As perdas de energia da onda foram medidas monitorando a radiação refletida pela cavidade por meio de um diodo detector. O diodo detector retifica a radiação refletida pela cavidade de micro-ondas, medindo desta forma, a absorção de energia da amostra. Para melhorar razão sinal/ruído faz-se uso da técnica de modulação do campo estático aplicado através de umas bobinas de modulação, o que leva a um 39 espectro proporcional à derivada da curva de absorção em relação ao campo externo. A figura 3.2.3 mostra um diagrama do arranjo experimental utilizado nos experimentos de ressonância. 3.2.4- Microscopia de força atômica (AFM) O microscópio de força atômica (AFM) é usado para obter informação sobre a superfície de uma amostra gerando imagens de 2D e 3D. O AFM é uma técnica que utiliza como base as forças repulsivas entre a superfície e a ponta de exploração do microscópio. Estas forças provocam uma deformação do braço que suporta a agulha (cantilever). Esta deformação é medida por meio de um feixe de laser que é refletido pela ponta do cantilever para um fotodiodo sensível à posição. São vários os tipos de forças de interação entre a ponta e a superfície da amostra, mas é a força interatômica de Van der Waals a que mais contribui com as deflexões do cantilever [90 ~ 92]. O AFM pode ser operado de três modos: modo contato, modo não contato e modo intermitente; os três modos são mostrados na figura 3.2.4 a. Fig. 3.2.4 - a) Comportamento da força de van der Waals em função da distancia e b) ilustração da varredura de uma sonda AFM. Na região 1 predominam as forças atrativas (região de modo não contato), na região 2 a ponta fica a poucos nanômetros da superfície e a haste fica arqueada para acima, devido à forte interação repulsiva da blindagem dos elétrons mais próximos ao núcleo atômico (região do modo contato) [93]. Na região intermitente a haste oscila com determinada frequência entre os modos contato e não contato. O modo de varredura utilizado para a análise por AFM neste trabalho foi de não contato. Com a varredura da ponta obtemos uma matriz com toda a informação sobre as diferentes “alturas” da amostra, o que possibilitou obter informações sobre a rugosidade media quadrática (Rms) e o diâmetro dos grãos. O AFM utilizado neste projeto pertence ao Laboratório de 40 Materiais Sólidos do IF-UFF, totalmente controlado pelo sotfware WITEC, dispondo de três lentes óticas de 20, 50 e 100, permitindo também a opção de espectroscopia Raman. 3.2.5 - Espectroscopia de fotoelétron (XPS) A técnica de espectroscopia de fotoelétrons (XPS) é amplamente utilizada para a caracterização de filmes pois fornece informação sobre a composição e o estado de oxidação dos elementos presentes na superfície da amostra. Quando induzimos uma excitação por raios-X na amostra, esta produz a emissão de fotoelétrons das camadas interiores dos átomos da superfície. As energias desses elétrons são características de cada elemento, permitindo a identificação da composição química do material de onde são emitidos. Os raios-X podem penetrar a uma profundidade de aproximadamente 1nm (a partir do topo), permitindo obter informação apenas das camadas atômicas mais externas da amostra. Isto ocorre porque os elétrons arrancados das camadas mais internas têm maior probabilidade de colidir com as outras partículas na amostra antes de escapar da superfície, de modo que a sua energia cinética é reduzida a um nível tal que eles acabam contribuindo apenas para o nível de fundo de dados experimentais. Na prática, a energia cinética (Ek) de um fotoelétron detectado pelo analisador resulta do processo da conservação da energia que envolve o fóton (hν) do raios-X incidente, a energia de ligação do elétron (EB), e a barreira de potencial de superfície (função de trabalho Φsp) [94]. Ek = hν -EB- Φsp (3.21) Esta equação indica o estado energético em que um fotoelétron é detectado. Para que a fotoemissão ocorra é necessário que os fotoelétrons possuam energia cinética suficiente para superar a energia de ligação e a função de trabalho da amostra. Na figura 3.2.5 a) o nível de Fermi será a referência em energia. O nível de Fermi está localizado entre a banda de Valência (BV) e a banda de Condução (BC). Um elétron no nível de Fermi é definido com a energia de ligação igual a zero (EB=0). Portanto, durante o processo de fotoemissão, uma parte da energia do fóton é usada para excitar o elétron de seu estado ligado para o nível de Fermi (EB). Entretanto, trabalho adicional é necessário para remover completamente o elétron do material; uma vez fora do material o elétron está num estado de elétron livre, e na ausência de interferência externa esse nível é chamado de nível de vácuo. 41 Fig. 3.2.5 - a) Ilustração do efeito fotoelétrico em termos de níveis de energias. Um fotoelétron é ejetado do átomo devido à energia fornecida pelo fotoelétron incidente. b) Diagrama do nível de energia da amostra e do analisador do XPS. Em um experimento de XPS, o fotoelétron deve passar pelo analisador e pelo multiplicador de elétrons. Durante esta passagem, uma pequena quantidade de trabalho é necessariamente realizada sobre os fotoelétrons. Essa quantidade denomina-se função de trabalho do analisador φA . Na figura 3.2.5 b) apresentamos o diagrama do nível de energia para XPS. Onde φS e φA são as funções de trabalho da amostra e do alisador. ESF, EAF são os níveis de energia de Fermi da amostra e do analisador respectivamente. Os níveis de energia da amostra são indicados na parte esquerda. À direita, o potencial do analisador de elétrons é mostrado em relação ao potencial da amostra no lado esquerdo. Na espectroscopia de elétrons a energia de ligação é medida com respeito ao nível de Fermi. Note que para o retardamento do potencial VA = 0, os níveis de Fermi da amostra e do analisador são iguais. O espectro obtido por XPS é um gráfico do número de elétrons emitidos em função da sua energia cinética (Ek). Entretanto o espectro é comumente apresentado como o número de contagens em função da energia de ligação. Os dados quantitativos podem ser obtidos a partir das alturas dos picos ou áreas, e a identificação dos estados químicos pode frequentemente ser feito a partir das posições exatas e das separações entre os picos, bem como de determinados contornos espectrais. É comum observar diferentes picos para um mesmo elemento químico devido a diferentes estados de oxidação. A área desses picos característicos é uma medida de abundância relativa do respectivo elemento, enquanto que a forma e a posição dos picos reflete o estado químico. A densidade de elétrons de um átomo é afetada pela eletronegatividade dos átomos vizinhos (átomos ligantes) e, 42 por conseguinte, o XPS pode ser usado como uma “impressão digital” em combinação com dados de referência. A energia ou as energias da radiação de excitação dos elétrons depende da fonte de raios-X utilizada, por exemplo, Al Ka (1586,6 eV), Mg Ka (1253,4 eV), Cu Ka (8047,8 eV) 3,4 ou um sincrotron (~ 0,1-6 keV ). A energia de raios-X incidente coloca um limite às energias de ligação dos níveis de energia de elétrons que podem ser estudadas por XPS. Nesta tese utilizou-se o equipamento ESCALAB 250Xi do Laboratório da RECAT do Departamento de Química na Universidade Federal Fluminense para realizar os espectros de XPS, com fonte de raios-X de Cu, operando na opção de Flood gun para evitar o carregamento das amostras devido à sua composição de semicondutor/FM. Como as amostras são multicamadas e o material de interesse estava a uma profundidade de 5nm, utilizou-se a opção de etching, com uma baixa energia e uma corrente de 1000 mA, evitando assim a modificação da amostra. A estrutura eletrônica de um metal de transição (TM), particularmente os 3d, fornece há muito tempo grandes problemas intrigantes para a física e para a química. Estes compostos são altamente correlacionados, para os sistemas de elétrons onde a física essencial pode ser descrita em termos de algumas forças de interação, ou seja, uma energia de repulsão de Coulomb (U) entre os sítios d-d, a energia de transferência de carga (Δ) do ligante para o metal e a força de hibridação dos elétrons ligantes p para os elétrons do metal d [95]. A forma do espectro do XPS é determinada pela reação do sistema ao buraco que é deixado pelo elétron. Se não houver reação ao elétron de saída mede-se simplesmente a energia de ligação do nível básico. No entanto, o sistema reage ao buraco deixado pelo elétron por meio de processos de relaxação. Esta teoria parte do efeito da matriz sólida que considera a presença de um campo cristalino como consequência de como os átomos vizinhos reagem a presença do elemento absorvedor. Assim, essa teoria é normalmente chamada de teoria de multipletos em campo ligante (TMCL) [94]. A teoria parte de um hamiltoniano atômico dado por: H= pi2 Ze 2 e2 + + (ri )li .S i N 2m N r pares r + N i ij (3.22) Onde os termos descrevem: a energia cinética dos elétrons, a atração de Coulomb entre a nuvem eletrônica e o núcleo, a repulsão de Coulomb entre os elétrons e o acoplamento spin – orbita, 43 respectivamente. Nesta teoria os efeitos de hibridização são levados em conta no cálculo através de interação das configurações[96]. O termo da repulsão de Coulomb da origem aos efeitos de multipletos. Em uma linguagem simplificada podemos dizer que os multipletos são as diversas maneiras que os elétrons podem se acomodar em uma mesma configuração eletrônica. Devido aos efeitos de correlação eletrônica, cada uma dessas distribuições de elétrons tem uma energia diferente. O termo de acoplamento spin órbita aumenta ainda mais com o número de possíveis estados finais que podem ser alcançados pela espectroscopia de absorção. Para levar em conta os efeitos do estado sólido neste modelo notaramse duas contribuições: simetria local e o efeito de hibridação. A simetria local é imposta pelo campo cristalino, que em simetria cúbica (Oh) é denotado pelo parâmetro 10 Dq. Nesta simetria quando não levamos em conta a degenerescência do spin, os orbitais d tem degenerescência 5 em simetria esférica. Dentro da simetria cúbica, essa degenerescência é quebrada e os orbitais d se dividem nos orbitais Eg (degenerescência = 2) e T2g (degenerescência = 3). Os orbitais T2g compreendem os orbitais dxy, dxz e dyz que se direcionam ao longo das diagonais dos planos xy, xz e yz, respectivamente. Os orbitais dz2 e dx2-y2, definem os orbitais eg, que apontam em direção ao centro das faces do cubo. A Fig 3.2.6 mostra a orientação espacial dos orbitais d. Fig. 3.2.6 - Representação do campo cristalino para a simetria do octaedro (Oh) e para a simetria tetragonal (D4h) para orbitais d. Onde Δ é o parâmetro de transferência de carga (eV), que fornece a diferença de energia N entre as configurações (centros de) 3d e 3d campo do cristal em cada configuração. N-1 L. O valor efetivo de Δ (Δeff) é afetado pelo multipleto e efeitos do 44 3.2.6 - Espectroscopia de absorção da luz visível: Transmitância A espectroscopia de absorção da luz visível é uma das técnicas mais versátil e amplamente utilizada para investigar as estruturas eletrônicas nos materiais sólidos; ela produz os espectros de transmissão e reflexão das amostras, que fornecem informações valiosas sobre as estruturas eletrônicas. Os sólidos podem ser classificados como metal ou semicondutor, dependendo da sua capacidade de conduzir cargas elétricas. No nível microscópico, isto implica que o metal apresenta uma forte sobreposição entre as bandas de valência e condução, permitindo que o elétron se movimente livremente através do material, dando um aumento na condução da carga. Os materiais semicondutores têm a banda de valência totalmente preenchida e a banda de condução vazia por completo. As bandas de valência e de condução, encontram-se separadas por uma região proibida da faixa da energia. Os semicondutores comportam-se muito diferentemente, em comparação com o material massivo, quando o tamanho do cristal é reduzido a alguns nanômetros. Uma das características mais importantes destes materiais é a variação do gap quando o tamanho do nanocristal decresce abaixo do raio de excitação de Bohr aB. A estrutura de banda eletrônica dos semicondutores e metais é determinada por suas propriedades ópticas. A absorção óptica é o resultado da interação entre o material e a luz. Quando a frequência da luz está em ressonância com a diferença de energia entre os estados de transição permitidos ou parcialmente permitidos pelas regras de seleção, o fóton é absorvido pelos materiais e isto se reflete como uma redução da transmissão ou um aumento na absorção da luz que passa através da amostra. Através da medição da transmissão ou a absorbância da amostra em função da frequência da luz, pode-se obter um espectro característico do material. Os coeficientes de transmissão ou reflexão descrevem tanto a intensidade ou a amplitude da luz transmitida ou refletida em relação a uma luz incidente. A medição pode ser realizada em temperatura ambiente e abrange as porções infravermelha, visíveis e ultravioleta do espectro eletromagnético, precisamente de 1,7 eV a 4,5 eV ou 275 nm a 730 nm. A transmitância óptica (T) é a medida da quantidade de radiação eletromagnética. Para um comprimento de onda (λ) especifico que atravessa o meio, desconsiderando a radiação refletida e a radiação absorvida, a transmitância é definida como a razão entre a intensidade da luz transmitida (I) e a intensidade da luz incidente (I0). A transmitância é expressa comumente em porcentagem (%T) como: T ( ) %T ( ) I ( ) 100 I 0 ( ) (3.23) 45 A absorbância óptica A é uma função logarítmica na base decimal do inverso da Transmitância, que é usada para determinar o band gap óptico. A absorbância é expressa como: I ( ) A( ) log I 0 ( ) (3.24) Em geral, a transmitância decresce quanto mais grossa for a amostra; isto é atribuído ao espalhamento óptico causado pelos caminhos ópticos mais longos [97]. Por outro lado, quanto mais oxigênio tem a amostra maior é sua transmitância, pois todas as vacâncias do oxigênio são preenchidas[98]. A partir da teoria de bandas dos sólidos, o band gap de transmissão direta pode ser descrito em função da energia do fóton incidente como: (hv) A(hv Eg ) m / 2 (3.25) Onde h é a constante de Planck e ν é a frequência de oscilação. O aumento do band gap em semicondutores é devido ao aumento na concentração de portadores. Esta mudança ocorre porque a energia de Fermi fica na banda de condução para semicondutores degenerados tipo n. Os estados ocupados bloqueiam a excitação óptica ou térmica, e como consequência o band gap muda para energias maiores. Além disso, sabe-se que o aumento na borda de absorção é também devido ao aumento de desordens em filmes semicondutores. Por isso, em geral as amostras amorfas apresentam valores de band gap inferiores ao de filmes policristalinos. Uma forma mais simples de se obter a Eg é feita com o gráfico da absorbância por meio da extrapolação da reta formada no eixo de absorção ultravioleta do material com o eixo do comprimento de onda. O valor relativamente alto do band gap óptico Eopt pode ser devido ao efeito Burstein-Moss:[99] Eopt E gap 2 h 2 3N 2mr* 2/3 [eV] (3.26) Onde Eg é o gap intrínseco e m r* é a massa efetiva reduzida. Este efeito resulta do principio de exclusão de Pauli, observado em semicondutores como um aumento do band gap devido ao aumento da concentração de portadores. Esta mudança ocorre porque a energia de Fermi fica na banda de condução para semicondutores degenerados tipo n. Os estados ocupados bloqueiam a excitação óptica ou térmica e como consequência o band gap muda para uma maior energia. 46 Os espectros de absorção de UV-vis podem fornecer também uma forma conveniente para investigar o crescimento das partículas. É bem estabelecido que quando o tamanho da partícula de um semicondutor torna-se do comprimento de onda de Broglie de um elétron ou um buraco, os três confinamentos quânticos dimensionais, impostos pelas dimensões do nanocristais, ocorrem. Esta Influência do tamanho dos nanocristais na estrutura eletrônica de materiais semicondutores é representada por um marcado aumento no gap, que é atribuída ao chamado efeito de confinamento quântico. O confinamento quântico tem lugar quando o raio de Bohr do primeiro éxciton do semicondutor é comparável com o tamanho do grão. O raio de Bohr é a B h 2 0 , depende da e 2m * constante dielétrica e das massas efetivas das cargas. O aumento na banda proibida se deve ao confinamento local de cargas, que gera estados eletrônicos discretos na banda de valência e na banda de condução. A física por trás do efeito tamanho quântico pode ser qualitativamente entendida como um modelo de partícula em uma caixa[100]. Este confinamento de portadores de carga (elétrons e buracos) no volume restrito da partícula pequena faz com que os espaços entre os níveis de energia sejam aumentados quando as dimensões da caixa são reduzidas. Desta mesma ideia podemos ter um entendimento qualitativo do gap como uma redução do tamanho das partículas. Quando uma partícula é confinada em um espaço limitado, sua energia cinética pode apenas ter determinados valores discretos devido a sua massa e a dimensão da caixa. Com este modelo, pode-se esperar que as propriedades dos portadores de carga no sólido, mostrem uma dependência com o tamanho quando a dimensão do sólido torna-se suficientemente pequena. O éxciton é um termo muito importante, que muitas vezes aparece nas análises dos nanocristais semicondutores. O éxciton muitas vezes localiza-se em mini-bandas ou níveis totalmente discretos nos nanocristais com suficiente excitação óptica. Por outro lado, o band gap de um semicondutor é por definição a energia necessária para criar um elétron e buraco em repouso em relação à rede e distantes o suficiente para que sua atração de Coulomb seja insignificante. Se algum portador se aproxima para um ou outro, eles podem formar um estado ligado, também chamado de éxciton Wannier (éxcitons livres). Um éxciton livre é um par ligado elétron-buraco que tem uma energia de ligação de alguns meV (0,01 eV); devido ao seu grande raio, ele pode englobar muitos átomos. Estes estados movem-se livremente pelo cristal (estado não localizado), podendo-se considerar este éxciton como uma característica eletrônica do cristal (superposição de estados entre todos os átomos do cristal). Estes éxcitons são observados claramente a temperaturas baixas, pois a energia térmica à temperatura ambiente é de aproximadamente 0,025 eV. 47 O significado do raio de Bohr do éxciton é que ele fornece um valor limite abaixo do qual o regime quântico torna-se relevante. Isto é, o éxciton em nanocristais não irá experimentar um confinamento quântico num espaço maior do que a sua própria separação espacial elétron -buraco. Abaixo dessa barreira começa a exposição de características quânticas de dimensionamento: como a variação distinta da densidade de estados com o tamanho dos nanocristais. 48 Capítulo 4 Resultados Neste capítulo apresentamos os resultados e análises dos sistemas estudados neste trabalho, iniciando com a descrição do sistema de filmes finos de ZnO com espessura nominal de 300nm crescidos a diferentes concentrações de O2. Na seção 4.2 analisamos os sistemas de multicamadas ZnO/Fe fixando a espessura da camada de ZnO em 5 nm e variando a espessura da camada de Fe (t = 0,3; 0,4; 0,6; 0,8 e 1,0 nm); com a finalidade de interpretar o papel do ZnO na oxidação da camada ferromagnética, estudamos na seção 4.3 o sistema de multicamadas de ZnO/Fe fixando a espessura da camada de ZnO em 50nm e variando a camada de Fe (t=1 e 5nm). Na seção 4.4 estudamos os sistemas da seção 4.2, submetidas a tratamento térmico de 600 oC por duas horas, comparando suas propriedades como preparadas e recozidas. Na seção 4.5 e 4.6 estudamos as propriedades do sistema ZnO/CoFe e ZnO/NiFe fixando a espessura do ZnO em 5nm e variando a espessura do MT (t = 0,3; 0,4; 0,6; 0,8 e 1,0 nm). 4.1-Camada única de ZnO Os filmes de ZnO com espessura nominal de 300 nm foram preparadas por magnetron sputtering RF (para mais detalhes rever o capítulo 3) em substrato de vidro a partir de um alvo de ZnO puro (99,9% de pureza), com uma potência de 50 Watt à temperatura ambiente. Utilizando uma mistura de gases de argônio e oxigênio para formar o plasma com fluxo total contínuo de 25 ccpm, variou-se a concentração parcial do oxigênio na câmara de deposição de 0%, 10% e 20 %. A pressão de trabalho na câmara variou de 3 a 3.5 mTorr, com distância do alvo ao substrato de 10,3 cm. Na tabela 4.1.1 são listadas as amostras preparadas e analisadas nesta seção. 49 Tabela 4.1.1- Relação de amostras preparadas de ZnO com espessura nominal de 300 nm Nome da amostra Concentração de O2(%) Série do sistema ZnO (espessuras em nm) ZnO-0 0 Si(100)/ZnO(300) ZnO-10 10 Si(100)/ ZnO(300) ZnO-20 20 Si(100)/ ZnO(300) 4.1.1- Difração de raios X Os raios X têm um comprimento de onda da ordem de angstroms, o que é adequado para determinar a estrutura cristalográfica dos filmes mediante os picos de difração que propiciam uma informação do desvio da cristalinidade perfeita, além das distâncias interatômicas, tamanho do cristalito, grupo espacial, etc. (004) (012) (013) (110) (002) (013) (110) (002) (004) ZnO-20 (101) (100) c (004) ZnO-10 (101) (100) Intensidade (a.u) b (013) (101) ZnO_PDF: 99-100-4979; Hex. ZnO-0 (002) (100) a 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65 70 75 80 2 (graus) Fig. 4.1.1-Difratogramas dos filmes de ZnO com espessura de 300nm crescidos a temperatura ambiente sobre substrato de vidro e a diferentes concentrações de O2; onde (a), (b) e (c) correspondem à concentração de 0%, 10% e 20% respectivamente. 