Etiologia e inseto vetor da morte-descendente-da-mangueira (Mangifera indica) no Estado da Paraíba Edson Batista Lopes1, Carlos Henrique de Brito2, Lucia Helena Avelino Araújo3, Luciana Cordeiro do Nascimento3 e Jacinto de Luna Batista3 1 Embrapa/Emepa. Estação Experimental de Lagoa Seca. Lagoa Seca, PB. CEP 58.117-000. ([email protected]) Bolsista do CNPq/Finep. Emepa - Estação Experimental de Lagoa Seca, em Lagoa Seca, PB. CEP 58.117-000.([email protected]) 3 Departamento de Fitotecnia/CCA/UFPB - Campus II, Areia, PB. CEP 58.397-000 2 Resumo – Galhos de plantas de mangueira, variedade “Espada”, oriundas do Sítio Conceição, Município de Lagoa Seca, com sintomas de seca-das-folhas e morte prematura, foram coletados e examinados no Laboratório de Fitossanidade da EMEPA, em Lagoa Seca, PB, objetivando conhecer o agente etiológico e o inseto vetor da morte-descendente-damangueira. Os resultados observados comprovaram que o agente etiológico da enfermidade no presente estudo é o fungo Lasiodiplodia theobromae. Os sintomas mais característicos da doença são a murcha, seca e desfolha progressiva dos ramos em direção ao caule (die-back), chegando às vezes a atingir o tronco da planta e provocando sua morte. Nos casos mais severos, pode ocorrer exsudação de goma na casca dos ramos e caules. Quanto ao inseto vetor, este foi identificado como Xyleborus affinis, acreditando-se que a patogenicidade e severidade da doença esteja associada aos ferimentos produzidos pelo inseto, o que debilita ainda mais a planta. Sugestões de combate à “Seca-da-mangueira” são feitas com o intuito de minimizar os danos induzidos pela associação patógeno e inseto vetor. Palavras-chave: murcha-das-folhas, Lasiodiplodia theobromae, fungo, Xyleborus affinis, inseto Etiology and insect vector of descendant death mango tree (Mangifera indica) in the State of Paraíba, Brazil Abstract - Branches of mango plants “Espada” variety from Lagoa Seca County, State of Paraiba, Brazil, with wilted leaves and die-back symptoms were analyzed in the Laboratory of Phytopathology of Emepa, in Lagoa Seca, with the objective of knowing the etiology and the insect vector of this disease. Results proved that the fungus Lasiodiplodia theobromae is the pathogenic agent of the “dry mango tree” desease. This, is characterized by wilt and fall of leaves. Then the branches and all the tree go through a progressive death. The insect vector was identified as Xyleborus affinis. We believe that this insect vector increases pathogenicity and the severity of this disease by damages produced on mango trees. Control measures try to minimize the damages produced by the association between the insect vector and the fungus which causes this disease. Keywords: Wilt leaves, Lasiodiplodia theobromae, fungi, Xyleborus affinis, insect Introdução A mangueira (Mangifera indica L.) na Paraíba encontrase distribuída em praticamente todo o Estado. Na ordem de importância de cultivo destacam-se as mesorregiões da Mata, Agreste e Sertão Paraibano, responsáveis por 80% da produção. São escassos os cultivos tecnificados existentes com cultivares nobres, tais como: Tommy Atkins, Haden, Keitt, Kent e outras, pois a exploração dessa cultura ainda continua baseada no extrativismo, onde predomina a variedade “Espada” como a mais cultivada e comercializada. Em termos estatísticos da produção de manga no Nordeste, o Estado que apresentou melhor desempenho em 2002 foi a Bahia, seguido por Pernambuco, Ceará e Paraíba, que teve sua máxima produção em 1995, com 64.640 toneladas, e a