Termodinâmica I - FMT 159 Segunda prova: 30/11/2009 Noturno ATENÇÃO: JUSTIFIQUE todas as suas respostas. Não destaque a folha de rascunho. Tempo de prova: 100 minutos. NOME: 1. (3,0) Em uma máquina térmica o agente é um gás ideal de coeciente adiabático γ , que executa o ciclo da gura abaixo, onde BC é uma adiabática e CA é uma isoterma. (a) (0,25) Em que etapas do ciclo o gás recebe calor? Em que etapas cede calor? Em que etapas realiza trabalho? em que etapas trabalho é realizado sobre o sistema? Justique suas respostas! (b) (0,75) Calcule o calor trocado e o trabalho realizado/recebido em cada uma das etapas. Lembre que: ∆U = Q − W ; ∆U = n cv ∆T . • Etapa AB: Nessa etapa W = 0 (pois V = constante) =⇒ temos Q > 0; o sistema recebe calor. ∆U = Q = n cv ∆T ; Como ∆T > 0 • Etapa BC: Nessa etapa Q = 0 (adiabática) =⇒ ∆U = −W temos W > 0; o sistema realiza trabalho. =⇒ = W = −n cv ∆T ; Como ∆T < 0 • Etapa CA: Nessa etapa T = constante =⇒ ∆U = 0 e portanto Q = W ; como o volume diminui, W < 0 (o sistema recebe trabalho) e Q < 0 (o sistema cede calor). Z Vf Z Vf dV N R TA p(V ) dV = Nesse caso W = = N RTA ln(Vf /Vi ) = Q. V Vi Vi 1 (c) (1,00) Calcule o rendimento, em função das variáveis cp , cv , γ , r, R, TA ou TB (nem todas podem ser necessárias.) ³ η= nRTA ln VA VC ´ W W QCA = =1− =1− , Q1 QAB QAB n cv (TB − TA ) Em uma adiabática, T V γ−1 = constante; portanto TB = TC µ VB VC ¶γ−1 , sabemos também que VA = VB e que TA = TC portanto VA = VC η =1− µ TB TA ¶1/(γ−1) = 1 r (1) R ln (TB /TA )1/(γ−1) , cv (TB /TA − 1) (2) (d) (1,00) Exprima o resultado primeiro em função de γ e r, e depois apenas em função da razão ρ = TA /TB entre as temperaturas extremas. (Lembre-se que a log(x) = log(xa ).) Usando o resultado do item anterior, podemos escrever cv e cp em função de R e γ , com R/cv = (γ − 1). Substituindo na expressão anterior temos η = 1 − (γ − 1) η =1− ln (TB /TA )1/(γ−1) . TB /TA − 1 (3) ln (TB /TA ) . TB /TA − 1 (4) substituindo VA = VB = V e VC = rV na equação (1) teremos TB = TA µ ¶(γ−1) 1 , r 1 TB = , TA ρ (5) substituindo as expressões acima na equação (4) teremos respectivamente η =1+ (γ − 1) ln r , r(1−γ) − 1 2 η =1+ ρ ln ρ . 1−ρ (6) 2. (2,0) Demonstre que duas adiabáticas nunca podem se cortar. Sugestão: suponha que isso fosse possí vel, complete o ciclo com uma isoterma e mostre que a segunda lei da termodinâmica seria violada se um tal ciclo existisse. Solução: p A Q=0 B T Q=0 Q=0 C V Note que no processo isotérmico AB temos ∆UAB = 0, então o calor é absorvido, tal que QAB = WAB > 0. Além disso, nos outros dois processos BC e CA, ambos adiabáticos, temos que QBC = QCA = 0. Portanto, tal ciclo constituiria uma máquina térmica miraculosa, onde o único efeito seria absorver uma quantidade de calor QAB > 0 de uma fonte quente e realizar uma certa quantidade de trabalho (correspondente à área dentro do ciclo) também > 0, violando a segunda lei da termodinâmica (enunciado de Kelvin). 3 3. (2,0) Um recipiente de paredes adiabáticas contém 2 ` de água a 30 o C. Coloca-se nele um bloco de 500 g de gelo. (a) (0,5) Calcule a temperatura nal do sistema. Considere 80 cal/g para o calor latente de fusão do gelo. (b) (1,5) Calcule a variação de entropia do sistema. Solução: (a) Como a energia é conservada ∆Utotal = 0 e como nenhum trabalho é realizado no processo Wtotal = 0, portanto Qtotal = 0. Dessa forma, o calor absorvido pelo gelo é igual em modulo pelo calor cedido pela água líguida portanto Qg + Ql = 0, (7) mg Lf usão + mg c (Tf − Tig ) + ml c (Tf − Til ) = 0, (8) Tf = mg Lf usão − c (mg Tig + ml Til ) c (ml + mg ) (9) o onde c é o calor especíco da água = 1,0 cal/g C , mg é a massa do gelo, ml é a massa da água na fase líguida, Tig é a temperatura inicial do gelo, Til é a