50 Os difratogramas foram realizados no difratômetro Bruker D8 do Laboratório de raios-X do LDRX- UFF, utilizando radiação de Cu-Kα e comprimento de onda de 1,5418 Å. A variação do ângulo do espalhamento 2θ foi de 10° a 80° com passo de 0,02 e tempo de passo de 2 seg. Na figura 4.1.1 mostramos os difratogramas das três amostras identificando seus respectivos picos. Para identificar a fase dos difratogramas se utilizou o banco de dados cristalográficos “American Mineralogist Crystal Structure Database” AMCSD identificando as fases de: ZnO com entrada # 99-100-4979 que apresenta uma simetria hexagonal, grupo espacial P63mc(186) com parâmetros de rede de a= 3,249 Å e c=5,204 Å. O difratograma corresponde a uma estrutura cristalográfica tipo wurtzita; esta estrutura não esta completamente desenvolvida, devido a supressão de picos em comparação ao ZnO em bulk[101]. Os picos visivelmente observados do ZnO da amostra ZnO-20 são de 2θ ~ 31,4o; 33,8o; 35,7o; 47,5o; 55,7o; 62,0o e 67,2o para reflexões dos planos (100), (002), (101), (012), (110), (013) e (004), respectivamente. Em comparação, a amostra ZnO-0 apresenta supressão dos picos (100), (101) e (110), em virtude de apresentar uma baixa estequiometria. Como podemos observar, os três difratogramas revelam um crescimento preferencial no plano (002) da estrutura wurtzita do ZnO indicando assim uma preferência de crescimento na orientação perpendicular ao substrato, relacionado com a elevada texturização presente em todas as amostras o que está em conformidade com o reportado na literatura[102]. A densidade de energia superficial na orientação (002) é baixa no cristal do ZnO, mas a orientação (002) é favorecida em filmes [103~ 106]. Observamos claramente a diminuição da intensidade do pico principal (002) conforme aumentamos a concentração do O2 na atmosfera de crescimento, e em contrapartida o crescimento da periodicidade do pico (100) e o decrescimento da periodicidade do pico (013). No filme crescido em atmosfera de argônio, o pico (002) foi localizado em 2θ = 34,1°, isto é, ligeiramente abaixo do que o encontrado para ZnO em pó (34,5°), revelando que os filmes podem apresentar um stress de compressão no plano[107] devido à menor concentração de oxigênio na rede de ZnO. Por outro lado, não só a tensão pode afetar a posição do pico, mas a presença de espécies absorvidas. Como é bem conhecido, ZnO é um composto polar que pode produzir filmes polares [108], podendo absorver facilmente espécies de radicais livres. Nos difratogramas o valor estimado da distância interplanar d002 é maior em comparação ao valor padrão d002 da amostra em pó (0,26033 nm, ASTM [101]), sugerindo um alongamento das células unitárias, ao longo do eixo c, e a existência de tensões de compressão ao longo do plano do filme. O parâmetro de rede hexagonal dos nanocristais de ZnO foram estimados a partir do planos (002) usando a equação: 51 1 4 h 2 hk k 2 2 3 d hkl a2 l2 2 c (4.1) Nesta equação a e c são os parâmetros da rede; h, k, e l são os índices de Miller e dhkl é a distancia interplanar para o plano (hkl). Para a obtenção dos dados do stress do filme (σfilm) paralelo à superfície para uma rede hexagonal, utilizaremos a seguinte formula[109]: film 232,8 (C film C bulk ) (4.2) (C bulk ) O stress negativo estimado para os filmes indica que a constante c da rede esta alongada, em comparação com o stress da amostra em pó. Na tabela 4.1.2 estão listados os dados obtidos dos picos no plano (002) mediante ajustes utilizando a equação de Pseudo voight 1. Além disso, é indicado o valor “estimado” do diâmetro do grão a partir da fórmula de Debye-Scherrer. Tabela 4.1.2 -Tamanho médio dos grãos cristalinos de ZnO na direção fora do plano obtido por DRX. Amostra FWMH Centro D(nm) Dhkl(Å) C (Å) σfilm (Gpa) ZnO-0 0,485 0,003 34,069 0,001 17 2,631 5,263 -2,651 ZnO-10 0,557 0,004 33,847 0,002 15 2,648 5,296 -4,149 ZnO-20 0,601 0,007 0,003 14 2,652 5,304 -4,497 33,796 O cálculo para o valor estimado de D (diâmetro médio do grão) é valido se a média dos grãos for menor de 200 nm. Este tamanho médio dos grãos (cristalitos) mede o domínio de coerência de difração. Isso quer dizer que o comprimento da largura de linha está diretamente associado à grandeza das variações dos parâmetros de rede em relação ao cristal perfeito. Podemos observar na tabela 4.1.2 que a largura de linha da amostra ZnO-20 em relação ao pico (002) é maior em comparação com as outras, indicando um alongamento do parâmetro de rede. Além disso, as variações da largura de linha estão associadas ao efeito da superfície dos grãos; a tensão superficial dos grãos modifica significativamente o parâmetro de rede nestas regiões. A maior largura de linha significa que o tamanho dos grãos é reduzido, indicando assim que em sua maioria os átomos se localizam na superfície dos grãos. 52 4.1.2 - Microscopia de força atômica (AFM) A morfologia dos filmes de ZnO foi analisada através de imagens obtidas pelo microscópio de força atômica (AFM) descrito no capítulo 3. Com este instrumento foram obtidas micrografias de 5x5 μm2 e guardadas em matrizes de 256 x 256 pixel, os defeitos na interface do filme com o ar influem diretamente nas propriedades dos filmes, e especialmente nos filmes em escala nanométrica. Na figura 4.1.2 apresentamos as micrografias correspondentes às amostras crescidas a diferentes concentrações de O2 na atmosfera de crescimento. A micrografia da amostra ZnO-0 mostra uma estrutura granular homogênea que exibe as estruturas amorfas policristalinas (diagrama de zonas para filmes crescidos por sputtering) com uma rugosidade Rms de 2,84 nm, que corresponde à rugosidade das estruturas amorfas (<5nm). As micrografias das amostras ZnO-10 e ZnO-20 revelam entretanto que os filmes de ZnO crescidos em atmosfera de Ar+O2 apresentam um crescimento não homogêneo que leva à formação de superfícies com defeitos claramente observados nas micrografias (picos e vales). Os picos observados nas amostras ZnO-10 e ZnO-20 são monocristais de ZnO formados durante o crescimento. A rugosidade média quadrática Rms 1 n 2 . Ri numericamente é definida pelo desvio médio a n i 1 partir de um nível de referência, com os picos e vales divididos em segmentos estreitos de alturas R. A Rms fornece uma descrição incompleta da rugosidade da superfície e/ou interface. A presença de irregularidades na superfície como desníveis, ondulações, depressões e platôs, pode mudar o valor da Rms, sendo estas propriedades importantes para descrever o estado de uma superfície e/ou interface. Os valores da rugosidade obtidos, pelo AFM, da superfície dos filmes de ZnO estão entre 2,84 e 7,1 nm. O tamanho de grão dos filmes de ZnO decresce com o aumento da concentração de O2, como relatado na Tabela 4.1.3, mas isso não significa que cada cristalito seja do mesmo tamanho do grão obtido, uma vez que um grão pode ser grupos de cristalitos. O tamanho de grão foi determinado utilizando o software Gwyddion[110]. Os valores da rugosidade apresentados na Tabela 4.1.3, das últimas duas amostras não correspondem ao observado consideravelmente o resultado. nas micrografias, devido às imperfeições que alteram 53 Amostra ZnO-0 Amostra ZnO-10 Amostra ZnO-20 2 Fig. 4.1.2 - Micrografias de 5x5 μm das superfícies dos filmes de ZnO crescidos a diferentes concentrações de O2 na atmosfera de crescimento. Na coluna da direita é apresentada a imagem em unidades da voltagem. 54 2 Tabela 4.1.3 -Dados obtidos das micrografias de 5 x 5μm das amostras de ZnO com espessuras de 300 nm. Amostra Rrm (nm) Dgrão (nm) ZnO-0 2,8 49,0 ZnO-10 6,3 29,6 ZnO-20 7,0 15,3 100 80 Filme de ZnO de 300 nm Rms Dgrمo 60 60 40 40 Dgrão (nm) R rms (nm) 80 20 20 0 0 5 10 15 Concentração de O2 20 0 Fig 4.1.3 -Tendência da Rrms e do tamanho médio do grão dos filmes de ZnO de 300nm de espessura crescidos a diferentes concentrações de O2. O que é observado claramente é que a rugosidade Rrm decresce com o aumento da concentração de oxigênio na câmara de crescimento; contudo aumentam as imperfeições na superfície. Na figura 4.1.3 mostramos a tendência da Rrm e do diâmetro do grão em função da concentração de oxigênio. 4.1.3-Transmitância Esta técnica é usada visto que a estrutura de banda eletrônica dos semicondutores e metais está determinada por suas propriedades ópticas. Nesta parte, estudaremos como é afetada a transmitância e a absorbância com a concentração do oxigênio na atmosfera de crescimento dos filmes de ZnO, e como conseqüência disto o deslocamento do gap para o infravermelho. As amostras de ZnO com espessuras de 300 nm são medidas a temperatura ambiente e apresentam uma alta transmitância na faixa do visível. A figura 4.1.4 mostra as medidas de transmitância em função do comprimento de onda para as três amostras na faixa de energia de 1 eV – 6,2 eV onde podemos observar claramente as bandas de absorção. As franjas de interferência são perfeitas nas regiões 55 infravermelha e visível do espectro eletromagnético (1,4 eV-2,8 eV) o que sugere que os filmes apresentam baixas rugosidades (o que é confirmado com os dados do AFM). A diferença entre as franjas de interferência das duas amostras crescidas em atmosfera de oxigênio é de 0,16 eV; este fato indica que o índice de refração destas três amostras não são iguais. Os filmes de ZnO são transparentes na região visível até a borda de absorção. Podemos observar que os filmes crescidos em atmosfera mista de Ar + O2 superam em ~ 20 % a transmitância do filme crescido em atmosfera de argônio, pois os filmes com maior concentração de oxigênio apresentam uma superfície mais suave (mas apresentam defeitos cristalográficos) em comparação à amostra ZnO-0 e/ou pela baixa qualidade do filme de ZnO devido ao excesso de átomos de Zn durante o crescimento que produziriam mais defeitos, tais como átomos de Zn intersticiais levando a uma menor transmitância do filme de ZnO crescido em atmosfera de argônio na região do ultra violeta (UV). Por outro lado, a borda de absorção para todos os filmes esta na faixa de 3,26 eV - 3,35 eV. O aumento na borda de absorção é também devido ao aumento das desordens nos filmes semicondutores. Por isso, amostras amorfas apresentam valores do band gap ópticos inferiores ao do filme policristalino. Transmitância(%) 100 ZnO-10 ZnO-20 80 60 40 ZnO-0 Tmedia ZnO-0 = 74,25% Tmedia ZnO-10 = 88,15% 20 T mediaZnO-20 = 86,09% 0 200 300 400 500 600 700 800 900 1000 1100 1200 Comprimento de onda (nm) Fig 4.1.4 – Os espectro de transmitância dos filmes de ZnO crescidas com diferentes concentrações de O2. O band gap óptico das amostras do ZnO apresentado na figura 4.1.5 foi obtido através da extrapolação da reta (relação de Tauc). De acordo com a borda de absorção observada no gráfico esperava-se que os valores de Eopt aumentassem com a concentração de oxigênio na atmosfera de crescimento. Isto de fato não é observado, visto que a densidade dos portadores de carga (elétrons 56 ou buracos) tendeu a subir com o aumento do O2 na atmosfera de crescimento. O valor relativamente alto do band gap óptico Eopt pode ser devido ao efeito Burstein-Moss ou conseqüência do stress do filme fino ao longo do eixo c; o stress obtido pelas medidas de DRX é negativo tendo uma natureza tensiva, fazendo com que a energia da banda óptica proibida seja alargada devido ao aumento da repulsão entre as bandas 2p do oxigênio e 4s do zinco[111]. Na figura 4.1.5 (a) podemos observar que os filmes conservam também seu band gap intrínseco do ZnO característico em ~ 3,33 eV. ZnO-20_Eopt(1) = 3,511 eV ZnO-0 ZnO-10_Eopt(2) = 3,603 eV Pico do éxiton = 360 nm (3,45 eV) B (h)2 u.a. ZnO-0_Eopt(3) = 3,924 eV ZnO-20 ZnO-10 3.0 3.1 1 3.2 3.3 3.4 3.5 2 3 3.4 3.5 3.6 3.7 3.8 3.9 4.0 4.1 4.2 4.3 4.4 h (eV) 250 300 350 400 450 500 550 nm Fig. 4.1.5 -(a) Gráfico de (hv) versus energia do fóton para os filmes de ZnO e (b) gráfico da absorbância 2 versus comprimento de onda. Por outro lado, as medições de absorção de UV também podem fornecer uma indicação qualitativa da distribuição do tamanho do cristal. Os picos excitônicos pronunciados no espectro de absorção mostrado na figura 4.1.5 (b) com centro de ~ 3,45 eV, são de fato um indicativo da ampla distribuição de tamanho dos grãos nas amostras. O valor calculado do raio de Bohr do éxciton para o ZnO é de 25,4 nm segundo a referencia[112]. Embora, o diâmetro estimado do nanocristalito pela medida de DRX aponta um máximo de 17 nm, o que indicaria a existência de confinamento quântico uma vez que o radio de Bohr do primeiro éxciton do semicondutor é comensurável com o tamanho do grão. Na tabela 4.1.4 apresentamos os dados do gap óptico e da posição do pico do éxciton obtidos dos gráficos. 57 Tabela 4.1.4-Dados obtidos dos espectros de transmitância dos filmes de ZnO. Amostra Eopt (eV) Pico do éxciton (nm) ZnO-0 3,92 365,9 ZnO-10 3,60 365,5 ZnO-20 3,51 364,7 De acordo com os resultados obtidos, utilizaremos as condições de crescimento da amostra ZnO-0, nas multicamadas de [ZnO/Fe], pois apresenta uma boa transmitância em uma espessura de 300 nm, baixa rugosidade sem defeitos cristalográficos e tamanho de cristalito menor que o radio de Bohr do éxciton, esta ultima propriedade lhe agregaria um interessante comportamento à estrutura eletrônica da multicamada. 4.2- Multicamadas de ZnO/Fe As multicamadas [ZnO(5nm) / Fe (t nm)]x6 foram preparadas por pulverização seqüencial de ZnO e Fe sobre substrato de Si (100) à temperatura ambiente. Uma série de multicamadas de ZnO / Fe foram preparadas, mantendo-se constante a espessura nominal da camada de ZnO (5nm) e mudando a espessura nominal da camada de Fe (t), t=0,3; 0,4; 0,6; 0,8 e 1nm. Uma camada adicional de 5nm de ZnO foi depositada sobre cada amostra. Na tabela 4.2.1 são listadas as amostras preparadas e analisadas nesta seção. Tabela 4.2.1- Relação de amostras preparadas de ZnO/Fe com espessura nominal de ZnO fixo de 5 nm e variando a espessura do Fe (t=0,3; 0,4; 0,6; 0,8 e 1,0 nm). Nome da amostra Série do sistema ZnO/Fe (espessuras em nm) Fe3 Si(100)/[ZnO(5)/Fe(0,3)]6/ZnO(5) Fe4 Si(100)/[ZnO(5)/Fe(0,4)]6/ZnO(5) Fe6 Si(100)/[ZnO(5)/Fe(0,6)]6/ZnO(5) Fe8 Si(100)/[ZnO(5)/Fe(0,8)]6/ZnO(5) Fe10 Si(100)/[ZnO(5)/Fe(1,0)]6/ZnO(5) 58 4.2.1- Difração de raios X Na figura 4.2.1 mostramos o padrão de DRX da amostra Fe3. Para uma interpretação correta dos picos de difração é preciso iniciar com uma análise das fases utilizando um banco de dados cristalográficos. Como podemos observar o espectro de DRX da figura 4.2.1 revela um pico significativo que engloba picos satélites que seriam sinais das fases contidas na amostra. Os picos estreitos foram identificados como reflexões do substrato de silício. As fases do difratograma foram identificadas usando a base de dados “American Mineralogist Crystal Structure Database” AMCSD identificando para esta amostra as fases de: ZnO com entrada #03-065-2880 que apresenta uma simetria cúbica, grupo espacial F-43m (216) com parâmetro de rede de a=4,629Å; Fe3O4 com entrada # 99-100-2086 que apresenta uma simetria ortorrômbica, grupo espacial Pbcm (57) com parâmetro de rede de a = 2,7992 Å, b = 9,4097 Å e c = 9,4832 Å e Fe2O3 com entrada # 99-200-4192 que apresenta uma simetria trigonal (romboedral), grupo espacial R-3c (167) com parâmetro de rede de a = 5,431 Å e α = 55,23o. Mas é observado também a formação da fase do ZnO com entrada # 99-100-4979 que apresenta uma simetria hexagonal, grupo espacial P63mc(186) com parâmetros de rede de a = 3,249 Å e c = 5,204 Å nas outras amostras da série. Portanto, indicaremos como orientação preferencial o pico (002) desta última fase do ZnO por ser a mais predominante na série (como pode ser observado na figura 4.2.2). A reflexão (002) indica uma forte orientação de crescimento perpendicular ao substrato. Fig. 4.2.1- Caracterização da amostra Fe3 crescida a temperatura ambiente. 59 Na figura 4.2.2 são mostrados os difratogramas de raios-X da serie [ZnO(5nm)/Fe(t)]x6, com tFe= 0,3; 0,4; 0,6; 0,8 e 1,0 nm onde pode-se observar claramente que para espessuras maiores do Fe existe uma orientação preferencial no plano (002), este plano contém o eixo c para a estrutura wurtzita do ZnO. Observamos também nos difratogramas uma diminuição dos picos do silício; isto é devido aos filmes apresentarem uma textura, e dependendo da posição da amostra tem-se o sinal do substrato. Fora do pico principal não observamos reflexões correspondentes ao Fe ou alguma fase intermetálica Fe-Zn ou Fe-Zn-O; isto pode ser devido à baixa concentração do Fe no filme. Considerando ainda que a reflexão do Fe é dificultada devido à fluorescência causada pelo uso de uma fonte de Cu de raios-X e ao numero atômico do Fe (Z=26) ser menor que o do Zn (ZnO: Zn→Z=30 e O→Z=8), fazendo com que a sinal do Fe seja difícil de se detectar. Portanto, as indicações da existência das fases secundárias por DRX são difíceis de separar. Intensidade (a.u.) (013) (002) ZnO-0x2 Fe3 Fe4 Fe6 Fe8 Fe10 20 25 30 35 40 45 2 (graus) 50 55 60 65 Fig. 4.2.2- Difratogramas dos filmes de ZnO/Fe com diferentes espessuras de Fe, a amostra ZnO-0 foi colocada como referência. 60 Fe2O3_PDF: 99-200-4192; Rhombohedral Fe3O4_PDF: 99-100-2086; Orthorhombic ZnO_PDF: 99-100-4979; Hex. Fe3 Intensidade (a.u.) Pico principal (heteroestrutura) (023) (111) (110) Fe6 Fe8 ZnO(111) Fe3O4(023) Fe3O4(111) Fe2O3(11-1) 32.0 32.5 33.0 33.5 34.0 34.5 35.0 35.5 36.0 (002) (211) (10-1) Fe10 (101) 2 (graus) (100) Intensidade (a.u.) Fe4 Fe3 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 2 (graus) Fig. 4.2.3- a) Amplificação do pico principal dos difratogramas da Fig. 4.2.2 mostrando as diferentes fases e b) ajuste das fases mistas do Fe e do ZnO na amostra Fe3. Para o crescimento dos filmes utilizamos taxas baixas de deposição, permitindo que os átomos se organizem, o que não acontece quando são utilizadas taxas altas de deposição (>1.0 Å/s); isto pode explicar o crescimento com textura das multicamadas. Este crescimento com textura é muito similar ao crescimento epitaxial de filmes, onde são utilizadas taxas baixas de deposição. A largura de linha do pico da multicamada é muito maior em comparação a um filme massivo de ZnO devido possivelmente às tensões residuais, defeitos, ou ao tamanho de grãos. Na figura 4.2.3 é mostrado uma amplificação do pico principal das multicamadas, que contém também informação sobre as fases do Fe (como é observado na figura 4.2.1). 4.2.2- Microscopia de força atômica (AFM) A morfologia das multicamadas foi analisada com a finalidade de se obter informação sobre a rugosidade entre as interfaces, utilizando-se o microscópio de força atômica (AFM) descrito no capítulo 3. Como as amostras são formadas por multicamadas de ZnO/Fe, consideramos que a rugosidade da superfície é da mesma ordem que a rugosidade da interface. Contudo, é preciso considerar que a rugosidade da primeira camada do ZnO pode ser diferente devido à adesão com o 61 substrato de silício. A figura 4.2.4 apresenta os resultados das micrografias das amostras tomadas numa área de 5x5 μm2 com 256 x 256 pixel. Das micrografias apresentadas, podemos observar claramente que a rugosidade da superfície da amostra Fe3 é muito maior que a rugosidade das outras duas. A diferença da rugosidade entre as amostras neste trabalho é apenas devido à diferença da espessura das amostras, mais precisamente devido à espessura da camada de Fe, pois a espessura nominal do ZnO em todas as amostras é de 35 nm. Isto pode ser devido à rugosidade da camada de ZnO ser bem maior do que a rugosidade da camada de Fe. Quando se deposita maior quantidade de Fe a superfície pode ficar mais lisa. Além disso, podemos relacionar aqui o resultado que observamos por DRX, onde o ZnO para a amostra Fe3 é identificado como uma fase que apresenta simetria cúbica e direção de crescimento (111) sendo este fato que produz uma maior rugosidade, além das imperfeições, que causa o casamento com a rede do Fe, escassamente depositado (0,3 nm). Nas amostras Fe6 e Fe10, que apresentam uma menor rugosidade nas micrografias, é observado nos difratogramas que o ZnO apresenta uma simetria hexagonal com direção de crescimento (002), direção perpendicular ao plano do filme. A rugosidade Rms foi calculada e os resultados são mostrados na tabela 4.2.1, considerando uma área de 5 x 5 μm2. É preciso destacar que o tamanho do grão do ZnO obtido por AFM não é necessariamente o mesmo obtido por DRX (tamanho de cristalito), pois o tamanho do grão obtido por AFM pode resultar de grupos de cristalitos. A partir dos dados da tabela pode-se ver que a rugosidades é muito maior que a espessura do Fe depositado por camada, além de apresentar uma grande incerteza. Tabela 4.2.2-Dados obtidos com as análises da morfologia dos filmes da série [ZnO(5nm)/Fe(t)]. Amostra Rrm (nm) Dgrão (nm) Fe3 34 3 44 Fe4 10 9 41 Fe6 8 3 27 Fe8 14 6 50 Fe10 12 6 26 62 Amostra Fe3 Amostra Fe6 Amostra Fe10 2 Fig. 4.2.4 - Micrografias de 5x5 μm das superfícies da série dos filmes de[ZnO(5nm)/Fe(t)]x6 onde t= 0.3, 0.6 e 1nm. Na coluna esquerda apresentamos a topologia em nanômetros e na coluna direita em voltagem. 63 Na figura 4.2.5 apresentamos um modelo para determinar a rugosidade da interface entre o ZnO/Fe, para isto precisamos ter a rugosidade do ZnO e a espessura da camada ferromagnética, denotando como R a rugosidade e d a espessura, considerando dois limites, R d e R d . Quando R d a quantidade do material é tão pequena que não forma uma camada contínua, neste caso a camada ferromagnética está na forma de muitas ilhas isoladas (tendência a formar nanopartículas), se continuarem depositando, algumas partes das ilhas podem se conectar umas às outras (percolado); se depositar ainda mais, todas as ilhas se conectam formando uma camada. Tendo em conta este modelo, podemos dizer que a interface ZnO/Fe da amostra Fe3 se encaixaria no esquema (a) da figura, considerando que temos 0,3 ~ 1,0 nm de Fe, (a espessura da camada do Fe é bem menor que a Rrm, temos uma grande possibilidade de que o Fe passa formar as nanopartículas. Um ponto importante na análise da morfologia é que estas multicamadas apresentam na sua superfície (amostras com tFe= 0,6 e 1 nm) uma espécie de orientação, que poderia ser a orientação predominante (002) do ZnO hexagonal, mas este comportamento não é observado na amostra com tFe= 0,3 nm, visto que afirmamos que a orientação do ZnO é cúbico. Esta orientação na superfície poderia ser a causa dos filmes apresentarem uma textura. Observamos também que a morfologia dos filmes não apresenta picos elevados nem vales profundos. Fig. 4.2.5- Esquema da interface entre ZnO e Fe (a) espessura do Fe <<R; (b) espessura do Fe <R ; (c) espessura do Fe >R e (d) espessura do Fe>>R. Figura esquemática retirada da referência[113]. Apesar de não termos dados do diâmetro do cristalito por DRX, podemos comparar os dados do diâmetro médio obtidos por AFM com os dados dos diâmetros dos cristalitos do filme de ZnO crescido com uma espessura de 300 nm em atmosfera de argônio, da amostra ZnO-0 e da multicamada Fe50/1 [ZnO(50nm)/Fe(1nm)] de onde obtemos um diâmetro aproximado do cristalito 64 de ZnO de 17 nm e 15 nm, respectivamente. Comparando estes dados com os obtidos por AFM nesta série, podemos dizer que o diâmetro observado corresponde a grupos de cristalinos. 