partir de então a tendência foi de declínio, atingindo 30.081 toneladas em 2001 e 24.464 toneladas em 2002 (IBGE, 2001 & 2002). A morte de mangueiras no Brasil vem sendo relatada por diferentes autores e atribuída, também, a agentes etiológicos diferentes. Batista (1947) estudou uma nova doença da mangueira na cidade do Recife e a denominou de “mal-doRecife”. O agente etiológico foi descrito como uma nova espécie, denominada de Diplodia recifensis. O autor afirma que o patógeno sozinho não penetra nas árvores, mas é introduzido nelas pelo inseto Xyleborus affinis. Segundo Cunha et al. (2000) a “morte-descendente-damangueira”, “seca-de-ponteiros” e “podridão-basal-dofruto” são nomes dados à doença causada pelo fungo Lasiodiplodia theobromae, confirmando ser esse fungo o agente causador da doença em vários estados brasileiros, como Pernambuco, Bahia, Rio Grande do Norte, Minas Gerais, São Paulo, Goiás e Distrito Federal. Existem 19 Tecnol. & Ciên. Agropec., João Pessoa, v.3, n.1, p.37-40, fev. 2009 37 sinonímias para Botryodiplodia theobromae, incluindo Diplodia gossypina e Lasiodiplodia theobromae. (Punithalingan, 1976). Para Sutton (1980), Lasiodiplodia é o nome genérico a ser adotado para este patógeno em substituição a Botryodiplodia theobromae. Junqueira et al. (2002) afirmam que, embora o fungo C. fimbriata, responsável pela seca-da-mangueira infecte um grande número de plantas de importância econômica, apenas no Brasil a sua incidência em manga foi registrada. Uma vez presente nos pomares, a disseminação da doença poderá ser acelerada, devido à presença natural de coleobrocas, principalmente Hypocryphalus mangiferae, além de eventual contaminação por meio de ferramentas de poda. No Distrito Federal, associada às mangueiras infectadas por C. fimbriata, foram encontradas coleobrocas dos gêneros Xyleborus e Platyphus. Os mesmos autores citam outra doença da mangueira, denominada de mortedescendente-da-mangueira cujo agente causal é o fungo L. theobromae. De ocorrência já bastante conhecida nos Estados da Bahia, Goiás, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Minas Gerais, São Paulo e no Distrito Federal, a mortedescendente-da mangueira também afeta plantas jovens e adultas no Estado do Ceará (Freire et al. 2004). Os sintomas mais característicos são a desfolha e a seca progressiva dos ramos em direção ao caule (die-back), chegando às vezes a atingir o tronco da planta e provocando a sua morte. Nos casos mais severos, pode ocorrer exudação de goma na casca dos ramos e caules. O agente causal da doença mortedescendente-da-mangueira no Estado do Ceará, é o fungo L. theobromae. A “morte-descendente-da-mangueira” já comprometeu as mangueiras em diversos locais na Capital de João Pessoa, Paraíba. Segundo relatório técnico apresentado pela Secretaria do Meio Ambiente do Município – SEMAM, 456 mangueiras já morreram com essa doença entre os anos de 2001 a 2004. Nas granjas localizadas em Paratibe e Monsenhor Magno, onde há maior concentração da árvore frutífera, 160 pés de mangueira já foram erradicados. A praga está se alastrando por todo o Estado da Paraíba (O NORTE ON LINE, 2005). O objetivo do presente trabalho foi identificar o agente etiológico da doença denominada de morte-descendenteda-mangueira e seu inseto vetor, sugerindo medidas de controle da enfermidade no Estado da Paraíba. Material e Métodos O trabalho foi conduzido no campo e no Laboratório de Fitossanidade, localizado na Estação Experimental de Lagoa Seca, pertencente à Empresa Estadual de Pesquisa Agropecuária da