Podridão da haste de Begonia elatior causada

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ISSN 1983-134X
Governo do Estado de São Paulo
Secretaria de Agricultura e Abastecimento
Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios
Instituto Biológico
Documento Técnico 013—Setembro de 2011—p.1- 8
PODRIDÃO DA HASTE DE
Begonia elatior CAUSADA
POR Lasiodiplodia theobromae
Ricardo José Domingues1; Jesus G. Töfoli2; Josiane Takassaki Ferrari3;
Eduardo Monteiro de Campos Nogueira4
1
Pesquisador Científico, Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Sanidade Vegetal, Av. Conselheiro Rodrigues Alves, 1252, 04014-002, Vila Mariana, São Paulo, SP. E-mail: [email protected].
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Pesquisador Científico, Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Sanidade Vegetal, Av. Conselheiro Rodrigues Alves, 1252, 04014-002, Vila Mariana, São Paulo, SP. E-mail: [email protected].
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Pesquisador Científico, Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Sanidade Vegetal, Av. Conselheiro Rodrigues Alves, 1252, 04014-002, Vila Mariana, São Paulo, SP. E-mail: [email protected].
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Pesquisador Científico, Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Sanidade Vegetal, Av. Conselheiro Rodrigues Alves, 1252, 04014-002, Vila Mariana, São Paulo, SP. E-mail: [email protected].
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INTRODUÇÃO
O mercado brasileiro de flores e plantas ornamentais vem se mostrando crescente e vigoroso, exibindo taxas de crescimento da ordem de 9 a 10 % ao ano em valor e de 8 a 12 % nas quantidades movimentadas. A produção interna tem crescido e se diversificado, incorporando novos produtos e regiões de cultivo, reduzindo a relativa liderança do estado de São Paulo, particularmente as regiões dos municípios de
Holambra, Campinas e Atibaia.
Em termos de faturamento, as flores em vaso são responsáveis por 50% da movimentação na cadeia
produtiva, com o gênero Begonia spp. representando uma das principais plantas ornamentais comercializadas
no mercado interno brasileiro.
Begonia spp. é um grupo de plantas herbáceas perenes que está entre os dez maiores gêneros dentre as
Angiospermas. A sua taxonomia é bastante complicada em razão de milhares de variedades hortícolas e híbridos introduzidas e que muitos tratam como espécies. Begonia x elatior Hort.ex Steud. é um grupo de herbáceas
híbridas obtido do cruzamento de begônias tuberosas com a espécie B. socotrana cultivada normalmente em
vasos e sob a proteção de estufas.
Responsável por uma grande mudança no setor no final dos anos 80, a introdução do cultivo de flores
em ambiente protegido como estufas e viveiros, propiciou um melhor controle do clima através de sistemas
de aquecimento, refrigeração, irrigação e cortinas móveis, permitindo a produção com qualidade constante
durante todo o ano.
Tais mudanças, aliadas às alterações nas condições de solo/substrato, alteraram as condições ambientais também para os patógenos, tanto de solo como de parte aérea. Consequentemente, as inter-relações patógeno/hospedeiro/ambiente tornaram-se significativamente diferentes das encontradas nos cultivos a céu aberto.
Se por um lado essas mudanças podem prejudicar o desenvolvimento de algumas doenças, por outro
podem também acabar favorecendo outras, promovendo patógenos anteriormente pouco expressivos a grandes vilões das espécies cultivadas. Por isso, é fundamental o monitoramento constante desses cultivos, identificando-se rapidamente potenciais problemas fitossanitários para que sejam adotadas a tempo as medidas de
controle mais adequadas.
Este trabalho relata a ocorrência do fungo Lasiodiplodia theobromae em Begonia elatior, uma doença até
então desconhecida nessa cultura em todo o mundo.
DIAGNÓSTICO
Em novembro de 2009, o Laboratório de Doenças Fúngicas em Horticultura recebeu plantas envasadas
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Figura 1 – Muda de B. elatior com sintoma de necrose da haste e tombamento. (Foto: Ricardo José Domingues).
de B. elatior provenientes do Município de Holambra, SP, apresentando sintoma de podridão de hastes. Em
alguns casos, a severidade da necrose causou o tombamento da haste na região da lesão. Exame inicial em
microscópio estereoscópico revelou a presença de picnídios estromáticos e erupentes nas lesões, com abundante esporulação. Lâminas semi-permanentes foram montadas e examinadas em microscópio óptico, observando-se grande quantidade de conídios escuros, inicialmente unicelulares e bicelulares quando maduros.