4.2.3 - Propriedades magnéticas As propriedades magnéticas estáticas e dinâmicas foram estudadas mediante medidas de magnetização em função da temperatura e campo externo utilizando o magnetômetro de amostra vibrante (VSM) e a espectroscopia de ressonância ferromagnética (FMR) com campo no plano e fora do plano do filme. A seguir vamos discutir os resultados. 4.2.3.1- Propriedade magnética estática (VSM) Na figura 4.2.6 mostramos as curvas de magnetização em função do campo M(H) da série de multicamadas de [ZnO(5nm)/Fe(t)]x6 com espessura t= 0,3; 0,4; 0,6; 0,8e 1,0 nm medidas a temperatura ambiente com campo aplicado no plano. Como pode ser observado, as amostras atingem uma magnetização de saturação com campos inferiores de 1,5 T com exceção a amostra Fe6. As formas das três primeiras curvas de histerese mostram uma tendência; sendo o comportamento da curva de histerese da amostra Fe10 mais parecido a de um filme com anisotropia no plano; a curva de histerese da amostra Fe6 é mais parecida a uma curva de histerese de um superparamagneto. Uma mudança total na forma da curva de histerese ocorre nas duas últimas amostras devido à contribuição da interface, que é diferente para as camadas finas e a camada grossa do Fe; portanto, a fase ferromagnética é praticamente suprimida pela fase secundária nestas últimas amostras, apresentando uma magnetização de saturação de aproximadamente 80% menor que a amostra com tFe=1 nm. Podemos observar claramente o aumento da magnetização de saturação em função da espessura do Fe que varia entre 3,5 x 102 emu /cm3 a 1,70 x 103 emu /cm3 considerando o volume do material ferromagnético de cada amostra. Para obter a área da amostra utilizamos o microscópio óptico da marca Stemi 2000-C ZEISS que está integrado com um adaptador à câmera fotográfica digital e o programa Axio Vision LE. Com a espessura das camadas de Fe, nós podemos obter o volume de Fe. Este procedimento foi realizado para todas as amostras desta tese. 65 2000 Fe10 Fe8 Fe6 Fe4 Fe3 Magnetização (emu/cm 3) 1500 1000 500 0 -500 -1000 -1500 -2000 -2 -1 0 1 2 Campo magnético (T) 2000 Fe10 Fe8 Fe6 Fe4 Fe3 1000 500 0 1000 Magnetizaç ão (emu/cm 3) Magnetização (emu/cm 3) 1500 -500 -1000 -1500 500 0 -500 -1000 -0.02 0.00 0.02 Campo magnético (T) -2000 -2 -1 0 1 Campo magnético (T) 2 Fig. 4.2.6-Loop de histerese da série ZnO/Fe , com sinal do porta amostra e substrato, b) sem o sinal de porta amostra e substrato. Figura inserida: a amplificação mostra uma melhor diferença do campo coercitivo e a magnetização de reminiscência da série. 66 Medidas de magnetização em função do campo M(H) também foram realizadas com temperatura de 50K para a amostra Fe10 (tFe=1 nm). Na figura 4.2.7 apresenta para comparação as duas curvas dos loops de histerese medidos a 300K e 50K. Podemos observar claramente o aumento da magnetização de saturação em 25%, além do aumento do campo coercitivo em mais de 100 % mostrado na figura inserida. A histerese magnética a 50 K apresenta uma pequena deformação no ciclo de histerese, o que sugere uma possível distinção entre duas fases magnéticas, esta possível distinção é característica de duas fases magneticamente desacopladas. Na figura 4.2.8 apresentamos as curvas de magnetização em função do campo medidas à temperatura ambiente, com campo magnético externo perpendicular ao plano do filme e com campo magnético no plano do filme, referentes; à amostra Fe10. Para comparar as duas curvas normalizam-se os valores do eixo “y” dividindo os valores da magnetização pela magnetização de saturação (M/Ms). Podemos ver na figura que os momentos magnéticos se alinham mais facilmente no plano que na direção perpendicular. Então a anisotropia da camada de Fe esta no plano da amostra. A constante de anisotropia efetiva é calculada como: Keff Area M s (4.2.1) A área na fórmula é a área obtida entre as duas curvas de histerese em unidades de erg / cm3, utilizando para isto o método das áreas [114], isto é à área entre as duas curvas (indicada com uma seta na figura) em função do campo aplicado. A magnetização de saturação da amostra Fe10 é 1,70 X103 emu / cm3 substituindo estes valores na fórmula obtemos que Keff = -4, 2 5 x106 erg/cm3. As medidas de magnetização em função da temperatura tiveram como objetivo observar a existência de alguma transição de ordem magnética das partículas Fe. As medidas foram feitas nas modalidades chamadas de zero field cooling(ZFC) e field cooling(FC). Para obter a curva ZFC, nós primeiro esfriamos as amostras a uma temperatura inferior a temperatura de bloqueio sem campo aplicado. Em seguida, aplicamos um campo e medimos a magnetização quando elevamos a temperatura. Depois que a temperatura subiu acima da temperatura de bloqueio, diminuímos a temperatura da amostra novamente, mas com campo aplicado; quando a temperatura é reduzida com campo, a magnetização da amostra aumenta à medida que o momento magnético se alinha ao longo do campo lentamente devido ao efeito térmico. Logo, medimos a magnetização quando elevamos à temperatura, obtendo desta forma a curva FC. 67 3000 Fe10 50 K 300 K 1000 0 2000 1000 -1000 Moment (emu) Magnetizaç ão (emu/cm 3) 2000 -2000 0 -1000 -2000 -0.06 -0.04 -0.02 0.00 0.02 0.04 0.06 Magnetic Field (Oe) -3000 -1.0 -0.5 0.0 0.5 1.0 Campo magnético (T) Fig. 4.2.7-Comparação das curvas M(H) medidas a 300K e 50K da multicamada com t=1nm. Figura inserida se observa o incremento do Hc medido a 50K. 1.0 0.5 Fe10 Perpendicular No plano Hk= ~1T M/M s T= 300 K 0.0 Keff =- 4,250x106erg/cm3 -0.5 -1.0 -2 -1 0 1 2 Campo magnético (T) Fig. 4.2.8 - Magnetização em função do campo medidas a RT, com campo magnético externo perpendicular. Na figura 4.2.9 são apresentadas as medidas de magnetização de ZFC/ FC em função da temperatura para a série das multicamadas, com campo externo aplicado de 50 Oe. Nestas medidas observamos que o comportamento magnético das amostras dentro da série varia, sendo a ordem ferromagnética favorecida pelo aumento da espessura da camada de Fe (t). As amostras mostram um comportamento de sistemas granulares. Quando a espessura do Fe é maior, na temperatura alta, as curvas de ZFC e FC se juntam, significando que com o campo aplicado (50 Oe) não há histerese. 68 500 400 a Fe3 ZFC FC 300 200 100 0 500 400 b Fe6 c Fe8 M (emu/cm 3) 300 200 100 0 1000 800 600 400 200 0 1500 TB=124 K Tirre=73 K d Fe10 1000 500 0 50 100 150 200 250 300 Temperatura (K) Fig. 4.2.9 –M(T) de ZFC/FC da serie [ZnO(5nm)/Fe(t)] com um campo aplicado de 50 Oe. Nas temperaturas baixas, as curvas de FC e ZFC se separam, mostrando a existência da histerese e da ordem ferromagnética. Considerando que os sistemas possuem uma camada muito fina de Fe, podemos entender o comportamento como: a camada de Fe formou nanopartículas e na temperatura alta elas estão no estado superparamagnético, mas na temperatura baixa, os momentos do Fe das nanopartículas estão bloqueados e no estado ferromagnético. A temperatura de bloqueio depende dos diâmetros das nanopartículas. Então com a camada de Fe mais fina, esperamos nanopartículas menores, com temperatura de bloqueio mais baixas. A amostra Fe6 não mostra a temperatura de bloqueio, provavelmente devido ao tamanho menor deles. As medidas só foram até 50 K (limitado pelo equipamento), esperamos que a temperatura mais baixa que 50 K, possamos observar a temperatura de bloqueio para esta amostra. A transição superparamagnética para as nanopartículas de ferro pode ser observada nas curvas de ZFC / FC. Além disso, nas duas amostras as curvas ZFC são claras (amostra Fe8 e Fe10) e mostram um platô bastante amplo, refletindo o fato de que essas amostras têm uma ampla distribuição de tamanho de partículas. No entanto, acima da temperatura de bloqueio, as partículas se comportam como superparamagnéticas devido à predominância de flutuações térmicas sobre a energia de anisotropia magnetocristalina; este fato não é observado na amostra Fe10, pois o platô se estende até a temperatura de 300K. A temperatura baixas inferiores a temperatura de bloqueio, as 69 orientações dos momentos magnéticos das partículas são congeladas (bloqueados) em direções aleatórias, impedindo-os de girar livremente. Portanto, a magnetização da amostra torna-se muito pequena a baixas temperaturas. Com o aumento da temperatura, algumas partículas são desbloqueadas devido à flutuação térmica, por conseguinte, a magnetização da amostra aumenta. À temperatura de bloqueio, todas as partículas são desbloqueadas, e a magnetização torna-se máxima. Acima da temperatura de bloqueio, o momento magnético das partículas desbloqueadas flutua devido à energia térmica, que indica um comportamento superparamagnético. Por conseguinte, acima da temperatura de bloqueio, a magnetização da amostra decresce à medida que a temperatura aumenta; este fato é observado claramente na amostra Fe8. A figura 4.2.9 d) da amostra Fe10 identifica a temperatura máxima na curva ZFC, que é ~155 K. Esta temperatura de bloqueio corresponde à energia térmica necessária para desbloquear o momento das partículas. A curva de ZFC na figura reflete o fato de que a amostra tem uma ampla distribuição de tamanho de partícula. Podemos observar que acima da TB as partículas apresentam um comportamento ferromagnético quase constante, infelizmente não se fez medidas a temperaturas maiores que 300K, mas podemos observar que o comportamento ferromagnético desta multicamada pode facilmente atingir altas temperaturas. Para altas temperaturas as curvas ZFC e FC são coincidentes, mas quando a temperatura se aproxima à TB as curvas começam a divergir desde uma temperatura (temperatura de irreversibilidade) de 185 K. Esta temperatura indica o inicio do bloqueio das partículas de diâmetros maiores; acima desta temperatura as partículas se encontram em estado superparamagnético. As curvas ZFC/FC da amostra Fe10 com campos diferentes são mostrados na figura 4.2.10. Nesta figura, podemos observar claramente que o máximo da curva (temperatura de bloqueio) decresce à medida que aumenta o campo aplicado. Além disso, observa-se a contribuição diamagnética do ZnO nas curvas de ZFC a baixos campos aplicados. Na tabela 4.2.3 são apresentados os dados obtidos da Fig 4.2.10. 70 1500 a 1000 ZFC T bloqueio=96 K FC Haplicado =75 Oe 500 1500 M (emu/cm 3) 1000 b T bloqueio=103 K 500 0 2000 1500 Haplicado =50 Oe c 1000 500 0 -500 1500 T bloqueio=136 K Haplicado =30 Oe d 1000 500 T bloqueio=213 K Haplicado =10 Oe 0 -500 50 100 150 200 250 300 Temperatura (K) Fig. 4.2.10-M(T) de ZFC/FC da amostra Fe10 com diferentes campos aplicados. Tabela 4.2.3-Dados obtidos com as análises das curvas de ZFC/FC da amostra Fe10 com diferentes campos aplicados. Amostra Fe10 TB (K) Tirre(K) 10 248 212 30 173 169 50 155 134 75 116 110 100 112 94 Com as medidas da magnetização em função da temperatura (ZFC) com diversos campos aplicados, podemos testar uma possível fase magnética de vidro de spin presente no sistema, usando a linha de Almeida Thouless (AT). Esta linha separa a fase paramagnética de altas temperaturas e altos campos para a fase vidro de spin de baixas temperaturas e baixos campos. A dependência do campo é descrito como [115]: 71 T (H ) H AT 1 irr Tirr (0) 3/ 2 (4.2.2) Onde T0 representa a temperatura de irreversibilidade em campo zero. Para obter a Tirr(0), se utilizou uma extrapolação obtendo um valor de 240K como é mostrado na figura 4.2.11 a) a partir dos dados apresentados. 1500 1000 H aplicado 10 Oe H aplicado 30 Oe 0 H aplicado 50 Oe H aplicado 75 Oe H aplicado 100 Oe -500 50 100 150 200 250 300 10 2/3 500 (Oe 2/3 ) 15 H M (emu/cm 3) Experimental Ajuste 20 5 Tirr (H=0)=240 K 0 100 Temperature (K) 150 200 250 Tirr (K) Fig. 4.2.11- a) Magnetização (ZFC) dependente da temperatura para o filme e b) Dependência do campo em função da Tirr para a obtenção Tirr (H=0). Na figura 4.2.12, apresentamos a dependência da temperatura de irreversibilidade sobre o campo aplicado para obter a linha de Almeida Thouless. Como podemos observar no gráfico a temperatura de irreversibilidade mostra uma dependência de lei de potência com o campo (equação 4.2.2), esperava-se um campo de corte acima do qual a mudança da temperatura de irreversibilidade com o campo aplicado se tornaria menor. Como observamos, não atingimos este campo de corte (o campo maior que aplicamos foi só de 100 Oe). É sabido que a energia do campo de corte (E=μHc), é comparável à energia da barreira media de uma partícula, Ea, de um sistema de partículas multidispersas. Se a energia do campo de corte fosse maior que a energia da barreira média de uma partícula (μHc>Ea), o sistema de partículas seria mais suscetível a ser desbloqueado, conseqüentemente, a temperatura de bloqueio decresce rapidamente com o aumento do campo aplicado. Para as interações fracas de um sistema de partículas estas duas regiões são separadas por Hc~150 Oe[116]. Sistemas de nanopartículas com interação dipolo-dipolo normalmente possui uma temperatura de bloqueio superior. Portanto, o campo de corte deve ser maior do que para uma interação fraca de partículas[112]. Neste contexto nosso sistema (amostra Fe10) possui uma temperatura de bloqueio superior, o que pode nos indicar que se trata de um sistema com interações dipolares fortes, que apresenta campo de corte Hc elevado. 22 Temperatura de bloqueio (K) 72 Experimental Ajuste 20 18 H2/3 (Oe)2/3 16 14 12 10 8 6 4 0.1 0.2 0.3 0.4 [1-Tirr(H)/Tirr(0)] 0.5 0.6 260 Experimental Ajuste 240 Equation 220 y = A1*exp(-x/t1) + y0 Adj. R-Squ 0.93312 Value 200 180 Standard Er B y0 98.0132 25.85339 B A1 194.095 25.53901 B t1 36.6959 16.54806 160 140 120 100 0 20 40 60 80 100 Campo aplicado (Oe) Fig.4.2.12- a) Linha de Almeida Thouless (AT), para determinar o H c (campo que divide a fase paramagnética com a fase de vidro de spin) e b) Dependência da temperatura de bloqueio em função do campo externo aplicado. Na curva de M(T)de ZFC e FC da amostra Fe10 observa-se uma diferença entre a temperatura de bloqueio (Tmax da curva ZFC ou TB) e temperatura de irreversibilidade (temperatura em que se separam as curvas de ZFC e FC); a diferença que se observa entre TB e Tirre é um indicativo da presença de um distribuição de barreiras de energia devido à distribuição de tamanhos das nanopartículas na amostra (distribuição de temperaturas de bloqueio). No caso de um sistema ideal de partículas magnéticas não interagentes com um mesmo tamanho ou uma distribuição de tamanhos muito estreitos se teria TB=Tirr. A Tmax está relacionada com a temperatura de bloqueio mais provável <TB>, através da função de distribuição de tamanhos das nanopartículas do sistema. Analisando as componentes da magnetização no regime bloqueado, MZFC e MFC, chegamos à relação: [ M ZFC(T ) M FC (T )] TB f (TB ) T (4.2.3) Onde f(TB) é a função de distribuição de tamanhos escrita em termos da temperatura de bloqueio. A partir das medições da magnetização em condições de ZFC e FC pode se obter informação da distribuição das barreiras de energia para um dado sistema de partículas. Na figura 4.2.13 apresentamos a curva f(TB) da amostra Fe10. A partir do máximo desta curva se determinou o valor da temperatura de bloqueio mais provável <TB> = 65,7K, a qual corresponde à temperatura de bloqueio do máximo da distribuição de tamanhos das nanopartículas. A partir deste valor e do volume V das nanopartículas, se pode estimar o valor da constante de anisotropia efetiva Keff do sistema (usando o tempo de relaxação de uma partícula superparamagnética). 73 K eff V K BTB Ln m 0 (4.2.4) Onde KB é a constante de Boltzmann, τm é o tempo de medição (tipicamente ~100 segundos neste tipo de experimento) e τ0 é constante de tempo de relaxação característico do sistema, em geral da ordem de ~10-10 seg. <Tb>= 59K Fe8 40 Haplicado =50 Oe 20 40 d(ZFC-FC)/dT d(ZFC-FC)/dT 60 Fe10 <Tb>= 65.7K 20 Haplicado =50 Oe 0 0 50 100 150 200 Temperature (K) 250 300 50 100 150 200 250 Temperatura (K) 300 Fig. 4.2.13-As figuras representa a derivada d(MZFC-MFC)/dT dos dados experimentais da amostra Fe10 e Fe8 respectivamente, o ajuste representa uma gaussiana. A anisotropia efetiva calculada a partir da Eq. 2 é de Keff= 4,25 x 105J/m3, consideravelmente maior que o valor correspondente ao do Fe cristalino fcc massivo: Keff= 5x104 J/m3. O aumento da anisotropia efetiva com a redução do tamanho das partículas tem sido estudado em numerosos sistemas, e é atribuído ao incremento da contribuição da anisotropia de superfície ao crescer a relação superfície/volume. 4.2.3.2- Propriedade magnética dinâmica (FMR) As medidas de FMR foram feitas a temperatura ambiente para as amostras da série [ZnO(5nm)/Fe(t)] foram analisadas apenas as amostras com espessura t= 0,6; 0,8 e 1,0 nm. A seguir descreveremos com mais detalhes os espectros obtidos iniciando com a amostra de espessura t=1nm (Fe10). 74 Derivada da absorção (u.a.) modo 1 Fe10 3 2 =36o =26o =12o =6o 1 0 -1 =46o -2 -3 =14o =10o =0o =86o modo 2 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1.0 Campo Magnético (T) Fig. 4.2.14 -Espectros de FMR medidos a temperatura ambiente da multicamada [ZnO(5nm)/Fe(1 nm)]x6 para diferentes ângulos entre o campo aplicado e a normal ao plano do filme. Esta amostra apresenta espectros com dois modos de ressonância, tanto com campo aplicado paralelo como perpendicular ao plano do filme. Na figura 4.2.14 são apresentados alguns espectros de FMR, com diferentes ângulos entre a normal ao plano e o campo aplicado. A amplitude dos sinais está normalizada pelo ganho eletrônico fornecido pelo equipamento. O comportamento dos espectros em relação ao ângulo é típico de materiais com eixo fácil no plano, pois o campo externo no plano, necessário para que haja absorção de micro-ondas, é muito menor que na configuração perpendicular. Isso é atribuído à enorme contribuição negativa da energia desmagnetizante na configuração perpendicular. O campo necessário para obter a ressonância na orientação perpendicular para o primeiro e segundo modo foi de 1,03 T e 0,94 T. Normalmente um filme de Fe tem um campo de ressonância na orientação perpendicular de 2,2 T, a redução do valor do campo de ressonância na orientação perpendicular é devida a uma redução da magnetização por efeitos de dimensionalidade. Deve-se considerar também que os efeitos da anisotropia da interface filme/substrato torna-se mais relevantes com a redução da espessura. 75 Derivada da absorção (u.a.) =86o =26o r r r2 r2 0.05 0.10 0.15 0.20 0.25 0.3 0.4 0.5 0.5 0.6 0.7 =0o =14o r 0.6 r r2 0.7 0.8 0.9 0.8 0.9 1.0 1.1 Campo magnético (T) Fig. 4.2.15- Espectros de FMR da amostra [ZnO(5nm)/Fe(1nm)]6 para algumas orientações do campo magnético entre o plano e a perpendicular do filme. Onde o modo principal é representado por ⇓e o modo secundário por ⇑. Na figura 4.2.15 são apresentados 4 espectros de FMR correspondentes à amostra. Os espectros consistem em uma ressonância assimétrica mostrando dois picos onde o primeiro é o modo principal com Hr1 = 0,144 T e ΔH1 = 0,008 T e o segundo o modo secundário com campos de ressonância de Hr2 = 0,156 T e ΔH2 = 0,013 T na configuração do campo magnético no plano do filme, com o aumento do campo o espectro fica simétrico quando θH chega a 14ocom um Hr = 0,661 T e ΔH = 0,038 T (os espectros se cruzam) podendo ser montada uma linha Loretziana que seria a soma dos dois modos, depois volta a se desdobrar em dois picos mas mudando a ordem dos modos,ficando o modo principal em um campo superior em comparação ao modo secundário na configuração do campo paralelo à normal do plano do filme. Nesta posição observamos que aparece um pseudo modo perto do modo secundário com campo menor sinalizado no gráfico por uma seta. A intensidade do modo principal não pode ser observada claramente devido à superposição do modo secundário, podemos observar que a anisotropia magnética dos modos são distinta, o modo principal é a resultante da ressonância em fase das partículas/clusters do Ferro e o outro modo secundário seria a ressonância em fase das partículas com ligas de Ferro que se formaram. 