temperatura inicial da água na fase líguida. Fazendo as contas teremos o (10) Tf = 281, 23 K ' 8 C (b) A variação de entropia do sistema é dada por mg Lf usão ∆S = + mg c T ZTf dT + ml c T Tig mg Lf usão ∆S = + mg c ln T µ Tf Tig ZTf dT , T (11) Til ¶ µ + ml c ln Tf Til ¶ , (12) substituindo os dados do problemas obtemos ∆S = 10, 9 cal/K. 4 (13) 4. (3,0) Dois litros de ar (γ = 1, 4), inicialmente à pressão de 1,0 atm e à temperatura de -73 o C sofrem uma expansão isobárica até chegar a um volume 50% maior que o inicial, seguido de um resfriamento, a volume constante, até chegar à pressão de 3/4 atm. Suponha que o ar se comporte como um gás ideal. (a) (0,5) Desenhe a transformação em um diagrama P-V; Calcule o número de moles de ar contidos nos 2 `, a temperatura depois da expansão isobárica, bem como a temperatura nal do ar. (b) (0,5) Calcule a capacidade térmica molar a pressão e a volume constantes (cp e cv ), para esse gás. Deixe o resultado na forma de fração. (c) (1,0) De quanto varia a entropia do sistema? (Não se esqueça de especicar em que unidades essa variação foi calculada.) (c) (1,0) Suponha que a expansão se dê através do contato com um reservatório térmico a 300 K e que o resfriamento se dê através do contato com um outro reservatório térmico a 200 K. Qual a variação de entropia dos reservatórios? O que é possí vel falar sobre a reversibilidade ou irreversibilidade do processo? JUSTIFIQUE SUA RESPOSTA! Solução: p(atm) 1,00 TA TB 0,75 TC V 1,5V (a) o número de moles de ar contidos nos 2 `, pode ser obtido através dos dados iniciais do gás n= (1, 0 atm) (2 `) pV = = 0, 1249 mols −2 RT (8 × 10 atm.`/mol.K) (200, 15 K) (14) As temperaturas são calculadas usando a lei dos gases ideais tal que pV VA =⇒ TA = = 200, 15 K nR nR µ ¶ µ ¶ 3 1 3 3 3 1 9 TB = VA = TA e TC = VA = TA 2 nR 2 4 2 nR 8 T = (15) (16) (b) A capacidade térmica molar a pressão e a volume constantes (cp e cv ), para esse gás. γ= cp 7 7 = 1, 4 = =⇒ cp = cv , cv 5 5 5 (17) usando (18) cp − cv = R, obtemos 5 7 cv = R, e cp = R 2 2 (c) A variação de entropia no sistema é dada por (19) ∆Stotal = ∆Sisob + ∆Sisov µ ¶ µ ¶ VB TC ∆Stotal = ncp ln + ncv ln VA TB ¶ µ ¶ µ µ ¶ 7 3 3 ∆Stotal = n cv ln + ncv ln 5 2 4 · µ ¶ µ ¶¸ 7 3 3 ∆Stotal = ncv ln + ln 5 2 4 ∆Stotal ' 0, 52 J K (20) (21) (22) (23) (24) (d) A variação de entropia dos reservatórios é, em modulo, igual ao calor trocado com o sistema dividido pela temperatura do respectivo reservatório. ¯ ¯ ¯ ¯ ¯ Qisob ¯ ¯ Qisov ¯ ¯−¯ ¯, ∆Sviz = − ¯¯ T300K ¯ ¯ T200K ¯ (25) o sinal negativo representa o fato da quantidade do calor absorvido(cedido) pelo reservatório é a quantidade contrária ao calor cedido(absorvido) pelo sistema. ¸ · ncp (TB − TA ) ncv (TC − TB ) + , (26) ∆Sviz = − T300K T200K " ¡ ¡ ¢ ¢# n 57 cv 32 TA − TA ncv 98 TA − 32 TA ∆Sviz = − + , (27) T300K T200K · ¸ 7 1 3 1 ∆Sviz = −ncv TA − , (28) 10 300 K 8 200 K ∆Sviz ≈ −0, 23 J , K (29) A entropia do universo é então ∆Suniv = ∆Stotal + ∆Sviz = 0.29 mostrando que o processo é irreversível! 6 J >0 K (30) FORMULÁRIO R = 8 × 10−2 atm.`/mol.K = 8 J/mol.K = 2 cal/mol.K ; 1 cal = 4 J ; 1 atm.` = 100 J = 24 cal 1 atm = 105 P a; 1`= 10−3 1 mmHg = 133 P a. m3 ; 1 mol ocupa 22,4 ` nas condições normais de temperatura e pressão. γ = cp /cv , e cp − cv = R. Para um gás ideal: P V = nRT , ∆U = n Cv ∆T ; em uma adiabática, as expressões P V γ , T V γ−1 , e T /P (γ−1)/γ são constantes; Para a água: calor latente de fusão = 80 cal/g; calor latente de vaporização = 540 cal/g; calor o especíco da água = 1,0 cal/g C . Z Vf Vi C Z Vf Vf dV = γ V (1−γ) − Vi (1−γ) 1−γ (1−γ) 1−γ Vf Vi − Vi = (1−γ) ; Se o processo é adiabático (PVγ = C), então Pf Vf − Pi Vi 1−γ Vf dV = ln V Vi RASCUNHO - devolva esta folha GRAMPEADA junto com sua prova. 7