O isolamento foi realizado a partir da transferência de conídios das áreas lesionadas para placas de
Petri contendo meio de cultura BDA. Após o cultivo em BOD a 24±1 oC e fotoperíodo de 12 h, os conídios
produzidos foram utilizados para o preparo de suspensão contendo 104 conídios/mL e inoculados em plantas
sadias. As plantas inoculadas foram mantidas em câmara úmida por 48 h para incubação a 24±1 oC e fotoperíodo de 12 h. Sintomas semelhantes surgiram entre 5 e 7 dias após a inoculação. O reisolamento do fungo comprovou o diagnóstico inicial de Lasiodiplodia sp. As dimensões dos conídios obtidas (14,8 x 24,1 μm) foram coerentes com as consideradas para Lasiodiplodia theobromae.
ETIOLOGIA
Posição taxonômica (Species Fungorum, 2011):
Reino: Fungi
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Filo: Ascomycota
Classe: Dothideomycetes
Subclasse: Incertae sedis
Ordem: Botryosphaeriales
Família: Botryosphaeriaceae
Gênero: Lasiodiplodia
Espécie: Lasiodiplodia theobromae
Sinonímia (Species Fungorum, 2011):
Botryodiplodia theobromae Pat. 1892, Diplodia theobromae (Pat.) W. Nowell, Phoma glandicola (Schwein.)
Cooke; Sphaeria glandicola Schwein.; Cryptostictis glandicola (Schwein.) Starbäck; Diplodia gossypina Cooke;
Physalospora rhodina Berk. & M.A. Curtis; Pyreniella rhodina (Berk. & M.A. Curtis); Botryosphaeria rhodina (Berk.
& M.A. Curtis) Arx; Macrophoma vestita Prill. & Delacr.; Diplodia cacaoicola Henn.; Lasiodiplodia tubericola Ellis
& Everh.; Diplodia tubericola (Ellis & Everh.) Taubenh.; Botryodiplodia tubericola (Ellis & Everh.) Petr.; Botryodiplodia gossypii Ellis & Barthol.; Chaetodiplodia grisea Petch; Botryodiplodia elasticae Petch; Lasiodiplodia nigra Griffon & Maubl.; Diplodia natalensis Pole-Evans; Lasiodiplodia triflorae B.B. Higgins; Lasiodiplodiella triflorae (B.B.
Higgins) Zambett.; Diplodia ananassae Sacc.; Botryodiplodia ananassae (Sacc.) Petr.; Physalospora gossypina F. Stevens; Physalospora glandicola N.E. Stevens.
Figura 2 - Picnídios vistos ao microscópio estereoscópico formados sobre lesão em haste afetada por
L. theobromae. (Foto: Ricardo José Domingues).
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Em cultura pura de BDA, as colônias de L. theobromae, são acinzentadas a negras, com abundante micélio aéreo e ao reverso da cultura em placa de Petri, são foscas ou negras. Formam picnídios simples ou compostos, frequentemente agregados, estromáticos, ostiolados, subovoides para elipsoides – oblongos, com parede
espessa e base truncada. Os conídios quando maduros tornam-se unisseptados e de coloração marrom-claro a
castanho-amarelado, sendo longitudinalmente estriados. As dimensões destes conídios variam entre (18 – 30) x
(10 – 15) μm. As paráfises quando presentes são hialinas, cilíndricas, algumas vezes septadas, tendo mais de 50
μm de comprimento.
Figura 3 - Conídios imaturos (unicelulares e
hialinos) e maduros (uniseptados e escuros)
observados ao microscópio óptico.
(Foto: Ricardo José Domingues).
Figura 4 - Picnídios e conídios de L. theobromae
vistos ao microscópio óptico.
(Foto: Ricardo Jóse Domingues).
Nas folhas, caules e frutos de plantas infectadas por este fungo, os picnídios são imersos, tornando-se
erupentes. Podem ocorrer isoladamente ou agrupados, apresentando 2 a 4 mm de largura. São ostiolados e frequentemente pilosos e podem apresentar extrusão de conídios com aspecto de uma massa preta.
No Brasil, L. theobromae é o agente causal de doenças economicamente importantes principalmente em
fruteiras tropicais como acerola (Malpighia emarginata), graviola (Annona muricata), cacau (Theobroma cacao), cupuaçu (Theobroma grandiflorum), caju (Anacardium ocidentale), coco (Cocos nucifera), mamão (Carica papaya), manga (Mangifera indica) e maracujá (Passiflora spp.). Culturas como eucalipto (Eucalyptus spp.), seringueira (Hevea
spp.) e uva, além de outras, também são importantes hospedeiras de L. theobromae.
Em sua fase teleomórfica, que ainda não ocorre no Brasil, foi identificado como Physalospora rhodina Berk e
Curt. Apud. Cooke.
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Figura 5 - Aspecto do crescimento de L. theobromae cultivado em meio de cultura BDA.