0.8 |dHr/d| (KOe/graus) Campo de ressonância (KOe) 76 10 8 6 4 o 0.6 0.4 Modo principal 0.2 0.0 -0.2 -20 0 20 40 60 80 100 Angulo (graus) 2 Modo principal Modo secundario 0 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 Angulo (graus) Fig. 4.2.16-Comportamento do campo de ressonância em função do ângulo entre a normal ao plano e o campo aplicado da amostra Fe10 para os dois modos, os pontos são extraídos dos espectros de FMR. Na figura 4.2.16 apresentamos o comportamento do campo de ressonância em função do ângulo para os dois modos da amostra Fe10. O gráfico inserido mostra o declive calculado da Hr versus θ da curva do modo principal. A magnetização de saturação efetiva (4πMeff) e o fator g foram estimadas usando relações de condição de ressonância, utilizando os valores dos campos de ressonância nas orientações paralela e perpendicular, onde os valores de 4πMeff para o modo principal foi de -0,682 T e para o modo secundário -0,596 T e o valor de g foi de 2,034 e 2,040 para os modos em forma respectiva, estes valores obtidos são menores que o valor de g para o Fe em bulk (gFe-Bulk= 2,09) devido provavelmente a uma baixa simetria cristalográfica de nanopartículas comparando com o material em bulk. Uma hipótese para explicar origem de ambos os modos, seria que o acoplamento ferromagnético neste caso é fraco o bastante para que o campo magnético aplicado desacopla-se as magnetizações das fases do Fe observados por DRX das partículas, portanto os modos originados por estes materiais se cruzam em certo ângulo. Na literatura se tem informação de observações por FMR de dois modos de absorção uniformes em multicamadas de Co/ V [118] crescidas em magnetron sputtering, estes modos foram atribuídos às fases granel e interfacial. Também foram observados por FMR dois modos uniforme em filmes de Co puro [119] (monocamada) depositado por evaporação em substratos de Si e vidro; os autores também atribuem a presença destes dois modos a diferentes fases magnéticas das amostras. O primeiro foi atribuído à região da camada de Co perto do substrato, e a segunda, para a região livre da camada de Co. Para nossas amostras, pode ser que o sinal corresponda às fases diferentes na interface de ZnO/Fe e no centro da camada de Fe. 77 A homogeneidade magnética dos filmes é determinada pelo comportamento da largura de linha em função do ângulo. A largura de linha é a diferença do campo magnético de pico a pico da derivada da absorção e tem duas contribuições podendo ser escrita como: H H hom H in hom Onde a H hom descreve os mecanismos intrínsecos que levam a magnetização a relaxar (voltar a sua posição de equilíbrio). Destacando o espalhamento mágnon– elétrons. Por outro lado H in hom descreve os mecanismos extrínsecos, que são fatores externos que não podem ser controlados entre eles destacam-se a policristalinidade, a porosidade, a forma da amostra, irregularidades e defeitos na superfície. Para os mecanismos extrínsecos destaca-se o espalhamento mágnon-mágnon onde a competição entre as interações magnetostática e de troca devem sempre ser levadas em conta. De uma maneira geral pode-se dizer que em monocristais observam-se linhas mais estreitas que em policristais, que quanto maior o ordenamento magnético mais estreitas são as larguras de linhas e que as interações de troca entre os cristalitos e baixas anisotropias magnetocristalinas também levam a linhas mais estreitas. Quando se trabalha com sistemas de grandes inomogeneidades se obtém sinal de ressonância distinta de cada cristalito que se reflete em um espectro com vários máximos. São vários os modelos apresentados na literatura que tratam sobre os regimes de dois mágnons; um deles é para casos extremos: K eff H a2 H a M s H e H a M s H H a Ms 4Ms Onde Ha é o campo de anisotropia magnética e Ms é a magnetização de saturação. Este modelo considera as relações de dispersão dos magnos nas condições de FMR como no modelo de McMichael e colaboradores[120], mais com uma abordagem menos detalhada. Na prática, muitos resultados para larguras de linhas em amostras policristalinas independentes de serem metálicos ou não, apresentam boa concordância com as equações apresentadas. No caso Ha<<Ms, uma forte interação dipolar entre os cristalitos pode reduzir consideravelmente os efeitos da não uniformidade de Ha reduzindo a largura da linha. Para o caso em que Ha>>Ms o acoplamento dipolar entre os cristalitos é relativamente fraco e o comportamento local é governado pelo campo de anisotropia, este comportamento leva a uma curva de ressonância assimétrica e muitas vezes com máximos adicionais. 78 Neste contexto, analisaremos as medidas da largura de linha (ΔH) apresentadas nos espectros da multicamada com tFe=1nm, comparando com medidas de referência do Fe em bulk medida a 9 GHz a temperatura ambiente, onde H pp (Oe) =32 Oe, ΔHhom(Oe)=6,9 Oe e a constante exp de Gilbert G (108 s-1)=0,58. Largura de linha (KOe) 0.4 Modo principal Modo secundario 0.3 0.2 0.1 0.0 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 Angulo (graus) Fig. 4.2.17-Comportamento da largura de linha em função do ângulo entre a normal ao plano e o campo aplicado para os dois modos da amostra Fe10. O gráfico inserido é o comportamento linear da largura de linha em função do ângulo planar. As larguras de linha obtidas no plano e na perpendicular para os modos principal e secundário são mostrada na figura 4.2.17. Comparando os valores da largura de linha do modo principal no plano e na perpendicular com a da referência observamos um incremento de 150% e 580%respectivamente indicando a policristalinidade da amostra. Além disso, é bem reportado que a redução da espessura provoca um aumento da largura de linha em comparação ao bulk, além de provocar um deslocamento do campo de ressonância (fora do plano) a campos mais baixos. Bem como, a cristalinidade (epitaxia) do material decresce com a diminuição da espessura. Por outro lado, se considerarmos um sistema de partículas, um estreitamento da distribuição de tamanhos do sistema, tende a apresentar os espectros de FMR semelhantes a uma linha Lorentziana e deslocá-lo para campos de ressonância maiores. Foi reportado por Valstyn e colaboradores[121] o caso de um sistema de nanopartículas ferromagnéticas alongado que apresentava dois modos no espectro de FMR. 79 Na tabela 4.2.4 apresentamos os dados obtidos dos espectros de FMR, mostrando os valores do fator de Lande g B e a razão do momento orbital pelo momento de spin L g 2 . s 2 Tabela 4.2.4-Dadas obtidas das medidas dos espectros de FMR para os dois modos da amostra Fe10. Amostra Fe10 4M eff (T) K eff ( x 10 6 g (T-1seg-1) L / S erg/cm3) Modo P Modo S -0,682 -0,596 -5,626 -4,917 2,034 2,040 1,788x10 11 0,017 1,794x10 11 0,020 O fator g pode ser utilizado para monitorar o efeito da participação do momento orbital no momento magnético total. Portanto, uma cuidadosa determinação do fator g oferece a possibilidade de aprender mais sobre o diferente comportamento magnético observado na amostra em comparação ao material em bulk. Na figura 4.2.18 mostramos a dependência angular no plano da multicamada que revela a presença de uma anisotropia uniaxial no filme com campo uniaxial dos modos primários e secundários de 12 e 18 Oe respectivamente. Esta anisotropia é provável que se origine durante o processo de crescimento, onde o filme é afetado por tensões internas, o alinhamento preferencial dos grãos ou nanocristalitos é devido a forças interatômica induzindo uma anisotropia adicional à anisotropia de forma dos grãos ou devido a interações dipolares dos supermomentos desbloqueados dos clusters. Agora analizaremos as amostras Fe8 e Fe6 com espessuras de tFe=0,6 e 0,8 nm respectivamente, medidas a temperatura ambiente tanto com campo aplicado paralelo como perpendicular ao plano do filme. Observamos que os espectros destas amostras têm uma diferença marcante com os espectros da amostra Fe10, pois estas não apresentam dois modos de ressonância, mas mostram um maior alargamento da linha, sendo o mais drástico para a amostra Fe6 cujo espectro no plano apresenta uma H =590 Oe. 80 1560 modo primario modo secundario 1400 1390 1550 1540 Hu=18 Oe 1380 1530 1370 1520 Hu=12 Oe 1360 0 50 100 150 200 250 300 350 Campo de ressonância (Oe) Campo de ressonância (Oe) 1410 1510 Angulo (graus) Fig.4.2.18-Comportamento do campo de ressonância em função do ângulo com o campo aplicado no plano na Fe8 =20o =18o 0.2 0.1 0.0 =0o -0.1 -0.2 Derivada da absorção (u.a.) Derivada da absorção (u.a.) amostra Fe10 para os dois modos, os pontos são extraídos dos espectros de FMR. =92o =62o Fe6 0.04 0.02 0.00 -0.02 =32o -0.04 =92o 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 Campo Magnético (T) 0.7 =18o 0.2 0.3 0.4 0.5 Campo Magnético (T) Fig. 4.2.19–Espectros das amostras Fe8 e Fe6 para diferentes ângulos entre o campo aplicado e a normal ao plano dos filmes, observa-se uma diminuição marcante das intensidades dos espectros. Na figura 4.2.19 são apresentados alguns espectros de FMR destas duas amostras, com diferentes ângulos entre a normal ao plano e o campo aplicado. A amplitude dos sinais está normalizada pelo ganho eletrônico fornecido pelo equipamento. O comportamento dos espectros em relação ao ângulo da amostra Fe8 é típico de filmes com eixo fácil no plano, pois o campo externo no plano, necessário para que haja absorção de micro-ondas, é muito menor que na configuração perpendicular. Isso é atribuído à enorme contribuição negativa da energia desmagnetizante na configuração perpendicular. A amostra Fe6 apresenta um fraco sinal da magnetização no plano, no entanto os espectros de FMR exibem uma dependência angular anormal que não é simétrica em 81 relação aos pontos de inversão. A razão para este comportamento é uma possível orientação oblíqua do eixo difícil da magnetização. O campo necessário para obter a ressonância na orientação paralela das amostras Fe8 e Fe6 foi de 0,214 T e 0,292 T, respectivamente, e na orientação perpendicular, de 0,685 T e 0,419 T. Estes valores comparados com os obtidos da amostra Fe10 nos mostram que a faixa do campo de ressonância varrido com campo aplicado paralelo até a perpendicular ao plano do filme vai decrescendo significativamente, assim como a intensidade dos espectros conforme decresce a espessura do material ferromagnético. Além disso, o incremento do campo de ressonância dos espectros no plano pode ser devido ao estreitamento da distribuição de tamanhos das nanopartículas, tendendo a apresentar os espectros de FMR semelhantes a uma linha Lorentziana e deslocá-lo para campos de ressonância maiores. A redução do valor do campo de ressonância na orientação perpendicular é devida aos efeitos de dimensionalidade. A forma assimétrica dos espectros de FMR também podem ser originados pelo efeito skin (normalmente observados em amostra metálicas e semicondutoras). Este efeito é o desfasamento entre a componente elétrica e magnética das micro-ondas que provocam a junção da absorção e dispersão do sinal de FMR, este sinal assimétrico pode ser ajustado por uma linha com forma de Dyson[122]. Na figura 4.2.20 e 4.2.21 mostramos com mais detalhes os espectros assimétricos das amostras Fe8 e Fe6 respectivamente, devemos considerar que o comportamento da largura de linha é atribuído ao modo de ressonância uniforme, onde todos os momentos magnéticos das nanopartículas/ clusters estão em precessão na mesma fase com a amplitude (superposição de sinais) devido a um acoplamento forte o suficiente para que o campo magnético não as desacople. Os espectros da amostra Fe6 mostram claramente o desacoplamento dos modos das nanopartículas, quando giramos a amostra para a configuração perpendicular. É observado também em todos os espectros o sinal paramagnético do íon de Fe (Fe3+) na posição de 0,33T, Como estes espectros apresentam linhas superpostas, a obtenção da largura de linha é complicada, para isto é necessário realizar ajustes dos espectros usando curvas Lorentzianas. Na figura 4.2.22 apresentamos o comportamento do campo de ressonância em função do ângulo para as amostra Fe8 e Fe6. O gráfico inserido mostra o ângulo de declive (θ =10o) da curva. A magnetização de saturação efetiva (4πMeff) e o fator g foram estimadas usando relações de condição de ressonância, utilizando os valores dos campos de ressonância nas orientações paralela e perpendicular, onde os valores de 4πMeff para a amostra Fe8 e Fe6 foi de -0,334 T e -0,086 T, e o valor de g foi de 2,032 e 2,107 respectivamente. 82 =20o =92o Derivada da absorção (u.a.) r r 0.1 0.2 0.3 0.4 0.2 0.3 0.4 =0o =6o r r 0.4 0.5 0.6 0.5 0.7 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 Campo magnético (T) Fig. 4.2.20-Espectros de FMR da amostra Fe8 para algumas orientações do campo magnético entre o plano e a o perpendicular do filme. O espectro com θ= 0 apresenta um sinal assimétrico. Derivada da absorção (u.a.) =92o r r 0.2 =32o 0.3 0.4 0.5 0.2 0.3 =18o 0.4 0.5 =0o r r 0.3 0.4 0.5 0.6 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 Campo magnético (T) Fig. 4.2.21- Espectros assimétricos de FMR da amostra Fe6 para algumas orientações do campo magnético entre o plano e a perpendicular do filme. 83 Os valores do campo de anisotropia efetiva, o fator g e constantes de energia efetiva para as amostra Fe8 e Fe6 são mostrados na tabela 4.2.5. Para os cálculos desses parâmetros utilizou-se o valor da magnetização de saturação obtido pelas medidas da magnetização estática. É importante mencionar que o valor da constante de anisotropia efetiva que contém as contribuições da anisotropia magnetocristalina e da energia desmagnetizante é típico de sistemas cujo eixo de fácil de magnetização está no plano. O sinal negativo pode ser atribuído ao fato da interação dipolar ser maior que a interação spin-órbita. A interação dipolar da origem à anisotropia que favorece um eixo fácil no plano e a interação spin-órbita é responsável pela anisotropia que favorece um eixo fácil 7 Fe8 0.12 0.08 6 = 10 0.04 5 -20 0 2 20 g= 2,0318 Keff 0 Fe6 4.0 g= 2,1068 H 3.6 40 60 80 Angulo (graus) H 4.2 3.8 0.00 4 3 o Campo de ressonância (KOe) |dHr/d| (KOe/graus) Campo de ressonância (KOe) perpendicular ao plano. T= 300 K Keff = -0,864 KOe T= 300 K 3.4 3.2 3.0 =- 3,398 KOe 10 20 30 40 50 60 70 80 90 2.8 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 Angulo (graus) Angulo (graus) Fig. 4.2.22-Comportamento do campo de ressonância em função do ângulo entre a normal ao plano e o campo aplicado da amostra Fe8 e Fe6, os pontos são extraídos dos espectros de FMR. Tabela 4.2.5- Dados obtidos das medidas dos espectros de FMR para as amostra Fe8 e Fe6. Amostra 4M eff K eff ( x 10 6 J/m3) g (T-1seg-1) L / S (T) Fe8 -0,334 -2,324 2,032 1,786x10 11 0,016 Fe6 -0,086 -0,204 2,107 1,852x10 11 0,053 84 Fe8 Largura de linha (KOe) 0.8 T= 300 K 0.7 0.6 0.5 0.4 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 Angulo (graus) Fig. 4.2.23-Comportamento da largura de linha em função do ângulo entre a normal ao plano e o campo aplicado para a amostra Fe8. Na figura 4.2.23 mostramos o comportamento da largura de linha em função do campo da amostra Fe8, a linha pontilhada é apenas uma guia para os olhos. Como podemos observar, o comportamento da linha é muito distinto para a amostra Fe10, podendo ser devido à homogeneidade magnéticas, interdifusão, cristalinidade do material, etc. 4.2.4 - Espectroscopia de fotoelétron (XPS) A espectroscopia de fotoemissão é conhecida por dar uma informação confiável sobre estudos de oxidação, transferência de carga eletrônica (vacância de ânions/cátions) em um sistema com multicomponentes. Os espectros de XPS no nível do núcleo do Zn 2p, Fe 2p e O 1s foram registrados para as multicamadas [ZnO(5nm)/Fe(t)]x6 para t=0,6 e 1 nm. O vácuo na câmara foi mantida em ~10-9Torr , garantindo assim a limpeza da amostra durante o experimento, os espectros foram obtidos após um etching devido à contaminação proveniente do carbono na superfície (pico do C 1s). Como as amostras são multicamadas terminando com um caping de ZnO cobrindo a última camada de Fe para que este não oxide, o MT de interesse nesta investigação fica a 5 nm da superfície; portanto, utilizou-se o feixe de íons a 3000 eV e a corrente baixa com tempos variáveis,pois a camada ferromagnética nem sempre é contínua havendo crescido ou percolado acima da matriz de ZnO. A corrente baixa foi utilizada para poder garantir a não amorfização da amostra. Os espectros de XPS do Zn 2p das multicamadas são exibidas na figura 4.2.24, os picos principais do Zn (com etching de 2600 segundos) são observados em 1022,59eV e 1045,64eV correspondentes à energia de ligação de Zn 2p3/2e 2P1/2 respectivamente. 85 Intensidade (a.u) 2p3/2=1022,59eV Etching de 2600 seg Etching de 2400 seg Etching de 300 seg Etching de 50 seg Sem etching 2p1/2=1045,64eV 1020 1021 1022 1023 1024 1025 1026 1027 1015 1020 1025 1030 1035 1040 1045 1050 Binding energia (eV) Fig. 4.2.24- Espectros de XPS do Zn 2P da amostra Fe10, cada espectro correspondem a diferentes profundidades da amostra. Os espectros dos picos mostram uma simetria e mudança de posição; esta mudança ocorre, pois quanto mais profunda é feita a medida menor é a contaminação com o carbono, (além de um aumento na intensidade) sendo esta contaminação a causa do deslocamento do Zn a maiores energias. Os picos individuais simétricos excluem a possibilidade de componentes múltiplos de Zn nesta amostra. Observamos também um desvio das energias de ligação, em comparação ao material padrão em granel do ZnO (1022,0 eV e 1045,0 eV para o nível Zn 2p e 532,0 eV para o nível de 01s), o que nos induz a pensar que existe uma força adicional que puxa os elétrons do nível do núcleo para energias mais elevadas. Na figura 4.2.25 mostramos os espectros do XPS do Fe 2p da multicamada Fe10 a diversas profundidades; os picos do Fe são fortemente observados nas posições de 707,24 e 720,40 eV correspondentes à energia de ligação de Fe 2P3/2 e Fe 2P1/2 respectivamente. São observados também sinais dos picos correspondentes às fases do Fe2+ e Fe3+ em 706,80 e 710,88 eV correspondentes à energia de ligação de Fe 2P3/2. É importante mencionar que o sinal do Fe observado corresponde à terceira camada crescida, indicando que as camadas não são continuas, tendo forma de um sistema percolado. Além disso, são observados dois picos satélites na posição de energias de 718 e 730 eV. Para comparação com outras fases do Fe formadas, vamos utilizar os dados reportados por A. Samariya que estão em bom acordo com o “Handbook of X-ray Photoelectron Spectroscopy”. 86 L3=707,24eV L2=720,4eV Fe 2p1/2 Intensidade (a.u) Fe 2p3/2 Etching de 2600 seg Fe = 706,8 eV +2 Fe = 709,24 eV +3 Pico satelite Fe = 710,88 eV Pico satelite =13,58 eV Pre pico =13,56 eV =13,10 eV 700 705 710 715 720 725 730 735 740 Binding energia (eV) Fig. 4.2.25- Espectro de XPS do Fe 2P3/2 e 2P1/2 referente à posição mais profunda analisada. Os dois picos do Fe ocorre em 707 e 720 eV, e os picos dos estados de oxidação do Fe2+ (FeO) ocorrem em 709,8 e 722,7 eV, enquanto que para o Fe3+ (Fe2O3) eles ocorrem em 710,7 e 724 eV, respectivamente. Portanto, a amostra revela as posições dos picos entre estes três valores (Fe, Fe2+e Fe3+), o que explica a forma do espectro, tendo um maior volume a contribuição do Fe que os íons de Fe, além destes apresentarem um estado de valência mista, como pode ser observado no gráfico 4.2.25. 528 Etching de 2600 seg Etching de 2400 seg Etching de 300 seg Etching de 50 seg Sem etching Picos satelites 530 532 534 Binding energia (eV) 536 O1s = 531,05 eV P1 = 532,45 eV P2 = 533,04 eV Intensidade (a.u) Intensidade (a.u) 1s1/2=531,05eV 528 O1s(FWHM) = 1,14 eV P1(FWHM)= 0,83 eV P2(FWHM)= 1,30 eV P2 P1 529 530 531 532 533 534 535 Binding energia (eV) Fig. 4.2.26-a) Espectro de XPS do O 1s referente às diferentes posições e b) ajuste gaussiano do espectro de O. 87 Os dados do espectro de XPS do Zn 2p confirmam que o Zn retém o estado bivalente do Fe, enquanto o espectro de Fe 2p confirma que o Fe apresenta um estado misto de Fe2+ e F3+. Estas duas observações são contraditórias, pois a rede hospedeira do ZnO apresenta uma neutralidade de carga. Portanto, analisaremos os estados eletrônicos do espectro de XPS do O1s. O espectro do oxigênio medido a diferentes profundidades é mostrado na figura 4.2.26. Observamos claramente que apresentam um pico assimétrico, que indica a presença de uma espécie com multicomponentes do oxigênio a maior energia (pico satélite). Quanto maior a profundidade, maior é a intensidade do pico e a largura de linha. a 2p1/2=1045,85eV FMWH=1,4 eV 1020 1s1/2=531,24eV Fe6 1022 1024 1026 Etching de 1000 seg Etching Etchingde de1000 1000seg seg Fe6 b Intensidade (a.u) Intensidade (a.u) 2p3/2=1022,70eV Pico satelite Sem etching Sem etching 528 529 530 531 532 533 534 535 536 1015 1020 1025 1030 1035 1040 1045 1050 Binding energia (eV) Binding energia (eV) Intensidade (a.u) L3=707,58eV L2=720,62eV c Fe = 707,58 eV +2 Fe = 709,98 eV +3 Fe = 711,41 eV Fe 2p3/2 Fe 2p1/2 =13,02 eV =13,18 eV =13,04 eV 700 Fe6 705 710 715 Etching de 1000 seg 720 725 730 Binding energia (eV) 735 740 Fig. 4.2.27 - Espectros de XPS de: a)do Zn 2P3/2 e 2P1/2, b) do Fe 2P3/2 e 2P1/2 e c) O 1S correspondentes à amostra Fe6. 88 O pico do oxigênio medido a uma maior profundidade fica em 531,05 eV, deslocado a menores energias em comparação ao material em bulk do ZnO (O 1s = 532 eV). Podemos observar que o pico satélite, com a profundidade, incrementa de forma assimétrica com o pico principal, tendendo a ocupar um menor volume a 11nm, o que significa que este pico satélite perto da superfície era influenciado também pela contaminação proveniente do carbono; devido à profundidade esta contaminação desaparece ficando somente a informação proveniente do pico satélite responsável pelo aparecimento da fase do Fe3+. Podemos dizer que durante o crescimento das amostras teve lugar a exclusão do oxigênio da rede do ZnO, criando vacâncias de oxigênio. Estas vacâncias de oxigênio são conhecidas por criar estados doadores baixos e, portanto, tendem a acrescentar elétrons para o sistema, dopando-o com portadores tipo n. Todavia, as vagas dos cátions criam estados aceitadores e, assim, dopam o sistema com portadores do tipo p. Este sistema apresenta um sinal forte do Fe puro e seus estados de valência de Fe3+e Fe2+; o estado de valência F3+ é devido à criação de vacâncias de oxigênio e o estado de valência Fe2+ é devido a os íons do Zn2+. Estes fenômenos eletrônicos podem ser a causa da conservação da neutralidade de carga na estrutura. De forma análoga podemos entender o comportamento eletrônico das amostras Fe6 e Fe3, apresentados nas figuras 4.2.27 e 4.2.28. E C Fe3 +2 Fe = 709,38 eV 2P3/2=710,51eV +3 Fe = 710,55 eV Pico satelite 2P1/2=723,80eV Pico satelite Pico satelite =13,90 eV =13,79 eV Intensidade (a.u) Intensidade (a.u) Fe3 +2 Fe = 709,38 eV Fe Fe +3 +3 Fe = 710,55 eV +2 Etching de 1000 seg 700 705 710 715 720 725 730 735 Binding energia (eV) 706 707 708 709 710 711 712 713 714 715 Binding energia (eV) Fig. 4.2.28- a) Espectro de XPS do Fe 2P3/2 e 2P1/2 e b) ajuste gaussiana do pico 2P3/2 mostrando a contribuição das duas fases do Fe. De acordo com os espectros de XPS do Fe 2P desta série, podemos observar claramente a redução do Fe até desaparecer por completo (formando somente as fases dos íons), podendo-se entender e correlacionar o observado por DRX com medidas magnéticas. 