Paraíba S.A. - Emepa. Plantas de mangueira da variedade “Espada”, no Sitio Conceição, Município de Lagoa Seca, Paraíba com sintomas da doença denominada de morte-descendente-da- 38 Tecnol. & Ciên. Agropec., João Pessoa, v.3, n.1, p.37-40, fev. 2009 mangueira foram fotografadas, bem como, coletado ramos (galhos) para estudos em laboratório. Fragmentos de galhos com aproximadamente 50 centímetros de comprimento por 10 centímetros de diâmetro, com sintomas de murcha e seca, foram seccionados longitudinalmente em pedaços menores, objetivando o isolamento do patógeno e a coleta de insetos. O procedimento foi realizado nas seguintes etapas: 1- Isolamento e identificação do patógeno - o procedimento adotado foi a utilização da câmara úmida, onde 20 fragmentos de tecido doente com 3,0 centímetros de comprimento por 1,0 centímetro de largura, foram colocados em placas de Petri com papel toalha umedecido. O crescimento do patógeno ocorreu em temperatura ambiente, em torno de 27ºC. Após o crescimento micelial, o patógeno foi isolado em lâminas de vidro para identificação em microscópio óptico e fotografado. A identificação dos fungos foi feita através do estudo das características morfológicas, comparando-as com espécies já descritas na literatura (Punithalingam, 1976). 2- Coleta e identificação do inseto - as larvas, pupas e adultos do inseto foram coletados de galhos de mangueiras doentes, os quais foram agitados em uma superfície lisa, possibilitando a retirada dos insetos, sendo os mesmos coletados e levados à sala de microscopia onde foram identificados e fotografados. Insetos adultos, pupas e larvas foram conservadss em vidros com álcool a 70% no Laboratório de Fitossanidade da Emepa. Resultados e Discussão O agente etiológico da “morte-descendente-damangueira” no Estado da Paraíba, identificado no presente estudo é o fungo L. theobromae, o que vem confirmar os resultados observados por Cunha et al. (2000), Junqueira et al. (2002) e Freire et al. (2004). L. theobromae é um patógeno típico das regiões tropicais e subtropicais, onde causa sérios prejuízos a numerosas espécies vegetais cultivadas. O patógeno desenvolve-se rapidamente em solos argilosos ou em subsolo impermeável com umidade elevada. Carvalho Dias et al. (1998) relatam em seus estudos que o fungo L. theobromae desenvolve-se em temperatura de amplitude entre 27 °C a 33 °C, podendo, porém, causar danos dentro de uma amplitude, que varia de 9 a 39 °C, com alta umidade, verão chuvoso, irrigação favorecendo o aumento da população do patógeno. Os sintomas mais característicos da enfermidade são a seca e a desfolha progressiva dos ramos em direção ao caule (die-back) (Figura 1), chegando, às vezes, a atingir o tronco da planta e provocando sua morte (Figura 2). Nos casos mais severos, pode ocorrer exsudação de goma na casca dos ramos e caules. A seca-da-mangueira pode reduzir a vida útil das plantas e, caso não seja detectada a tempo, a planta sucumbirá em poucos dias. Segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – Embrapa, este fungo, L. theobromae, tem afetado pomares de manga da Região Nordeste do Brasil, cuja intensidade dos seus ataques à cultura tem causando perdas significativas, com prejuízos estimados em 400 mil dólares (Tavares, 2008). Figura 3. Inseto adulto de Xyleborus affinis, vetor do fungo (doença) da “seca-da-mangueira”. Figura 1. Seca e desfolha progressiva da doença em ramos com a “morte-descendente-da-mangueira”. Figura 4. Danos (orifícios de 1,0 mm de diâmetro) produzidos por Xyleborus affinis em ramos e caules