(Foto: Ricardo José Domingues).
SINTOMATOLOGIA
L. theobromae é um fungo cosmopolita, polífago e que é capaz de afetar folhas, frutos e ramos de
várias espécies cultivadas, incluindo frutíferas, florestais, olerícolas, flores e plantas ornamentais. Em B.
elatior a doença inicia-se nas hastes onde se verifica a formação de lesões necróticas na região das bifurcações dos ramos e da inserção dos pedúnculos das folhas e flores. Com o progresso da doença, ocorre o apodrecimento das hastes que se enfraquecem e se quebram, provocando o tombamento e seca da parte do
ramo acima da lesão.
Em condições de alta umidade e temperatura, que normalmente ocorrem em estufas, observa-se a
formação de pequenas pontuações escuras representadas pelos picnídios do fungo.
MANEJO DA DOENÇA
L. theobromae é conhecido como um fungo oportunista e com pouca especialização patogênica. Estudos realizados no Brasil com isolados de diferentes fruteiras tropicais, mostraram que o fungo possui
considerável inespecificidade e variabilidade patogênica. Isolados de caju, por exemplo, foram patogênicos
a coco, mamão, maracujá e manga, sendo que os três primeiros hospedeiros foram considerados altamente
suscetíveis, enquanto que manga foi suscetível.
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Em geral, L. theobromae tem preferência por plantas estressadas e submetidas a ferimentos naturais ou ou provocados
pelo próprio homem durante as práticas culturais, embora o fungo possa infectar tecidos sadios. Nesse caso, manter as
plantas adequadamente adubadas e irrigadas, evitar períodos de estresse prolongado e cuidados nos tratos culturais
para prevenir ferimentos, podem favorecer o controle da doença. Insetos como Psilídeos ou tripes, que provocam ferimentos ao picar as plantas favorecem a doença, portanto o controle desses insetos, também, pode favorecer o controle da doença.
Deve-se eliminar as plantas afetadas e evitar a irrigação por aspersão como forma de reduzir o inóculo e a dispersão da doença, pois os conídios do fungo podem ser levados pelo vento ou por respingos de água
para plantas sadias a partir das plantas afetadas, folhas e hastes caídas ou em decomposição. Utilizar sempre
mudas e substratos/solo comprovadamente sadios para o plantio.
Existem fungicidas registrados junto ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento para o
controle de L. theobromae em algumas culturas como citrus, algodão, seringueira, coco e mamão, que podem
representar uma alternativa futura para o manejo da doença em begônia.
Figura 6 - Planta de B. elatior exibindo sintomas iniciais de podridão de hastes após inoculação artificial com
suspensão de conídios de L. theobromae.
(Foto: Ricardo José Domingues).
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Figura 7 - Sintomas de podridão de hastes obtidos através de inoculação artificial com suspensão de
conídios de L. theobromae. (Foto: Ricardo José Domingues).
REFERÊNCIAS
EMBRAPA RECURSOS GENÉTICOS E BIOTECNOLOGIA. Fungos relatados em plantas no Brasil. Disponível em: <http://pragawall.cenargen.embrapa.br/aiqweb/michtml/fgbanco01.asp>. Acesso em: 09 jul. 2011.
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Botânica, São Paulo, v. 28, n.3, p.579-588, 2005.
JUNQUEIRA, A.H.; PEETZ, M.S. Mercado interno para os produtos da floricultura brasileira: características,
tendências e importância socioeconômica recente. Revista Brasileira de Horticultura Ornamental. Campinas,
v.14, n.1, p.37-52, 2008.
JUNQUEIRA, A.H.; PEETZ, M.S. A floricultura brasileira no contexto da crise econômica e financeira mundial. 2009. Disponível em: <http://hortica.com.br/news.php>. Acesso em: 05 jul. 2011.
KIMATI, H.; AMORIM, L.; RESENDE, J.A.M.; BERGAMIN FILHO, A.; CAMARGO, L.E.A. (Eds.). Manual de
Fitopatologia: doenças das plantas cultivadas. 4. ed. São Paulo: Ceres, 2005. v.2, p.663.
MYCOBANK. 2004-2011. Disponível em: <http://www.mycobank.org/MycoTaxo.aspx?
Link=T&Rec=188476>. Acesso em: 05 jul. 2011.
PEREIRA, A.L.; SILVA, G.S.; RIBEIRO V.Q. Caracterização fisiológica, cultural e patogênica de diferentes
isolados de Lasiodiplodia theobromae. Fitopatologia Brasileira, Brasília, v.31, n.6, p572-578, 2006.
SPECIES FUNGORUM. Disponivel em: <http://www.speciesfungorum.org> Acesso em: março/2011.
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