89 4.3 - Multicamadas de ZnO/Fe com recozimento de 600oC por 2 horas Nesta seção utilizaremos as mesmas amostras preparadas na seção 4.2, mas submetidas a um recozimento em alto vácuo a 600oC por 2 horas. Na tabela 4.3.1 são listadas as amostras analisadas nesta seção. Tabela 4.3.1- Relação de amostras submetidas a recozimento de 600oC por 2 horas. Nome da amostra Série do sistema ZnO/Fe (espessuras em nm) a-Fe3 Si(100)/[ZnO(5)/Fe(0,3)]6/ZnO(5) a-Fe4 Si(100)/[ZnO(5)/Fe(0,4)] 6/ZnO(5) a-Fe6 Si(100)/[ZnO(5)/Fe(0,6)] 6/ZnO(5) a-Fe8 Si(100)/[ZnO(5)/Fe(0,8)] 6/ZnO(5) a-Fe10 Si(100)/[ZnO(5)/Fe(1,0)]6/ZnO(5) 4.3.1- Difração de raios X A Figura 4.3.1 mostramos o padrão de DRX da série de multicamadas descritas amplamente na seção 4.2 e submetidas a um recozimento em alto vácuo a 600oC por 2 horas. Ref. x5 Intensidade (a.u.) a-Fe3 a-Fe4 a-Fe6 a-Fe8 a-Fe10 20 25 30 35 40 45 2 (graus) 50 55 60 65 Fig.4.3.1- Difratogramas dos filmes de [ZnO(50nm)/Fe(tnm)]x6 onde t=0,3; 0,4; 0,6; 0,8 e 1 nm, recozidos em o alto vácuo a 600 C por 2 horas, mostram claramente o pico correspondente a reflexão (002) do ZnO. 90 Como podemos observar, todos os espectros revelam um pico significativo e em comparação com a sua série sem recozimento, não revelam picos satélites. Os picos estreitos observados são identificados como reflexões do substrato de silício. Na figura 4.3.2 mostramos uma ampliação do pico principal dos difratogramas sem recozer e recozidas por motivo de comparação; com as possíveis fases. Note-se que a DRX não produz indicações de fases secundárias formadas como é visto nas amostras sem recozer. Observamos que o centro do pico fica deslocado à direita com respeito ao ZnO, devido à difusão dos átomos de Fe que relaxam a rede do ZnO. Os dados por DRX são apresentados na tabela 4.3.2. Quando um material é realmente “dopado” não há aparecimento de novos picos de difração de raios-X, mas em vez disso são observadas mudanças graduais nas posições angulares dos picos de DRX correspondente ao material utilizado como matriz, sendo estas mudanças observadas nos parâmetros de rede do hospedeiro (ZnO), por incorporação dos átomos ou íons do material de Fe, podendo isto ocorrer por uma difusão como conseqüência do recozimento. Fe2O3_PDF: 99-200-4192; Rhombohedral Fe3O4_PDF: 99-100-2086; Orthorhombic ZnO_PDF: 99-100-4979; Hex. a-Fe3 Fe2O3_PDF: 99-200-4192; Rhombohedral Fe3O4_PDF: 99-100-2086; Orthorhombic ZnO_PDF: 99-100-4979; Hex. Fe3 Intensidade (a.u.) (002) 2 theta 30 31 32 33 34 35 (10-1) (111) 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 (101) (002) (211) (100) (10-1) a-Fe10 (211) (002) Fe10 a-Fe8 (101) Fe8 a-Fe6 (023) Fe6 (110) (023) (111) (110) a-Fe4 (100) Intensidade (a.u.) Fe4 36 37 38 39 40 2 theta Fig. 4.3.2- Amplificação do pico principal dos difratogramas da série sem recozer (esquerdo) e recozido (direito). 91 Tabela 4.3.2- Dados sobre as amostras recozidas obtidos dos difratogramas de DRX Amostra FWMH Centro D(nm) Dhkl (Å) c(Å) a-Fe3 0,493 0,003 34,727 0,001 17 2,583 5,166 a-Fe4 0,467 0,004 34,883 0,002 18 2,572 5,144 a-Fe6 0,515 0,007 34,866 0,003 16 2,573 5,146 a-Fe8 0,509 0,005 34,868 0,004 16 2,573 5,146 a-Fe10 0,533 0,003 34,877 0,002 16 2,572 5,145 c (A) 5.19 Parametro de rede c 5.16 Fit linear 5.13 FWHM 5.10 0.52 0.48 FWHM H 0.44 Distancia interplanar 2.580 D (nm) 2.565 Diametro do cristalito 18.0 16.5 Stress 15.0 2.4 Stress 1.6 0.4 0.6 0.8 1.0 "x" espessura por camada do Fe (nm) Fig. 4.3.3 - Tendência das grandezas físicas obtidas dos difratogramas, podendo-se observar que acontece uma transição para a espessura de Fe indicada pela seta. A mudança da posição dos picos de DRX, também pode ocorrer a partir da tensão induzida na célula unitária quando os átomos de Fe são incorporados na estrutura periódica. Em vista disto, nós calculamos a variação do parâmetro de rede do ZnO apresentado na tabela 4.3.2, considerando como base o pico (002) do ZnO. A variação dos parâmetros de rede com a espessura do Fe no ZnO pode ser entendida como uma fase de transição ou incorporação efetiva dos átomos e /ou íons de Fe dentro da célula unitária da estrutura do ZnO. Podemos observar na figura 4.3.3 que a multicamada com espessura menor de Fe não acompanha a tendência da série. 92 4.3.2- Microscopia de força atômica (AFM) Na figura 4.3.4 apresentamos as micrografias das mostras da série recozidas em alto vácuo tomadas numa área de 5x5 μm2. Se compararmos estes resultados com as mesmas amostras não recozidas, observamos claramente que a morfologia é alterada pronunciadamente em todas as amostras. O processo de recozimento ajuda a minimizar as rugosidades das interfaces, porém esta poderia ser a origem da difusão do Fe dentro da rede do ZnO, provocando a distorção da estrutura do ZnO. O tamanho de grão obtido por AFM não é necessário que seja o mesmo que o obtido por DRX (já explicado anteriormente). As micrografias correspondem às amostras com espessura da camada de Fe de t = 0,3; 0,6 e 1 nm. Na micrografia da amostra a-Fe3 observamos que a rugosidade é bem pequena; conforme se incrementa a espessura do Fe esta rugosidade na superfície aumenta, alterando a morfologia. Observamos nas micrografias um incremento marcante de defeitos devido à formação de vales e picos que crescem gradualmente conforme aumenta a espessura do MT. Um ponto importante na análise da morfologia é que estas multicamadas apresentam na sua superfície (amostras com tFe= 1 nm) uma espécie de orientação, de causa desconhecida. Podemos dizer que a difusão do Fe na rede do ZnO foi alterada. Os dados da rugosidade Rms e do diâmetro médio do grão de ZnO são mostrados na tabela 4.3.3. Tabela 4.3.3- Dados obtidos com as análises da morfologia dos filmes da série [ZnO(5nm)/Fe(t)]. Amostra Rrm (nm) Dgrão (nm) a-Fe3 2,3 1 37 a-Fe4 8 5 35 a-Fe6 12 7 38 a-Fe8 9 5 32 a-Fe10 13 6 56 93 Amostra a-Fe3 Amostra a-Fe6 Amostra a-Fe10 2 Fig. 4.3.4- Imagem da micrografia de 5x5 μm da superfície da série dos filmes de [ZnO(5nm)/Fe(t)]x6 onde t= o 0.3, 0.6 e 1nm recozidas em alto vácuo a 600 C por 2 horas. Na coluna à esquerda apresentamos a topologia da superfície em nanômetros e na coluna à direita a imagem varrida em voltagem. 94 4.3.3 - Propriedades magnéticas 4.3.3.1. Propriedade magnética estática (VSM) Na figura 4.3.5 mostramos as curvas de magnetização em função do campo M(H) da série de multicamadas de [ZnO(5nm)/Fe(t)]x6 onde t= 0,3; 0,4; 0,6; 0,8 e 1 nm recozidas a 600oC por 2 horas, medidas a temperatura ambiente com campo aplicado no plano. Como pode ser observado, as amostras atingem uma magnetização de saturação com campo menor de 1,0 T. As formas das curvas de histerese são praticamente idênticas em todos os casos. Não se observa uma redução da magnetização de saturação significante nos filmes com menor espessura de Fe. A redução em função da espessura do Fe ocorre entre 1,6 X103 emu/cm3 a 1,3 X103 emu/cm3 havendo sido calculado o volume do material ferromagnético de cada amostra. Em comparação com as curvas de histerese da serie de amostras sem recozer da figura 4.2.6, observamos que estas não apresentam o comportamento de um filme (amostra Fe10) nem o comportamento de uma amostra superparamagnética (amostra Fe6). As curvas de histerese da serie tem os mesmo comportamentos alem de não apresentar variação significante em sua magnetização de saturação. 2000 a-Fe10 a-Fe8 a-Fe6 a-Fe4 a-Fe3 1000 500 0 1000 Magnetização (emu/cm3) Magnetização (emu/cm3) 1500 -500 -1000 -1500 500 0 -500 -1000 -0.06 -0.04 -0.02 0.00 0.02 0.04 0.06 -2000 Campo magnético (T) -2 -1 0 1 Campo magnético (T) 2 o Fig. 4.3.5- Loops de histerese da série ZnO/Fe submetidos a um recozimento de 600 C por 2 horas sem contribuição diamagnética. A figura inserida exibe em detalhe a diferença do Hc e Mr da série. 95 A fim de confirmar as propriedades magnéticas das multicamadas, foram realizadas medidas de magnetização em função da temperatura M(T). As medidas de ZFC e FC das amostras a-Fe6, a-Fe8 e a-Fe10 que são mostradas na figura 4.3.6. Observamos claramente a mudança do comportamento das curvas de ZFC/FC em comparação às amostras não recozidas, devido a limitações do instrumento de medição as medidas foram até 50K, pode-se supor que em temperaturas mais baixas a curva de ZFC se separe ainda mais. Comparando com as curvas da M(T) das amostras sem recozer, da figura 4.2.7; podemos observar que não tem comportamento de sistemas granulares de partículas com diâmetros grandes, devido que não apresentam temperatura de bloqueio a temperaturas altas; nem de sistemas granular com partículas pequenas, devido que não apresentam a forma da curvas de histerese de um sistema granular com partículas pequenas. 300 a-Fe6 ZFC FC 250 200 Haplicado =50 Oe 150 100 500 50 M (emu/cm 3) a-Fe8 450 Tirre=104 K 400 Haplicado =50 Oe 350 500 a-Fe10 450 400 350 Haplicado =50 Oe 50 100 Tirre=150 K 150 200 250 Temperature (K) 300 Fig. 4.3.6–M(T) de ZFC/FC da serie recozida [ZnO(5nm)/Fe(t)] com um campo aplicado de 50 Oe. 4.3.3.2- Propriedade magnética dinâmica (FMR) Na figura 4.3.7 são apresentados alguns espectros de FMR, com diferentes ângulos entre a normal ao plano e o campo aplicado, medidas a temperatura ambiente para a amostra a-Fe10. Derivada da absorção (u.a.) 96 a-Fe10 0.10 0.05 0.00 =0o -0.05 =30o =90o -0.10 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 Campo magnético (T) Fig. 4.3.7- Espectros de FMR medidos a temperatura ambiente da amostra a-Fe10, para diferentes ângulos entre o campo aplicado e a normal ao plano do filme. O comportamento dos modos de ressonância da amostra recozida nos indica que não é um filme de Fe (comparando com os espectros da amostra Fe10). Observamos uma sobreposição dos modos de ressonância com o campo no plano do filme e um desdobramento dos modos de ressonância na perpendicular ao campo aplicado. A amplitude do sinal está normalizada pelo ganho eletrônico fornecido pelo equipamento. A amplitude observada é baixa em comparação à amostra sem recozer. Devido á sobreposição dos modos de ressonância é recomendável ajustar cada modo superposto. 4.3.5 - Espectroscopia de fotoelétrons (XPS) O XPS é uma técnica específica atômica, ideal para o estudo de sistemas diluídos com alta precisão, pois a estrutura eletrônica é conhecida por ser uma propriedade de compostos com uma dada composição química. O MT de interesse fica a 5 nm da superfície; portanto, utilizamos o feixe de íons a 3000 eV e a corrente baixa com tempos variáveis. Os espectros de XPS do Zn 2p da multicamada a-Fe10 a diferentes profundidades são exibidas na figura 4.3.8. Os picos principais do Zn são observados em 1022,44 eV e 1045,53 eV correspondentes à energia de ligação de Zn 2p3/2 e 2P1/2 , respectivamente, indicando que os átomos de Zn retém o estado de oxidação +2. Os espectros dos picos mostram uma simetria sem mudança de posição em energia, mais quando a medida é mais interna se observa um aumento da intensidade e da largura de linha. Os picos individuais simétricos excluem a possibilidade de componentes múltiplos de Zn nesta amostra. 97 Intensidade (a.u) 2p3/2=1022,44eV Etching de 1600 seg Etching de 1000 seg Etching de 500 seg Etching de 30 seg 2p1/2=1045,53eV 1020 1021 1022 1023 1024 1025 1015 1020 1025 1030 1035 1040 1045 1050 Binding energia (eV) Fig. 4.3.8 - Espectro de XPS do Zn 2P da amostra a-Fe10. Cada espectro corresponde às diferentes posições. A figura 4.3.9 a) mostra os espectros de XPS do Fe 2p da multicamada a-Fe10 a diferentes profundidades. Os picos principais são observados em 710,31 e 723,46 eV correspondentes à energia de ligação de Fe 2P3/2 e Fe 2P1/2, respectivamente. São observados também sinais fracos dos picos do Fe em 707,0 e 719,9 eV (indicados pelas setas verdes) correspondentes à energias de ligação padrão do Ferro metálico 2P3/2 e 2P1/2 , respectivamente. Os espectros dos picos mostram uma assimetria sem mudança de posição em energia, mas quando a medida é mais interna observa-se um aumento da intensidade e da largura de linha. Os picos individuais assimétricos incluem a possibilidade de componentes múltiplos do Fe nesta amostra (Fe2+ e Fe3+). Além disso, são observados dois picos satélites na posição de energias de 716 e 730 eV. Como podemos observar o Fe se encontra em estado de valência mista (Fe, Fe2+ e Fe3+) como comprova também o gráfico do ajuste das gaussianas do pico P3/2 da figura 4.3.9 b), tendo um maior volume o estado do Fe3+. A presença de um maior volume do estado Fe+3 pode ser uma conseqüência dos processos de recozimento que criou buracos devido às vagas dos cátions do Zn. Este processo é relatado também para amostras dopadas onde se explica que quando estas vacâncias de cátions de Zn ficam próximas aos átomos de Fe tendem a promover o íons Fe2+ a Fe3+. Os dados do espectro de XPS do Zn 2p confirmam que o Zn retém o estado bivalente do Fe, enquanto o espectro de Fe 2p confirma que o Fe apresenta um estado misto de Fe+2 e F+3. Estas duas observações são contraditórias, pois a rede hospedeira do ZnO apresenta uma neutralidade de carga. Por tanto, analisaremos os estados eletrônicos do espectro de XPS do O1s. 98 O espectro do oxigênio medido a diferentes profundidades é mostrado na figura 4.3.10, observamos claramente que apresenta um pico assimétrico, o que indica a presença de uma espécie multicomponente do oxigênio à maior energia. O pico principal fica em 530,77 eV, deslocado a menores energias em comparação ao material em bulk do ZnO (O 1s = 532 eV). O fato de que os picos satélites incrementam com a profundidade, revela que não são devidos à contaminação da superfície, mas resulta da estrutura eletrônica da amostra, podendo ser esta a fonte principal do aparecimento da fase do Fe3+. Etching de 1600 seg Etching de 1000 seg Etching de 500 seg Etching de 30 seg Fe 2p3/2=710,31eV Pico satelite Pico satelite Fe 2p1/2 b Fe = 707,14 eV Fe(FWHM) = 0,71 eV Intensidade (a.u.) Intensidade (a.u) a G Fe Fe +2 (FWHM)= +3 (FWHM)= +2 Fe = 709,11 eV 1,54 eV +3 Fe = 710,44 eV 2,86 eV Fe 2p1/2=723,46eV 704 700 705 710 715 720 725 730 735 706 710 712 714 Etching de 1600 seg Fe = 707,14 eV c Intensidade (a.u) 708 Binding energia (eV) Binding energia (eV) +2 Fe = 709,70 eV Pico satelite +3 Fe = 711,04 eV Fe2p1/2 Pre pico =13,50 eV Fe2p3/2 =13,41 eV Pre pico 700 705 =13,10 eV 710 715 720 725 730 Binding energia (eV) 735 740 Fig. 4.3.9 - Espectro de XPS de: a) Fe 2P3/2 e 2P1/2 a diferentes profundidades; b) Ajuste gaussiano do pico Fe 2P3/2 e c) espectro medido com a maior profundidade mostrando os picos das fases do Fe. 99 Podemos dizer que a exclusão do oxigênio no ZnO mediante o recozimento criou maior concentração de vacâncias de oxigênio. Estas vacâncias de oxigênio são conhecidas por criar estados doadores baixos e, portanto, tendem a acrescentar elétrons para o sistema, dopando-o com portadores tipo n. O mecanismo eletrônico apresentado nesta amostra é parecido com o sistema de ZnFeO, devido às vacâncias de oxigênio e a correlação de magnetização observado em Fe dopado em matriz ZnO . 1s1/2=530,77eV Intensidade (a.u) Etching de 1600 seg Etching de 1000 seg Etching de 500 seg Etching de 30 seg Pico satelite 526 528 530 532 534 536 538 Binding energia (eV) Fig. 4.3.10- Espectro de XPS do O 1s referente às diferentes posições. Neste sistema, se observou a redução drástica do Fe em seus estados de valência de Fe3+ e Fe2+, acompanhados pela criação de vacâncias de oxigênio; estes dois fenômenos eletrônicos podem ser a causa da conservação da neutralidade de carga na estrutura. Além disso, uma vez que o estado do Zn2+ permanece inalterado após o recozimento, sugerimos que a redução do oxigênio seja responsabilidade exclusiva do fator de neutralidade da carga na rede. Com a análise de XPS confirmamos a difusão dos íons de Fe na rede de ZnO. Mas por meio das medidas de magnetização observamos uma alta magnetização, descartando a formação de ZnFeO; portanto, o magnetismo observado pode ser devido à interação de dupla troca. 100 4.4- Filmes finos de ZnO/Fe com espessura total nominal de ~300nm As multicamadas [ZnO(50nm) / Fe (t nm)]x6 com t = 1,0 e 5,0 nm foram preparadas com às mesmas condições descritas na seção 3.2. Nesta série se fixou a espessura do ZnO em 50 nm. Na tabela 4.3.1 são listadas as amostras preparadas e analisadas nesta seção. Tabela 4.4.1- Relação de amostras preparadas de ZnO/Fe com espessura nominal de ZnO fixo de 50 nm e variando a espessura do Fe (t= 1,0 e 5,0 nm). Nome da amostra Série do sistema ZnO/Fe (espessuras em nm) Fe50/5 Si(100)/[ZnO(50)/Fe(5)]6/ZnO(5) Fe50/1 Si(100)/[ZnO(50)/Fe(1)]6/ZnO(5) 4.4.1- Difração de raios X Na figura 4.4.1 mostramos o difratograma da amostra Fe50/5 e Fe50/1 crescida com tFe=5nm e 1nm respectivamente; na amostra Fe50/5 observamos claramente o pico de Fe na orientação (101). As fases do difratograma foram identificadas com ZnO com entrada # 99-100-4979 que apresenta uma simetria hexagonal, grupo espacial P63mc(186) com parâmetros de rede de a=3.249 Å e c=5.204 Å e a fase do Fe com uma entrada # 99-100-0677 que apresenta uma simetria cúbica, grupo espacial Im-3m(229) com parâmetros de rede de a=2.8229 Å. Na figura 4.4.1 por motivo de comparação incluímos a amostra ZnO-0 como amostra padrão (amostra descrita na seção 4.1). Os picos observados correspondem ao ZnO e Fe, etiquetados com a direção cristalográfica correspondente. O gráfico mostra o estudo das duas multicamadas com diferentes concentrações (espessura) de Fe e comparação com o filme ZnO-0. Para a amostra Fe50/1 que contém menor concentração de Fe destacam-se os diferentes picos correspondentes à estrutura wurtzita do ZnO, nos planos (002), (101), (013) e (004). o O pico com maior intensidade se situa a 34,4 e corresponde ao plano (002). Portanto, o plano principal de crescimento é (002). Em comparação com a amostra ZnO-0 (300 nm de ZnO), observamos que a medida que aumentamos a concentração de Fe, as intensidades dos picos correspondentes aos planos anteriores decrescem e alguns desaparecem, demonstrando que a estrutura wurtzita vai desaparecendo como conseqüência da deformação excessiva da rede e perda 101 da cristalinidade. Na amostra Fe50/1 não se observa nenhum pico referente ao Fe, devido à baixa 20 40 (004) 50 60 70 1 Exp PSVoigt Fe50/5 Xc1=33.906 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 2 (graus) Intensidade (a.u) (004) (013) (101) Fe50/5 [ZnO(50nm)/Fe(5nm)]x6 Fe d Exp Lorentz (004) (013) (101) (002) 30 Fe50/1 [ZnO(50nm)/Fe(1nm)]x6 (101) c (002) Intensidade (a.u.) b Intensidade (a.u) (013) ZnO_PDF: 99-100-4979; Hex. ZnO-0 (101) a (002) concentração no filme (1.7% at. Fe). Amostra 2610 Xc1=45.160 40 41 42 43 44 45 46 47 48 49 50 51 2 (graus) 80 2 (graus) Fig. 4.4.1-a)-b) e c) Difratogramas do filmes ZnO-0, Fe50/1 e Fe50/5 respectivamente e d) ajuste dos picos das reflexões (002) e (101)usando a Equação Pseudo voight 1 para a amostra Fe50/5 e d) ajuste do pico do Fe no plano(101) para a amostra Fe50/5. Observamos também uma deformação ou translação do pico (101) do ZnO nas multicamadas; este fato se deve à deformação que só se produz nas direções transversais da rede cristalina, indicando a quase aniquilação da sua periodicidade. Para a multicamada com maior concentração de Fe aparece um pico que corresponde à rede cúbica do Fe bcc, correspondente ao plano (101), devido a sua maior concentração (8,6 % at. Fe). Como se espera para amostras nanocristalinas, a largura de linha de difração de raios X são mais largas, comparando com a do ZnO em bulk, devido aos defeitos na rede e aos grãos formados. Para comparação com os dados obtidos das cartas cristalográficas, fizeram-se ajustes aos picos do ZnO na orientação (002) dos difratogramas da multicamada. Estes ajustes foram obtidos mediante a equação de Pseudo voight 1, considerando também a sobreposição do pico (101). 102 Tabela 4.4.2-Dados obtidos do difratograma de DRX. Amostra FWMH Centro D(nm) Dhkl(Å) c(Å) σ film_GPa ZnO-0 0,485 0,003 34,069 0,001 17 2,631 5,263 -2,651 Fe50/1 0,580 33,896 0,015 15 2,644 5,289 -3,817 Fe50/5 0,647 0,003 33,906 13 2,644 5,288 -3,749 AMCSD - 34,47 - - 5,204 - 0,004 0,004 O tamanho médio dos grãos de ZnO é estimado pela formula de Scherrer, obtendo um tamanho aproximado de 15nm para o filme com concentração de Fe de 1,7 % at. e 13 nm para o filme com concentração de Fe de 8,6 % at. O diâmetro médio do grão utilizando a fórmula de Scherrer para o Fe é de aproximadamente 3nm. 4.4.2-Propriedades magnéticas A caracterização magnética em função do campo M(H) medido a temperatura ambiente e com campo paralelo ao plano das amostras Fe50/5 e Fe50/1 são mostradas na figura 4.4.2. Como podem ser observadas, as amostras atingem uma magnetização de saturação com campos inferiores a de 0,2 T e o campo de saturação (Hs) a Hs Fe50/5=0,05 T e Hs Fe50/1=0,15 T. Podemos destacar que a forma da curva de histerese muda consideravelmente conforme reduzimos a espessura do Fe nas multicamadas de t=5 nm a t=1 nm apresentando uma drástica caída da magnetização de saturação de aproximadamente 80 %. A oxidação do Fe na interface causa a redução da magnetização, esta oxidação tem sua origem no crescimento do filme dentro da câmara de vácuo, indicando que o Zn se dissocia do O2 durante o crescimento. A quantidade de O2 é maior quando o ZnO é mais grosso. Nesta série se utilizou uma espessura de 50 nm de ZnO por camada. Medidas de magnetização também foram realizadas com temperatura de 50 K só para a amostra Fe50/5. Na figura 4.4.3 apresentamos as duas curvas de histerese podendo-se observar claramente o comportamento ferromagnético da amostra medida a 50 K que apresenta um aumento do campo de saturação, campo coercitivo e magnetização de saturação de 160 %, 220 % e 20 % respectivamente, sendo este comportamento normal em materiais magnéticos. Na figura inserida da figura 4.4.3 evidencia-se o comportamento da irreversibilidade da magnetização a baixos campos, podendo-se observar claramente o campo coercitivo. 103 Fe50/5 Fe50/1 1200 800 400 0 Magnetizaç ão (emu/cm 3) Magnetização (emu/cm 3) 1600 -400 -800 -1200 1500 1000 500 0 -500 -1000 -1500 -1600 -1.0 -0.5 -0.10 0.0 -0.05 0.00 0.05 Campo magnético (T) 0.5 0.10 1.0 Campo magnético (T) Fig. 4.4.2- Gráfico da M(H) das amostras Fe50/5 e Fe50/1 tomadas a temperatura ambiente e com campo no plano. Figura inserida: melhor observação do campo coercitivo e da magnetização de reminiscência. Fe50/5_300K Fe50/5_50K 1000 0 Magnetizaçao (emu/cm 3) Magnetização (emu/cm3) 2000 -1000 -2000 2000 1000 0 -1000 -2000 -0.04 -0.02 0.00 0.02 0.04 Campo magnetico (T) -1.0 -0.5 0.0 0.5 1.0 Campo magnético (T) Fig. 4.4.3-Gráfico da M (H) da amostra Fe50/5 tomadas 50K e 300K com campo no plano. Figura inserida: Destaque do campo coercitivo e da magnetização de reminiscência. A dependência da magnetização em função da temperatura M(T) é representada na figura 4.4.4. Das medidas de ZFC podemos observar que conforme aumentamos o campo externo aplicado (de 30 a 100 Oe) a temperatura de bloqueio e a temperatura de irreversibilidade decrescem; podemos observar que a curva de FC incrementa suavemente conforme a temperatura decresce, considerando que este comportamento é mais evidente quando se incrementa o campo externo, pois o campo forte ajuda a alinhar os momentos quando o sistema está resfriando; é evidente que as 104 curvas de ZFC e FC se afastam quando se aplica campos baixos (30 Oe) e a curva de ZFC mostra um platô depois de atingir a temperatura de bloqueio. Para explicar este comportamento das curvas de ZFC e FC a diferente campos precisamos conhecer o Hc da amostra (Hc = 50 Oe), então quando resfriamos o sistema e aplicamos um campo de 30 Oe, a curva de ZFC ficaria dentro do H c (curva virgem) não chegando ao ponto de separação da curva de histerese, por isso observamos que as curvas de ZFC e FC não fecham. Todavia, quando aplicamos um campo maior (100 Oe), este supera o ponto de separação da curva de histerese e assim observamos no gráfico de ZFC e FC uma temperatura de irreversibilidade. 