Algumas palavras sobre o nosso défice público Paulo Reis Mourão* (*docente da EEG/UM – email: [email protected]) O recente alarme sentido a vários níveis quanto à (im)possibilidade de Portugal ultrapassar o indicador macroeconómico do défice público de 3% do Produto Interno Bruto (PIB) tem suscitado interessante polémica. Esse indicador, aliás um dos critérios preponderantes para a admissão de um país da União Europeia na zona Euro, tem, por base, um conjunto de assunções que procuram alicerçar a actividade económica num paradigma necessariamente diferente daquele que parece ser o escolhido pelo nosso país em tempos não muito longínquos. Comprometidos que estamos com o Pacto de Estabilidade e Crescimento que, entre outras obrigações, nos postulou uma calendarização (com respectivas metas do défice público a serem observadas até 2004) não podemos continuar a encarar a iniciativa pública (nas suas vertentes de impulsionadora primária da actividade produtiva nacional e de garante do investimento privado) com o, até agora, consideramos. O paradigma de um Estado intervencionista, batedor, omnipresente e compensador de quase todos os projectos de desenvolvimento, trouxe-nos um alarmante despesismo que, necessariamente, se haveria de reflectir no actual défice público, na actual confusão contabilística dos agregados macroeconómicos e na persistência de um clima de moderação quando, na generalidade do Espaço Euro, se sentem sinais positivos de uma retoma. A tónica da questão coloca-se, sobretudo, na improdutividade de determinadas despesas que, quanto antes, precisam de ser reveladas, evitando o problema tratado pela Economia da assimetria da Informação, na medida em que os parlamentares podem estar a votar sobre projectos de 1 Orçamentos que, camuflando certas rubricas, depressa provocarão a necessidade de revisão . No entanto, o país, segundo alerta de Ernâni Lopes (citado no DN de 23/2/2002), “consome mais do que produz e a situação é de endividamento das famílias e da banca”. Segundo valores avançados por Vítor Bento (na mesma fonte), “em 1985, o país tinha um PIB por habitante equivalente a 54% da média europeia; em 2000, subira para 74% da média da UE”. Este esforço curiosamente (de aumento do PIB por habitante) não teve correspondência directa na evolução da produ tividade, o que nos traz a urgência de redireccionar o papel do Estado enquanto promotor do tradicional tríplice desígnio (promoção da estabilidade, da eficiência e da equidade), chamando à participação o sector privado. Será, pois, com o reforço da produtividade no investimento privado e com o controlo da despesa pública que poderemos atingir o rácio a que nos encontramos comprometidos. Urgem, por isso, medidas que saibam abrir oportunidades de entrada dos privados em áreas públicas mal geridas, que promovam uma eficiência crescente da Administração Pública e que contrariem esta ambiguidade das contas públicas que, para lá da ameaça de sanções 1 Ver “Economia Portuguesa: problemas e soluções” por Basílio Horta, em JornalEco (Jornal oficial do NAECUM) nº8 /Fev2002, pg.7 comunitárias, engloba custos morais desmotivadores do investimento internacional. Conseguir conciliar estas medidas com imperativos sociais que são, incontornavelmente, garantias do nosso desenvolvimento, será um desafio colectivo, que a todos nos envolverá.