de mangueiras doentes. Figura 2. Planta de mangueira em estágio final da doença “morte-descendente-da-mangueira”. O vetor da doença e um dos principais veículos de disseminação é o inseto X. affinis (Figura 3). Acredita-se que a patogenicidade e severidade da enfermidade esteja associada aos danos exibidos na Figura 4, produzidos pelo inseto, o que debilita ainda mais a planta. Os resultados quanto ao inseto vetor, confirmam aqueles encontrados por Batista (1947), Cunha et al. (2000) e Junqueira et al. (2002), nos quais a doença é veiculada pelo inseto X. affinis de uma planta a outra e posteriormente introduzida no hospedeiro, através dos ferimentos no cerne da planta onde lentamente o fungo coloniza os tecidos do xilema, levando aquele galho atacado a apresentar sintomas de murcha, seca e morte descendente. Com o avanço da doença partindo de um ponto afetado em direção ao tronco, a planta poderá vir a sucumbir em pequeno espaço de tempo, o que vem sendo observado em plantas atacadas em vários Municípios da Paraíba tais como: Lagoa Seca, Sapé, Cabaceiras, Alagoa Nova, Areia, Bananeiras, Mamamguape, Rio Tinto, Sousa, Cajazeiras e João Pessoa. Tecnol. & Ciên. Agropec., João Pessoa, v.3, n.1, p.37-40, fev. 2009 39 Conclusões e Considerações Finais ? O agente etiológico da “morte-descendente-da- mangueira” na Paraíba é o fungo Lasiodiplodia theobromae; ? O vetor da doença e um dos principais veículos de disseminação é o inseto Xyleborus Affinis. ? O controle da morte-descendente-da-mangueira não é tarefa fácil. Em função da complexidade dos agentes biológicos envolvidos no processo, faz-se necessário a adoção de uma série de medidas: exclusão, para evitar a entrada do patógeno; monitoramento do inseto vetor, o nível de controle acontece com a presença de um galho atacado; curativas - detectada a infecção na parte aérea, imediatamente os galhos e ramos doentes devem ser cortados da planta em até 40 cm abaixo do local de infecção. Aplicar no local uma pasta de cal virgem com fungicida e inseticida, nas seguintes proporções: 50 litros de água + 200 gramas de fungicida cúprico + 50 mL de inseticida + 10 kg de cal virgem, homogeneizando; e erradicação - quando a planta ou pomar não apresentar condições de recuperação. Referências CUNHA, M.M.; SANTOS FILHO, H.P.; NASCIMENTO, A.S. Manga: fitossanidade. Brasília, DF: Embrapa Comunicação para Transferência de Tecnologia, 2000. Cap. 3, p. 25-47, il. (Frutas do Brasil, 6). FREIRE, F.C.O.; VIANA, F.M.P.; CARDOSO, J.E.; SANTOS, A.A. Novos hospedeiros do fungo Lasiodiplodia theobromae no Estado do Ceará. Fortaleza: EMBRAPA Agroindústria Tropical, 2004. 6 p. (EMBRAPA Agroindústria Tropical. Comunicado Técnico, 91). IBGE. Produção agrícola municipal: áreas de produção de frutas brasileiras, 2001 e 2002. JUNQUEIRA, N.T.V.; PINTO, A.C.Q.; CUNHA, M.M.; RAMOS, V.H.V. Controle das doenças da mangueira. In: LAÉRCIO ZAMBOLIM et al. (Eds.). Controle de doenças de plantas: fruteiras. Viçosa, 2002. p. 323-404, v.1. il. O NORTE ON LINE. “Mal do Recife” já matou 456 mangueiras em João Pessoa. Disponível em: <http://www.onorteonline.com.br/paraiba>. Acesso em: 15 junho 2005. PUNITHALINGAM, E. Botryodiplodia theobromae. C.M.I. - Descriptions of pathogenic fungi and bactéria. Farnhan Royal, n. 519, p. 1-3, 1976. BATISTA, A.C. Mal-do-Recife (Grave doença da mangueira). Recife: Escola Superior de Agricultura de Pernambuco, 1947.109 p. SUTTON, B.C. The coelomycetes: fungi imperfecti with pycnidia, acervuli and stromata. 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