1820 1800 1780 T irre 1760 1740 T = 120K B M (emu/cm 3) 1720 1780 = 190K ZFC FC Haplicado =100 Oe 1760 1740 T irre = 255K 1720 T = 250K 1700 B Haplicado =50 Oe 1720 1700 1680 T irre 1660 390K Haplicado =30 Oe 1640 50 100 150 200 250 300 Temperatura (K) Fig. 4.4.4- Curvas de magnetização em função da temperatura M(T) da amostra Fe50/5 variando o campo externo aplicado onde a temperatura de irreversibilidade muda dependendo do campo. Tabela 4.4.3-Dados obtidos das curvas de ZFC e FC da amostra Fe50/5 aplicando campos externos de 30, 50 e 100 Oe. Haplicados Tirre(K) Tbloqueio(K) 100 190 190 50 255 250 30 >300 105 O ferromagnetismo a temperatura ambiente é observado claramente para o filme Fe50/5. Quando a espessura do Fe é reduzida, o componente ferromagnético da magnetização reduz-se, enquanto a paramagnética aumenta. A coexistência destas duas fases reportada anteriormente em sistemas de (In, Mn)As e em amostra policristalinas de ZnO dopado com Fe. Na figura 4.4.5 mostramos as curvas de ZFC e FC da amostra Fe50/1 que apresentam um comportamento paramagnético acima de 50 K. Em altos campos aplicados a suscetibilidade incrementa a magnetização, enquanto que em altas temperaturas é negativa; esta magnetização negativa pode ser devida às contribuições do filme de ZnO (diamagnético). 150 100 a M (emu/cm3) 100 ZFC FC Haplicado =50 Oe 50 0 150 Fe50/1 b Haplicado =500 Oe c Haplicado =5000 Oe 50 0 200 100 0 -100 50 100 150 200 250 300 Temperatura (K) Fig. 4.4.5-M(T) de ZFC e FC da amostra Fe50/1 variando o campo externo aplicado. 4.4.3 - Microscopia de força atômica (AFM) A morfologia das multicamadas ZnO/Fe, foi analisada através de imagens obtidas por AFM, foram obtidas micrografias de 5x5 μm2 e guardadas em matrizes de 256 x 256 pixel. Na figura 4.4.6 apresentamos as imagens obtidas por AFM correspondentes às amostras Fe50/5 e Fe50/1 apresentamos na tabela 4.4.4 os dados obtidos nas micrografias. 106 Amostra Fe50/5 Amostra Fe50/1 2 Fig. 4.4.6 - Micrografias de 5x5 μm das superfícies das multicamadas de ZnO/Fe . Na coluna a direita é apresentada a imagem varrida em voltagem. Das micrografias apresentadas revelam claramente que as topologias das superfícies são muito diferentes. A diferença é devida à espessura da camada de Fe. Observamos maiores defeitos cristalográficos na amostra Fe50/5, mas também uma menor rugosidade. Isto pode ser devido à menor contribuição da interfase de óxido de Fe em comparação ao volume do Fe. Caso contrário seria o comportamento da amostra Fe50/1, pois não apresenta pronunciados defeitos na superfície, mas apenas uma rugosidade maior. Na amostra Fe50/1 observamos uma superfície mais homogênea, com menores defeitos cristalográficos, isto pode ser atribuído a uma maior deposição de Fe. Os dados da rugosidade Rms e do diâmetro médio do grão de ZnO são mostrados na tabela 4.4.4. 107 2 Tabela 4.4.4-Dados obtidos das micrografias de 5x5 μm das multicamadas de ZnO/Fe. Amostra Fe50/5 Rrm (nm) Dgrâo (nm) 30 5,89 Fe50/1 2,6 14 7 33 4.4.4 - Transmitância Os espectros de transmitância óptica em função do comprimento de onda das multicamadas das amostras Fe50/5 e Fe50/1 medidas a temperatura ambiente na faixa de energia de 1 eV- 6,2 eV são mostradas na figura 4.4.7; para comparação, também incluímos o espectro da amostra de ZnO puro ZnO-0 de 300 nm de espessura. É evidente que a transparência óptica do espectro é reduzida significativamente quando se aumenta o material ferromagnético (tFe=5nm) na fabricação da multicamada. Mas é observado também que a transmitância média da multicamada Fe50/1 é aumentada em 2,3 %, sendo este filme 11 nm mais grosso que o filme de ZnO puro. Podemos também observar claramente as bandas de absorção com franjas de interface perfeitas para esta amostra o que sugere que a multicamada apresenta uma baixa rugosidade (o que é confirmado com os dados do AFM), em comparação com a amostra ZnO-0. A diferença entre as franjas de interferência destas duas amostras indica que os índices de refração não são iguais. Por outro lado, a borda de absorção para todos os filmes foi na faixa de 3,26 eV – 3,4 eV. O aumento na borda de absorção é também devido ao aumento das desordens dos filmes. 100 60 40 20 a 6 ZnO-0=300 nm Fe50/1=311 nm Fe50/5=335 nm Tmedia ZnO-0 = 74,25 % Tmedia Fe50/1 = 75,95 % Tmedia Fe50/5 = 4,75 % 0 Transmitância(%) Transmitância(%) 80 Comprimento de onda (nm) b 4 2 0 200 300 400 500 600 700 800 900 1000 1100 1200 Zom da amostra Fe50/5 513nm Possivel pico do plasmon de superficie 300 400 500 600 700 800 900 1000 1100 1200 Comprimento de onda (nm) Fig. 4.4.7-a) Espectro de transmitância das multicamadas Fe50/5 e Fe50/1 além da ZnO-0 e b)Figura inserida da amostra Fe50/5, observando-se um fraco pico de ressonância de plasmon a 513 nm. 108 O espectro de transmitância da amostra Fe50/5 é muito diferente das amostras até agora estudadas, possivelmente devido à importância da interface entre ZnO/Fe submetido a um campo eletromagnético perpendicular ao filme. A ressonância do plasmon é um fenômeno que pode ser definido como a ressonância gerada pela interação da luz com filmes finos metálicos ou nanopartículas imersas em um meio dielétrico. Neste contexto, o pico que observamos na figura 4.4.7 (b), poderia ser um pico do plasmon de superfície, que tem uma ressonância em 513 nm com uma transmitância de 3,2%. Um fato importante é que esta amostra tem uma transmitância baixa devido às múltiplas reflexões da onda eletromagnética nos filmes metálicos da multicamada. Além disso, a camada do metal poderia ser um filme de nanopartículas (como é observado nas medidas de ZFC e FC). Como, os tamanhos das nanopartículas influenciam fortemente na largura do pico de ressonância de plasmon, podemos também afirmar que a amostra apresenta uma distribuição ampla de tamanhos das nanopartículas. Fe50/5 Fe50/1 ZnO-0 Pico do éxiton=360nm(3,45 eV) (h)2 a.u. ZnO-0_Eopt(1)=3,924 eV Fe50/1_Eopt(2)=3,717 eV Fe50/5_Eopt(3)=3,275 eV 3.0 3.1 3.2 3.3 3.4 3.5 3 2 1 3.4 3.5 3.6 3.7 3.8 3.9 4.0 4.1 4.2 4.3 4.4 4.5 h (eV) 250 300 350 400 450 500 550 600 nm Fig. 4.4.8 - Espectro da UV no visível dos filmes de ZnO crescidas com diferentes concentrações de O2. Podemos observar que a transmitância media é ligeiramente maior na amostra crescida com 10% de O 2. O band gap óptico dos filmes é calculado mediante o coeficiente de absorção e a energia do fóton descritos no capitulo 3. A Eopt é determinada pela extrapolação linear do gráfico para o zero da absorção. De acordo com a borda de absorção observada no gráfico esperava-se que os valores de Eopt se reduzissem com a concentração do Fe. O que foi de fato observado, visto que a densidade dos portadores de carga (elétrons) tendeu a subir com o aumento da espessura do Fe. Mas esta mudança do gap também é relatado para filmes finos de ZnO como uma conseqüência do stress ao longo do eixo c; o stress obtido pelas medidas de DRX é negativo, de natureza tensiva, fazendo a energia da banda óptica proibida ser alargada devido ao aumento da repulsão entre as bandas 2p do oxigênio e 4s do zinco. Na figura inserida podemos observar que os filmes conservam também seu band gap intrínseco do ZnO característico em ~3,33 eV e 3,25 eV (para a amostra Fe50/5). 109 Os espectros de absorção de UV visível fornecem uma forma conveniente para investigar o crescimento das partículas. O tamanho dos nanocristais na estrutura eletrônica de materiais semicondutores é representado por um marcado aumento no gap, que é atribuído ao chamado efeito de confinamento quântico. Este aumento do gap só é observado para a amostra Fe50/1, possivelmente devido à baixa concentração do Fe no filme. O pico do éxciton pronunciado do espectro de absorção da amostra Fe50/1 é mostrado na figura 4.4.8 com centro de ~ 3,45 eV, sendo semelhante à amostra de ZnO puro. Por outro lado este pico do éxciton não é observado na amostra Fe50/5, possivelmente devido à competição dos fenômenos físicos provocados pela radiação eletromagnética (ressonância de superfície do plasmon versus éxciton). 4.5 - Multicamadas de ZnO/CoFe As multicamadas [ZnO(5nm) / CoFe (t nm)]x6 foram preparadas por pulverização sequencial de ZnO e CoFe sobre substrato de Si/Si2O na orientação (100) a temperatura ambiente. Uma série de multicamadas de ZnO / CoFe foram preparadas, mantendo-se constante a espessura nominal da camada de ZnO (5 nm) e mudando a espessura nominal da camada de CoFe (t), t = 0,3; 0,4; 0,6; 0,8 e 1,0 nm. Uma adicional camada de 5 nm de ZnO foi depositado sobre cada amostra. Na tabela 4.5.1 são listadas as amostras preparadas e analisadas nesta seção. Tabela 4.5.1- Amostras de ZnO/CoFe com espessura nominal de ZnO fixo de 5 nm e espessura do Fe (t = 0,3; 0,4; 0,6; 0,8 e 1,0 nm). Nome da amostra Série do sistema ZnO/Fe (espessuras em nm) CoFe3 Si(100)/[ZnO(5)/CoFe(0,3)]6/ZnO(5) CoFe4 Si(100)/[ZnO(5)/CoFe(0,4)] 6/ZnO(5) CoFe6 Si(100)/[ZnO(5)/CoFe(0,6)] 6/ZnO(5) CoFe8 Si(100)/[ZnO(5)/CoFe(0,8)] 6/ZnO(5) CoFe10 Si(100)/[ZnO(5)/CoFe(1,0)]6/ZnO(5) 110 4.5.1- Difração de raios X Na figura 4.5.1 podemos observar os difratogramas desta série; onde inserimos os difratogramas do filme de ZnO (ZnO-0 de 300 nm de espessura) e o difratograma do substrato de oxido de silício utilizado para a fabricação das multicamadas. Os difratogramas da serie revelam um pico significativo que engloba picos satélites (vistos na seção 4.2). Possuem as mesmas fases além de CoO (por ser CoFe) com entrada pdf # 431004 que apresenta uma simetria cúbica, grupo espacial Fm-3m(225) com parâmetro de rede de a = 4,26 Å. Podemos também observar nesta série uma forte orientação preferencial do pico no plano (002) do ZnO. Intensidade (a.u.) Si/SiO2 Ref X2 (vidro) CoFe3 CoFe4 CoFe6 CoFe8 CoFe10 20 25 30 35 40 45 2 (graus) 50 55 60 65 Fig. 4.5.1-Difratogramas dos filmes de ZnO/CoFe com a espessura de CoFe diferentes. A figura 4.5.2 a) mostrado uma amplificação do pico principal das multicamadas crescidas sobre o substrato de Si com uma camada de 600 nm de SiO2, e em b) são mostradas as mesmas multicamadas, porém crescidas sobre substrato de vidro; podemos observar claramente o papel desempenhado pelo SiO2, provocando um alargamento do pico principal. O filme crescido sobre vidro foi utilizado somente para as medidas de transmitância. 111 Fe2O3_PDF: 99-200-4192; Rhombohedral Fe3O4_PDF: 99-100-2086; Orthorhombic CoFe3 ZnO_PDF: 99-100-4979; Hex. ZnO_PDF: 99-100-4979; Hex. 30 (101) (101) (002) 32 34 (101) (002) (100) CoFe10 (002) (100) CoFe10 (101) (002) (100) CoFe8 CoFe6 (100) CoFe6 Intensidade (a.u) (10-1) (023) CoFe3 (111) (110) (211) Intensidade (a.u.) CoFe4 36 2 (graus) 38 40 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 2 (graus) Fig. 4.5.2 - a) Amplificação do pico principal do difratograma dos filmes crescidos sobre o substrato de Si/SiO2 e b) Pico principal dos mesmos filmes, porém crescidos sobre substrato de vidro. O pico principal contém também informação das fases do CoFe, Fe e Co como foi visto na seção 4.2.1, pois não existem outras reflexões além do pico principal da multicamada. As intensidades dos picos das multicamadas não podem ser comparadas diretamente, já que as áreas das amostras e espessuras são diferentes. 4.5.2- Microscopia de força atômica (AFM) Com o análise da morfologia das multicamadas desta série ZnO/CoFe, podemos ter uma ideia da rugosidade entre as interfaces. A figura 4.5.3 apresenta os resultados das micrografias das amostras obtidas numa área de 5 x 5 μm2 com 256 x 256 pixel. As micrografias apresentadas revelam claramente que as topologias das superfícies são muito diferentes. A diferença da rugosidade entre as amostras neste trabalho é apenas devido à diferença da espessura, mais precisamente devido à espessura da camada do CoFe. Observamos maiores defeitos na superfície na amostra CoFe3 devido a menor concentração desta liga; a razão para que estes defeitos ficassem aglomerados numa área pode ter como causa a separação dos elementos da liga. 112 Amostra CoFe3 Amostra CoFe6 Amostra CoFe10 2 Fig. 4.5.3- Micrografias de 5 x 5 μm da superfície da série dos filmes de [ZnO(5nm)/CoFe(t)]x6 onde t= 0,3 ; 0,6 e 1,0 nm. Na coluna à esquerda apresentamos a topologia em nanômetro e na coluna à direita em voltagem. 113 Na amostra CoFe6 é observada uma textura, cuja causa é desconhecida. Na amostra CoFe10 observamos uma superfície mais homogênea, com menores defeitos na superfície; isto pode ser atribuído a uma maior concentração da liga. Os dados da rugosidade Rms e do diâmetro médio do grão de ZnO são mostrados na tabela 4.5.2. Tabela 4.5.2 – Dados obtidos com as análises da morfologia dos filmes da série [ZnO(5nm)/CoFe(t)]. Amostra Rrm (nm) D grão (nm) CoFe3 16 6 28 CoFe4 2 1 28 CoFe6 35 26 39 CoFe8 29 24 32 CoFe10 31 30 43 4.5.3 - Propriedades magnéticas As propriedades magnéticas estáticas e dinâmicas foram estudadas mediante medidas de magnetização em função da temperatura e o campo externo utilizando o magnetômetro de amostra vibrante (VSM) e a espectroscopia de ressonância ferromagnética (FMR) com o campo no plano e fora do plano. A seguir vamos discutir os resultados. 4.5.3.1 - Propriedade magnética estática (VSM) Na figura 4.5.4 mostramos as curvas de magnetização em função do campo M(H) da série de multicamadas de [ZnO(5nm)/CoFe(t)]x6 medidas a temperatura ambiente com campo aplicado no plano. Como é observado, todas as amostras atingem uma magnetização de saturação com campos inferiores de 1,5 T. Observamos que o comportamento da magnetização de saturação decresce gradualmente conforme diminui-se a espessura do CoFe. Como explicamos na seção anterior, obtivemos a magnetização de saturação com a medida do volume de cada amostra. A comportamento das curvas de histerese é semelhante à serie ZnO/Fe; observando-se também a transição de um sistema tipo filme a um sistema granular. Medidas de magnetização em função do campo M(H) também foram realizadas com temperatura de 50 K para a amostra CoFe10. Na figura 4.5.5 apresentamos as duas curvas como fator de comparação dos loops de histerese medidos em 300 K e 50 K. 114 2000 CoFe10 CoFe8 CoFe6 CoFe4 CoFe3 1000 500 0 800 Magnetizaç ão (emu/cm 3) Magnetizaç ão (emu/cm 3) 1500 -500 -1000 -1500 400 0 -400 -800 -0.06 -0.04 -0.02 0.00 0.02 0.04 0.06 Campo magnético (T) -2000 -2 -1 0 1 Campo magnético (T) 2 Fig. 4.5.4- Loop de histerese da série ZnO/Fe, com sinal do porta amostra e substrato b) sem o sinal do porta amostra e substrato. Figura inserida: Ampliação para observação do H c e da Mr da série. 2000 Magnetizaç ão (emu/cm 3) 1500 1000 CoFe10 50 K 300 K 500 0 2000 -500 1000 0 -1000 -1000 -1500 -2000 -2000 -2 -0.04 -0.02 0.00 -1 0.02 0 1 2 0.04 Campo magnético (T) Fig. 4.5.5- Comparação das curvas M(H) medidas a 300 K e 50 K da multicamada com t = 1 nm. Na figura inserida se observa o incremento do Hc medido a 50 K. A histerese magnética a 50 K não apresenta deformação no ciclo de histerese, o que sugere que as possíveis fases magnéticas estão acopladas a esta temperatura. Na figura 4.5.6 apresentamos 115 as curvas de magnetização em função do campo medidas à temperatura ambiente, com campo magnético externo perpendicular ao plano do filme e com campo magnético no plano do filme referente às amostras CoFe10 e CoFe8. Pelo método das áreas explicado na seção 4.1 obtemos os valores da Keff das duas amostras. CoFe10 Perpendicular No plano 0.5 M/M s 1.0 0.5 Keff = -2,48 x106 erg/cm3 T= 300 K 0.0 1.0 CoFe8 Perpendicular No plano T= 300 K M/Ms 1.0 Keff = -0,70 x106 erg/cm3 0.0 1 0.5 0.0 -0.5 M/M s M/M s -0.5 -0.5 -1.0 -0.06 -1.0 -0.04 -0.02 0.00 0.02 0.04 0.06 Campo magnetico (T) -1.0 -0.5 0.0 Campo magnético (T) 0.5 -1 -0.06 -1.0 1.0 0 -0.04 -0.02 0.00 0.02 0.04 0.06 Campo magnético (T) -0.5 0.0 Campo magnético (T) 0.5 Fig. 4.5.6--Curvas de M(H) no plano e perpendicular para as amostra CoFe10 e CoFe8 respectivamente. Na figura 4.5.7 são apresentadas as medidas de magnetização de ZFC/ FC em função da temperatura para a série das multicamadas, com campo externo aplicado de 50 Oe. Nestas medidas observamos que o comportamento magnético das amostras dentro da série varia, sendo a ordem ferromagnética favorecida pelo aumento da espessura da camada de CoFe (t). As amostras com camadas muito finas de CoFe (t < 0,6 nm) apresentam um comportamento tipo paramagnético, onde as curvas de ZFC e FC não se separam. Nas amostras com t > 0,6 nm o pico da curva ZFC se desloca a temperaturas mais elevadas, o que indica uma temperatura de bloqueio mais elevada do respectivo conjunto de nanopartículas, o que indica um aumento do tamanho delas. No entanto, acima da temperatura de transição chamada de temperatura de bloqueio, as partículas se comportam como superparamagnéticas devido à predominância de flutuações térmicas sobre a energia de anisotropia magnetocristalina, este fato não é observado na amostra CoFe10, pois o platô se estende até a temperatura de 300 K. Observamos na amostra CoFe8 que a magnetização a baixas temperaturas decresce, este fato pode ser explicado por um comportamento de vidro de spin ou um acoplamento antiferromagnético entre os spins devido ao óxido de Co. 116 ZFC FC 200 100 CoFe3 0 200 CoFe4 M (emu/cm 3) 100 0 200 CoFe6 150 100 50 0 800 600 400 200 0 1500 CoFe8 1000 CoFe10 500 0 50 100 150 200 250 300 Temperature (K) Fig. 4.5.7- M(T) de ZFC/FC da série [ZnO(5nm)/CoFe(t)] com um campo aplicado de 50 Oe. Na figura 4.5.8 mostramos as curvas de ZFC e FC da amostra CoFe10 aplicando diferentes campos magnéticos; observamos que a temperatura de irreversibilidade decresce com o aumento do campo externo. Além disso, é observado a contribuição diamagnética do ZnO nas curvas de ZFC a baixos campos aplicados. Como foi explicado na seção anterior, com as medidas feitas a diferentes campos podemos usar a linha de Almeida Thouless (AT). Esta linha separa a fase paramagnética de altas temperaturas e altos campos para a fase vidro de spin de baixas temperaturas e baixos campos. Para obter a Tirr (0), utilizou-se uma extrapolação obtendo-se um valor de 227 K, como é mostrado na figura 4.5.9 b) a partir dos dados obtidos. Na seção anterior apresentamos como calcular o volume médio de um sistema de nanopartículas; com esse método vamos calcular o volume médio da amostra CoFe10, para isto obtivemos o valor médio destes sistemas pela derivada da diferença das curvas de ZFC e FC mostrados na figura 4.5.11. Podemos observar que TB para a amostra CoFe8 está abaixo de 50 K, não podendo ser determinada satisfatoriamente. 117 1500 1000 500 0 1500 ZFC Hapl =100 Oe FC T B=78 K T irre=81 K Hapl =75 Oe T B=109 K T irre=96 K 1000 M (emu/cm 3) 500 0 1500 1000 T B=89 K T irre=109K 500 0 1500 1000 500 0 -500 -1000 1500 1000 500 0 -500 -1000 Hapl =50 Oe T B=110 K T irre=143 K Hapl =30 Oe Hapl =10 Oe T B=218 K T irre=202 K 50 100 150 200 250 300 Temperature (K) Fig. 4.5.8- M(T) de ZFC/FC da amostra CoFe10 com diferentes campos aplicados. 1500 CoFe10 a 20 ) (Oe 10 Experimental Ajuste 500 0 H aplicado 10 Oe -500 H aplicado 50 Oe H aplicado 30 Oe H aplicado 75 Oe -1000 H aplicado 100 Oe 50 100 150 200 250 Temperature (K) 300 2/3 2/3 15 b H M (emu/cm 3) 1000 C Linear Fi 5 Tirr (H=0)=227 K 0 100 150 Tirr (K) 200 250 Fig. 4.5.9 a) Magnetização ZFC dependente da temperatura para o filme e b) Dependência do campo em função da Tirr para a obtenção Tirr (H=0). No gráfico 4.5.11 a) mostramos o comportamento da amostra CoFe4, neste gráfico é observado claramente o comportamento paramagnético a altas temperaturas. Além de observar a competição diamagnética do ZnO a baixas temperaturas pelo fato que a magnetização diminui. No d) observamos que a temperatura de Curie fica em 0K , esperado para materiais paramagnéticos. 118 80 120 d(M ZFC-M FC)/dT Equation 80 0.97454 Value 40 60 y=y0 + (A/(w*sqrt(PI/2)))*exp(2*((x-xc)/w)^2) Adj. R-Square 60 CoFe8 CoFe10 <Tb>= 58 K Standard Error Derivative Y1 y0 0 Derivative Y1 xc 57.82253 Derivative Y1 w 23.72577 0.71477 Derivative Y1 A 1940.68833 50.37104 0 Derivative Y1 sigma 11.86288 Derivative Y1 FWHM 27.93495 Derivative Y1 Height 65.26429 0 Haplicado =50 Oe 20 d(ZFC-FC)/dT 100 40 100 150 200 <Tb><50K Haplicado =50 Oe 20 0 0 50 Derivative Y1 Derivative Y1 Gauss Fit of Derivative Y1 250 50 100 150 200 Temperature (K) Temperature (K) 250 Fig. 4.5.10- Derivada d(MZFC-MFC)/dT dos dados experimentais da amostra CoFe10 e CoFe8 respectivamente, o ajuste representa uma gaussiana. 500 a 400 CoFe4 Haplicado =500 Oe 300 Smoothed Y1 200 5 100 CoFe4 0 4 b 200 Haplicado =200 Oe 150 -1 (T) M (emu/cm3) 250 100 50 3 2 = 0K 0 Haplicado =50 Oe 200 150 Haplicado = 500 Oe 1 0 100 50 100 150 200 250 Temperatura(K) 50 0 50 100 150 200 250 300 Temperature (K) Fig. 4.5.11 – a-c) Curvas de ZFC/FC da amostra CoFe4 com diferentes campos aplicados e d) inversa da suscetibilidade em função da temperatura para determinar a temperatura de Curie. 4.5.3.2 - Propriedade magnética dinâmica (FMR) As medidas de FMR foram feitas a temperatura ambiente para as amostras da série [ZnO(5nm)/CoFe(t)] com espessura t = 0,3; 0,4; 0,6 e 0,8 nm. Observamos que os espectros de FMR 119 destas amostras apresentam um único modo de ressonância, e um grande alargamento da linha, sendo o mais drástico para a amostra CoFe3 a 90o com H = 830 Oe. Na figura 4.5.12 são apresentados alguns espectros de FMR da amostra CoFe8, para diferentes ângulos entre a normal ao plano e o campo aplicado. A amplitude dos sinais está normalizada pelo ganho eletrônico fornecido pelo equipamento. =64 0.3 o CoFe8 =44 Intensidade (a.u) o 0.2 =34 o =24 o 0.1 0.0 -0.1 -0.2 -0.3 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 Campo magnético (T) Fig. 4.5.12 - Espectros de FMR medidos a temperatura ambiente da multicamada [ZnO(5nm)/CoFe(0,8 nm)]x6 para diferentes ângulos entre o campo aplicado e a normal ao plano dos filmes. G:RAQUEL\S2652V Subtracted Y1 PSFMR1 (User) Fit of Subtracted Y1 0.02 =90o 0.2 r 0.1 0.0 -0.1 -0.2 Experimental Ajuste -0.3 0.1 0.2 0.3 0.4 Campo magnético (T) 0.5 Intensidade(a.u) Intensidade(a.u) 0.3 0.01 0.00 -0.01 Hl Pseudo modo -0.02 -0.03 0.6 =0o r 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 Campo magnético (T) Fig. 4.5.13- Espectros de FMR medidos a temperatura ambiente da multicamada [ZnO(5nm)/CoFe(0.8 nm)]x6 para diferentes ângulos entre o campo aplicado e a normal ao plano dos filmes. O comportamento dos espectros em relação ao ângulo é típico de materiais com eixo fácil no plano, pois o campo externo no plano, necessário para que haja absorção de micro-ondas, é menor que na configuração perpendicular. Na figura 4.5.13 são apresentados os espectros a 90o e 0o onde a 120 linha contínua é o ajuste feito por meio da derivada da Loretziana. No espectro medido na perpendicular ao campo é observado uma assimetria devido ao desacoplamento das fases magnéticas a altos campos, além da aparição de um pseudo pico. Na figura 4.5.14 são apresentados alguns espectros de FMR da amostra CoFe6 e CoFe4, para diferentes ângulos entre a normal ao plano e o campo aplicado. Podemos observar que a amostra CoFe6 apresenta um desacoplamento dos modos, são apreciados três modos que se cruzam conforme inclinamos a amostra até a perpendicular, esta amostra apresenta uma variação do campo de ressonância do modo principal (modo com maior intensidade no plano) de H r 0,031 T. O comportamento dos espectros da amostra CoFe4 é distinto, ele apresenta um só modo que é a soma de todos os modos das nanopartículas sobrepostas, estes modos não se desacoplam nem mudam com o campo de ressonância, na verdade a mudança é mínima de H r 0,012 T quando inclinamos a amostra até a perpendicular. 0.02 0.00 =10 -0.02 =50 0.03 Intensidade(a.u) Intensidade(a.u) CoFe6 =90o 0.04 o 0.02 0.01 G:RAQUEL\S2645V\s2651v01.spc G:RAQUEL\S2645V\s2651v05.spc G:RAQUEL\S2645V\s2651v07.spc G:RAQUEL\S2645V\s2651v10.spc G:RAQUEL\S2645V\s2651v13.spc G:RAQUEL\S2645V\s2651v16.spc G:RAQUEL\S2645V\s2651v18.spc CoFe4 =90o =0 0.00 =30 o o -0.01 o -0.02 -0.04 =0 0.1 0.2 0.3 0.4 -0.03 o 0.5 Campo magnético (T) 0.6 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 Campo magnético (T) 0.6 Fig. 4.5.14 - Espectros das amostras CoFe6 e CoFe4 para diferentes ângulos entre o campo aplicado e a normal ao plano dos filmes, não se observa diminuição das intensidades destas duas séries. Na figura 4.5.15 mostramos o comportamento dos espectros da amostra CoFe6 nos ângulos de 90o, 40o, 20o e 0o, onde permitindo seguir a evolução dos três modos. Além disso, nos proporcionam informação da magnetização no plano e fora do plano. Os campos de ressonância e largura de linha do modo principal (P2) a 90o e 0o obtidos dos espectros são: Hr= 0,302 T; H 0,100 T e Hr = 0,457 T; H 1,15 T, respectivamente (para obter este último dado foi preciso ajustar o espectro com os três modos). 0 10 30 60 100 121 E PSFMR3 (User) Fit of E E PSFMR3 (User) Fit of E 0.02 =90o P3 0.02 P1 P2 Intensidade(a.u) Intensidade(a.u) 0.04 0.00 -0.02 -0.04 r2 0.00 -0.02 0.3 0.4 Campo magnético (T) 0.5 r1 r2 r3 0.6 0.1 0.2 0.3 0.4 Campo magnético (T) 0.5 0.6 G:RAQUEL\S2645V\s2651v17.spc Subtracted Y1 0.03PSFMR3 (User) Fit of Subtracted Y1 P3 =0o Equation =20o 0.02 0.01 P1 Intensidade(a.u) Intensidade(a.u) 0.02 0.2 0.01 r 0.1 -0.01 r1 =40o 0.01 0.00 0.00 -0.01 P2 r1 -0.01 -0.02 -0.02 r2 r3 Adj. R-Square Subtracted Y1 0.1 0.2 0.3 0.4 Campo magnético (T) 0.5 Subtracted Y1 0.6 Subtracted Y1 Subtracted Y1 0.1 0.2 0.3 0.4 Campo magnético (T) Subtracted Y1 Subtracted Y1 0.5 0.6 Subtracted Y1 Subtracted Y1 Subtracted Y1 Subtracted Y1 Subtracted Y1 Fig. 4.5.15- Espectros de FMR da amostra CoFe6 para algumas orientações do campo magnético entre o plano Subtracted Y1 e a perpendicular do filme. São observados claramente os três modos. A linha continua é o ajuste da derivada da Loretziana. E E 0.010 =90o Intensidade(a.u) 0.02 Intensidade(a.u) 0.03 r1 0.01 0.00 -0.01 -0.02 -0.03 0.1 0.2 CoFe4 0.3 0.4 0.5 Campo magnético (T) 0.6 Data: Book13_E Model: Lorentz 0.005 Equation: y = y0 + (2*A/PI)*(w/(4*(x-xc)^2 + w^2)) Weighting: y No weighting Chi^2/DoF r1 = 0.00001 R^2 = 0.89529 0.000 y0 xc1 w1 A1 xc2 w2 A2 -0.005 Experimental Ajuste =0o -0.010 -0.00025 0.28359 0.06164 0.00312 0.35104 0.07277 -0.00349 ±0.00016 ±0.00071 ±0.00224 ±0.00013 ±0.00088 ±0.00269 ±0.00015 Data: Book14_E Model: Lorentz Equation: y = y0 + (2*A/PI)*(w/(4*(x-xc)^2 Weighting: y No weighting Experimental Ajuste 0.1 0.2 CoFe4 0.3 0.4 0.5 Campo magnético (T) 0.6 Chi^2/DoF = 3.2136E-6 R^2 = 0.76834 y0 xc1 w1 A1 xc2 w2 A2 Fig. 4.5.16- Espectros de FMR da amostra CoFe4 para algumas orientações do campo magnético entre o plano e a perpendicular do filme. São observados claramente os três modos. A linha contínua é o ajuste da derivada da Loretziana. 0.0002 ±0.0001 0.29054 ±0.0014 0.07239 ±0.00429 0.00122 ±0.00009 0.36357 ±0.00161 0.08003 ±0.00482 -0.0013 ±0.00009 122 Os espectros de ressonância das amostras CoFe4 e CoFe3 são bem ruidosos e com baixa intensidade em comparação com a amostra CoFe8, mais ainda assim nos proporcionam informação sobre a magnetização no plano e fora do plano. Na figura 4.5.16 mostramos o comportamento dos espectros da amostra CoFe4 nos ângulos de 90 o e 0o. Os campos de ressonância e largura de linha a 90o e 0o obtidos dos espectros são: Hr= 0,316 T, H 0,074 T e Hr= 0,328 T; H 0,080 T, respectivamente. A linha contínua representa o ajuste da derivada da loretziana. Por último, foram obtidos os espectros da amostra CoFe3 a 90o e 0o com campos de ressonância e largura de linha de: Hr= 0,321 T; H 0,083T e Hr= 0,315 T; H 0,076 T respectivamente. E E Intensidade(a.u) 0.004 0.008 =90o Intensidade(a.u) 0.006 r 0.002 0.000 -0.002 =0o 0.006 r 0.004 0.002 0.000 -0.002 -0.004 -0.006 -0.008 -0.004 Experimental Ajuste 0.1 0.2 0.3 CoFe3 0.4 0.5 -0.006 0.6 Campo magnético (T) Experimental Ajuste 0.1 0.2 CoFe3 0.3 0.4 0.5 Campo magnético (T) 0.6 Fig. 4.5.17 - Espectros de FMR da amostra CoFe3 para algumas orientações do campo magnético entre o plano e a perpendicular do filme. A linha continua é o ajuste da derivada da Loretziana. Devemos considerar que o comportamento da largura de linha é atribuído ao modo de ressonância uniforme, onde todos os momentos magnéticos das nanopartículas estão em precessão na mesma fase com a amplitude (superposição de sinais) devido a um acoplamento forte o suficiente para que o campo magnético não as desacople. A redução do valor do campo de ressonância na orientação perpendicular é devida a uma redução da magnetização por efeitos de dimensionalidade. Na figura 4.5.18 a) apresentamos o comportamento do campo de ressonância em função do ângulo para a amostra CoFe8 e na b) o comportamento da largura de linha em função do campo da amostra. Como podemos observar, o comportamento da largura da linha é muito distinta ao comportamento da amostra Fe10, podendo ser devido à homogeneidade e inomogeneidades magnéticas, interdifusão, cristalinidade do material, etc. 5.5 CoFe8 4.5 4.0 3.5 3.0 2.5 -20 0 CoFe8 1.0 5.0 Largura de linha (KOe) Campo de ressonância (KOe) 123 20 40 60 Angulo (graus) 80 100 T=300K 0.8 0.6 0.4 0.2 -20 0 20 40 60 Angulo (graus) 80 100 Fig. 4.5.18- Comportamento do campo de ressonância e largura de linha em função do ângulo entre a normal ao plano e o campo aplicado da amostra CoFe8. Os valores do campo de anisotropia efetiva, o fator g e as constantes de energia efetiva para as amostra, foram estimados usando relações de condição de ressonância, utilizando os valores dos campos de ressonância nas orientações paralela e perpendicular. Os valores são mostrados na tabela 4.5.3. Tabela 4.5.3- Dados obtidos das medidas dos espectros de FMR para as amostra CoFe8, CoFe6, CoFe4 e CoFe3. Amostra CoFe8 4M eff K eff ( x 10 6 (T) erg/cm3) -0,173 -0,943 g 2,019 (T-1seg-1) L / S 1,775x10 11 0,009 0,938 CoFe6(P1) -0,172 -0,767 3,877 3,408x10 11 CoFe6(P2) -0,221 -0,984 2,969 2,609x10 11 0,484 0,121 CoFe6(P3) 0,021 -0,093 2,243 1,971x10 11 CoFe4 -0,008 -0,014 2,189 1,924x10 11 0,095 CoFe3 0,004 0,008 2,196 1,930x10 11 0,098 É importante mencionar que o valor da constante de anisotropia efetiva que contém as contribuições da anisotropia magnetocristalina e da energia desmagnetizante, é típico de sistemas cujo eixo de fácil magnetização está no plano. O sinal negativo pode ser atribuído ao fato da interação dipolar ser maior que a interação spin-órbita. A interação dipolar dá origem à anisotropia que favorece um eixo fácil no plano e a interação spin-órbita é responsável pela anisotropia que favorece um eixo fácil perpendicular ao plano. 124 4.5.4 - Espectroscopia de fotoelétron (XPS) Os espectros de XPS no nível do núcleo do Zn 2p, Fe 2p Co 2p e O 1s foram registrados para a amostra CoFe10. As condições da medida foram explicadas da seção anterior. Os espectros de XPS do Zn 2p das multicamadas são exibidos na figura 4.5.19; os picos principais do Zn (com etching de 1600 segundo) são observados em 1022,54 eV e 1045,80 eV correspondentes às energia de ligação de Zn 2p3/2 e 2P1/2 respectivamente. Os espectros dos picos mostram uma simetria excluindo a possibilidade de múltiplos componentes do Zn na amostra. Observamos também um desvio das energias de ligação, em comparação com o material padrão em granel do ZnO, o que nos induz a pensar que existe uma força adicional que puxa os elétrons do nível do núcleo para energias mais elevadas. Intensidade (a.u) 60 2p3/2=1022.54eV Etching de 1600 seg Sem etching 2p1/2=1045.80eV 40 23,26 eV 20 0 1015 1020 1025 1030 1035 1040 1045 1050 Binding energia (eV) Fig. 4.5.19- Espectro de XPS do Zn 2P da amostra CoFe10, cada espectro corresponde a diferentes profundidades da amostra. Na figura 4.5.20 a) mostramos os espectros do XPS do Fe 2p e em (b) foi selecionado somente o pico principal 2P3/2 e as gaussianas das três componentes (Fe, Fe2+ e Fe3+), observando que o espectro tem uma maior contribuição do íon de Fe3+. O espectro do Fe 2P e Co 2p da multicamada CoFe10 são analisados a uma profundidade de aproximadamente 17 nm (desde a superfície), sendo os picos principais do Fe fortemente observados nas posições de 707,21 e 719,99 eV, embora eles apresentem uma assimetria, indicando a presença de fases secundarias. É importante mencionar que o sinal do Fe observado corresponde à segunda camada crescida, indicando que as camadas não são contínuas, tendo forma de um sistema percolado. Além disso, são observados dois picos satélites na posição de energias de 718 e 730 eV . As posições dos picos do Fe e dos íons de Fe em bulk foram indicadas na seção. Podemos dizer que a posição dos picos do espectro fica nessa faixa de energia, o que explica a forma do espectro, tendo a contribuição do Fe um volume menor do que dos íons de 125 Fe, além destes apresentarem um estado de valência mista, como pode ser observado no gráfico 4.5.20 G L2=719,99eV Fe = 707,58 eV +2 Fe = 709,44 eV +3 Fe = 711,24 eV Fe 2p3/2 Fe 2p3/2 Intensidade (a.u) Etching de 1600 seg 13,23 eV 13,24 eV Intensidade (a.u) L3=707,21eV Fe +3 Da Mo Eq W y Fe = 707,12 eV +2 Fe = 709,04 eV +3 Fe = 710,53 eV Ch R^ y0 xc w1 A1 xc w2 A2 xc w3 A3 Fe Fe +2 FWH 12,41 eV FWH 700 705 710 715 720 725 730 706 735 708 710 712 714 FWH Binding energia (eV) Binding energia (eV) Fig. 4.5.20- a) Espectro de XPS do Fe 2P3/2 e 2P1/2 da amostra CoFe10 e b) ajuste gaussiana do pico P3/2 mostrando a contribuição das fases do Fe. Na figura 4.5.21 (a) mostramos o espectro do Co, obtido na mesma profundidade onde não é possível observar por separado os picos Co 2P3/2 e Co 2P1/2, pois estão sobrepostos totalmente; Porém, não é possível distinguir se possui estado misto. Na figura 4.5.21 (b) foi selecionado o pico e mostrado as gaussianas de três possíveis picos correspondendo aos picos de Co 2P3/2 , Co 2P1/2 e um pico satélite. G Intensidade (a.u) Intensidade (a.u) 783.50eV Sobrepociçao de picos 775 Etching de 1600 seg Etching de 1600 seg a 780 785 790 795 800 Binding energia (eV) 805 P1=783,33 eV FWHM(P1)=3,99 eV P2=787,17eV FWHM(P2)=4,72 eV P3=791,17 eV 770 FWHM(P3)=5,19 eV P1 P2 P3 775 780 785 790 795 800 Binding energia (eV) Fig. 4.5.21 - a) Espectro de XPS do Co 2P da amostra CoFe10 e b) ajuste da gaussiana do único pico. 805 Dat Mod Equ We y Chi R^2 y0 xc1 w1 A1 xc2 w2 A2 xc3 w3 A3 xc4 w4 A4 126 Os dados do espectro de XPS do Zn 2p confirmam que o Zn retém o estado bivalente do Fe, enquanto o espectro de Fe 2p confirma que o Fe apresenta um estado misto (do espectro de Co não podemos concluir se apresenta um estado de valência mista). Comportamento igual ao apresentado pelas amostras da serie ZnO/Fe. K O1s = 530,87 eV P1 = 531,71 eV Com etching de 1600 seg Sem etching P2 = 532,68 eV Intensidade (a.u) Intensidade (a.u) 1s1/2=531eV O1s(FWHM) = 1,04eV P1(FWHM)= 2,11 eV O2 P2(FWHM)= 1,56 eV P1 P2 528 530 532 534 536 Binding energia (eV) 538 528 529 530 531 532 533 534 535 Binding energia (eV) Fig. 4.5.22- a) Espectro de XPS do O 1s referente às diferentes posições e b) ajuste gausseano do espectro de O. O espectro do oxigênio medido na mesma profundidade é mostrado na figura 4.5.22, observamos claramente que apresentam um pico assimétrico, que indica à presença de uma espécie multicomponente do oxigênio à maior energia (pico satélite). O pico medido a uma profundidade de aproximadamente 17 nm fica em 531,99 eV, deslocado a menores energias em comparação ao material em bulk do ZnO (O 1s = 532 eV), o pico satélite é responsável pelo aparecimento da fase do Fe3+ (e/ou Co). Este fenômeno eletrônico podem ser a causa da conservação da neutralidade de carga na estrutura. 4.5.5 - Transmitância Nesta parte, estudaremos como é afetada a transmitância com a concentração do CoFe nas multicamadas de [ZnO(50nm)/CoFe(tnm)]x6. Os espectros de transmitância óptica em função do comprimento de onda das multicamadas foram medidos a temperatura ambiente na faixa de energia de 1 eV- 6,2 eV e são mostrados na figura 4.5.23. A configuração utilizada foi do campo eletromagnético perpendicular ao plano do filme. O fenômeno observado pode ser definido como a ressonância gerada pela interação da luz com as nanopartículas metálicas (acoplamento entre ondas eletromagnéticas e a associação coletiva dos elétrons livres do metal), conhecido como ressonância do plasmon. O acoplamento ocorre com nanopartículas metálicas com diâmetro muito menor que o comprimento de onda da radiação incidente. As nanopartículas que estão emersas numa matriz 127 dielétrica sofrem uma forte extinção (absorção + espalhamento) da luz incidente no comprimento de onda que estimula a ressonância do plasmon. Esta forte excitação nos espectros de transmitância é observada na faixa de 250~390 nm. 80 CoFe10 CoFe8 CoFe6 CoFe4 CoFe3 60 50 50 40 40 70 35 65 30 30 60 20 0 200 12,39 eV 100,00 nm 45 75 10 Pico de ressonancia Transmitância(%) Transmitância(%) 70 [ZnO(5nm)/CoFe(t)]x6 300 400 500 600 55 25 50 20 45 750 700 800 800 850 900 CoFe10_Press=310,00nm CoFe6_Press=316,58nm CoFe3_Press=307,80nm 270 950 300 330 360 390 420 450 480 (nm) 900 1000 1100 Comprimento de onda (nm) Fig. 4.5.23- a) Espectro de transmitância das multicamadas da série ZnO. Figura inserida mostra uma ampliação das curvas. b) Ampliação do pico de plasmon com ressonância na posição de 310 nm. A ressonância de plasmon de superfície em nanopartículas possui a vantagem de não depender de um ângulo de incidência da luz. Nesta interação o campo evanescente, que é gerado quando a luz incidente sofre reflexão interna total na interface metal-dielétrica e é perpendicular ao filme metálico, irá excitar o plasmon da superfície (ondas eletromagnéticas que se propagam na direção paralela ao filme metálico na interface metal-dielétrico). Em determinados comprimentos de onda ocorre à ressonância, sendo parte do sinal absorvida pelo metal. Neste contexto, o pico que observamos na figura 4.5.26 (b), poderia ser um pico do plasmon de superfície, que tem uma ressonância média em 310 nm com uma transmitância que varia dependendo da amostra na faixa de 23 – 32 %. Um fato importante é que estas amostras têm uma transmitância crescente a comprimentos de ondas maiores, chegando a 80% da transmitância a um comprimento de onda de 1200 nm. Além disso, os tamanhos das nanopartículas influenciam fortemente na largura do pico de ressonância de plasmon; assim podemos afirmar que a amostra apresenta uma distribuição ampla de tamanhos das nanopartículas. 128 Tabela 4.5.4- Dados obtidos das medidas dos espectros de transmitância Amostra Egap (eV) Posição PRS (nm) CoFe3 3,48 313 23 CoFe4 3,46 -- 25 CoFe6 3,37 315 32 CoFe8 3,35 -- 28 CoFe10 3,35 309 28 0.5 30 3.44 Egap (eV) 0.1 3.46 28 3.42 3.40 26 3.38 24 3.36 0.0 358nm=3,46eV 330 360 390 420 450 (nm) 3.34 480 Transmitância do pico CoFe8 CoFe6 CoFe4 CoFe3 0.2 -0.1300 32 3.48 CoFe10 0.3 dT/d 3.50 370nm=3,35eV 0.4 T PRS % (nm) 22 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1.0 1.1 Espessura do CoFe (nm) Fig. 4.5.24- a) Derivada da transmitância em função do comprimento de onda para determinar o band gap e b) tendência do band gap da série de multicamada e transmitância do pico do plasmon em função da espessura do CoFe. O band gap óptico dos filmes é calculado mediante a primeira derivada da transmitância em função do comprimento de onda, mostrado na figura 4.5.24 a) e a tendência de variação é mostrada na 4.5.24 b). Na tabela 4.5.4 mostramos as grandezas obtidas mediante as medidas de transmitância. 4.6 - Multicamadas de ZnO/NiFe As multicamadas [ZnO(5nm) / NiFe (t nm)]x6 foram preparadas, mantendo-se constante a espessura nominal da camada de ZnO (5 nm) e mudando a espessura nominal da camada de NiFe (t), t = 0,3; 0,4; 0,6; 0,8 e 1 nm. Uma adicional camada de 5 nm de ZnO foi depositada sobre cada amostra. Na tabela 4.6.1 são listadas as amostras preparadas e analisadas. Tabela 4.6.1- Amostras preparadas de ZnO/NiFe com espessura nominal de ZnO fixo de 5 nm e variando a espessura do Fe (t=0,3; 0,4; 0,6; 0,8 e 1,0 nm). 129 Nome da amostra Série do sistema ZnO/Fe (espessuras em nm) NiFe3 Si(100)/[ZnO(5)/NiFe(0,3)]6/ZnO(5) NiFe4 Si(100)/[ZnO(5)/NiFe(0,4)] 6/ZnO(5) NiFe6 Si(100)/[ZnO(5)/NiFe(0,5)] 6/ZnO(5) NiFe8 Si(100)/[ZnO(5)/NiFe(0,8)] 6/ZnO(5) NiFe10 Si(100)/[ZnO(5)/NiFe(1,0)]6/ZnO(5) 4.6.1 - Difração de raios X Na figura 4.6.1 podemos observar os difratogramas de três amostras da série crescidas sobre vidro; a linha embaixo de cada espectro (cor celeste) corresponde ao sinal do substrato de vidro. (101) (002) (100) NiFe6 (101) (002) b (100) Intensidade (a.u) ZnO_PDF: 99-100-4979; Hex. NiFe3 a NiFe10 30 32 (101) (002) (100) c 34 36 2 theta (graus) 38 40 Fig. 4.6.1- Difratogramas dos filmes de ZnO/NiFe crescidos a RT e sobre substrato de vidro. Como podemos observar a figura 4.6.1 também revela um pico significativo no plano (002) do ZnO, como as outras séries de multicamadas estudadas neste trabalho. Onde indicamos que este pico principal engloba picos satélites que seriam sinais das fases contidas na amostra (como já foi visto anteriormente). Podemos observar que conforme decresce a espessura do NiFe a orientação cristalográfica do pico principal é destruída (amorfo). 130 4.6.2 - Microscopia de força atômica (AFM) Na figura 4.6.2 apresentamos as micrografias de três amostras da série ZnO/NiFe; podemos observar claramente que a topologia da superfície da amostra NiFe3 não apresenta defeitos na superfície, embora a rugosidade seja maior que das outras duas. Um ponto importante é a aniquilação do plano (002), isto pode ser a causa, visto que não observamos defeitos nesta amostra. O desaparecimento deste plano se deve ao descasamento dos parâmetros de rede causando uma desordem completa da estrutura. As amostras que conservam o plano (002) apresentam defeitos na superfície, além de uma menor rugosidade. A amostra NiFe10 além de apresentar menor rugosidade ela também apresenta um tipo de textura de natureza desconhecida. Para a análise quantitativa utilizamos o software Gwyddion, os dados da rugosidade Rms e do diâmetro médio do grão de ZnO são mostrados na tabela 4.6.2 onde a rugosidade foi obtida de uma área de 5 x 5 μm2. A partir dos dados da tabela pode-se ver que as rugosidades são muito maiores que a espessura do NiFe depositado por camada, além de apresentar uma grande incerteza. Tabela 4.6.2- A rugosidade média e diâmetro de grão obtidos com as análises da morfologia dos filmes da série [ZnO(5nm)/NiFe(t)]. Amostra Rrm (nm) Dgrão (nm) NiFe3 20 9 45 NiFe4 14 7 47 NiFe6 15 8 38 NiFe8 14 11 43 NiFe10 22 14 41 A diferença da rugosidade entre as amostras neste trabalho é apenas devido à diferença da espessura das amostras, mais precisamente devido à espessura da camada do NiFe. 131 Amostra NiFe3 Amostra NiFe6 Amostra NiFe10 2 Fig 4.6.2- Micrografias de 5x5 μm da superfície da série dos filmes de [ZnO(5nm)/NiFe(t)]x6 onde t= 0,3; 0.6 e 1nm. Na coluna à esquerda apresentamos a topologia em nanômetros e na coluna à direita em voltagem. 132 4.6.3- Propriedades magnéticas 4.6.3.1- Propriedade magnética estática (VSM) Na figura 4.6.3 mostramos as curvas de magnetização em função do campo M(H) da série de multicamadas de [ZnO(5nm)/NiFe(t)]x6 onde tNiFe= 0,3; 0,4; 0,6; 0,8 e 1 nm medidas a temperatura ambiente com campo aplicado no plano. Observamos que as amostras apresentam campos de saturação menores que 1 T; as amostras com maior espessura de NiFe apresentam baixos valores da magnetização de saturação dentro da série o que pode indicar um acoplamento antiferromagnético entre os momentos dentro do sistema, não contribuindo assim à magnetização total. Como explicamos na seção anterior, obtivemos a magnetização de saturação com a medida do volume de cada amostra. NiFe10 NiFe8 NiFe6 NiFe4 NiFe3 600 400 200 0 400 -200 Magnetizaç ão (emu/cm 3) Magnetização (emu/cm3) 800 -400 -600 -800 200 0 -200 -400 -0.06 -2 -1 0 -0.04 -0.02 0.00 0.02 0.04 Campo magnético (T) 1 Campo magnético (T) 0.06 2 Fig 4.6.3- Loop de histerese da série ZnO/NiFe, com sinal do porta amostra e substrato b) sem o sinal de porta amostra e substrato e c) ampliação das curvas de histerese para melhor visualização do comportamento do H c e da Mr da série. Medidas de magnetização em função do campo M(H) também foram realizadas com temperatura de 50 K para as amostras NiFe10 e NiFe8 e com 150 K para a amostra NiFe10. Na figura 4.6.4 a) apresentamos três curvas de histerese a diferentes temperaturas da amostra NiFe10 (incluindo a amostra medida a 300 K). Podemos observar claramente a mudança gradual do loop de histerese que passa de um estado paramagnético (300 K) ao superparamagnético (50 K). 133 50K 150 K 300 K 1000 NiFe8 2000 50 k 300 K 1000 -1000 -2000 -2 -1 0 400 200 400 -1000 0 -200 -400 -0.10 Campo no plano 0 Magnetizaçao (emu/cm 3 ) 0 Magnetizaçao (emu/cm 3 ) Magnetizaçao (emu/cm 3) Magnetizaçao (emu/cm3) NiFe10 2000 -2000 -0.05 0.00 0.05 1 0 -200 -400 -0.06 -0.04 -0.02 0.00 0.02 0.04 Campo magnetico (T) 0.10 Campo magnético (T) -2 2 Campo magnético (T) 200 -1 0 1 0.06 2 Campo magnético (T) Fig. 4.6.4 - Loops de histerese medidos a diferentes temperaturas da amostra a) amostra NiFe10 e b) amostra NiFe8. As figuras inseridas indicam o comportamento do campo coercitivo. 20 15 a 10 NiFe6 ZFC 10 Haplicado =50 Oe 5 -1 (T) 8 6 d Haplicado =50 Oe 4 b NiFe8 40 0 20 Haplicado =50 Oe 0 50 100 150 H aplicado_ 30 Oe 250 c Haplicado =50 Oe 200 H aplicado_ 10 Oe e 100 50 ZFC FC 100 H aplicado_ 20 Oe 200 150 250 H aplicado_ 50 Oe 300 NiFe10 200 Temperatura (K) 350 -20 300 = 150K 2 M (emu/cm 3) M (emu/cm3) 0 60 NiFe10 0 0 50 100 150 200 250 Temperatura (K) 300 50 100 150 200 Temperature (K) 250 300 Fig 4.6.5- a-c) Curvas de ZFC/FC da série [ZnO(5 nm)/NiFe(t)] com um campo aplicado de 50 Oe, d) gráfico do inverso da susceptibilidade em função da temperatura da amostra NiFe10 e) curvas de ZFC da amostra NiFe10 com diferentes campos aplicados. Também observamos o aumento da magnetização de saturação, embora seja difícil de obter do loop medido a 50 K, pois nesta temperatura se obtém uma maior contribuição superparamagnética, para obter o gráfico da contribuição ferromagnética neste loop deveria-se 134 separar as duas contribuições magnéticas. Na figura 4.6.4 b) apresentamos os loops de histerese medidos a 50 K e 300 K da amostra NiFe8. Podemos observar claramente a mudança do loop de histerese que passa de um estado paramagnético (300 K) ao superparamagnético (50 K). Este último loop com Hc = 0 e quadratura quase desprezível Na figura 4.6.5 apresentamos as medidas das curvas de ZFC e FC das últimas três amostras com maiores espessuras da série de multicamadas, com campo externo aplicado de 50 Oe. Observamos que o comportamento das amostras é típico de materiais paramagnéticos a altas temperaturas, à medida que aumenta-se a espessura do NiFe a magnetização aumenta a temperaturas baixas. Nestas medidas observamos que o comportamento magnético das amostras dentro da série varia, sendo a ordem paramagnética favorecida com a diminuição da espessura da camada de NiFe. O paramagnetísmo a temperatura ambiente é claramente observado nos filmes. Observamos que as curvas de ZFC e FC não se separam na temperatura de 50 K na amostra NiFe10, sugerindo que a temperatura de bloqueio é menor que 50 K, o que nos leva a supor que se trata de um sistema de nanopartículas pequenas. Na figura 4.6.5 b) observamos uma competição entre o magnetismo do NiFe e o diamagnética do ZnO. Na figura 4.6.5 d) observamos a temperatura de Curie Weiss da amostra NiFe10 que nos confirma seu comportamento ferromagnético a 150 K. Por último na figura 4.6.5 e) mostramos as curvas ZFC da amostra NiFe10 com diferentes campos aplicados, podemos observar claramente que não existem mudanças significativas aplicando campos baixos onde a temperatura da ordem ferromagnética fica quase constante em 150 K. 4.6.3.2 - Propriedade magnética dinâmica (FMR) As medidas de FMR foram feitas a temperatura ambiente para as amostras da série [ZnO(5nm)/NiFe(t)] onde só obtivemos bom sinal nas amostras com espessura t = 0,6; 0,8 e 1 nm. Observamos que os espectros de FMR destas amostras apresentam um modo de ressonância, e um comprido alargamento da linha, sendo o mais drástico a amostra NiFe6 a 90o com H = 800 Oe. Na figura 4.6.6 são apresentados alguns espectros de FMR da amostra NiFe10, com diferentes ângulos entre a normal ao plano e o campo aplicado. Igual às amostras das outras séries a intensidade está normalizada. O comportamento dos espectros em relação ao ângulo é típico de materiais com eixo fácil no plano como foi observado também nas outras séries. A variação do campo de ressonância no plano e na perpendicular é de Hr 0,103 T, a drástica diminuição do campo de ressonância na perpendicular nos indica que o sistema não corresponde a um filme contínuo, informando da possível presença de um sistema granular com orientação preferencial no plano. Na figura 4.6.7 são apresentados os espectros a 90o e 0o onde a linha contínua é o ajuste feito por meio da derivada da Loretziana. Derivada da absorção (u.a.) 135 0.12 NiFe10 =60o 0.08 0 2 4 6 8 10 12 16 20 30 40 50 60 70 90 =20o 0.04 0.00 =0o -0.04 -0.08 =40o -0.12 -0.16 =90o 0.25 0.30 0.35 0.40 0.45 Campo magnético (T) Fig. 4.6.6 - Espectros de FMR medidos a temperatura ambiente da amostra NiFe10 para diferentes ângulos entre o campo aplicado e a normal ao plano dos filmes. E Intensidade(a.u) 0.10 =90o NiFe10 r1 0.05 0.00 -0.05 Intensidade(a.u) 0.15 E 0.01 =0o Data: Book21_E Model: Lorentz Equation: y = y0 + (2*A/PI)*(w/(4*(x-xc)^2 + w^2)) Weighting: y No weighting Chi^2/DoF = 6.5122E-6 R^2 = 0.99525 0.00 y0 xc1 w1 A1 xc2 w2 A2 NiFe10 r Chi^2/DoF = 1.703E-6 R^2 = 0.94445 -0.00272 ±0.00011 0.29127 ±0.00025 0.02924 ±0.00017 0.015 ±0.0007 0.30058 ±0.00016 0.02459 ±0.00026 -0.01349 ±0.00068 y0 xc1 w1 A1 xc2 w2 A2 -0.01 -0.10 Experimental Ajuste Experimental Ajuste -0.15 0.1 0.2 Data: Book22_E Model: Lorentz Equation: y = y0 + (2*A/PI)*(w/(4*(x Weighting: y No weighting 0.3 Campo magnético (T) 0.4 0.30 0.35 0.40 0.45 0.50 Campo magnético (T) 0.55 0.60 Fig 4.6.7- Espectros de FMR medidos a temperatura ambiente da multicamada NiFe10 para os espectros nos o o ângulos 90 e 0 , a linha contínua é o ajuste da curva da Loretziana. Embora, os espectros das amostras NiFe8 e NiFe6 são muito ruidosos e com baixa intensidade em comparação à amostra NiFe10, nos proporcionam informação da magnetização no plano e fora do plano. Na figura 4.6.8 mostramos os espectros das amostras NiFe8 e NiFe6 a 90o e 0o com campos de ressonância e largura de linha de: Hr= 0,31 T; H 0,051 T e Hr= 0,331 T; 0.00036 0.38577 0.03763 0.00119 0.41279 0.03922 -0.00148 ±0.00007 ±0.00052 ±0.00121 ±0.00007 ±0.00047 ±0.00105 ±0.00007 136 E E 0.010 Intensidade(a.u) Intensidade(a.u) r 0.005 0.000 -0.005 Experimental Ajuste -0.010 0.1 0.2 0.4 0.5 Book5_E 0.006 Data: Model: Lorentz r Equation: y = y0 + (2*A/PI)*(w/(4*(x-xc)^2 + w^2)) Weighting: No weighting 0.004 y Chi^2/DoF = 1.9823E-6 = 0.76077 0.002 R^2 y0 xc1 -0.0001 ±0.00009 0.30153 ±0.00333 0.07178 ±0.00549 0.00176 ±0.00056 0.33221 ±0.00515 0.08418 ±0.00498 -0.00191 ±0.00058 0.000 w1 -0.002 A1 xc2 w2 A2 Experimental Ajuste -0.004 NiFe8 0.3 =0o 0.008 =90o 0.1 0.6 0.2 NiFe8 0.3 0.4 0.5 0.6 Campo magnético (T) Campo magnético (T) E =90o 0.004 r 0.002 0.000 -0.002 Book10_E 0.004Data: Model: Lorentz 0.002 Chi^2/DoF = 1.5654E-6 R^2 = 0.62663 0.000y0xc1 w1 A1 xc2 w2 A2 xc3 w3 A3 xc4 w4 A4 -0.004 Experimental Ajuste -0.006 0.1 0.2 NiFe6 0.3 0.4 Campo magnético (T) 0.5 0.6 r Equation: y = y0 + (2*A/PI)*(w/(4*(x-xc)^2 + w^2)) Weighting: y No weighting -0.002 -0.004 =0o Intensidade(a.u) 0.006 Intensidade(a.u) E 0.006 -0.006 -0.00067 0.24781 0.27468 0.00049 1.1266E30 5.169E28 -1.8846E26 0.28545 0.07848 0.00063 0.35509 0.09069 -0.00064 ±-±0.09032 ±0.17818 ±0.00067 ±9.2092E37 ±-±9.1177E33 ±0.00289 ±0.01487 ±0.00021 ±0.00422 ±0.01914 ±0.00026 Experimental Ajuste 0.1 0.2 NiFe6 0.3 0.4 Campo magnético (T) 0.5 0.6 Fig 4.6.8-Espectros das amostras NiFe8 e NiFe6 medidas a temperatura ambiente, mostrando os espectros dos o o 4.0 3.8 3.6 3.4 3.2 3.0 2.8 g= 2,1348 H Keff 10 T= 300 K = - 0,700 KOe 20 30 40 50 Largura de linha (KOe) Campo de ressonância (KOe) ângulos de 90 e 0 , a linha contínua é o ajuste da Loretziana. NiFe10 0.35 T= 300 K 0.30 0.25 0.20 0.15 60 70 Angulo (graus) 80 90 100 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 Angulo (graus) Fig. 4.6.9- a) Comportamento do campo de ressonância em função do ângulo e b) Comportamento da largura de linha em função do ângulo entre a normal ao plano e o campo aplicado para a amostra NiFe10. H 0,068 T respectivamente. Devemos considerar que o comportamento da largura de linha é atribuído ao modo de ressonância uniforme, onde todos os momentos magnéticos das nanopartículas estão em precessão na mesma fase com a amplitude (superposição de sinais) devido 137 a um acoplamento forte o suficiente para que o campo magnético não as desacople. Na figura 4.6.9 a) apresentamos o comportamento do campo de ressonância em função do ângulo e na b) mostramos o comportamento da largura de linha em função do campo da amostra NiFe10; a linha pontilhada é apenas uma guia para os olhos. A magnetização de saturação efetiva (4πMeff) e o fator g foram estimadas usando relações de condição de ressonância, utilizando os valores dos campos de ressonância nas orientações paralela e perpendicular. Os valores do campo de anisotropia efetiva, o fato g e as constantes de energia efetiva para as amostra são mostrados na tabela 4.6.3. Tabela 4.6.3 Dados obtidos das medidas dos espectros de FMR para as amostra com espessuras de 0,6; 0,8 e 1,0 nm de NiFe. Amostra 4M eff (T) K eff ( x 10 6 g -1 -1 L / S (T seg ) erg/cm3) NiFe10 -0,070 -0,126 2,135 1,876*10 11 0,067 NiFe8 -0,0087 -0,003 2,173 1,910*10 11 0,087 NiFe6 0,0033 0,058 2,185 1,920*10 11 0.092 4.6.4 - Espectroscopia de fotoelétron (XPS) Os espectros de XPS do Zn 2p das multicamadas são exibidas na figura 4.6.10, os picos principais do Zn (com etching de 1000 seg) são observados em 1022,61 eV e 1045,66 eV correspondentes à energia de ligação de Zn 2p3/2 e 2P1/2 respectivamente. Intensidade (a.u) 2p3/2=1022,61eV NiFe10 2p1/2=1045,66eV Etching de 1000 seg Sem etching 1015 1020 1025 1030 1035 1040 1045 1050 Binding energia (eV) Fig. 4.6.10- Espectro de XPS do Zn 2P da amostra NiFe10, cada espectro corresponde a diferentes profundidades da amostra. 138 O sinal do espectro obtido à maior profundidade mostra picos simétricos, excluindo a possibilidade de componentes múltiplos de Zn nesta amostra. Observamos também um desvio mínimo das energias de ligação, em comparação ao material padrão em granel do ZnO (1022,0 eV e 1045,0 eV para o nível Zn2p e 532,0 eV para o nível de O 1s). Na figura 4.6.11 a) mostramos os espectros do XPS do Ni 2p e no b) o espectro do Fe 2p da multicamada NiFe10 a uma profundidade de aproximadamente 11 nm (em relação à superfície), os picos principais do Ni são fortemente observados na posição de 852,91 e 870,48 eV com uma energia de transferência de carga de 17,57 eV. L3=852,91 eV NiFe10 Etching de 1000 seg Ni 2p1/2 Sobrepociçao de picos Intensidade (a.u) Intensidade (a.u) Etching de 1000 seg L2=870,48eV Ni 2p3/2 17,57 eV 705 700 845 850 855 860 865 870 875 880 885 705 710 710 715 715 720 720 725 725 730 Binding energia (eV) 735 740 Binding energia (eV) Fig 4.6.11- a) Espectro de XPS do Ni 2P e b) Espectro do Fe 2P para a amostra NiFe10. Embora eles apresentem uma assimetria nos indicando a presença de fases secundárias, no espectro do Fe não é possível observar separadamente os picos Fe 2P3/2 e Fe 2P1/2 , visto que eles estão sobrepostos tornando difícil a sua separação. Além disso, não é possível distinguir se possui estado misto. O espectro do oxigênio medido na mesma profundidade é mostrado na figura 4.6.12, observamos claramente que apresentam um pico assimétrico, que indica a presença de uma espécie multicomponente do oxigênio com maior energia (pico satélite). O pico medido a uma profundidade de aproximadamente 11 nm apresenta-se em 531,99 eV, deslocado a menores energias em comparação ao material em bulk do ZnO (O1s = 532 eV), podemos observar que o pico satélite decresce com a profundidade, tendendo a ocupar um menor volume a 11 nm, sendo esta a informação proveniente do pico satélite responsável pelo aparecimento das possíveis fase do Fe3+. 139 E Etching de 1000 seg Sem etching 528 530 532 534 536 Binding energia (eV) 538 O1s = 530,87 eV P1 = 532,43 eV Intensidade (a.u) Intensidade (a.u) 1s1/2=530,99eV NiFe10 528 O1s(FWHM) = 1,18 eV P1(FWHM)= 1,66 eV O2 Pico satelite P1 529 530 531 532 533 534 535 Binding energia (eV) Fig. 4.6.12- a) Espectro de XPS do O 1s referente às diferentes profundidades e b) ajuste Gaussiano do espectro de O. Este sistema, apresenta uma sinal forte do Ni puro e os estados de valência do Fe3+ e Fe2+, o estado de valência Fe3+ é devido à criação de vacâncias de oxigênio e o Fe2+ devido aos íons do Zn2+. Estes fenômenos eletrônicos podem ser a causa da conservação da neutralidade de carga na estrutura. 4.6.5 - Transmitância Os espectros de transmitância óptica em função do comprimento de onda das multicamadas foram medidas a temperatura ambiente na faixa de energia de 1 eV- 6,2 eV e são mostradas na figura 4.6.13. 70 a 55 60 50 50 45 40 30 20 10 [ZnO(5nm)/NiFe(t)]x6 NiFe10 NiFe8 NiFe6 NiFe4 NiFe3 0 200 300 400 500 600 700 800 900 1000 1100 Comprimento de onda (nm) Transmitância(%) Transmitância(%) 80 40 35 NiFe3_Press=307,70nm NiFe4_Press=301,0nm b NiFe6_Press=279,00nm 107,00 nm 11,45 eV 30 25 20 15 Pico de ressonancia NiFe10 NiFe8 NiFe6 NiFe4 NiFe3 10 240 270 300 330 360 390 420 450 480 Comprimento de onda (nm) Fig. 4.6.13 - a) Espectro de transmitância das multicamadas da série ZnO/NiFe e b) ampliação do pico de plasmon com ressonância na posição de 300 nm., 140 A configuração utilizada foi do campo eletromagnético perpendicular ao plano do filme. Observamos um pico de plasmon igual ao observado na serie de ZnO/CoFe que exibe uma forte extinção nos espectros de transmitância na faixa de 250-390 nm. A ressonância de plasmon de superfície em nanopartículas possui a vantagem de não depender de um ângulo de incidência da luz. Portanto estes picos de plasmon são um forte indicio da formação de nanopartículas. Neste contexto, o pico que observamos na figura 4.13 b), é um pico do plasmon, que tem uma ressonância media em 310 nm com uma transmitância que varia dependendo da amostra na faixa de 18-30%. Além disso, as distribuições de tamanhos das nanopartículas influenciam fortemente na largura do pico de ressonância de plasmon, assim podemos afirmar que a amostra apresenta uma distribuição ampla de tamanhos das nanopartículas (este fato não é observado na amostra NiFe10). 0.5 3.55 0.1 24 3.50 22 Egap (eV) dT/d 0.2 26 3.45 20 18 3.40 16 3.35 0.0 14 370nm=3,35eV 330 360 390 420 450 Transmitância do pico 0.3 300 28 NiFe10 NiFe8 NiFe6 NiFe4 NiFe3 0.4 Egap Transmitancio do pico 12 3.30 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1.0 1.1 Espessura do NiFe (nm) Comprimento de onda (nm) Fig. 4.6.14- a) Derivada da transmitância em função do comprimento de onda e b) tendência do band gap e transmitância do pico do plasmon em função da espessura de Fe. Tabela 4.6.4- Dados obtidos das medidas dos espectros de transmitância Amostra Egap (eV) Posição PRS (nm) NiFe3 3,35 308 28 NiFe4 3,35 301 28 NiFe6 3,46 279 20 NiFe8 3,48 -- 17 NiFe10 3,57 - 13 T PRS % (nm) O band gap óptico dos filmes é calculado mediante a primeira derivada da transmitância em função do comprimento de onda, mostrado na figura 4.6.14. Na tabela 4.6.4 mostramos as grandezas obtidas mediante as medidas de transmitância. 141 Capítulo 5 Conclusões Neste trabalho foram estudadas as propriedades estruturais, magnéticas e químicas das multicamadas de ZnO/Fe , ZnO/CoFe e ZnO/NiFe, crescidas por magnetron sputtering a temperatura ambiente sobre substratos de silício e vidro. Iniciamos com as amostras de filmes de ZnO e seguimos com as diversas amostras de multicamadas. Os principais resultados foram os seguintes: Da análise de filmes de ZnO preparados em diferentes condições, concluímos que a melhor qualidade para o uso nas multicamadas é para filmes crescidos em atmosfera de argônio pois apresenta crescimento no plano (002), menos defeitos na superfície e uma relativa alta transmitância. O fato de ter um diâmetro de cristalitos menor que o raio de Bohr do éxciton e apresentar um gap óptico grande, faz que este material seja interessante, podendo melhorar as qualidades das multicamadas semicondutor/ferromagnético. Da análise da série de multicamadas de ZnO/Fe, com espessura fixa de ZnO de 5 nm (variando a espessura da camada de Fe de 0,3 – 1,0 nm) concluímos que efetivamente com a introdução do material ferromagnético nas multicamadas mudamos o sistema de um filme (percolado) a um sistema de nanopartículas. Isto é evidenciada nas formas das curvas de histereses medidas a temperatura ambiente (Fig. 4.2.6). Com as medidas da magnetização em função da temperatura (Fig. 4.2.9) é confirmada a mudança nas séries, observada claramente na forma das curvas de ZFC e FC que mostram a transição do sistema de um filme percolado (com amplo platô) e com forte acoplamento dipolar (amostra Fe10) até um sistema granular (amostra Fe6). Dentro da série observamos que a ordem magnética é favorecida pelo aumento da espessura da camada de Fe. Os sistemas de nanopartículas com tFe = 0,6 nm e 0,8 nm apresentam um acoplamento dipolar fraco e a altas temperaturas os momentos magnéticos das partículas giram livremente sugerindo que a interconexão entre elas é fraca. No sistema com tFe= 0,8 nm verificamos que a 120 K a maior parte do sistema de nanopartículas está desbloqueada. 142 As medidas de FMR mostraram que o eixo fácil da magnetização para a amostra Fe10 fica no plano; são observados dos modos desacoplados, provavelmente originado pela ressonância das camadas de Fe, e nas interfaces. Os modos se deslocam em formas diferentes com o aumento do campo externo, pois a anisotropia é distinta para cada um dos modos. Isto pode ser verificado pelo valor do Heff obtido dos espectros de FMR. Os espectros de FMR para as outras amostras da série [ZnO(5nm)/Fe(t)]x6 mostram um modo de ressonância com maior largura de linha e baixa intensidade. À medida que diminui a espessura da camada de Fe, decresce a diferença do campo de ressonância medido com o campo aplicado no plano e na perpendicular ao plano do filme. Este decréscimo do campo de ressonância Campo de ressonância (KOe) dentro da série indica uma redução da anisotropia de forma, como mostra o seguinte gráfico: Fe10 Modo Principal Fe10 Modo Secundario Fe 8 Fe 6 10 8 6 4 2 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 Angulo (graus) Fig. 5.1- Comportamento do campo de ressonância em função do ângulo entre a normal ao plano e o campo aplicado da série ZnO/Fe. Portanto, esta é uma informação importante mostrando as mudanças que ocorrem na série de amostras, sugerindo que para baixas espessuras de Fe aparece um comportamento de nanopartículas. Os estados do Fe são revelados pelas medidas de XPS (sugerido também pelas medidas de DRX) mostrando uma mistura de Fe e íons de Fe (Fe2+ e Fe3+ ). As multicamadas de [ZnO(5nm)/Fe(t)]x6 aquecidas a 600oC x 2 horas em vácuo, apresentam uma drástica mudança nas suas propriedades estruturais e magnéticas, em comparação com as amostras não aquecidas. Os espectros de XPS mostram que o aquecimento causou uma difusão de 143 grande parte do Fe e íons de Fe dentro da matriz de ZnO, relaxando a rede cristalina do hospedeiro, evidenciado pelo deslocamento do pico nos espectros de DRX. As medidas magnéticas em função do campo desta série de amostras recozidas indicam que a curva de histerese não é mais típica de um sistema de partículas pequenas. Tampouco apresenta um comportamento de um sistema com partículas (grandes), pois não é observada nenhuma temperatura de bloqueio nas curvas de ZFC e FC. Além disso, a forma das curvas de histerese da série recozida é similar. Por outro lado os espectros de ressonância ferromagnética na amostra a-Fe10 não são típicos de filmes. Portanto, estas amostras possivelmente sejam candidatos a SMD. O comportamento das multicamadas de [ZnO(5nm)/CoFe(t)]x6, é similar à série [ZnO(5nm)/Fe(t)]x6; para a amostra com tCoFe = 0,8 nm é possível observar um comportamento típico de ordenamento antiferromagnético ou vidro spin a baixas temperaturas (observado no ZFC/FC). Pelo XPS observamos a presença de íons de Co e Fe, sendo só o Fe que apresenta uma fase metálica. Observamos que as amostras com tCoFe = 0,3; 0,4 e 0,6 nm apresentam um comportamento de nanopartículas, com uma marcada largura de linha. Nesta serie é observado melhor o decrescimo da Campo de ressonância (KOe) anisotropia de forma, mostrado no gráfico: 5.0 CoFe8 CoFe6 CoFe4 CoFe3 4.5 4.0 3.5 3.0 2.5 -10 0 10 20 30 40 50 60 70 Angulo (graus) 80 90 100 Fig. 5.2- Comportamento do campo de ressonância em função do ângulo entre a normal ao plano e o campo aplicado da série ZnO/CoFe. No caso das multicamadas de ZnO/NiFe observa-se um ferromagnetismo fraco e destruição de textura do plano (002) da multicamada para tNiFe < 0,6 nm. A multicamada com tNiFe = 1,0 nm 144 apresenta o eixo fácil da magnetização no plano. As medidas magnéticas em função da temperatura indicam um comportamento paramagnético a altas temperaturas. Resumindo, os três sistemas de multicamadas fixando o ZnO em 5nm e variando a multicamada magnética tanto em espessura como em composição (Fe, CoFe e FeNi) mostram uma clara transição de um filme percolado a um sistema granulado com a diminuição da espessura do material ferromagnético. As medidas realizadas no sistema de ZnO/Fe recozido sugerem que podemos ter obtido um semicondutor magnético diluído. As perspectivas futuras de medidas para estes sistemas que podem melhorar o entendimento das suas propriedades são: Medidas de microscopia eletrônica de transmissão Medidas de transporte CCP (para verificar a polarização do spin) Medidas por XANES e EXAFS e Dicroísmo Circular Magnético de raios-X 145 Referências [1] Ohno, H.;Science; v. 281, p. 951, (1998). [2] F. Pan, C. Song, X. J. Liu, Y. C. Yang and F. Zeng, Mat. Science and Engeneering; v. 62, p.1(2008). [3] S. A. Chambers,Surface Science Reports; v. 61, p. 345 (2006). [4] S. J. Pearton, W. H. Heo, M. Ivill, D. P. Norton and T. Steiner, Semicond. Sci. Technol; v.19, p. 59 (2004). [5] S. A. Wolf, D. D. Awschalom, R. A. Buhrman, J. M. Daughton,S. von Molnar, M. L. Roukes, A. Y. Chtchelkanova, and D. M. Treger, Science; v. 294, p. 1488 (2001). [6] T. Dietl, and H. Ohno, Materials Today; v.9, p.18 (2006). [7] T. 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